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sexta-feira, 16 de março de 2018
Marielle Franco - Lições da Favela da Maré, Rio de Janeiro.
Ubiracy de Souza Braga
“Quantos mais vão precisar morrer para que
essa guerra aos pobres acabe?”. Marielle Franco
Era flamenguista e “funkeira com
gosto”, frequentando bailes e tornando-se dançarina da equipe de som “Furacão
2000”, produtora e gravadora carioca que reproduz coletâneas e shows de funk carioca. Principal responsável pela
divulgação do funk carioca nos anos 1990, a popularização do gênero pelo país,
que é uma variação do Miami Bass. Teve início após a fusão de duas equipes de
som na década de 1970: “Som 2000”, de Rômulo Costa e a “Guarani 2000”, de
Gilberto Guarani. Inicialmente realizava bailes de soul e funk. As letras do
funk carioca falavam das dificuldades que os moradores de favelas do Rio de Janeiro
passavam como a discriminação racial e social vista em todos os espaços, lugares,
praças, shopping, praias, cinemas, teatro, estádio de futebol Maracanã, e outros.
Os MC´s de sucesso desse tempo eram bem conhecidos: William e Duda, Mc
Marcinho, Danda e Tafarel, Mc Galo, Mr. Catra, Vinicius e Andinho, Claudinho e
Buchecha, Mc Mascote, Danilo e Fabinho, Suel e Amaro, Teco e Buzunga, Latino,
Marquinhos e Dollores, Força do Rap, Marcio e Vitor, Mc Pixote, Mc Mascote,
Careca e Pixote, Junior e Leonardo, Cidinho e Doca etc.
O funk carioca apresentava um
discurso contra as brigas nos bailes funk, o chamado “corredor”, formados por
pessoas que se denominavam fazer parte do lado A e do lado B, e que assim se
organizavam e brigavam. As letras falavam ainda das “revistas” policiais que os
jovens moradores de favelas passavam em público, e que nessa era visto como
arma político-ideológica, além de temas relacionados ao amor como o “funk
melody”. As músicas mais famosas produzidas neste período tomaram uma direção
diferente das criadas na década anterior, com uma conotação de temperamento
sexual, letras ora de duplo sentido, relatando posições sexuais, ora dizendo
explicitamente palavras sexys. Nestas
canções as dificuldades da população da favela são postas um pouco à parte e
toma vigor a visão do baile funk como união social para paquera, namoro e
flerte. O envolvimento com o tráfico é ignorado. Um grupo que pode ser considerado
como divisor de águas deste período é o “Bonde do Tigrão”, com músicas que
reúnem bem as características sociais supracitadas, como “cerol na mão”, “tchutchuca”
etc. Com estas e outras canções, o grupo alcançou projeção nacional.
Motivada
pelos pais a estudar desde cedo, assim como sua irmã caçula, Anielle, teve
inicialmente “a educação que foi possível”. Começou a trabalhar aos 11 anos,
para pagar sua escola, foi educadora numa creche na Maré e aluna da primeira
turma de pré-vestibular comunitário do Complexo do Alemão, aos 19 anos, em
1998. No mesmo ano, deu à luz sua filha, Luyara, fruto de um relacionamento
amoroso importante em sua vida. Hoje, a menina com nome de “deusa indígena” tem
19 anos e é caloura de Educação Física na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Marielle Franco iniciou sua militância no âmbito das políticas públicas dos direitos
humanos em 2000, após a morte de uma amiga, vítima das chamadas “balas perdidas”
em tiroteio entre policiais e traficantes na Maré. Tornou-se parte do que
chamava de “bonde de intelectuais da favela”, uma geração que fez “pré-vestibular
comunitário” e conseguiu acesso a boas faculdades - a dela, Ciências Sociais,
na PUC Rio, onde entrou com bolsista em 2002.
Em 2006, integrou na Maré a equipe de campanha
que ajudou a eleger Marcelo Freixo (PSOL) à Assembleia Legislativa do Rio. “Ela
tinha uma liderança nata, era aquela menina que tinha iniciativa, rodava muito
pelas regiões periféricas, no movimento negro e de mulheres”, diz Vinicius
George, que também fez parte da campanha. O deputado se tornaria seu padrinho
político, nomeando-a assessora parlamentar e, posteriormente, coordenadora da
Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj. Em linha com a
atuação política do PSOL, Marielle entrou, em 2012, no mestrado em
administração pública na Universidade Federal Fluminense. Sua dissertação de
mestrado: “UPP: A Redução da Favela a Três Letras”, analisa a política de
segurança pública do governo de Sérgio Cabral. Ela defendia que as UPPs fortaleciam
“um Estado Penal que, pelo discurso da ‘insegurança social’, aplica uma
política voltada para repressão e controle dos pobres”. Sua candidatura à
vereadora, na eleição de 2016, demandou convencimento por parte de seus colegas
do PSOL - ela resistia à ideia, mas fez uma campanha calcada na tríade gênero,
raça e cidade, com o lema “eu sou porque nós somos”, referindo-se a mulheres,
negras, de favela, como ela.
Historicamente
as favelas mais conhecidas do Brasil estão localizadas na cidade do Rio de
Janeiro e surgiram por volta de 1900, no período da Guerra de Canudos. A
cidadela de Canudos foi construída próxima a alguns morros, entre eles o Morro
da Favela, que recebeu este nome devido à vegetação predominante no local, que
era a favela, uma planta típica da caatinga, extremamente resistente à seca. Os
soldados ao retornarem ao Rio de Janeiro, deixaram de receber seu soldo e
instalaram-se provisoriamente em alguns morros da cidade, juntamente a outros
desabrigados. A partir deste episódio, os morros recém-habitados ficaram
conhecidos como favelas, em referência à “favela original”. A preocupação do
poder público com a nova forma de moradia instalada informalmente no Rio de
Janeiro só aconteceu em 1927, através do Plano Agache, que representou a
denominação popular do plano de remodelação urbana da cidade do Rio de Janeiro
elaborado, ao final da década de 1920, por Alfred Agache, por solicitação do
então prefeito da cidade, Antônio Prado Júnior. Embora não tenha sido
efetivamente implementado, o Plano abriu novas perspectivas para o urbanismo no
Brasil e deu origem à criação do Departamento de Urbanismo da Prefeitura
Municipal. Marielle Franco foi morta logo depois de ter participado do evento Jovens Negras Movendo Estruturas.
Em
1948 foi realizado o primeiro Censo nas favelas cariocas e neste contexto a
Prefeitura do Rio de Janeiro, afirma, surpreendentemente, num documento
oficial, precedente às estatísticas, que: “os pretos e pardos prevaleciam nas
favelas por serem hereditariamente atrasados, desprovidos de ambição e mal
ajustados às exigências sociais modernas”. Esta afirmação resgatada por Alba
Zaluar “et al” (2007), exemplifica como o preconceito em torno das favelas e
seus moradores se fixaram na sociedade brasileira. Considerada
oficialmente a primeira favela do Rio de Janeiro, o Morro da Providência, que
fica na estação ferroviária Central do Brasil, foi chamado no do
séc. XIX Morro da Favela, origem do nome que se espraiou por outras comunidades do Rio e de resto no
Brasil. Os primeiros moradores do Morro da Favela ex-combatentes da Guerra de
Canudos se fixaram no local por volta de 1897.
Marcelo Ribeiro Freixo professor e político,
é filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Foi eleito deputado
estadual pelo Rio de Janeiro, tendo sido o deputado mais votado do Brasil, em
2014. Ganhou notoriedade nacional quando presidiu a CPI das milícias no Rio de
Janeiro, sendo inclusive, homenageado no filme: “Tropa de Elite”, do diretor
José Padilha. É o atual presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e
Cidadania da ALERJ. Freixo foi colunista na Folha de S. Paulo, até julho de
2016, onde escreveu periodicamente textos de opinião sobre a conjuntura
política, econômica e as questões sociais no Rio de Janeiro, no Brasil e no
mundo. Também é membro da Fundação Lauro Campos, uma instituição “think tank”
sem fins lucrativos, criada pelo PSOL, com o objetivo de ensejar um pensamento
crítico comprometido com os valores humanistas do socialismo e da liberdade
democrática e que busca promover discussões temáticas sobre o país e a América
Latina. Foi candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pela coligação “Mudar é
Possível” e teve como vice-prefeita na chapa a advogada e professora da UFRJ
Luciana Boiteux, ficando em segundo lugar, no segundo turno, perdendo para Marcelo
Crivella do PRB.
Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT)
de 1986 a 2005, Marcelo Freixo vem se posicionando no campo da esquerda
política e contra a aproximação do partido a setores populistas e liberais. Em
setembro de 2005, filiou-se ao recém-criado Partido Socialismo e Liberdade,
pelo qual foi eleito deputado estadual para a ALERJ, em 2006, por ter sido o
mais votado do partido, com 13.547 votos. Freixo foi militante do Partido dos
Trabalhadores (PT) por duas décadas, num movimento que ajudou a construir,
participando das articulações políticas, defendendo as causas sociais e
direitos humanos, porém ainda não era filiado de início. Encorajado
principalmente por Chico Alencar, ele atende aos pedidos de amigos e ingressa
oficialmente na sigla, registrando-se em 1985. No Partido dos Trabalhadores (PT) que Marcelo Freixo obteve
formação para caracterizar seu perfil político e uma estrutura consolidada em
aspectos que o levava a conquistar os seus objetivos. A execução de Marielle Franco explica a farsa da intervenção militar no Rio de Janeiro.
Em
março de 2009, assumiu a presidência da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos
e Cidadania da Assembleia Legislativa. O deputado atua ainda, como membro da
Comissão de Cultura e como suplente da Comissão de Educação. Além disso, é
vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Tribunal de Contas do
Estado do Rio de Janeiro, que apura crimes de que são acusados conselheiros e
técnicos do Tribunal de Contas, assim como um deputado estadual e prefeitos do
estado. Marcelo Freixo foi presidente da
Comissão Parlamentar de Inquérito das Milícias, que visa a investigar a ligação
de parlamentares com grupos paramilitares. Passou 15 dias de exílio na Europa
por conta de ameaças de morte. Em 2008, protocolou pedido de cassação de
mandato do então deputado Álvaro Lins, que acabou cassado no dia 12 de agosto.
Nas eleições de 2010, foi reeleito deputado estadual, pelo mesmo partido, com
177 253 votos e por isso, foi o 2º deputado mais votado do estado, perdendo
apenas para Wagner Montes com 528 628 votos. Janira Rocha (RJ) foi eleita
ajudada pela votação de Freixo.
Cerca
de 10 mil soldados foram para o Rio de Janeiro com a promessa do Governo de ganhar
casas na capital federal da província. Como os entraves políticos e
burocráticos atrasaram a construção dos alojamentos, os ex-combatentes passaram
a ocupar provisoriamente as encostas do morro – e por lá acabaram ficando. Ipso
facto, tanto a origem do nome Favela quanto Providência remete à Guerra de
Canudos, travada entre tropas republicanas e seguidores de Antônio Conselheiro
no sertão baiano. Favela era o nome de um morro que ficava nas proximidades de
Canudos e serviu de base e acampamento para os soldados republicanos. Faveleiro é também o nome de um arbusto típico do
sertão nordestino. O jornalista e escritor Euclides da Cunha descreveu assim o
morro da Favela no seu livro: Os Sertões, sobre a Guerra de Canudos: -
“O monte da Favela, ao sul, empolava-se mais alto, tendo no sopé, fronteiro à
praça, alguns pés de quixabeiras, agrupados em horto selvagem. À meia encosta
via-se solitária, em ruínas, a antiga casa da fazenda. O arraial, adiante e
embaixo, erigia-se no mesmo solo perturbado. Mas vistos daquele ponto, de
permeio a distância suavizando-lhes as encostas e aplainando-o davam-lhe a
ilusão de uma planície ondulante e grande”.
Filha
de Marinete e Antônio Francisco da Silva Neto, Marielle Franco nasceu e cresceu
no “Complexo da Maré” na cidade do Rio de Janeiro. Assim denominado pela
prefeitura carioca, é um bairro com conglomerado de pequenos bairros da Zona
Norte da capital fluminense. Teve seu território delimitado pelo Decreto nº
7.980, de 12 de agosto de 1988. Constitui-se num agrupamento de várias favelas,
sub-bairros com casas, e conjuntos habitacionais. Com cerca de 130.000 moradores
(2006), possui um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro,
consequência dos baixos indicadores de desenvolvimento social e político que
caracterizam a região. A faixa de terra litorânea conquistada do mar pela
população do local congrega, aproximadamente, dezesseis microbairros,
usualmente chamados de “comunidades”, que se espalham por 800 000 metros
quadrados próximos à Avenida Brasil e à margem da baía. É cortado pela via expressa
Presidente João Goulart e pela Av. Governador Carlos Lacerda. Socióloga
engajada na questão urbana defendeu a dissertação de Mestrado: “UPP - A Redução
da Favela a Três Letras: Uma Análise da Política de Segurança Pública do Estado
do Rio de Janeiro” (2014). Ela apresentava-se como “cria da Maré”.
Antes da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) ser
instalado no Rio de Janeiro como projeto da Secretaria Estadual de Segurança
com o objetivo de instituir polícias
comunitárias em favelas, principalmente na capital do estado, já havia esboços
do que viriam a ser as UPPs. Uma dessas experiências ocorreu com o Grupamento
de Aplicação Prático Escolar (GAPE), uma proposta no histórico Morro da
Providência, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, em que recrutas faziam
parte de um laboratório de práticas comunitárias de policiamento. Esta
experiência seria a semente laboratorial desenvolvida por especialistas do Grupo
de Policiamento em Áreas Especiais (GPAE), que, comparativamente guarda poucas
diferenças com as novas UPPs. Outra experiência importante decorreu do Projeto Mutirão da Paz, na favela
conhecida como “Pereirão”, no bairro Laranjeiras, em 1999. Segundo o site
oficial da UPP-RJ, as experiências de Medellín (Colômbia) também serviriam de
inspiração para o futuro projeto de UPPs.
A instalação do primeiro GPAE
aconteceu em 2000, no Pavão-Pavãozinho e, nos anos seguintes, receberam
unidades os morros: Morro da Babilônia, Chapéu Mangueira, Providência, Gardênia
Azul e Rio das Pedras, na cidade do Rio de Janeiro; e Morro do Cavalão e Morro
do Estado, em Niterói. Em decorrência de conflitos violentos, outras GPAE foram
instaladas no Morro da Chácara do Céu, Morro da Formiga e Morro da Casa Branca,
todos na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Para Vila Cruzeiro, no bairro da
Penha, também Zona Norte do Rio de Janeiro, o GPAE ocorreu após o assassinato
do jornalista Tim Lopes que trabalhava na rede Globo de televisão. A primeira
unidade de polícia pacificadora surgiu em meados de 2008, no morro Dona Marta,
em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Após a instalação da UPP na comunidade, os
homicídios foram reduzidos a zero nos quatro anos subsequentes. Os resultados
da política de pacificação do governo Sérgio Cabral Filho foram elogiados pelo New York Times. Especialistas reconhecem
que a inclusão da cidade para sediar os Jogos
Olímpicos de Verão (2016) representou politicamente o impulso para os investimentos no programa,
ampliação e mesmo trajetória social do espaço das favelas escolhidas no Mapa da Pacificação.
Com uma diminuição considerável do
índice de criminalidade nas proximidades das favelas pacificadas, o fim dos
tiroteios é o principal ponto positivo apontado pelos moradores das áreas
pacificadas. Para o antropólogo Luís Eduardo Soares, o fim dos tiroteios e da
circulação de armas de fogo na mão de traficantes possui ligação direta com a
queda aparente dos índices de violência letal. Também ocorrem as maiores
facilidades para entrada de novos serviços prestados à população. Apesar destes
pontos consideravelmente positivos, os analistas críticos lembram que tais
melhorias ocorreram principalmente no primeiro momento da instalação das unidades
de polícia pacificadora. Tiroteios, inicialmente ausentes nas favelas
pacificadas, contudo, voltaram a ser rotina principalmente no Complexo do
Alemão, Vila Cruzeiro sendo emblemáticos os tiroteios na Corrida pela Paz, do
Complexo da Penha ao Complexo do Alemão, entre bairros, e a morte da policial
Alda Rafael Castilho em confronto no Parque Proletário da Penha.
O ponto nevrálgico para a crítica às
unidades de polícia pacificadora foram as manifestações públicas de junho de
2013, quando o caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo na
Rocinha, analisados noutro lugar, se tornou um símbolo da crítica ao programa ou mesmo ao reforço militar que as
UPPs da Penha e Complexo do Alemão começaram a receber em resposta aos ataques a
policiais destas unidades. Este reforço provocou movimentação de organizações e
ambos os complexos de favelas, que emitiram um manifesto público sobre a
presença militar. Em termos culturais, as favelas passaram por uma profunda
mudança em seus hábitos. A Resolução 13 definiu as Unidades de Polícia
Pacificadoras como “responsáveis pela autorização de eventos dentro das favelas”,
delimitando ainda mais a segregação social. Com isso, ficaram prejudicados os eventos
recreativos dos “bailes funk” em geral, mesmo após a recente revogação da resolução.
Atualmente em função das estratégias de planejamento, moradores enfrentam
dificuldades em realizar eventos em suas próprias comunidades.
Bibliografia
geral consultada.
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