Rua Augusta - Corpos, Prazeres & Vida Noturna Metropolitana.
Ubiracy de Souza Braga
“Os gestos são verdadeiros arquivos da cidade”.
Michel de Certeau
A
Rua Augusta é uma via arterial da cidade de São Paulo que liga o bairro dos
Jardins a região do Centro Histórico de São Paulo. A rua é reconhecida por suas
lojas, boutiques e estabelecimentos de luxo na região dos Jardins e por suas
boates, casas noturnas, bares e vida noturna na região que parte da Avenida
Paulista em direção ao Centro, passando pela região reconhecida como Baixo
Augusta. A rua segue em subida a partir de seu início no entroncamento das ruas
Martins Fontes, Martinho Prado e a Praça Franklin Roosevelt, até o cruzamento
com a Avenida Paulista. Após cruzar a Paulista, ela se torna uma descida
seguindo em direção à Rua Colômbia, no Jardim Europa. A Rua Augusta é
reconhecida principalmente por sua vida noturna de bares, baladas e casas de
shows variadas, mas também por algumas casas de prostituição, saunas e boates
adultas. As primeiras referências dela datam de 1875, chamando-se primeiramente
Rua Maria Augusta; em 1897 já aparece como Rua Augusta. Foi parte das terras do
português Mariano António Vieira, dono da Chácara do Capão desde 1880, quando
abriu várias ruas no Bairro da Bela Sintra, inclusive a Rua da Real Grandeza,
atual Avenida Paulista. Resolveu abrir uma trilha, pois os caminhos eram muito
íngremes, para posteriormente serem instalados bondes puxados por burros, em
1890.
Apenas em 1891, com a inauguração da
luz elétrica, foram movidos com eletricidade. Entre 1910 e 1912 ela foi
estendida até a Rua Álvaro de Carvalho, ficando oficial em 1927. Até 1942, a
Rua Martins Fontes fazia parte da Rua Augusta. Ela aos poucos virou um grande
ponto de prostituição, ocasião em que foi desmembrada (Decreto Lei N.º 153). Do
lado oposto, em direção aos "Jardins", o seu prolongamento até a Rua
Estados Unidos foi oficializado em 1914. O nome Augusta: tudo leva a crer que o
responsável pela sua abertura, o português Mariano Antônio Vieira, não quis
homenagear uma pessoa e sim aplicar algo como um título de nobreza (ou
adjetivo) ao chamá-la de Rua Augusta. Colabora para esta versão o fato de que o
mesmo Mariano, ao abrir uma “picada” no alto do Morro do Caaguaçu, chamou este
logradouro de “Rua da Real Grandeza”. Historicamente vieram os loteamentos,
quando surgiram confortáveis residências e comércio para servi-las.
Gradativamente começaram a surgir edifícios de moradia. Grande parte de comércio
fino de decoração se instalou na região central-ascendente, a partir da Rua
Marquês de Paranaguá. As casas residenciais deram lugar ao comércio de rua.
Shoppings Centers e Cinemas de categoria social se instalaram frequentados
pelas famílias e mais tarde pelos jovens que buscavam distração. Caminho certo
rumo aos bairros dos Jardins e seus clubes, como o Club Athletico Paulistano, a
Sociedade Harmonia de Tênis e o Esporte Clube Pinheiros.
A
Rua Augusta representou para os jovens paulistanos na década de 1960, glamour e
diversão. A canção Rua Augusta, de Ronnie Cord, lançada em 1964 foi uma espécie
de hino da juventude paulistana que frequentava o logradouro nesta época. A
partir da década de 1970, começou a adaptar-se às mudanças, dado o pesado
tráfego de automóveis e ônibus e a criação de inúmeras galerias e centros
comerciais, aliado à falta de estacionamento. Mesmo assim, os jovens
continuaram a estar por lá com suas motos, carros envenenados e muito
congestionamento, principalmente, entre as décadas de1970 e 1980. Haviam muitas
discotecas e casas de danças para acompanhar os “embalos de sábado à noite”,
pistas de esqui no gelo, doceiras, academias de musculação e aeróbicas. Está
sempre sendo atualizada desde aquela época de grande urbanismo e de seu
radiante desenvolvimento, com a reforma do calçamento, decoração com vasos,
retirada de uma parte dos postes de iluminação pública obsoletos, colocação de
carpete, estacionamento para automóveis na Zona Azul, subterrâneo, construção
de boulevard e o desligamento do
trafego dos ônibus elétricos com as novas calçadas.
Na década de 1970 a rua
Augusta perdeu seu prestígio e comércio por conta da abertura de shoppings
centers na cidade de São Paulo. Nessa época também foram abertos diversos
prostíbulos em seu entorno. A rua modernizou-se em 1993 com a abertura e
desenvolvimento do projeto social do cinema Espaço Unibanco. A partir da década
de 2000, a Rua Augusta voltou a ser parte e principalmente a rememorar da vida
noturna dentre os jovens. A Augusta abriu o Vegas Club, The Pub,
Club Noir, o Comedy Club Comedians, considerado o primeiro de comédias do
Brasil, YO restaurante, e outros. Seu entorno é ambientado por bares,
restaurantes, casas noturnas, lojas e antigos prostíbulos. Na perspectiva de democratização, condição para uma nova estética urbana, duas redes retêm
particularmente a atenção sociológica: os gestos
e os relatos. Ambos se caracterizam
como cadeias de operações feitas
sobre e com o léxico das coisas. De dois modos distintos, um tático e outro
linguístico, os gestos e os relatos manipulam e deslocam objetos,
modificando-lhe as repartições e os empregos. São “bricolagens”, de acordo com
o modelo reconhecido ao mito por Claude Lévi-Strauss. Inventam colagens casando
citações de passados com extratos de presentes para fazer deles séries
(processos gestuais, itinerários narrativos) onde os contrários simbolizam. Os
gestos são verdadeiros arquivos da cidade, se entendermos “arquivos” o passado
selecionado e reempregado em função de usos presentes. Refazem diariamente a
paisagem urbana. Esculpem nele mil passados que talvez já sejam inomináveis e
que menos ainda estruturam a experiência da cidade. As histórias sem palavras
do andar, do vestir-se, de morar ou do cozinhar trabalham os bairros com
ausências; traçam aí memórias que não têm mais lugar – infâncias, tradições
genealógicas, eventos sem data. Este é também o “trabalho” dos relatos urbanos.
Nos cafés, nos escritórios, nos imóveis eles insinuam espaços diferentes.
Acrescentam à cidade visível as “cidades invisíveis” de Calvino.
Eles
criam outra dimensão, sempre mais fantástica e delinquente, terrível ou
legitimadora. Por isso, tornam a cidade “confiável”, atribuindo-lhe uma profundidade
ignorada a inventariar e abrindo-a a viagens do olhar. São as chaves da cidade:
elas dão acesso ao que ela é, mítica. Habitar é narrativizar. Fomentar ou
restaurar esta narratividade é, portanto também uma tarefa de restauração. É
preciso despertar as histórias que dormem nas ruas que jazem de vez em quando
num simples nome, dobradas neste dedal como as sedas da feiticeira. Jamais
talvez uma sociedade se tenha beneficiado de uma mitologia tão rica. Mas a
cidade é o teatro de uma guerra dos relatos, como a cidade grega era o campo
fechado de guerras contra os deuses. Entre nós, os grandes relatos da televisão
ou da publicidade esmagam ou atomizam os pequenos relatos de rua ou de bairro.
É urgente que a restauração venha em socorro desses últimos,
registrando e difundindo as que se contam no padeiro, no café ou em casa. Mas
isto é feito arrancando-as de seus lugares, relatos de palavras nos bairros ou
imóveis restituiriam aos relatos os solos onde podem desabrochar.
O bairro se define sociologicamente como uma
organização coletiva de trajetórias individuais. A organização da vida
cotidiana se articula ao menos segundo dois registros: 1. Os comportamentos,
cujo sistema se torna visível no espaço social da rua e que se traduz pelo
vestuário, pela aplicação mais ou menos estrita dos códigos de cortesia, o
ritmo de andar, o modo como se evita ou ao contrário se valoriza este ou aquele
espaço público. 2. Os benefícios simbólicos que se espera obter pela maneira de
“se portar” no espaço do bairro aparecem como o lugar onde se manifesta um
“engajamento” social: uma arte de conviver com parceiros (vizinhos,
comerciantes) que estão ligados a você pelo fato concreto, mas essencial, da
proximidade e da repetição. Existe uma regulação articulando um ao outro esses dois
sistemas com o auxílio do conceito de conveniência,
que surge no nível dos comportamentos. Representa um compromisso pelo qual
cada pessoa, renunciando à anarquia das pulsões individuais, contribui para a
vida coletiva,retirando daí benefícios
simbólicos protelados. Pela relação “saber comportar-se”, o
usuário se obriga a respeitar para que seja possível a vida cotidiana.
A
contrapartida desse tipo de imposição é para o usuário a certeza de ser
reconhecido e, portanto, considerado afetivamente por seus pares, e fundar
assim em benefício próprio uma relação de forças nas diversas trajetórias que
percorre. O bairro é por definição, segundo a fenomenologia de de
Certeau (2000), “um domínio do ambiente social, pois constitui para o usuário uma
parcela conhecida do espaço urbano na qual positiva ou negativamente ele se
sente reconhecido”. Pode-se, portanto apreender o bairro, simplificadamente,
como esta porção do espaço público em geral em que se insinua um “espaço
privado particularizado” pelo fato do uso quase cotidiano desse espaço social
integrado. A fixidez do habitat dos
usuários, o costume recíproco do fato da vizinhança, os processos de reconhecimento
que se estabelecem graças á coexistência concreta num mesmo território
urbano, constituindo um lugar praticado, de elementos práticos se nos
oferecem como imensos campos de exploração a compreender um pouco melhor esta
grande desconhecida que é a nossa vida cotidiana.
É
o que ocorreu com “O Artista de Rua” Ricardo Corrêa da Silva que morreu na
tarde de sexta-feira do dia 15 de dezembro de/2017 em São Paulo aos 60 anos de idade. De acordo com a
família, ele estava internado na ala psiquiátrica do Complexo Hospitalar do
Mandaqui, na zona norte da cidade de São Paulo, sofreu um ataque cardíaco e foi
transferido para o pronto-socorro, mas não resistiu. Ainda não há informações
sobre a causa exata da morte. Personagem famoso ena cidade de São Paulo, Ricardo viu sua
história de vida ganhar visibilidade após uma reportagem publicada no site Buzzfeed. Popularmente reconhecido como “Fofão
da Augusta”, por causa de um preenchimento de silicone que tinha nas bochechas,
Ricardo, que sofria de esquizofrenia, trilhou uma bem-sucedida carreira como
cabeleireiro e se tornou sócio de um salão de beleza. No entanto, após sofrer
golpes e ver sua saúde mental se deteriorar, foi morar na rua e passou a
distribuir panfletos de teatro e pedir dinheiro fantasiado de palhaço na região
central de São Paulo. - “Ao longo da vida fomos percebendo que o Ricardo
realmente tinha uma questão de saúde mental, o que deu a ele uma personalidade
exuberante e sucesso em São Paulo, embora tenha vivido essa vida intensa e com
tanto sofrimento. Pelo menos nos conformamos com o fato de ele ter descansado”,
afirmou seu irmão Marcelo Corrêa da Silva.
Ricardo
Corrêa da Silva sonhava em ver seu nome nos letreiros do teatro. Nos anos 1970,
saiu da cidade de Araraquara a 273 km de São Paulo, para trabalhar com artes
cênicas. Acabou enveredando pelo “visagismo”, em que se demonstrou um talento
nato. Penteou e maquiou artistas como Tônia Carrero na época em que despontou
em alguns dos maiores salões da capital. Investia o dinheiro que ganhava em um
ideal de beleza: queria ser igual a uma boneca chinesa de porcelana. Para isso,
injetou mais de meio litro de silicone nas maçãs do rosto, nas bochechas e na
testa. Fez plástica. No fim dos anos 1980, a esquizofrenia e um golpe de que
foi vítima tiraram o que havia conquistado. Acabou sem casa. Passou a se
apresentar nos semáforos da Rua Augusta. E seu espetáculo ficou em cartaz por
décadas. Ficou conhecido como “Fofão da Augusta”, apelido em que não se reconhecia.
– “Mas deixa chamarem assim, coisa boba”. Ele morou na última década sozinho
numa pensão, na chamada “cracolândia”, no centro, pela qual pagava diária de R$
30, e trabalhava distribuindo panfletos de peças de teatro na Av. Paulista.
Ricardo foi vítima de embolia pulmonar, menos de uma
semana depois de completar seu aniversário de 60 anos.
O bairro surge como o domínio onde a
relação de domínio espaço/tempo é a mais favorável para um usuário ordinário que deseja
deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é o pedaço da
cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço
público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão de passos numa calçada,
pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. Diante do
conjunto da cidade, atravancado por códigos que o usuário não domina, mas que
deve assimilar para poder viver aí, em face de uma configuração dos lugares
impostos pelo dinamismo do urbanismo, diante dos desníveis sociais internos ao espaço
urbano, o usuário sempre consegue criar para si algum lugar de aconchego,
itinerários para o seu uso ou seu prazer, que são as marcas que ele soube, por
si mesmo, impor ao espaço urbano. Metodologicamente o bairro é uma noção
dinâmica, que necessita de progressiva aprendizagem. Vai progredindo mediante a
repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer uma
apropriação. A trivialidade desse processo, partilhado por cidadãos, torna
inaparente a sua complexidade enquanto prática cultural e a sua urgência para
satisfazer o desejo urbano pleno dos usuários da cidade.
Mas quem é, afinal, o Fofão da Rua Augusta, que depois da publicação do perfil escrito por Chico Felitti
tornou-se, para muitos e para muitas, o Ricardo Corrêa? Segundo Figueiredo
(2018: 226 e ss.), o perfil só foi possível, então, quando ficou sabendo, por uma
conhecida das redes sociais, que Ricardo estava num hospital e decidiu ir
visitá-lo. Após a primeira visita e depois de algum tempo de recuperação de
Ricardo, quando estava melhor de saúde, conseguindo falar sobre sua vida e com
a esquizofrenia mais controlada, o repórter disse que gostaria de contar a sua
história e queria que as pessoas soubessem quem ele realmente era. No hospital,
como indigente, ele não tinha direito a um nome, conta Felitti, assim como ele
não tinha direito a um nome na cidade, as pessoas chamavam ele de Fofão da
Augusta, ninguém sabia o nome dele. O perfil, dessa forma, também foi um
processo de busca de identidade. O afeto, além de mover a pesquisa do
jornalista, também está presente na sua capacidade de emocionar e comover as pessoas;
o que só foi possível porque, para escrever o perfil, o repórter acompanhou a
vida de seu personagem durante quatro meses – mas, no total, a convivência
durou um semestre inteiro. O exaustivo trabalho de apuração, a curiosidade, uma
atitude dialógica e de afeto, fez com que o repórter buscasse o Ricardo
herdeiro de 35 mil reais e o Ricardo pobre que pedia dinheiro na rua para
sobreviver; o homem que estava internado como indigente no Hospital das
Clínicas, mas que era reconhecido pelas pessoas na cidade como o Fofão da
Augusta; conhecido de todas e de todos que passavam pela região da Avenida
Paulista, mas que, na verdade, era um completo desconhecido para elas; o homem
que não gostava de aparecer, mas que dizia “eu não sou desconhecido. Eu sou
muito popular”. Ricardo Corrêa não é uma dessas coisas ou outra: Felitti faz
com que conheçamos um Ricardo que é uma dessas coisas e as outras também,
contraditório e complementaridade de opostos. O bairro constitui o termo médio de uma dialética existencial entre o dentro e o fora. E é na tensão entre esses dois termos, um dentro e um fora, que vai aos poucos se tornando o prolongamento de um dentro que efetua a apropriação do espaço. Um bairro poder-se-ia dizer, é assim uma ampliação do habitáculo; pelo usuário, ele se resume á soma das trajetórias individuais inauguradas a partir do seu local conscrito na origem de sua habitação. Não é propriamente uma superfície urbana transparente para todos ou estatisticamente mensurável, mas antes as condições e possibilidades oferecidas a cada um de inscrever na cidade um sem-número de trajetórias cujo núcleo irredutível continua sendo sempre a esfera do privado.Existe, além disso, a elucidação de uma analogia formal entre o bairro e a moradia: cada um deles tem, com os limites que lhe são próprios, a mais alta taxa de controle pessoal possível, pois tanto aqueles como esta são os únicos lugares vazios onde, de maneira diferente, se pode fazer aquilo que se quiser. A relação entrada ou saída, dentro ou fora se imiscui dentre outras relações sociais como casa ou trabalho, representando uma relação entre pessoa e mundo, condicionado por uma dialética da autoconsciência que vai haurir, de forma humana, socialmente íntima.
A inauguração da luz elétrica, em 1891, foram movidos com eletricidade. Entre 1910 e 1912 ela foi estendida até a Rua Álvaro de Carvalho, tornando-se oficial em 1927. Mas até 1942 a Rua Martins Fontes fazia parte da Rua Augusta. Ela aos poucos virou um grande ponto de prostituição, ocasião em que foi desmembrada, por motivos de “higienização”. Do lado oposto, em direção aos “Jardins”, o seu prolongamento até a Rua Estados Unidos foi oficializado em 1914. O nome “Augusta” tudo leva a crer, de acordo com reminiscências, que o responsável pela sua abertura, o português Mariano Antonio Vieira, não quis homenagear uma pessoa e sim aplicar algo como um título de nobreza (ou ideológico) ao chamá-la de “Rua Augusta”. Colabora para esta ideia o fato social de que o mesmo Mariano, ao abrir uma picada no Morro do Caaguaçu, chamou este logradouro de “Rua da Real Grandeza”. As frações da classe dominante econômica e politicamente os empresários do café responsável pelas principais atividades do complexo cafeeiro e compondo as oligarquias, possuíam vínculos comerciais com a Europa, mas também culturais, sobretudo com a França.
Paris, a
metrópole por excelência do século XIX, era a Meca para todos os povos, tendo
sido, por conseguinte, alvo dos paulistas enriquecidos. Era a capital da moda,
do luxo, do consumo, dos museus, dos teatros, dos esportes e dos demais tipos
de lazer de massa. Nela também aconteciam as grandes exposições internacionais.
O francês era a principal língua da ciência e da literatura, sendo falada nas
cortes que ainda persistiam na Europa como o fora, havia pouco tempo atrás, na
do Reinado do Brasil, com sede no Rio de Janeiro. Com o tempo, tornaram-se
áreas exclusivas de palacetes, graças a uma legislação específica. Em 1894,
Joaquim Eugênio de Lima, um dos promotores da abertura da Avenida Paulista
conseguiu efetivar junto à Prefeitura uma lei que obrigava as futuras
construções a respeitarem um recuo de 10 metros com relação ao alinhamento das
calçadas, bem como de 2 metros lateralmente.
Etnograficamente,
segundo Homem (1994), quatro anos depois, surgiram os recuos obrigatórios para
jardins e arvoredo e um espaço de pelo menos 2 metros de cada lado para as
residências a serem edificadas nas avenidas Higienópolis e Itatiaia, atual Avenida
Angélica. Os bairros dos Campos Elíseos, da Consolação, da Liberdade e de Santa
Cecília permaneceram como áreas mistas. Modificou-se a noção de morar da classe
dominante. A casa individualizou-se, passando a expressar o êxito econômico e
profissional do proprietário, bem como o seu grau de cosmopolitismo. Ela
tornou-se o refúgio das lutas pela vida e local de privacidade, ao mesmo tempo em
que devia proporcionar afastamento físico daquelas áreas e certa alienação
quanto às tensões e aos conflitos sociais. As camadas mais ricas procuraram viver
isoladamente. Em São Paulo, historicamente, as vilas foram as que mais disseram
respeito à tradição paulistana de auto-abastecimento, recém-saída do mercado da
escravidão. Com o Ecletismo, houve uma racionalização do espaço existente ao
redor da casa, no sentido de se definir uma posição para cada um dos
complementos da construção principal. Os parques e os jardins, utilizados para o lazer familiar, ficavam
sempre em posição fronteira ou lateral, relegando-se aos fundos, os elementos sociais
que diziam respeito aos serviços.
Numa
palavra, camuflou-se o trabalho manual, apartando-o da zona destinada ao uso
social. Os jardins do art nouveau
transformaram-se em moldura do palacete, compondo ambos um conjunto harmonioso.
Figuras sinuosas inspiradas no reino vegetal e mineral, tais como: gotas,
folhas e flores envolviam a construção principal que passou a ser o centro da
composição. Contudo, as áreas exclusivas de palacetes, complementadas pela
arborização das avenidas e demais vias que as recortavam, constituíram
importante “mancha verde”, apenas interrompida pela gama vermelha dos telhados,
dos belvederes e de torres esporádicas, a ponto de se tornarem a principal
característica dos bairros das elites paulistanas. Essa notável massa homogênea
assinalou a paisagem da cidade, tendo sido “independente do ecletismo de suas
edificações” a ponto de podermos defini-los como “verdadeiros marcos
referenciais urbanos” conforme observou o arquiteto Silvio Soares Macedo ao se
referir ao bairro de Higienópolis. Incluídos nos roteiros turísticos da cidade,
tais marcos atraíam a população de outros bairros que neles vinham passear nos fins
de semana. Da mesma forma, chamaram a atenção dos viajantes que estiveram na capital
paulista nesse período, os quais não deixaram de mencioná-los em seus
apontamentos de viagem. A
“Rua Augusta representou para jovens paulistanos na década de 1960 glamour e diversão. Rua Augusta" é uma
canção, composta pelo maestro brasileiro Hervé Cordovil e gravada pelo cantor
brasileiro Ronnie Cord, sendo seu maior sucesso, e lançada pela gravadora RCA
Victor em 1964. Rua Augusta foi a primeira música de rock brasileiro a ter
problemas com a censura. Sua terceira estrofe, - “Comigo não tem mais esse
negócio de farda/ não paro o meu carro nem se for na esquina/ tirei a 130 a
maior fina do guarda...” - foi cortada pela censura, tendo que ser substituída.
Sua letra captura o espírito da juventude roqueira do começo dos anos 1960, que
tinham suas motos e carros embalados na velocidade das mudanças de costumes
trazidos com o rock e o movimento da jovem guarda, na mesma época em que a Rua
Augusta, da cidade de São Paulo, era um local progressista do Brasil. A canção
também seria regravada pelos Mutantes, no disco “Mutantes e Seus Cometas no
País do Baurets” e por Raul Seixas, que deixou uma das versões mais conhecidas
do público. A partir da década de 1970, começou a se adaptar às mudanças, dado
o tráfego de automóveis e ônibus e a criação de inúmeras galerias e centros
comerciais, aliado à falta de estacionamento. Na badalada década a Rua Augusta
perdeu seu prestígio e comércio por conta da febril concorrência
imobiliária com a abertura de shoppings centers em inúmeros pontos comerciais de São Paulo.
Os
centros comerciais de médio e grande porte funcionam como pequenas cidades, possuindo
uma estrutura governamental (a administração) e seus serviços de polícia e
bombeiros (segurança), de limpeza (sanitário), de abastecimento de água, de manutenção
de infraestruturas etc. Trata-se de um espaço de poder, planejado para
estimular a economia urbana e facilitar o consumo. A administração é
centralizada, e as lojas são alugadas, para a exploração comercial calculada e
a prestação de serviços, sendo sujeitas a normas contratuais padronizadas.
Muitas vezes, um supermercado ou grande estabelecimento de varejo funciona como
“âncora” do empreendimento. A administração tende a procurar manter o
equilíbrio da oferta e uma certa diversificação ou complementaridade entre os
diferentes tipos de estabelecimentos e de produtos oferecidos. Os locatários
pagam um valor em conformidade com um percentual do faturamento (de 5 a 9%) ou
um valor mínimo básico estabelecido em contrato - o que for maior. Os centros comerciais, na maior parte das vezes, cobram por muitos serviços. Nos centros comerciais de maiores dimensões, com vários
andares, a circulação se dá, habitualmente, através de escadas rolantes, para
facilitar o movimento de pessoas de um andar para outro. O maior shopping
center do mundo é o Dubai Mall, em Dubai, nos Emirados Árabes, que conta com 1
200 lojas, 22 salas de cinema, um estacionamento com 14 000 vagas, além de
abrigar o maior aquário do mundo, com 33 000 animais marinhos expostos. O
título de melhor centro do é atribuído em Cannes, na França, e
pertence ao Europa Passage, na Alemanha.
A
atriz Fiorella Mattheis é a protagonista da série “Rua Augusta”, que a O2
realiza para a TNT, abreviação para Turner
Network Television, canal de
televisão por assinatura especializado em filmes e séries. O canal original foi
criado pelo magnata da mídia Ted Turner em 1988 nos Estados Unidos da américa.
A programação do canal é em áudio dublado, já em outros momentos, a atração
pode ser exibido legendado em horário nobre. O canal chegou ao Brasil na década
de 1990. Exibe sucessos do cinema com falas em português e está presente em
praticamente todos os pacotes de TV por assinatura do Brasil. Ela representa
sua personagem Mika. A série tem direção-geral de Pedro Morelli que divide a
direção dos episódios com Fábio Mendonça. A direção de fotografia é de Rodrigo
Carvalho e Dante Belluti e a direção de arte de Fabio Goldfarb. “Rua Augusta” é
adaptação da série israelense “Allenby Street”. Durante o dia,
a Rua Allenby, localizada em Tel Aviv, Israel, é o espaço de
atividades comerciais. Quando a noite chega, a via é agitada pelos
bares e casas de show da região. E é lá que Mika (Moran Atias) realiza a
vida. Trabalhando como prostituta, a jovem divide seu tempo entre o trabalho e
os prazeres da vida noturna, até que ela se envolve em caso amoroso.
A série televisiva “Rua Augusta” foi filmada em diversas locações em São Paulo, especialmente na região da
Rua Augusta. Mika (Fiorella Mattheis) é uma stripper que reconstrói sua
vida após um passado conturbado e misterioso. Ela passa a trabalhar na agitada
Rua Augusta, em São Paulo, onde é dançarina na Boate Love e se diverte na boate
Hell. Numa noitada, o destino da jovem se cruza com o do filho de um
empresário e muda sua vida para sempre. Isto não impediu como alternativa aos usuários que também houvesse abertos
diversos prostíbulos em seu entorno. Mas a rua se modernizou em 1993, com a
abertura do cinema Espaço Unibanco. A partir da década de 2000, voltou a ser
parte da vida noturna dos jovens. Abriu os espaços: Vegas Club, The Pub, Club
Noir, o Comedy Club Comedians, primeiro clube de comédias do Brasil, YO
restaurante, entre outros. Seu entorno está movimentado por bares,
restaurantes, casas noturnas, lojas e o gosto por antigos prostíbulos. Os jovens consumidores
prestigiam a rua com carros e suas motos, e muito congestionamento. Havia
muitas discotecas para acompanhar os “embalos de sábado à noite”, pistas de
esqui no gelo, doceiras, academias de musculação e aeróbicas. Sempre sendo atualizado
desde a década de 1970, com reforma do calçamento, decoração com vasos,
retirada de uma parte inútil dos postes de iluminação pública que estavam obsoletos,
colocação de carpete, estacionamento pago Zona Azul e subterrâneo e a
construção de um bulevar e por fim, a
eliminação dos úteis e vistosos ônibus elétricos com as novas calçadas.
Bibliografia geral consultada.
BRUNO, Ernani Silva, História e Tradições da Cidade de São Paulo.2ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio Editor, 1954; CORREA, Mariza et alii, Colcha de Retalhos. Estudos sobre a Família no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982; FREITAS, Maria Luiza de, O Lar Conveniente: Os Engenheiros e Arquitetos e as
Inovações Espaciais e Tecnológicas nas Habitações Populares de São Paulo
(1916-1931). Dissertação de Mestrado. São Carlos: Instituto de Arquitetura
e Urbanismo. Universidade de São Paulo, 2005; PIMENTEL, Lídia
Valesca Bonfim, Vidas nas Ruas, Corpos em Percurso no Cotidiano da Cidade.
Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Departamento de
Ciências Sociais. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2005; JANUZZI, Denise de Cássia Rossetto, Calçadões: A Revitalização Urbana e a Valorização das Estruturas Comerciais em Áreas Centrais. Tese de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006; VEGA, Alexandre Paulino, Estilos
e Marcadores Sociais da Diferença em Contexto Urbano: Uma Análise da
Descontração de Diferenças entre Jovens em São Paulo. Dissertação de
Mestrado em Antropologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009; PISSARDO, Felipe Melo, A Rua
Apropriada: Estudo sobre as Transformações e Usos Urbanos na Rua Augusta (São
Paulo, 1891-2012). Dissertação de Mestrado. São Paulo: Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2013; BASTOS, Bruna
Freire, Construindo Identidades, Espaços e Sentido: O Consumo Cotidiano na
Cidade de São Paulo. Um Olhar sobre a Rua Augusta. Dissertação de Mestrado
em Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo.
São Paulo: Associação Escola Superior de Propaganda e Marketing, 2016; ARRUDA,
Marina Almeida Ferraz, A Memória no Resgate do Passado - A Rua Augusta em
São Paulo. Dissertação de Mestrado em Cultura e Comunicação. Lisboa:
Faculdade de Letras. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2016; FIGUEIREDO, Carolina
Moura Klautau de Araújo, Jornalismo, Incerteza e Complementaridade de
Opostos: Um Diálogo Compreensivo. Dissertação de Mestrado. Programa de
Mestrado em Comunicação. São Paulo: Faculdade Cásper Libero, 2018; entre
outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário