domingo, 29 de novembro de 2015

Vida da Gueixa – Escolha da Arte, Memória & Trabalho Social.

                                                                                                Ubiracy de Souza Braga*
 
Não tornamos gueixas para termos vida satisfatória, porque não tivemos escolha”. Mineko Iwasaki
                        
        

Em primeiro lugar, a palavra gueixa significa literalmente artista (trabalho) e desde o final do século XVIII, etnograficamente pode descrever uma série de artistas  japonesas: “Shiro”, puramente uma apresentadora; “kerobi”, uma gueixa acrobata; “kido”, uma gueixa que estava na entrada de carnavais, ou “joro”, uma prostituta, sendo esta a profissão que gueixas têm sido erroneamente mal interpretadas por muitos anos em que não detém o conhecimento etnológico de interpretação da cultura. A dança das gueixas evoluiu a partir da executada no palco do kabuki. As danças “selvagens e ultrajantes” transformaram-se em uma forma mais sutil, estilizada, passando a uma forma controlada. São disciplinadas, semelhante ao Tai Chi, vale lembrar, uma arte marcial chinesa interna, parcialmente baseada no bagua. Este estilo de arte marcial é reconhecido também como uma forma de meditação em movimento. Os princípios do taiji Quan remetem ao taoismo e à alquimia chinesa relacionada ao taoísmo. Seus praticantes utilizam os Cinco Elementos; o Tao, a relação entre Yin e Yang; o Ki; o I-Ching; a astrologia chinesa; os princípios do feng shui, e da medicina tradicional chinesa. Cada dança usa gestos para narrar uma história. Um conhecedor pode entender seu simbolismo. Um gesto de mão, representa ler uma carta de amor. O canto de um lenço na boca falta de modos. As mangas longas do quimono para simbolizar situações de fortes emoções em lágrimas. A utilização dos quimonos iguala a estampa para a estação. Há estampas multicoloridas para cada estação do ano. Algumas mulheres vão além. Subdividem as estampas e cores por mês. Assim, cada mês representativo do ano é representado por uma estampa e gama de cores específica. A utilidade de uso dos quimonos iguala a estampa para a estação. Há estampas multicoloridas para cada estação do ano. Algumas mulheres vão além. Subdividem as estampas e cores mês. Assim, cada mês representativo do ano é representado por uma estampa e gama de cores específica.

Em segundo lugar, as precursoras da gueixa do sexo feminino foram as adolescentes odoriko (dançarinas). Na década de 1680, elas eram populares artistas pagas nas casas particulares da alta classe samurai, apesar de muitas se transformarem em prostitutas no início do século XVIII. Aquelas que não eram mais adolescentes e não poderiam mais praticar o estilo odoriko, adotaram outros nomes, sendo um deles gueixa, se assemelhando aos artistas masculinos. A primeira mulher reconhecida por ter chamado a si mesma de gueixa era uma prostituta de Fukagawa, em cerca de 1750, uma cidade japonesa localizada no distrito de Sorachi, na província de Hokkaido. Em 2003 a cidade tinha uma população estimada em 26 645 habitantes e uma densidade populacional de 50,36 h/km². Tem uma área total de 529,12 km². Recebeu o estatuto de cidade a 1 de maio de 1963. Ela era uma cantora qualificada e tocadora de shamisen chamada Kikuya, e que foi um sucesso, tornando as gueixas mulheres extremamente populares na década de 1750 em Fukagawa. Como se tornou mais difundido ao longo dos anos de 1760 e 1770, muitas começaram a trabalhar apenas como artistas, em vez de prostitutas, muitas vezes nos mesmos estabelecimentos que “gueixas do sexo masculino”. As gueixas que trabalharam dentro dos bairros de prazer eram essencialmente presas e proibidas de “vender sexo”, a fim de proteger o negócio das Oiran - para isso, existiam cortesãs licenciadas “para atender as necessidades sexuais dos homens”. Por volta de 1800, ser uma gueixa foi considerada uma ocupação feminina. A evolução histórica e social do estilo de vida das gueixas era imitada por mulheres elegantes por grande parte da sociedade japonesa.

                 

 A maquiagem da gueixa é sua grande característica marcante. Mas esta é usada de acordo com seu grau de experiência. É um processo demorado, e é aplicada antes de se vestir para evitar sujar o quimono. Quando aprendiz, a gueixa usa a maquiagem de forma regular e mantém todo o rosto branco. Ela realmente só usa a maquiagem quando precisa dançar ou para demonstrar seu desempenho a algum cliente. Quem aplica essa maquiagem na gueixa podem ser a sua “onee-san” (ou irmã mais velha) ou pela “okaa-san” (ou gueixa-mãe), de sua casa de gueixas. Sua aplicação é feita com muito cuidado, pois, ao cometer um erro, o aprendiz que está a maquiar seria obrigado a limpar tudo e começar novamente. O tempo de duração dessa maquiagem pode ser de até duas horas. É impossível ver uma maquiagem assim e instantaneamente não associar a imagem à elas. As mulheres daquela deste tempo e até nos dias atuais usavam pó de farinha de arroz ou um pó à base de chumbo misturado com água. Vira uma pasta fina e com ela, aplicavam na pele como se fosse uma base, aplicando pelo rosto todo, pescoço e colo. Têm o hábito também de arrancar todos os pêlos das sobrancelhas e depois de aplicarem a pasta branca no rosto, faziam sobrancelhas falsas no alto da testa. É hábito higiênico  chamado Ohaguro que consiste em escurecer os dentes com uma mistura de limalha de ferro oxidado mergulhada em uma solução ácida.
         A aplicação desta mistura deve ser  repetida a cada dois dias, porque em caso contrário os dentes voltam a ser branco.Nos estágios iniciais da história japonesa, existiam artistas do sexo feminino chamado “saburuko” (“meninas que servem”), que eram em sua maioria meninas vagando cujas famílias haviam sido deslocadas nas lutas no fim do século VII. Algumas  “dessassaburukos” vendiam serviços sexuais, enquanto outras com uma melhor educação ganhavam a vida entretendo uma alta classe da sociedade em encontros sociais. Após a corte imperial mudar a capital para Heian-kyō (Kyoto) em 794, no início do período Heian, as condições que formam a cultura japonesa da gueixa começaram a surgir, e depois se tornaram o lar uma elite política obcecada pela beleza e mistério dessa cultura. Na cultura japonesa, a mulher ideal era uma mãe modesta e gerente da casa. Para o prazer sexual e apego romântico, os homens procuravam por cortesãs. No Japão, a condição comportamental de gueixa é simultaneamente cultural, simbólica e repleta de status, delicadeza e tradição. Ao longo dos séculos, esse contexto social foi desenvolvido pelo aperfeiçoamento da técnica dessas artes e pela estrutura rígida e polida necessária para se tornar uma gueixa e permanecer como tal.
Neste sentido criaram-se os chamados “quarteirões do prazer” conhecidos como “yūkaku” construídos no século XVI, que depois se tornaram bairros fora dos quais a prostituição seria admitida como ilegal. Neles as “yujo” que significam “mulheres para brincar” seriam classificadas e licenciadas. As “yujo” como as categorias mais elevadas foram antecessoras da cultura das gueixas, chamadas “Oiran”, uma combinação de atriz e prostituta, originalmente se apresentando em etapas definidas. Elas realizavam danças eróticas, entre outros aspectos artísticos, e esta nova arte foi apelidada “kabuku”, que tem como representação “ser selvagem e ultrajante”. As danças eram chamadas de “Kabuki,” e esta arte deu início ao maravilhoso teatro kabuki. Daí estes quartos de prazer rapidamente tornaram-se centros de entretenimento glamorosos, oferecendo muito mais do que sexo. As cortesãs talentosas destes distritos entretinham seus clientes, dançando, cantando e tocando música. 
Gradualmente, elas tornaram-se especializadas na nova profissão. Na virada do século XVIII as primeiras artistas encontradas nos “quartos de prazer”, chamadas de gueixa, eram homens, entretendo seus afetivos clientes que esperavam para ver as cortesãs mais populares e talentosas (“oiran”). O filme: “Memórias de uma gueixa” é baseado no romance homônimo escrito por Arthur Golden, best-seller nos anos 2000. O livro narra a história de Niita Sayuri, uma das mais populares gueixas do Japão nas décadas de 1930 e 1940. Trata-se da história de uma menina de 9 anos, Chiyo, filha de pescadores vendida pelos próprios pais à “Niita okiya” (casa de gueixas), tradicional em Tóquio em 1929. A princípio Chiyo é educada em igual com outra menina, “Kabocha” (“abóbora”), no filme chamado de “Pumpkin”, para ambas tornarem-se gueixas. Mas após uma tentativa frustrada de fuga da casa de gueixas, Chiyo é retirada da escola de gueixas e passa a trabalhar como empregada doméstica da okiya em troca de abrigo e comida. Além de ser tratado de forma severa pela “okaasan” (mãe), modo pelo qual a gueixa mais velha administra a okiya, a menina Chiyo fica à mercê das intrigas de Hatsumomo, a gueixa mais experiente e popular da okiya. Bela, mas orgulhosa e amarga, Hatsumomo têm como rival sua antiga “oneesan” (irmã mais velha), Mameha.
       Considerada a mais refinada das gueixas do “hanamachi” (cidade de flores), comunidade das gueixas que possuem registro oficial para trabalhar, Mameha é uma “geiko” (mulher das artes) respeitada e independente por ter conseguido um danna (patrono), que lhe deu vida luxuosa e livre das dívidas e obrigações que possuem e que constitui motivo pelo qual Hatsumomo nutre enorme inveja do gozo de Mameha.  Na literatura de Arthur Golden tudo começa quando Sayuri ainda era uma criança e se chamava Chiyo Sakamoto. Vivendo com os pais e a irmã Satsu, a menina vê sua mãe a beira da morte quando seu pai começa a vender as filhas. Enquanto Satsu é entregue para ser prostituta em Gion, a pequena Chiyo é levada para um okiya. É a partir de então que a narrativa se torna encantadora, pela riqueza de detalhes no cotidiano da existência e do processo de formação artística nesta particular sociedade. A história social da pequena Chiyo para se tornar uma gueixa é contada/narrada de uma maneira simples, repleta de beleza, mas demonstrando as contradições sociais em torno de um sistema de hierarquia e poder, secularizado, articulado em torno dos problemas enfrentados no começo dos treinamentos, nas primeiras festas e ambientado com os primeiros suspiros masculinos.
O livro Memórias de Uma Gueixa atraiu a atenção do genial Steven Spielberg, que comprou os direitos autorais para a adaptação no cinema. O que a princípio foi considerado “filme de arte” pelos distribuidores, tornou-se um sucesso comercial sendo o quinto filme mais visto nos Estados Unidos em dezembro de 2005, um feito relevante, considerando que “As Crônicas de Nárnia” e “Harry Potter e o Cálice de Fogo” estavam em cartaz na mesma época, sendo indicado em várias categorias para o Globo de Ouro. Lançado no Japão, onde o título foi trocado para “Sayuri”, o filme naturalmente não causou o mesmo impacto social que obteve comercialmente em geral no ocidente. Foi objeto de inúmeras críticas vulgares, que concluíam que “Memórias de uma gueixa” era um filme antropologicamente considerado “para inglês ver” (cf. Fry, 1982). Ou seja, um filme caricatural que mais reflete uma imagem ocidentalizada e distorcida do Japão e das gueixas, do que um período da história recente do país. É a velha querela da transfiguração que não exclusiva deste caso.    
   A adaptação do best-seller de Arthur Golden, dirigida pelo norte-americano Rob Marshall, com as chinesas Ziyi Zhang e Gong Li e a malasiana Michelle Yeoh nos papéis principais, conta a vida da jovem Sayuri (Ziyi Zhang), menina de olhos azuis tirada do convívio dos pais na vila de pescadores em que morava e levada para uma cidade grande, onde será treinada para ser gueixa com a experiente Mameha (Michelle Yeoh) e terá de enfrentar a rivalidade de Hatsumomo (Gong Li), ainda a profissional mais importante, claramente demonstrando disciplina e sabedoria em função de sua longa carreira. Ambas disputarão as condições e possiblidades de envolvimento amoroso com o Executivo (Ken Watanabe), e Saiyuri se apaixonará por ele, contrariando as regras únicas de formação das gueixas em diferentes artes. Pois são vocacionadas para o entretenimento de clientes geralmente notáveis ou poderosos, dentre aqueles convidados em banquetes, casas de chá ou outros locais que podem ser públicos ou privados, onde sejam requisitadas e que devem servir ao homem.
            Do ponto de vista da análise comparada, no caso da produção fílmica de Isabel Allende: Casa dos Espíritos trata-se de produção híbrida na qual “a latinidade se acha quase ausente”. Indagado por um repórter sobre o porquê de um diretor dinamarquês filmando um livro sul-americano numa produção alemã, usar a língua inglesa, Bille August justifica: - o filme está orçado em 25 milhões de dólares e ninguém no mundo financiaria esta cifra para um filme espanhol. Acrescenta que Hamlet é uma história dinamarquesa e foi filmado em inglês. Pondera ainda o premiado diretor: - Quem assistiria a “O Último Imperador” se fosse rodado em chinês? O diretor bem que se interessou por penetrar num universo sulamericano de amores proibidos, vingança, misticismo, opressores e oprimidos e de golpes militares, entretanto, o filme ao que parece, não contém o “sabor latino” do livro. Esta circunstância levou alguns integrantes de origem hispânica, residentes nos Estados Unidos, a organizarem um protesto contra a ausência de profissionais étnicos no elenco técnico e artístico de La Casa de los Espíritus (cf. Allende, 2017). Eles pediram à considerável parcela latina de 39 milhões de pessoas do público norte-americano que não assistissem ao filme. De acordo dados do Census Bureau (2005), os latino-americanos residentes representavam em torno 13,4% da população do país, constituindo o segundo grupo étnico.
           Quando o filme foi divulgado simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos da América, a crítica especializada considerou a parte técnica de primeira qualidade: o desenho de produção, o guarda-roupa, a fotografia e a música. Igualmente, sem a família, base de tudo na vida, e sem ter a quem recorrer ou aonde ir, a pequena Chiyo mal sentia qualquer motivação em continuar viva. Para passar o resto de seus dias como escrava doméstica de pessoas que procuravam ignorar sua existência. Um dia, ao parar numa das pontes sobre o rio na cidade, um senhor acompanhado por duas outras gueixas interrompeu seu caminho para conversar um pouco com a desalentada Chiyo, que o deixou impressionado por seus incomuns olhos azul. Após comprar um cartão de sorteio para a menina, o homem simpático chamado de Shachō, representando um presidente de empresa, chamado no filme de “Chairman” pelas gueixas se vai. Nas fantasias de uma criança, Chiyo apaixona-se pelo Presidente (“Chairman”) com aquele simples encontro casual, ou o amor da sua vida, você pode achá-lo num lugar que faz desse amor platônico sua razão de viver. Decidida a reencontrá-lo, ela decide fazer o que pudesse ser possível para tornar-se uma gueixa como as belas moças que o acompanhavam.        
   Para os chineses, culturalmente com razão, foi absurdo ver “filhas da terra” interpretando “prostitutas japonesas”, incidente diplomático que reavivou memórias desagradáveis da relação entre os dois países durante a 2ª guerra sino-japonesa (1937-1945), quando milhares de chinesas teriam sido estupradas por soldados japoneses (cf. Vigarello, 1998). A ultraconservadora Pequim ameaçou proibir a exibição do filme em território nacional. Para Iwasaki (2002), ex-gueixa que foi a principal inspiração para o livro de Arthur Golden, a revolta se deu em forma de um processo que ela move contra o autor e o diretor, por ter sua “privacidade desrespeitada”. Ela não gostou de ver divulgada a prática da “mizuage”, referida à venda da virgindade da jovem gueixa no mercado a quem der o lance econômico mais alto, fato que teria contado “off the records”. Arthur Golden retrata em sua concepção o “mizuage” como um acordo financeiro em que a virgindade de uma menina é vendida a um patrono do “mizuage” que Desde 1959, tornou-se o equivalente a comemoração de debutante . Mineko Iwasaki, uma das gueixas que Golden reconheceu durante as tomadas de gravação do filme Memórias de uma Gueixa, o mizuage é descrito em sua autobiografia como sendo rito de passagem ou uma festa de iniciação.    
A verdadeira história, diz ela, está representada na sua biografia Geisha of Gion - The Memoir of Mineko Iwasaki. – “Fui fiel ao que ela me disse”, afirmou o escritor Golden, cujo livro vendeu 4 milhões de exemplares. – “O fato é que agora todos querem ganhar um pouco de dinheiro com a publicidade em torno do filme”. Outros japoneses reclamaram da falta de compreensão dos ocidentais sobre a profissão. Gueixas, disseram críticos cinematográficos japoneses, não se vestiam da maneira demonstrada no filme nem dançavam assim. Além disso, usavam uma camada espessa de pó branco no rosto, que foi abrandada por motivos comerciais por Marshall. – “Seria um absurdo esconder da plateia os belos rostos das atrizes e suas inflexões”, retrucou o norte-americano que infelizmente não compreendeu o sentido histórico da beleza contida no termo estético, sobretudo cultural personificado na expressão “Kabuki, máscara”!   em busca dos repertórios que representem o significado presente da consciência, da memória e da cultura na prática, onde performances do kabuki mais bem sucedidas foram e são plenamente realizadas.  
        A história do personagem kabuki começou em 1603, quando Okuni, uma miko do santuário Izumo Taisha, passou a executar um novo estilo de dança dramática em Kyoto. Atrizes representavam papéis tanto masculinos quanto femininos em encenações cómicas sobre a vida cotidiana. O estilo conquistou popularidade instantânea; Okuni foi inclusive convidada para se apresentar na Corte Imperial. O Japão estava sob o controlo do Shogunato Tokugawa, liderado por Tokugawa Ieyasu. No despertar de tal sucesso, trupes rivais formaram-se rapidamente e o kabuki nasceu como uma dança dramática de conjunto executada por mulheres, numa composição muito diferente da sua representação moderna. Muito do seu apelo advinha das sensuais e sugestivas performances realizadas; um grande número de atrizes estavam comummente dispostas à prostituição; e os membros masculinos da audiência podiam requerer livremente os serviços destas mulheres.  O kabuki tornou-se uma forma comum de entretenimento no estilo de vida Ukiyo, em distritos como Yoshiwara - uma zona de meretrício em Edo. Estas práticas urbanas e todo o mal que dele advinha, especialmente pela variedade de classes sociais que se misturavam em performances de kabuki, não passou despercebido ao shogunato.   
A “maiko” usa um pó branco que cobre o rosto, pescoço e peito, com duas ou três áreas sem estar brancas, caricaturando uma forma de W ou V, deixados na nuca, para acentuar uma área tradicionalmente erótica (cf. Bataille, 1957), e uma linha de pele nua em todo o couro cabeludo, o que cria a ilusão de uma máscara (cf. Leloup, 1998). Suas bochechas são acentuadas de pó rosa escuro, e os olhos são pintados de acordo com a idade: vermelho para as mais jovens e vai mudando de preto com a mistura de cores. Como descrição deste processo, começa-se com a aplicação bintsuke-abura para o rosto e a região superior do peito, aplicando a maquiagem em toda esta área (cf. Masuda, 2003). Esta cera não só ajudará a aderir à pele, mas também irá impedir que a maquiagem caísse em seu quimono, o que seria um erro muito ruim. Logo, irá misturar o pó branco com água para fazer a massa, que é o que dá o aspecto mais visual da sua maquiagem. Este pó foi feito originalmente com chumbo, mas hoje é feito a partir de cosmético moderno, livre de chumbo e muito mais seguro. Enfim, durante a divulgação do filme: Memórias de uma gueixa, a imprensa ocidental deu ênfase às atrizes Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh, mas pouco se falou de Ken Watanabe (o Presidente), Kōji Yakusho (Nobu), Youki Kudoh (Abóbora), Kaori Momoi (Gueixa-mãe), e de Suzuka Ohgo (Chiyo, Sayuri criança).  Em geral as análises e reportagens são eivadas de um fatalismo comercial pessimista desconcertante. Manchetes e expressões tais como fracasso pessoal ou da democracia, representam uma lacuna que o site Cultura Japonesa preencheu em tempo e espaço com uma análise crítica e de riqueza discritiva.
Bibliografia geral consultada.

FRY, Peter, Para Inglês Ver: Identidade e Política na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1982; BATAILLE, Georges, L`Erotisme. Paris: Éditions Minuit, 1957; DALBY, Liza, Geisha. Londres: University of Califórnia Press, 1983; DARNTON, Robert, O Beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; KUNIYOSHI, Celina, Imagens do Japão: Uma Utopia de Viajantes. São Paulo: Editor Estação Liberdade, 1998; LELOUP, Jean-Yves, O Corpo e Seus Símbolos. Uma Antropologia Essencial. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1998; IWASAKI, Mineko, Geisha, a Life. New York: Washington Square Press, 2002; pp. 206-210; MASUDA, Sayo, Autobiography of a Geisha (translation Gayle Rowley). New York: Columbia University Press, 2003; GUIMARÃES, Nadya Araujo, “Trabalho em Transição: Uma Comparação entre São Paulo, Paris e Tóquio”. In: Novos estud. CEBRAP (76) • Nov. 2006; SAID, Edward, Orientalismo: O Oriente como Invenção do Ocidente. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2007; IRWIN, Robert, Pelo Amor ao Saber: Os Orientalistas e seus Inimigos. São Paulo: Editor Record, 2008; FRÉDÉRIC, Louis, O Japão: Dicionário e Civilização. São Paulo: Editora Globo, 2008; DUKE, Benjamin, The History of Modern Japanese Education: Constructing The National School System, 1872-1890. Nova Jersey: Rutgers University Press, 2009; NUNES, Benedito, O Dorso do Tigre. Rio de Janeiro: Editora 34, 2009; TAKEUCHI, Marcia Yumi, Entre Gueixas e Samurais. A Imigração Japonesa nas Revistas Ilustradas (1897-1945). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009; KAWAGUCHI, Yoko, Butterfly Sisters: The Geisha in Western Culture. Yale University Press, 2010; SILVA, Laureny Aparecida Lourenço da, O Grotesco Feminino em Griselda Gambaro: Três Atos com a Cega, a Gueixa e a Louca. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Faculdade de Letras. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2014; MAIA, Carla, Sob o Risco do Gênero: Clausura, Rasuras e Afetos de um Cinema com Mulheres. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

sábado, 28 de novembro de 2015

Giordano Bruno - Inquisição, Metafísica & Tribunal Eclesiástico.

                                   Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

                “Foi atado nu a um poste, desviou a vista do crucifixo que lhe apresentavam queimado vivo”. Luigi Firpo

                     
Giordano Bruno notável frade dominicano italiano nasceu em Nola, Reino de Nápoles em 1548 e foi queimado vivo em Roma, no Campo de Fiori, em 17 de fevereiro de 1600.  Foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana, reconhecida na história política da religião como “Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício”, sob a acusação errônea de heresia ao defender erros teológicos no âmbito da história social da filosofia e o conhecimento da Terra como centro do universo. Filho do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino, seu nome de batismo era Filippo Bruno. Adotou o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana, aos 15 anos de idade. No Seminário, estuda o expoente da filosofia escolástica, Santo Tomás de Aquino que foi fortemente influenciado por Aristóteles e Averróis. Giordano Bruno os interpreta analiticamente como arquétipos da doutrina Católica obtendo seu doutorado em Teologia.  Giordano Bruno foi um frade, filósofo e escritor dominicano. Viveu entre 1548 e 1600, quando foi condenado pela Santa Inquisição. 

Conheça alguns aspectos curiosos sobre sua vida, obra e ideias. Giordano Bruno foi um monge italiano da Ordem Dominicana, na qual ingressou aos 15 anos de idade. Também conhecida como Ordem dos Pregadores, a Ordem dos Dominicanos foi fundada na França por São Domingos de Gusmão. Chamava-se Felippo Bruno, mas mudou o nome para Giordano na ocasião em que recebeu o hábito de frei dominicano. Giordano foi um grande estudioso da filosofia aristotélica, criada pelo filósofo grego Aristóteles, e escolástica, fundada por Tomás de Aquino (por sinal, estudou no mesmo convento em que Aquino viveu). Formou-se em teologia, mas abandonou o hábito pouco tempo depois. Chegou a adotar o Calvinismo, no qual permaneceu durante pouco tempo. Costumava negar qualquer tipo de imagem religiosa que não fosse o crucifixo. Adotou ideias consideradas excêntricas pela Igreja Católica, entre elas a de que os homens não possuíam capacidade para entender o conceito de Deus, que a tudo abrangia e estava em todo lugar. Deus seria uma espécie de inteligência cósmica que sustentava a vida, não um velho barbudo centrado num trono celestial e preocupado com picuinhas da vida humana.

Acreditava que todos os seres possuíam uma alma que não se perde após a morte, mas transforma-se. Defendeu com convicção a ideia de que a verdade deve prevalecer sobre as crenças. Dizia também que “a verdade não é modificada pelas opiniões do vulgo, nem pela confirmação da maioria”. Ao contrário de outros estudiosos da época, Bruno abraçou o heliocentrismo defendido pelo astrônomo Nicolau Copérnico. Mais do que isso, ele acreditava ser o universo infinito e salpicado de estrelas com sistemas solares próprios. Giordano Bruno percorreu quase toda a Europa dando aulas e divulgando suas teorias. Passou por cidades como Praga, Frankfurt, Toulouse, Paris, Gênova e Londres, onde viveu sob proteção do embaixador francês. Foi durante a passagem pela Alemanha, onde lecionou em diversas cidades, que escreveu sua principal obra: Sobre a Associação de Imagens, os Signos e as Ideias. O julgamento de Bruno durou sete anos, durante os quais ele permaneceu no cárcere do Santo Ofício. Negou qualquer interesse particular em questões teológicas, mas em momento algum abandonou sua filosofia. Esse foi o maior obstáculo para Bruno: a Inquisição queria que ele abdicasse completamente de todas as suas ideias. Ao ouvir a sentença, Bruno teria dito aos juízes: - “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la”. Na morte pela Inquisição a vítima não morre queimada. Mas pela falta de oxigênio em que as chamas consomem.

                            

        Morre por queimar os pulmões pelo pouco ar, incandescente, à sua volta. Morre, sobretudo por asfixia, antes mesmo de ter seu corpo cremado. Giordano foi morto com um pedaço de pau amarrado na sua boa para evitar que falasse, para evitar que os insultasse antes de morrer. Morreu calado, mas suas idéias sobre o Universo Infinito, sobre os sistemas solares mais do que nunca vem sendo provadas, admitidas e comprovadas, pois a verdade é filha do tempo e não da autoridade. Talvez ele recordasse naquele instante derradeiro às palavras que certa vez escrevera num momento de profunda melancolia: “Vejam”, prognosticou ele, “o que acontece a este cidadão servidor do mundo que tem como o seu pai o Sol e a sua mãe a Terra, vejam como o mundo que ele ama acima de tudo o condena, o persegue e o fará desaparecer”. Assassinado aos 52 anos tornou-se mártir mas não apenas do livre-pensamento pós-renascentista. Ele enfrentou como homme de lettres a radicalização propugnada pela contrarreforma da Igreja Católica. São muitas as influências apontadas que Giordano Bruno teria sofrido durante o período de sua formação. É especialmente atraído pelas novas correntes de pensamento, entre as quais as obras de Platão e Hermes Trismegistus, ambos muito difundidos na Itália ao início do Renascimento. 
Quanto aos métodos de memorização, foi muito influenciado pelo pensamento de Raimundo Lúlio, de Maiorca, místico catalão e poeta autor de um manual da cavalaria, “Ars Magna” e “Liber de Ascensu et Descensu Intellectus” descrevendo estágios do desenvolvimento intelectual no entendimento na compreensão de todos os seres através do método da sua arte. Outra influência sobre Bruno, versando o mesmo campo, supõe-se que foi a de Giovanni Battista Della Porta, um erudito napolitano que publicou um livro importante sobre mágica natural. Nessa área, porém, talvez a influência predominante sobre Giordano Bruno tenha sido a da antiga religião egípcia do culto ao deus Toth, escriba dos deuses, inventor da escrita e patrono de todas as artes e ciências, e identificado com o deus grego Hermes Trismegisto pelos neoplatônicos. Além das obras de Platão e também a Hermética, que representa o conjunto dos segredos revelados por Hermes-Toth que constituem as ciências ocultas e astrologia a nível popular, e certos postulados de filosofia e teologia a nível erudito, - introduzidos em Florença por Marsilio Ficino ao final do século anterior. Suas ideias avançadas para seu tempo em que compreernde o Universo como um sistema em permanente transformação, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia autoritária da Igreja católica. Em 1576 foi acusado de heresia e levado a Roma para ser julgado. Poucos meses depois, abandonou o hábito e em 1579 deixou a Itália. Iniciou-se, então, o período de peregrinação e solidão de sua vida fantástica como um ilustre pensador. 
Em Gênova ainda em 1579, aparentemente, adotou o sistema Calvinista – a fé em torno da qual giraram as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII dos países capitalistas altamente desenvolvidos – Países Baixos, Inglaterra e França. Os julgamentos sobre a importância de um fenômeno histórico podem ser, por um lado, de valor ou fé, isto é, quando elas se referem ao que, por si só, é interessante ou ao que, por si só, é duradouramente “valido em si”. Por outro lado, podem referir-se à sua influência como o fator causal sobre o processo histórico. Bruno já sabia de seu destino. Nos proêmios do “Despacho da Besta Triunfante” e “Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos”, declarara-se consciente ser “odiado e censurado, perseguido e assassinado”. Amava a sabedoria e acreditava que ela libertaria o homem dos dogmas, das crendices e das superstições eclesiásticas. Tornou-se um estudioso da Filosofia Grega, da Cabala Judaica, do Hermetismo Religioso, além da influência de Raimundo Lúlio (1473-1543) e Nicolau de Cusa (1401-1464). Passou a questionar a Filosofia Aristotélica e a defender a Teoria Heliocêntrica, de Nicolau Copérnico (1473-1543). Condenou as guerras de religião e questionou os dogmas da Igreja Católica. Defendia também a inumerabilidade dos mundos, os quais, também deveriam ser habitados. Considerava que o Criador se manifestava ao mundo através da natureza, mas não se confundia com ela. 
Criticava as religiões institucionalizadas e negava a necessidade de uma hierarquia, indicando o caminho para uma religião sem nome, sem hierarquia e ligada à natureza. Defendeu ainda a liberdade de pensamento e de expressão. Por causa de suas idéias, viveu como um fugitivo por toda a Europa. Foi perseguido pela Igreja Católica, pelos calvinistas e combatido pelos filósofos de seu tempo. Das obras que se conservaram temos em 1582: De umbris idearum (As sombras das Idéias); Cantus Circaeus (O canto da feiticeira Circe); De architecthura et commento artis Lulli (Arquitetura e Comentário da Arte Combinatória de Raimundo Lúlio); em 1583 publica: Ars reminiscendi (A Arte de Recordar); Triginti sigillorum explicatio (A explicação dos Trinta Selos); Sigillus sigillorum (Selo dos Selos); em 1584 publica os seguintes diálogos: Cena de la ceneri (Ceia das Cinzas); De la causa principio e uno (Da Causa, Princípio e Um); De l’ Infinito, Universo e Mondi (Do Infinito, do Universo e dos Mundos); Spaccio della bestia trionfante (O Despacho da besta triunfante); em 1585: Cabala do cavalo Pégaso; O asno cilênico e Degli eroici furori (Dos heróicos furores); em 1586: Dialogi duo de Mordentis propre divina adinventione (exaltação da obra de seu compatriotra Fabrício Mordente sobre algumas descobertas matemáticas). Em junho de 1586, seu discípulo João Henequin apresenta algumas de suas teorias sobre os peripatéticos, como uma forma de desafiar os doutores da Universidade de Paris, intituladas Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos (Cento e vinte teses sobre a natureza e o mundo, contra os peripatéticos). A partir desses desafios, Bruno é alvo de muitas ameaças enquanto estratégias políticas e religiosas que o compelem a sair da França e peregrinar pela Alemanha. Em agosto de 1586, consegue uma cátedra na Universidade de Wittenberg, podendo, em 1588, reeditar os mesmos diálogos contra os peripatéticos, sob o título de Acrostimus camoeracensis.

       No outono de 1585 encontra-se novamente na França e publica Árvore dos Filósofos, perdida, dois diálogos exaltando pretensas descobertas de seu compatriota Fabrício Mordente e dois livros sobre Aristóteles. Um deles expõe e comenta a Física aristotélica, opondo-se conceitualmente a ela. Sua oposição às doutrinas do filósofo grego é reafirmada, ainda com mais vigor, nas Cento e Vinte Teses Antiperipatéticas sobre a Natureza e o Mundo. Com isso irrita novamente os doutores da Sorbonne e é obrigado a deixar outra vez a França, procurando refúgio na Alemanha. A Universidade de Wittenberg o acolhe em nome da liberdade de pensamento e Bruno ganha condições para publicar outros escritos sobre Lúlio e contra os aristotélicos. Agora favorável, contudo, começa a mudar com a preponderância progressiva dos calvinistas, que já tinham criado problemas para ele em Genebra. Dirige-se então a Praga, onde permanece por pouco tempo e, em 1588, muda-se para Helmstadt, onde fica durante um ano e meio, produzindo fecundamente. Ao contrário das obras redigidas na Inglaterra, em italiano, em Helmstadt escreve em latim sobre uma grande diversidade de assuntos em torno de imagens, signos e idéias, além de mnemotécnica, magia e metafísica.
     O mais importante, contudo, são três grandes poemas latinos: Sobre o Tríplice Mínimo e a Tríplice Medida, A Mônada, o Número e a Figura e Sobre o Imenso e Inumerável ou Sobre o Universo e os Mundos. Em junho de 1590, Giordano Bruno deixa Helmstadt e dirige-se para Frankfurt-am-Main, onde permanece até a primavera do ano seguinte. Nessa cidade recebe insistentes convites para retornar à Itália, por parte de um veneziano, chamado João Mocenigo, que deseja conhecer os segredos da mnemotécnica. Pelo desejo de rever a terra natal e de reintegrar-se no seio da Igreja, Bruno acaba por atender à solicitação. Em agosto de 1591, em Pádua, onde reencontra um fiel discípulo, Bessler, a quem dita duas obras: Sobre as Forças Atrativas em Geral e Sobre os Selos de Hermes e de Ptolomeu. Em seguida, muda-se para Veneza, hospeda-se na casa de Mocenigo e começa a ensinar-lhe um tema auspicioso para seu tempo: a arte de memorizar. O aluno, contudo, decepciona-se, limitado, esperava conseguir do mestre algum conhecimento secreto que lhe permitisse alcançar a sabedoria definitiva.
      Giordano Bruno não percebeu o estado de espírito conspiratório do aluno. E neste caso, iria pagar muito caro pela desatenção. Em maio de 1592, quando faz preparativos de viagem para Frankfurt, a fim de publicar As Sete Artes Liberais e Inventivas, é preso por Mocenigo na água-furtada de sua própria casa. O aluno exige uma declaração em que  afirmasse ter-lhe transmitido “apenas os segredos da mnemotécnica”. Não conseguindo seu intento, Mocenigo, covarde, como todo delator, entrega Bruno ao tribunal do Santo Ofício, juntamente com manuscritos não publicados. Entre estes, encontravam-se duas obras, hoje perdidas: Sobre os Atributos de Deus e Pequeno Livro de Conjurações. Iniciado o processo inquisitório, em 3 de julho de 1592, Bruno com sabedoria diante de um tribunal, que poderia leva-lo à morte. Amava a sabedoria e acreditava que ela libertaria o homem dos dogmas, das crendices e das superstições cujas mediações complexas habitavam as instituições. Tornou-se um estudioso da Filosofia Grega, da Cabala Judaica, do Hermetismo Religioso, além da influência de Raimundo Lúlio (1473-1543) e Nicolau de Cusa (1401-1464).

         Passou a questionar a Filosofia Aristotélica e a defender a Teoria Heliocêntrica, de Nicolau Copérnico (1473-1543). Condenou as guerras de religião e questionou os dogmas da Igreja Católica. Defendia também a inumerabilidade dos mundos, os quais, também deveriam ser habitados. Considerava que o Criador se manifestava ao mundo através da natureza, mas não se confundia com ela. Criticava as religiões institucionalizadas e negava a necessidade de uma hierarquia, indicando o caminho para uma religião sem nome, sem hierarquia e ligada à natureza. Defendeu ainda a liberdade de pensamento e de expressão. Por causa de suas idéias extraordinárias, viveu como um pensador assediado e fugitivo por toda a Europa. Foi perseguido perremptoriamente pela Igreja Católica, pelos calvinistas e combatido pelos filósofos de seu tempo.
       Das obras que se conservaram temos em 1582: De umbris idearum (As sombras das Idéias); Cantus Circaeus (O canto da feiticeira Circe); De architecthura et commento artis Lulli (Arquitetura e Comentário da Arte Combinatória de Raimundo Lúlio); em 1583 publica: Ars reminiscendi (A Arte de Recordar); Triginti sigillorum explicatio (A explicação dos Trinta Selos); Sigillus sigillorum (Selo dos Selos); em 1584 publica os seguintes diálogos: Cena de la ceneri (Ceia das Cinzas); De la causa principio e uno (Da Causa, Princípio e Um); De l’ Infinito, Universo e Mondi (Do Infinito, do Universo e dos Mundos); Spaccio della bestia trionfante (O Despacho da besta triunfante); em 1585: Cabala do cavalo Pégaso; O asno cilênico e Degli eroici furori (Dos heróicos furores); em 1586: Dialogi duo de Mordentis propre divina adinventione (exaltação da obra de seu compatriota Fabrício Mordente sobre algumas descobertas matemáticas). Em junho de 1586, seu discípulo João Henequin apresenta algumas de suas teorias sobre os peripatéticos, como uma forma de desafiar os doutores da Universidade de Paris, intituladas Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos (Cento e vinte teses sobre a natureza e o mundo, contra os peripatéticos). A partir desses desafios, Bruno é alvo de muitas ameaças que o compelem a sair da França e peregrinar pela Alemanha. Em agosto de 1586, consegue uma cátedra na Universidade de Wittenberg, podendo, em 1588, reeditar os mesmos diálogos contra os peripatéticos, sob o título de Acrostimus camoeracensis.
                No outono de 1585 encontra-se novamente na França e publica Árvore dos Filósofos, perdida, dois diálogos exaltando pretensas descobertas de seu compatriota Fabrício Mordente e dois livros sobre Aristóteles. Um deles expõe e comenta a Física aristotélica, opondo-se conceitualmente a ela. Sua oposição às doutrinas do filósofo grego é reafirmada, ainda com mais vigor, nas Cento e Vinte Teses Antiperipatéticas sobre a Natureza e o Mundo. Com isso irrita novamente os doutores da Sorbonne e é obrigado a deixar outra vez a França, procurando refúgio na Alemanha. A Universidade de Wittenberg o acolhe em nome da liberdade de pensamento e Bruno ganha condições para publicar outros escritos sobre Lúlio e contra os aristotélicos. Agora favorável, contudo, começa a mudar com a preponderância progressiva dos calvinistas, que já tinham criado problemas para ele em Genebra. Dirige-se então a Praga, onde permanece por pouco tempo e, em 1588, muda-se para Helmstadt, onde fica durante um ano e meio, produzindo fecundamente. Ao contrário das obras redigidas na Inglaterra, em italiano, em Helmstadt escreve em latim sobre uma grande diversidade de assuntos em torno de imagens, signos e ideias, além de mnemotécnica, magia e metafísica.
        O mais importante, contudo, são três grandes poemas latinos: Sobre o Tríplice Mínimo e a Tríplice Medida, A Mônada, o Número e a Figura e Sobre o Imenso e Inumerável ou Sobre o Universo e os Mundos. Em junho de 1590, Giordano Bruno deixa Helmstadt e dirige-se para Frankfurt-am-Main, onde permanece até a primavera do ano seguinte. Nessa cidade recebe insistentes convites para retornar à Itália, por parte de um veneziano, chamado João Mocenigo, que deseja conhecer os segredos da mnemotécnica. Pelo desejo de rever a terra natal e de reintegrar-se no seio da Igreja, Bruno acaba por atender à solicitação. Em agosto de 1591, em Pádua, onde reencontra um fiel discípulo, Bessler, a quem dita duas obras: Sobre as Forças Atrativas em Geral e Sobre os Selos de Hermes e de Ptolomeu. Em seguida, muda-se para Veneza, hospeda-se na casa de Mocenigo e começa a ensinar-lhe um tema auspicioso para seu tempo: a arte de memorizar. O aluno, contudo, decepciona-se, limitado, esperava conseguir do mestre algum conhecimento secreto que lhe permitisse alcançar a sabedoria definitiva.
       Giordano Bruno, porém, não percebeu o estado de espírito conspiratório do ex-aluno. E neste caso, iria pagar caro pela desatenção. Em maio de 1592, quando faz preparativos de viagem para Frankfurt, a fim de publicar As Sete Artes Liberais e Inventivas , é preso por Mocenigo na água-furtada de sua própria casa. O aluno exige uma declaração em que  afirmasse ter-lhe transmitido “apenas os segredos da mnemotécnica”. Não conseguindo seu intento, João Mocenigo, 
covarde, como todo delator, entrega Bruno ao tribunal do Santo Ofício, juntamente com manuscritos não publicados. Entre estes, encontravam-se duas obras, infelizmente posteriormente perdidas: Sobre os Atributos de Deus e Pequeno Livro de Conjurações. Iniciado o processo, em 3 de julho de 1592, Bruno com sabedoria diante de um tribunal, que poderia leva-lo à morte, abjura, “declarando estar arrependido de todos os erros que porventura tivesse cometido e pronto para reorientar toda sua vida”. Nesse ponto nevrálgico, o processo poderia ter-se encerrado com a absolvição, mas o papa não o permitiu e fez com que o processo passasse ao tribunal do Santo Ofício em Roma. Em janeiro de 1593, Bruno é entregue às autoridades romanas e encarcerado durante sete anos, ao fim dos quais é condenado à morte na fogueira, juntamente com suas obras consideradas heréticas. No dia 17 de fevereiro de 1600, Giordano Bruno é executado friamente no Campos das Flores. Giordano Bruno interpretado por Gian Maria Volonté, 1973.  O que negaria mais tarde, ao ser julgado mais uma vez sendo agora em Veneza.

Acabou sendo excomungado pelos calvinistas e também expulso de Gênova. Viajou sucessivamente para França (Toulouse, Paris), Suíça e Inglaterra. Em Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a proteção do embaixador francês, quando  frequentou o círculo de amigos do poeta inglês Sir Philip Sidney que ao regressar a Inglaterra em 1575, Sidney conheceu Penelope Devereaux, a futura Penelope Blount, que, apesar de ser muito jovem, inspirou o seu mais famoso soneto, Astrophel and Stella. No seu país, Sidney ocupou-se com a política e com as artes. Após uma discussão com Edward de Vere, Philip ausentou-se do mundo político. Durante essa ausência, escreveu Arcadia. Anteriormente, Sidney teria conhecido Edmund Spenser, a quem dedicou Shepheardes Calendar. Sidney regressou à política e aos tribunais em 1581 e foi ordenado cavaleiro em 1583. Nese mesmo ano, casou-se com Frances Walsingham. No ano seguinte, conheceu Giordano Bruno, que dedicou dois livros a Philip.
        Em 1585, Bruno retornou a Paris, seguindo para a rota de Marburgo, Wittenberg, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde publicou vários de seus manuscritos e aquela que é considerada sua principal obra: “Sobre a Associação de Imagens, os Signos e as Ideias”. Em Helmstedt, na Alemanha, Giordano sofre sua terceira excomunhão - agora da Igreja Luterana.  Aos cinquenta e dois anos - vestindo uma túnica de condenado, amarrado a uma estaca e com a língua atravessada por um prego e presa a uma estrutura de metal - Giordano Bruno, um dos maiores pensadores da história da Humanidade, agoniza sob as chamas de uma fogueira, na Praça das Flores, no centro de Roma, no dia 17 de fevereiro de 1600. Giordano Bruno é um símbolo vivo de liberdade e de autonomia de pensamento crítico.O filme Giordano Bruno (1973), de Giuliano Montaldo, se inicia justamente nesse de politização de sua imagem. Bruno já é reconhecido em grande parte da Europa e se hospeda na casa de Mocenigo, em Veneza. Os dois se desentendem e Bruno é denunciado aos inquisidores
    Nessa conjuntura é realizado ojulgamento, interrompido pela Santa Inquisição Romana, que exigia a extradição do prisioneiro a Roma. No filme, alguns traços históricos são relevantes e dentre eles, a análise comparativa destaca as diferenças entre a República de Veneza e Roma, centro do poder papal. A autoridade do papa era reconhecida por todos os reinos católicos, mas controlava administrativamente apenas o centro da península itálica como fazem os reitores de universidades contemporâneas. Quando o senado veneziano vota em favor da extradição de Giordano Bruno, fica evidenciada, esta questão da perda da autonomia de Veneza, que no século XVI, já em decadência, a denunciava a ponto de o senado decidir conforme fosse mais conveniente para suas relações políticas com uma clara formação de dependência com a Santa Sé. Nesse ponto, o filme como o calor do fogo, refaz bem o contexto histórico e político e demonstra que Bruno morreu não só por suas ideias reformistas, mas também como valor de troca pelo sacrifício burocrático de Veneza.   
       Vale lembrar que na Feira do Livro de Frankfurt de 1590, uma dupla de livreiros a serviço do nobre veneziano Giovanni Mocenigo o teria convidado a ir a Veneza ensinar Mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, na qual era um perito. Pouco depois de sua volta, desentendeu-se com Mocenigo, que o trancou num quarto e chamou os agentes da Inquisição. Encarcerado na prisão de San Castello no dia 26 de maio de 1592, seu julgamento começou em Veneza, foi transferido para Roma em 1593 e chegou à fase final na primavera europeia de 1599. Durante os sete anos do processo romano, Bruno negou qualquer interesse particular em questões teológicas e reafirmou o caráter filosófico de suas especulações como estratégia política. Essa defesa pública não satisfez aos inquisidores que exigiram uma retratação incondicional de suas teorias. Como se mantivesse irredutível foi condenado devido à sua doutrina teológica segundo a qual Jesus Cristo representava a figura de “um mágico de habilidade incomum, que o Espírito Santo era a alma do mundo e que o demônio seria salvo um dia”.
     Nove dias após a sentença, na madrugada do dia 17 de fevereiro de 1600, uma quinta-feira, Giordano Bruno seria impiedosamente levado à fogueira no Campo dei Fiori, animado tanto de dia pelo seu mercado, quanto à noite por seus restaurantes e terraços é uma das zonas mais autênticas de Roma. Acerca dos derradeiros momentos da vida do Nolano, o filme de Montaldo busca retratar um Bruno aparentemente delirante, que esbravejava palavras desconexas através do cansaço de seu corpo quase imóvel durante o processo de tortura sobre seu próprio fim. Essas palavras levaram seus algozes a providenciar uma espécie de mordaça que contava com um prego em sua extremidade, para que, com a língua furada, Bruno não proferisse heresias. Confirmando esse fato, uma testemunha ocular, o gramático e filólogo da época Gaspare Schopp, escreve uma carta ao jurista Corrado Ritterhausen, contando-lhe que, quando Bruno estava sendo levado para fogueira, “próximo à morte, foi-lhe mostrada uma imagem do Salvador crucificado, a qual foi rejeitada com vulto desdenhoso”.  
julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana. Relevo em bronze por Ettore Ferrari, Campo de´ Fiori, Roma. Em 21 de maio de 1592, a Igreja consegue aprisionar Giordano Bruno, a partir de uma denúncia de João Mocenigo e apodera-se também de suas últimas obras: De predicamenti di Dio (“Sobre os atributos de Deus”) e Libretto di congiurazioni (“Pequeno livro de conjurações”). Antes de ser denunciado ao Santo Ofício, pretendia entregar ao Papa a obra Le sette arti liberali e inventive (“As sete artes liberais e inventivas”). Luigi Firpo, afirmou sobre a morte do Nolano, que ao chegar à fatídica madrugada de 17 de fevereiro, Bruno, então conduzido ao Campo dei Fiori, “foi atado nu a um poste, desviou a vista do crucifixo que lhe apresentavam”, e acabou “queimado vivo”, consciente de seu fim como “mártir, e de boa mente, pois que sua alma subiria junto àquele fumo”, para ir conjugar-se com a alma do universo. Sabe-se que Bruno possuía uma visão bastante ampliada e não temerosa da morte. Sobre isso, afirmou certa vez que, “se analisarmos o ser com profundidade, na substância em que somos imutáveis, saberemos que a morte não existe, não só para nós, mas também para qualquer substância; no entanto, nada diminui substancialmente, mas tudo, no infinito espaço, altera sua aparência”. Ao ouvir sua sentença, a 8 de fevereiro de 1600, teria dito aos juízes: - “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la”. 
Contudo, a Congregação do Santo Ofício, presidida pelo papa Clemente 8 (1592–1605), ainda concedeu ao “herege impertinente e pertinaz” (“injuriosum retines haereticus et pertinax”) oito dias de clemência para um eventual arrependimento. A capitulação de Giordano Bruno teve um efeito propagandístico num ano da graça como o de 1600. Mas ele preferiu enfrentar a pena de morte a abjurar suas extraordinárias ideias. Seus trabalhos foram publicados no Índex em agosto de 1603 e só foram liberados pela censura do Vaticano em 1948. Giordano Bruno prestou uma contribuição intelectual decisiva para acabar de vez com a Idade Média. Morto aos 52 anos tornou-se um mártir do livre pensamento. Foi vítima da intolerância religiosa típica da chamada Contrarreforma, a batalha travada pela Igreja Católica contra a Igreja Reformada. O martírio de Bruno (1600), seguido de Galileu Galilei (1616), abriu um fosso profundo entre a ciência como modernidade e a religião como verdade.
Bibliografia geral consultada.

FIRPO, Luigi, “Il Processo di Giordano Bruno”. In: Rivista Storica Italiana. Napoli, Vol. LX, 1948, pp. 542-597; Idem, “Il Processo di Giordano Bruno”. In: Rivista Storica Italiana. Napoli, Vol. LXI, 1949, pp. 5-59; SALVESTRINI, Virgilio, Bibliografia di Giordano Bruno. Firenze: Editor Sansoni, 1959; MICHEL, Paul Henry, La Cosmologie de Giordano Bruno. Paris: Herman Editeur, 1962; MONDOLFO, Rodolfo, Figuras e Ideas de la Filosofia del Renacimiento. Barcelona: Icaria Editorial, 1980; GEREMEK, Bronislaw, A Piedade e à Forca. História da Miséria e da Caridade na Europa. Lisboa: Editor Terramar, 1986; YATES, Frances, Giordano Bruno e a Tradição Hermética. São Paulo: Editora Cultrix, 1986; GONÇALVES, Iria, Imagens do Mundo Medieval. Lisboa: Livros Horizonte, 1988; VÉNARD, Marc, Histoire du Christianisme. Le Temps de Confessions, 1530-1620. Paris: Desclée, 1992; SANTOS, Patrícia Lessa, No Caldeirão dos Bruxos: A Filosofia Herética de Giordano Bruno. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação. Campinas: Universidade de Campinas, 1997; HUIZINGA, Johann, Homo Ludens: O Jogo como Elemento da Cultura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1999; VERNANT, Jean-Pierre, O Universo, os Deuses, os Homens. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2000; CERTEAU, Michel de, L`Invenzione del Quotidiano. Roma: Edizione Lavoro, 2000; BRUNO, Giordano, “De L`Infinito, Universo e Mondi”. In: Opere Italiane. Torino: Unione Tipografico; Editrice Torinese LIbrarie, 2007; pp. 7-167; BARACAT FILHO, Antônio Abdala, O Infinito Segundo Giordano Bruno. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2009; ATROCH, Tiago José Cavalcanti, A Visão do Cosmo no Tratado da Magia de Giordano Bruno. Dissertação de Mestrado em História. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2012; PINTO, Anibal, O Infinito: Ideias, Transformações e as Considerações de Giordano Bruno. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência. Departamento de História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012; LOPES, Ideusa Celestino, A Cosmologia Bruniana como um Pressuposto para uma Reforma Moral. Tese de Doutorado. Departamento de Filosofia. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2013; Entrevista: Reabilite Giordano Bruno: O Pedido de Frei Betto ao Papa. In:  http://www.ihu.unisinos.br/14/04/2014; RIBEIRO, Rodrigo Petrônio, Mesons: Ontologia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015; entre outros.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Ada Rogato - Mulher & Vontade de Saber na Aviação Brasileira.

                                   Ubiracy de Souza Braga*
 
Eu não viajo por turismo. Eu quero divulgar esse país para o mundo todo”! Ada Rogato
 
                             
            Uma das maiores emoções na vida de um aviador certamente é o primeiro voo solo, em que ele decola, voa e pousa sozinho, sem ter o auxílio de um instrutor. A vida sempre nos impulsiona a alçar voos, ainda que tenhamos de enfrentar, por algumas vezes, as amargas decepções quando estamos diante de uma “máquina voadora”, esboçada pelo gênio renascentista Leonardo da Vinci, mas, sobretudo impulsionados pelo desejo, alimentados pela esperança, quando nossos sonhos começam a interagir com a realidade concreta através do domínio consagrado pela aviação no período contemporâneo. Os motivos provocam os atos de vontade por meio do caráter. Isso porque a conduta de um indivíduo está relacionada primeiramente à necessidade, ao poder de um motivo, uma vez que a liberdade da vontade não se apresenta tal como é. A pessoa não é livre, mas sua ação no mundo, que se refere à vontade é soberana. Nesse ponto, Schopenhauer diz que o homem considera-se, a priori, livre para qualquer ação. É apenas depois de tê-la realizado, ao meditar sobre ela, é que o homem percebe que os seus atos resultam “necessariamente do seu caráter combinado com motivos”.
Ao classificar os tipos de caráter no homem, que incorrerão em suas atitudes, Schopenhauer faz alusão a Kant que expressando a compatibilidade que a necessidade tem com relação à liberdade da “vontade em si”, fora da percepção, diferencia o caráter inteligível do caráter empírico. Sendo o primeiro a vontade em si no homem e o segundo, a sua corporeidade no espaço e no tempo, por meio da sua conduta, posto que o intelecto sempre é informado das decisões por parte da vontade, posto que quaisquer resoluções  são possíveis para a vontade, mesmo que sejam antagônicas entre si.  À determinação eletiva no homem, seja em Wolfgand von Goethe ou Friedrich Hegel que faz deste um “campo de batalhas”, os pensadores alemães comparam o instinto no animal enquanto formas de reconhecer a vontade. Arthur Schopenhauer, por exemplo, contrapõe as perturbações contidas das dores no homem, enquanto abstrações que o torturam, da invejável quietude animal, que só sente a dor física no presente. Seu pensamento sobre o amor é caracterizado por não se encaixar em nenhum dos grandes sistemas. Sua obra principal é “O Mundo Como Vontade e Representação” (1819). Arthur Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns conceitos budistas na Metafísica alemã. 
Foi fortemente influenciado pela leitura das “Upanishads”, que foram traduzidas pela primeira vez para o Latim no início do século XIX. A influência oriental em sua filosofia o fez aceitar o ateísmo. Ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e entendia o budismo e a essência da mensagem cristã, bem como o essencial da maior parte das culturas religiosas de todos os povos em todos os tempos como uma confirmação dessa visão realista-pessimista. Schopenhauer também dialogou e combateu a filosofia hegeliana e influenciou criando condições e possibilidades para o pensamento de Eduard Von Hartmann e Friedrich Nietzsche. Desse modo, o homem sendo considerada a perfeita objetivação da vontade, é também o mais necessitado, já que sua vida oscila entre a dor e o fastio. Nesse sentido, é o desejo de viver que mantém o homem ocupado, para absorver o tempo, de modo que o tédio se transforma em fator de sociabilidade. Frente a isso necessita da dor para viver, pois cada ser possui o sofrimento de que precisa para tanto, ainda que não reconheça facilmente este fato social, espiritual. Esse não reconhecimento faz com que o homem aponte para motivos ou para circunstâncias exteriores a si para justificar o seu sofrer. Pelo mesmo motivo, o homem elege ídolos ou propugna a crítica dos ídolos de toda a espécie segundo Nietzsche, a quem possa servir. E ilude-se, pela última vez, na medida em que atribui a suspensão da sua dor por uma alegria que lhe seja exterior.  

                                   
O privilégio de alçar voo pela primeira vez e ter a chance de progredir na carreira de aviador era, até pouco tempo atrás, quase um privilégio exclusivamente relacionado aos feitos dos homens. Mas, as mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço e hoje são milhares de aviadoras em todo mundo, seja no comando de um “widebody”, como no coletivo de um helicóptero em missões “offshore”. Mas não foi fácil no começo. Se hoje elas estão cada vez mais presentes nas cabines, podemos atribuir essa vitória ao pioneirismo das primeiras aviadoras que venceram preconceitos da aviação militar e comercial e demonstraram que tinham a mesma habilidade ou até mais destreza na pilotagem do que muitos pilotos do sexo masculino. Essas grandes aventureiras tornaram-se aparentemente heroínas, no caso das guerras recentes entre norte-americanos e afegãos, constituindo igualmente os verdadeiros exemplos beligerantes para as mulheres pilotos. Ada Leda Rogato nascida em São Paulo em 22 de dezembro de 1910 e morta em São Paulo em 15 de novembro de 1986 fora pioneira da aviação no Brasil. Foi a primeira mulher a obter licença como paraquedista, a primeira volovelista (piloto de planador) e a terceira a se brevetar em avião (1935). 
Também se destacou pelas acrobacias aéreas e foi a 1ª piloto agrícola do país. Voando em aeronaves de pequeno porte e – ao contrário de outras famosas aviadoras preferiu realizar o sonho de sempre voar sozinha, fama nacional e internacional que cresceu a partir dos anos 1950, graças à ousadia cada vez maior das proezas, que fez dela 1ª piloto brasileira a atravessar a cordilheira dos Andes; feito realizado por onze vezes, com trajetória de ida e volta, em 1950. No início da década de 1940 é contratada pelo Instituto Biológico e é convocada para ser piloto dos testes experimentais para os experimentos de pulverização de aviação agrícola. Assim, conseguiu horas de voo suficientes neste tipo de trabalho terceirizado na agricultura de monocultura para ser a terceira pessoa a tirar brevê de piloto civil internacional pela FAI, com aviões das categorias A e B. Em 1950 voou por 11.691 km em 16 horas transpondo a Cordilheira dos Andes uma vasta cadeia montanhosa formada por um sistema contínuo de montanhas ao longo da costa ocidental da América do Sul.  Sua altitude média gira em torno de 4000 metros e seu ponto culminante é o monte Aconcágua, com 6 962 metros de altitude. Filha única do casal de imigrantes italianos Mariarosa Greco e Guglielmo Rogato, naturais de San Marco Argentano, na Calábria, Ada recebeu dos pais a mesma educação dada à maioria das moças da época, para torná-las prendadas – além do colégio, aulas de piano e pintura -, mas a ambição ia além: queria aprender a voar. 
E não abandonou a meta mesmo quando os pais se separaram e ela teve de ajudar a mãe não só nas atividades domésticas como em bordados e trabalhos artesanais para se sustentar. Conseguiu dinheiro suficiente para as aulas que lhe possibilitaram tirar em 1935 o primeiro brevê feminino de voo à vela e, no ano seguinte, a primeira licença concedida a uma mulher pelo Aeroclube de São Paulo para pilotar avião. Cursou paraquedismo no Campo de Marte em 1941 obtendo o primeiro certificado de paraquedista concedido a uma brasileira. Adepta incondicional da aviação esportiva, Ada passou desde então a usar suas habilidades para divulgar a aviação: acrobacias aéreas e saltos de paraquedas ajudavam a atrair público para os eventos aviatórios organizados tanto nas capitais como nos recém-fundados aeroclubes do interior de São Paulo e de outros Estados. Durante a 2ª guerra mundial, realizou voluntariamente 213 voos de patrulhamento aéreo do litoral paulista. E em 1948 quando as autoridades decidiram combater a broca-do-café, ela aceitou o desafio que a transformou em pioneira do polvilhamento aéreo no Brasil Conforme o reconhecimento crescia, a imprensa paulista e nacional a apelidava de “Milionária do ar”, “Gaivota solitária”, “Passarinho solitário” e da revista chilena Margarita ganhou o apelido de “Condor dos Andes”. No ano de 1951 realizou seu famoso voo pelas três Américas, percorrendo 51.064 quilômetros em 326 horas, aproximadamente 2 semanas. O ponto de partida foi a Terra do Fogo (1960) e o fim do trajeto no Alasca, entre esses dois pontos Ada Rogato visitou 28 países. 
Além dos feitos citados, Ada continuou realizando atividades ligadas à aviação que superaram inúmeros recordes como percorrer grandes distâncias em tempos cada vez menores, atingir regiões de difícil acesso como o aeroporto da Bolívia (o mais alto do mundo) e foi a primeira mulher a fazer um vôo solo pela Amazônia sem qualquer meio de comunicação. A única aviadora do mundo, até 1951, a cobrir uma extensão de 51.064 km em voo solitário pela Américas Latina, Central e do Norte, chegando até o Alasca com o trajeto que levou aproximadamente 6 meses na relação tempo/movimento. A primeira a atingir o aeroporto de La Paz, na Bolívia, o mais alto do mundo até então (1952), com um avião de apenas 90 HP – feito inédito na história da aviação boliviana. E neste sentido, o primeiro piloto, homem ou mulher, a cruzar a Amazônia - o temido “inferno verde” – para lembramos do filme alemão: “O inferno verde”, dirigido em 1938 por Eduard Von Bosordy, com cenas filmadas na Amazônia -, em um pequeno avião, sem rádio, em voo solitário, com uma bússola (1956). E a chegar sozinha, repetimos, à Terra do Fogo, no extremo Sul do nosso continente (1960).
Profissionalmente detém o brevê n° 1 de paraquedista, entre homens e mulheres. Foi a primeira mulher no mundo a saltar de um helicóptero, realizando 105 saltos e a primeira paraquedista das Américas. A primeira mulher a receber a “Comenda Nacional de Mérito Aeronáutico”, no grau de cavalheiro, a “Comenda Asas da Força Aérea Brasileira” e o título da FAB de Piloto em “Honoris Causa”. Realizou mais de mil “voos de coqueluche” porque se acreditava que a altura exterminava a bactéria da doença. A primeira a pousar em Brasília, quando a capital do país ainda estava em construção. Quando o paraquedismo como atividade esportiva começava a ganhar os primeiros adeptos no Brasil, Ada se tornou campeã da modalidade brasileira em 1943 e paulista em 1948, ano em que também iniciou as atividades como piloto agrícola. E aproveitou seu reide de 1950 por quatro países sul-americanos para demonstrações em paraquedas, tornando-se assim a 1ª mulher a saltar no Paraguai e no Chile. Muitos aspectos relativos direta ou indiretamente ao conceito de vontade, encontram um ponto de apoio em Nietzsche na direção particular para a transvaloração do homem.
Como membro da comissão do Cinquentenário do 14-bis, a aviadora passou posteriormente a fazer parte da Fundação Santos-Dumont (FSD), destinada a cuidar do acervo do inventor e apoiar o desenvolvimento da Aeronáutica. Como dirigente dessa entidade – da qual foi sucessivamente conselheira, secretária e presidente -, Ada recepcionava os visitantes mais ilustres do Museu da Aeronáutica da FSD, o primeiro da América do Sul, ao qual emprestou o seu nome. Entre esses visitantes, contam-se vários astronautas norte-americanos - incluindo Neil Armstrong, que, antes de se tornar o primeiro homem a pisar na Lua, conheceu ali a aviadora e seu avião e a elogiou por suas façanhas. Ao morrer em 1986, Ada ainda era diretora do Museu que abrigava o seu inseparável “Brasil”. Antes de falecer em 1986, Ada Rogato fez parte da Fundação Santos Dumont passando pelos cargos de conselheira, secretária e presidente, e posteriormente assumindo o cargo de diretora do Museu da Aeronáutica da própria fundação. Desde a sua criação a Fundação Santos-Dumont tem como representação social um dos maiores compromissos do projeto cultural “Santos-Dumont, de próprio punho” é tornar as obras do “Pai da Aviação” acessíveis ao maior número possível de brasileiros e gerar, com a receita da venda dos exemplares, renda para diversas entidades.

Em vida Ada foi reconhecida e homenageada pelo talento, coragem, ousadia e pioneirismo. Em 1984 foi dirigido o curta-metragem: “Folguedos no Firmamento”, pela cineasta Regina Rheda, abordando os feitos de Ada Rogato. Esse filme foi exibido durante 5 anos em cinemas de todo o Brasil. Poucos anos após a morte de Ada Rogato, o Museu da Aeronáutica foi fechado e o acervo se dispersou ao ser removido do espaço que ocupava no belo Parque Ibirapuera em São Paulo. Algumas referências públicas à brava piloto estão em uma praça na cidade de São Paulo e em uma Rua de Ribeirão Preto (SP) que levam seu nome. Atualmente o “Cessna 140-A” encontra-se exposto ao público no Museu TAM, localizado em São Carlos-SP. Outro registro histórico em homenagem à heroína brasileira foi prestado em 1951: ao bater o recorde de voo solo, ao percorrer os 51.064 quilômetros entre e a Terra do Fogo e o Alasca, em apenas 326 horas. 
Foi homenageada com a “cachaça a Voadora”. A rede Globo de televisão a homenageou com o folhetim: “Zazá”, telenovela produzida e exibida no horário das 19 horas, entre maio de 1997 e janeiro de 1998, em 215 capítulos. Zazá Dumont é a milionária excêntrica que tem paixão por aviões. Em outra homenagem póstuma ocorrida no dia da mulher de 8 de março de 2000, os Correios do Brasil lançaram selos postais estampando as mulheres pioneiras da aviação brasileira, sob o tema “Mulheres Aviadoras”, um carimbo postal e um selo comemorativo dos 50 anos do primeiro sobrevoo na Cordilheira dos Andes realizado por Ada Rogato com seu famoso “Brasileirinho”, um avião CAP-4 de apenas 65 HP. A jornalista paulista Lucita Briza lançou seu livro: “Ada – Mulher, Pioneira, Aviadora” em 30 de abril de 2011 na Livraria Cultura, do Shopping Villa-Lobos, pela C&R Editorial, em São Paulo.  Lucita não se conformava, como ocorre no jornalismo com o fato de Ada Rogato ter caído tão rapidamente no esquecimento brasileiro, daí a ideia de redigir sua biografia, com um alentado volume de 300 páginas.
O jornalista Roger Marzochi, da Agência Estado, em 18 de março de 2011, fez o seguinte comentário sobre o livro de Lucita Briza: - “O trabalho de reportagem começou em 2005, com grande esforço para encontrar pessoas ligadas à aviadora, que nunca se casou, não teve filhos e rompera os laços familiares quando jovem. Seu pai, Guglielmo Rogato, imigrante italiano que se fez homem importante em Alagoas e tem até duas ruas com seu nome, quis impedir a carreira da moça. Fora as fontes oficiais de informação, a jornalista só conseguiu se aproximar mais da vida da aviadora ao encontrar Neide Bibiano, em São Paulo. Amiga de Ada, amparando-a até a morte, foi ela que saiu em busca dos parentes da aviadora antes que a aviadora morresse de câncer no útero. - “O contato com a Neide fez com que as coisas começassem a tomar vulto na minha cabeça”. Essa mulher foi minha guia para conseguir mais informações”. - “Lucita também viajou para o Uruguai, Argentina e Chile para entrevistar pessoas que tiveram contato com a aviadora em suas viagens. Depois da morte dela, esse esquecimento brutal. E eu não me conformava. Ela tinha boas relações com homens e mulheres, menos com a Anésia”, lembra, citando Anésia Pinheiro Machado, a segunda mulher que conseguira um brevê. A primeira foi Thereza de Marzo, em 1922. - “Eu sempre quis escrever um livro sobre uma mulher a frente do seu tempo”. Lucita corrigiu essa lacuna, num livro de 300 páginas.
Dentre centenas de troféus e condecorações, foi a primeira aviadora a receber no Brasil a Comenda Nacional do Mérito Aeronáutico, no grau de Cavaleiro, e ainda as Asas da Força Aérea Brasileira e o título de Piloto Honoris Causa da FAB; também no grau de Cavaleiro, recebeu na Bolívia a Condor dos Andes; no Chile, foi condecorada com a Bernardo O’Higgins no grau de Oficial e na Colômbia com as Asas da Força Aérea Colombiana, primeira comenda entregue no País a uma aviadora. Em 1954, recebeu da Federação Aeronáutica Internacional, sediada na França, o diploma Paul Tissandier por seus méritos na aviação. Ada Rogato morreu em São Paulo, vítima de câncer, em 15 de novembro de 1986, aos 76 anos. O corpo foi velado no Museu da Aeronáutica. O cortejo foi acompanhado pela Esquadrilha da Fumaça. Seu corpo foi exumado em 1993. Seus restos mortais transferidos para o ossário do Cemitério de Santana. Tristemente pelo descaso da administração pública na memória do cemitério seu corpo permanece num jazigo anônimo. Identificado apenas pelo nº 368 gravado à mão no cimento. Indicando a gaveta que ocupa sua última morada no Bloco E. 

Bibliografia geral consultada.

BITTENCOURT, Adalgiza, A Mulher Paulista na História. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1954; ARIÈS, Philippe, Essais sur l`Histoire de la Mort en Occident du Moyen-Age à Nous Jours. Paris: Éditions du Seuil, 1977; SCHEMES, Cláudia, Festas Cívicas e Esportivas no Populismo: Um Estudo Comparativo dos Governos Vargas (1937-1945) e Peron (1946-1955). Dissertação de Mestrado.  Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1995; YALOM, David, Quando Nietzsche Chorou. Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 2000; BALTHAZAR, Lucy Lúpia Pinel, Voo Proibido: Os Apuros de uma Pioneira. 2ª edição. Rio de Janeiro: Edição da Autora, 2000; PINHEIRO, Carlos dos Santos, Aviadoras Pioneiras. Rio de Janeiro, 2003; DUMONT, Cosme Degenar, Asas do Brasil: Uma História que Voa pelo Mundo. São Paulo: Editora de Cultura, 2004; SCHPENHAUER, Arthur, O Mundo Como Vontade e Como Representação. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2005; Artigo: “Mulheres na Aviação”. In: Revista da Universidade da Força Aérea. Ano XVIII, nº 21, dez. 2006; CARVALHO NETO, Antônio Moreira; TANURE, Betânia; ANDRADE, Juliana, “Executivas: Carreira, Maternidade, Amores e Preconceito”. In: RAE; revista eletrônica, vol. 9, nº 1, jan./jun., 2010; STOCHERO, Tathiane, “Mulheres Avançam no Mercado da Aviação e chegam a Comando de Voo”. In: oglobo.com/2011/10; BRIZA, Lucita, Ada, Mulher, Pioneira, Aviadora. São Paulo: C & R Editorial; Editora Martins Fontes, 2011; GODOY, Roberto, “Nas Nuvens com Ada Rogato”. In: http://cultura.estadao.com.br/19.11.2011; LEITE, Elma Albuquerque, Cinematografia da Cidade. Arqueologia das Imagens do Cineasta Ítalo-Alagoano Guilherme Rogaro (Limiar, 1933). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2013; MEDEIROS, Adriana Silva, Liderança Feminina nas Organizações: Discursos sobre a Trajetória de Vida e de Carreira de Executivos. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Gestão e Negócios. Porto Alegre: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2014; Artigo: Ada Leda Rogato - Uma Mulher a Frente de seu Tempo”. Dispónível emhttps://sotaquesbrasilportugal.wordpress.com/2015/12/22/; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo:  Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).