Ubiracy de Souza Braga
A
origem etimológica da família Brontë pode ser delineada até ao clã irlandês Ó
Pronntaigh, que se traduz literalmente para “filho de Pronntach”, de tradição
de escribas e homens da literatura em Fermanagh, o que é relacionado com a
palavra bronnadh. A certa altura, o
pai das irmãs, Patrick Brontë, nascido Brunty, decidiu mudar o seu sobrenome.
Não se sabe ao certo o motivo familial para fazê-lo existindo várias teorias e etimologias a respeito.
Ele pode tê-lo feito, talvez, para esconder as suas origens humildes. Como homem de
letras, ele estaria familiarizado com o Grego clássico e é possível que se
tenha baseado na palavra grega βροντή
(“trovão”) para escolher o seu nome. Em 1820, seu pai tornou-se reitor de Haworth, permanecendo lá pelo resto da vida. após a morte de sua mãe em 1821, as crianças foram deixadas para si mesmas na sombria casa paroquial. Um ponto de vista, apresentado pelo
biógrafo Clement King Shorter, jornalista e crítico literário britânico, em 1896, é que ele adaptou o seu nome para se
associar com o Almirante Horatio Nelson, também Duque de Brontë. Prova disso é ele
querer imitar o Duque de Wellington na forma como se vestia. O Ducado de Wellington, derivado de Wellington, em Somerset, é um título hereditário e o ducado mais antigo do Pariato do Reino Unido. O primeiro detentor do título foi Arthur Wellesley, 1° Duque de Wellington, (1769-1852), o famoso general e estadista britânico, nascido na Irlanda que, juntamente com Blücher, derrotou Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo. Consequentemente, inqualificadas referências ao Duque de Wellington quase sempre se referem a ele.
Os
Brontës foram uma família literária do século XIX associada à aldeia de
Thorton, localizada no West Riding of Yorkshire, Inglaterra. As irmãs,
Charlotte (1816-1855), Emily (1818-1848) e Anne (1820-1849) são escritoras e poetisas
bem conhecidas do público no processo de massificação da literatura. Por todo o século XIX, o universo das mulheres esteve circunscrito à casa e à família. Como boas mães e esposas, esperava-se que se dedicassem exemplarmente ao lar e não aos estudos, à pesquisa, ao conhecimento, muito menos à escrita. Nesse contexto, mesmo com toda coragem de pronunciamento e recusa em ocupar um lugar coadjuvante na sociedade burguesa, não foi fácil para escritoras mulheres conseguirem conquistar o respeito dentro de um universo notadamente masculino. Muitas autoras recorreram ao anonimato, abreviaturas, nomes sem gênero marcado e também ao pseudônimo masculino, como estratégia para publicação de suas obras. Essas mulheres corajosas enfrentaram um duplo preconceito: o de serem mulheres escritoras e o de serem escritoras mulheres. À
semelhança sobre o preconceito de escritoras de seu tempo, inicialmente
elas publicaram os seus poemas e romances sob pseudônimos masculinos: Currer,
Ellis e Acton Bell. Seus livros tiveram bastante sucesso assim que foram
publicados. Jane Eyre, de Charlotte
foi o primeiro romance a ser publicado, seguido de Wuthering Heights, de Emily e The
Tenant of Wildfell Hall, de Anne. As três irmãs e seu irmão Branwell eram
muito próximos. Na infância desenvolveram as suas imaginações através das histórias
que ouviam da empregada e da criação de “mundos imaginários” que desenvolveram
na escrita. Pois Charlotte ocupava o seu tempo livre desenvolvendo o “mundo
imaginário” de Angria, sendo uma sofisticada realidade que pode adentrar à fase adulta que tinha criado com os irmãos, através de
correspondência com ele.
As
crianças interessaram-se cedo pela escrita. Inicialmente, ela surgiu na forma
de um jogo que, mais tarde, evoluiu para uma paixão. Apesar de todos
demonstrarem ter um grande talento para a narrativa, foram as irmãs mais novas
que começaram a desenvolver as histórias nos seus “tempos livres”. No centro da
criatividade das crianças estavam doze soldados de madeira que Patrick Brontë
ofereceu a Branwell no início de junho de 1826. Estes soldados de brincar
alimentaram instantaneamente a sua imaginação sociológica e elas referiam-se
aos mesmos como “os jovens” e deram-lhes nomes. Porém, só em dezembro de 1827 “é
que as suas ideias passaram para o papel e, assim, nasceu o reino africano imaginário
de Glass Town, seguido do Império de Angria”. Emily e Anne criaram Gondal, uma
ilha no Pacífico Norte governada por uma mulher, depois da partida de Charlotte
em 1831. No início, estas histórias eram escritas em livros minúsculos do
tamanho de uma caixa de fósforos e as suas páginas eram cuidadosamente unidas
com fio. Para além de escrita, os pequenos livros continham ilustrações, mapas
detalhados, esquemas, paisagens e plantas de edifícios. A ideia era que os
livros deviam ter o tamanho ideal para os soldados lerem. A complexidade das
histórias foi evoluindo com a imaginação das crianças desenvolvida, alimentada pela
leitura das revistas que seu pai recebia, ou dos jornais que a família recebia diariamente.
A
morte da sua mãe e, mais tarde, das suas duas irmãs mais velhas afetou-os
profundamente e influenciou a sua escrita, assim como o isolamento relativo em
que cresceram. A casa paroquial de Haworth em Yorkshire, em que viveram, é
atualmente o Brontë Parsonage Museum, visitado por milhares de pessoas todos os
anos. Patrick Brontë nasceu em Loughbrickland, Condado de Down, na Irlanda,
numa família de trabalhadores rurais. O seu nome de nascimento era Patrick Prunty
ou Brunty. A sua mãe, Alice McClory, era católica Romana, enquanto que o seu
pai, Hugh era protestante, sendo que Patrick foi criado com a religião do seu
pai. Ele acabou por se tornar sacerdote permanente da paróquia de Haworth. Mas
Patrick era um sacerdote anglicano de origens irlandesas, que foi também poeta,
escritor e polemista. Na infância e juventude demonstrou inteligência e, depois
de ter lições com o Reverendo Thomas Tighe, conseguiu bolsa de estudos no St.
John`s College da Universidade de Cambridge onde estudou Teologia e História
Antiga e Moderna. Depois de terminar os seus estudos em Cambridge, foi ordenado
sacerdote no dia 10 de agosto de 1806. Nos anos seguintes, escreveu dois livros
de poesia: Cottage Poems (1811) e The Rural Minstrel (1814) e vários panfletos da vida cotidiana, artigos
para jornais e uma série de poemas rurais.
A
esposa de Patrick Brontë, Maria Brontë, nascida Branwell,
era natural de Penzance, uma cidade portuária e paróquia civil do condado de Cornualha, no sudoeste da Grã-Bretanha, vinha de uma família de classe média alta. Esta cidade foi historicamente porto de piratas. É mais conhecida por ser a cidade ocidental da Cornualha e na proximidade de 121 quilômetros a oeste de Plymouth e 480 quilômetros a oeste-sudoeste de Londres. O seu pai tinha uma loja de chá e mercearia de sucesso “que lhe tinha rendido
uma fortuna considerável”. Maria faleceu com 38 anos de cancro do útero. Maria
casou-se no mesmo dia que a sua irmã Charlotte, na igreja paroquial Guiseley onde o território e a população está subordinada eclesiasticamente ao pároco em West Yorkshire, um condado metropolitano da Inglaterra, localizado na região de Yorkshire e Humber, depois
de seu noivo ter celebrado a união de outros dois casais. Ela era uma mulher
educada e devota, conhecida pela sua disposição animada, pela sua alegria e
pela sua bondade. Patrick e Charlotte foram os únicos a deixar memórias dela. Os
filhos mais novos, Emily e Anne lembravam-se vagamente da
mãe e dentre as poucas memórias de que tinham cultivado dela eram
principalmente pela dor de sofrimento por que passou durante a sua doença.
A
população de Haworth cresceu rapidamente durante a primeira metade do século
XVIII, de pouco mais de 1000 habitantes para 3365 num espaço de 50 anos. A
aldeia não possuía um sistema de esgotos e a água dos poços estava contaminada
com matéria fecal e pelos corpos em decomposição do cemitério localizado no
cimo de uma colina. A esperança média de vida era de menos de 25 anos e a taxa
de mortalidade infantil rondava os 41% para crianças com menos de seis meses de
idade. A maioria da população camponesa ganhava a vida para cultivar a terra
pouco fértil das charnecas e completava os rendimentos com trabalhos artesanais
feitos em casa, tais como a fiação e a tecelagem de lã das ovelhas criadas nas
charnecas. As condições sociais de trabalho não mudaram para melhor, ao contrário, como
observou o crítico e escritor socialista Friedrich Engels, autor de estudo
de um volumoso estudo sobre as condições sociais da classe trabalhadora inglesa e a indústria têxtil, do
século XVIII, cresceu nas fábricas localizadas nas margens do rio Worth.
Elizabeth
Branwell chegou de Penzance em 1821, com 45 anos, após a morte de Maria, a sua
irmã mais nova, para ajudar Patrick a cuidar das crianças. Ela era tratada como
“Tia Branwell”. Elizabeth ensinou a aritmética, o alfabeto e costura às
crianças. Ela era subscritora da revista Fraser`s
Magazine uma revista geral e literária publicada em Londres de 1830 a 1882, que inicialmente adotou uma expressiva linha conservadora na política. Foi fundada por Hugh Fraser e William Maginn em 1830 e dirigida livremente por Maginn sob o nome Oliver Yorke até cerca de 1840, que assim debatia os seus artigos com os sobrinhos. Elizabeth era uma
pessoa generosa que dedicou a sua vida aos sobrinhos e nunca se casou, nem
regressou à Cornualha para visitar os seus familiares. Ela morreu de obstrução
intestinal em outubro de 1842 após um breve período de grande agonia em função
da enfermidade. Às portas da morte, foi consolada pelo seu sobrinho Branwell.
No seu testamento, Elizabeth deixou uma quantia significativa de dinheiro aos
sobrinhos, o que permitiu que Charlotte, Emily e Anne deixassem os seus
empregos comuns, mas importante de governantas e professoras e se dedicassem de forma criativa e com exclusividade
à literatura.
Patrick era compreensivo, inteligente, generoso e organizou diretamente a educação dos seus filhos. Ele comprava todos os livros e brinquedos que os filhos lhe pediam e dava-lhes bastante liberdade e amor incondicional. Após várias tentativas infrutíferas de encontrar uma nova mulher, Patrick aceitou a sua viuvez aos 47 anos e dedicava o seu tempo a visitar os doentes e os pobres, assim como a pregar sermões, dar-lhes a comunhão e a extrema unção, deixando as três irmãs, Emily e Charlotte, Anne, e seu irmão Branwell sozinhos com a sua tia e a criada, Tabitha Aykroyd (“Tabby”). Ela contava lendas locais no seu dialeto de Yorkshire, enquanto prepara as refeições. Segundo Fabbro e Felipini (2018), a falta de representação do dialeto de Yorkshire nas traduções realizadas no Brasil revela a necessidade de estudos que abordem acerca da importância da representação no texto de chegada das variantes dialetais presentes no texto de partida, levando em consideração que um dialeto literário retrata a realidade de um grupo de falantes. Patrick viu todos os membros da sua família falecer antes dele. Ele morreu em 1861, seis anos após a morte da sua última filha viva, Charlotte, com 84 anos. No final da sua vida, o seu cunhado, o Reverendo Arthur Bell Nicholls assistiu-o. Foi o marido da romancista inglesa Charlotte Brontë. Ele cuidou de Patrick Brontë após a morte da mãe, Charlotte Brontë e passou o resto de sua vida na sombra de sua reputação. Ele retornou à sua terra natal, a Irlanda, se casou novamente e deixou a igreja.
Patrick era compreensivo, inteligente, generoso e organizou diretamente a educação dos seus filhos. Ele comprava todos os livros e brinquedos que os filhos lhe pediam e dava-lhes bastante liberdade e amor incondicional. Após várias tentativas infrutíferas de encontrar uma nova mulher, Patrick aceitou a sua viuvez aos 47 anos e dedicava o seu tempo a visitar os doentes e os pobres, assim como a pregar sermões, dar-lhes a comunhão e a extrema unção, deixando as três irmãs, Emily e Charlotte, Anne, e seu irmão Branwell sozinhos com a sua tia e a criada, Tabitha Aykroyd (“Tabby”). Ela contava lendas locais no seu dialeto de Yorkshire, enquanto prepara as refeições. Segundo Fabbro e Felipini (2018), a falta de representação do dialeto de Yorkshire nas traduções realizadas no Brasil revela a necessidade de estudos que abordem acerca da importância da representação no texto de chegada das variantes dialetais presentes no texto de partida, levando em consideração que um dialeto literário retrata a realidade de um grupo de falantes. Patrick viu todos os membros da sua família falecer antes dele. Ele morreu em 1861, seis anos após a morte da sua última filha viva, Charlotte, com 84 anos. No final da sua vida, o seu cunhado, o Reverendo Arthur Bell Nicholls assistiu-o. Foi o marido da romancista inglesa Charlotte Brontë. Ele cuidou de Patrick Brontë após a morte da mãe, Charlotte Brontë e passou o resto de sua vida na sombra de sua reputação. Ele retornou à sua terra natal, a Irlanda, se casou novamente e deixou a igreja.
Charlotte
nasceu em Thornton, próximo de Bradford, no dia 21 de abril de 1816. Foi
escritora e poetisa e é a autora do romance Jane
Eyre, a sua obra mais conhecida, e de três outros romances. Morreu em 31 de
março de 1855 pouco antes do seu 39º aniversário. Patrick Branwell nasceu em
Thornton no dia 26 de junho de 1817. Conhecido como Branwell, era pintor e
escritor e raramente trabalhava. Ele tornou-se alcoólico e viciado em láudano e
morreu em Haworth, no dia 24 de setembro de 1848, aos 31 anos. Emily Jane,
nascida em Thorton no dia 30 de julho de 1818, foi poetisa e escritora. Morreu
em Haworth, no dia 19 de dezembro de 1848, aos 30 anos. Conseguiu completar um romance em vida: Wuthering Heights. Anne, nascida em
Thorton no dia 17 de janeiro de 1820, foi uma poetisa e escritora. Escrevera os
romances Agnes Grey, baseado em
grande parte nas suas experiências como governanta, e The Tenant of Wildfell Hall. Ela morreu em Scarborough, no dia 28 de maio
de 1848, aos 29 anos.
À
medida que foram crescendo, os gostos literários dos Brontë foram evoluindo e
as obras de Lord Byron tiveram uma grande influência na atração sexual e
espírito apaixonado das personagens de Angria. Os Brontë descobriram Lord Byron
através de um poema publicado numa das revistas que o seu pai lia e os temas
mais ousados da sua obra tornaram-se sinônimo de tudo o que era proibido e
audaz. A influência de Byron manifesta-se também nos romances que as irmãs
escreveram quando eram adultas, visto que personagens como Heathcliff em
Wuthering Heights ou Mr. Rochefort em Jane Eyre têm traços de personalidade que podem ser definidos seguramente, como padrões habituais de comportamento, pensamento e sentimento que
se encontram na obra de Byron. Melhor dizendo: - “O herói com uma moralidade detestável, mas que
é capaz de demonstrar grande afeição”. Outras influências incluem a literatura fantástica de John Milton e as gravuras
de John Martin. Dotado de uma imaginação prodigiosa, por vezes herética, Milton, que havia defendido o divórcio, a liberdade de imprensa e até a poligamia, criou o clássico da literatura cristã do século XVII. Mas, durante o século XIX, o radicalismo adquire nos países anglo-saxões um ersatz teórico e filosófico, de orientação utilitarista, o que fez com que não perdesse a índole prática e consequencial do tema. Filósofos radicais é, precisamente, a rotulagem que John Stuart Mill e seus seguidores adotaram na hora em que se fizeram conhecer no Parlamento. O seu objetivo era acelerar as reformas sociais e revitalizar a abertura das crenças na sociedade, tudo isso pela transformação final do antigo regime aristocrático numa sociedade livre, de mercado, moderna, secular, democrática e liberal.
A
situação financeira da família não era das melhores e a Tia Branwell gastava o
dinheiro com cuidado. Emily sentia uma necessidade quase visceral de permanecer
em casa e, sempre que se ausentava, sentia-se desesperada. Charlotte e Anne
eram mais realistas e não hesitaram em procurar trabalho e a partir de abril de
1839 e dezembro de 1841, respetivamente, as duas irmãs trabalharam como
governantas. No entanto, Anne foi a única a conseguir um emprego que não durou
mais do que poucos meses com a família Robinson em Thorp Green entre maio de
1840 e junho de 1845. Entretanto, Charlotte teve uma ideia que parecia ser
proveitosa para as irmãs. À conselho do pai e dos amigos, ela teve a ideia de
criar uma escola para jovens mulheres na casa da família no local onde davam
catequese. Elas tinham concebido um plano de estudos que incluía línguas
modernas e chegaram à conclusão de que deveriam desenvolver as suas
competências no estrangeiro. Depois de rejeitarem a ideia de irem para Paris ou
Lille, pois a família era conservadora e devido a aversão à França, provocada
pelos ideais liberais radicais da revolução clássica francesa, elas decidiram ir para a
Bélgica, onde poderiam estudar o Alemão e Música. A Tia Branwell
financiou sua viagem.
Charlotte
criou o mundo imaginário coletivo dos ritos de Angria, de qual constam aproximadamente cem
histórias, entre os anos de 1829 e 1839. Já Emily e Anne criaram um imaginário
próprio, chamado Gondal, no qual escreveram de 1834 até 1845, porém todos estes
escritos foram perdidos. Branwell chegou a colaborar com a irmã Charlotte,
ilustrando os seus textos, tendo em vista o seu talento para a pintura, motivo
pelo qual as irmãs Brontë se uniram para custear a educação de Brandwell. Para
conseguir recursos financeiros, empregaram-se como professoras e governantas,
em um internato, mas a separação e afastamento do lar e família trazia
infelicidade para ambas. Procurando estarem sempre unidas, decidiram montar uma
escola de meninas em Haworth, e para isso, Charlotte e Emily viajaram para
Bruxelas a fim de aprenderem línguas, bem como administração escolar. Charlotte
lecionava Inglês e Emily lecionava Música, para pagar as despesas e
alimentação. Com a morte súbita de sua tia, as irmãs retornaram de Bruxelas.
Algum tempo depois, Charlotte regressou ao internato, e sua permanência não lhe
trouxe nenhuma felicidade. Sentia saudades das irmãs e da família, motivo pelo
qual a fez se aproximar do diretor do internato, Constantin Hèger, que era
casado. Essa paixão inspirou os livros: O Professor e Villette.
Emily
e Charlotte chegaram a Bruxelas em fevereiro de 1842, acompanhadas pelo seu
pai. Quando chegaram, inscreveram-se no internato de Monsieur e Madame Heger na
Rue d`Isabelle, onde permaneceram durante seis meses. Clair Heger era a segunda
esposa de Constantin e foi ela quem fundou e dirigia a escola enquanto
Constantin era responsável pelas aulas de Francês avançadas. Charlotte
adorava as aulas, principalmente de Constantin Heger, mais lembrado por sua associação com Emily e Charlotte Brontë durante a década de 1840, e tanto ela
como Emily demonstravam uma inteligência excepcional. Emily aprendeu rápido o Alemão
e a tocar piano com brilhantismo natural e as duas irmãs escreviam ensaios
literários e filosóficos num nível avançado de Francês. Após seis meses de
estudo, Madame Heger sugeriu que as irmãs permanecessem no internato, sem custo,
em troca de ensinarem algumas disciplinas. Após hesitação as irmãs aceitaram.
Nenhuma delas se sentia particularmente afeiçoada aos seus alunos e apenas uma
aluna, Mademoiselle de Bassompierre, então uma adolescente com a idade de 16 anos,
expressou mais tarde algum afeto pela sua professora.
A
morte da tia em outubro de 1842 levou as irmãs a regressarem a Haworth. A tia
Branwell deixou uma herança a todos os seus sobrinhos e a Eliza Kingston, uma
prima que ainda vivia em Penzance. Esta herança foi utilizada para pagar as dívidas
da família, restando algum dinheiro. Charlotte e Emily foram convidadas a
regressar a Bruxelas uma vez que eram competentes e necessárias. Ambas
receberam propostas de emprego como professoras no internato para o ensino de Inglês
no caso de Charlotte e Música no caso de Emily. Porém, Charlotte regressou
sozinha à Bélgica em janeiro de 1843. Quase um ano após os seu regresso à
Bélgica, Charlotte resignou-se e regressou a Haworth. A vida em Haworth
tinha-se complicado durante a sua ausência. O seu pai tinha ficado cego em
consequência de cataratas e nem uma operação em Manchester tinha ajudado.
Quando Charlotte regressou a Inglaterra, sua passagem em
Manchester foi para visitar o seu pai enquanto este recuperava da operação e foi aí
que começou a escrever Jane Eyre.
Entretanto, a vida do seu irmão Branwell começou a piorar gradualmente com
dramas, bebedeiras e delírios. A má reputação de Branwell afetou psicologicamente
a família, ipso facto o projeto da
escola foi abandonado.
Na
opinião literária, anacrônica, machista e preconceituosa de Otto Maria Carpeaux
(2005): - O reino de Angria sobrevive nos romances de Charlotte Brontë, que
nunca esteve em Gondal. Mas havia duas almas em Charlotte: a sonhadora de Angria e uma romancista vitoriana,
bastante medíocre, sentimental e timidamente realista, baseando-se em
experiências inglesas e belgas que não sabia transfigurar porque a pátria da
sua alma ficava fora da Inglaterra e Bélgica: em Angria. No seu primeiro
romance, The Professor, publicado só
postumamente, baseou-se realmente nas experiências com o professor Héger; e é
um romance muito fraco. Em Jane Eyre,
primeiro romance publicado pela autora, tudo o que se refere às experiências na
escola de Cowan Bridge é fraco, dum sentimentalismo hoje insuportável. Mas foi
justamente isso o que encantou os leitores vitorianos, segundo Carpeaux, que se
assustaram com o herói devasso Rochester. Este não é outra pessoa senão
Zamorna, um dos protagonistas da história de Angria, assim como a sua mulher
louca estava preconcebida, lá, como Lady Zenobia. Charlotte Brontë, algo
desconcertada pelas críticas contraditórias de sua obra de estreia, pretendeu
depois, em Shirley, escrever um
romance realista, à maneira de Charles Dickens, com alusões à questão social e outras coisas das quais a autora não entendia
quase nada. Salva-se o romance porque os personagens e o enredo
são de origem angriana. Em Villette, Charlotte Brontë voltou às
experiências de Bruxelas com seu editor -, mas estava prefigurado nos acontecimentos em Verdropolis, capital da Angria, e a
fusão de elementos realistas e fantásticos promoveu, desta vez, a
obra-prima.
Os membros da família Brontë nunca abandonaram a escrita. Charlotte e Branwell tinham ambições de verem os seus trabalhos publicados, porém, Charlotte nunca incluiu o irmão nos seus projetos. Escreveu ao laureado poeta Robert Southey e enviou-lhe vários poemas que escrevera no seu estilo. O poeta respondeu-lhe vários meses depois com uma carta desencorajadora. Southley, uma das grandes figuras do romantismo inglês, com William Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge, mas partilhava o preconceito naturalizado que a carreira na literatura, mais particularmente na poesia, era do domínio masculino e não era apropriada para mulheres. Porém, Charlotte não perdeu a motivação e, além do mais, uma coincidência ajudou-a. Num dia de outono em 1845, enquanto estava sozinha na sala de jantar, ela reparou um detalhe num pequeno bloco de notas aberto na gaveta da escrivaninha de Emily. Ela leu-o e ficou espantada com a beleza dos poemas lá escritos por Emily e que ela não conhecia. Cinco anos mais tarde, Charlotte recordou o que sentiu ao encontrar os poemas da irmã: - uma convicção no meu íntimo de que aquelas não eram composições comuns, nem se assemelhavam em nada à poesia que as mulheres costumam escrever. Achei os poemas vigorosos e genuínos, tinham um ritmo peculiar: selvagens, melancólicos e exaltantes.
Os
membros da família Brontë nunca abandonaram a escrita. Charlotte e Branwell
tinham ambições de verem os seus trabalhos publicados, porém, Charlotte nunca
incluiu o irmão nos seus projetos. Escreveu ao laureado poeta Robert Southey e
enviou-lhe vários poemas que escrevera no seu estilo. O poeta respondeu-lhe
vários meses depois com uma carta desencorajadora. Southley, uma das grandes
figuras do romantismo inglês, com William Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge,
mas partilhava o preconceito naturalizado que a carreira na literatura, mais
particularmente na poesia, era do domínio masculino e não era apropriada para
mulheres. Porém, Charlotte não perdeu a motivação e, além do mais, uma
coincidência ajudou-a. Num dia de outono em 1845, enquanto estava sozinha na
sala de jantar, ela reparou um detalhe num pequeno bloco de notas aberto na
gaveta da escrivaninha de Emily. Ela leu-o e ficou espantada com a beleza dos
poemas lá escritos por Emily e que ela não conhecia. Cinco anos mais tarde,
Charlotte recordou o que sentiu ao encontrar os poemas da irmã: - uma convicção
no meu íntimo de que aquelas não eram composições comuns, nem se assemelhavam
em nada à poesia que as mulheres costumam escrever. Achei os poemas vigorosos e
genuínos, tinham um ritmo peculiar: selvagens, melancólicos e exaltantes.
Enfim,
Jane Eyre, de Charlotte, Wuthering Heights, de Emily e Agnes Grey,
de Anne Brontë foram publicados em 1847, após várias tentativas infrutíferas de
encontrar uma editora. Depois de uma longa busca, a editora Smith, Elder &
Co, sediada em Londres, publicou o primeiro livro. Até ali, George Smith, o
dono da editora, especializava-se na publicação de revistas científicas. Os
trabalhos de Emily e Anne foram entregues a Thomas Cautley Newby, cuja intenção
era reunir três livros para vender em conjunto, uma opção de venda e de distribuição
para bibliotecas mais econômica. Assim, Wuthering Heights foi dividido em dois
volumes e vendido em conjunto com Agnes Grey. Ambos os romances foram bem
recebidos pela crítica literária e tiveram sucesso comercial, o que levou a que
se apressasse o lançamento de Jane Eyre.
O romance de Charlotte tornou-se rapidamente num best-seller. Em julho de 1848,
Charlotte e Anne viajaram para Londres, pois Emily recusou-se a acompanhar as
irmãs, a convite da sua editora para provarem que cada irmã era uma autora
independente depois de Thomas Cautley Newby, o editor de Wuthering Heights e de Agnes
Grey, ter espalhado o boato de que os três romances eram do mesmo autor.
George Smith ficou surpreendido “ao encontrar duas jovens mulheres do campo,
desajeitadas, mal vestidas e paralisadas de medo no seu escritório”. Charlotte
e Anne identificaram-se através das cartas enviadas pela editora para Messrs,
Acton, Currer e Ellis. George apresentou as irmãs à sua mãe e convidou-as para
a ópera, onde assistiram a uma produção de Il barbiere di Siviglia.No seguimento do enorme sucesso de Jane Eyre, George Smith, o seu Editor, pressionou-a a viajar para Londres para conhecer os seus leitores. A timidez extrema que a paralisava com estranhos e fazia com que quase não se conseguisse expressar, Charlotte aceitou ser celebrada.
Em
Londres conheceu outros grandes escritores, incluindo Harriet Martineau e
William Makepeace Thackeray, que se tornaram seus amigos. Charlotte tinha uma
admiração especial por Thackeray cujo retrato oferecido a Charlotte por George
Smith ainda se encontrava pendurado na casa paroquial de Haworth. Porém, a
relação social entre Charlotte e Thackeray teve os seus percalços. Numa reunião
pública, este apresentou Charlotte à sua mãe como Jane Eyre. A escritora ficou
ofendida pela sua distorção imaginária
e no dia seguinte visitou Thackeray para reprimi-lo. A conversa severa fez com
que George Smith intervisse. Durante a sua viagem a Londres em 1851, Charlotte
visitou a Grande Exposição no Palácio
de Cristal. Antes publicou o romance: Shirley,
em 1849 e Villette, em 1853. As irmãs Brontë, sociologicamente espertas, divertiam-se muito com o comportamento político-afetivo ultraconservador dos sacerdotes que as conheciam. Arthur Bell Nicholls era sacerdote em Haworth há sete anos e meio quando contra todas as expectativas sociais e a fúria de Patrick Brontë pediu Charlotte em casamento. Apesar de gostar da sua dignidade e da sua voz grave e de quase ter tido um esgotamento emocional quando o rejeitou, Charlotte achava-o demasiado rígido, convencional e retrógrado “como todos os sacerdotes”.
Depois de ver o seu pedido rejeitado e com a raiva de Patrick Brontë, Nicholls abandonou o seu cargo durante meses para refletir. Porém, pouco a pouco, os sentimentos de Charlotte mudaram e, depois de convencer o seu pai, ela acabou por se casar com Nicholls em 29 de junho de 1854. Depois de regressar da sua lua de mel na Irlanda, onde fora apresentada à tia e aos primos de Nicholls, sua vida mudou quase por completo. Ela assumiu os “novos deveres de esposa e isso ocupava a maioria do seu tempo”. Ela dizia aos amigos que Nicholls “era um marido bom e atencioso, mas que, ainda assim, sentia-se aterrorizada com a sua nova vida”. Numa carta de Ellen Nussey, em 1854, ela escreveu: - “Nell, é certamente algo estranho e perigoso para uma mulher tornar-se esposa”. Charlotte morreu no ano seguinte aos 38 anos; desgraçadamente estava grávida quando morreu. A tuberculose foi a causa de morte divulgada, mas a doença pode ter-se complicado com a associação de febre tifoide, pois era bastante provável que a água insalubre de Haworth estivesse contaminada devido ao mau saneamento e ao cemitério que rodeava a igreja e a casa onde a família vivia. São inúmeras as adaptações para o cinema, teatro e TV, pois são reconhecidos grandes clássicos, com destaque para Jane Eyre e O Morro Dos Ventos Uivantes, que tiveram várias adaptações ao longo de décadas, entre séries produzidas pela British Broadcasting Corporation, corporação britânica de radiodifusão, reconhecida historicamente pela sigla BBC, indicativa sobre filmes em Hollywood, peças de teatro e inúmeras obras ou musicais.
Com o decorrer das décadas, Hollywood se tornou símbolo do poderoso e fantástico cinema norte-americano, sediando premiações e abrigando homenagens públicas para os mais destacados artistas de cinema e musicais do mundo. O local também é famoso pelo grande letreiro chamado Sinal de Hollywood e pela enorme concentração de pessoas ricas e famosas que moram no distrito ou distritos próximos. Devido à sua fama no meio artístico e identidade cultural como o centro histórico de estúdios e astros de cinema, a palavra Hollywood é frequentemente usada e associada como uma metonímia do cinema norte-americano, e é ipso facto, muitas vezes usada alternadamente para se referir à Grande Los Angeles em geral. As alcunhas StarStruck Town e Tinseltown referem-se a Hollywood e sua indústria cinematográfica. Atualmente, grande parte da indústria do cinema se dispersou em áreas vizinhas, como a região de Westside, entretanto, significativas indústrias auxiliares, tais como empresas de edição, efeitos adereços, pós-produção e iluminação permanecem em Hollywood, como o backlot da Paramount Pictures. Muitos teatros históricos de Hollywood são utilizados como pontos de encontro e palcos de concerto de principais estreias cinematográficas além de sediar o Oscar. É um popular destino para a vida noturna e o turismo, e abriga a Calçada da Fama. Desnecessário dizer que a Calçada da Fama (Walk of Fame), é um dos lugares mais visitados dos Estados Unidos da América e, sem dúvida, um ícone da terra do cinema. Esta calçada está localizada ao longo dos trajetos das ruas Hollywood Boulevard e Vine Street, sendo que nela constam estrelas de astros e estrelas do cinema, música, televisão, rádio e teatro, não só dos Estados Unidos como de várias partes do mundo. Atualmente, são mais de 2500 estrelas que estampam o chão de Hollywood.
Bibliografia geral consultada.
BADINTER, Elisabeth, Émilie, Émilie: A Ambição Feminina no Século XVIII. São Paulo:
Discurso Editorial Duma Dueto; Editora Paz e Terra, 2003; CREVEL, Renê, As Irmãs Brontë: Filhas do Vento.
Lisboa: Editor Assírio & Alvim, 2005; CARVALHO, Solange Peixe Pinheiro de, A Tradução do Socioleto Literário: Um Estudo
de Wuthering Heights. Dissertação de Mestrado em Estudos Estilísticos e
Literários em Inglês. Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. São
Paulo: Universidade de São Paulo, 2006; ATIHÉ, Eliana Braga, Aloia, Uma Educação da Alma: Literatura e
Imagem Arquetípica. Tese de Doutorado. Programa de Doutorado. Faculdade de
Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006; DIAS, Daise Lílian
Fonseca, “A Representação do Cigano em O Morro dos Ventos Uivantes”. In:
JOACHIN, Sebastian; JUSTINO, Luciano Barbosa, A Subversão das Relações Coloniais em O Morro dos Ventos Uivantes: Questões de Gênero. Tese de
Doutorado. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2011; BRONTË, Charlotte,
Jane Eyre. São Paulo: Editor Martin
Claret, 2014; IWAMI, Sylvia Beatriz Ramos, Crueldade
e Melancolia em O Morro dos Ventos
Uivantes, de Emily Brontë. Dissertação de Mestrado em Letras. Manaus:
Universidade Federal do Amazonas, 2016; MIRANDA, Anadir dos Reis, Proto-feministas na Inglaterra Setecentista:
Mary Wollstonecraft, Mary Hays e Mary Robinson. Sociabilidade, Subjetividade e
Escrita de Mulheres. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
História Social. Curitiba: Universidade
Federal do Paraná, 2017; FELIPINI, Leila Maria Gumushia; FABBRO, Greyce Kelly, “Uma
Análise Comparativa do Dialeto de Yorkshire presente na Obra Wuthering e da sua
Representação na Tradução da mesma obra de 2011”. In: Simpósio Internacional de Linguagens Educativas, 17, 18 e 19 de
maio de 2018; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário