É difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, dizia Freud (2011), com razão, sobre a questão tópica do mal-estar na civilização, de que buscam poder, sucesso, riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, assim subestimando os autênticos valores da vida. E, no entanto, corremos o risco, num julgamento assim genérico, de esquecer a variedade do humano - last but not least – e de sua vida psíquica. Existem homens socialmente que não deixam de ser venerados pelos contemporâneos, como o escritor Herman Hesse, embora sua grandeza repouse em qualidades e realizações inteiramente alheias aos objetivos e ideais da multidão. Provavelmente se há de supor que apenas uma minoria reconhece esses grandes homens, enquanto a maioria os ignora. Mas a coisa, é claro, pode não ser tão simples assim, devido à incongruência entre as ideias e os atos das pessoas e à diversidade dos seus desejos. A ideia de que o homem adquire noção de seu vínculo com o mundo por um sentimento imediato, desde o início orientado para isso, é tão estranha, ajusta-se tão mal à nossa trama, que podemos tentar uma explicação psicanalítica, isto é, genética para esse sentimento. A seguinte linha de pensamento se oferece. Normalmente nada é mais seguro do que o sentimento de nós mesmos, de nosso Eu. Este Eu nos aparece como autônomo, unitário, bem demarcado de tudo o mais. Que esta aparência é enganosa, que o Eu na verdade se prolonga para dentro, sem fronteira nítida, numa entidade psíquica inconsciente a que denominamos Id, à qual ele serve de fachada – isto aprendemos com a pesquisa psicanalítica, mas que não é bem o caso, na sociologia que propugnamos.
De
acordo com previsões da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2050, 1
em cada 4 pessoas do planeta será africana. Segundo informações, a população do
continente deve quase dobrar para 2,5 milhões nos próximos 25 anos. Em 1950, os
povos africanos representavam 8% da população mundial, mas com o aumento da
taxa de natalidade esse número tem crescido expressivamente, diferente dos
países mais ricos, onde a população envelhece e vive com a preocupação sobre
como manterá suas sociedades no futuro por conta do avanço da idade de seus
cidadãos. A média de idade das pessoas no continente africano, formado por 54
países, é de 19 anos, enquanto na índia, considerado o país mais populoso do
mundo, a média é de 28 anos, já na China e nos Estados Unidos da América é de
38 anos. Ainda não se sabe quais mudanças culturais podem acontecer a partir
desse novo cenário que se desenha para o futuro da população mundial, em
especial de África, mas alguns sinais podem ser vistos em muitos aspectos,
como na música, nos esportes e também nos negócios. O G-20 estuda, analisa e
promove a discussão entre os países mais ricos e os emergentes sobre questões
políticas relacionadas com a promoção da estabilidade financeira internacional
e encaminha as questões que estão além das responsabilidades individuais de organização.
De
olho atento nas mudanças sociais e políticas de um “futuro próximo”, líderes de
países africanos se juntaram ao G20, principal fórum de cooperação econômica
internacional, como uma forma de demonstrar que também podem contribuir
diretamente com o desenvolvimento da economia mundial, não apenas como nações
que são vítimas de mazelas. O continente deve inaugurar a próxima década
composto pela maior força de trabalho do mundo, ultrapassando Índia e China,
que lideram os índices populacionais. Até 2040, 2 em cada 5 crianças nascidas
no planeta serão originárias de África. Segundo reportagem do jornal
norte-americano, The New York Times, “em média, os africanos comem
melhor e vivem mais do que nunca. A mortalidade infantil foi reduzida pela
metade desde 2000”, fatores que podem colaborar para o aumento populacional a
longo prazo. Mas o desafio para muitos países em África será oferecer condições
para que seus cidadãos vivam com mais qualidade e tenham oportunidades. Na
Nigéria, por exemplo, quase dois terços dos habitantes vivem com US$ 2 por dia
e a expectativa é de que até 2050 o país ultrapasse os Estados Unidos da
América na posição de terceiro país mais populoso do mundo. O desemprego é uma
questão que preocupa, já que, segundo dados do Banco Mundial, menos de 1 em
cada 4 africanos conseguem um emprego formal.
Mesmo diante desses cenários difíceis, alguns números relacionados a educação e acesso à internet têm melhorado no continente. De acordo com a reportagem do Times, 44% dos jovens africanos se formaram no ensino médio em 2020, um aumento considerável se comparado aos formandos de 2000, que eram 27%. Além disso, 570 milhões de pessoas têm acesso à internet – rede mundial de computadores. Com o crescimento da importância do G-20 a partir da reunião de 2008, em Washington, e diante da crise econômica mundial, os líderes participantes anunciaram, em 25 de setembro de 2009, que o G-20 seria o novo conselho internacional permanente de cooperação econômica, eclipsando o G8, constituído até então pelas sete economias mais industrializadas no mundo e a Rússia. O objetivo principal do G20 é reunir regularmente as mais importantes economias industrializadas e emergentes para discutir questões-chave da economia global e promover políticas compatíveis com o comunicado aprovado pelo G20, na reunião de Berlim, em 2004. Este acordo realça uma variedade da política neoliberal, incluindo: Reunião do G20 realizada em Washington, D.C. em 5 de novembro de 2008. Eliminação de restrições no movimento de capital internacional; Desregulação; Condições de mercado de trabalho flexíveis; Privatização; Garantia de direitos de propriedade intelectual e de outros direitos de propriedade privados; Criação de um clima de negócios que favoreça a realização de investimentos estrangeiros diretos; Liberalização do comércio global pela OMC e acordos bilaterais de comércio
Em
2006 o tema da reunião do G20 teve como representação social “Construindo e
Sustentando a Prosperidade”. As questões discutidas incluíram reformas
domésticas para realizar o “crescimento sustentado”, energia e mercados globais
de commodities, a “reforma” do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional, e o impacto de mudanças demográficas decorrentes do
envelhecimento da população. O G-20 foi criado como uma resposta tanto para a
crise financeira de 2007-2010 e para um crescente reconhecimento de que os
países emergentes não foram adequadamente incluídos no núcleo da discussão
econômica global e governança. O G-20 Cúpulas de Chefes de Estado ou governo
foram realizadas, além de as reuniões do G-20 dos Ministros das Finanças e
Governadores dos Bancos Centrais, que continuaram a se reunir para preparar
cúpula dos líderes e implementar suas decisões. Após a estreia da cúpula em
Washington-DC em 2008, os líderes do G-20 se encontraram duas vezes por ano em
Londres e Pittsburgh em 2009, Toronto e Seul em 2010. A partir de 2011, quando
a França presidiu e organizou o G-20, as cúpulas serão realizadas apenas uma
vez por ano. Para decidir qual nação membro vai presidir a reunião dos líderes
do G20 em um determinado ano, todos os membros, exceto a União Europeia, são
atribuídos a um dos cinco grupos diferentes, com todos menos um grupo com
quatro membros e o outro com três. Nações da mesma região são do
mesmo grupo, exceto Grupo 1 e Grupo 2.
Todos os países de um grupo são elegíveis para assumir a presidência do G20 quando for a vez de seu grupo. Portanto, os estados do grupo relevante precisam negociar entre si para selecionar o próximo presidente do G20. A cada ano, um país membro do G20 diferente assume a presidência a partir de 1º de dezembro até 30 de novembro. Esse sistema está em vigor desde 2010, quando a Coreia do Sul, que está no Grupo 5, assumiu a presidência do G20. A reunião de cúpula do G-20 em Seul, nos dias 11 e 12 de novembro de 2010, teve como tema a guerra cambial que afeta o comércio internacional, em razão da desvalorização do dólar, com a consequente valorização das moedas de outros países, o que torna os produtos desses países mais caros no mercado global e, portanto, menos competitivos. No final do Encontro, os líderes do grupo dos 20 emitiram uma Declaração, comprometendo-se a evitar desvalorizações competitivas de moedas e a fortalecer a cooperação internacional, visando reduzir os desequilíbrios globais. Analistas avaliaram o comunicado do G20 apenas como uma declaração de intenções, sem indicação de medidas concretas. Em 2007, na África do Sul, os principais temas propostos foram: Evolução econômica global e doméstica; Reforma das Instituições de Bretton Woods; Elementos fiscais de crescimento e desenvolvimento (espaço fiscal); Commodities e estabilidade financeira. Nas reuniões de cúpula do G-20, participam os líderes dos 19 países e também da União Africana e União Europeia. Nas reuniões de nível ministerial, participam os respectivos ministros das finanças e presidentes de bancos centrais.
De
todo modo a patologia nos apresenta um grande número de estados em que a
delimitação do Eu ante o mundo externo se torna problemática, e nos faz lembrar
a expressão de despedida de Gilles Deleuze (1997) que tomamos de empréstimo,
através das palavras, entre as palavras, que se vê e que se ouve: - “A vergonha
de ser um homem: haverá razão melhor para escrever?”. Ipso facto, no prefácio à
2ª edição da obra Da Divisão do Trabalho Social, de Émile Durkheim
(2010) lembra-nos da ideia que ficou na penumbra na primeira edição e que
parece útil ressaltar e determinar melhor, pois ela esclarecerá melhor algumas
partes do presente trabalho. Trata-se do papel que os agrupamentos
profissionais estão destinados a desempenhar na organização social dos povos
contemporâneos. Mas o que proporciona, particularmente nos dias de hoje,
excepcional gravidade a esse estado é o desenvolvimento então desconhecido, que
as funções econômicas adquiriram nos últimos dois séculos, aproximadamente.
Estamos longe do tempo em que eram desdenhosamente abandonadas às classes
inferiores, pois diante delas, vemos as funções militares, administrativas,
religiosas recuarem cada vez mais. Somente as funções científicas, adverte o
pragmático sociólogo, que encetou sua obra magnífica em torno de dez anos de
produção ininterrupta, de reconhecimento, estão em condição de disputar-lhes o
lugar – e ainda assim, a ciência contemporaneamente só tem prestígio na medida
em que pode servir à prática, isto é, em grande parte, às “profissões
econômicas”. É por isso que se pode dizer, não sem alguma razão, que elas são
ou tendem a ser essencialmente industriais.
Uma forma de atividade generalizada que tomou lugar na vida social não pode, evidentemente, permanecer tão desregulamentada, em seu desempenho e atividade, sem que disso resulte os impactos sociais sobre a divisão do trabalho e as mais profundas perturbações. Mas sofrer no trabalho não é uma fatalidade. É, em particular, como decorre e testemunhamos, uma fonte de desmoralização geral real. Pois, precisamente porque as funções econômicas absorvem o maior número de cidadãos, para o pleno desenvolvimento da vida social, há uma multidão de indivíduos, como dizia Freud, cuja vida transcorre quase toda no meio industrial e comercial; a decorrência disso é que, como tal meio é pouco marcado pela moralidade, a maior parte da existência transcorre fora de toda e qualquer ação moral. A tese funcionalista expressa na pena de Émile Durkheim, como uma espécie de antídoto da civilização, e que o sentimento do dever cumprido se fixe fortemente em nós, é preciso que as próprias circunstâncias em que vivemos permanentemente desperto. A atividade de uma profissão só pode ser regulamentada eficazmente por “um grupo próximo o bastante dessa mesma profissão para conhecer bem seu funcionamento, para sentir todas as suas necessidades e poder seguir todas as variações destas”. O único grupo que corresponde a essas condições é o formado por todos os agentes de uma mesma condição reunidos num mesmo corpo.
E que a sociologia durkheimiana conceitua de corporação ou grupo profissional. É na ordem econômica que o grupo profissional existe tanto quanto a moral profissional. Desde que, não sem razão, com a supressão das antigas corporações, não se fizeram mais do que tentativas fragmentárias e incompletas para reconstituí-las em novas bases sociais. Os únicos agrupamentos dotados de permanência são os que se chamam sindicatos, seja de patrões, seja de operários. Historicamente, temos aí in statu nascendi o começo e o princípio ético de uma organização profissional, mas ainda de forma rudimentar. Isto porque, em primeiro lugar, um sindicato é uma associação privada, sem autoridade legal, desprovida, por conseguinte, de qualquer poder regulamentador. O número deles é teoricamente ilimitado, mesmo no interior de uma categoria industrial; e, como cada um é independente dos outros, se não se constituem em federação e se unificam, não há neles nada que exprima a unidade da profissão em seu conjunto de práticas e saberes sociais. Não só os sindicatos de patrões e de empregados são distintos uns dos outros, o que é legítimo e necessário, como não há entre eles contatos regulares. Não existe organização comum que os aproxime sem fazê-los perder sua individualidade e na qual possam elaborar em comum uma regulamentação que, estabelecendo suas relações mútuas, imponha-se a ambas as partes com a mesma autoridade; por conseguinte, é sempre a “lei dos mais forte” que resolve os conflitos, e o estado de guerra subiste inteiro. A tese sociológica é a seguinte: para que uma moral e um direito profissionais possam se estabelecer nas diferentes profissões, é necessário, pois, que a corporação, em vez de permanecer um agregado confuso e sem unidade, se torne, ou antes, volte a ser, um grupo definido, organizado, uma instituição pública.
Um bom exemplo é a Universidade Estadual do Ceará (UECE), na cidade de Fortaleza, onde após obter o bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense (UFF), ingressei na carreira de sociólogo, há 23 anos, por concurso público de provas e títulos, quando obtive o 1º lugar no cargo de professor Adjunto, mas que ainda permanece este agregado confuso e sem unidade científico-social. A primeira observação familiar da crítica de Émile Durkheim, é que a corporação tem contra si seu próprio passado histórico. De fato, ela é tida como intimamente solidária do antigo regime político e, por conseguinte, como incapaz de sobreviver a ele. Na história da filosofia, o que permite considerar as corporações uma organização temporária, boa apenas para uma época e uma civilização determinada, é, ao mesmo tempo, sua grande antiguidade e a maneira como se desenvolveram na história. Se elas datassem unicamente da Idade Média, poder-se-ia crer nascidas com um sistema político, deviam desaparecer com ele. Mas, na vida real têm origem bem mais antiga.
Em geral elas aparecem desde que as profissões existem, isto é, desde que a atividade deixa de ser puramente agrícola. Se não parecem ter sido conhecidas na Grécia, até o tempo da conquista romana, é porque os ofícios, sendo desprezados, eram exercidos exclusivamente por estrangeiros e, por isso mesmo, achavam-se excluídos da organização legal da cidade. Mas em Roma, comparativamente, elas datam pelo menos dos primeiros tempos da República; uma tradição chegava até a atribuir sua criação ao rei Numa, um sabino escolhido como segundo rei de Roma. Sábio, pacífico e religioso, dedicou-se a elaboração das primeiras leis de Roma, assim como dos primeiros ofícios religiosos da cidade e do primeiro calendário. É verdade que, por tempo, elas tiveram de levar uma existência bastante humilde, pois os historiadores e os monumentos só raramente as mencionam; não sabemos muito bem como eram organizadas. Desde de Cícero, sua quantidade tornara-se considerável e elas começavam a desempenhar um papel. Nesse momento, diz J.-P Waltzing, “todas as classes de trabalhadores parecem possuídas pelo desejo de multiplicar as associações profissionais” (cf. Durkheim, 2010).
A
experiência imediata e “vivida na qualidade de realidade unitária” (“Erlebnis”)
seria o meio a permitir a apreensão singular da realidade histórica e humana
sob suas formas concreta e viva. Em seus ensaios gerais historicistas intitulados:
Estudos sobre os Fundamentos das Ciências do Espírito e Teoria das
Concepções do Mundo, Dilthey submete a uma análise rigorosa o conceito de
“Erlebnis”. Em A Essência da Filosofia, obra de (1907), o hermeneuta
chega a afirmar a falência da filosofia como metafísica. Em verdade ele propõe
uma filosofia histórica e relativa que analise os comportamentos humanos e
esclareça as estruturas do mundo no qual vive o homem contrapondo-se a uma
metafísica que se pretende colocar como imagem da realidade e a reduzir todos
os aspectos da realidade a um único princípio absoluto. O contato conceitual de
Wilhelm Dilthey com a hermenêutica está relacionado à sua preparação teológica,
embora a tenha utilizado para responder a seguinte pergunta: - “Como se diferenciam
as ciências humanas ou sociais das ciências naturais? A reflexão de Dilthey
para estabelecer as relações entre significados e sistemas está presente ao
longo de todos os seus escritos principalmente àqueles relacionados sobre as
“ciências do espírito”, com oscilações que ensejam a leitura da sua obra no
âmbito psicológico quanto de perspectiva mais propriamente sociológica.
Sem
dúvida ele sempre recusou algum caráter de ciência à sociologia, referindo-se
às suas variantes positivistas, mas em sintonia com uma preocupação com os
fenômenos históricos em grande escala, nos quais as dimensões decisivas dizem
respeito às formas de organização da vida coletiva. Foi o primeiro pensador
preocupado em aproximar a hermenêutica do terreno das incertezas no
conhecimento da história social europeia. A inovação causada por sua teoria foi
única e, por isso, ele está na base de muitas correntes de pensamento que
articulam história e hermenêutica. A hermenêutica tradicional se refere ao
estudo da interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de
literatura, religião e direito. A hermenêutica moderna ou contemporânea engloba
não somente textos escritos, mas também tudo que há no processo interpretativo.
Isso inclui formas verbais e não verbais de comunicação, assim como aspectos
que afetam a comunicação, como proposições, pressupostos, o significado e a
filosofia da linguagem e a semiótica. Não tem a pretensão de eternizar o homem,
mas possibilitar ao homem se aproximar da vida, por meio de conexões que
integram, aproxima e relaciona os homens. A teoria compreensiva tem uma
importância ética ímpar para o mundo contemporâneo. A base para esse nexo em que se dá a relação
da vivência é a categoria do significado.
Tal
categoria corresponde a um apoio sólido que aparece como uma unidade de
conjunto onde age o pensamento, os sentimentos e a vontade. Considerando que há
uma relação conceitual estabelecida sobre o balanço referencial entre a parte e
todo no nexo da vivência, o que garante o equilíbrio para esse balanço é a
categoria interpretativa do significado que para Wilhelm Dilthey, nada mais é
do que a integração num todo que nós encontramos junto e nos remete ao
significado e sentido contido na relação parte-todo que encontra na vivência e
é seu fundamento. É neste sentido que Dilthey considera que vida e a mudança
dos seus principais momentos estruturais fazem que a concepção do mundo sempre
e em toda a parte se expresse em oposições, embora sobre um fundo comum.
Portanto é na arte, na religião e no pensamento que encarnam os ideais que
atuam na existência de um povo. Por conseguinte, toda a mundividência é produto
da história. A historicidade revela-se como uma propriedade fundamental da
consciência humana. Os sistemas filosóficos não constituem uma exceção. Como as
religiões e as obras de arte, contêm uma visão da vida e do mundo, inserida na
vitalidade das pessoas que os produziram e em consonância com as épocas em que
vieram à luz do dia; traduzem uma determinada atitude afetiva, caracterizam-se
pela imprescindível energia lógica, porque o filósofo procura trazer a imagem
do mundo à clara consciência e ao mais estrito urdimento cognitivo. Neste
esforço de reflexão e de trabalho dos conceitos, que gera uma circunspecção potenciada,
é que reside o valor prático da atitude filosófica.
Como o centro da compreensão está na vida como um todo estruturado, mas sempre resultando da relação entre individualidades, é possível perceber a conexão entre a ética e a teoria compreensiva. Em verdade uma concepção da teoria, ao longo de quase meio século, permeado lado a lado por um motivo básico: uma unidade cuja garantia de existência é a presença do sentido. Há uma démarche que atravessa o homem, e nesta noção de sentido está a marca de uma concessão fatal a uma metafísica. Ele desejava evitar tanto quanto o empirismo dos positivistas, desde que fique clara a dimensão de ser criador de significados, que não é simplesmente a noção ampla de vida, mas sua unidade constitutiva, a vivência, representada em toda experiência humana. Ipso facto, a história é suscetível de conhecimento porque é obra humana; nela o sujeito e objeto do conhecimento formam uma unidade. Nessa direção chega-se à formulação final da concepção de Dilthey. Seus elementos são: vivência, expressão e compreensão. A vivência surge nesse ponto, como algo especificamente social – pela sua dimensão intersubjetiva, e cultural – pela sua dimensão significativa -, para além do seu nível psicológico ou mesmo biológico porque guarda na memória. Trata-se de um ato reflexivo de consciência, que propõe e persegue fins num contexto intersubjetivo. As interações humanas ganham corpo nas diversas formas de “manifestação de vida” através da arte, filosofia, religião, ciência, como expressão desse caráter objetivo que a experiência, intersubjetivamente constituída assume.
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