“What do
you do when you are not sure?”. Padre Flynn
Entre os povos da Antiguidade, os gregos procuravam combater a angústia, criando uma sociedade baseada no principio do equilíbrio, isto é, nada em demasia, como forma de combater nossos instintos que podem se tornar perversos, assim como nossas paixões. Assim surgiram as tragédias gregas que como arte da representação que nos coloca em contato com a tragédia e angústia da existência. Alguns filósofos dizem que a angústia surge no momento que o homem percebe a sua condenação à liberdade. Por isso se sente angustiado já que sabe que é o senhor do seu destino. A angústia também pode estar ligada a causas psicológicas como, complexos, traumas, meio familiar e institucional repressores ou desgastantes que podem desencadear algumas sensações de forte opressão. A angústia somente será considerada uma doença quando aparecerem outros sintomas, tais como falta de concentração, tristeza permanente, inquietação, pensamentos negativos. Aqueles que apresentam quadro de angústia sem acompanhamento profissional desenvolvem outros distúrbios como cansaço psicofísico, comportamento inadequado e baixa autoestima.
O Sermão da Montanha é um discurso de Jesus Cristo que pode ser lido no Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (Fragmentado ao longo do livro). Nestes discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os princípios que normatizam e orientam a vida cristã. Estes discursos podem ser considerados por isso como um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus, do acesso ao Reino e da transformação que esse Reino produz. John Stott, teólogo e escritor, diz que a essência do Sermão da Montanha foi o apelo de Cristo aos seus seguidores para serem diferentes de todos os demais. “Não sejam iguais a eles”, disse Jesus (Mt 6.8). O reino que Cristo proclamou deve ser uma contracultura, exibindo todo um conjunto de valores e padrões distintos. Ele fala de justiça, influência, piedade, confiança e ambição, e conclui com um desafio radical para que se escolha o caminho. Além de importantes princípios ético-morais, pode-se notar grandes revelações.
A
cidade de Jerusalém tinha importância política e religiosa. Tinha 25-30.000
habitantes na época de Jesus. O comércio era necessário para a importação de
mercadorias. Para financiar o comércio havia as imensas receitas do templo, os
negócios ocasionados pela presença de estrangeiros, as receitas de impostos
para os períodos dos soberanos independentes. Jerusalém atraía os donos de
grandes capitais: grandes comerciantes, cobradores de impostos, judeus da
diáspora enriquecidos, que às vezes se estabeleceram ali para sempre por
convicção religiosa. - “De tudo isso emerge uma imagem singular: é verdade, a
situação da cidade era totalmente desfavorável ao desenvolvimento dos ofícios;
no entanto, certas profissões prosperavam em virtude de sua importância
econômica, política e religiosa”. A classe média era composta de pequenos
comerciantes, os artesãos, na medida em que eram proprietários de oficinas e
não trabalhavam para terceiros como assalariados. Não existem fábricas. - “Dados
precisos sobre a situação financeira dessas categorias são muito raros. A
certos exageros não se deve dar crédito” (p. 167). “Essas categorias se
encontravam em uma situação econômica propícia, quando tinham negócios com o
templo e os peregrinos”.
Quase
exclusivamente os peregrinos impulsionavam a atividade albergueira. Nas festas
com peregrinação e na chegada das primícias, era obrigatório dormir em
Jerusalém. Assim se formou a “Grande Jerusalém”, incorporada ao distrito de
Betfagé. Uma prescrição proibia o aluguel de casas na cidade porque eram
propriedade comum de todo Israel. Os sacerdotes faziam parte da classe média. O
clero, espalhado por todo o país, era organizado em 24 classes. Os que residiam
na cidade eram pessoas cultas e ricas (cf. Josefo, 1969). Em relação aos
rendimentos dos sacerdotes, uma distinção clara deve ser feita entre prescrição
e práxis. Temos certeza do pagamento apenas de alguns proventos, embora não
saibamos em que medida eram pagos: porções das oferendas, primícias dos
produtos colhidos, o dízimo dos produtos da terra (disso, porém, não se faz
menção nos compêndios da época). Na verdade, eles eram baseados exclusivamente
na legislação mosaica e não na práxis. O dízimo dos sacerdotes é atestado, mas
não se sabe por quanto tempo foi pago (talvez o sumo sacerdote João Hircano o
tenha abolido). Grande parte da população não pagava ou não pagava de modo
insuficiente os impostos aos sacerdotes, e a indiferença da população os
impelia à pobreza.
Os
pobres eram constituídos pelos escravos e trabalhadores diários. Encontra-se
escravos especialmente na cidade e são escravos domésticos. Os libertos devem
ser considerados pelo menos como prosélitos. Os trabalhadores diários eram
muito mais numerosos que os escravos. Eles ganhavam um denário por dia, mais
alimentação. Alguns pobres viviam caçando pombos, ganhando quatro rolas. Eles
ofereciam duas por dia ao templo, ficando com um lucro de 1/4 de denário, que
era notoriamente pouco. Havia partes da população que viviam de ajudas. Era
proibido aos escribas serem pagos por seus ofícios. Parece que nos tempos de
Jesus alguns exercessem um ofício, uma atividade profana (Hillel era um
trabalhador diário, Paulo trabalhou durante sua missão). Os “escribas viviam
sobretudo de ajudas” (p. 187), principalmente aquelas de seus alunos. Pessoas
abastadas poderiam prover as necessidades do mestre (cf. as mulheres que seguem
Jesus). Antes de 70 d.C., a existência de cobranças para médicos não é
constatada. Já “no tempo de Jesus a cidade havia se tornado um centro de
mendicância” e “era sobretudo a distribuição de esmolas, consideradas
particularmente meritórias se feitas na cidade santa, que alimentava a
mendicância” (p. 192). Havia quem se fingisse de cego, surdo, com hidropisia,
aleijado. A mendicância concentrou-se nos lugares sagrados. Havia “pessoas
preguiçosas que se dedicavam apenas à participação do culto”. Pessoas formaram bandos que aterrorizaram Jerusalém e geraram uma guerra civil.
Aquilo
que muitas vezes é tido por ruim, por desagradável, diante de Deus é o que
realmente vai levar muitos à verdadeira felicidade. Esta passagem forma um
paradoxo, contrariando a ideia de muitos e mais uma vez mostrando que “…Deus
não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o coração” (I
Samuel 16.7). No Sermão da Montanha o evangelista Mateus está a apresentar
Jesus Cristo como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido numa montanha
(talvez, apenas uma colina), pois Moisés tinha recebido os 10 Mandamentos no
monte Sinai. Entretanto, Jesus afirmou que não veio para abolir a Lei ou os
Profetas, mas sim cumprir na sua íntegra (Mt 5.17), embora a interpretação
descontextualizada da Bíblia, pode dar a uma literal interpretação sobre a
abolição ou não da lei, destaca-se o texto da epístola aos Hebreus 8:6-13: - Mas
a Cristo foi confiado um serviço muito mais importante, até porque a nova
aliança, para o qual serviu de mediador, se fundamenta em promessas muito mais
excelentes. Evidentemente que se a primeira aliança tivesse sido perfeita não
teria havido razão para ser substituída por outra aliança.
O
domínio da igreja Católica, “punindo o herege, mas perdoando o pecador”, no
passado, ainda mais do que agora, é tolerado por povos de caráter
econômico inteiramente moderno, e nasceu entre as mais ricas e economicamente
mais avançadas nações, por volt do século XV. O domínio do Calvinismo, como o
introduzido no século XVI, em Genebra e na Escócia, na passagem do século XVI
para o século XVII, em grande parte nos Países Baixos, no século XVII na Nova
Inglaterra, e, por algum tempo, na própria Inglaterra, seria a forma mais
insuportável de controle eclesiástico do indivíduo que até então pode existir.
Justamente dessa forma é que foi sentido por grandes camadas da velha aristocracia
comercial desse período, tanto em Genebra, como na Holanda e na Inglaterra. e o
que os reformadores desses países queixavam-se, segundo Weber (2002), nos altos
escalões de desenvolvimento econômico, não era de demasiado controle da vida
cotidiana por parte da igreja, mas de pouco controle. Como se deu então naquele
período, os países mais avançados economicamente e suas emergentes classes
médias burguesas não apenas falharam na resistência a essa tirania do
Puritanismo, mas até defenderam-na heroicamente, de uma maneira raramente vista
antes, e nuca depois manifestada, a tal ponto que Carlyle a denominou, não sem
razão, de “the last of our heroism”.
Para o que nos interessa, lembramos que "os julgamentos sobre a
importância de um fenômeno histórico podem ser, por um lado, de valor ou de fé,
isto é, quando eles se referem ao que, por si só, é interessante ou ao que, por
si só, é duradouramente “válido em si”.
Por outro lado, podem referir-se à sua
influência como fator causal sobre o processo histórico. Trata-se, portanto, de
julgamentos de imputação histórica, se partirmos, como entendemos, deste último
ponto de vista e investigarmos o significado a ser atribuído àquele dogma em
virtude de suas consequências pari passu histórico e culturais, devemos ter por ele alta
consideração. O filme a “Dúvida” (“Doubt”, 2008), de John Patrick
Shanley, debate uma das questões mais dramáticas da atualidade: quem tem
relações amorosas com quem e quem fuma o que na Era de Aquários. Não se trata
apenas de um filme sobre os dramas internos à igreja católica em processo de
modernização em meio ao Concílio Vaticano II. Trata-se de um dilacerante debate
acerca das rotinas do pensamento moral, que muitas vezes beiram o puro
sonambulismo. Os personagens são um padre doce e pra frente, Philip Seymour
Hoffman, a diretora e madre superiora antipática e conservadora, Meryl Streep,
um triste aluno negro, sua mãe pobre trabalhadora e uma jovem freira ingênua. O
filme descreve as agruras ambientadas nos anos 1960 - esse mito de revolução sexual
que fez das maiores utopias da modernidade um problema. Contudo, alguns
preferem o benefício da dúvida, imaginando que podem até desconfiar, mas jamais
definem uma acusação dentro ou fora das instituições sociais. Outros têm uma
postura diferente, escolhem um lado por algum motivo - pessoal, geralmente - e
creem nele até o fim. Esta simples pergunta: “O que vocês fazem quando não têm
certeza?” inicia “Dúvida” e também dá o tom na lentidão na trama da angústia católica no
filme.
O Concílio Vaticano II, “XXI Concílio Ecumênico da
Igreja Católica”, foi convocado no dia 25 de dezembro de 1961, através da bula
papal “Humanae salutis”, pelo Papa João XXIII. Este mesmo Papa inaugurou-o, a
ritmo extraordinário, no dia 11 de outubro de 1962. O Concílio, realizado em 4
sessões, só terminou no dia 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI.
Nestas quatro sessões, mais de 2 000 Prelados convocados de todo o planeta
discutiram e regulamentaram vários temas da Igreja Católica. As suas decisões
estão expressas nas 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações elaboradas e
aprovadas pelo Concílio. Apesar da sua boa intenção em tentar atualizar a
Igreja, os resultados deste Concílio, para alguns estudiosos, ainda não foram
totalmente entendidos nos dias de hoje, enfrentando por isso vários problemas
que perduram. Para estudiosos, é esperado que os jovens teólogos que participaram do Concílio, salvaguardem a sua natureza. Isto porque depois de
João XXIII, os Papas que o sucederam até Bento XVI,
participaram do Concílio ou como Padres conciliares (ou prelados) ou como
consultores teológicos (ou peritos).
Viola Davis, uma das notáveis atrizes da sua geração,
fez um desabafo em entrevista à revista Glamour.
Ela contou que passou fome e até vasculhou o lixo para procurar comida. - “Nós
não tínhamos comida e eu estava sempre com muita fome e envergonhada na escola.
Eu não podia desenvolver meu potencial, não conseguia ser eu”, contou. A atriz
disse ainda que chegou a participar de um programa de verão para conseguir
bebida e donuts de graça. Ela contou
ainda que seus pais faziam estoque de mantimentos quando recebiam o pagamento
mensal, mas durava muito pouco tempo. “Era uma coisa do tipo, se você não comer
agora vai acabar e você vai ficar com fome nos próximos”, comentou. Viola é
apoiadora da Hunger Is, uma campanha da Fundação Safeway que ajuda a juntar
cerca de R$ 135 milhões para ajudar alimentar as crianças carentes. - “Eu vou
insistir entre os meus amigos. Os Estados Unidos é o país mais rico do mundo e
não há nenhuma razão para que crianças continuem indo para a escola com fome. A
comida é algo que todos devemos ter”.
Ao longo de sua duração no filme “Dúvida” não há
claras evidências de favorecimento a qualquer lado, mas a batalha das ideias
entre estes dois modos de tratamento sociais. O primeiro vindo da jovem e ingênua
irmã James, interpretada por Amy Adams. O outro, irascível e rígido, vindo da
irmã Aloysius, protagonizado Meryl Streep. Mais do que um confronto de ideias,
e aqui entra ainda o terceiro vértice da história, de desejo do padre Flynn de
Philip Seymour Hoffman em que há no filme concepções de mundo completamente
díspares. Streep compõe sua personagem amarga, sem perdão. Crendo na obediência
e punição em casos onde ela é o melhor meio de trabalho para educar os alunos
da escola St. Nicholas. Flynn é professor com ideias liberais, acredita na
bondade e na compaixão como meio de ajudar as pessoas. Entre eles está a jovem irmã
James, sem saber qual caminho seguir por estar em dúvida. Seu comportamento
diante dos alunos ora segue as pregações de Aloysius, ora as de Flynn. Ela
própria crê que a igreja poderia ser mais aberta! Mas tem receio de seguir este
caminho devido à sua imaturidade moral e a onipresença masculina de Aloysius.
A jovem irmã James (Amy Adams) desconfia da atenção
especial que o padre Flynn (Hoffman) dá ao único aluno negro do local. Quando
conta para a irmã Aloysius (Meryl), que dirige o local, tem início uma pressão
moral que ela exerce sobre ele baseada mais em suposições do que em fatos
concretos. O filme, no entanto, tira proveito dos subtextos. Não é à toa que o
padre é um progressista, a irmã veterana é conservadora e autoritária e a jovem
divide-se entre o idealismo e a obediência. Há vários outros elementos
simbólicos mais ou menos óbvios, como as aulas de história, o açúcar, a luz
queimando. Estes subtextos incluem o tratamento que o filme dá com relação a
dúvidas e certezas. O padre diz que é inocente. A questão é: mas será mesmo? A freira diz
que tem certeza da culpa dele, mas só isso garante que ela esteja certa? O
filme acerta e se torna maior ao não responder claramente essas questões. É por
isso que em filmes desse gênero os atores consagrados na dramaturgia são tão
importantes na trama.
Há também a questão de comportamento no cotidiano, com
as mulheres levando uma vida mais controlada e os homens de forma mais
espontânea. Mais uma vez, um confronto entre o velho e o novo na visão de
mundo. Apenas esta percepção já tornaria Dúvida um filme atualíssimo, pelas
disputas internas geradas dentro de um ambiente tão secreto como tem sido as
relações no âmbito da igreja católica. Lembra-nos em certa medida “Il nome
della rosa” do escritor italiano Umberto Eco, lançado em 1980 que o tornou
conhecido mundialmente. Muita atenção tem sido dada para o mistério sobre a que
o título do romance se refere. Na verdade, Eco afirmou que sua intenção era
encontrar um “título que dá liberdade de interpretação ao leitor”. Noutra
versão da história, quando ele tinha acabado de escrever o romance,
apressadamente sugeriu dez nomes e pediu a alguns amigos para escolher um, então
escolheram “O nome da Rosa”. Sugeriu-se que Eco tenha se inspirado nas
referências de Borges, que disse: “Quem viu o Zahir pronto verá uma rosa: o
Zahir é a sombra da rosa e o rasgo do Velo”. Eco descreve a representação de um
episódio, passado durante a Idade Média, no qual o riso era considerado, pela
Igreja Católica Apostólica Romana, um pecado.
O desenrolar da trama cinematográfica é todo neste
sentido representado nas peculiaridades e reações dos personagens de acordo com
suas crenças. É assim que brilha o elenco. Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman
e Amy Adams estão precisos em suas atuações, representando o que seus
personagens requerem. Não há excessos, mesmo nos momentos mais delicados e
duros, pois assim é a visão de mundo católica representando a angústia
silenciosa através do assédio moral e sexual. São personagens-chaves não apenas
para a trama em si, mas também para entender aquele momento histórico, turbulento
culturalmente na década de 1960, no qual a população negra enfim conquistava
direitos civis então renegados pelas práticas políticas dominantes. Dentro e fora do contexto da escola, Aloysius e
Flynn representam uma concepção social de mundo existente em sua época. Philip Seymour Hoffman nasceu em Fairport, em 23 de
julho de 1967 e faleceu em Nova Iorque, em 2 de fevereiro de 2014. Foi um
premiado ator e diretor teatral norte-americano. Iniciou sua carreira na
televisão, em 1991, e no ano seguinte começou a aparecer extraordinariamente no cinema.
Gradualmente conquistou reconhecimento por seu trabalho como ator coadjuvante
em diversos filmes célebres, como “Scent of a Woman”, de 1992, “Twister”, de
1996, “Boogie Nights”, de 1997, “Happiness” e “The Big Lebowski”, de 1998,
“Magnolia” e “The Talented Mr. Ripley” de 1999, “Almost Famous”, de 2000, “25th
Hour” e “Punch-Drunk Love”, de 2002, e “Cold Mountain”, de 2003. Hoffman também
é premiado ator e diretor teatral. Passou a fazer parte da LAByrinth Theater
Company em 1995, e desde então dirigiu e atuou em diversas produções
Off-Broadway.
Suas atuações em duas peças da Broadway lhe renderam
duas indicações ao Prêmio Tony; uma de melhor ator, em “True West” (2000), e
outra de melhor ator coadjuvante em “Long Day`s Journey into Night” (2003). Em
2005 Hoffman interpretou o papel-título no filme biográfico “Capote”, de 2005,
pelo qual ele conquistou diversos prêmios, incluindo um Oscar de melhor ator.
Foi indicado por outras duas vezes ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo seu
trabalho em “Charlie Wilson`s War”, de 2007, e “Doubt”, de 2008. Entre os
outros filmes elogiados pela crítica nos quais atuou estão: “Before the Devil
Knows You`re Dead” e “The Savages”, de 2007. Em 2010, fez sua estreia como
diretor de cinema com Jack Goes Boating. Philip Seymour Hoffman conseguiu o
papel de Plutarch Heavensbee nas adaptações cinematográficas de “Em Chamas”
(2013), “A Esperança parte 1” (2014) e “A Esperança parte 2” (2015), da saga “Jogos
Vorazes”, de Suzanne Collins. Era
filho de Marilyn Hoffman Coonor e Gordon Hoffman. Tinha três irmãos: de Gordy,
Emily e Jill Hoffman. Vivia em Manhattan, Nova Iorque com sua namorada, a
estilista Mimi O`Donnell, que conheceu na peça: “In Arabia We`d All Be Kings”,
de 1999, dirigida por Hoffman. Ambos tiveram um filho, Cooper Alexander,
nascido em março de 2003, e duas filhas, Tallulah, nascida em novembro de 2006,
e Willa, nascida em outubro de 2008. No dia 2 de fevereiro de 2014, em fase de
gravação de dois filmes, um deles da série: “Jogos Vorazes” - (The Hunger Games) foi encontrado no banheiro de seu apartamento em
Manhattan, com uma agulha inserida em um de seus braços. Morreu devido ao
consumo de drogas: heroína, cocaína, anfetaminas e tranquilizantes, informou o
Departamento de Medicina Legal nova-iorquino.
Bibliografia geral consultada.
THÉLÈNE,
Catherine, Le Désenchantement de l`État: De Hegel à Max Weber. Paris:
Éditions Minuit, 1992; WEIGEL, George, A Verdade do Catolicismo. Rio de
Janeiro: Bertrand Editora 2002; MELLO, Sangia, Argumentação e Persuasão da
Sexagésima do Padre Antônio Vieira. Dissertação de Mestrado em Literatura e
Crítica Literária. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2005; BLACKBURN, Simon, Verdade: Um Guia para os Perplexos. Rio de
Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2006; ALBERIGO, Giuseppe, A Brief
History of Vatican II. 1 ed. New York: Orbis Books, 2006; PEIXOTO, Davi
Silva, A Construção da Argumentação no Sermão da Primeira Dominga do Advento:
Um Estudo Historiográfico. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em
Língua Portuguesa. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2008; BOFF, Leonardo, “A Sociedade Mundial da Cegueira”. In: Jornal O Povo,
Fortaleza, 22.02.2010; ASLAN, Odette, O Ator no Século XX. São Paulo: Editora
Perspectiva, 2010; WELLER, Wivian, “A Atualidade do Conceito de Gerações de
Karl Mannheim”. In: Soc. Estado. Vol. 25 no. 2 Brasília May/Aug. 2010; LÖWY,
Michael, A Jaula de Aço. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014; BARROS, José
D’Assunção, “Verdade e História: Arqueologia de uma Relação”. In: Cadernos IHU
Ideias. São Leopoldo, vol. 12, nº 212, pp. 3-41, 2014; GARCÍA, Tony, “Philip
Seymour Hoffman, o maior de sua geração”. In:
https://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/02;
COSTA E SILVA, Patrícia, Racionalidade Técnica e Formação: Um Estudo a
partir do Personalismo de Mounier. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal
de Goiás, 2015; CALÇADO, Thiago, A Carne se Fez Verbo: Confissão Cristã e
Sexualidade em Michel Foucault. Tese de Doutorado. Programa de Estudos
Pós-Graduados em Filosofia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2015; entre outros.
______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“O tempo penetra o corpo, e com ele todos os controles minuciosos do poder”. Michel Foucault
O
corpo, notoriamente, percorre a história da ciência e da filosofia. De Platão a
Bergson, passando por Descartes, Espinosa, Merleau-Ponty, Freud, Marx,
Nietzsche, Weber e principalmente Michel Foucault, a definição de corpo
demonstra um puzzle. Quase todos reconhecem a profusão da visão dualista de Descartes,
que define o corpo como uma substância extensa em oposição à substância
pensante. Podemos perceber que seguindo este modo de compreensão, sobretudo com
o advento da modernidade, o corpo foi facilmente associado a uma máquina. O
corpo foi pensado como um mecanismo elaborado por determinados princípios que
alimentam as engrenagens desta máquina promovendo o seu bom funcionamento. Isto
quer dizer que através dos exercícios de abstinência e domínio que constituem a
ascese necessária, o lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais
importante: a tarefa de se pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa
série de exercícios bem definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do
que se é, do que se faz e do que é capaz de fazer – no cerne da constituição do
sujeito moral. E, finalmente, o ponto de chegada dessa elaboração é ainda e
sempre definido pela soberania do indivíduo sobre si mesmo. Neste
aspecto Michel Foucault (2014) nos adverte sobre a questão abstrata da
analítica do poder que se constitui o marco histórico e pontual de “docilidade
dos corpos”.
Para ele o soldado é, antes
de tudo, alguém que se reconhece de longe; que leva os sinais naturais de seu
vigor e coragem, as marcas também de seu orgulho: seu corpo é o brasão de sua
força e de sua valentia: e se é verdade que deve aprender aos poucos o ofício
das armas – essencialmente lutando – as manobras como a marcha, as atitudes
como o porte da cabeça se originam, em boa parte, de uma retórica corporal de
honra. Eis como ainda no início do século XVIII se descrevia a figura ideal do
soldado. Mas na segunda metade deste século, o soldado se tornou algo que se
fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a máquina de que se
precisa; corrigiram-se aos poucos as posturas: lentamente uma coação calculada
percorrer cada parte do corpo, assenhoreia-se dele, dobra o conjunto, torna-o
perpetuamente disponível, e se prolonga, em silêncio, no automatismo dos
hábitos; em resumo, foi “expulso o camponês” e lhe foi dada a “fisionomia de
soldado”. Ipso facto, houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo
como objeto e alvo de poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa grande
atenção dedicada então ao corpo que se manipula, modela-se, treina-se, que
obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças multiplicam o
“homem-máquina”.
O
grande livro do homem-máquina foi descrito simultaneamente em dois registros:
no anátomo-metafísico, cujas primeiras páginas haviam sido escritas por
Descartes e que os médicos, os filósofos continuaram; o outro,
técnico-político, constituído por um conjunto de regulamentos militares,
escolares, hospitalares e por processo empíricos e refletidos para controlar ou
corrigir as operações do corpo. Dois registros bem distintos, pois se tratava ora
de submissão e utilização, ora de funcionamento e de explicação: corpo útil,
corpo inteligível. E, entretanto, de um ao outro, pontos de cruzamento. “O
homem-máquina” de Julien Offray La Metrie (1709-1751) é ao mesmo tempo uma
redução materialista da alma e uma teoria geral do adestramento, no centro dos
quais reina a noção de “docilidade” que une ao corpo analisável o corpo
manipulável. Em sua significação específica é dócil um corpo que pode ser
submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado.
Contudo, os famosos autômatos, por seu lado, não eram apenas uma maneira de
ilustrar o organismo; eram também bonecos políticos, modelos reduzidos de
poder: obsessão de Frederico II (1712-1786), rei minucioso das pequenas
máquinas, dos regimentos bem treinados e dos longos exercícios.
Para
Foucault metodologicamente a questão a responder é a seguinte: Nesses esquemas
de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de tão
novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos
tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no
interior de poderes mito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou
obrigações. Muitas coisas, entretanto, são novas nessas técnicas. A escala, em
primeiro lugar, do controle; não se trata de cuidar do corpo, massa, grosso
modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalha-lo
detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo
nível prático da mecânica – movimentos, gestos, atitudes, rapidez: poder
infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida, do controle: não, ou
mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas
a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz
mais sobre as forças que sobre os sinais; a única cerimônia que realmente
importa é a do exercício. A modalidade, enfim, implica uma coerção
ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre
seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha ao
máximo o tempo, o espaço, os movimentos.
Esses
métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam
a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de
docilidade-utilidade, são o que podemos chamar disciplinas. Muitos processos
disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas
oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e
XVIII fórmulas gerais de dominação. Diferentes da escravidão, pois não se
fundamentam numa relação de apropriação dos corpos; é até a elegância da
disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo efeitos de
utilidade pelo menos igualmente grandes. Mas também ocorre que são diferentes
também da domesticidade, que é uma relação social de dominação constante,
global, maciça, não analítica, ilimitada e estabelecida sob a forma de vontade
de poder singular do patrão, sendo quase seu “capricho”. Diferentes da vassalidade
que é uma relação de submissão altamente codificada, mas longínqua e que se
realiza menos sobre as operações do corpo que sobre os produtos do trabalho e
as marcas rituais de obediência. Diferentes do ascetismo e das “disciplinas” de
tipo monástico, que têm por função realizar renúncias mais do que aumentos de
utilidade e obediência, têm como fim um aumento do domínio de cada um sobre seu
próprio corpo.
O
momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo
humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco
aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o
torna tanto uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma
manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus
comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o
esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também
igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter
o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se
quer, mas ara que operem como se quer, com as técnicas segundo a rapidez e a
eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e
exercitados, corpos dóceis. A disciplina
aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas
mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela associa
o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela
procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia
resultar, e faz dela uma relação de sujeição estrita.
Se
a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, a coerção
disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e
uma dominação acentuada. Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao
corpo situa-se como preocupação geral de mobilidade social, que perpassa a
estratificação de classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso clínico
difuso que se refere tanto a questão estética, quanto a preocupação alimentar
com a saúde. Nas sociedades contemporâneas há uma crescente apropriação do
corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados
pelo processo de massificação da propaganda/consumo a desde o desenvolvimento
econômico dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos
meios midiáticos. Nesse sentido, as fábricas de imagens estéticas do vencedor
como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para
isso. Ipso facto, nos leva a pensar que a imagem da eterna fonte de juventude,
associada ao corpo perfeito e ideal, ao sucesso na educação, no trabalho e na
vida amorosa atravessa as etnias e classes sociais, compondo de maneiras
diferentes diversos estilos de vida.
O divórcio oficial entre a Rússia e
os seus aliados políticos, por um lado, e o bloco ocidental, por outro, vem ocorrendo em Moscou.
As comemorações do 70º aniversário do fim da 2ª guerra mundial (1939-1945) marcam aparentemente
o princípio de uma nova ordem mundial, uma poderosa elite com uma agenda globalista conspirando para eventualmente governar o mundo por meio de um governo mundial autoritário e uma propaganda abrangente cuja ideologia política saúda o estabelecimento da Nova Ordem Mundial como a culminação do progresso da história. Ao lado de Vladimir Putin estavam os presidentes da
China comunista, Xi Jinping; do Irã, oAli Khamenei; do Egito, marechal Sisi; da Coreia do
Norte, Kim Jong-un; da Venezuela, Nicolás Maduro; da Turquia, Erdogan; e da
Grécia, Tsipras, entre outros líderes de países, como a Bielorrússia, que
sempre estiveram ao lado de Moscou nos bons e maus momentos. Barack Obama, Merkel,
Hollande, Cameron e tantos outros ficam de fora, com a OTAN ao compreender dois
dos seus membros ao lado de Vladimir Putin. A guerra fria do século XXI está começando
oficialmente, muito embora as relações internacionais entre o Leste e Oeste
nunca tenham sido felizes e muito menos amistosas politicamente.
Não queremos perder de vista que a Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), por vezes também dita “Aliança Atlântica”,
é uma organização militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico
Norte, que foi assinado em 4 de abril de 1949. A organização constitui um
sistema de defesa coletiva através do qual seus Estados-membros concordam com a
defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à
organização. A sede da OTAN localiza-se em Bruxelas, na Bélgica, um dos 28
países membros em toda a América do Norte e Europa, sendo que os mais novos
Albânia e Croácia associaram-se em abril de 2009. Um adicional de 22 países
participa da Parceria para a Paz da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN), com 15 outros países envolvidos em
programas de diálogo institucionalizado. O gasto militar combinado na
“indústria da guerra global” de todos os membros da organização constitui mais
de 70% do total de gastos militares de todo o mundo. Foi-se configurando um bloco político-ideológico que questiona a hegemonia do bloco ocidental dirigido pelos Estados Unidos da América (EUA), comparativamente tanto no plano econômico como político e militar. Os Estados Unidos da América continuam sendo potência hegemônica no mundo, mas ficou para trás – como constata The Economist – o período de cerca de duas décadas e meia de sua hegemonia absoluta no mundo. Hoje se pode dizer que, com o Brics (o bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), já existe uma espécie de multipolaridade econômica no mundo, com uma arquitetura distinta da de Bretton Woods – apoiada no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial – em processo de construção, centrada no Sul do mundo. As alianças da Rússia com a China constituem o eixo dessa nova configuração – que incorpora América Latina, ou parte dela, e parte da Ásia. Os elementos de força do campo dirigido por Washington estão no plano militar, tecnológico e econômico, mas os próprios Estados Unidos, como principalmente Europa e Japão, vítimas de prolongada estagnação econômica e intranscendência política, estão em processo de decadência. Enquanto o bloco dirigido por Rússia-China, mesmo em inferioridade militar, econômica e tecnológica, está em processo de fortalecimento. A primeira metade do século encontrará uma nova configuração de poder no mundo.
Mas antes da ofensiva da Geórgia, a
OTAN e os Estados Unidos avançaram decididos para leste e integraram em 2004,
na Aliança Atlântica, os três países bálticos: Estônia, Letônia e Lituânia e a Polônia. A Rússia ficava com quatro países
integrantes do antigo inimigo junto à sua fronteira. Ucrânia, o espaço vital agora,
em 2014, 14 anos depois da chegada de Vladimir Putin ao poder, nova ofensiva
ocidental, desta vez na sensível Ucrânia, cobiçada relíquia da Rússia dos
czares e da União Soviética, que só conheceu a Independência em 1991.
Evidentemente que a Ucrânia sempre foi uma região disputada por russos e
alemães. A. Hitler definiu-a como o espaço vital alemão e J. Stalin via-a quase
da mesma maneira. Em 2014 surgiu a oportunidade, há muito esperada pelo
Ocidente, para pôr as botas sujas na Ucrânia. E foi assim que, a reboque da
Alemanha de Merkel, a União Europeia tentou o presidente pró-russo Yanukovitch
a assinar um acordo de parceria muito aplaudido pelos ucranianos do Oeste.
Putin chamou Yanukovitch a Moscovo e obrigou-o a assinar uma parceria com a
Rússia. Os protestos na Praça Maidan, em Kiev, foram realimentados por forças sociais
e políticas nacionalistas e fascistas. O massacre de dezenas de manifestantes
em fevereiro constituiu-se em crimes políticos que ainda não está esclarecido,
fez cair Yanukovitch.
Rendition é
um filme de drama norte-americano produzido em seu país de origem em 2007 e
dirigido por Gavin Hood e estrelado por Reese Witherspoon, Meryl Streep, Peter
Sarsgaard, Alan Arkin, Jake Gyllenhaal e Omar Metwally. Centra-se na prática
controversa da CIA de “delação extraordinária”. É baseado na história de Khalid
El-Masri, que foi confundido com
Khalid Al-Masri. O filme também tem
semelhanças com o caso de Maher Arar. Ao descobrir que seu marido simplesmente
desapareceu de um voo em direção aos Estados Unidos, Isabella El-Ibrahimi
(Reese Witherspoon) começa uma desesperada luta entre Estados para descobrir
seu paradeiro. O drama fica mais ortodoxo ainda quando o observador da Central Intelligence Agence (CIA),
vivido por Jake Gyllenhaal, começa a presenciar um método político neo-ortodoxo de
interrogatório e tortura. Tudo isso, pois, de acordo com a lei “Extreme
Rendition”, um suspeito de terrorismo pode ser levado/sequestrado para seu país de origem e
lá ser interrogado por autoridades norte-americanas. Em
segundo lugar em filosofia “Absurdo” se refere ao conflito entre a tendência
humana de buscar significado inerente à vida. Ou a inabilidade humana para
encontrar algum significado. Nesse contexto “absurdo” não significa,
“logicamente impossível”, mas sim “humanamente impossível”. O universo e a
mente humana não causam separadamente o Absurdo. Mas é o que surge pela
natureza contraditória de ambos existindo simultaneamente. Esta filosofia está
relacionada ao existencialismo de Sartre
e ao niilismo de Nietzsche, ainda que não deva ser confundido com estes.
“Absurdismo”, portanto, como conceito tem suas raízes no século XIX com o
filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. Já como sistema de crença nasceu do
movimento existencialista quando o filósofo e escritor Albert Camus rompe essa linha filosófica e
publica seu manuscrito “O Mito de Sísifo”. As consequências da 2ª guerra
mundial proporcionaram um ambiente social propício para as visões “absurdista”,
especialmente na devastada França de Foucault, ou como bem retratadas em Emil Cioran, para ficarmos nestes exemplos.
O
absurdo no ensaio Le Mythe de Sisyphe é considerado um extraordinário ponto de partida.
Trata-se de uma sensibilidade, não de uma filosofia do absurdo. Albert Camus
diz isso em parte do prólogo: – “aqui se encontrará unicamente a descrição, o
estado puro de uma doença do espírito. Nenhuma metafísica, nenhuma crença foi
misturada a isso por enquanto”. Sem lugar a dúvidas, “O mito de Sísifo” é a
obra capital do absurdo. Assim como fez Jean-Paul Sartre, ao publicar em 1943 o
ensaio “O Ser e o Nada”, onde tenta exibir a tese da novela “A Náusea” (1938), Albert Camus publica o ensaio em que tenta resolver os problemas propostos em sua
narração d`“O Estranho”, ambos de 1942 (cf. Camus, 1945). Um dos aspectos
relacionados por estudiosos a este ensaio de Camus é o tema do suicídio. Foi
analisado magistralmente por Émile Durkheim (1897), mas analogamente para Albert Camus,
especialmente em sua primeira parte intitulada: “Um raciocínio absurdo”.
O
filme começa com a saída de Anwar El-Ibrahimi (o egípcio Omar Metwally) de um
hotel no Sul da África. Pouco antes de entrar no carro, ele recebe uma chamada
no celular. Sem saber quem lhe ligou, ele faz uma chamada para sua mulher,
Isabella Fields El-Ibrahimi (Reese Witherspoon), que está na casa deles, em
Chicago, brincando com o filho de seis anos, Jeremy (Aramis Knight). Em
seguida, acompanhamos um dia normal na vida do agente da CIA Douglas Freeman
(Jake Gyllenhaal) no Norte da África. Ele sai de casa para ir ao trabalho junto
ao seu chefe imediato, William Dixon (David Fabrizio), mas, no caminho, eles
presenciam um ataque terrorista na praça central da cidade. Com a morte de
Dixon, Freeman assume o seu lugar e conhece o lado obscuro e pragmático das
investigações policiais do governo norte-americano. Sob a ordem da senadora
Corrine Whitman (Meryl Streep), Anwar é preso ao desembarcar nos Estados Unidos
porque está sendo considerado provavelmente suspeito de ter envolvimento com terroristas. Ele é torturado
continuamente enquanto sua mulher viaja a Washington DC atrás de respostas. A narrativa é colocar em xeque os Estados Unidos da América depois dos ataques ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001.
A partir daí, realmente, o governo norte-americano adotou uma
postura que possibilita compreender o conceito filosófico absurdismo como pode ser visto no filme baseado em
fatos políticos reais. Como diz a senadora Corrine Whitman no filme, foi
através de tortura e prisão arbitrária que eles conseguiram “salvar 7 mil vidas
em Londres”, se referindo ao ataque terrorista na cidade que não deu certo. No
caso de Anwar o filme quer nos fazer crer ele tinha recebido ligações no
celular do homem que havia assumido o ataque terrorista. A verdade é que ele
estava recebendo chamadas de um número desconhecido – quantos de nós já não
recebemos chamados assim? – e que isso, convenhamos, não é prova e nem justificativa
para ele passar pelo que passou. Além do mais, ele estava em negócios no Sul da
África quando o ataque terrorista no Norte do país foi praticado. O simples
fato de ele estar no mesmo país e de ser egípcio o torna terrorista. Os
Estados Unidos da América (EUA) realmente estão equivocados.
Em 2002, o presidente George Bush divulgou o documento “A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos”, que ficou conhecido como Doutrina Bush. O primeiro uso do termo para se referir às políticas de George W. Bush pode ter sido referido ao jornalista e comentarista conservador Charles Krauthammer, quando utilizou o termo em fevereiro de 2001 para se referir ao presidente da abordagem unilateral para o sistema de mísseis de defesa nacional. Este documento apresenta as estratégias político-militares que foram adotadas pelo país em nome da defesa da soberania nacional, frente às ameaças de guerra em que poderiam estar sujeitos o território e o povo norte-americano. O documento declara a intenção dos Estados Unidos em agir militarmente, por conta própria e decisão unilateral em nome do direito de autodefesa, de maneira preventiva e antecipada: atacar antes e perguntar depois. Em nome do antiterrorismo e do combate de países considerados como ameaçadores aos seus interesses expansionistas, justificaram suas ações e procuraram legitimá-las diante da opinião pública americana e internacional.
A
Organização das Nações Unidas nasceu após o segundo conflito mundial para
salvar as gerações futuras do flagelo das guerras e preservar a segurança
internacional. A Assembleia Geral da instituição iniciou sua sessão de 2008, em
setembro último, abordando as crises que o mundo tem sido incapaz de resolver.
A crise financeira, a fome, a intensificação das mudanças climáticas, guerras
no Iraque, no Afeganistão e na Geórgia. Atentados terroristas de Islamabad, a
pobreza e a febre amarela foram outros temas abordados. Todos os 192
países-membros têm direito a palavra, mas apenas o Conselho de Segurança,
integrado por cinco membros permanentes com direito a veto e dez membros
rotativos, detém efetivamente poder executivo. Essas responsabilidades
propiciariam condições favoráveis à criação de instituições nacionais e locais
que possibilitassem a formação de governo representativo, a reconstrução
econômica, à criação de condições sociais para um desenvolvimento sustentável,
a proteção dos direitos humanos, a recuperação das forças da polícia civil
iraquiana e, finalmente, o incentivo aos esforços internacionais para promover
uma reforma jurídica. Três meses após a adoção daquela resolução, foi
assassinado o representante especial do secretário-geral Kofi Annan. Sérgio
Vieira de Mello (cf. Santos, 2015; Fróio, 2015), sem a devida proteção, mas com
a difícil tarefa de abreviar os conflitos e a restauração da nação, morreu após
horas de agonia, em cumprimento do seu dever. Tombou em Bagdá, vítima do
terror bilateral, quando iniciava esforços para a construção da autoridade
iraquiana.
A
diplomacia parlamentar distingue-se por ocorrer no âmbito de organização
internacional, seguir regras técnicas de procedimento e contar com debate
permanente, no que vem assemelhando-se, portanto, ao que ocorre com os parlamentos
nacionais. Mais recentemente, neste século, encontram-se referências à
diplomacia parlamentar como sendo a conduzida pelos membros dos parlamentos
nacionais. Ao lado da diplomacia profissional, os Estados também lançam mão de
missões temporárias ao exterior - diplomacia ad hoc - para desempenhar
determinada função como negociar um tratado. Este tipo de missão pode envolver
outros órgãos do Estado, como os ministérios de comércio, da fazenda, da
agricultura, da defesa etc. O direito internacional reconhece ao Chefe de
Estado um papel na diplomacia, podendo até mesmo negociar e assinar tratados
sem necessidade de plenos poderes, da mesma forma que o Ministro do Exterior.
Compete ao Chefe de Estado, em geral, a prerrogativa de ratificar os tratados assinados
em seu nome. No século XX surgiu a chamada “diplomacia presidencial”, fruto da
facilidade de comunicação social e política entre os países e da vantagem que
representa a tomada de decisão no mais alto nível.
A Doutrina Bush foi um termo político utilizado para descrever uma série de princípios relacionados com a geopolítica do ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush, declarados como resultado dos atentados de 11 de setembro de 2001. A frase inicialmente descrita na política que os Estados Unidos tinham o direito de tratar como terroristas os países que abrigam ou dão apoio aos grupos terroristas, que foi utilizado para justificar a invasão do Afeganistão. A geopolítica determinou ainda o fortalecimento das alianças com outros Estados para derrotar o chamado “terrorismo no mundo”. Mas a arrogância da declaração norte-americana deixou claro que em nome da “paz e da segurança internacional”, os Estados Unidos não permitirão a ascensão de qualquer potência, a ponto de rivalizar com o seu poder e a sua liderança militar, alcançada desde o fim da guerra fria e da União das Repúblicas Socialistas Soviética. Ao afirmar a sua condição de superpotência militar global, a Doutrina Bush aponta para o alargamento dos interesses de mercado norte-americanos. Parte desses interesses está associada ao controle das principais fontes estratégicas de energia, com a intensificação de sua influência no Oriente Médio e na Ásia Central, regiões detentoras das maiores jazidas de petróleo e gás natural. Uma consequência capciosa da Doutrina Bush é o enfraquecimento de organismos supranacionais, principalmente a Organização das Nações Unidas (ONU). A Organização das Nações nasceu após o segundo conflito mundial para salvar as gerações futuras do flagelo das guerras e preservar a segurança internacional. A Assembleia Geral da instituição iniciou sua sessão de 2008, em setembro último, abordando as crises que o mundo tem sido incapaz de resolver. A crise financeira, a fome, a intensificação das mudanças climáticas, guerras no Iraque, no Afeganistão e na Geórgia. Atentados terroristas de Islamabad, a pobreza e a febre amarela foram outros temas abordados. Todos os 192 países-membros têm direito a palavra, mas apenas o Conselho de Segurança, integrado por cinco membros permanentes com direito a veto e dez membros rotativos, detém efetivamente poder executivo. Essas responsabilidades propiciariam condições favoráveis à criação de instituições regionais e nacionais que possibilitassem a formação de um governo representativo, a reconstrução econômica, a criação de condições sociais para um desenvolvimento sustentável, a proteção dos direitos humanos, a recuperação das forças da polícia civil iraquiana e, finalmente, o incentivo aos esforços internacionais para promover uma reforma jurídica. Três meses após a adoção daquela Resolução, foi assassinado o representante especial do secretário-geral Kofi Annan. Sérgio Vieira de Mello, sem a devida proteção diplomática internacional, mas com a difícil tarefa de abreviar os conflitos e tentar a restauração de uma nação praticamente em pedaços, morreu após horas de agonia, em pleno cumprimento do dever. Tombou em Bagdá, vítima do terror bilateral, para a construção da autoridade iraquiana.
A Doutrina Bush foi expressão utilizada para descrever uma série de princípios relacionados com a política externa do ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush, declarados como resultado dos atentados de 11 de setembro de 2001. A frase inicialmente descrita na política que os Estados Unidos tinham o direito de tratar como terroristas os países que abrigam ou dão apoio aos grupos terroristas, que foi utilizado para justificar a invasão do Afeganistão. A geopolítica determinou ainda o fortalecimento das alianças com outros Estados para derrotar o chamado “terrorismo no mundo”. Mas a arrogância da declaração norte-americana deixou claro que em nome da “paz e da segurança internacional”, os Estados Unidos não permitirão a ascensão de qualquer potência, a ponto de rivalizar com o seu poder e a sua liderança militar, alcançada desde o fim da guerra fria e da URSS. Ao afirmar a sua condição de superpotência militar global, a Doutrina Bush aponta para o alargamento dos interesses de mercado norte-americanos. Parte desses interesses está associada ao controle das principais fontes estratégicas de energia, com a intensificação de sua influência no Oriente Médio e na Ásia Central, regiões detentoras das maiores jazidas de petróleo e gás natural do planeta. Uma consequência capciosa da doutrina é o enfraquecimento de organismos supranacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), nascida após a 2ª guerra mundial (1941-45) para salvar sociedades do flagelo e preservar a segurança internacional.
O
5º presidente do Iraque, Saddam Hussein (1979-2005), ficou aparentemente reconhecido,
internacionalmente, por seu uso de armas químicas na década de 1980 contra
civis iranianos e curdos durante e após a Guerra Irã-Iraque. Nesta década ele
seguiu um extenso programa de armas biológicas e um programa de armas
nucleares, embora nenhuma bomba nuclear foi construída. Após a contrapartida
norte-americana na Guerra do Golfo 1990-1991, as Nações Unidas “localizaram e
destruíram grandes quantidades de armas químicas do Iraque e equipamentos
relacionados e materiais em todo o início de 1990, com graus variados de
cooperação iraquiana e obstrução”. Em resposta à diminuição da cooperação do
Iraque com a Comissão Especial das Nações Unidas (UNSCOM), os Estados Unidos da
América convocaram para a retirada de todos os inspetores da Organização das Nações
Unidas (ONU) e da Agência Internacional de Energia Atômica ou Atômica (AIEA), que
foi estabelecida e consagrada como uma organização autônoma no coração
das Nações Unidas em 1957 e em 1998, o que resultou na Operação Desert Fox.
Os Estados Unidos e o Reino Unido afirmaram que Saddam Hussein ainda possuía
grandes reservas ocultas de armas de destruição em massa em 2003, e que ele
estava clandestinamente adquirindo e produzindo mais.
Inspeções
realizadas pela ONU para resolver a situação das questões do desarmamento não
resolvidos reiniciados de novembro de 2002 até março de 2003, nos termos da
Resolução 1441 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exigia que
Saddam desse uma “cooperação imediata, incondicional e ativa” com as instruções
para as inspeções políticas da ONU e da AIEA, pouco antes que seu país fosse
atacado. Durante os preparativos para a guerra em 2003, inspetor de armas da ONU
Hans Blix, um político e diplomata sueco pertence ao Partido Popular
Liberal. Foi ministro das relações exteriores da Suécia de 1978 a 1979 e mais
tarde se tornou o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, não havia
encontrado arsenais de armas de destruição em massa e tinha feito um progresso
significativo em direção a resolução de questões abertas do desarmamento
observando o “pró-ativa”, mas nem sempre com a cooperação “imediata” do Iraque
como solicitado pela Resolução 1441 do Conselho Segurança das Nações Unidas.
Ele concluiu que seria necessário, “mais meses” para resolver as principais
tarefas restantes do desarmamento. Os Estados Unidos da américa afirmaram que
isso representava uma violação da Resolução 1441, mas não conseguiram convencer
o Conselho de Segurança das Nações Unidas a aprovar uma nova resolução que
autoriza o uso da força, devido à falta de provas.
Apesar
de ser incapaz de obter uma nova resolução autorizando à força e citando a
seção 3 da Resolução Conjunta aprovada pelo Congresso dos EUA, O presidente
George W. Bush afirmou medidas pacíficas e que não conseguia desarmar o Iraque
das armas e ele deu início a segunda Guerra do Golfo, apesar das “várias
opiniões divergentes e questões de integridade sobre a inteligência subjacente”.
Mais tarde, inspeções lideradas pelos Estados Unidos “concordaram que o Iraque
já havia abandonado seus programas de destruição em massa, mas afirmou que o
Iraque tinha a intenção de seguir esses programas se as sanções da ONU nunca
fossem suspensas”. Bush, disse mais tarde que o maior arrependimento da sua
presidência foi a “falha de inteligência” no Iraque, enquanto o Comitê de
Inteligência do Senado concordou em 2008, que sua administração “deturpou a
inteligência e a ameaça do Iraque”. Um informante-chave da CIA no Iraque
admitiu que mentiu sobre suas alegações, “então observou em choque quando ele
foi usado para justificar a guerra”. A Assembleia Geral da instituição iniciou sua sessão de 2008, em setembro último, abordando as crises que o mundo tem sido incapaz de resolver. A crise financeira, a fome, a intensificação das mudanças climáticas, guerras no Iraque, no Afeganistão e na Geórgia. Atentados terroristas de Islamabad, a pobreza e a febre amarela foram outros temas abordados. Todos os 192 países-membros têm direito a palavra, mas apenas o Conselho de Segurança, integrado por cinco membros permanentes com direito a veto e dez membros rotativos, detém efetivamente poder executivo. Essas responsabilidades propiciariam condições favoráveis à criação de instituições nacionais e locais que possibilitassem a formação de um governo representativo, a reconstrução econômica, à criação de condições sociais para um desenvolvimento sustentável, a proteção dos direitos humanos, a recuperação das forças da polícia civil iraquiana e, finalmente, o incentivo aos esforços internacionais para promover uma ampla reforma social e jurídica. Três meses após a adoção daquela Resolução, foi assassinado o representante especial do secretário-geral Kofi Annan. Sérgio Vieira de Mello, sem proteção e apoio, mas com a difícil tarefa de abreviar os conflitos e a restauração da nação, morreu após horas de agonia, em pleno cumprimento do seu dever. Tombou em Bagdá, vítima do terrorismo internacional, quando planejava esforços diplomáticos para a reconstrução da autoridade iraquiana.
Bibliografia geral consultada.
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Noite da Verdade”. In: Revista Veja. São Paulo: Abril Cultural,
fevereiro de 1945; GOLDMANN, Lucien, Per una Sociologia del Romanzo. Milão: Editore
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Departamento de Sociologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; SANTOS, Guilherme de Paula Costa, No
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Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de Filosofia, Letras e
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FRÓIO, Liliana Ramalho, Paradiplomacia e o Impacto da Alternância de
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Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Recife: Universidade
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Defesa na Política Internacional”. In: Revista da Escola de Guerra Naval,
vol. 21, nº 2, pp. 179-202, 2015; entre outros.
_______________
* Sociólogo (UFF),
Cientista Político (UFRJ) e Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da
Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza:
Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“A igreja cristã é uma enciclopédia de cultos
pré-históricos”. Friedrich Nietzsche
A
Cidade do Vaticano é um Estado eclesiástico ou teocrático-monárquico, governado
pelo bispo de Roma, o Papa. A maior parte dos funcionários públicos são todos
os clérigos católicos de diferentes origens raciais, étnicas e nacionais. É o
território soberano da Santa Sé (Sancta Sedes) e o local de residência
do Papa, referido como o Palácio Apostólico. O nome “Vaticano” já era utilizado
na época da República Romana para o Ager Vaticanus, uma área pantanosa
na margem Oeste do Tibre em frente à cidade de Roma, localizada entre o
Janículo, a Colina do Vaticano e Monte Mario, descendo para o Monte Aventino e
até a confluência do riacho Cremera. Por causa de sua proximidade com sua
arqui-inimiga, a cidade etrusca de Veii, outro nome para o Ager Vaticanus
era Ripa Veientana ou Ripa Etrusca e por ter sido submetida às inundações do
Tibre, os romanos consideraram esta parte desabitada de Roma como
insalubre e sinistra. A qualidade particularmente baixa do vinho do Vaticano,
mesmo após a recuperação da área, foi comentada pelo poeta Marcial entre 102 e
104 d.C.
Tácito
escreveu que em 69, o Ano dos Quatro Imperadores, quando o exército do Norte
que levou Vitélio ao poder chegou a Roma, “uma grande proporção acampou nos
bairros insalubres do Vaticano, o que resultou em muitas mortes entre os
soldados comuns; e estando o Tibre por perto, a incapacidade dos gauleses e
germânicos de suportar o calor e a consequente ganância com que bebiam da
corrente enfraquecia os seus corpos, que já eram uma presa fácil para a doença”.
O topônimo Ager Vaticanus é atestado até o século I: depois, apareceu outro
topônimo, Vaticanus, denotando uma área muito mais restrita: a colina do
Vaticano, atualmente a Praça de São Pedro e possivelmente também a Via della
Conciliazione. Sob o Império Romano, muitas vilas foram construídas lá,
depois que Agripina, a Velha (14 aC-18 de outubro de 33) drenou a área e
planejou seus jardins no início do século I. No ano 40, seu filho, o imperador
Calígula (31 de agosto 12–24 de janeiro de 41 d.C.; r. 37–41) construiu em seus
jardins um circo para cocheiros (40 d.C.) que mais tarde foi concluído por
Nero, o Circo Gaii et Neronis, geralmente chamado, simplesmente, de
Circo de Nero ou Circus Neronis. A
construção do circo começou durante o reinado de Calígula numa propriedade que
era de sua própria mãe, Agripina, no chamado Agro Vaticano, o moderno rione do Borgo, e
foi terminado pelo imperador Cláudio.
O Circo de Nero foi construído num
eixo Leste-Oeste similar ao da moderna Basílica de São Pedro e da antiga
Basílica de Constantino, com um obelisco marcando o centro da espina e com seu
próprio eixo mais para o sul da basílica atual, isto é, para a esquerda se você
estiver olhando de frente para a fachada da basílica na Praça de São Pedro. As
interpretações mais antigas analisavam as ruínas colocando a entrada do
edifício na extremidade Leste em direção ao fundo da basílica e consideravam
que o circo era menor do que de fato sociologicamente se acredita hoje que ele
era. Atualmente, os estudiosos inverteram o eixo em 170 graus e indicam a
entrada voltada para o Oeste, na direção do centro de Roma. A Via Cornélia
corria ao lado da lateral Norte do circo e seu curso é conhecido com precisão
por causa dos túmulos pagãos que foram descobertos em períodos variados em suas
margens. As memórias de Sante Bartoli relatam que quando o papa Alexandre VII
estava construindo a ala Leste da colunata de Bernini e a fonte Leste, um
túmulo foi descoberto com um baixo-relevo sobre a porta representando uma cena
de um casamento. Outros túmulos foram descobertos na sequência, incluindo um
conjunto de túmulos alinhados exatamente com o túmulo de São Pedro em 9 de
novembro de 1616: “Naquele dia, eu adentrei numa sala sepulcral quadrada cujo
teto estava ornamentado com desenhos pintados no estuque.
Havia
um medalhão no centro com uma figura em alto relevo. A porta abria para a Via
Cornélia, que estava no mesmo nível. Este túmulo está localizado sob o sétimo
degrau na frente da porta central da igreja. Me disseram que o sarcófago que é
agora utilizado como fonte no pátio da Guarda Suíça foi descoberto na época de
Gregório XIII no mesmo local e que continha o corpo de um pagão”. O circo
ficava no local do primeiro martírio organizado e patrocinado pelo estado
romano em 65. A tradição defende que, dois anos depois, São Pedro e muitos
outros cristãos foram mortos ali. As circunstâncias foram detalhadas por Tácito
numa reconhecida passagem em seus Anais. O local das crucificações no
Circo de Nero pode ter sido ao longo da espina, como sugerido pelos antigos
Atos de Pedro, que descrevem o local de seu martírio como sendo inter duas
metas, que eram os dois marcos de virada nos
circos romanos. Esta identificação é provavelmente genuína dado o trauma
provocado pelo evento na comunidade cristã da época e posterior. O obelisco no
centro da espina do circo, trazido para Roma por Calígula, permaneceu no local
original, em frente à igreja de Santa Maria della Febbre, até ser removido para
a Praça de São Pedro no século XVI pelo arquiteto Domenico Fontana. A igreja
também foi demolida na obra.
A
localização tradicional do túmulo de São Pedro fica nesta região, no cemitério
já mencionado, no local onde está o altar da Basílica de São Pedro. Uma
basílica foi construída por Constantino sobre o local usando parte da estrutura
ainda existentes do Circo de Nero. Ela foi posicionada de tal forma que a
abside ficou centrada no túmulo de São Pedro (e hoje abaixo do altar da nova
basílica). O circo propriamente dito já havia sido abandonado em meados do
século II quando a área foi repartida e concedida a particulares para a
construção de túmulos numa nova necrópole. Porém, é provável que a maior parte
das ruínas tenha sobrevivido até 1450, quando elas foram finalmente destruídas
durante a construção da nova Basílica de São Pedro. O Obelisco do Vaticano foi
originalmente levado por Calígula de Heliópolis no Egito para decorar a espinha
de seu circo e é, portanto, seu último remanescente visível. Esta área se
tornou o local do martírio de muitos cristãos após o Grande Incêndio de Roma
em 64. A tradição antiga afirma que foi neste circo que São Pedro foi “crucificado
de cabeça para baixo”. Em frente ao circo havia um cemitério separado pela Via
Cornélia.
Monumentos
fúnebres e mausoléus e pequenos túmulos, bem como altares para deuses pagãos de
todos os tipos de religiões politeístas, foram construídos até a construção da
Basílica Constantiniana de São Pedro na primeira metade do século IV. O mito de
Átis e Cibele pode estar relacionado com rituais de culturas agrárias
ancestrais, que envolviam a fertilidade e a prosperidade. Nesses rituais, um
deus jovem, filho ou amante de uma deusa, morria e renascia anualmente,
fertilizando a terra. Os sacerdotes de Cibele, chamados de Galli, também eram
castrados. Os textos romanos representam os Galli de forma negativa, como
emasculados em seu corpo, vestimentas e performatividades. Um santuário
dedicado à deusa frígia Cibele e seu consorte Átis permaneceu ativo por muito
tempo depois que a antiga Basílica de São Pedro foi construída historicamente nas
proximidades. Cibele era uma deusa frígia que simbolizava a fertilidade da
natureza e era reconhecida como “Mãe dos Deuses” ou Deusa-mãe. O seu
culto começou originalmente na Ásia Menor e se espalhou por vários territórios
da Grécia Antiga. Restos desta antiga necrópole foram trazidos à luz
esporadicamente, durante reformas gerenciadas por vários papas ao longo dos
séculos, aumentando em frequência durante a Renascença até que foi escavada por
ordens do Papa Pio XII de 1939 a 1941.
A
Basílica Constantiniana foi construída em 326 sobre o que se acredita que seja
o túmulo de São Pedro, que teria sido sepultado naquele cemitério. A partir de
então, a área tornou-se mais populosa devido à atividade da basílica. Um
palácio foi construído nas proximidades no século V durante o pontificado do
Papa Símaco que reinou de 498 a 514. O Tratado de Latrão, de 1929, que
criou a cidade-Estado do Vaticano, descreve-a como uma nova criação (preâmbulo
e no artigo III) e não como um vestígio dos muito maiores Estados Pontifícios
(756–1870), que anteriormente abrangiam a região central da Itália. A maior
parte desse território foi absorvida pelo Reino de Itália em 1860 e a porção
final, ou seja, a cidade de Roma, com uma pequena área perto dela, dez anos
depois, em 1870. Os papas residem na área, que em 1929 tornou-se a Cidade do
Vaticano, desde o retorno de Avinhão em 1377. Anteriormente, residiam no
Palácio de Latrão na colina Célio oposto de Roma, que Constantino
deu ao Papa Milcíades em 313.
A
assinatura dos acordos que estabeleceram o novo Estado teve lugar neste último
edifício, dando origem ao nome Tratado de Latrão, pelo qual é reconhecido. Vaticano
ou Cidade do Vaticano, oficialmente Stato della Città del Vaticano é a sede da
Igreja Católica e uma cidade-Estado soberana sem costa marítima, cujo
território consiste de um enclave murado dentro da cidade de Roma, capital da
Itália. Com aproximadamente 44 hectares (0,44 km²) e com uma população estimada
de 1 000 habitantes, é a menor entidade territorial do mundo administrada por
um Estado. A Cidade do Vaticano é uma cidade-Estado que existe desde 1929. É
distinta da Santa Sé, que remonta ao cristianismo primitivo sendo a principal
sé episcopal de 1,5 bilhão de católicos romanos (latinos e orientais) do mundo.
Ordenanças da Cidade do Vaticano são publicadas em italiano; documentos
oficiais da Santa Sé são emitidos principalmente em latim. As duas entidades
ainda têm passaportes distintos: a Santa Sé, como não é um país, apenas trata
de questões de passaportes diplomáticos e de serviço; o Estado da Cidade do
Vaticano cuida dos passaportes comuns. Em ambos os casos, os passaportes
emitidos são muito poucos.
A
burocracia dos tempos modernos preconizou sua origem nas mudanças religiosas
verificadas após os últimos eventos no Renascimento. O moderno sistema de
produção, eminentemente racional e capitalista, não se originou das mudanças
tecnológicas nem das relações de propriedade, mas de um novo conjunto de normas
sociais morais, às quais o sociólogo Max Weber denominou o estudo clássico A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. O trabalho árduo e sujo, a
poupança compulsória e o ascetismo que proporcionaram a reaplicação das rendas
excedentes, em vez de seu dispêndio e consumo burguês urbano em símbolos
materiais e improdutivos de vaidade humana, a honra e o prestígio. O
capitalismo, a organização burocrática e a ciência moderna constituem as formas
de racionalidade que surgiram a partir das mudanças éticas religiosas.
Inicialmente em países protestantes, Inglaterra e Holanda e não necessariamente
em países católicos, conquanto essas formas de racionalidade se apoiaram nas
mudanças religiosas. A partir da distinção no plano de análise teórica entre
racionalidade finalística e valorativa, melhor dizendo, sine ira et studio, a formulação técnico-metodológica
ideal-típica da sociologia de Max Weber estava em tentar apreender os processos
pelos quais o pensamento racional, ou a racionalidade técnica e burocrática, proliferou
nas instituições modernas como os governos, a representação da forma de Estado,
e ainda o âmbito de um conjunto de práticas e saberes sociais e culturais do
indivíduo moderno.
Historicamente o termo burocracia como categoria social origina-se na
segunda metade do século XVIII. É inicialmente empregado para designar a estrutura
administrativa estatal formada pelos servidores no cargo de funcionários. A
análise de Max Weber esclarece que a burocracia antiga e moderna, existiu
em todas as formas de Estado. Contudo, foi no contexto do Estado moderno e da
ordem legal estamental que a burocracia atingiu seu mais alto grau de racionalidade e prosperidade através das
principais características de um aparato burocrático contemporâneo: a) funcionários
que ocupam cargos burocráticos são considerados servidores; b) são contratados
em virtude de competência técnica e qualificações específicas; c) cumprem
tarefas que são determinadas por normas e regulamentos escritos; d) sua
remuneração é baseada em salários estipulados em dinheiro, sujeitos a regras
hierárquicas e códigos disciplinares que estabelecem as relações de autoridade.
Toda burocracia tenta acrescentar a superioridade dos profissionalmente informados
conservando em segredo os seus conhecimentos e propósitos. A administração
burocrática propende a ser uma administração de sessões secretas, tanto
quanto possível, porque furtam a toda crítica analítica seus conhecimentos e
suas atividades. Uma ovelha ruim põe o rebaho a perder.
Um sistema doutrinário é pensado à distância se
considerarmos que os sinais ou frutos da religião existem apenas no homem.
Portanto, não há motivo para duvidar de que só no homem a semente da religião,
consiste numa qualidade que lhe é peculiar, pelo menos num grau que não existe
em qualquer outro ser vivente. A teologia de uma organização religiosa funciona
como máquina abstrata da religião em que os homens de saber designam a rota dos
rebanhos e os burocratas do pão celeste fazem a distribuição. A metáfora do rebanho
sustenta a maior organização burocrática do planeta – a igreja. A palavra
igreja, “ecclesia” ou “casa de Deus” tem diversos significados nos livros das
Sagradas Escrituras, onde os cristãos se reúnem para cumprir seus deveres
religiosos. O templo de Jerusalém era a casa de Deus e a casa de oração. O
edifício dedicado pelos cristãos ao culto de Cristo, que os sacerdotes gregos
chamavam Kyriaké, “a casa do senhor”, e, na língua inglesa, veio mais tarde a
se chamar Kirk e church. Em Roma, essa assembleia denominada Concio, é
aquela que falava Ecclesiastes e Concionator.
No
Novo Testamento, uma igreja é simplesmente um grupo de cristãos que seguem a
Cristo. A palavra pode ser usada para falar de todos aqueles que servem ao
Senhor, não importa onde estejam (Hebreus 12: 22-23). É frequentemente usada
para descrever grupos locais de discípulos que se encontram para adorarem, para
edificarem uns aos outros e para proclamarem o evangelho de Jesus. É neste
sentido que lemos sobre a igreja em Antioquia da Síria (Atos 13:1), sobre as
igrejas em Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia (Atos 14: 21-23), sobre a
igreja em Éfeso (Atos 20: 17), a igreja em Corinto (1 Coríntios 1:1; 2 Coríntios 1:1), as igrejas na região da
Galácia (Gálatas 1:2) e a igreja dos tessalonicenses. É neste ambiente de
igrejas locais que encontramos homens escolhidos para supervisionar e guiar. Os
sistemas comuns de superestruturas de denominações, de ligas internacionais de
igrejas e de hierarquias que ligam e até governam milhares de igrejas locais,
são invenções do homem. Não há modelo bíblico de tais arranjos. No Novo
Testamento, os cristãos serviam juntos em congregações locais. Eles eram gratos
pelos seus irmãos em outros lugares. Mas não tentavam criar algum laço de
organização onde os cristãos de um lugar pudessem dirigir ou governar o
trabalho de discípulos de outro lugar. Este modelo mais claramente se espraia
se considerado o ensinamento específico sobre a organização de uma igreja
local.
Nesse
último sentido, a Igreja pode ser entendida como uma pessoa, isto é, que ela
tenha o poder de querer, de pronunciar, de ordenar, de ser obedecida, de fazer
leis ou de praticar qualquer espécie de ação. Se não existir a autoridade de uma
congregação legítima, qualquer ato praticado por um conjunto de pessoas é um
ato individual de cada um dos presentes que contribuíram para a prática desse
ato. Não um ato conjunto, como se fosse de um só corpo. Não é um ato dos
ausentes ou daqueles que, estando presentes, eram contra a sua prática. Uma Igreja
pode ser definida “como um conjunto de pessoas que professam a religião cristã,
ligadas à pessoa de um soberano, que ordena a reunião e que determina quando
não deverá haver reunião. Tendo em vista que em todos os Estados semelhantes
assembleias são ilegítimas, se não são autorizadas pelo soberano civil,
constitui também uma assembleia ilegítima a reunião da Igreja em qualquer
Estado em que tiver sido proibida” (cf. Hobbes, 2014: 360).
É
compreensível que não haja na Terra, qualquer Igreja universal à qual
todos os cristãos devam obedecer, uma vez que não há nenhum poder aos quais
todos os outros Estados estejam sujeitos. Nos domínios dos diversos príncipes e
estados, existem cristãos, mas cada um deles se sujeita ao Estado do qual é
membro, não podendo, por conseguinte, sujeitar-se às ordens de qualquer outra
pessoa. Assim, uma Igreja capaz de mandar, julgar, absolver, condenar ou
praticar qualquer outro ato é o mesmo que um Estado civil formado por homens
cristãos; o Estado civil tem esse nome por serem seus súditos os homens,
enquanto a Igreja é assim denominada pelo fato de seus súditos serem os
cristãos. Governo espiritual e temporal são apenas palavras trazidas ao mundo ocidental
para confundir os homens, enganando-os quanto a seu soberano legítimo.
É
preciso haver um único governante, do contrário se origina a facção e a guerra
civil, entre a Igreja e o Estado, entre os espiritualistas e os temporalistas,
entre a espada da justiça e o escudo da fé, e, o que é pior ainda, no próprio
coração de cada cristão, entre o cristão e o homem. Chamam-se pastores os
doutores da igreja, bem como os soberanos civis. Entretanto, se entre os
pastores não houver alguma subordinação, de forma que haja apenas um chefe dos
pastores, serão ministrados aos homens doutrinas contrárias, que poderão ser
falsas, e uma delas necessariamente o será. O soberano civil é o chefe dos
pastores, segundo a lei natural. Embora o poder tanto do Estado quanto da
religião estivesse nas mãos dos reis, nenhum deles deixou de ser fiscalizado em
seu uso, a não ser quando eram bem quistos por suas capacidades naturais ou por
sua fortuna.
Max Weber
havia resumido sob a expressão racionalidade formal as “determinações” (níveis
de análise da realidade) que torna possível a ponderabilidade das ações sociais sob o aspecto
instrumental, a eficácia dos meios disponíveis; e sob o aspecto estratégico e de probabilidade em termos de legitimidade no
acerto da escolha dos meios segundo preferência, meios e condições periféricas
dadas. A denominação “formal” destina-se em especial a esse segundo aspecto da
“racionalidade eletiva”, que e diferencia então do julgamento material dos
próprios valores subjacentes às preferências dos sujeitos. Ele aplica esse
conceito como sinônimo de “racionalidade teleológica”. Trata-se da estrutura de
orientações da ação determinada pela racionalidade cognitivo-instrumental,
mediante a desconsideração de parâmetros de uma racionalidade moral-prática ou
estético-prática. Cadeias prolongadas de ações podem ser julgadas de maneira
sistemática sob o aspecto da validade da verdade e da eficácia simbólica de sua interpretação, mas que podem ser bem como
calculadas e melhoradas no sentido da racionalidade formal. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo é considerada a grande obra de Max Weber e é o seu texto mais lido e conhecido. A primeira parte desta obra foi publicada em 1904 e a segunda veio a público em 1905, depois da viagem do autor e de sua esposa aos Estados Unidos. Analisando todo o processo em seu conjunto, Weber verifica que dos dogmas e, em especial, dos impulsos morais do protestantismo, derivados após a reforma de Lutero, surge uma forma de vida de caráter metódico, disciplinado e racional. Da base moral do protestantismo surge não só a valorização religiosa do trabalho e da riqueza, mas também uma forma de vida que submete toda a existência do indivíduo a uma lógica férrea e coerente: uma personalidade sistemática e ordenada. Sem estes impulsos morais não seria possível compreender a ideia de vocação profissional, concepção que subjaz as figuras modernas do operário e do empresário. A moral dos círculos protestantes possui uma relação sociológica de afinidade eletiva com o comportamento (espírito) que subjaz ao sistema econômico e, ainda que não derive deste fator unicausal, trata-se de um impulso vital para o entendimento do mundo tanto moderno quanto contemporâneo. No final da Ética Protestante, Max Weber destaca para o que nos interessa - objeto de nossa argumentação que, apesar de secularizada, ou seja, desprovida de fundamentos religiosos, a vida aquisitiva da economia moderna generalizou-se para todo conjunto da vida social: os puritanos queriam tornar-se monges, hoje todos têm que segui-los. Esta avaliação também ganha contornos críticos, pois Weber constata que a lógica da produção, do trabalho e da riqueza envolve o mundo moderno como uma jaula de ferro (Eisernen Käfig) e se pergunta qual o destino dos tempos modernos: o ressurgimento de velhas ideias ou profecias ou uma realidade petrificada, até que a última tonelada de carvão fóssil seja queimada? Em tons que lembram Nietzsche, ele dirá ainda sobre os homens dos tempos atuais: “especialistas sem espírito, nulidades sem coração”. Esta visão crítica do capitalismo encorajou certos pensadores marxistas como Georg Lukács, Karl Löwith, Michael Löwy a ressaltarem algumas afinidades do seu pensamento com a visão marxista, corrente que, sem menosprezar as sensíveis diferenças entre as duas formas de pensamento, foi sendo denominada de webero-marxismo. No entanto, diferente da visão marxista, que privilegia os condicionamentos econômicos, Max Weber, coerente com uma visão multicausal dos fenômenos sociais, destaca seus fatores culturais e, mais tarde, concordando com Marx, enfatizará também os fatores materiais ou níveis de análise com domínio econômico no surgimento das instituições modernas.
A ironia desse uso da linguagem consiste em que a
razão, desde Immanuel Kant se refere à faculdade das ideias e inclui tanto a razão
prática quanto a faculdade de juízo estético, é identificada com o que
distingue cuidadosamente dela mesma, ou seja, com a atividade do entendimento
do sujeito cognoscente que age segundo imperativos técnicos: - “Quando se
concebe a ideia de razão, caberia a ela ter realizações maiores do que
simplesmente regrar as relações entre meios e fins; ela foi vista como
instrumento para compreender os fins, para determina-los”. Gabriel Cohn, leitor
e tradutor de Max Weber, por outro lado, considera que a chave do seu
pensamento seria definida por dois conceitos principais: padrões e dilemas.
No primeiro ele busca caracterizar formas de organização e regularidades, a partir da utilização ideal-típica de conceitos, reconstruíveis, discerníveis, identificáveis e apreendidas em seu
modo próprio de articulação. No segundo, dilemas, nas
condições culturais geradas pela dinâmica desses padrões, que opõem obstáculos
à realização das condições e possibilidades postas por eles em termos de análise social. O trabalho etnológico do sociólogo é fazer sociologia, fazer aparecer o objeto para além das normas, das categorias e dos controles da organização social. O sociólogo há muito deixou de ser um mero observador por trás das relações. Sua pesquisa se torna necessariamente uma intervenção, mesmo se ela é recusada ou se os seus efeitos são anulados. Não é mais possível separar ao nível político o estudo da organização e o dos comportamentos sociais. A posição dos atores sociais é menos abstrata, não pode ser mais definida em relação a escalas de estratificação, à distância entre o grupo de pertencimento e os grupos de referência que se constituem em instâncias de poder etc. Ela deve ser expressa diretamente em termos de influência do ator sobre a decisão que o afeta. À observação em uma organização de relações abstratas sucede a pesquisa-ação sobre mecanismos de decisão. O “campo” de estudo é menos limitado, mas as relações são mais fáceis de identificar, já que o ator se define logo em relação a outros e não em relação a regras ou escalas. Pensadores católicos modernos apoiaram-se tanto nos textos de Max Weber no que diz respeito ao aspecto de influência protestante quanto nos de Bernard Groethuysen para afirmar que “o ethos católico é anticapitalista”. Essa afirmação se encontra no livro de Amintore Fanfani, Catholicism, Protestantism and Capitalism, publicado em 1935. Como exemplo de Weber, o autor – na época um jovem intelectual católico que depois se tornaria um dos líderes do Partido Democrata Cristão e primeiro ministro da Itália – define o capitalismo como um sistema de racionalização econômica à prova de influências externas. Para Fanfani, se o protestantismo favorece a supremacia do espírito capitalista, ou melhor, legitima-o e santifica-o – tese de Weber, revista e corrigida por Hector Menteith Robertson -, “existe um abismo intransponível entre as concepções da vida católica e capitalista”. Por causa desse abismo, o catolicismo mostra uma “repugnância muito marcada” pelo capitalismo – não por um ou outro de seus aspectos, pois quase todos são acidentais, mas pela própria essência do sistema. Evidentemente, nem todos os intelectuais católicos concordam com uma concepção tão radical, e o próprio Amintore Fanfani, quando foi primeiro-ministro depois da guerra, comportou-se como um administrador típico da economia capitalista. Apesar disso, seu livro se tornou como diz Michael Novak num novo prefácio escrito em 1984, um “locus classicus do sentimento anticapitalista entre os intelectuais católicos”. Michael Novak, eminente neoconservador religioso norte-americano, é um bom exemplo do pensamento católico pró-capitalista. E, no entanto, segundo Löwy (2014: 86 e ss.), as numerosas queixa que ele faz contra o que chama de “preconceito anticapitalista do catolicismo” e a desaprovação explícita do que considera uma falha grave de sua própria tradição religiosa é uma prova, ainda que involuntária, da existência de uma espécie de afinidade negativa (Wahlverwandtschaft) ou antipatia cultural entre a ética católica e o espírito do capitalismo. Novak acusa a igreja católica de ser excessivamente conservadora. E não há dúvida de que esse preconceito anticapitalista do catolicismo e essa hostilidade contra a sociedade burguesa moderna tiveram, desde o princípio, uma orientação poderosamente conservadora, restauradora, retrógrada – em suma, reacionária. Além disso, ela tomou frequentemente a forma sinistra do antissemitismo, o judeu servindo de bode expiatório pelos males resultantes da usura, do poder corruptor do dinheiro e da ascensão do capitalismo. Paralelamente a essa tendência dominante, existia outra sensibilidade católica, motivada, por certa simpatia pelos sofrimentos dos pobres e atraídas também em certa medida pelas utopias socialistas e comunistas. É interessante notar que vários desses autores utopistas, dentre eles Ernest Bloch, Eric Fromm, serviram-se da obra de Max Weber para denunciar o protestantismo e celebrar a civilização católica moderna – o que é absolutamente contrário á intenção do autor de A ética protestante e o espírito do capitalismo. Contudo, poucos escritores socialistas elaboraram uma crítica mais profunda, radical e corrosiva da sociedade burguesa moderna, do espírito de acumulação capitalista e da lógica impessoal do dinheiro do que Charles Péguy. Ele fundou uma tradição especificamente francesa de anticapitalismo progressista cristão (principalmente católico, mas, ás vezes, ecumênico) que perdurou no século XX por meio de figuras tão diversas quanto Emmanuel Mounier e seu grupo reunido em torno da revista Esprit, o pequeno movimento de cristãos socialistas na época da Frente Popular e a rede de resistência antifascista Testemunho Cristão durante a 2ª guerra mundial. Sem contar com os padres operários dos anos 1940 e 1950, os diversos movimentos e redes cristãos, além de boa parte da juventude católica, que nos anos 1960 e 1970 simpatizou ativamente com diversos movimentos socialistas, comunistas ou revolucionários, que desde o fim da guerra manifestaram grande interesse pelo marxismo e pelo socialismo: Henri Desroche, Jean-Yves Calvez, Marie-Dominique Chenu, Jean Cardonnel, Paul Blanquart e muitos outros. Embora haja cristãos socialistas ligados à Igreja católica em muitos países, não encontramos em nenhum outro – fora da América Latina – uma tradição religiosa anticapitalista de esquerda tão ampla e considerável como na cultura católica francesa. Não é à toa que nas primeiras manifestações de cristianismo progressista na América Latina – a esquerda cristã brasileira de 1960-1962, cujo protagonista principal foi a Juventude Universitária Católica (JUC) – estivessem diretamente ligadas a essa cultura francesa. A chamada “Igreja dos pobres” da América Latina é herdeira da rejeição ética do capitalismo pelo catolicismo – a afinidade negativa – e, sobretudo dessa tradição francesa e europeia de socialismo cristão. Herbert de Souza, o Betinho, um dos principais dirigentes da JUC brasileira, prestou homenagem ao ethos anticapitalista católico tradicional num artigo publicado em 1962. O cristianismo da libertação na América Latina, não é simplesmente um prolongamento do anticapitalismo tradicional da Igreja. É essencialmente criação da nova cultura religiosa, que exprime condições específicas: capitalismo dependente, pobreza em massa, violência institucionalizada e religiosidade popular, de consequências consideráveis, com sua profunda aversão ao cosmo capitalista que se propaga.
Bibliografia geral consultada.
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Generale della Burocrazia.Turim: Edizioni Isedi, 1979; GOMES, Rita Helena, A Desobediência em
Hobbes. Tese de Doutorado em Filosofia. Belo Horizonte: Universidade
Federal de Minas Gerais, 2007; PLAÇA, Joyce Torres, A Comunicação no
Movimento Wesleyano: Pistas para uma Mídia Metodista Hoje. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Faculdade de
Humanidades e Direito. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São
Paulo, 2010; EIRÓ, Maria Idati, O Sentido da Pedagogia por Competências: De Bolonha à América Latina. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; CAMPOS, Daniel Vasconcelos, Irracionalidade e Destino no
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Filosofia. Departamento de Filosofia e Metodologia. São Carlos: Universidade
Federal de São Carlos, 2013; LÖWY, Michael, A Jaula de Aço. São Paulo:
Editorial Boitempo, 2014; HOBBES, Thomas, Leviatã ou Matéria, Forma e Poder
de um Estado Eclesiástico e Civil. 1ª edição. São Paulo: Editora Martin
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Juízos de Valor. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade
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Toledo, “A Questão Universitária em Max Weber: Entre Escritos Metodológicos e
Sociologia Política”. In: Plural, 22(1), 182-208; 2015; VASCONCELOS, Caio Eduardo Teixeira, A Teoria Crítica de
Max Weber. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de
São Paulo, 2015; FAJARDO, Maxwell Pinheiro, “Onde a Luta se Travar”: A
Expansão das Assembleias de Deus no Brasil (1946-1980). Tese de Doutorado.
Faculdade de Ciências e Letras. Assis: Universidade Estadual Paulista, 2015;
ROSA, Wanderley Pereira da, Por uma Fé Encarnada: Teologia Social e Política
no Protestantismo Brasileiro. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação
em Teologia. Departamento de Teologia. Centro de Teologia e Ciências Humanas.
Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2015; entre
outros.