terça-feira, 6 de novembro de 2018

Ministério do Esporte - Desporto, Poder & Deslegitimação no Brasil.


                                                                                                  Ubiracy de Souza Braga

Bolsonaro e Temer têm uma característica em comum: o desprezo pelo povo mais pobre”. Gleisi Hoffmann (PT)

            

Em primeiro lugar, desporto é o exercício físico praticado de forma metódica, individualmente ou em grupo, e com diversos objetivos: competição, recreação, terapia, etc., qualquer desporto que envolva o contato físico entre os praticantes, como é o caso do râguebi, boxe, futebol, judô, etc. Em segundo lugar, sede de duas Copas do Mundo (1950 e 2014), o Brasil é a única seleção a participar de todas as edições do Evento e a maior vencedora da competição, com cinco títulos, todos fora de casa. Na edição atual, o Brasil foi a primeira seleção a ser classificada, com quatro rodadas de antecedência nas eliminatórias da América do Sul. A Copa da Argentina é certamente a mais suspeita das Copas. Neste certame, o técnico Cláudio Coutinho criou uma das joias do anedotário futebolístico ao afirmar que o Brasil foi o “campeão moral” da competição, por não ter perdido nenhuma partida; antes da Copa, o treinador Cláudio Coutinho inovava o vocabulário futebolístico brasileiro, falando em “overlapping” e “ponto futuro”, lembrando Fritjof Capra. A derrota brasileira para a Noruega, por 2 x 1, foi a primeira derrota do Brasil em Primeira Fase de Copa do Mundo desde 1966 em pleno regime militar. Disputando o título em casa, o Brasil ficou em primeiro lugar do grupo, vencendo a Croácia e Camarões e empatando com o México, venceu o Chile nos pênaltis nas oitavas-de-final, venceu a Colômbia por 2 x 1 nas quartas-de-final, e foi derrotado pela Alemanha por 7 x 1 na semifinal, numa partida que depois ficou reconhecida como Mineiraço. E na disputa pela terceira colocação, perdeu para a Holanda por 3 x 0, e acabou ficando com o quarto lugar na competição mundial.

 Em sociologia, legitimação é a ação espontânea de conferir legitimidade a um ato, um processo ou uma ideologia, de modo que se torne aceitável para uma comunidade. O poder é habitualmente legitimado através da autoridade. Enquanto legitimidade pressupõe consenso mais ou menos generalizado, a legitimação refere-se ao modo de obtenção desse consenso entre os membros de uma dada coletividade. Da natureza da legitimação derivam os tipos de obediência, bem como o caráter e os efeitos sociais do seu exercício. Portanto, a legitimação é decorrente da percepção, por parte dos cidadãos, de que as instituições dentro das quais eles vivem são justas, benevolentes e existem no melhor interesse deles, merecedor do seu apoio, sua lealdade e adesão. A crise de legitimação é uma condição em que uma ordem política ou um governo não é capaz de obter adesão, nem de investir-se de autoridade suficiente para governar. Os altos índices de abstenção eleitoral em sociedades democráticas, por exemplo,  podem ser considerados como um indicador de uma crise política de legitimação.



Gustavo Capanema chefiou o Ministério da Educação por um longo período, de 1934 a 1945. Foi marcante a presença de intelectuais famosos junto ao ministro, como consultores, formuladores de projetos, defensores de propostas educativas ou autores de programas de governo. Durante toda a sua gestão Capanema contou com a fidelidade do poeta Carlos Drummond de Andrade como seu chefe de gabinete, e recebeu também a colaboração de Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Heitor Villa-Lobos e Manuel Bandeira, entre outros representantes da cultura, da literatura e da música nacionais. A história institucional e política do esporte no Brasil teve início com o golpe de Estado de 1937 com a criação da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura.
Em 1970, no regime militar a Divisão foi transformada em Departamento de Educação Física e Desportos, vinculada ao Ministério da Educação e Cultura. Em 1978, o Departamento foi transformado em Secretaria de Educação Física e Desporto do Ministério da Educação até 1989. O presidente eleito Fernando Collor, em 1990, extingue a Secretaria ligada ao Ministério da Educação e cria a Secretaria de Desportos da Presidência da República. Após a deposição do presidente Collor, envolvido em corrupção o esporte voltou a ser vinculado ao Ministério da Educação, com a Secretaria de Desportos. Contudo, o esporte ganhou estatuto de Ministério em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente da República. Desde então, o setor se profissionalizou e teve aumento de receita, constituindo uma política nacional de esporte. Além de desenvolver o esporte competitivo, de alto rendimento, o Ministério criou ações de inclusão social por meio do esporte, garantindo aos trabalhadores (as) o acesso gratuito à prática esportiva, qualidade de vida e desenvolvimento humano.
No âmbito do esporte na passagem do governo de Fernando Henrique Cardoso para o governo Lula, cogitou-se a extinção do antigo Ministério do Esporte e Turismo (MET), indo o turismo para o Ministério do Desenvolvimento e o esporte para novo Ministério da Juventude, Lazer e Esporte. Cogitou-se também a criação de uma Agência Nacional para o Esporte nos moldes das demais agências, o que não inviabilizaria a existência de um ministério com pastas divididas, como já vinha ocorrendo. Contudo, o novo governo preferiu a criação do Ministério do Esporte, atribuindo ao esporte, pela primeira vez na história do Brasil, status de ministério permanente, sinalizando sua importância por razões históricas e culturais que o governo estava dedicando a esse campo. Na repartição dos ministérios entre a base aliada do governo, na época composta apenas pelo próprio Partido dos Trabalhadores, o Partido Socialista Brasileiro e o Partido Liberal, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), prevendo a necessidade de negociar ministérios com outros partidos políticos, ofereceu o Ministério do Esporte ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) é um partido político brasileiro que define-se como sendo de esquerda e baseado ideologicamente nos princípios do marxismo-leninismo. Foi criado em 1958 como uma dissidência alinhada ao stalinismo dentro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que, àquela conjuntura política internacional, apoiava as reformas defendidas por Nikita Khrushchov durante o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética em 1956 e que, mais tarde, ficaram conhecidas como desestalinização.
A dissidência era liderada por Maurício Grabois, João Amazonas e Pedro Pomar e resolveu se separar do partido após o documento Carta dos Cem, assinada por cem militantes, em quatro Estados do País, ter sido rejeitado no V Congresso do PCB. Logo após, em 1962, é fundado por essa dissidência o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Desde o seu surgimento, o PCdoB seguiu diversas linhas políticas baseadas em distintas experiências comunistas pelo mundo. Surgiu sendo contrário à linha adotada por Nikita Khrushchov (1894-1971) na antiga União Soviética e reivindicando o legado de Josef Stalin (1878-1953). Nos anos 1960, adotou a linha político-ideológica maoísta com o Partido Comunista da China (PCC) e passa a praticar a tática de guerra de guerrilhas, pois o PCdoB é famoso pela atuação na Guerrilha do Araguaia, entre fins da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970. Em 1978, passou a reivindicar o comunismo da Albânia (Hoxhaísmo). Edita o jornal A Classe Operária e a revista Princípios e, internacionalmente, é membro do Foro de São Paulo. No movimento estudantil, organiza-se na União da Juventude Socialista (UJS) e, no movimento sindical, organiza-se junto ao PSB pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Na verdade, não se sabe bem a certo quando, estatisticamente passamos a ser considerados como o país do futebol. Se na década de 1950, após a Copa do Mundo no Brasil, na década de 1970, com a conquista do tricampeonato, ou com o grande “êxodo” dos nossos jogadores para o mercado globalizado da década de 1990. O fato cultural é que não dá para escapar deste título. Apontar a importância do futebol para a sociedade brasileira não nos impede de conhecer a realidade na qual estamos inseridos e para onde precisamos caminhar sociologicamente. A começar pelo próprio futebol, o lado riquíssimo de interpenetração com a cultura mundial e dos altos salários e contratos contrasta necessariamente com uma realidade dura para a maioria dos jogadores. Números aproximados apontam que 82% dos jogadores brasileiros recebem até R$ R$ 1000,00 por mês. Junte-se a isso a todos os mandos e desmandos de dirigentes autoritários de clubes fetichistas, redes de televisão e federações no Brasil que não demonstram possuir princípios éticos e preocupação com as torcidas e seus interesses.
Somados a estes problemas de ordem política e social, temos também a tendência dos mass mídia e empresários do meio desportivo de elitização do esporte no Brasil. A passos largos, temos acompanhado esta grande investida, que tenta tornar o futebol um produto cada vez mais caro e de poucos. Afinal, que outra justificativa poderíamos ter para em um país com salário mínimo irreal, e encontrarmos camisas de clubes com valores e ingressos superfaturados para o futebol? Mas, o povo brasileiro insiste em gostar de futebol. Torcer pela seleção brasileira não significa torcer pela CBF ou por seus nem sempre corruptos cartolas. Assim, quando torcemos por nossos clubes de futebol não estão torcendo por seus dirigentes. Extrapolando um pouco o futebol, podemos também dizer que torcer ou vibrar e se emocionar com a Copa do Mundo não significa que estamos fechando os olhos para a triste realidade que vivemos em um país que afunda cada vez mais após o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e que mantém em prisão política o maior presidente da história política deste país, o Lula.
O filósofo Vladimir Safatle ironizou o “golpe primário” em ação contra o governo Dilma. - “Depois de anos operando nas sombras, o vice-presidente conspirador resolveu transformar seu partido-ônibus em uma máquina monofônica organizada para garantir que ele será, enfim, alçado à Presidência da República nos próximos meses”, comentou ele sobre Michel Temer. Fala ainda da sua aliança com Eduardo Cunha (PMDB) pelo golpe e para afastar o líder do partido Leonardo Picciani. Quanto ao PSDB, cita os casos de corrupção envolvendo o partido, como os esquemas de Delcídio do Amaral quando participava da empresa brasileira de petróleo - Petrobras no governo FHC. - “De fato, ninguém melhor para liderar tal indignação do que o partido de Geraldo Alstom Alckmin, de Marconi Carlos Cachoeira Perillo, partido já comandado por pessoas do quilate de Eduardo Azeredo, recém-condenado a 20 anos de prisão por idealizar o mensalão”. Menciona o “Superpato da FIESP e de seu presidente vitalício, que não deixou de anunciar a esperada adesão dos empresários paulistas, ou do que restou deles, ao golpe”. - “É certo que este álbum de fotografias inacreditável de um golpe primário mostra muito mais do que a inanidade da oposição e a inépcia do governo. Se, por sua vez, a oposição der o golpe de Estado, este será só o começo de uma das mais profundas e retrógradas crises institucionais, políticas  e sociais que o país reconhecerá como um triste legado. No poder, estará a mais crassa casta oligárquica à frente de um governo ilegítimo, com poderes policiais e repressivos reforçados”.
Na política contemporânea, um partido “pega-tudo”, também chamado “partido-ônibus” (“catch-all party”), segundo a definição de Otto Kirchheimer (1905-1965), considerado um dos maiores constitucionalistas alemães, é um partido político que tem como escopo atrair pessoas para a cena pública com diversos pontos de vista. O partido não exige a adesão a alguma ideologia como critério para a adesão. Em 1928, Kirchheimer conclui sua graduação com o título de Doutor (Dr. jur., “magna cum laude”) pela Universidade de Bonn, apresentando o trabalho “Acerca da Teoria do Estado do Socialismo e Bolchevismo”. Em Bonn, Otto Kirchheimer era reconhecido como o “preferido” de Carl Schmitt, torna-se adepto do ideário socialista, filiando-se mais tarde membro do Partido Socialista Alemão (PSD). Entre 1930 e 1933, Kirchheimer trabalha como colaborador do periódico socialdemocrata “A Sociedade” e como professor de Ciência Política na escola técnica de comércio. No curto período entre 1932 e 1933, advoga em Berlim.
Durante a República de Weimar, estabelecida na Alemanha após a 1ª grande guerra, em 1919, e que durou até ao início do regime nazifascista, em 1933, tendo como sistema de governo uma democracia representativa compreendida como aparentemente semi-presidencial. O Presidente da República nomeava um chanceler que era responsável pelo poder executivo. Quanto ao poder legislativo, era constituído por um parlamento federal (“Reichstag”) e por parlamentos estaduais (“Landtag”). O nome oficial da Alemanha continuou, sob a República de Weimar ideologicamente a ser chamado “Deutsches Reich”. Este período ratifica o nome Weimar, pois foi nesta cidade Alemanha central (Turíngia) que reuniu desde 6 de fevereiro até 11 de Agosto de 1919, data da aprovação da nova Constituição, a Assembleia Nacional Constituinte da República. Kirchheimer  trava polêmica sobre a relação entre a estrutura social e a Constituição. Num polêmico artigo, “Weimar e o que mais? Origem e Presente da Constituição de Weimar“, diz que a Constituição de Weimar não é voltada para o futuro. Kirchheimer permanece próximo do publicista conservador Carl Schmitt.
Em 1932, Kirchheimer publica um artigo intitulado “Legalidade e Legitimidade” no periódico socialista “A Sociedade”. O ensaio “Punição e estrutura social”, de Georg Rusche e Otto Kirchheimer, é a primeira obra da Escola de Frankfurt editada pela Columbia University Press de Nova Iorque, em 1939. As relações entre o crime e o meio social, a questão social como causa básica da quantidade de crimes, métodos de punição e práticas penais são alguns dos temas abordados. O elemento-chave da obra é o nascimento das prisões, forma especificamente burguesa de punição, na passagem ao capitalismo. Georg Rusche baseia sua análise no princípio de que as condições de vida no cárcere e as oferecidas pelas instituições assistenciais devem ser inferiores às das categorias mais baixas dos trabalhadores livres, de modo a constranger ao trabalho e salvaguardar os efeitos dissuasivos da pena, relacionado ao mercado de trabalho.
Com a intenção do Partido dos Trabalhadores em destinar esse espaço ao PCdoB e perante a assertiva de um importante deputado do PCdoB em assumir como ministro fica decidido a criação do novo Ministério do Esporte. Ou seja, a despeito da importância constitucional do esporte ao conjunto da sociedade brasileira, o que efetivamente ocasionou a criação do Ministério do Esporte, foi a acomodação política de um partido político aliado. Com 12 deputados federais, sem senador eleito em 2002, o partido apoiara Luiz Inácio Lula da Silva desde a primeira candidatura à Presidência da República em 1989. Apesar da resistência em aceitá-lo no primeiro momento, depois de consumada a indicação do PCdoB para assumir o Ministério, seu presidente Renato Rabelo percebeu que a oportunidade poderia render frutos, como declarou: - “No início, quando o presidente Lula propôs o Ministério do Esporte, não era exatamente o que pensava o PCdoB porque nós não tínhamos experiência nem traquejo nessa área”. Aceitado o convite para dirigir o recém-criado Ministério do Esporte, o escolhido para o cargo de Ministro do Esporte foi o médico baiano e deputado pelo Distrito Federal Agnelo Queiroz, aliado ao partido político desde a redemocratização em 1985.
O Ministério do Esporte (ME) do Brasil foi criado, em 1995, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 1995, o esporte ganhou pasta própria, chamada Ministério Extraordinário do Esporte, ainda cabia vínculo de dependência administrativa à Secretaria de Desportos vinculada ao MEC, de apoio técnico e administrativo. Em março de 1995, a secretaria é transformada no Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (INDESP), sendo desvinculado do MEC e subordinado ao novo ministério. Em 31 de dezembro de 1998, pela MP n° 1.794-8, o ministério englobou o tema técnico de turismo e passou a ser chamado Ministério do Esporte e Turismo. No inicio do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o tema de turismo ganhou pasta própria e o ministério passou a ser chamado de Ministério do Esporte.
O início do processo político de legitimação ocorre quando Agnelo Queiroz,  deputado federal, assumiu o então recém-criado Ministério do Esporte em janeiro de 2003. Em 31 de março de 2006, deixou o cargo para candidatar-se ao Senado. Quem assumiu o Ministério interinamente foi o secretário executivo, Orlando Silva Júnior, o mais jovem ministro do Brasil, com 34 anos. Institucionalmente foi confirmado como ministro do Esporte no ano 2007, cargo que ocupou até o dia 26 de outubro de 2011. No dia 31 de outubro de 2011 tomou posse ministro Aldo Rebelo. O titular da Pasta presidiu a Câmara dos Deputados entre 2005 e 2007 e foi ministro de Relações Institucionais em 2004 e 2005, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 2 de janeiro de 2015, o deputado federal George Hilton assumiu a pasta. O primeiro mandato na Câmara dos Deputados ocorreu na legislatura de 2007/2011 pelo Partido Progressista (PP). Já pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), o deputado federal cumpriu o segundo mandato, de 2011 a 2015, e foi reeleito para o período de 2015/2019.
A Presidência da República anunciou no dia 30 março de 2016 o nome de Ricardo Leyser Gonçalves, para assumir de forma interina o comando do Ministério do Esporte. Entre janeiro e novembro de 2015, exerceu o cargo de secretário-executivo do Ministério. Em 12 de maio de 2016 tomou posse como ministro do Esporte o deputado federal Leonardo Picciani (RJ). Agropecuarista e bacharel em Direito, exerce o quarto mandato consecutivo de deputado federal pelo MDB do Rio de Janeiro. Foi secretário de Estado de Habitação do Rio de Janeiro, entre 2009 e 2011, e assessor da Presidência do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, entre 1998 e 2002. Na Câmara dos Deputados, integrou burocraticamente as comissões permanentes de Constituição e Justiça e de Cidadania, de Legislação Participativa, de Fiscalização Financeira e Controle e de Desenvolvimento Urbano. Entre as especiais, atuou em diversas comissões e no caso desportivo, da Copa do Mundo e das Confederações, Aprimoramento das Instituições Brasileiras, Aplicação dos Recursos dos Royalties e Reforma do Código Penal.
O que importa nesse momento é a realização dos objetivos punitivos do Estado, tornando-se descartáveis as garantias conquistadas pelos cidadãos ao longo da história da punição.  Os esforços do Estado convergiram para a introdução de uma política punitiva mais severa e brutal, baseada em princípios pretensamente educacionais. Para o sucesso da empreitada, foi fundamental a mantença de um baixo nível de vida das classes subalternas –  que não era difícil em vista a crise econômica na Alemanha – e incutir nelas a distinção moral entre pobres honestos e desonestos, com a consequente execração dos últimos. O novo sistema penal ostentava três características marcantes: o retorno da pena capital; a demonização do delinquente, sendo o crime por ele perpetrado considerado uma traição à comunidade e nunca a manifestação de uma oposição ao Estado; bem como a supressão da assistência judicial. Todas elas demonstram o incremento do poderio do Estado à custa da insegurança dos cidadãos.
Rusche e Kirchheimer, pelo estudo das estatísticas criminais de diversos países europeus, colhidas ao longo das primeiras décadas do século XX, defendem que a adoção de uma política criminal mais liberal não tem nenhum efeito negativo sobre a criminalidade, sendo, em contrapartida, coincidente com a queda dos citados índices.    E vão além ao defender que “a conclusão é inegável. Uma vez mais, vemos que a taxa de criminalidade não é afetada pela política penal, mas está intimamente dependente do desenvolvimento econômico”. Diante deste breve comentário, fica evidente que a obra: “Punição e Estrutura Social” (2004) despe o “véu de noiva” do sistema penal de análise ingênua que muitas vezes é realizada, revelando, em contrapartida, que esse sistema não pode ser compreendido isoladamente, como se fosse distinto e segregado de toda a realidade social que vivenciamos, especialmente a econômica. Não é a quantidade e a qualidade das penas que determina uma maior ou menor prática de crimes, mas as condições sociais de vida oferecidas à população, muitas vezes vitimada pela falta de assistência dos governos democráticos e pela ganância das classes dominantes. O sistema penal não é um fenômeno isolado sujeito apenas às suas leis especiais. É parte de todo o sistema social globalizado, e compartilha suas aspirações e seus defeitos.
A inserção da “lógica” de mercado como discurso dominante em múltiplos setores da sociedade conduz a mudanças nas organizações. No cenário do futebol essa tese demonstra-se adequada na medida em que seus contextos sociais de referência e os valores aos quais ele se subordina se alteraram profunda e velozmente nas últimas décadas. Conceitos e práticas empresariais se impõem e modificam o discurso de seus dirigentes, bem como as bases de sua legitimação em dado contexto específico. A ascensão de uma nova lógica traz consigo novos atores, procedimentos e categorias econômicas, antes exclusivas das organizações como empresários, mercadoria, clientela, eficiência, resultado e competitividade. Assim como o cinema ou as artes plásticas, o esporte é tratado como uma indústria cultural que envolve diversas organizações públicas, privadas ou aparentemente não lucrativas, que provêm produtos e serviços, bem como organizações profissionais que contratam atletas, cineastas, atores, artistas plásticos, professores ou curadores pagando por seu trabalho, além das empresas de entretenimento, especialmente além da mídia televisiva, àquelas disponíveis nas redes.
Curiosamente a provável fusão do Ministério do Esporte à Educação e Cultura pretendida por Jair Bolsonaro ligou o alerta no espetáculo esportivo. Representantes de entidades civis e dirigentes afirmam estar mais preocupados com a forma como o setor será conduzido a partir de 2019 que com a extinção ou não da pasta. a ex-jogadora de vôlei Ana Moser acredita que se a pauta for “esporte para todos”, algo que ainda não está implementado no país, não importa o ministério ao qual a área estará vinculada. Para Ana, o esporte precisa de um programa de estado sólido, como acontece na saúde, na educação e na cultura. - O que menos importa é onde o esporte estará, desde que haja a garantia da sua relevância, tendo em vista que um ministério imputa mais relevância do que uma secretaria na briga pela manutenção de leis de incentivo, por exemplo. Ana Moser chama a atenção para o risco de um discurso simplista ao associar esporte à educação no âmbito escolar. Ela faz autocrítica de classe, que não trabalhou o suficiente para criar um plano nacional para o setor: - Não há uma estrutura geral. O que temos é um sistema federativo de clubes, federações e confederações. Isso envolve uma parcela ínfima de dezenas de milhares dentro de uma população de 200 milhões de pessoas.
A institucionalização não é um processo irreversível, a despeito do fato das instituições, uma vez formadas, terem a tendência a perdurar, por uma multiplicidade de razões históricas, a extensão das ações institucionalizadas pode diminuir. Pode haver desinstitucionalização em certas áreas da vida social. A deslegitimação de uma prática social ou procedimento outrora institucionalizado é denominado desinstitucionalização. Ela implica uma nova legitimidade e refere-se ao processo pelo qual a legitimidade de uma estabilidade ou prática organizacional institucionalizada se degrada ou sofre uma descontinuidade. Configura-se um tipo de mudança institucional que pode ser entendida como produto de algumas intervenções de frações de classes e de choques exógenos que rompem uma ordem estabilizada. Os mecanismos políticos e sociais são determinantes nesse processo. As pressões simultâneas de entropia e inércia moderam o nível de desinstitucionalização. A entropia prática organizacional tende a acelerar o processo de desinstitucionalização e a inércia organizacional tende a impedi-la. Ambas determinam a provável dissipação e rejeição de uma prática organizacional institucionalizada.
Na Esplanada dos Ministérios desenhada pelo arquiteto comunista Oscar Niemeyer e Lúcio Costa há 19 edifícios. Muitos deles abrigam mais de uma pasta, mas, ainda assim, não sobra espaço e o governo peremptoriamente aluga mais prédios. O Ministério do Ambiente, por exemplo, divide um edifício na Esplanada com o da Cultura, mas teve de alugar salas em outro local em Brasília, onde instalou secretarias. O Ministério da Cultura também aluga salas e gasta R$ 1,3 milhão ao mês com locação de imóveis. No total, a pasta desembolsa R$ 141,7 milhões somente com o custeio de sua máquina burocrática. Segundo o Portal da Transparência, este ano o governo federal já pagou R$ 21,5 milhões para o aluguel de prédios em todo o país. Esse inchaço não começa com a presidente Dilma Rousseff. Vem da forma como se faz política no Brasil: as pessoas são chamadas para ocupar espaço segundo critérios do governo. O grande número de ministérios e ministros no primeiro escalão do governo federal provoca, além das contumazes críticas, desgaste para o governo. A formação de uma equipe que representa os partidos vitoriosos nas urnas junto com o presidente é comum, e aconteceu em todos os governos. Não foi diferente nos mandatos do ex-presidente FHC, que também enfrentou disputas acirradas entre aliados por cargos na Esplanada.
Bibliografia geral consultada.
FREITAS, Francisco Mauri de Carvalho, A Miséria da Educação Física. Campinas: Editora Papirus, 1991; ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric, Deporte y ocio en el proceso de la civilizacion. 2ª ediciones. México: Fondo de Cultura Económica, 1995; MAFFESOLI, Michel, El Instante Eterno. El Retorno de lo Trágico en las Sociedades Posmodernas. Buenos Aires: Ediciones Paidós, 2001; KIRCHEIMER, Otto, Punição e Estrutura Social. Tradução de Gizlene Neder. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2004; FILGUEIRAS, Luiz; GONÇALVES, Reinaldo, A Economia Política do Governo Lula. Rio de Janeiro: Editor Contraponto, 2007; ATHAYDE, Pedro Fernando Avalone, Programa Segundo Tempo: Conceitos, Gestão Efeitos. Dissertação de Mestrado em Educação Física. Faculdade de Educação Física. Brasília: Universidade de Brasília, 2009; MELO, Marcelo Paula de, Esporte e Dominação Burguesa no Século XXI: A Agenda dos Organismos Internacionais e sua Incidência nas Políticas de Esportes no Brasil de Hoje. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação de Serviço Social. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011; PENNA, Adriana Machado, Esporte Contemporâneo: Um Novo Templo do Capital Monopolista. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2011; CASTELAN, Lia Polegato, As Conferencias Nacionais do Esporte na Configuração da Politica Esportiva e de Lazer no Governo Lula (2003-2010). Dissertação de Mestrado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2011; FERRARI, Rodrigo Duarte, Gestão da Informação e Conhecimento em Esporte e Lazer: O Caso do Repositório Institucional da Rede CEDES (RIRC). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Centro de Desportos. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012; ESPÍRITO SANTO FILHO, Edson do, O Esporte no Brasil do Século XXI: Balanço Crítico da Política do Ministério do Esporte no Período 2003-2012. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2013; CARNEIRO, Fernando Henrique Silva, O Financiamento do Esporte no Brasil: Aspectos da Atuação Estatal nos Governos Lula e Dilma. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Faculdade de Educação Física. Brasília: Universidade de Brasília, Brasília, 2018; TONIETTI, Diego Ferreira, O Dinheiro Partido: Análises das Transferências Voluntárias da União na Política de Esporte. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física. Brasília: Universidade de Brasília, 2018; entre outros.

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