Alöis Riegl: Artefatos, Sociedade & Culto aos Monumentos.
Ubiracy de Souza Braga
“O mais importante e representativo dessa
séria filosofia da arte é provavelmente Alöis Riegl”. Liszt Vianna
Estatua de V. I. Lenin
sendo lavada no estado indiano de Kerala.
O
estado de Querala destaca-se nacionalmente por ter o mais alto nível de Índice
de Desenvolvimento Humano entre os estados e outros territórios da Índia,
calculado em 2011 em 0,790, equivalente ao IDH do Uruguai, na América Latina, considerado
pela Organização das Nações Unidas como “elevado” a nível mundial e “muito
elevado” se comparado com a média nacional, que não ultrapassa 0,460, um dos
mais baixos do mundo. O nível social de Querala é justificado socialmente por ter
a mais alta expectativa de vida, a população mais alfabetizada (em
percentagem), a menor taxa de mortalidade infantil, a melhor saúde pública e um
dos maiores PIB per capita da Índia. É um dos 28 estados da Índia, situado no
extremo Sudoeste do país. A capital e cidade mais populosa, Thiruvananthapuram,
está localizada no extremo Sul do território. Com uma área de 38 863 km² e uma
população em torno de 33 387 677 habitantes, segundo dados estatísticos de 2011,
Querala figura como o 21° estado mais extenso e o 12° mais populoso estado
indiano, o equivalente a cerca de 2,7% da população do país. Querala é banhado
pelo Mar da Arábia, faz fronteira com os estados de Carnataca a Norte, e de
Tâmil Nadu a Leste, além de abranger o Mahé, um exclave costeiro do território
de Puducherry.
A
etimologia de Kerala é assunto de conjetura. Segundo a teoria mais aceita,
Kerala é um portmanteau malaiala imperfeito que une kera
(coqueiro) e alam (“terra” ou “lugar”). Outra teoria diz que o nome
originou da frase “chera alam” (“Terra dos Cheras”). Os nativos de Querala, reconhecidos
como Keraleses ou Malaialis, referem-se, então, à sua terra como
Keralam. Uma inscrição de Asoka em pedra mencionando “Queralaputra” é a menção
mais antiga de Querala que ainda sobrevive. Querala foi mencionada no épico
sânscrito Aitareya Aranyaka. Em 2010, todos os indicadores sociais reconhecidos
de saúde, educação, renda e etc., de Querala estavam consideravelmente acima da
média indiana em todos os subíndices. O estado também tem a melhor segurança
pública da Índia, o que se reflete no fato econômico e político de o estado ter
a mais baixa taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes do país. O
desenvolvimento socioeconómico ímpar de Querala, atualmente, deve-se
essencialmente à manutenção do programa de desenvolvimento implementado pelo
governo nas últimas décadas, baseado em investimentos contínuos na educação, em
projetos de subsistência de saúde, de erradicação da pobreza, planejamento
demográfico e de renda domiciliar. O estado de Querala também se destaca a
nível nacional por ter as cidades “mais limpas” de lixo industrializado da
Índia, além de ter sido considerado, em 2011, pela Transparência
Internacional como o estado “menos corrupto da Índia”, que em análise
comprada representa um dos países mais corruptos do mundo.
O
significado de um artefato, segundo a interpretação de Alöis Riegl, é conexo
com a estrutura mental (abstrata) que definirá o reconhecimento da obra de arte como tal. Analogamente se referem a
unidades de geração que desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas
e afetivas diferentes em relação a um mesmo mercado. O nascimento em um
contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades
nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos
de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo nível social. A
unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela
estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos sociais de uma
mesma “conexão geracional” lidam com os fatos históricos vividos, por sua
geração, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão
geracional no conjunto da sociedade. Karl Mannheim, inovador na interpretação desta questão, não esconde a preferência pela
abordagem histórico-romântica alemã, e destaca ainda que este é um exemplo
bastante claro, de como a forma de se colocar uma questão pode variar de país
para país, assim como de uma época historicamente determinada para outra socialmente inclusiva.
A
história social da arte tem como representação a atividade humana realizada com o propósito estético ou comunicativo,
enquanto expressão de ideias, emoções ou formas de interpretar o mundo. Em sua
historicidade as artes visuais têm sido classificadas de várias formas, desde a
distinção medieval entre as artes liberais e as artes mecânicas, à distinção
moderna entre belas artes e artes aplicadas, ou às várias definições
contemporâneas, que definem arte como a manifestação individual e coletiva da
criatividade humana. O alargamento da lista das principais artes durante o
século XX definiu-as essencialmente em arquitetura, escultura, música, dança,
pintura, poesia, incluindo o teatro e a narrativa literária, o cinema e a
fotografia. Quando considerada a sobreposição de termos entre as chamadas artes
plásticas e as artes visuais, incluem-se também do ponto de vista tecnológico o
design e as artes gráficas. As artes gráficas, também reconhecida socialmente
como design, é uma ciência, que tem como objetivo, a criação de soluções que
são utilizadas para servir de forma funcional o ser humano. A arte e o design
estão presentes na história desde originalmente a identificação etnográfica da
pré-história, através de desenhos e sinais que simbolizavam objetos e
acontecimentos relevantes no âmbito da memória individual (sonho) e coletiva
(os mitos, os ritos, os símbolos). Todavia, enquanto a arte propõe uma
interpretação subjetiva de suas obras, o design comparativamente propõe algo de
sentido objetivo, onde as pessoas serão capazes de entender e podem vir a
comprar o produto e/ou serviço apresentado, ou aderindo a uma ideia, no caso de
uma propaganda.
Marca
é a representação de uma entidade, qualquer que seja ela,
objeto/símbolo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo,
um sinal de presença, uma simples pegada. Na teoria social da comunicação, pode
ser um signo, um símbolo ou um ícone. Uma simples palavra pode referir uma
marca. O termo é frequentemente usado hoje em dia como referência a uma
determinada empresa: um nome, uma marca verbal, imagens ou conceitos que
distinguem o produto, serviço ou a própria empresa. Quando se fala em marca, é
comum estar se referindo, na maioria das vezes, a uma representação gráfica no
âmbito e competência do designer
gráfico, onde a marca pode ser representada graficamente pela composição de
um símbolo e/ ou logotipo, tanto individualmente quanto combinados. No entanto,
o conceito de marca é bem mais abrangente que a sua representação gráfica.
Marca não é um conceito fácil de definir. A marca em essência representa
produção-consumo com uma série específica de atributos, benefícios e serviços
uniformes aos compradores. A garantia de qualidade surge com as
marcas, mas uma marca é um símbolo mais complexo. Um
artefato é conexo à estrutura mental que definirá o reconhecimento da obra de
arte. O
século XX se caracterizou por uma ênfase no questionamento das antigas bases da
arte, propondo-se a criar um novo paradigma de cultura e sociedade e derrubar
tudo o que fosse representado pela tradição. Até meados do século as vanguardas
foram enfeixadas no rótulo de modernismo, e desde então elas se sucedem cada
vez com maior rapidez, chegando aos dias de hoje a um estado quase de total
pulverização dos estilos e estéticas, que convivem, dialogam, se influenciam e
se enfrentam mutuamente. Também surgiu uma tendência de solicitar a
participação do público no processo de criação, realizada por meio de uma
grande variedade de linguagens e incorporar ao domínio artístico uma variedade
de temas, estilos, práticas e tecnologias antes desconhecidas ou excluídas. O
principal problema metodológico na definição do que é arte é o fato de que esta
definição varia com o tempo e espaço de acordo com a diversidade de culturas.
Em
que pese a influência do esteticismo,
cujo corolário apareceria no início do século XX na forma do abstracionismo,
uma apoteose do individualismo artístico, houve correntes que o combateram.
Hippolyte Taine elaborou uma teoria de que a arte tem um fundamento
sociológico, aplicando-lhe um determinismo
baseado na raça, no contexto social de seu tempo. Jean Marie Guyau apresentou
uma perspectiva evolucionista,
afirmando que a arte está na vida e evolui com ela, e assim como a vida se
organiza em sociedades, a arte deve ser um reflexo da sociedade que a produz. A
estética sociológica teve associações com os movimentos políticos de direita,
assim como de esquerda, especialmente o socialismo utópico, defendendo para a
arte o retorno a uma função social, contribuindo para o desenvolvimento das
sociedades e da fraternidade humana, como se percebe nos trabalhos de
Saint-Simon, Leon Tolstoi e Pierre Joseph Proudhon, entre outros. John Ruskin e
William Morris, por exemplo, combateram a banalização da arte causada pelo
esteticismo e pela assunção da sociedade industrial, e defenderam a volta ao
sistema corporativo e artesanal medieval. Na
primeira metade do século XX conceitos inovadores foram introduzidos pela
Escola de Frankfurt, destacando-se Benjamin e Adorno, estudando
os efeitos perversos da industrialização, da tecnologia e da cultura de massa sobre a
arte. Walter Benjamin analisou a perda da aura do objeto artístico na sociedade
contemporânea, em confronto com a chamada indústria cultural e Adorno que a arte não é um mero impacto da sociedade que a produz, pois a
arte expressa o que ainda não existe e indica as condições e possibilidades de
transformação e transcendência. Representante do pragmatismo norte-americano, John
Dewey definiu a arte como “a culminação da natureza”, sustentando que a base da
estética é a experiência sensorial. A atividade artística seria uma
consequência da atividade natural do ser humano em seu trabalho, cuja forma
organizativa depende dos condicionamentos sociais e as formas de apropriação ambientais
em que se desenvolve.
A
primeira escola historiográfica de grande relevância foi o formalismo, que
defendia o estudo da arte a partir do estilo, aplicando uma metodologia
evolucionista que defendia a arte uma autonomia longe de qualquer consideração
filosófica, rejeitando a estética romântica e o ideal metafísico hegeliano, e
se aproximando do neokantismo. Seu primeiro teórico foi Heinrich Wölfflin,
considerado o pai da moderna História da arte. Ele aplicou à arte critérios
científicos, como o estudo psicológico ou o método de análise comparativo
quando definia os estilos por suas diferenças estruturais inerentes aos mesmos,
como argumentou em sua obra: Conceitos fundamentais da História da Arte
(1915). Wölfflin como homem de seu tempo, não atribuiu importância às biografias
dos artistas, valorizando o lado ideológico de nacionalidade, de escolas
artísticas e estilos nacionais. As teorias de Wölfflin foram continuadas pela
Escola de Viena, comparativamente com autores como Alöis Riegl, Max Dvořák, Hans Sedlmayr e Otto
Pächt.
Talvez
o maior legado de Riegl para a historiografia, segundo Bertalanffy, seria seu
ponto de vista relativista que ecoou epistemologicamente no século XX. O
conceito de uma escola vienense da história da arte foi empregado pela primeira
vez pelo crítico de arte e colecionador tcheco Vincenc Kramar em 1910; a
seguir, em artigos publicados por Otto Benesch em 1920 e de Julius von
Schlosser em 1934. Alöis Riegl integrou a segunda geração da chamada “Escola de
Viena”, que visava o rigor científico na análise artística, distante da
valoração estética ou do julgamento de gosto. A partir do rigor metódico da
Escola, Riegl desenvolveria sua abordagem formalista da arte, na qual
prepondera o desenvolvimento interno da arte através das formas, em
considerável nível de independência dos fatores externos. Tal autonomia das
formas foi um passo fundamental para a independência da história da arte, ao livrar a obra de arte da
determinação de outros campos históricos. A Escola de Viena de história da arte
compreende um conjunto de pensadores que entende a História da Arte como
disciplina autônoma, sem a interferência no âmbito da história da filosofia do
esteticismo kantiano e do método dialético de apropriação do real inspirados em
Hegel.
O
novo conceito de dialética desenvolvido por Hegel é mais do que a mera “síntese
de opostos” em sua complementaridade para caracterizá-lo: é todo um complexo
sistema, baseado numa original concepção do absoluto que na filosofia de Hegel,
precisa incorporar todos os momentos significativos do movimento pelo qual se
realiza, assimilando tanto o positivo como o negativo, superando-o numa
capacidade de síntese viva, para poder se estruturar, rigorosamente, como ocorre
no sistema científico: “A verdadeira figura em que a verdade existe”, afirma
Hegel, “só pode ser o sistema científico dela”. O sentido desse movimento
realizado e expresso no “sistema” – só pode ser compreendido do ângulo do
resultado alcançado. Na clássica interpretação da Fenomenologia do Espírito de Hegel, o saber absoluto pressupõe, e
simultaneamente elucida, a “experiência da consciência” em todas as suas
“figuras”, desde a “certeza sensível” e da “percepção” até o ponto de chegada
proporcionado pelo “espírito”, que adquire a plena consciência de si mesmo,
depois de superar as limitações do “discernimento” (“Verstand”), da
“consciência de si” e da “razão” (“Vernunft”).
Para Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário,
exterioriza o concreto contido já no “em si”, e este concreto chega a ser “por
si” através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser “por si”. O concreto é
“em si” diferente, mas logo só “em si”, pela aptidão, pela potência, pela
possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, não como
diferente antropologicamente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si
mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da
aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade
e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não
postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto
vem assim a ser atualmente, na existência. Porém, do mesmo modo que se faz
justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente.
Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o
diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade depreendida e
concreta.
Historicamente
a celebrada efervescência vienense é de intensa e notável produção artística, estética e
principalmente literária. Melhor dizendo, na virada de passagem para o século XX, Viena
experimentava processos comunicativos díspares: de um lado, “decadência e inovação; unidade e
multiplicidade cosmopolitismo e provincianismo; de outro, Levante e Ocidente”,
escreveu Carl Shorske em seu extraordinário libelo: Viena fin-de-siècle que
Viena nesta conjuntura social e política demonstra onde, quando e como se “fabricou” a essência
irradiante da modernidade. Paradigmáticos fora o salão da musa Alma Malher,
Gustav Mahler, Kokoschka, Klimt, Gropius e Werfel, Hofmannsthal e Schnitzler, e
comparativamente o café Central onde se cruzavam personalidades, ativistas e
intelectuais como Freud, Mazarik, Trotsky, Bauer, e o reacionário Lueger, por
exemplo. Ludwig Wittgenstein, Schoenberg, Schiele, Loos, Otto Wagner,
discutiam avanços na utilização de técnicas instrumentais contemporâneas desde a matemática à estética. Os
cenários intelectuais de leitura eram múltiplos: a) havia o salão de Alma
Mahler, casada com Gustav e musa de Kokoschka, Giropius e Werfel; b) o Café
Central, onde se cruzavam Freud, Mazarik, Bronstein (Leon Trotsky),
o socialista Bauer e o reacionário Lueger. Wittgenstein, Schoenberg, Klimt e
Otto Wagner discutiam avanços da matemática à estética; c) Herzl
vislumbrava o Estado judeu, já temendo o antissemitismo crescente; e d)
tragicamente o então jovem Adolf percorria maravilhado, a monumental Avenida
Ringstrasse. A cidade de Viena estavaprotegida por uma muralha desde o século XII; até que, a partir de 1850, a cidade foi crescendo e se formaram vários bairros no exterior dos muros. Em 1857, a muralha começou a ser derrubada para dar mais espaço à cidade e em seu lugar foi construído um grande boulevar, a Ringstrasse. Trata-se de uma prestigiosa avenida onde foram construídos diversos edifícios, como Palácio Real Hofburg, a Prefeitura, a Bolsa, o Parlamento, o Burgtheater, a Igreja Votiva, a Universidade, o Museu de História da Arte ou o Museu de História Natural. A vida de Arthur Schnitzler coincide com o outono áureo de uma
civilização majestosa, cenário ideal para romper com a tradição e antecipar a
modernidade. As circunstâncias trágicas que a Áustria acabou sendo
enredada nas duas guerras, até ser anexada pela Alemanha em 1938,
aguçaram os contrastes e antinomias de intolerância
crescente e irradiação artística luminosa, o esplendor vienense degradou-se.
Um
traço característico da Escola de Viena é a tentativa de colocar a história da
arte numa base científica (“wissenschaftlich”), distanciando a arte de
julgamentos históricos a partir de questões de preferência estética e bom
gosto, e através da criação de conceitos rigorosos de análise através do qual
todas as obras de arte podem ser compreendidas. Quase todos os importantes representantes
da Escola de Viena combinaram carreiras acadêmicas como professores
universitários com atividade curatorial em museus ou preservação de monumentos.
Os estudantes de Thausing Franz Wickhoff e Alöis Riegl promoveu sua abordagem,
na medida em que desenvolveu sua concepção através dos métodos de análise
estilística comparativa e tentou evitar o juízo de gosto pessoal. Assim, tanto
contribuiu para a reavaliação da arte comparativamente da Antiguidade tardia,
que até então tinha sido desprezado como um período de declínio. Alöis Riegl em
particular, como um discípulo declarado de positivismo, tendo como escopo as qualidades puramente
formais da obra de arte, rejeitou todos os argumentos sobre o conteúdo como
especulação metafísica. Após as mortes precoces de Riegl e Wickhoff, uma das
posições da história da arte na Universidade foi preenchida por Max Dvořák, que
a princípio permaneceu e continuou esta tradição.
O interesse de Dvořák gradualmente voltou-se para questões de
conteúdo; isto é, precisamente as questões que, para Riegl, não foram objeto da
história da arte. Dvořák, em parte influenciado pelo movimento expressionista
contemporâneo na pintura alemã, desenvolveu um profundo apreço pelas qualidades
formais anticlássicas do Maneirismo. O método idealista de Dvořák, que mais
tarde seria chamado de história da arte como história intelectual, em alemão: “als
Kunstgeschichte Geistesgeschichte”, encontrou seus representantes mais expressivos
em Hans Tietze e Otto Benesch. Deste modo o que eles buscavam era uma autonomia
relativa dos processos criativos cujas leis gerais obedecem como parti pris ao trabalho artístico,
independentemente de pressões do contexto ou da genialidade do indivíduo. É
claro que todas as coisas valiosas, sejam elas morais, espirituais ou
materiais, como herança da sociedade podem ser encontrados nas várias gerações
em alguns indivíduos criativos que podem criar novos valores para a sociedade –
até mesmo configurar novos padrões morais aos quais a vida da comunidade se
conforma. Sem personalidade e o processo de consciência que Hegel falava,
independente e criativo, o desenvolvimento da sociedade seria impensável, como analogamente
é o desenvolvimento da personalidade individual, desde Freud, sem o solo
alimentador estruturado da família em sua comunidade.
Alois
Riegl foi um historiador de arte austríaco, chave como membro da Escola de Arte
de Viena (“Wiener Schule der Kunstgeschichte”) e figura fundamental
nos métodos modernos da historia da arte. O pai de Riegl era um burocrata na
administração da Imperial Tobacco na Áustria. Mudou-se com sua família para
Bohemia e Galícia, onde o jovem Riegl assistiu um Ginásio en idioma polaco,
pero dada a morte de seu padre en 1873, sua família teve que regressar a Linz.
Riegl se matriculou en la Universidad de Viena, mas evitou os advogados que seu
pai queria para em lugar de dedicar-se ao estudo de filosofia e historia sob a orientação
de Franz Brentanno, Alexius Meinong, Robert Zimmermann e Max Büdinger, de quem
se influenciou e apreendeu a visão positivista do método histórico. Em 1886 começou sua formação curatorial no
Museu Austríaco de Arte e da Indústria, onde trabalhou durante dez anos como
conservador têxtil. Os primeiros livros de Riegl, Antigos Tapetes Orientais
(“Altorientalische Teppiche”) e “Questões de Estilo” (“Stilfragen:
Grundlegungen zu einer Geschichte der Ornamentik”), publicados em 1891-93, respectivamente, derivam de seu
trabalho de pesquisa e observação empírica no museu. Ademais, nestes primeiros livros era evidente seu interesse
por uma teoria e visão disciplinar da historia da arte.
Continuou
a dedicar seu interesse pela arte de objetos comuns que no momento eram considerados
artes menores na obra: Arte Popular, Arrumação e Indústria Doméstica, em 1894. Entre 1894 e
1895 começou suas conferencias sobre a arte barroca, um período ainda amplamente
visto como decadente, inaugurando junto com o trabalho de Cornelius Gurlitt (que constituiu o centro da polêmica das obras supostamente saqueadas pelo predomínio de nazistas), a
revisão deste período estilístico. Não obstante, foi nas classes de Moritz
Thausing que ele iniciou sua carreira acadêmica como estudante de literatura e história alemã. Em 1862, ele foi nomeado assistente de biblioteca na Akademie der bildenden Künste, onde também deu palestras gerais sobre história mundial e cultural. Em 1864, Eitelberger garantiu uma posição para ele com a coleção impressa da Albertina, que ele dirigia a partir de 1868, embora tenha recebido o título formal de diretor apenas em 1876, mas foi onde Alöis Riegl aprendeu um método de análise científico. Se uniu ao grupo
de intelectuais do Museu Austríaco de
Artes Decorativas (“Institut für Österreichische Geschichtsforchung”) e
começou a escrever sua Habilitação em 1889, intitulada: Die Mittelalterliche Kalenderillustration na
qual examinou a tradição helenística naqueles manuscritos.
A
história da arte passou a ser interpretada com seu desenvolvimento como
linhas de tendência, em que há uma evolução natural e contínua através dos
estilos, fundados de acordo com as relações próprias de cada arte com os seus
métodos e seu funcionamento, e não mais com a tentativa de ilustração de uma
natureza ou contexto próximo do artista. Decorre daí o conceito de vontade da arte, forjado por Alöis Riegl, e que sintetiza exatamente essa estrutura constante linear que apresenta
a evolução progressiva dos estilos estéticos. Comparativamente, tem-se como
exemplo A História da Arte, de
autoria de Ernst Gombrich, onde não há nenhuma dedução segundo a qual as
mudanças de paradigmas históricos na arte são decorrentes de uma nova mudança
de mentalidade social ou política, tampouco de uma genialidade renascentista que
se sobressai a tudo o que foi feito anteriormente à sua historicidade. Enfim,
nos “Retratos de Grupo Holandeses” (em alemão: “Das Holländische Gruppenporträt”),
publicado en 1902, centrando-se nos retratos cujos sujeitos olham o público.
Desenvolveu uma nova teoria para satisfazer seu tema, postulando a ideia da
atenção para descrever a relação entre observador e objeto.
É
neste sentido que nas décadas passadas, em se tratando de patrimônio cultural, a
leitura sobre a reflexão de Riegl revela a questão epistemológica em
relação a uma obra em especial: O Culto Moderno dos Monumentos. A projeção do autor no campo da história da arte, como
vimos, precede a sua importância na disciplina da preservação. A partir de
Hegel, alguns estudiosos conceberam a arte como uma atividade própria da
humanidade, postulando que o homem era naturalmente produtor de arte. A partir
daí são outros problemas históricos e
epistemológicos enredam a História da arte. Foi novamente posto em questão o
sistema de valores elaborado durante vários séculos. Foi-se obrigado a tomar em
consideração o ornamento como uma das formas importantes da arte, uma vez que
algumas sociedades não conheceram outra forma. No fim do século passado, Alöis
Riegl teve a proeminência de explorar as consequências dessa ideia, de negar,
sobretudo em teoria, qualquer sistema
normativo dos valores, de denunciar a noção de decadência, em relação à
segregação entre a grande arte e as artes mal ditas “menores”.
Não
por acaso a interpretação do filósofo Walter Benjamin que compreende nos esforços de Alöis Riegl a primeira
evidência estética de que já havia a compreensão de que as transformações em
curso pela reprodutibilidade técnica da humanidade iriam alterar a sua
correspondente forma de percepção e, desse modo, condicionaria uma teoria com novas explicações. Para
compreender mais profundamente o movimento dialético do real, do ângulo de
Benjamin, era preciso participar desse movimento, fazendo-o. e o desafio de
fazer a história, de romper a má continuidade constituída pela tirania do
“sempre-igual”, é um desafio tanto mais terrível quanto mais insidiosa é a ação
corruptora da ideologia sobre a nossa consciência. Benjamin tinha um ponto de
vista conspícuo e original no que se refere ao papel do conceito no processo de
conhecimento. Seu conceito de conceito
era muito incomum, não era de fácil compreensão. Para ele, o conceito deveria
atuar como um mediador na relação entre as ideias abstratas e os fenômenos da empiria. A leitura de da obra de Riegl
teria dado um impulso decisivo à elaboração do conceito de aura de Benjamin.
Deve-se considerar que há entre estes dois autores possibilidade de aproximação
e distanciamento. Obviamente os valores determinados por Riegl não correspondem
aos que foram desenvolvidos na interpretação de Benjamin. Muito menos os valores representados
por Benjamin, em especial o valor de exposição, e mesmo aqueles que se referem
a Riegl, com interesse destacado historicamente no valor de antiguidade.
O
trabalho do conhecimento nem sempre pode ser equilibrado e sereno: ele depende
de aventuras espirituais apaixonadas e apaixonantes, capazes de proporcionar
“iluminações profanas”, capazes de romper a carapaça da ideologia, que de algum
modo aprisiona a consciência a uma esmagadora supremacia da continuidade sobre
a descontinuidade, na compreensão do movimento real. Os indivíduos isolados
pela competição desenfreada em seu trabalho, nas cidades, típica da
modernidade, não dispõem mais de condições para digerir suas experiências, á luz de uma sabedoria acumulada pela
comunidade, como fez noutros tempos; são bombardeados por choques que precisam
ser imediatamente assimilados. As velhas e boas narrativas que pressupunham um intercâmbio vivo entre os membros da
coletividade são substituídas por uma miríade de informações que transmitem
conhecimentos de escassíssima durabilidade, superficiais, fugazes, efêmeros.
Nas condições atuais os processos sociais de comunicação e globalização
aproveitam a reprodutibilidade técnica da ciência, da produção artística,
estética e filosófica impondo-lhes critérios utilitários, imediatistas que
resultam na sua banalização. Enfim, a história se apresenta a nós sempre como
um desafio no tempo-de-agora. Lidando
com a história, em geral partimos das urgências do presente. Para enfrentarmos
os perigos que o tempo-de-agora está
nos trazendo, precisamos estar atentos para a captação dos
sinais enviados do passado, pelos rebeldes e lutadores que nos
precederam e que podem nos reanimar.
Bibliografia geral consultada.
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Ediciones Gustavo Gili, 1980; Idem, Le
Culte Moderne des Monuments. Son Essence et sa Genèse. Paris: Éditions du
Seuil, 1984; BOURDIEU, Pierre, Os Usos Sociais da Ciência: Por uma Sociologia Clínica do Campo Científico. São Paulo: Editora Unesp, 2003; ORTEGA Y GASSET,
José, A Desumanização da Arte. São Paulo: Cortez Editor, 2005; KÜHL, Beatriz Mugayar, “História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos”. In: Revista CPC, Volume 1, nº 1, pp. 16-40, 2006; CUNHA, Claudia dos Reis, “Alöis Riegl e o Culto Moderno dos
Monumentos”. In: Revista CPC - Centro de Preservação Cultural. São Paulo: Universidade de São Paulo. Volume 1, pp. 6-16, 2006; RUSKIN, John, A Lâmpada da Memória. Cotia: Ateliê Editorial, 2008; WEISS, Raquel Andrade, Émile Durkheim e a Fundamentação Social da Moralidade. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; VIANNA NETO, Liszt, O Conceito de Habitus e a Obra de Erwin
Panofsky: Teoria e Metodologia da História da Arte e da Arquitetura na Primeira
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Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas. Universidade Federal de Minas Gerais, 2011; GOMIDE, Adriano Célio, Colecionismo de Arte Moderna e Contemporânea no Brasil: Um Estudo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arte. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2014; SILVA, Manuela Ilha, Para Além do Centro Histórico: Valores e Sentidos do Patrimônio Cultural Edificado de Santa Maria. Programa de Pós-Graduação Profissionalizante em Patrimônio Cultura. Universidade Federal de Santa Maria, 2015; FARAH, Ana Paula, Restauro Arquitetônico: A Formação do Arquiteto-urbanista no Brasil para Preservação do Patrimônio Edificado: O Caso das Escolas de São Paulo. Tese de Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012; Idem, “A Atonomia do Campo Disciplinar do Restauro (Arquitetônico e Urbano)”. In: Oculum Ensaios. Vol. 14, nº 2, mayo-agosto, 2017; pp. 389-402; entre outros.
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