quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Habitar - Lugar Praticado, Movimento & Ócio Criativo.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

O operário assalariado está para o capitalista como o inquilino para o proprietário da casa”. Friedrich Engels

                      
               O verdadeiro processo de individuação, isto é, a harmonização do consciente com o nosso próprio centro interior - o núcleo psíquico - ou self, em geral começa infligindo uma lesão à personalidade, acompanhada do consequente sofrimento. Este choque inicial é uma espécie de apelo, apesar de nem sempre ser reconhecido como tal. Ao contrário, o ego sente-se tolhido nas suas vontades ou desejos e geralmente projeta esta frustração sobre qualquer objeto exterior. Em algum lugar, lá no mais profundo de nós mesmos, em geral sabemos aonde ir e o que fazer. Mas há ocasiões em que o palhaço age com o que analiticamente se chama “eu”, de modo tão irrefletido que a voz interior não se consegue deixar ouvir. Assim, o sonho mostra ao sonhador que ele na verdade, tem o amparo de uma organização; está dentro de uma igreja - não uma igreja edificada no mundo exterior, mas uma que existe dentro da sua própria alma. Os fiéis (todas as suas qualidades psíquicas) querem que ele exerça as funções de padre e que celebre a missa. O sonho não faz alusão à missa real, pois o seu missal é diferente do verdadeiro. Parece que a ideia da missa foi usada como símbolo e, portanto, representa um ato sacrificial em que está presente uma divindade com quem o homem se pode comunicar. Todo processo de trabalho é um processo de comunicação, mas nem todo processo de comunicação pode ser considerado um processo de trabalho a não ser potencialmente.

            No trabalho o jovem significa o self e o seu poder de renovação, um élan vital criador de orientação através da qual tudo se torna vida e de iniciativa. Um circo é uma companhia em coletivo onde se reúnem artistas de diferentes culturas e especialidades. O circo contemporâneo é realizado com artistas que, em sua grande maioria, não têm nenhum vínculo familiar com a empresa-circo. Seus pais e parentes, provavelmente, não compõem um circo-família e pouco conhecem a arte circense. Essa falta de vínculo direto com o circo pode fazer com que sua história se perca e deixe de ser conhecida e valorizada por tais artistas. Na maioria das vezes, as escolas de circo não se dedicam a estudar e difundir a história do circo entre seus alunos, dificultando o acesso a ela. No Canadá, em 1981, surge a primeira escola de circo, para atender a demanda dos artistas performáticos, que vinham tendo aulas com ginastas. Em 1982, surge em Québec o Club des Talons Hauts, grupo de artistas que se apresentavam em pernas de pau, com malabares e pirofagia. É esse grupo que em 1984 realiza o primeiro espetáculo do Cirque du Soleil. Deste então, o Cirque du Soleil cresceu de forma surpreendente, estando em cartaz programado em países no mundo globalizado, com espetáculos distintos e grande número artistas em seu elenco. Símbolo da musica: “Alegría” do Cirque du Soleil.

Cirque du Soleil é uma Companhia de entretenimento canadense. É a maior companhia circense do mundo, cuja sede fica em Montreal (Quebec, Canadá). Foi fundada em 1984, na cidade de Baie-Saint-Paul por dois artistas de rua, Guy Laliberté e Gilles Ste-Croisa. Em 1963, Laliberté foi convidado a apresentar no Festival de Artes de Los Angeles. Se o show não fosse bem recebido pelo público, eles não teriam dinheiro para retornar à Montreal. O festival foi um sucesso, e atraiu a atenção de empresas de entretenimento, como a Columbia Pictures, que teve interesse de gravar um vídeo sobre o Cirque du Soleil. Laliberté, insatisfeito com a proposta, recusou-a. Tal produção daria à Columbia Pictures direitos autorais. Esse é um dos motivos que fazem com que o Cirque du Soleil seja independente e privado até hoje. Foi fundado em Baie-Saint-Paul em junho de 1984 pelos artistas de rua Guy Laliberté e Daniel Gauthier, em resposta a um apelo feito pelo Commissariat Général aux Célébrations do governo de Quebec sobre a comemoração do 460 aniversário da descoberta do Canadá. Pode-se dizer que eles representam nas suas origens, a arte humana dentro da evolução artística, com ênfase na interação social entre o corpo e a cultura.          

Objetivando a carreira de artista performático, o fundador do Cirque du Soleil, Guy Laliberté iniciou uma turnê pela Europa como músico e “artista de rua”. Quando retornou ao Canadá, em 1967, aprendeu a arte de cuspir fogo. Trabalhou três dias na construção de uma hidroelétrica, e manteve-se com seu seguro desemprego. Ajudou a organizar, um bazar de verão com seus amigos Daniel Gauthier e Gilles Ste-Croix que coordenavam um albergue de artistas performáticos, denominado “Le Balcon Vert”. Em 1979, Ste-Croix decidiu realizar uma turnê com seu grupo. Apesar do talento dos artistas, a trupe não tinha fundos para concretizar o projeto de trabalho. O grupo decidiu “convencer” o governo de Quebec a financiar o projeto, criando o “Les Échassiers de Baie-Saint-Paul” que empregando diversos artistas performático na atividade circense, o “Les Échassiers” acabou fazendo uma excursão por Quebec durante o verão de 1980. De 1990 a 2000, o Cirque expandiu rapidamente, passando de show com 73 artistas em 1984, para mais de 3.500 empregados, em mais de 40 países, com 15 espetáculos apresentados simultaneamente e lucro anual obtido em US$ 800 milhões.        

Guy Laliberté iniciou sua carreira de artista circense como engolidor de fogo, homem da perna de pau e acordeonista. No começo dos anos 1980, fundou seu primeiro circo junto com um grupo de amigos e em 1984 criou o Cirque du Soleil, baseado na sua admiração por talentos de acrobatas e palhaços de rua do Canadá, sendo o primeiro a fazer a mistura de diversas culturas, disciplinas artísticas e acrobáticas num mesmo espetáculo. Desde a fundação, ele vem sendo o principal mentor da equipe criativa de cada nova apresentação da trupe internacional. Em 30 de setembro de 2009, após período de treinamento na Cidade das Estrelas, ele se tornou o sétimo turista espacial da história, o primeiro canadense, ao ir ao espaço como parte da tripulação da missão Soyuz TMA-16, para um período de dez dias a bordo da ISS. Durante sua estadia em órbita, Guy dirigiu do espaço o espetáculo chamado: “Da Terra às Estrelas pela Água”, do qual participaram estrelas da música, do cinema e outras celebridades desde quatorze cidades nos cinco continentes. É doutorado honoris-causa pela Universidade Laval de Quebec e obteve a Ordre National du Québec, a maior distinção do governo do Quebec. 

A nave russa Soyuz TMA-16, que leva a bordo o sétimo turista espacial da história, o canadense Guy Laliberté, fundador do “Cirque du Soleil”, se acoplou com sucesso à Estação Espacial Internacional (ISS), segundo informou o Centro de Controle de Voos Espaciais (CCVE) da Rússia. Além de Laliberté, na Soyuz viajaram também o cosmonauta russo Maxim Suráyev e o astronauta norte-americano Jeff Williams. Laliberté voltará à Terra em meados de outubro junto a Padalka e Barratt a bordo da nave Soyuz TMA-14, agora acoplada à plataforma espacial. O fundador do circo mais famoso do mundo pagou US$ 35 milhões para poder viajar à plataforma espacial, não realizará experimentos científicos durante sua estada. O produtor e artista circense aproveitou a aventura para promover comercialmente sua faceta humanitária por meio da fundação “One Drop”, que tenta conscientizar o mundo sobre o problema da escassez de água e sua relação direta com a pobreza em nosso planeta. Laliberté dirigiu da ISS, no dia 9 de outubro, a 350 km da Terra, o espetáculo poético-social intitulado “Da Terra às Estrelas pela Água”, no qual participaram celebridades do meio artístico: música, cinema e outras formas de atividade criadora em quatorze cidades continentais.     

             Ler, cozinhar, caminhar, habitar, reduz o stress e a fadiga e aumenta os níveis de produtividade e criatividade no trabalho. A casa é um conceito central para os seres humanos, porque se relaciona com aspetos fundamentais da saúde como segurança, conforto, genuinidade. Como grande parte do nosso tempo é passada com o trabalho, o tempo em casa representa um precioso equilíbrio psicofísico na redução de tensão emocional. Existem os cuidados com o corpo, os regimes de saúde, os exercícios físicos sem excesso, a satisfação, o prazer, a amizade e o enamoramento, tão medida quanto possível, as necessidades. Existem as meditações, as leituras, as anotações que se toma sobre livros ou conversações ouvidas, e que mais tarde será relida, a rememoração das verdades que já se sabe, mas de que convém apropriar-se ainda melhor. Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade criadora consagrada a si mesmo. Ela não constitui um exercício da solidão como se pensa na modernidade; mas sim uma verdadeira prática social de relações habituais de parentesco e mesmo de amizade.
            O “ócio criativo” é o título de um ensaio do sociólogo italiano Domenico De Masi e é também um revolucionário conceito de trabalho que o sociólogo define através da interseção entre três elementos: vendas, faculdade e raciocínio lógico representando o comércio em si, aos ganhos necessários ao cumprimento das leis. Faculdade é a possibilidade de obter dinheiro através do estudo constante, utilizando os recursos que o governo dá. Raciocínio lógico é o raciocínio pragmático de estudo, muito trabalho e convivência com a natureza que deve estar presente em qualquer indivíduo que se faça. É a forma de mecanização do raciocínio, dando-lhe alma. Quando o indivíduo não consegue unir estes três pontos, sabendo que ele está praticando o “ócio criativo”, que é uma experiência harmônica e única, que proporciona sempre melhor readaptação para todas as necessidades da sociedade pré-industrial, respeitando a individualidade do sujeito e proporcionando mais alegria e ousadia ao próprio trabalho. Conquanto, na universidade a palavra “ousadia” é um lixo de memória e nada serve.

           
            Quando se fala em habitar, representa-se costumeiramente um comportamento que o homem cumpre e realiza em meio a vários outros modos de comportamento. Não habitamos simplesmente, mas construir significa originariamente habitar. E a antiga palavra construir (“bauen”) diz que o homem é à medida que habita. Mais que isso, significa ao mesmo tempo: proteger e cultivar, a saber, cultivar o campo, cultivar a vinha. Construir significa cuidar do crescimento que, por si mesmo, dá tempo aos seus frutos. No sentido de proteger e cultivar, construir não é o mesmo que produzir. NB: em oposição ao cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir – construir como cultivar, em latim, “colere”, cultura, e construir como edificar construções, “aedificare” – estão contidos no sentido próprio de “bauen”. No sentido de habitar, ou construir, permanece, para a experiência cotidiana do homem. Aquilo que desde sempre é, como a linguagem diz de forma tão exclusiva e bela, “habitual”. Isto esclarece porque acontece um construir por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das atividades de cultivo e edificação. O sentido próprio de “construir”, a saber, habitar, cai no esquecimento. Em que medida construir pertence ao habitar? Quando construir e pensar como relação são indispensáveis. Ambos são, no entanto, insuficientes para habitá-lo se cada um se mantiver isolado, distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro.
              Ipso facto construir e pensar pertence ao habitar. Permanecem em seus limites. Sabem, quando aprendemos a pensar, que tanto um como outro provém da obra de uma longa experiência e de um exercício incessante de pensar. Parece que esse acontecimento refere-se a uma transformação semântica ocorrida no mero âmbito das palavras. Na verdade, porém, aí se abriga algo muito decisivo: o fato de não mais se fazer a experiência de que habitar constitui o ser do homem, e de que não mais se pensa, sem sentido pleno, que habitar é o traço fundamental do ser-homem. Que a linguagem logo retome o significado próprio da palavra “bauen” (construir), testemunha, no entanto, o caráter originário desses significados. É que, nas palavras essenciais da linguagem, o que nelas se diz propriamente cai, com muita facilidade, no esquecimento, em favor do que se diz num primeiro plano. O homem não chegou a pensar o mistério desse processo. A linguagem retrai para o homem o seu dizer simples e elevado. Mas isso não chega a emudecer o seu apelo inicial. Apenas silencia. O homem indiscutivelmente não presta atenção a esse silêncio ou aos mínimos detalhes do habitar.
            Os mortais são os homens. Chamam-se mortais porque podem morrer. Morrer diz: ser capaz da morte como morte. Somente o homem morre e, na verdade, somente ele morre continuamente, ao menos enquanto permanecer sobre a terra, sob o céu, diante dos deuses. Nomeando os mortais, já pensamos os outros três. Mas isso ainda não significa que se tenha pensado a simplicidade dos quatro. Chamamos de quadratura, afirma Heidegger, essa simplicidade. Em habitando, os mortais são na quadratura. O traço fundamental do habitar é, porém, resguardar. Os mortais habitam resguardando a quadratura em sua essência. De maneira correspondente, o resguardo inerente ao habitar tem quatro faces. Os mortais habitam à medida que conduzem seu próprio vigor, sendo capazes da morte como morte, fazendo uso dessa capacidade como a uma boa morte.  A quadratura representa a vitória sobre a inércia, segundo Heidegger, a pessoa é compelida a materializar uma atitude, é a concreta realidade. No ser humano o corpo pede desapego as ações físicas se reduzem ao mínimo ou de forma abrupta e descontínua. Conscientizada pode desenvolver o poder de vencer desafios grandes deasfios ontológicos.   


SoCO: mudar habitação. Foto Benny Lam.
            Conduzir os mortais ao vigor essencial da morte não significa, de modo algum, ter por meta a morte, entendida como o nada vazio; também não significa ofuscar o habitar através de um olhar rígido e cegamente obcecado pelo fim. Habitar é bem mais um demorar-se junto às coisas. Enquanto resguardo, o habitar preserva a quadratura naquilo junto a que os mortais se demoram: nas coisas. A demora junto às coisas é o único modo em que a demora própria da simplicidade dos quatro alcança na quadratura uma plenitude consistente. No habitar, a quadratura se resguarda à medida que leva para as coisas seu vigor de essência. As coisas elas mesmas, porém, abrigam a quadratura apenas quando deixadas como coisas em seu vigor. Como isso acontece? Quando os mortais protegem e cuidam das coisas em seu crescimento. Quando edificam de maneira própria coisas que não crescem. Cultivar e edificar significa, em sentido estrito, construir. Habitar é construir desde que se preserve nas coisas a quadratura. Desse modo, encaminhamo-nos para a segunda pergunta: Em que medida construir pertence ao habitar? Tomaremos como exemplo para nossa reflexão uma ponte.
         A ponte é, fora de dúvida, uma coisa com características próprias. Ela reúne integrando a quadratura de tal modo que lhe propicia estância e circunstância. Mas somente isso que em si mesmo é um lugar, pode dar espaço a uma estância e circunstância. O lugar não está simplesmente dado antes da ponte. Sem dúvida, antes da ponte existir, existem ao longo do rio muitas posições  que podem ser ocupadas por alguma coisa. Dentre essas muitas posições, uma pode se tornar um lugar e, isso, através da ponte. A ponte não se situa num lugar. É da própria ponte que saeurge um lugar. A ponte é uma coisa. A ponte reúne integrando a quadratura, mas reúne integrando o modo de propiciar à quadratura estância e circunstância. A partir dessa circunstância determinam-se os lugares e os caminhos pelos quais se arruma, se dá espaço a um espaço. Essencialmente, espaço é, o fruto de ua arrumação, de um espaçamento, o que foi deixado em seu limite. O espaçado é o que, a cada vez, se propicia e, com isso, se articula, ou seja, o que se reúne de forma integradora através de um lugar, ou seja, através de uma coisa do tipo ponte. Por isso os espaços recebem sua essência dos lugares e não “do” espaço.  O espaço arrumado pelas posições é um espeço bem específico. Enfim, os espaços abrem-se pelo fato de serem admitidos no habitar do homem. A referência do homem aos lugares e através dos lugares aos espaços repousa sempre no habitar. A relação entre homem e espaço nada mais é do que pensar de maneira essencial e que chamamos de coisas construídas. 
Essa diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o essente simples e imediato, ou como a essência: o objeto. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido – enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser. Trata-se assim da singularidade imediata de apreensão do objeto. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio de Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. O objeto deve ser examinado, para vermos se é de fato, na certeza sensível mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e se esse seu conceito – de ser uma essência – corresponde ao modo imediato como se encontra na certeza sensível.
O tempo, como a unidade negativa do ser-fora-de-si, é igualmente um, sem mais nem menos, abstrato, ideal. Ele é o ser, que, enquanto é, não é, e enquanto não é; ele é o vir-a-ser intuído, isto é, tal que são determinadas as diferenças simplesmente momentâneas, isto é, as que imediatamente se suprassumem como exteriores, isto é, que são apesar disso exteriores a si mesmas. O tempo é como o espaço uma pura forma de sensibilidade ou do intuir, é o sensível, mas, assim como a este espaço, também ao tempo não diz respeito a diferença de objetividade e de uma consciência subjetiva contra ela. Quando se aplicam estas determinações de espaço e tempo, então seria aquele a objetividade abstrata, este [o tempo], porém a subjetividade abstrata. O tempo é o princípio representativo que o Eu=Eu da autoconsciência pura; mas é o mesmo princípio ou o simples conceito ainda em sua total exterioridade e abstração – como o mero vir-a-ser intuído, o puro ser-em-si como um vir-fora-de-si. 

            O tempo é igualmente contínuo como o espaço, pois ele é a negatividade abstratamente referindo-se a si e nesta abstração ainda não há nenhuma diferença real. No tempo, diz-se, tudo surge e perece, se se abstrai de tudo, a saber, do recheio do tempo e igualmente do recheio do espaço, fica de resto o tempo vazio como o espaço vazio – isto é, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem por si. O real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. Por isso o finito é transitório e temporário, porque ele não é, como o conceito nele mesmo, a negatividade total, mas tem esta em si, como sua essência universal, entretanto – diferentemente da mesma essência – é unilateral, e se relaciona à mesma  como à sua potência. Só o natural, na vida, na realidade concreta é, portanto, enquanto é finito, sujeito ao tempo; o verdadeiro, porém, a ideia, o espírito, é eterna.
A intemporalidade absoluta é diferente da duração; é a eternidade que é sem o tempo natural. Mas o próprio tempo é, em seu conceito, eterno; pois ele, não quer qualquer tempo, nem o agora, mas o tempo-enquanto-tempo, é seu conceito; este tempo, porém, como cada conceito em geral, é o eterno, e também é presente absoluto. O que não está no tempo é o sem-processo; o péssimo e o mais perfeito não estão no tempo, dura. O péssimo, da pior qualidade, porque ele é uma universalidade abstrata, assim espaço, assim tempo mesmo; sua duração não é vantagem. O duradouro é mais altamente cotado do que o transitório; mas toda florescência, toda bela vitalidade tem morte cedo. Mas também o mais perfeito dura, não só o universal sem-vida, inorgânico, mas também o outro universal, o concreto em si, o gênero, a lei, a ideia, o espírito. Representa o processo total ou apenas um momento do processo que entra no tempo enquanto os momentos do conceito têm a aparência da independência; mas as diferenças excluídas portam-se como reconciliadas e retomadas à paz.
A noção de desenvolvimento passa a ser central depois dessa concepção e, para o bem ou para o mal até os dias de hoje. Mesmo a ideia de progresso, que implicava o depois poder ser explicado em função do antes, encalhou, de certo modo nos recifes do século XX, ao sair das esperanças ou das ilusões que acompanharam a travessia do mar aberto pelo século XIX. Esse questionamento refere-se a várias ocorrências distintas entre si que não atestam um progresso moral da humanidade, e sim, uma dúvida sobre a história como portadora de sentido, dúvida renovada, essencialmente no que se refere ao seu método, objeto e fundamentalmente nas grandes dificuldades não só em fazer do tempo um princípio de inteligibilidade, como ainda em inserir aí um princípio de identidade. A história: isto é, uma série de acontecimentos reconhecidos como acontecimentos por muitos, acontecimentos que podemos pensar que importarão aos olhos dos historiadores de amanhã e, ao qual cada um de nós, por mais consciente que seja de nada representar nesse caso pode vincular algumas circunstâncias ou imagens particulares, como se fosse a cada dia menos verdadeiro que os homens, que fazem a história, pois, senão, quem mais senão homens, não sabem que a fazem.
Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se não enxergamos o todo, podemos atribuir valores exagerados a verdades limitadas, prejudicando a compreensão de uma verdade geral. Essa visão é sempre provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário a dialética estaria negando a si própria. O método dialético nos incita a revermos o passado, à luz do que está acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. Para Hegel, o trabalho é o conceito chave para compreensão da superação da dialética, atribuindo o verbo suspender com três significados: negação de uma determinada realidade, conservação de algo essencial dessa realidade e elevação a um nível superior. A filosofia descreve a realidade e a reflete, portanto, a dialética busca, não interpretar, mas refletir acerca da realidade. A dialética é a história das contradições. O reprimido permanece dentro da totalidade. Esta contradição não é apenas do pensamento, mas da realidade. Então, tudo está em processo de constante devir.
Esse padrão é nosso velho conhecido, visto que é algo do qual a filosofia durante séculos de elaboração utilizou para conhecer. E isto fica claro da seguinte maneira; se o saber é igual ao conceito e a essência corresponde o objeto, logo o conceito precisa corresponder ao objeto e vice-versa, basta para nós, portanto, verificar em nosso exame – diz Hegel – se o objeto corresponde ao conceito. Por isso, é necessário manter os dois momentos do exame; o conceito, quer dizer, ser para outro e o objeto consequentemente ser em si mesmo. Com isso verificamos que não é necessário um “padrão de medida”, um instrumento que capte o raio, mas de outro modo, é necessário investigar a partir do que é dado, embora, aquilo que é dado fique no limite da própria consciência. Dessa forma, a consciência é consciência do objeto e por identificar este objeto como um elemento extrínseco torna-se “consciência de si mesmo”. A consciência do que é verdadeiro é consciência do “seu saber da verdade”, que estabelece a comparação na relação entre tempo e espaço é a própria consciência.
Hegel admite Marx, não enxerga o trabalho em toda a sua contraditória materialidade e por isso o idealiza e o vê de maneira unilateralmente positiva, minimizando a força da sua negatividade: a essência humana, o ser humano, equivale para Hegel à consciência de si, em vez de reconhecer na consciência de si a consciência de si do homem, quer dizer, “de um homem real, que vive num mundo real, objetivo, e é condicionado por ele”. Por isso, Hegel, na interpretação de Marx da Introdução de 1857, caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento, que se encontra em si mesmo, se aprofunda em si mesmo e se movimenta por si mesmo, enquanto o método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto é para o pensamento precisamente a maneira de se apropriar do concreto, de reproduzi-lo como concreto espiritual. Portanto, ao assumir o conceito hegeliano de dialética, Marx foi levado a modificá-lo, mas a perspectiva de Marx implicava não só uma reavaliação do papel do trabalho material na autocriação da sociedade e na autotransformação do ser humano, como também exigia uma reavaliação dos trabalhadores e de sua concepção orgânica como força material de trabalho capaz de dar prosseguimento à autotransformação histórica da humanidade na modernidade.   

A definição histórica do sábado e do domingo como dias de descanso semanal remunerado é uma conquista relativamente recente dos trabalhadores. Foi resultado da luta operária surgida na Inglaterra depois da Revolução Industrial, no início do século XIX. Na Antiguidade, os romanos e os adeptos de religiões pagãs dedicavam o sábado ao deus Saturno, que regia a agricultura. Esse dia era reservado para o descanso, numa forma de agradecimento ao deus por uma boa colheita. Em outras religiões, como no judaísmo, o sábado também já era consagrado como um dia de repouso semanal. Já o domingo ganhou esse “status” um pouco mais tarde. Só na era cristã é que passou a ser considerado sagrado, “porque Jesus ressuscitou dos mortos neste dia”. Por conta disso, os cristãos consagraram o domingo ao Senhor e, para que os fiéis pudessem ir tranquilamente aos cultos, era natural que fosse reservado um dia sem trabalho. 
Porque pode fazer história e revolucionar a estrutura dessa sociedade, em sua transitoriedade assimilando assim as conquistas mais profundas da filosofia. Utilizando o conhecimento para superar/conservar a situação particular de classe que lhes é imposta. Em sua concepção dialética, a filosofia, “não pode se realizar sem a superação do proletariado; e o proletariado não pode se superar sem a realização da filosofia”.  O modo de pensar dialético atento à infinitude do real e a irredutibilidade do real ao saber distingue os planos de análise e de realidade de quem opera sociologicamente. Implica uma interpretação da consciência no sentido dela se abrir para o reconhecimento do novo, inédito, no âmbito das “mediações complexas” e das contradições sociais que irrompem no campo visual do sujeito e lhe revelam a existência de problemas que não estava enxergando. Hegel é o primeiro a ter visibilidade na Filosofia colocando a questão tópica da consciência e da autoconsciência vis-à-vis à consciência comum. É neste sentido conspícuo que a jornada de trabalho põe em evidência a interrupção do trabalho, fora das crenças religiosas, para que o homem possa gozar e reconstituir-se.
Bibliografia geral consultada.
ENGELS, Friedrich, Paul et Laura Lafargue. Correspondance. Textes recueillis, annotés et présentés par Émile Bottigelli. Tome II. Paris: Éditions Sociales, 1956; KAPP, Ivone, Eleanor Marx: La Vida Familiar de Carlos Marx (1855-1883): Tomo I. México: Ediciones Nuestro Tiempo, 1979; HARDMAN, Francisco Foot, “Introdução: Trabalho e Lazer no Movimento Operário”. In: LAFARGUE, Paul, O Direito à Preguiça: A Religião do Capital. 3ª edição. São Paulo: Editora Kairós, 1983, pp. 13-20; CHAUÍ, Marilena, Introdução de O direito à preguiça de Paul Lafargue. São Paulo: Editora Hucitec/Editora da UNESP, 1999; DE MASI, Domenico; MAERK, Johannes, “El Derecho a la Pereza”, de Paul Lafargue. In: Revista Mexicana del Caribe. México. Ano 5, n° 9, pp. 229-237, 2000; VATTIMO, Gianni, El Sujeto y la Mascara. Barcelona: Editorial Península; 2003; ARALDI, Clademir Luís, Niilismo, Criação, Aniquilamento. São Paulo: Editora UNIJUI, 2004; DAMIÃO, Carla Milani, Sobre o Declínio da Sinceridade. São Paulo: Editora Loyola, 2004; HEIDEGGER, Martin, Ensaios e Conferências. 3ª edição. Petrópolis (RJ); Editoras Vozes, 2006; ALBORNOZ, Suzana Guerra, “Sobre O Direito à Preguiça de Paul Lafargue”. In: Cad. Psicol. Soc. Trab. v.11 n° 1. São Paulo jun. 2008; LOUREIRO, Roberto de Oliveira, O Ócio Criativo e as Inteligências Múltiplas: Dimensões de Domenico De Masi e Howard Gardner sobre o Trabalho Contemporâneo. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009;  LAFARGUE, Paul, La Religion du Capital (suivi de Le droit à la paresse, et de Pie IX au paradis). Paris: Éditions Théolib, 2014; LEDOUX, Sébastien, Le Devoir de Mémoire. Une Formule et son Histoire. Paris: CNRS Éditions, 2016; ARIZA, Marília Bueno de Araújo, Mães Infames, Rebentos Venturosos: Mulheres e Crianças, Trabalho e Emancipação em São Paulo (século XIX). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; SOARES, Cecília Elisabeth Barbosa, Sedas Tropiciais: Comércio de Luxo e Desenvolvimento Urbano no Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação Multinstitucional e Multidisplinar em Difusão de Conhecimento. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2017;  entre outros.  

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