Habitar - Lugar Praticado, Movimento & Ócio Criativo.
Ubiracy de Souza Braga
“O operário assalariado está para o
capitalista como o inquilino para o proprietário da casa”. Friedrich Engels
O
verdadeiro processo de individuação, isto é, a harmonização do consciente com o
nosso próprio centro interior - o núcleo psíquico - ou self, em geral começa
infligindo uma lesão à personalidade, acompanhada do consequente sofrimento.
Este choque inicial é uma espécie de apelo, apesar de nem sempre ser
reconhecido como tal. Ao contrário, o ego sente-se tolhido nas suas vontades ou
desejos e geralmente projeta esta frustração sobre qualquer objeto exterior. Em
algum lugar, lá no mais profundo de nós mesmos, em geral sabemos aonde ir e o
que fazer. Mas há ocasiões em que o palhaço age com o que analiticamente se
chama “eu”, de modo tão irrefletido que a voz interior não se consegue deixar
ouvir. Assim, o sonho mostra ao sonhador que ele na verdade, tem o amparo de
uma organização; está dentro de uma igreja - não uma igreja edificada no mundo
exterior, mas uma que existe dentro da sua própria alma. Os fiéis (todas as
suas qualidades psíquicas) querem que ele exerça as funções de padre e que
celebre a missa. O sonho não faz alusão à missa real, pois o seu missal é
diferente do verdadeiro. Parece que a ideia da missa foi usada como símbolo e,
portanto, representa um ato sacrificial em que está presente uma divindade com
quem o homem se pode comunicar. Todo processo de trabalho é um processo de
comunicação, mas nem todo processo de comunicação pode ser considerado um
processo de trabalho a não ser potencialmente.
No trabalho o jovem significa o
self e o seu poder de renovação, um élan vital criador de orientação através da
qual tudo se torna vida e de iniciativa. Um circo é uma companhia em coletivo
onde se reúnem artistas de diferentes culturas e especialidades. O circo
contemporâneo é realizado com artistas que, em sua grande maioria, não têm
nenhum vínculo familiar com a empresa-circo. Seus pais e parentes,
provavelmente, não compõem um circo-família e pouco conhecem a arte circense.
Essa falta de vínculo direto com o circo pode fazer com que sua história se
perca e deixe de ser conhecida e valorizada por tais artistas. Na maioria das
vezes, as escolas de circo não se dedicam a estudar e difundir a história do
circo entre seus alunos, dificultando o acesso a ela. No Canadá, em 1981, surge
a primeira escola de circo, para atender a demanda dos artistas performáticos,
que vinham tendo aulas com ginastas. Em 1982, surge em Québec o Club des Talons
Hauts, grupo de artistas que se apresentavam em pernas de pau, com malabares e
pirofagia. É esse grupo que em 1984 realiza o primeiro espetáculo do Cirque du
Soleil. Deste então, o Cirque du Soleil cresceu de forma surpreendente, estando
em cartaz programado em países no mundo globalizado, com espetáculos distintos
e grande número artistas em seu elenco. Símbolo da musica: “Alegría” do Cirque du
Soleil.
Cirque
du Soleil é uma Companhia de entretenimento canadense. É a
maior companhia circense do mundo, cuja sede fica em Montreal (Quebec, Canadá).
Foi fundada em 1984, na cidade de Baie-Saint-Paul por dois artistas de rua, Guy
Laliberté e Gilles Ste-Croisa. Em 1963, Laliberté foi convidado a apresentar no
Festival de Artes de Los Angeles. Se o show não fosse bem recebido pelo
público, eles não teriam dinheiro para retornar à Montreal. O festival foi um
sucesso, e atraiu a atenção de empresas de entretenimento, como a Columbia
Pictures, que teve interesse de gravar um vídeo sobre o Cirque du Soleil.
Laliberté, insatisfeito com a proposta, recusou-a. Tal produção daria à
Columbia Pictures direitos autorais. Esse é um dos motivos que fazem com que o
Cirque du Soleil seja independente e privado até hoje. Foi fundado em
Baie-Saint-Paul em junho de 1984 pelos artistas de rua Guy Laliberté e Daniel
Gauthier, em resposta a um apelo feito pelo Commissariat Général aux
Célébrations do governo de Quebec sobre a comemoração do 460 aniversário da
descoberta do Canadá. Pode-se dizer que eles representam nas suas origens, a
arte humana dentro da evolução artística, com ênfase na interação social entre
o corpo e a cultura.
Objetivando
a carreira de artista performático, o fundador do Cirque du Soleil, Guy
Laliberté iniciou uma turnê pela Europa como músico e “artista de rua”. Quando
retornou ao Canadá, em 1967, aprendeu a arte de cuspir fogo. Trabalhou três
dias na construção de uma hidroelétrica, e manteve-se com seu seguro
desemprego. Ajudou a organizar, um bazar de verão com seus amigos Daniel
Gauthier e Gilles Ste-Croix que coordenavam um albergue de artistas performáticos,
denominado “Le Balcon Vert”. Em 1979, Ste-Croix decidiu realizar uma turnê com
seu grupo. Apesar do talento dos artistas, a trupe não tinha fundos para
concretizar o projeto de trabalho. O grupo decidiu “convencer” o governo de
Quebec a financiar o projeto, criando o “Les Échassiers de Baie-Saint-Paul” que
empregando diversos artistas performático na atividade circense, o “Les
Échassiers” acabou fazendo uma excursão por Quebec durante o verão de 1980. De
1990 a 2000, o Cirque expandiu rapidamente, passando de show com 73 artistas em
1984, para mais de 3.500 empregados, em mais de 40 países, com 15 espetáculos
apresentados simultaneamente e lucro anual obtido em US$ 800 milhões.
Guy
Laliberté iniciou sua carreira de artista circense como engolidor de fogo,
homem da perna de pau e acordeonista. No começo dos anos 1980, fundou seu
primeiro circo junto com um grupo de amigos e em 1984 criou o Cirque du Soleil,
baseado na sua admiração por talentos de acrobatas e palhaços de rua do Canadá,
sendo o primeiro a fazer a mistura de diversas culturas, disciplinas artísticas
e acrobáticas num mesmo espetáculo. Desde a fundação, ele vem sendo o principal
mentor da equipe criativa de cada nova apresentação da trupe internacional. Em
30 de setembro de 2009, após período de treinamento na Cidade das Estrelas, ele
se tornou o sétimo turista espacial da história, o primeiro canadense, ao ir ao
espaço como parte da tripulação da missão Soyuz TMA-16, para um período de dez
dias a bordo da ISS. Durante sua estadia em órbita, Guy dirigiu do espaço o
espetáculo chamado: “Da Terra às Estrelas pela Água”, do qual participaram
estrelas da música, do cinema e outras celebridades desde quatorze cidades nos
cinco continentes. É doutorado honoris-causa pela Universidade Laval de Quebec
e obteve a Ordre National du Québec, a maior distinção do governo do
Quebec.
A
nave russa Soyuz TMA-16, que leva a bordo o sétimo turista espacial da
história, o canadense Guy Laliberté, fundador do “Cirque du Soleil”, se acoplou
com sucesso à Estação Espacial Internacional (ISS), segundo informou o Centro
de Controle de Voos Espaciais (CCVE) da Rússia. Além de Laliberté, na Soyuz
viajaram também o cosmonauta russo Maxim Suráyev e o astronauta norte-americano
Jeff Williams. Laliberté voltará à Terra em meados de outubro junto a Padalka e
Barratt a bordo da nave Soyuz TMA-14, agora acoplada à plataforma espacial. O
fundador do circo mais famoso do mundo pagou US$ 35 milhões para poder viajar à
plataforma espacial, não realizará experimentos científicos durante sua estada.
O produtor e artista circense aproveitou a aventura para promover
comercialmente sua faceta humanitária por meio da fundação “One Drop”, que
tenta conscientizar o mundo sobre o problema da escassez de água e sua relação
direta com a pobreza em nosso planeta. Laliberté dirigiu da ISS, no dia 9 de
outubro, a 350 km da Terra, o espetáculo poético-social intitulado “Da Terra às
Estrelas pela Água”, no qual participaram celebridades do meio artístico:
música, cinema e outras formas de atividade criadora em quatorze cidades
continentais.
Ler, cozinhar, caminhar, habitar, reduz
o stress e a fadiga e aumenta os
níveis de produtividade e criatividade no trabalho. A casa é um conceito central para os seres humanos, porque se
relaciona com aspetos fundamentais da saúde como segurança, conforto,
genuinidade. Como grande parte do nosso tempo é passada com o trabalho, o tempo
em casa representa um precioso equilíbrio psicofísico na redução de tensão
emocional. Existem os cuidados com o corpo, os regimes de saúde, os exercícios
físicos sem excesso, a satisfação, o prazer, a amizade e o enamoramento, tão
medida quanto possível, as necessidades. Existem as meditações, as leituras, as
anotações que se toma sobre livros ou conversações ouvidas, e que mais tarde
será relida, a rememoração das verdades que já se sabe, mas de que convém
apropriar-se ainda melhor. Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa
atividade criadora consagrada a si mesmo. Ela não constitui um exercício da
solidão como se pensa na modernidade; mas sim uma verdadeira prática social de
relações habituais de parentesco e mesmo de amizade.
O “ócio criativo” é o título de um
ensaio do sociólogo italiano Domenico De Masi e é também um revolucionário
conceito de trabalho que o sociólogo define através da interseção entre três elementos:
vendas, faculdade e raciocínio lógico representando o comércio em si, aos ganhos
necessários ao cumprimento das leis. Faculdade é a possibilidade de obter
dinheiro através do estudo constante, utilizando os recursos que o governo dá. Raciocínio
lógico é o raciocínio pragmático de estudo, muito trabalho e convivência com a
natureza que deve estar presente em qualquer indivíduo que se faça. É a forma
de mecanização do raciocínio, dando-lhe alma. Quando o indivíduo não
consegue unir estes três pontos, sabendo que ele está praticando o “ócio
criativo”, que é uma experiência harmônica e única, que proporciona sempre melhor readaptação para todas as necessidades da sociedade pré-industrial,
respeitando a individualidade do sujeito e proporcionando mais alegria e ousadia ao próprio trabalho. Conquanto,
na universidade a palavra “ousadia” é um “lixo” de memória e nada serve.
Quando se fala em habitar,
representa-se costumeiramente um comportamento que o homem cumpre e realiza em
meio a vários outros modos de comportamento. Não habitamos simplesmente, mas
construir significa originariamente habitar. E a antiga palavra construir
(“bauen”) diz que o homem é à medida que habita. Mais que isso, significa ao
mesmo tempo: proteger e cultivar, a saber, cultivar o campo, cultivar a vinha.
Construir significa cuidar do crescimento que, por si mesmo, dá tempo aos seus
frutos. No sentido de proteger e cultivar, construir não é o mesmo que
produzir. NB: em oposição ao cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de
construir – construir como cultivar, em latim, “colere”, cultura, e construir
como edificar construções, “aedificare” – estão contidos no sentido próprio de
“bauen”. No sentido de habitar, ou construir, permanece, para a experiência
cotidiana do homem. Aquilo que desde sempre é, como a linguagem diz de forma
tão exclusiva e bela, “habitual”. Isto esclarece porque acontece um construir
por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das atividades de cultivo
e edificação. O sentido próprio de “construir”, a saber, habitar, cai no esquecimento. Em que medida construir pertence ao
habitar? Quando construir e pensar como relação são indispensáveis. Ambos são, no entanto, insuficientes para habitá-lo se cada um se
mantiver isolado, distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao
outro. Ipso facto construir e pensar
pertence ao habitar. Permanecem em seus limites. Sabem, quando aprendemos a
pensar, que tanto um como outro provém da obra de uma longa experiência e de um
exercício incessante de pensar. Parece que esse acontecimento
refere-se a uma transformação semântica ocorrida no mero âmbito das palavras.
Na verdade, porém, aí se abriga algo muito decisivo: o fato de não mais se
fazer a experiência de que habitar constitui o ser do homem, e de que não mais
se pensa, sem sentido pleno, que habitar é o traço fundamental do ser-homem. Que
a linguagem logo retome o significado próprio da palavra “bauen” (construir),
testemunha, no entanto, o caráter originário desses significados. É que, nas
palavras essenciais da linguagem, o que nelas se diz propriamente cai, com
muita facilidade, no esquecimento, em favor do que se diz num primeiro plano. O
homem não chegou a pensar o mistério desse processo. A linguagem retrai para o
homem o seu dizer simples e elevado. Mas isso não chega a emudecer o seu apelo
inicial. Apenas silencia. O homem indiscutivelmente não presta atenção a esse silêncio ou aos mínimos detalhes do habitar.
Os mortais são os homens. Chamam-se
mortais porque podem morrer. Morrer diz: ser capaz da morte como morte. Somente o homem morre e, na
verdade, somente ele morre continuamente, ao menos enquanto permanecer sobre a
terra, sob o céu, diante dos deuses. Nomeando os mortais, já pensamos os outros
três. Mas isso ainda não significa que se tenha pensado a simplicidade dos
quatro. Chamamos de quadratura, afirma Heidegger, essa simplicidade. Em habitando, os mortais são na quadratura.
O traço fundamental do habitar é, porém, resguardar. Os mortais habitam
resguardando a quadratura em sua essência. De maneira correspondente, o
resguardo inerente ao habitar tem quatro faces. Os mortais habitam à medida que
conduzem seu próprio vigor, sendo capazes da morte como morte, fazendo uso
dessa capacidade como a uma boa morte. A
quadratura representa a vitória sobre a inércia, segundo Heidegger, a pessoa é compelida a
materializar uma atitude, é a concreta realidade. No ser humano o corpo pede desapego as ações físicas se reduzem ao mínimo ou de forma
abrupta e descontínua. Conscientizada pode desenvolver o poder de vencer
desafios grandes deasfios ontológicos.
SoCO: mudar habitação. Foto Benny Lam.
Conduzir
os mortais ao vigor essencial da morte não significa, de modo algum, ter por
meta a morte, entendida como o nada vazio; também não significa ofuscar o
habitar através de um olhar rígido e cegamente obcecado pelo fim. Habitar é bem
mais um demorar-se junto às coisas. Enquanto resguardo, o habitar preserva a quadratura naquilo junto a que os
mortais se demoram: nas coisas. A demora junto às coisas é o único modo em que
a demora própria da simplicidade dos quatro alcança na quadratura uma plenitude
consistente. No habitar, a quadratura se resguarda à medida que leva para as
coisas seu vigor de essência. As coisas elas mesmas, porém, abrigam a
quadratura apenas quando deixadas como coisas em seu vigor. Como isso
acontece? Quando os mortais protegem e cuidam das coisas em seu crescimento.
Quando edificam de maneira própria coisas que não crescem. Cultivar e edificar significa,
em sentido estrito, construir. Habitar é construir desde que se preserve nas
coisas a quadratura. Desse modo, encaminhamo-nos para a segunda pergunta: Em
que medida construir pertence ao habitar? Tomaremos como exemplo para nossa
reflexão uma ponte.
A ponte é, fora de dúvida, uma coisa com
características próprias. Ela reúne
integrando a quadratura de tal modo
que lhe propicia estância e circunstância. Mas somente isso que em si mesmo é um lugar, pode dar espaço a
uma estância e circunstância. O lugar não está simplesmente dado antes da
ponte. Sem dúvida, antes da ponte existir, existem ao longo do rio muitas
posições que podem ser ocupadas por
alguma coisa. Dentre essas muitas posições, uma pode se tornar um lugar e,
isso, através da ponte. A ponte não
se situa num lugar. É da própria ponte que saeurge um lugar. A ponte é uma
coisa. A ponte reúne integrando a quadratura, mas reúne integrando o modo de
propiciar à quadratura estância e circunstância. A partir dessa circunstância
determinam-se os lugares e os caminhos pelos quais se arruma, se dá espaço a um
espaço. Essencialmente, espaço é, o fruto de ua arrumação, de um espaçamento, o
que foi deixado em seu limite. O espaçado é o que, a cada vez, se propicia e,
com isso, se articula, ou seja, o que se reúne de forma integradora através de
um lugar, ou seja, através de uma coisa do tipo ponte. Por isso os espaços
recebem sua essência dos lugares e não “do” espaço. O espaço arrumado pelas posições é um espeço
bem específico. Enfim, os espaços abrem-se pelo fato de serem admitidos no
habitar do homem.
A referência do homem aos lugares e através dos lugares aos espaços repousa
sempre no habitar. A relação entre homem e espaço nada mais é do que pensar de
maneira essencial e que chamamos de coisas construídas.
Essa
diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem
faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve
ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de
determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o essente simples e
imediato, ou como a essência: o objeto. O outro momento, porém, é posto como o
inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do
Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou
não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja
conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido – enquanto o saber não é,
se o objeto não souber que pode ser. Trata-se assim da singularidade imediata
de apreensão do objeto. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o
mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio de Outro: o Eu, um
saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. O objeto deve ser examinado, para vermos se é de fato, na certeza sensível
mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e se esse seu conceito – de ser uma
essência – corresponde ao modo imediato como se encontra na certeza sensível.
O
tempo, como a unidade negativa do ser-fora-de-si, é igualmente um, sem mais nem
menos, abstrato, ideal. Ele é o ser, que, enquanto é, não é, e enquanto não é; ele é o vir-a-ser intuído, isto é, tal que são determinadas as diferenças
simplesmente momentâneas, isto é, as que imediatamente se suprassumem como
exteriores, isto é, que são apesar disso exteriores a si mesmas. O tempo é como
o espaço uma pura forma de sensibilidade ou do intuir, é o sensível, mas, assim
como a este espaço, também ao tempo não diz respeito a diferença de
objetividade e de uma consciência subjetiva contra ela. Quando se aplicam estas
determinações de espaço e tempo, então seria aquele a objetividade abstrata,
este [o tempo], porém a subjetividade abstrata. O tempo é o princípio representativo
que o Eu=Eu da autoconsciência pura; mas é o mesmo princípio ou o simples
conceito ainda em sua total exterioridade e abstração – como o mero vir-a-ser
intuído, o puro ser-em-si como um vir-fora-de-si.
O tempo é igualmente contínuo como o
espaço, pois ele é a negatividade abstratamente referindo-se a si e nesta
abstração ainda não há nenhuma diferença real. No tempo, diz-se, tudo surge e
perece, se se abstrai de tudo, a saber, do recheio do tempo e igualmente do
recheio do espaço, fica de resto o tempo vazio como o espaço vazio – isto é,
são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se
elas fossem por si. O real é limitado, e o outro para esta negação está fora
dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu
ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação
da mesma é o próprio tempo. Por isso o finito é transitório e temporário,
porque ele não é, como o conceito nele mesmo, a negatividade total, mas tem
esta em si, como sua essência universal, entretanto – diferentemente da mesma
essência – é unilateral, e se relaciona à mesma como à sua potência. Só o natural, na vida, na
realidade concreta é, portanto, enquanto é finito, sujeito ao tempo; o verdadeiro, porém, a ideia, o espírito,
é eterna.
A
intemporalidade absoluta é diferente da duração; é a eternidade que é sem o
tempo natural. Mas o próprio tempo é, em seu conceito, eterno; pois ele, não
quer qualquer tempo, nem o agora, mas o tempo-enquanto-tempo, é seu conceito;
este tempo, porém, como cada conceito em geral, é o eterno, e também é presente
absoluto. O que não está no tempo é o sem-processo; o péssimo e o mais perfeito
não estão no tempo, dura. O péssimo, da pior qualidade, porque ele é uma
universalidade abstrata, assim espaço, assim tempo mesmo; sua duração não é
vantagem. O duradouro é mais altamente cotado do que o transitório; mas toda
florescência, toda bela vitalidade tem morte cedo. Mas também o mais perfeito
dura, não só o universal sem-vida, inorgânico, mas também o outro universal, o
concreto em si, o gênero, a lei, a ideia, o espírito. Representa o processo total ou apenas um momento do processo que entra no tempo
enquanto os momentos do conceito têm a aparência da independência; mas as
diferenças excluídas portam-se como reconciliadas e retomadas à paz.
A
noção de desenvolvimento passa a ser central depois dessa concepção e, para o
bem ou para o mal até os dias de hoje. Mesmo a ideia de progresso, que implicava o depois poder ser explicado em função do
antes, encalhou, de certo modo nos recifes do século XX, ao sair das esperanças
ou das ilusões que acompanharam a travessia do mar aberto pelo século XIX. Esse
questionamento refere-se a várias ocorrências distintas entre si que não
atestam um progresso moral da humanidade, e sim, uma dúvida sobre a história
como portadora de sentido, dúvida renovada, essencialmente no que se refere ao
seu método, objeto e fundamentalmente nas grandes dificuldades não só em fazer
do tempo um princípio de inteligibilidade, como ainda em inserir aí um
princípio de identidade. A história: isto é, uma série de acontecimentos
reconhecidos como acontecimentos por muitos, acontecimentos que podemos pensar
que importarão aos olhos dos historiadores de amanhã e, ao qual cada um de nós,
por mais consciente que seja de nada representar nesse caso pode vincular
algumas circunstâncias ou imagens particulares, como se fosse a cada dia menos
verdadeiro que os homens, que fazem a história, pois, senão, quem mais senão
homens, não sabem que a fazem.
Hegel
dizia que a verdade é o todo. Que se não enxergamos o todo, podemos atribuir
valores exagerados a verdades limitadas, prejudicando a compreensão de uma
verdade geral. Essa visão é sempre provisória, nunca alcança uma etapa
definitiva e acabada, caso contrário a dialética estaria negando a si própria.
O método dialético nos incita a revermos o passado, à luz do que está
acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do futuro, o que está
sendo em nome do que “ainda não é”. Para Hegel, o trabalho é o conceito chave para compreensão da superação da
dialética, atribuindo o verbo suspender com três significados: negação de uma
determinada realidade, conservação de algo essencial dessa realidade e elevação
a um nível superior. A filosofia descreve a realidade e a reflete, portanto, a
dialética busca, não interpretar, mas refletir acerca da realidade. A dialética
é a história das contradições. O reprimido permanece dentro da
totalidade. Esta contradição não é apenas do pensamento, mas da realidade.
Então, tudo está em processo de constante devir.
Esse
padrão é nosso velho conhecido, visto que é algo do qual a filosofia durante
séculos de elaboração utilizou para conhecer. E isto fica claro da seguinte
maneira; se o saber é igual ao conceito e a essência corresponde o objeto, logo
o conceito precisa corresponder ao objeto e vice-versa, basta para nós, portanto,
verificar em nosso exame – diz Hegel – se o objeto corresponde ao conceito. Por
isso, é necessário manter os dois momentos do exame; o conceito, quer dizer,
ser para outro e o objeto consequentemente ser em si mesmo. Com isso
verificamos que não é necessário um “padrão de medida”, um instrumento que
capte o raio, mas de outro modo, é necessário investigar a partir do que é
dado, embora, aquilo que é dado fique no limite da própria consciência. Dessa
forma, a consciência é consciência do objeto e por identificar este objeto como
um elemento extrínseco torna-se “consciência de si mesmo”. A
consciência do que é verdadeiro é consciência do “seu saber da verdade”,
que estabelece a comparação na relação entre tempo e espaço é a própria
consciência.
Hegel
admite Marx, não enxerga o trabalho em toda a sua contraditória materialidade e
por isso o idealiza e o vê de maneira unilateralmente positiva, minimizando a
força da sua negatividade: a essência humana, o ser humano, equivale para Hegel
à consciência de si, em vez de reconhecer na consciência de si a consciência de
si do homem, quer dizer, “de um homem real, que vive num mundo real, objetivo,
e é condicionado por ele”. Por isso, Hegel, na interpretação de Marx da Introdução de 1857, caiu na ilusão de
conceber o real como resultado do pensamento, que se encontra em si mesmo, se
aprofunda em si mesmo e se movimenta por si mesmo, enquanto o método que
consiste em elevar-se do abstrato ao concreto é para o pensamento precisamente
a maneira de se apropriar do concreto, de reproduzi-lo como concreto
espiritual. Portanto, ao assumir o conceito hegeliano de dialética, Marx foi
levado a modificá-lo, mas a perspectiva de Marx implicava não só uma
reavaliação do papel do trabalho material na autocriação da sociedade e na
autotransformação do ser humano, como também exigia uma reavaliação dos
trabalhadores e de sua concepção orgânica como força material de trabalho capaz
de dar prosseguimento à autotransformação histórica da humanidade na
modernidade.
A
definição histórica do sábado e do domingo como dias de descanso semanal
remunerado é uma conquista relativamente recente dos trabalhadores. Foi
resultado da luta operária surgida na Inglaterra depois da Revolução
Industrial, no início do século XIX. Na Antiguidade, os romanos e os adeptos de
religiões pagãs dedicavam o sábado ao deus Saturno, que regia a agricultura.
Esse dia era reservado para o descanso, numa forma de agradecimento ao deus por
uma boa colheita. Em outras religiões, como no judaísmo, o sábado também já era
consagrado como um dia de repouso semanal. Já o domingo ganhou esse “status” um
pouco mais tarde. Só na era cristã é que passou a ser considerado sagrado,
“porque Jesus ressuscitou dos mortos neste dia”. Por conta disso, os cristãos
consagraram o domingo ao Senhor e, para que os fiéis pudessem ir tranquilamente
aos cultos, era natural que fosse reservado um dia sem trabalho.
Porque
pode fazer história e revolucionar a estrutura dessa sociedade, em sua
transitoriedade assimilando assim as conquistas mais profundas da filosofia.
Utilizando o conhecimento para superar/conservar a situação particular de
classe que lhes é imposta. Em sua concepção dialética, a filosofia, “não pode
se realizar sem a superação do proletariado; e o proletariado não pode se superar
sem a realização da filosofia”. O modo
de pensar dialético atento à infinitude do real e a irredutibilidade do real ao
saber distingue os planos de análise e de realidade de quem opera
sociologicamente. Implica uma interpretação da consciência no sentido dela se
abrir para o reconhecimento do novo, inédito, no âmbito das “mediações
complexas” e das contradições sociais que irrompem no campo visual do sujeito e
lhe revelam a existência de problemas que não estava enxergando. Hegel é o
primeiro a ter visibilidade na Filosofia colocando a questão tópica da
consciência e da autoconsciência vis-à-vis
à consciência comum. É neste sentido conspícuo que a jornada de trabalho põe em
evidência a interrupção do trabalho, fora das crenças religiosas, para que o
homem possa gozar e reconstituir-se.
Bibliografia
geral consultada.
ENGELS, Friedrich, Paul
et Laura Lafargue. Correspondance. Textes
recueillis, annotés et présentés par Émile Bottigelli. Tome II. Paris: Éditions Sociales, 1956; KAPP, Ivone, Eleanor Marx: La Vida Familiar de Carlos
Marx (1855-1883): Tomo I. México: Ediciones Nuestro Tiempo, 1979; HARDMAN,
Francisco Foot, “Introdução: Trabalho e Lazer no Movimento Operário”. In:
LAFARGUE, Paul, O Direito à Preguiça: A
Religião do Capital. 3ª edição. São Paulo: Editora Kairós, 1983, pp. 13-20;
CHAUÍ, Marilena, Introdução de O direito à preguiça de Paul Lafargue.
São Paulo: Editora Hucitec/Editora da UNESP, 1999; DE MASI, Domenico; MAERK,
Johannes, “El Derecho a la Pereza”, de Paul Lafargue. In: Revista Mexicana del Caribe. México. Ano 5, n° 9, pp. 229-237,
2000; VATTIMO, Gianni, El Sujeto y la
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Paulo: Editora UNIJUI, 2004; DAMIÃO, Carla Milani, Sobre o Declínio da Sinceridade. São Paulo: Editora Loyola, 2004; HEIDEGGER,
Martin, Ensaios e Conferências. 3ª
edição. Petrópolis (RJ); Editoras Vozes, 2006; ALBORNOZ, Suzana Guerra, “Sobre
O Direito à Preguiça de Paul Lafargue”. In:
Cad. Psicol. Soc. Trab. v.11 n° 1. São Paulo jun. 2008; LOUREIRO, Roberto de Oliveira, O Ócio Criativo e as Inteligências Múltiplas: Dimensões de Domenico De Masi e Howard Gardner sobre o Trabalho Contemporâneo. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009; LAFARGUE, Paul, La Religion du Capital (suivi de
Le droit à la paresse, et de Pie IX au paradis). Paris: Éditions Théolib, 2014; LEDOUX, Sébastien, Le Devoir de Mémoire. Une Formule et son Histoire. Paris: CNRS Éditions, 2016; ARIZA, Marília Bueno de Araújo, Mães Infames, Rebentos Venturosos: Mulheres e Crianças, Trabalho e Emancipação em São Paulo (século XIX). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; SOARES, Cecília Elisabeth Barbosa, Sedas Tropiciais: Comércio de Luxo e Desenvolvimento Urbano no Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação Multinstitucional e Multidisplinar em Difusão de Conhecimento. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2017; entre outros.
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