Ubiracy de Souza Braga
“Justificar tragédias como vontade divina tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas”. Umberto Eco
“Justificar tragédias como vontade divina tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas”. Umberto Eco
Umberto
Eco começou a sua carreira como filósofo sob a orientação de Luigi Pareyson (1918-1991),
na Itália. Seus primeiros trabalhos dedicaram-se ao estudo da estética
medieval, sobretudo aos textos de São Tomás de Aquino. A tese principal
defendida por Umberto, nesses trabalhos, diz respeito à ideia de que esse
grande filósofo e teólogo medieval, que, como os demais de seu tempo, é acusado
de não empreender uma reflexão estética, trata, de um modo particular,
da problemática do belo. A partir da década de 1960, Eco lança se ao estudo das
relações existentes entre a poética contemporânea e a pluralidade de
significados. Seu principal estudo, nesse sentido, é a coletânea de ensaios
intitulada Obra Aberta (1962), que fundamenta o conceito de obra aberta,
segundo o qual uma obra de arte amplia o universo semântico provável, lançando
mão de “jogos semióticos”, a fim de repercutir nos seus intérpretes uma gama
indeterminável, porém não infinita de interpretações. Ainda
na década de 1960, Eco notabilizou-se pelos seus estudos acerca da cultura de
massa, em especial os ensaios contidos no livro: Apocalípticos e Integrados
(1964), em que ele defende uma nova orientação nos estudos dos fenômenos da
cultura de massa, criticando a postura apocalíptica daqueles que acreditam que
a cultura de massa é a ruína dos altos valores artísticos - identificada com a
Escola de Frankfurt, mas não necessariamente e totalmente devedora da Teoria
Crítica - e, também, a postura dos integrados - identificada, na maioria
das vezes, com a postura engenhosa de McLuhan - para quem a cultura é resultado da
integração democrática das massas na sociedade.
A partir da década de 1970, Eco
passa a tratar quase que exclusivamente da semiótica. Eco descobriu o termo Semiótica
nos parágrafos finais do Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690),
de John Locke, ficando ligado à tradição anglo-saxónica da semiótica, e não à
tradição da semiologia relacionada com o modelo linguístico de Ferdinand de
Saussure. Pode-se dizer, inclusive, que a teoria de Umberto acerca da obra
aberta é dependente da noção pierciana de semiose ilimitada. Nesta concepção do
sentido, um texto será inteligível se o conjunto dos seus enunciados respeitar
o saber associativo. Ao
longo da década, e atravessando a década de 1980, Eco escreve importantes
textos nos quais procura definir os limites da pesquisa semiótica, bem como
fornecer uma nova compreensão da disciplina, segundo pressupostos buscados em
filósofos como Immanuel Kant e linguistas como Charles Sanders Peirce. São notáveis a coletânea
de ensaios: As Formas do Conteúdo (1971) e o livro de grande fôlego Tratado
Geral de Semiótica (1975). Nesses textos, Umberto Eco sustenta que o código
que nos serve de base para criar e interpretar as mais diversas mensagens de
qualquer subcódigo (a literatura, o subcódigo do trânsito, as artes plásticas
etc.) deve ser comparado a uma estrutura rizomática pluridimensional que dispõe
os diversos sememas (ou unidades culturais) numa cadeia de liames que os mantêm
unidos.
Dessa forma, o Modelo Q (de Quillian) dispõe os sememas — as
unidades mínimas de sentido — segundo uma lógica organizativa que, de certo
modo, depende de uma pragmática. A sua noção de signo como enciclopédia é
oriunda dessa concepção. Como consequência de seu interesse pela semiótica e em
decorrência do seu anterior interesse pela estética, Eco, a partir de então,
orienta seus trabalhos para o tema da cooperação interpretativa dos textos por
parte dos leitores. Lector in fabula (1979) e, Os Limites da Interpretação
(1990) são marcos dessa produção, que tem como principal característica
sustentar a ideia de que os textos são máquinas preguiçosas que necessitam a
todo o momento da cooperação dos leitores. Dessa forma, Eco procura compreender
quais são os aspectos mais relevantes que atuam durante a atividade
interpretativa dos leitores, observando os mecanismos que engendram a cooperação
interpretativa, ou seja, o pre-enchimento de sentido que o leitor
faz do texto, procurando, ao mesmo tempo, definir os limites interpretativos a
serem respeitados e os horizontes de expectativas sociais gerados pelo próprio texto,
em confronto com o contexto histórico em que se insere o leitor.
Naufrágio pode ser caracterizado sociologicamente como desaparecimento, afundamento ou perda de uma embarcação, ou navio de transporte, da marinha mercante ou de guerra em alto mar em conflito bélico. Situação de afundamento de um navio ou ação como representação de um ato que se converte em causa de uma ação, como o ato de naufrágio de afundar referente a uma embarcação. No sentido figurado refere-se ao insucesso, fracasso ou decadência, queda ou ruína. A denominação Bateau-mouche representa
um tipo de embarcação com design para
servir como plataforma de visita turística, navegando em águas abrigadas,
habitualmente rios, em que o convés superior é aberto ou tem uma cobertura
transparente, para os passageiros poderem apreciar a paisagem na rota marítima.
Os mais conhecidos são os que circulam no rio Sena em Paris, e de onde a
designação originalmente apareceu. Na realidade, o termo é uma marca registada
da Compagnie des Bateaux Mouches, a principal operadora deste tipo
de embarcações comerciais no Sena. O nome foi adotado para caracterizar este
tipo de embarcação quase em todo o mundo, sendo usada para os barcos que fazem
o mesmo tipo de passeio nos canais de Amsterdam ou Estocolmo. No Brasil,
“bateau-mouche” é o registro de uma série de embarcações adaptadas para essa finalidade
e que exploram o turismo nas águas da Baía de Guanabara. No Rio de Janeiro após um complexo acidente durante o réveillon (1988), na praia de Copacabana o nome bateau-mouche
tornou-se historicamente um paradoxo nãointencional e sinônimo de tragédia.
O
Bateau Mouche IV representou a embarcação de turismo que naufragou na
costa brasileira no dia 31 de dezembro de 1988, mais precisamente na Baía de
Guanabara, no Rio de Janeiro, quando estava a caminho de Copacabana. Das 142
pessoas a bordo, 55 morreram. Acredita-se que a embarcação estivesse
superlotada, além de apresentar uma série de falhas. A embarcação, um antigo
barco de pesca fabricado em Fortaleza em 1970 e batizado inicialmente como Kamaloka,
havia sido modificada várias vezes, destacando-se o acréscimo de um terraço
suplementar. Durante as comemorações do Ano Novo de 1989, embora estivesse
regularizada pelas autoridades competentes e fosse considerada um cartão-postal
da cidade do Rio de Janeiro, ao se deslocar para fora da barra da baía de
Guanabara para assistir à queima de fogos na praia de Copacabana, deparou-se
com ondas pesadas no mar, vindo a adernar. A rápida e acentuada movimentação de
carga nos andares superiores causou o naufrágio, no qual morreram 55 dos 142
passageiros a bordo. A traineira Evelyn Maurício tinha partido de Niterói com
os pescadores Jorge de Souza, João Batista de Souza Abreu, Marcos Vinícius
Lourenço da Silva, Francisco Carlos Alves de Moraes e Jorge Luiz Soares de
Souza e as suas famílias a Copacabana; no caminho
cruzaram com o Bateau Mouche IV, iluminado e muito cheio.
Os
pescadores “presenciaram o naufrágio, e tornaram-se heróis ao jogarem boias,
cabos e cordas para salvar cerca de 30 náufragos, que foram retiradas do mar
pelos braços”. No inquérito que se seguiu foram apontados diversos
responsáveis, entre eles a empresa de turismo, os passageiros que disputavam um
lugar a boreste do terraço da embarcação, as autoridades competentes do estado
do Rio de Janeiro, e a Capitania dos Portos, dando lugar a um longo processo
judicial. O laudo pericial apontou que o Bateau Mouche IV transportava mais que
o dobro da lotação permitida (62 passageiros). Os sócios majoritários da
empresa Bateau Mouche Rio Turismo, Faustino Puertas Vidal e Avelino
Rivera (espanhóis) e Álvaro Costa (português), foram “condenados por homicídio
culposo (sem a intenção de matar), sonegação fiscal e formação de
quadrilha”, em maio de 1993, a quatro anos de prisão em regime semiaberto
(só dormiam na prisão), mas em fevereiro de 1994 eles fugiram para a Espanha. A
atriz Yara Amaral (1936-1988) perdeu a vida na tragédia, junto com sua mãe.
Também se encontrava a bordo da embarcação o ex-ministro,
Aníbal Teixeira, que sobreviveu.
Copacabana
é um bairro situado na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. É considerado um
dos bairros mais famosos e prestigiados do Brasil e um dos mais conhecidos do
mundo. Tem o apelido de “Princesinha do Mar” e “Coração” da Zona Sul. Faz divisa
com os também bairros nobres da Lagoa, Ipanema, (enseada de Botafogo, praia do Leme e bairro Humaitá. Copacabana
atrai um grande contingente de turistas para seus mais de oitenta hotéis, que
ficam especialmente cheios durante as épocas do ano-novo e do carnaval. No fim
de ano, a tradicional queima de fogos na Praia de Copacabana atrai uma
multidão. A orla ainda é lugar de variados eventos, como shows nacionais e
internacionais, durante o resto do ano. Inicialmente, a praia e toda a região a
sua volta tinham o nome tupi de Sacopenapã, que tem como significado “o barulho
e o bater de asas dos socós”. No século XVIII, com a inauguração de uma ermida
em homenagem a Nossa Senhora de Copacabana, num rochedo no final da praia, o
nome da praia e da região foi trocado para Copacabana. recebeu este nome em homenagem a uma cidade da Bolívia, a cidade de Copacabana, capital da província de Manco Capac e um importante porto às margens do famoso lago Titicaca e rocha andina Cordilheira Real. É cenário religioso em que Nossa Senhora se manifestou de acordocom a formação da crença na Virgem de Copacabana.
O segundo Barão de Ipanema, José
Antônio Moreira Filho, era um grande proprietário de terras na região do atual
bairro de Copacabana. Em sociedade com José Luís Guimarães Caipora, teve um
papel importante na urbanização da área com a construção da maioria de seus
logradouros. José Antônio Moreira Filho foi o responsável pela urbanização da
Vila de Ipanema que deu origem ao bairro do mesmo nome. Entre 1908 e 1914, a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, no final da
praia, foi demolida para dar lugar ao atual Forte de Copacabana. Em 5 de julho
de 1922, a calçada da Praia de Copacabana foi palco de um evento marcante da
história do país: a marcha dos dezoito revoltosos do Forte de Copacabana, que
percorreram toda a extensão da praia desde o Forte de Copacabana até o Forte do
Leme, no extremo oposto, para enfrentar as forças legalistas, no episódio que
ficou reconhecido como a Revolta do Forte de Copacabana. Ou em particular Revolta dos 18 do Forte, também reconhecida como Revolta do Forte de Copacabana, que foi iniciada em 5 de julho de 1922 e encerrada no dia seguinte, na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Foi a primeira revolta do movimento tenentista, no contexto social e político da República Velha, também reconhecida como Primeira República, representou um período da história
brasileira que se estendeu de 1889 a 1930 e ficou marcado pela força bruta das
oligarquias. Os marcos históricos que estipulam metodologicamente seu início e o fim são a Proclamação da República e a Revolução de 1930.
Em
13 de agosto de 1923, foi inaugurado o Hotel Copacabana
Palace, em frente à praia. Desde então, o hotel tornou-se um símbolo da
cidade. No decorrer das décadas de 1930, 1940 e 1950, a praia viveu seu período
áureo, quando tornou-se a praia mais frequentada da cidade, suplantando a Praia
do Flamengo e recebendo a alcunha de “princesinha do mar”. Na década de 1970,
também foi realizado, pela Superintendência de Urbanização e Saneamento,
através de dragas nacionais e holandesas, um grande aterro hidráulico,
comandado pelo engenheiro Hildebrando de Góes Filho, presidente da Companhia
Brasileira de Dragagens, que ampliou a área de areia da praia e cujos objetivos
principais eram: a ampliação da área de lazer através de shows, arenas de vôlei
e futebol de praia etc., o alargamento das pistas da Avenida Atlântica, a
passagem por baixo do calçadão central do interceptor oceânico e, ainda, para
evitar que as ressacas chegassem até a Avenida Nossa Senhora de Copacabana,
paralela à Avenida Atlântica, e invadissem as garagens dos edifícios do corredor, como era comum, com as ressacas de maremotos, sendo que as mais fortes chegavam mesmo até
extremidade da famosa Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
Os
estudos em modelos físicos hidráulicos desta ampliação foram realizados no
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa. Nesses modelos
técnico-metodológicos, trabalharam os engenheiros portugueses Fernando Maria
Manzanares Abecasis, Veiga da Cunha, Antônio Pires Castanho e Daniel Vera-Cruz
e o engenheiro brasileiro Jorge Paes Rios. Posteriormente, foram construídos,
na orla, uma ciclovia e alguns quiosques
para atendimento ao público consumidor. De 23 a 28 de julho de 2013, a praia de Copacabana
sediou todos os eventos centrais da Jornada
Mundial da Juventude de 2013. A escolha da cidade foi feita pelo papa Bento XVI em 2011, no encerramento da Jornada Mundial da Juventude daquele ano. Com a renúncia do papa Bento XVI em fevereiro de 2013, o evento foi conduzido pelo seu sucessor, para Francisco S. J., nascido Jorge Mario Bergoglio, é o 266º Papa da Igreja Católica e atual chefe de Estado da cidade Estado do Vaticano. Foi o primeiro encontro do novo papa com a juventude católica e também o primeiro evento internacional do seu pontificado. A JMJ Rio 2013 foi considerada como o maior evento da história do Rio de Janeiro pelo prefeito da cidade. Os
eventos ecumênicos foram a Missa de Abertura, a acolhida ao
Papa Francisco, a Via-Sacra, a Vigília e a missa de envio com o Papa, na qual
compareceram 3,8 milhões de fiéis, tornando a Jornada
Mundial da Juventude do Rio de Janeiro a segunda da história das Jornadas. Nos Jogos Olímpicos de 2016, sediou as competições
de vôlei de praia, maratona aquática e triatlo.
Ritos
de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no interior de sua comunidade. Os ritos de
passagem podem ter caráter social, comunitário ou religioso. Ritos de passagem são aqueles que marcam
momentos importantes na vida das pessoas. Os mais comuns são os ligados a
nascimentos, mortes, casamentos e formaturas. Em nossa sociedade, os ritos
ligados aos nascimentos, mortes e casamentos são praticamente monopolizados
pelas religiões. Já as formaturas não costumam ser, em si, religiosas, mas
frequentemente têm importantes momentos religiosos. O termo foi popularizado
pelo antropólogo franco-holandês Arnold van Gennep no início do século XX, mas
também desenvolvido por Mary Douglas e Victor Turner na década de 1960. Em
todas as sociedades chamadas pela antropologia colonialista de “primitivas”,
determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias
especiais, reconhecidas como “ritos de iniciação” ou “ritos de passagem”. Essas
cerimônias, mais do que representarem uma transição ritual particular para o
indivíduo, representam igualmente a sua progressiva aceitação e participação tanto na
sociedade local, mas sobretudo, e simultaneamente global em que está disponível, tendo a representação social tanto individual
quanto coletivamente.
Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada
dentro do próprio ambiente familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito,
o recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era
reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral. Seu nome, previamente
escolhido, era então pronunciado para ele pela primeira vez, de forma solene. Anos
mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia. Para
as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação,
marcando o fato que, entrando no seu período fértil, estava apta a preparar-se
para o casamento. Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento
em que ele fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ligadas, portanto, ao
derramamento de sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela
pessoa como membro produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da
comunidade pela procriação ou pela alimentação, ela estava simbolicamente
misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã. Variadas cerimônias
marcavam, ainda, a idade adulta. Entre os nativos norte-americanos, algumas
tribos praticavam um rito onde a pele do peito dos jovens guerreiros era
trespassada por espetos e repuxada por cordas. A dor e o sangue derramado eram,
dessa forma, considerados como uma retribuição à Terra das dádivas que a tribo
recebera até ali. Outras cerimônias seguiam-se, ao longo da vida. O casamento
era uma delas, e os ritos fúnebres eram considerados como a última transição,
aquela que propiciava a entrada no chamado “reino dos mortos” e garantia o
retorno futuro ao “mundo dos vivos”.
Nas
sociedades contemporâneas muitos desses ritos subsistiram embora muitos deles
esvaziados do seu conteúdo de sentido simbólico. Batismo e festas de
aniversário de 15 anos, por exemplo, são resquícios desse tipo de cerimônia,
que hoje representam muito mais um compromisso social do que a demarcação do
início de uma nova fase na vida do indivíduo. No entanto, a troca do símbolo
pela ostentação pura e simples, acaba criando a desestruturação do padrão
social. Os ritos de passagem estão inseridos em algumas das religiões
afro-brasileiras, estando mais presentes no Culto de Ifá, nos rituais Candomblé
e Culto aos Egungun que, seguindo as tradições africanas, fazem o ritual do
nascimento, ritual do nome quando uma criança é apresentada ao Orun e ao Tempo,
ritual de iniciação ou feitura de santo, algumas fazem o ritual do casamento, o
ritual fúnebre e o ritual do Axexê quando a pessoa iniciada morre. A Umbanda e
Quimbanda não incluem os ritos de passagem, nem feitura de santo propriamente
dita, uma vez que não incorporam Orixás, usa-se o termo “fazer a cabeça” onde
pode existir a catulagem e pintura, porém a cabeça não é raspada completamente,
e não tem imposição do adoxú. A reclusão nesses casos é de 3 a 7 dias, feita a
instrução esotérica, aprendizado das rezas e pontos riscados e cantados, e é
feita a apresentação pública naquele espaço reservado.
No
início do século XX, mutatis mutandis, a companhia “Pinillos y
Isquierdo” representava um dos mais modernos meios sociais de navegação espanhola.
Em 1910, lança o navio Infanta Isabel e 2 anos depois, seu gêmeo, o Príncipe de
Astúrias, uma versão melhorada. Ambos foram construídos nos estaleiros
Kingston, pela Russel & Co sob supervisão da Pinillos. Construído em 1914
nos estaleiros da escocesa Russell & Co, o mais luxuoso transatlântico
espanhol ostentava 150 metros de comprimento, 16.500 toneladas e capacidade
para transportar 1.900 passageiros a uma velocidade máxima de 18 nós. O
Príncipe de Astúrias tinha casco duplo em sua extensão, com compartimentos
estanques e de lastro que podiam ser enchidos ou esvaziados facilmente,
proporcionando uma estabilidade maior em qualquer situação crítica de navegação. Em 6 de
março de 1916, o navio se dirigia ao tradicional porto de Santos, fazendo sua
sexta viagem à América do Sul.
Levava
oficialmente 588 pessoas entre passageiros e tripulantes, embora houvesse a
informação de que cerca de 800 imigrantes em situação de precarização viajavam
clandestinamente nos porões, fugindo da violência letal da 1ª grande guerra.
Entre as cargas importantes, o navio levava 12 estátuas de bronze que fariam
parte do monumento La Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas em Buenos
Aires e uma considerável quantia de 40 mil libras em ouro. Entre as causas
da guerra inclui-se as políticas imperialistas estrangeiras das
grandes potências da Europa, como o Império Alemão, o Império
Austro-Húngaro, o Império Otomano, o Império Russo, o Império
Britânico, a chamada Terceira República Francesa e a Itália.
Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque Francisco
Fernando da Áustria, o principal herdeiro do trono da Áustria-Hungria,
pelo nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip (1894-1918), em Sarajevo, foi o
estopim da 1ª Grande Guerra, o que resultou em um ultimato da
Áustria-Hungria contra o Reino da Sérvia. Diversas alianças antes formadas foram invocadas, dentro de algumas semanas, as grandes
potências estavam em guerra; através de suas colônias, o conflito se
espalhou ao redor do planeta como um balão de estufa.
Além
de ser um navio potente e moderno, o Príncipe de Astúrias era luxuoso com uma
biblioteca para uso exclusivo dos passageiros, em estilo Luís XVI, com estantes
de mogno e assentos de couro de qualidade. Etnograficamente a cobertura
superior servia como espaço de lazer
com bancos e cadeiras, e nela existiam vidraças coloridas que protegiam do
vento e das tempestades. O restaurante era decorado com painéis de carvalho
japonês e quadros com molduras de nogueira. Havia também com uma cúpula coberta
com vitrais coloridos, pela qual se podia desfrutar da luz natural ambiental
durante o dia. O navio contava com um salão de música que podia ser acessado
pelo salão de entrada, onde havia uma grande escadaria com laterais e corrimãos
trabalhados em madeira. O chão de entrada era decorado com tapetes persas que
eram usados como pista de dança. Um piano havia sido construído especialmente
para ser tocado a bordo.
A palavra réveillon tem origem no verbo em francês réveiller, que significa “acordar” ou “reanimar” em sentido figurado. Assim, o réveillon é o despertar do novo ano. A partir do século XVII, a palavra Réveillon passou a ser utilizada para designar as festas realizadas pela nobreza francesa, que duravam a noite toda. Marcado por simbolismos, o réveillon é uma comemoração com muitos
rituais, realizados para atrair “a boa sorte” ou para “deixar para trás tudo o
que foi ruim”, trazendo esperança de dias melhores para o novo ano. Com a
expansão da cultura ocidental para muitos outros lugares do mundo durante
séculos recentes, o calendário gregoriano foi adotado por muitos outros países
como o calendário oficial e a data de 1º de janeiro tornou-se globalizada para
se comemorar o ano-novo, mesmo em países com suas próprias celebrações em
outros dias como Israel, China e Índia. Na cultura da América Latina, há uma
variedade de tradições e superstições em torno de datas como presságios
para o próximo ano. Essa tradição contida na concepção etnográfica dos ritos na passagem (cf. Van Gennep, 1977) do ano
é muito importante sociologicamente falando, para a realização humana e tem um caráter motivacional das festas religiosas. Faz
com que as pessoas sejam mais positivas e consigam encarar as situações
difíceis do dia a dia.
Naquela noite de
terça-feira, dia 31 de dezembro, pouco mais de 250 barcos circularam no mar de
Copacabana em busca de uma posição privilegiada para ver o espetáculo de fogos
de artifício que atrai milhões de pessoas a cada réveillon. Sessenta toneladas de fogos e oito torres de som com 120
watts localizadas entre a discoteca Help e a Avenida Princesa Isabel deram aparentemente
as boas-vindas ao ano de 1989 nas areias da praia de Copacabana. Dez minutos
antes da meia-noite, porém, começava a acontecer a tragédia anunciada que, mais
do que o réveillon, tornaria aquela
passagem de ano uma das mais marcantes de toda a história social das festas na
orla carioca. Uma hora e 20 minutos depois do barco de passeio Bateau Mouche IV ter deixado o
ancoradouro, no restaurante Sol e Mar, nas proximidades da Avenida Repórter
Nestor Moreira, em Botafogo, ele afundou na entrada da Baía de Guanabara, a
caminho da Praia de Copacabana. Cinquenta e cinco pessoas morreram, entre elas
a atriz Yara Amaral e Maria José Teixeira, casada com o ex-ministro do
Planejamento Anibal Teixeira, que conseguiu se salvar. O Bateau Mouche naufragou a
cerca de um quilômetro da Praia Vermelha, entre o Morro do Leme e a Ilha de
Cotunduba, próximo ao Pontal do Leme, onde a profundidade é de 22 metros.
Pescadores de Jurujuba, em Niterói, que estavam numa traineira, foram os
primeiros a perceber que o barco afundaria e conseguiram retirar pelo menos 30
pessoas do mar.
Bibliografia
geral consultada.
SILVARES, José
Carlos, Naufrágios do Brasil. Edição
bilíngue: Português/Inglês. São Paulo: Editora Cultura Subeditoras, 2010; CARVALHO, André Benevides de, Análise da Convenção de Atenas: Conteúdo e Possíveis Efeitos. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Direito Internacional. Santos: Universidade Católica de Santos, 2010; CELESTINO RIOS e SOUZA, Carlos, Arqueologia
Subaquática: Identificação das Causas de
Naufrágios nos Séculos XIX e XX na Costa de Pernambuco. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia. Recife: Universidade
Federal de Pernambuco, 2010; GOULARTI FILHO,
Alcides, “História Econômica
da Construção Naval no Brasil. Formação de Aglomerado e Performance Inovativa”.
In: Revista Economia. vol.12, nº2, pp.309-336, 2011; SANTOS, Marina Gonzalez Ferreira dos, Análise de Acidentes com Embarcações em Águas sob Jurisdição Brasileira - Uma Abordagem Preventiva. Dissertação de Mestrado. Programa de Engenharia Ambiental. Escola Politécnica e Escola de Química. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013; DURAN, Leandro; BAVA DE CAMARGO, Paulo Fernando; BARBOSA, Marina Souza, Desvendando o Naufrágio do Vapor Bahia, PE, Brasil (1997): O Olhar da Arqueologia Subaquática. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2014; LACERDA, Katia de Barros de, Proposta de Prevenção de Acidentes em Embarcações de Transporte de Passageiros. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Transportes. Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2015; FARHERR, Ramsés Mikailauscas, “O Naufrágio do Vapor Rio Apa (1887) sob a Óptica da arqueologia Marítima: Contextos, Relações e Ressignificações”. In: periódicos. ufpesledu.br/vol. 14, nº 27 (2017); entre outros.
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