sábado, 9 de dezembro de 2017

O Saber Literário das Irmãs Brontë

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

          “A alegria da minha alma mata o meu corpo, mas não se satisfaz”. Emily Brontë


 
A origem etimológica da família Brontë pode ser delineada até ao clã irlandês Ó Pronntaigh, que se traduz literalmente para “filho de Pronntach”, de tradição de escribas e homens da literatura em Fermanagh, o que é relacionado com a palavra bronnadh. A certa altura, o pai das irmãs, Patrick Brontë, nascido Brunty, decidiu mudar o seu sobrenome. Não se sabe ao certo o motivo familial para fazê-lo existindo várias teorias e etimologias a respeito. Ele pode tê-lo feito, talvez, para esconder as suas origens humildes. Como homem de letras, ele estaria familiarizado com o Grego clássico e é possível que se tenha baseado na palavra grega βροντή (“trovão”) para escolher o seu nome. Em 1820, seu pai tornou-se reitor de Haworth, permanecendo lá pelo resto da vida. após a morte de sua mãe em 1821, as crianças foram deixadas para si mesmas na sombria casa paroquial. Um ponto de vista, apresentado pelo biógrafo Clement King Shorter, jornalista e crítico literário britânico, em 1896, é que ele adaptou o seu nome para se associar com o Almirante Horatio Nelson, também Duque de Brontë. Prova disso é ele querer imitar o Duque de Wellington na forma como se vestia. O Ducado de Wellington, derivado de Wellington, em Somerset, é um título hereditário e o ducado mais antigo do Pariato do Reino Unido. O primeiro detentor do título foi Arthur Wellesley, 1° Duque de Wellington, (1769-1852), o famoso general e estadista britânico, nascido na Irlanda que, juntamente com Blücher, derrotou Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo. Consequentemente, inqualificadas referências ao Duque de Wellington quase sempre se referem a ele.  
Os Brontës foram uma família literária do século XIX associada à aldeia de Thorton, localizada no West Riding of Yorkshire, Inglaterra. As irmãs, Charlotte (1816-1855), Emily (1818-1848) e Anne (1820-1849) são escritoras e poetisas bem conhecidas do público no processo de massificação da literatura. Por todo o século XIX, o universo das mulheres esteve circunscrito à casa e à família. Como boas mães e esposas, esperava-se que se dedicassem exemplarmente ao lar e não aos estudos, à pesquisa, ao conhecimento, muito menos à escrita. Nesse contexto, mesmo com toda coragem de pronunciamento e recusa em ocupar um lugar coadjuvante na sociedade burguesa, não foi fácil para escritoras mulheres conseguirem conquistar o respeito dentro de um universo notadamente masculino. Muitas autoras recorreram ao anonimato, abreviaturas, nomes sem gênero marcado e também ao pseudônimo masculino, como estratégia para publicação de suas obras. Essas mulheres corajosas enfrentaram um duplo preconceito: o de serem mulheres escritoras e o de serem escritoras mulheres. À semelhança sobre o preconceito de escritoras de seu tempo, inicialmente elas publicaram os seus poemas e romances sob pseudônimos masculinos: Currer, Ellis e Acton Bell. Seus livros tiveram bastante sucesso assim que foram publicados. Jane Eyre, de Charlotte foi o primeiro romance a ser publicado, seguido de Wuthering Heights, de Emily e The Tenant of Wildfell Hall, de Anne. As três irmãs e seu irmão Branwell eram muito próximos. Na infância desenvolveram as suas imaginações através das histórias que ouviam da empregada e da criação de “mundos imaginários” que desenvolveram na escrita. Pois Charlotte ocupava o seu tempo livre desenvolvendo o “mundo imaginário” de Angria, sendo uma sofisticada realidade que pode adentrar à fase adulta que tinha criado com os irmãos, através de correspondência com ele.
                         
As crianças interessaram-se cedo pela escrita. Inicialmente, ela surgiu na forma de um jogo que, mais tarde, evoluiu para uma paixão. Apesar de todos demonstrarem ter um grande talento para a narrativa, foram as irmãs mais novas que começaram a desenvolver as histórias nos seus “tempos livres”. No centro da criatividade das crianças estavam doze soldados de madeira que Patrick Brontë ofereceu a Branwell no início de junho de 1826. Estes soldados de brincar alimentaram instantaneamente a sua imaginação sociológica e elas referiam-se aos mesmos como “os jovens” e deram-lhes nomes. Porém, só em dezembro de 1827 “é que as suas ideias passaram para o papel e, assim, nasceu o reino africano imaginário de Glass Town, seguido do Império de Angria”. Emily e Anne criaram Gondal, uma ilha no Pacífico Norte governada por uma mulher, depois da partida de Charlotte em 1831. No início, estas histórias eram escritas em livros minúsculos do tamanho de uma caixa de fósforos e as suas páginas eram cuidadosamente unidas com fio. Para além de escrita, os pequenos livros continham ilustrações, mapas detalhados, esquemas, paisagens e plantas de edifícios. A ideia era que os livros deviam ter o tamanho ideal para os soldados lerem. A complexidade das histórias foi evoluindo com a imaginação das crianças desenvolvida, alimentada pela leitura das revistas que seu pai recebia, ou dos jornais que a família recebia diariamente.
A morte da sua mãe e, mais tarde, das suas duas irmãs mais velhas afetou-os profundamente e influenciou a sua escrita, assim como o isolamento relativo em que cresceram. A casa paroquial de Haworth em Yorkshire, em que viveram, é atualmente o Brontë Parsonage Museum, visitado por milhares de pessoas todos os anos. Patrick Brontë nasceu em Loughbrickland, Condado de Down, na Irlanda, numa família de trabalhadores rurais. O seu nome de nascimento era Patrick Prunty ou Brunty. A sua mãe, Alice McClory, era católica Romana, enquanto que o seu pai, Hugh era protestante, sendo que Patrick foi criado com a religião do seu pai. Ele acabou por se tornar sacerdote permanente da paróquia de Haworth. Mas Patrick era um sacerdote anglicano de origens irlandesas, que foi também poeta, escritor e polemista. Na infância e juventude demonstrou inteligência e, depois de ter lições com o Reverendo Thomas Tighe, conseguiu bolsa de estudos no St. John`s College da Universidade de Cambridge onde estudou Teologia e História Antiga e Moderna. Depois de terminar os seus estudos em Cambridge, foi ordenado sacerdote no dia 10 de agosto de 1806. Nos anos seguintes, escreveu dois livros de poesia: Cottage Poems (1811) e The Rural Minstrel (1814) e  vários panfletos da vida cotidiana, artigos para jornais e uma série de poemas rurais.
A esposa de Patrick Brontë, Maria Brontë, nascida Branwell, era natural de Penzance, uma cidade portuária e paróquia civil do condado de Cornualha, no sudoeste da Grã-Bretanha, vinha de uma família de classe média alta. Esta cidade foi historicamente porto de piratas. É mais conhecida por ser a cidade ocidental da Cornualha e na proximidade de 121 quilômetros a oeste de Plymouth e 480 quilômetros a oeste-sudoeste de Londres.  O seu pai tinha uma loja de chá e mercearia de sucesso “que lhe tinha rendido uma fortuna considerável”. Maria faleceu com 38 anos de cancro do útero. Maria casou-se no mesmo dia que a sua irmã Charlotte, na igreja paroquial Guiseley onde o território e a população está subordinada eclesiasticamente ao pároco em West Yorkshire, um condado metropolitano da Inglaterra, localizado na região de Yorkshire e Humber, depois de seu noivo ter celebrado a união de outros dois casais. Ela era uma mulher educada e devota, conhecida pela sua disposição animada, pela sua alegria e pela sua bondade. Patrick e Charlotte foram os únicos a deixar memórias dela. Os filhos mais novos, Emily e Anne lembravam-se vagamente da mãe e dentre as poucas memórias de que tinham cultivado dela eram principalmente pela dor de sofrimento por que passou durante a sua doença.
A população de Haworth cresceu rapidamente durante a primeira metade do século XVIII, de pouco mais de 1000 habitantes para 3365 num espaço de 50 anos. A aldeia não possuía um sistema de esgotos e a água dos poços estava contaminada com matéria fecal e pelos corpos em decomposição do cemitério localizado no cimo de uma colina. A esperança média de vida era de menos de 25 anos e a taxa de mortalidade infantil rondava os 41% para crianças com menos de seis meses de idade. A maioria da população camponesa ganhava a vida para cultivar a terra pouco fértil das charnecas e completava os rendimentos com trabalhos artesanais feitos em casa, tais como a fiação e a tecelagem de lã das ovelhas criadas nas charnecas. As condições sociais de trabalho não mudaram para melhor, ao contrário, como observou o crítico e escritor socialista Friedrich Engels, autor de estudo de um volumoso estudo sobre as condições sociais da classe trabalhadora inglesa e a indústria têxtil, do século XVIII, cresceu nas fábricas localizadas nas margens do rio Worth. 
Elizabeth Branwell chegou de Penzance em 1821, com 45 anos, após a morte de Maria, a sua irmã mais nova, para ajudar Patrick a cuidar das crianças. Ela era tratada como “Tia Branwell”. Elizabeth ensinou a aritmética, o alfabeto e costura às crianças. Ela era subscritora da revista Fraser`s Magazine uma revista geral e literária publicada em Londres de 1830 a 1882, que inicialmente adotou uma expressiva linha conservadora na política. Foi fundada por Hugh Fraser e William Maginn em 1830 e dirigida livremente por Maginn sob o nome Oliver Yorke até cerca de 1840, que assim debatia os seus artigos com os sobrinhos. Elizabeth era uma pessoa generosa que dedicou a sua vida aos sobrinhos e nunca se casou, nem regressou à Cornualha para visitar os seus familiares. Ela morreu de obstrução intestinal em outubro de 1842 após um breve período de grande agonia em função da enfermidade. Às portas da morte, foi consolada pelo seu sobrinho Branwell. No seu testamento, Elizabeth deixou uma quantia significativa de dinheiro aos sobrinhos, o que permitiu que Charlotte, Emily e Anne deixassem os seus empregos comuns, mas importante de governantas e professoras e se dedicassem de forma criativa e com exclusividade à literatura.
      Patrick era compreensivo, inteligente, generoso e organizou diretamente a educação dos seus filhos. Ele comprava todos os livros e brinquedos que os filhos lhe pediam e dava-lhes bastante liberdade e amor incondicional. Após várias tentativas infrutíferas de encontrar uma nova mulher, Patrick aceitou a sua viuvez aos 47 anos e dedicava o seu tempo a visitar os doentes e os pobres, assim como a pregar sermões, dar-lhes a comunhão e a extrema unção, deixando as três irmãs, Emily e Charlotte, Anne, e seu irmão Branwell sozinhos com a sua tia e a criada, Tabitha Aykroyd (“Tabby”). Ela contava lendas locais no seu dialeto de Yorkshire, enquanto prepara as refeições. Segundo Fabbro e Felipini (2018), a falta de representação do dialeto de Yorkshire nas traduções realizadas no Brasil revela a necessidade de estudos que abordem acerca da importância da representação no texto de chegada das variantes dialetais presentes no texto de partida, levando em consideração que um dialeto literário retrata a realidade de um grupo de falantes. Patrick viu todos os membros da sua família falecer antes dele. Ele morreu em 1861, seis anos após a morte da sua última filha viva, Charlotte, com 84 anos. No final da sua vida, o seu cunhado, o Reverendo Arthur Bell Nicholls assistiu-o. Foi o marido da romancista inglesa Charlotte Brontë. Ele cuidou de Patrick Brontë após a morte da mãe, Charlotte Brontë e passou o resto de sua vida na sombra de sua reputação. Ele retornou à sua terra natal, a Irlanda, se casou novamente e deixou a igreja.

A casa paroquial e o cemitério que a rodeia.
Charlotte nasceu em Thornton, próximo de Bradford, no dia 21 de abril de 1816. Foi escritora e poetisa e é a autora do romance Jane Eyre, a sua obra mais conhecida, e de três outros romances. Morreu em 31 de março de 1855 pouco antes do seu 39º aniversário. Patrick Branwell nasceu em Thornton no dia 26 de junho de 1817. Conhecido como Branwell, era pintor e escritor e raramente trabalhava. Ele tornou-se alcoólico e viciado em láudano e morreu em Haworth, no dia 24 de setembro de 1848, aos 31 anos. Emily Jane, nascida em Thorton no dia 30 de julho de 1818, foi poetisa e escritora. Morreu em Haworth, no dia 19 de dezembro de 1848, aos 30 anos.  Conseguiu completar um romance em vida: Wuthering Heights. Anne, nascida em Thorton no dia 17 de janeiro de 1820, foi uma poetisa e escritora. Escrevera os romances Agnes Grey, baseado em grande parte nas suas experiências como governanta, e The Tenant of Wildfell Hall.  Ela morreu em Scarborough, no dia 28 de maio de 1848, aos 29 anos.
À medida que foram crescendo, os gostos literários dos Brontë foram evoluindo e as obras de Lord Byron tiveram uma grande influência na atração sexual e espírito apaixonado das personagens de Angria. Os Brontë descobriram Lord Byron através de um poema publicado numa das revistas que o seu pai lia e os temas mais ousados da sua obra tornaram-se sinônimo de tudo o que era proibido e audaz. A influência de Byron manifesta-se também nos romances que as irmãs escreveram quando eram adultas, visto que personagens como Heathcliff em Wuthering Heights ou Mr. Rochefort em Jane Eyre têm traços de personalidade que podem ser definidos seguramente, como padrões habituais de comportamento, pensamento e sentimento que se encontram na obra de Byron. Melhor dizendo: - “O herói com uma moralidade detestável, mas que é capaz de demonstrar grande afeição”. Outras influências incluem a literatura fantástica de John Milton e as gravuras de John Martin. Dotado de uma imaginação prodigiosa, por vezes herética, Milton, que havia defendido o divórcio, a liberdade de imprensa e até a poligamia, criou o clássico da literatura cristã do século XVII. Mas, durante o século XIX, o radicalismo adquire nos países anglo-saxões um ersatz teórico e filosófico, de orientação utilitarista, o que fez com que não perdesse a índole prática e consequencial do tema. Filósofos radicais é, precisamente, a rotulagem que John Stuart Mill e seus seguidores adotaram na hora em que se fizeram conhecer no Parlamento. O seu objetivo era acelerar as reformas sociais e revitalizar a abertura das crenças na sociedade, tudo isso pela transformação final do antigo regime aristocrático numa sociedade livre, de mercado, moderna, secular, democrática e liberal.
A situação financeira da família não era das melhores e a Tia Branwell gastava o dinheiro com cuidado. Emily sentia uma necessidade quase visceral de permanecer em casa e, sempre que se ausentava, sentia-se desesperada. Charlotte e Anne eram mais realistas e não hesitaram em procurar trabalho e a partir de abril de 1839 e dezembro de 1841, respetivamente, as duas irmãs trabalharam como governantas. No entanto, Anne foi a única a conseguir um emprego que não durou mais do que poucos meses com a família Robinson em Thorp Green entre maio de 1840 e junho de 1845. Entretanto, Charlotte teve uma ideia que parecia ser proveitosa para as irmãs. À conselho do pai e dos amigos, ela teve a ideia de criar uma escola para jovens mulheres na casa da família no local onde davam catequese. Elas tinham concebido um plano de estudos que incluía línguas modernas e chegaram à conclusão de que deveriam desenvolver as suas competências no estrangeiro. Depois de rejeitarem a ideia de irem para Paris ou Lille, pois a família era conservadora e devido a aversão à França, provocada pelos ideais liberais radicais da revolução clássica francesa, elas decidiram ir para a Bélgica, onde poderiam estudar o Alemão e Música. A Tia Branwell financiou sua viagem.
Charlotte criou o mundo imaginário coletivo dos ritos de Angria, de qual constam aproximadamente cem histórias, entre os anos de 1829 e 1839. Já Emily e Anne criaram um imaginário próprio, chamado Gondal, no qual escreveram de 1834 até 1845, porém todos estes escritos foram perdidos. Branwell chegou a colaborar com a irmã Charlotte, ilustrando os seus textos, tendo em vista o seu talento para a pintura, motivo pelo qual as irmãs Brontë se uniram para custear a educação de Brandwell. Para conseguir recursos financeiros, empregaram-se como professoras e governantas, em um internato, mas a separação e afastamento do lar e família trazia infelicidade para ambas. Procurando estarem sempre unidas, decidiram montar uma escola de meninas em Haworth, e para isso, Charlotte e Emily viajaram para Bruxelas a fim de aprenderem línguas, bem como administração escolar. Charlotte lecionava Inglês e Emily lecionava Música, para pagar as despesas e alimentação. Com a morte súbita de sua tia, as irmãs retornaram de Bruxelas. Algum tempo depois, Charlotte regressou ao internato, e sua permanência não lhe trouxe nenhuma felicidade. Sentia saudades das irmãs e da família, motivo pelo qual a fez se aproximar do diretor do internato, Constantin Hèger, que era casado. Essa paixão inspirou os livros: O Professor e Villette.  
       Emily e Charlotte chegaram a Bruxelas em fevereiro de 1842, acompanhadas pelo seu pai. Quando chegaram, inscreveram-se no internato de Monsieur e Madame Heger na Rue d`Isabelle, onde permaneceram durante seis meses. Clair Heger era a segunda esposa de Constantin e foi ela quem fundou e dirigia a escola enquanto Constantin era responsável pelas aulas de Francês avançadas. Charlotte adorava as aulas, principalmente de Constantin Heger, mais lembrado por sua associação com Emily e Charlotte Brontë durante a década de 1840, e tanto ela como Emily demonstravam uma inteligência excepcional. Emily aprendeu rápido o Alemão e a tocar piano com brilhantismo natural e as duas irmãs escreviam ensaios literários e filosóficos num nível avançado de Francês. Após seis meses de estudo, Madame Heger sugeriu que as irmãs permanecessem no internato, sem custo, em troca de ensinarem algumas disciplinas. Após hesitação as irmãs aceitaram. Nenhuma delas se sentia particularmente afeiçoada aos seus alunos e apenas uma aluna, Mademoiselle de Bassompierre, então uma adolescente com a idade de 16 anos, expressou mais tarde algum afeto pela sua professora.            
A morte da tia em outubro de 1842 levou as irmãs a regressarem a Haworth. A tia Branwell deixou uma herança a todos os seus sobrinhos e a Eliza Kingston, uma prima que ainda vivia em Penzance. Esta herança foi utilizada para pagar as dívidas da família, restando algum dinheiro. Charlotte e Emily foram convidadas a regressar a Bruxelas uma vez que eram competentes e necessárias. Ambas receberam propostas de emprego como professoras no internato para o ensino de Inglês no caso de Charlotte e Música no caso de Emily. Porém, Charlotte regressou sozinha à Bélgica em janeiro de 1843. Quase um ano após os seu regresso à Bélgica, Charlotte resignou-se e regressou a Haworth. A vida em Haworth tinha-se complicado durante a sua ausência. O seu pai tinha ficado cego em consequência de cataratas e nem uma operação em Manchester tinha ajudado. Quando Charlotte regressou a Inglaterra, sua passagem em Manchester foi para visitar o seu pai enquanto este recuperava da operação e foi aí que começou a escrever Jane Eyre. Entretanto, a vida do seu irmão Branwell começou a piorar gradualmente com dramas, bebedeiras e delírios. A má reputação de Branwell afetou psicologicamente a família, ipso facto o projeto da escola foi abandonado.
Na opinião literária, anacrônica, machista e preconceituosa de Otto Maria Carpeaux (2005): - O reino de Angria sobrevive nos romances de Charlotte Brontë, que nunca esteve em Gondal. Mas havia duas almas em Charlotte: a sonhadora de Angria e uma romancista vitoriana, bastante medíocre, sentimental e timidamente realista, baseando-se em experiências inglesas e belgas que não sabia transfigurar porque a pátria da sua alma ficava fora da Inglaterra e Bélgica: em Angria. No seu primeiro romance, The Professor, publicado só postumamente, baseou-se realmente nas experiências com o professor Héger; e é um romance muito fraco. Em Jane Eyre, primeiro romance publicado pela autora, tudo o que se refere às experiências na escola de Cowan Bridge é fraco, dum sentimentalismo hoje insuportável. Mas foi justamente isso o que encantou os leitores vitorianos, segundo Carpeaux, que se assustaram com o herói devasso Rochester. Este não é outra pessoa senão Zamorna, um dos protagonistas da história de Angria, assim como a sua mulher louca estava preconcebida, lá, como Lady Zenobia. Charlotte Brontë, algo desconcertada pelas críticas contraditórias de sua obra de estreia, pretendeu depois, em Shirley, escrever um romance realista, à maneira de Charles Dickens, com alusões à questão social e outras coisas das quais a autora não entendia quase nada. Salva-se o romance porque os personagens e o enredo são de origem angriana. Em Villette, Charlotte Brontë voltou às experiências de Bruxelas com seu editor  -, mas estava prefigurado nos acontecimentos em Verdropolis, capital da Angria, e a fusão de elementos realistas e fantásticos promoveu, desta vez, a obra-prima. 

Os membros da família Brontë nunca abandonaram a escrita. Charlotte e Branwell tinham ambições de verem os seus trabalhos publicados, porém, Charlotte nunca incluiu o irmão nos seus projetos. Escreveu ao laureado poeta Robert Southey e enviou-lhe vários poemas que escrevera no seu estilo. O poeta respondeu-lhe vários meses depois com uma carta desencorajadora. Southley, uma das grandes figuras do romantismo inglês, com William Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge, mas partilhava o preconceito naturalizado que a carreira na literatura, mais particularmente na poesia, era do domínio masculino e não era apropriada para mulheres. Porém, Charlotte não perdeu a motivação e, além do mais, uma coincidência ajudou-a. Num dia de outono em 1845, enquanto estava sozinha na sala de jantar, ela reparou um detalhe num pequeno bloco de notas aberto na gaveta da escrivaninha de Emily. Ela leu-o e ficou espantada com a beleza dos poemas lá escritos por Emily e que ela não conhecia. Cinco anos mais tarde, Charlotte recordou o que sentiu ao encontrar os poemas da irmã: - uma convicção no meu íntimo de que aquelas não eram composições comuns, nem se assemelhavam em nada à poesia que as mulheres costumam escrever. Achei os poemas vigorosos e genuínos, tinham um ritmo peculiar: selvagens, melancólicos e exaltantes.
Os membros da família Brontë nunca abandonaram a escrita. Charlotte e Branwell tinham ambições de verem os seus trabalhos publicados, porém, Charlotte nunca incluiu o irmão nos seus projetos. Escreveu ao laureado poeta Robert Southey e enviou-lhe vários poemas que escrevera no seu estilo. O poeta respondeu-lhe vários meses depois com uma carta desencorajadora. Southley, uma das grandes figuras do romantismo inglês, com William Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge, mas partilhava o preconceito naturalizado que a carreira na literatura, mais particularmente na poesia, era do domínio masculino e não era apropriada para mulheres. Porém, Charlotte não perdeu a motivação e, além do mais, uma coincidência ajudou-a. Num dia de outono em 1845, enquanto estava sozinha na sala de jantar, ela reparou um detalhe num pequeno bloco de notas aberto na gaveta da escrivaninha de Emily. Ela leu-o e ficou espantada com a beleza dos poemas lá escritos por Emily e que ela não conhecia. Cinco anos mais tarde, Charlotte recordou o que sentiu ao encontrar os poemas da irmã: - uma convicção no meu íntimo de que aquelas não eram composições comuns, nem se assemelhavam em nada à poesia que as mulheres costumam escrever. Achei os poemas vigorosos e genuínos, tinham um ritmo peculiar: selvagens, melancólicos e exaltantes.
Enfim, Jane Eyre, de Charlotte, Wuthering Heights, de Emily e Agnes Grey, de Anne Brontë foram publicados em 1847, após várias tentativas infrutíferas de encontrar uma editora. Depois de uma longa busca, a editora Smith, Elder & Co, sediada em Londres, publicou o primeiro livro. Até ali, George Smith, o dono da editora, especializava-se na publicação de revistas científicas. Os trabalhos de Emily e Anne foram entregues a Thomas Cautley Newby, cuja intenção era reunir três livros para vender em conjunto, uma opção de venda e de distribuição para bibliotecas mais econômica. Assim, Wuthering Heights foi dividido em dois volumes e vendido em conjunto com Agnes Grey. Ambos os romances foram bem recebidos pela crítica literária e tiveram sucesso comercial, o que levou a que se apressasse o lançamento de Jane Eyre. O romance de Charlotte tornou-se rapidamente num best-seller. Em julho de 1848, Charlotte e Anne viajaram para Londres, pois Emily recusou-se a acompanhar as irmãs, a convite da sua editora para provarem que cada irmã era uma autora independente depois de Thomas Cautley Newby, o editor de Wuthering Heights e de Agnes Grey, ter espalhado o boato de que os três romances eram do mesmo autor. George Smith ficou surpreendido “ao encontrar duas jovens mulheres do campo, desajeitadas, mal vestidas e paralisadas de medo no seu escritório”. Charlotte e Anne identificaram-se através das cartas enviadas pela editora para Messrs, Acton, Currer e Ellis. George apresentou as irmãs à sua mãe e convidou-as para a ópera, onde assistiram a uma produção de Il barbiere di Siviglia.No seguimento do enorme sucesso de Jane Eyre, George Smith, o seu Editor, pressionou-a a viajar para Londres para conhecer os seus leitores. A timidez extrema que a paralisava  com estranhos e fazia com que quase não se conseguisse expressar, Charlotte aceitou ser celebrada.
  Em Londres conheceu outros grandes escritores, incluindo Harriet Martineau e William Makepeace Thackeray, que se tornaram seus amigos. Charlotte tinha uma admiração especial por Thackeray cujo retrato oferecido a Charlotte por George Smith ainda se encontrava pendurado na casa paroquial de Haworth. Porém, a relação social entre Charlotte e Thackeray teve os seus percalços. Numa reunião pública, este apresentou Charlotte à sua mãe como Jane Eyre. A escritora ficou ofendida pela sua distorção imaginária e no dia seguinte visitou Thackeray para reprimi-lo. A conversa severa fez com que George Smith intervisse. Durante a sua viagem a Londres em 1851, Charlotte visitou a Grande Exposição no Palácio de Cristal. Antes publicou o romance: Shirley, em 1849 e Villette, em 1853. As irmãs Brontë, sociologicamente espertas, divertiam-se muito com o comportamento político-afetivo ultraconservador dos sacerdotes que as conheciam. Arthur Bell Nicholls  era sacerdote em Haworth há sete anos e meio quando contra todas as expectativas sociais e a fúria de Patrick Brontë pediu Charlotte em casamento. Apesar de gostar da sua dignidade e da sua voz grave e de quase ter tido um esgotamento emocional quando o rejeitou, Charlotte achava-o demasiado rígido, convencional e retrógrado “como todos os sacerdotes”. 
Depois de ver o seu pedido rejeitado e com a raiva de Patrick Brontë, Nicholls abandonou o seu cargo durante meses para refletir. Porém, pouco a pouco, os sentimentos de Charlotte mudaram e, depois de convencer o seu pai, ela acabou por se casar com Nicholls em 29 de junho de 1854. Depois de regressar da sua lua de mel na Irlanda, onde fora apresentada à tia e aos primos de Nicholls, sua vida mudou quase por completo. Ela assumiu os “novos deveres de esposa e isso ocupava a maioria do seu tempo”. Ela dizia aos amigos que Nicholls “era um marido bom e atencioso, mas que, ainda assim, sentia-se aterrorizada com a sua nova vida”. Numa carta de Ellen Nussey, em 1854, ela escreveu: - “Nell, é certamente algo estranho e perigoso para uma mulher tornar-se esposa”. Charlotte morreu no ano seguinte aos 38 anos; desgraçadamente estava grávida quando morreu. A tuberculose foi a causa de morte divulgada, mas a doença pode ter-se complicado com a associação de febre tifoide, pois era bastante provável que a água insalubre de Haworth estivesse contaminada devido ao mau saneamento e ao cemitério que rodeava a igreja e a casa onde a família vivia. São inúmeras as adaptações para o cinema, teatro e TV, pois são reconhecidos grandes clássicos, com destaque para Jane Eyre e O Morro Dos Ventos Uivantes, que tiveram várias adaptações ao longo de décadas, entre séries produzidas pela British Broadcasting Corporation, corporação britânica de radiodifusão, reconhecida historicamente pela sigla BBC, indicativa sobre filmes em Hollywood, peças de teatro e inúmeras obras ou musicais.
 Com o decorrer das décadas, Hollywood se tornou símbolo do poderoso e fantástico cinema norte-americano, sediando premiações e abrigando homenagens públicas para os mais destacados artistas de cinema e musicais do mundo. O local também é famoso pelo grande letreiro chamado Sinal de Hollywood e pela enorme concentração de pessoas ricas e famosas que moram no distrito ou distritos próximos. Devido à sua fama no meio artístico e identidade cultural como o centro histórico de estúdios e astros de cinema, a palavra Hollywood é frequentemente usada e associada como uma metonímia do cinema norte-americano, e é ipso facto, muitas vezes usada alternadamente para se referir à Grande Los Angeles em geral. As alcunhas StarStruck Town e Tinseltown referem-se a Hollywood e sua indústria cinematográfica. Atualmente, grande parte da indústria do cinema se dispersou em áreas vizinhas, como a região de Westside, entretanto, significativas indústrias auxiliares, tais como empresas de edição, efeitos adereços, pós-produção e iluminação permanecem em Hollywood, como o backlot da Paramount Pictures. Muitos teatros históricos de Hollywood são utilizados como pontos de encontro e palcos de concerto de principais estreias cinematográficas além de sediar o Oscar. É um popular destino para a vida noturna e o turismo, e abriga a Calçada da Fama. Desnecessário dizer  que a Calçada da Fama (Walk of Fame), é um dos lugares mais visitados dos Estados Unidos da América e, sem dúvida, um ícone da terra do cinema. Esta calçada está localizada ao longo dos trajetos das ruas Hollywood Boulevard e Vine Street, sendo que nela constam estrelas de astros e estrelas do cinema, música, televisão, rádio e teatro, não só dos Estados Unidos como de várias partes do mundo. Atualmente, são mais de 2500 estrelas que estampam o chão de Hollywood.
Bibliografia geral consultada.
BADINTER, Elisabeth, Émilie, Émilie: A Ambição Feminina no Século XVIII. São Paulo: Discurso Editorial Duma Dueto; Editora Paz e Terra, 2003; CREVEL, Renê, As Irmãs Brontë: Filhas do Vento. Lisboa: Editor Assírio & Alvim, 2005; CARVALHO, Solange Peixe Pinheiro de, A Tradução do Socioleto Literário: Um Estudo de Wuthering Heights. Dissertação de Mestrado em Estudos Estilísticos e Literários em Inglês. Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006; ATIHÉ, Eliana Braga, Aloia, Uma Educação da Alma: Literatura e Imagem Arquetípica. Tese de Doutorado. Programa de Doutorado. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006; DIAS, Daise Lílian Fonseca, “A Representação do Cigano em O Morro dos Ventos Uivantes”. In: JOACHIN, Sebastian; JUSTINO, Luciano Barbosa, A Subversão das Relações Coloniais em O Morro dos Ventos Uivantes: Questões de Gênero. Tese de Doutorado. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2011; BRONTË, Charlotte, Jane Eyre. São Paulo: Editor Martin Claret, 2014; IWAMI, Sylvia Beatriz Ramos, Crueldade e Melancolia em O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. Dissertação de Mestrado em Letras. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2016; MIRANDA, Anadir dos Reis, Proto-feministas na Inglaterra Setecentista: Mary Wollstonecraft, Mary Hays e Mary Robinson. Sociabilidade, Subjetividade e Escrita de Mulheres. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social.  Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2017; FELIPINI, Leila Maria Gumushia; FABBRO, Greyce Kelly, “Uma Análise Comparativa do Dialeto de Yorkshire presente na Obra Wuthering e da sua Representação na Tradução da mesma obra de 2011”. In: Simpósio Internacional de Linguagens Educativas, 17, 18 e 19 de maio de 2018; entre outros.

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