sexta-feira, 2 de março de 2018

Empresa de Correios - Estado, Trabalho & Extinção do Selo no Brasil.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

E havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora”. Apocalipse (8:1)

   
                                               
Considerada tanto o primeiro documento da história brasileira como o primeiro texto literário do Brasil, a carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei d. Manuel, em forma de diário, leva ao monarca luso uma narrativa pessoal marcada pela observação etnográfica do que os europeus chamavam de Novo Mundo. É possível verificar a expressa preocupação de descrever gestos, corpos e hábitos de alimentação e abrigo dos nativos. Há o desejo de narrar como o local foi encontrado e como vivem os indígenas que ali habitam. Trata-se, portanto, de um documento etnográfico com valor histórico e cultural pela descrição de hábitos, e literário, pelo apelo formal e estilístico. O documento original, é intitulado oficialmente Carta a El-rei D. Manuel sobre o dito “achamento” do Brasil, guardado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal, é constituído por sete folhas de papel manuscritas, cada uma em quatro páginas, num total de 27 páginas de texto e mais uma de endereço. Primeiro texto escrito no Brasil foi feito em Porto Seguro, com data de 1° de maio de 1500, e foi levado à Lisboa por Gaspar de Lemos, comandante do navio de mantimentos da frota. O curioso é seu sintoma, no plano do imaginário individual e coletivo posto que só foi descoberto, em 1773, no Arquivo Nacional português, por José Seabra da Silva. A informação foi publicada, pela primeira vez pelo padre Manuel Aires de Casal na sua Corografia Brasílica (1817), mas que demonstra claramente seu personalismo, pela técnica de análise do discurso dando origem e seu significado.
O personalismo foi um movimento associado ao humanismo e não ligado a partido político, idealizado por Emmanuel Mounier, após a crise de 1929 da Europa e divulgado pela revista “Esprit”, com a intenção de identificar a verdade em toda a circunstância. Ele acreditava que o problema das estruturas sociais era econômico e moral, e a saída para isso era a teorização e a construção de uma “comunidade de pessoas”. O personalismo é uma filosofia que tem como ênfase conduzir o homem para sua realização como pessoa. Tendo esse pensamento como princípio ideológico, o sujeito que se percebe como pessoa, e não como indivíduo, percebe a importância de sua pessoalidade e se desperta para ação vocacional, no sentido weberiano do termo, dando lugar a expectativas pessoalizadas. O personalismo foi adaptado pela Democracia Cristã, e influenciou o Papa João Paulo II e, ideologicamente os católicos. Na visão personalista, ser completo como pessoa é levar a sério necessidades pessoais satisfeitas, percebidas e trabalhadas. Levando isso a sério, a filosofia personalista, destacando o valor da pessoa, em detrimento do indivíduo, coloca a questão pessoal sobre as demais questões, por entender que as questões importantes da existência estão contidas nas pessoas. Nada deve diminuir o valor e a primazia de uma existência personalista.
O individualismo, na concepção de Mounier, consiste num sistema de costumes, de sentimentos, de idéias e de instituições que organiza o indivíduo partindo de atitudes de isolamento e de defesa. Foi a ideologia e a estrutura dominante da sociedade burguesa ocidental no período que compreende desde o século XVIII e o século XIX. Homem abstrato, sem vínculos nem comunidades naturais, deus supremo no centro de uma liberdade sem direção nem medida, sempre prontas a olhar os outros com desconfiança, cálculo ou reivindicações; instituições reduzidas a assegurar a instalação de todos esses egoísmos ou o seu melhor rendimento pelas associações voltadas para o lucro; eis a forma de civilização que vemos agonizar. Sem dúvida alguma, uma das mais pobres que a história testemunhou. Civilização que se enquadra perfeitamente no que ele chama de “a própria antítese do personalismo e o seu mais direto adversário”. No plano das ideias representadas pelo filme: The Seventh Seal, dirigido por Ingmar Bergman e lançado em 1957, é um filme existencial, mas que permite como a maioria dos filmes de base histórica e psicológica diversas interpretações de quem o assiste. Por curiosidade, ele foi produzido com base em uma peça de teatro chamada O Retábulo da Peste. Sabemos, ao certo, que toda manifestação artística possui muitos traços da essência de quem a realiza e com “O Sétimo Selo” não é diferente, pois podemos traduzi-lo ao âmbito de expressão da individualidade de Ingmar Bergman, demonstrando dúvidas, conflitos e principalmente a angústia. A Peste Negra que, no contexto social do filme, deflagrou e acabou com a esperança de vida é tema central dessa obra prima do diretor sueco. Toda a simbologia do filme consegue demonstrar esse lado contumaz da Idade Média. O uso do preto e branco foi essencial, sem falar da morte, interpretada por Bengt Ekerot.


O século XIV, que é a época diegética de O Sétimo Selo, assinala o apogeu da crise feudal, representada pelo trinômio “guerra, peste e fome”, que juntamente com a morte, compõem simbolicamente os “quatro cavaleiros do apocalipse” no final da Idade Média.  Inicialmente, a decadência do feudalismo resulta de problemas estruturais, quando no século XI, a elevada densidade demográfica na Europa, determinou a necessidade de crescimento na produção de alimentos, levando os senhores feudais a aumentarem a exploração sobre o trabalho servil que iniciaram uma série de revoltas e fugas, agravando a crise já existente. As cruzadas entre os séculos XI e XIII representaram outro revés para o sistema feudal, já que os seus objetivos mais imediatos não foram alcançados: Jerusalém não foi reconquistada pelos cristãos, o cristianismo não foi reunificado, e a crise feudal não foi sequer minimizada, já que a reabertura do mar Mediterrâneo promoveu o Renascimento comercial e urbano, que já contextualizam o pré-capitalismo, na passagem da Idade Média para a Moderna. O trinômio “guerra, peste e fome”, que marcou o século XIV, afetou tanto o feudalismo, como o capitalismo nascente. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre França e Inglaterra devastou boa parte da Europa, mas a “peste negra” eliminou 1/3 da população. A destruição dos campos, plantações e rebanhos, trouxe a fome, o atraso, a decadência e a morte.
Museu Nacional dos Correios.
O personalismo coloca a pessoa acima de quaisquer instituições ou coletividade, pois o ser humano com sua pessoalidade é único e peculiar, e essa peculiaridade impossibilita que todo o seu querer e as suas ânsias, estejam totalmente em harmonia ou satisfeitos com as vontades, aspirações ou conquistas de uma classe social, grupo, ou instituição. Se como pessoa percebemos uma grande distância entre o nosso querer e o que recebemos como pagamento num convívio trabalhista, entre o nosso querer e o que me oferece um grupo e as instituições sociais, não podemos deixar também de perceber e tratar o próximo como uma pessoa, justamente por entender que ele tem como admitimos, aspirações pessoais, que, sendo pessoalizadas, naturalmente se chocam com as nossas por serem frutos da subjetividade e peculiaridade pessoal. Com a percepção da pessoa como um ser distinto, mas próximo, evitamos a homogeneização das relações  porque tendemos a buscar proximidades pessoais sem desvalorizar a alteridade. A encarnação da ideia é um dos pressupostos mais fortes do personalismo. E seu cerne é a ação, e é nesse ponto que ele se destaca das demais disciplinas filosóficas, pois não propõe apenas afirmações e sim ações afirmativas ou afirmações engajadas.
Correio é um sistema social de comunicação que envolve o processo de trabalho de envio de documentos e encomendas entre um remetente e um destinatário, que podem estar numa mesma cidade ou em lugares entre Estados muito distantes entre si. Desde a metade do século XIX, o sistema postal nacional, privado ou público, passou geralmente a ser estabelecido por monopólios governamentais através de um papel pré-pago, que era na forma de estampas adesivas, os selos. Em geral, os monopólios governamentais apenas entregavam as encomendas para prestadoras de serviços, e estas responsáveis pela entrega da encomenda até o endereço correto. Governos democráticos ou autoritários podem restringir empresas públicas ou privadas para sua documentação. Os selos também marcaram a continuidade da política de “substituição de importações” do período anterior (1946-1964), seu esforço industrializante e seus gargalos na produção e na exportação. O forte crescimento da economia brasileira de 1968 a 1973, o chamado “milagre econômico” baseava-se na conjuntura internacional favorável. O produto mundial crescia e com ele a procura por produtos próprios brasileiros.
Filatelia é o estudo e o colecionismo de selos postais e materiais relacionados. A filatelia tem várias áreas de estudo, a saber: filatelia tradicional, história postal, pré-filatelia, marcofilia, inteiros postais, filatelia temática, aerofilatelia, astrofilatelia, maximafilia, filatelia juvenil, literatura filatélica, selos fiscais, classe aberta e um quadro. O objetivo deste hobby é selecionar selos para compor uma coleção, que pode ser geral ou temática. Existem coleções que além dos selos possui informações sobre o tema, parâmetro utilizado por muitas pessoas nas coleções temáticas. Enquanto entre as coleções gerais, pode-se dizer que se dividem em mundo e país. É frequente encontrar coleções com apenas selos de um país, assim como de qualquer lugar do mundo. Quando não seguem nenhum critério este tipo de coleção é usual entre iniciantes. Apesar de diferenças entre os vários tipos de coleções, um único ideal une os filatelistas de todo o mundo: a vontade de conhecer mais sobre um lugar, objeto, pessoa, país, etc. É o conhecimento que estimula os filatelistas a continuar com seu hobby apesar da diminuição das correspondências como processo social de comunicação dos Correios.
 Carta que será enviada a D. Manuel I.
O modelo de industrialização e de transportes adotado desde antes da ditadura civil-militar de 1964, mas consolidado por esta se fundamentava no uso extensivo de derivados de petróleo como combustível. A produção nacional de petróleo era, no entanto pouco significante. O país dependia, para continuar funcionando, de um fluxo de petróleo que era basicamente importado. Esse ponto fraco evidenciou-se quando uma confusa conjuntura política no Oriente Médio ocasionou a quadruplicação dos preços do petróleo no final de 1973. Como a necessidade do produto era grande, em pouco o país começou a sofrer de dificuldades de pagamentos externos, ou seja, as vendas externas passaram a ter problemas para cobrir as compras. A crise do petróleo aconteceu em cinco fases, todas depois da Segunda Guerra Mundial provocada pelo embargo dos países membros da OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Golfo Pérsico de distribuição de petróleo para os Estados Unidos da américa e países da Europa.
A região petrolífera do Golfo Pérsico foi descoberta em 1908 no Irã, a partir daí, toda a região começou a ser visada estrategicamente e explorada. Em 1960, na cidade de Bagdá, os cinco principais produtores de petróleo: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Venezuela, fundaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo. A criação da OPEP foi uma forma de reivindicar perante uma política de achatamento de preços praticada pelo cartel das grandes empresas petroleiras ocidentais,  as chamadas “sete irmãs”: Standard Oil, Royal Dutch Shell, Mobil, Gulf, BP, Standard Oil of Califórnia, e Chevron. Os três objetivos da OPEP, definidos pela organização na conferência de Caracas em 1961, eram aumentar a receita dos países-membros, a fim de promover o desenvolvimento; assegurar um aumento gradativo do controle sobre a produção de petróleo, ocupando o espaço comercial das chamadas empresas multinacional; e unificar as políticas globais de produção. A OPEP aumentou os royalties pagos pelas transnacionais, alterando a base de cálculo, e as onerou com um imposto.               
A crise do petróleo foi desencadeada num contexto de déficit de oferta, com o início do processo de nacionalizações e de uma série de conflitos envolvendo os produtores árabes da OPEP, como a guerra dos Seis Dias (1967), a guerra do Yom Kipur (1973), a revolução islâmica no Irã (1979) e a guerra Irã-Iraque a partir de 1980, além de uma excessiva especulação financeira. Os preços do barril de petróleo atingiram valores altíssimos, chegando a aumentar até 400% em cinco meses, entre 17 de outubro de 1973 ao dia 18 de março de 1974, o que provocou prolongada recessão nos Estados Unidos da América e na Europa e desestabilizou os alicerces de equilíbrio da economia mundial. Esta conjuntura crítica suscitou o conjunto de selos “Preservação de Recursos Econômicos” demarcando no meio filatélico, o surgimento de uma nova época em que não se podia mais confiar em um combustível fóssil barato. Com o curioso lema: “Sabendo usar não vai faltar”, os dois selos enfatizavam a necessidade de economizar energia elétrica e combustível para os automóveis. É lugar-comum o pensamento de que é necessário utilizar sabiamente os recursos naturais e naquela época os selos continham pioneirismo. A política econômica e a visão geopolítica dos novos donos do poder depois do golpe político-militar de 1° de abril de 1964 transpareceram nos lançamentos de selos. É provável, com a consumação do golpe de Estado de 17 de abril de 2016, mesmo admitindo-se o favoritismo de Lula nas eleições presidenciais de 2018, concorra para estes princípios ideológicos de difusão de imagem em sua historicidade. 
Small One Dollar leiloado por R$ 690 mil.
Documentação tem como representação o conjunto de todos os documentos, que são todas as fontes contendo informações que ajudem a tomar decisões, comuniquem decisões tomadas, registrem assuntos de interesse da organização ou do indivíduo. Tem como característica reunir informações escritas acumuladas numa série sucessiva de anotações, todavia quando dizem respeito a uma organização ou a um indivíduo, assumem a característica de documento. O conjunto dos documentos passa a constituir a documentação, caracterizada com fins comerciais, industriais, jurídicos, escolares, etc. Sua função é adequar-se à  organização, constituir-se num centro ativo e dinâmico de informações e ser um instrumento de conservação de documentos. Do ponto de vista do processo de trabalho e comunicação social os princípios do arquivo referem-se à localização rápida, segurança, flexibilidade, controle e sigilo.            
A notícia pode ser definida como um produto socialmente construído, pois é resultado das posições sociais de indivíduos e grupos envolvidos com a produção de um documento, e pelas próprias fontes que atuam como definidores primários dos eventos. A notícia é uma condensação desses determinantes em um produto sociocultural essencial na constituição dos processos, conteúdos, formas e relações sociais. Notícias têm valor ideológico (jornalístico) ou político apenas quando acabam de acontecer, ou quando não foram noticiadas previamente por nenhum veículo comercial ou partidário. A História oficial do Brasil vem sendo narrada através dos selos postais, como ocorre com a proposta da exposição: “O Brasil no Selo Postal”, inaugurada no Centro Cultural Correios, no Centro do Rio de Janeiro. Segundo o coordenador geral do evento, Franklin Pedroso, o avanço da tecnologia da comunicação global, como o e-mail, coloca o selo postal numa posição de extinção. - “Com o advento da internet, o hábito de comunicação entre as pessoas, através de cartas, diminuiu radicalmente. Tanto que os Correios passaram a ter outras funções tão importantes quanto”. Segundo o coordenador da exposição, “os selos são como historinhas em quadrinhos compostas por imagens autoexplicativas. É por isso que a mostra acredita no sucesso da comunicação desse meio, já que qualquer criança é capaz de entender a mensagem filatélica”.   
Em sua historicidade “correio” é utilizado comumente nas línguas românicas. Sua origem, porém, é duvidosa, ainda que se suponha que provém do provençal antigo “corrieu”, palavra composta de “corir” (correr) e “lieu” (lugar), que também designava a pessoa que se deslocava de um lugar a outro através de cartas e mensagens. Além disso, também se chamou a atenção também para a importância que pode ter tido o vocábulo do castelhano antigo “correo”, que nos tempos do Cid Campeador significava “bolsa para levar dinheiro”. Rodrigo Díaz de Vivar, chamado El Cid (do mourisco sidi, “senhor”) e de campeador (“campeão”), foi um nobre guerreiro castelhano que viveu no século XI, época em que a Hispânia estava dividida entre reinos rivais de cristãos e mouros (muçulmanos). Sua vida e feitos se tornaram, com as narrativas da lenda, sobretudo devido a uma canção de gesta, a “Canción de Mio Cid”, datada de 1207, transcrita no século XIV pelo copista Pedro Abád, cujo manuscrito se encontra na Biblioteca Nacional da Espanha, um referencial para os cavaleiros da idade média.           
Segundo a “Canción de Mio Cid”, 300 dos melhores cavaleiros castelhanos decidiram acompanhá-lo no exílio, fazendo de Zaragoza seu quartel general e travando batalhas vitoriosas contra os mouros. Noutra versão alternativa, Rodrigo refugiou-se nas montanhas de Aragão, arregimentando um pequeno exército cujas armas eram postas ao serviço de quem lhes pagasse mais, fosse cristão ou muçulmano. Aliás, é também essa fonte alternativa que, ao mencionar seu casamento com Jimena (ou Ximena), filha do Conde de Oviedo, ocorrido pouco antes do exílio, diz, maliciosamente, que a dama era mais velha do que ele, e muito feia, porém tinha um patrimônio invejável. O certo é que, nesse tempo, Rodrigo estabeleceu vínculos políticos e afetivos com o rei mouro da taifa de Valência, Al-Cádir, que se tornou seu amigo e protegido ou seu cliente. Foi em benefício de Al-Cadir que El Cid conquistou os reinos de Albarracín e Alpuente. Em 1089, o almorávida Yusuf cruzou o estreito de Gibraltar, à frente de um numeroso exército. A invasão ameaçava a segurança dos reinos espanhóis, e o rei Alfonso pediu ajuda a Rodrigo, fazendo-o retornar a Castela. Mas não tardou para que a hostilidade voltasse a se manifestar entre ambos, e El Cid foi desterrado pela segunda vez etc.
Segundo a versão que não o enobrece, Rodrigo mandou torturar, e depois queimar vivo, o governador da cidade, Ben Yehhaf, implicado na morte de Al-Cádir. E não teria poupado sua mulher e filhos se não fora a intervenção dos nobres cavaleiros que o seguia. Já a versão mais difundida sustenta que ele, ao se tornar senhor de Valência, mostrou-se um governante justo e equilibrado. Outorgou à cidade um estatuto de justiça, implantou a religião cristã, mas, ao mesmo tempo, renovou a mesquita dos muçulmanos, cunhou moedas e rodeou-se de uma corte de estilo oriental, composta tanto por poetas árabes e cristãos, quanto por pessoas eminentes no mundo das leis. Mas os almorávidas não estavam inertes e se apresentaram às portas da cidade, sob a liderança de Mahammad, sobrinho de Yusuf. Após vários combates, El Cid obteve uma vitória decisiva, que contribuiu para tornar sua pessoa objeto de narrativas heroicas, muito embora várias delas absolutamente inverídicas. Até sua morte, Rodrigo governou Valência em nome de Alfonso VII, mas, na verdade, seu poder era independente do rei. E ele tratou de aumentá-lo, fazendo casar uma de suas filhas, Cristina também conhecida como Elvira, com o príncipe Ramiro Sanchez de Pamplona, e a outra, María Rodriguez de Bivar, com o conde de Barcelona, Raimundo Berengário III.
Ao contrário da tradição lendária, antropológica que aprecia vê-lo morrendo heroicamente em combate, Rodrigo Díaz de Vivar, chamado de “Campeador” ou “El Cid” ou “Mio Cid”, faleceu numa cama de seu castelo em Valência a 10 de julho de 1099. É nesse ponto da história social que Rodrigo vira uma lenda em torno de figura personalista. Os mouros ficaram confiantes, pois haviam finalmente matado o El Cid. Sua mulher mandou amarrar seu corpo ao cavalo e sua espada a sua mão e o mandou ao campo de batalha. Ao ver El Cid em cima do seu cavalo passaram a fugir e foram perseguidos e derrotados pelo exército de Rodrigo. Por isso a mitificação na lenda que Don Rodrigo de Castella “venceu uma batalha depois de morto”. Seus restos mortais, juntamente com os de sua esposa, Jimena, estão sepultados na Catedral de Burgos. A imagem etnográfica que emerge desse manuscrito é a do personalismo de cavaleiro medieval idealizado: forte, valente, leal, justo e piedoso. Mas há outras fontes etnográficas que lhe pintam um quadro bem menos favorável. Esta mera suposição teórica, portanto, não explica como a palavra teria chegado ao italiano corriere e ao francês courrier, além do catalão correu e ao provençal corrieu, com a globalização em tempos difíceis e de viagens longas e quase intermináveis. A etimologia do adjetivo “postal” é mais clara, pois provém do latim positus, nome atribuído aos “postos de correio situados ao longo dos trajetos territoriais para dar descanso aos cavalos dos mensageiros”. Os diferentes sistemas postais de comunicação que ligavam as diversas regiões da Europa, no fim da Idade Média, tinham cada qual sua própria tarifa, o que resultava em um complexo e variado sistema de pesagens, medidas e verificações, ocasionando muita insatisfação. Segundo o relato etnográfico de Marco Polo (1254-1324) os chineses foram pioneiros no serviço postal.


Por conta disso, diversas organizações clandestinas hic et nunc passaram a oferecer o serviço competitivo economicamente mais barato e com menos formalidades. Esse movimento e o progresso do sistema concorrente levaram as autoridades inglesas a uma reforma radical no serviço de postagem do correio, projeto idealizado pelo funcionário, Rowland Hill, de unificação do sistema. Uma das propostas estabelecia que as tarifas pagas pelo usuário fossem confirmadas por meio de um comprovante afixado na correspondência, ocorrendo em 6 de maio de 1840, as vendas dos primeiros selos adesivos através das agências postais inglesas pioneiras nestes serviços. O bom resultado do novo sistema de emissão de cartas passou como um raio de 78 milhões, em 1839, para 170 milhões, em 1840, provocando uma rápida difusão da reforma. O primeiro selo emitido no mundo foi o Penny Black, pela Inglaterra. No Brasil, os Correios tiveram sua origem em 25 de janeiro de 1663, com a criação do Correio-Mor no Rio de Janeiro, então capital da Colônia. A emissão de selos ocorreu com a série “olho-de-boi”, ocorrida em 1843, constituindo-se o segundo país no plano mundial a emitir selos.
Em 1931 o decreto 20.859, de 26 de dezembro de 1931 funde a Diretoria Geral dos Correios com a Repartição Geral dos Telégrafos e cria o Departamento dos Correios e Telégrafos. A ECT foi criada a 20 de março de 1969, como empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações mediante a transformação da autarquia federal que era, então, Departamento de Correios e Telégrafos (DCT). A mudança não representou apenas uma troca de sigla, foi seguida por uma transformação profunda no modelo de gestão do setor postal brasileiro, tornando-o mais eficiente. Durante a década de 1990, discutiu-se a possibilidade de uma modernização da empresa. A proposta do novo sistema postal estava baseada no aumento da oferta de serviços, na modernização tecnológica e na consolidação e ampliação do papel social dos Correios como agente prestador de serviços públicos. O Ministério das Comunicações do governo  Fernando Henrique Cardoso desenvolveu um projeto para o setor postal que foi implantado a partir de 1997, denominado Reforma Estrutural do Setor Postal Brasileiro (RESP). As propostas foram apresentadas na Nova Lei Postal, que tramitou, sem ser aprovada, até o início de 2003, quando foi arquivada. Durante os anos 2000, novamente os Correios foram alvo de propostas de mudanças e modernização, retomando, em alguns aspectos, o que fora planejado na década de 1990. A empresa, no decorrer longo dos anos 2000, esteve no epicentro do aparente escândalo do Mensalão e apresentou problemas operacionais que foram divulgados como a “crise dos Correios”. A estatal foi objeto político de diversas inovações em seus processos gerenciais e de difusão comerciais.
Bibliografia geral consultada.
BOVO, Cassiano Ricardo Martines, Os Correios do Brasil e a Organização Racional do Trabalho. São Paulo: Editora Annablume, 1997; SOUZA, Helder Cyrelli, Os Cartões de Visita do Estado: A Emissão de Selos Postais e a Ditadura Militar Brasileira. Programa de Pós-Graduação em História. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006; CRUZ, Daniella Cipolla, Estratégia de Produção no Setor de Serviços: Um Estudo de Caso nas Empresas Brasileiras de Correios e Telégrafos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2007; LORENZO, Mauricio Fortes Garcia, O Modelo Regulatório e seus Limites para a Universalização dos Serviços Públicos: O Caso do Setor Postal Brasileiro. Escola de Administração. Núcleo de Pós-Graduação em Administração. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2013; FERNANDES, Tatiana Falcão de Souza, Fluxo Informacional em Canais de Atendimento ao Cliente: Estudo de Caso nos Correios de Paraíba. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2013; SALCEDO, Diego Andres, A Ciência nos Selos Postais Comemorativos Brasileiros: 1900-2000. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2010; Idem, Espelhos de Papel: Pelo Estatuto do Selo Postal. Tese de Doutorado em Comunicação Social. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2013; FIEGENBAUM, Maicon, Os ´Pequenos Notáveis`: A Utilização do Selo Postal no Processo Ensino-Aprendizagem da Geografia. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017; VENCESLAU, Igor, Correios, logística e uso do território: os serviços de encomenda expressa no Brasil. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; FONSECA E SILVA, Gustavo, Monopólio Postal: Sua Relevância e as Transformações do Sistema Postal. Monografia de Especialização em Gestão Pública. São João Del-Rei: Universidade de São João Del-Rei, 2018;  entre outros.

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