terça-feira, 8 de maio de 2018

Lech Wałęsa & Lula da Silva - Vencedores do Prêmio Nobel da Paz.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

                                       Lula ajudou a mudar o equilíbrio do mundo”. Eric Hobsbawm

                                                                           
Em 1967, Lech Wałęsa começou a trabalhar como eletricista no estaleiro naval  de Gdansk, onde assistiu à repressão de manifestações operárias pela força das armas. Estes acontecimentos trágicos levaram-no a lutar pela constituição de sindicatos livres no país. Wałęsa torna-se, com efeito, fundador e líder do sindicato Solidariedade, a organização sindical independente do Partido Comunista que obteve importantes concessões políticas e económicas do Governo polonês em 1980-1981, sendo nessa altura ilegalizado e passando à clandestinidade. Em 1980, Wałęsa liderou o movimento grevista dos trabalhadores do estaleiro de Gdansk, cerca de 17 000 que protestavam contra a carestia de vida e as difíceis condições de trabalho. A greve alargou-se rapidamente a outras empresas. Com dificuldade, as reivindicações dos trabalhadores acabaram por ser concedidas. As reivindicações sociais dos trabalhadores tomaram consequências políticas quando foi assinado um acordo que lhes garantia o direito de se organizarem livremente e a garantia da liberdade política, de expressão e de religião.
Em 1974, ano em que o Brasil vivia uma das mais graves crises políticas e econômicas da história, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (na época Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema), preparava-se para a eleição que renovaria sua diretoria. Na disputa para suceder Paulo Vidal na presidência do sindicato estavam três metalúrgicos: Rubens Teodoro, Nelson Campanholo e Antenor Biolcatti. Os três desistiram da candidatura para apoiar a liderança que despontava nas assembléias: Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão de inscrever uma única chapa fortaleceu o sentimento dos metalúrgicos que, já naquela época, criticavam o atrelamento dos sindicatos ao Estado e brigavam por recuperação das perdas salariais. Eleito com 97,5%, Lula assumiu sua primeira presidência no Sindicato em 19 de abril de 1975. Também participam da cerimônia os dirigentes que assumiram com a vitória de Lula a direção do sindicato em 1975. Entre eles, Rubens Teodoro de Arruda, Nelson Campanholo, Salvador Venâncio, Vasile Valcov Filho, João Justino de Oliveira (Janjão), Heleno Cordeiro de Oliveira, José Roberto Mori Machado, Luciano Garcia Galache, Antenor Biolcatti, Geraldo Cestavo Pereira Lima, Djalma Bom, Devanir Ribeiro, Paulo Vidal, Luciano Garcia Galache e Heleno Cordeiro de Oliveira. 


À frente de um dos mais fortes sindicatos, eles foram responsáveis pelo início de um movimento para recuperar perdas salariais, anterior à ideia de “sindicalismo de resultados” que chegavam a 34,1%. Nas ruas, os movimentos sociais protestaram contra a alta nos preços e pelas liberdades democráticas. Nos sindicatos, as assembleias nas portas das fábricas, antes proibidas e pouco frequentadas, passaram a ter até 3 mil trabalhadores. Em 1978 implodiu uma greve na Scania que se espalhou rapidamente por quase todas as fábricas de São Bernardo do Campo, originando o que foi batizado como “novo sindicalismo”. No dia 12 de maio de 1978, os trabalhadores da fábrica de caminhões da Scania, em São Bernardo do Campo (SP), cruzaram os braços exigindo um aumento salarial de 20%, acima do reajuste estipulado pelo governo. A greve da Scania – que rapidamente se alastrou por um grande número de fábricas na região do ABC paulista – foi o sinal de que um poderoso ator social estava entrando em cena no país: a classe trabalhadora. O movimento expressava um novo sindicalismo; combativo, autônomo e organizado a partir da base. Surpreendeu a ditadura e alterou os rumos da “abertura”, a transição conservadora do regime que excluía os trabalhadores.
O chamado “novo sindicalismo”, ou “sindicalismo autêntico”, como também se tornou conhecido, desafiou a legislação anti-greves e começou a romper as amarras da organização sindical subordinada ao Estado, modelo implantado no país desde a década de 1940 varguistas. Os trabalhadores impulsionaram a luta pela redemocratização não somente por meio de greves: iriam criar seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores - PT, em 1980, e a Central Única dos Trabalhadores, a CUT, em 1983. Articulado com outros movimentos sociais, o novo sindicalismo levaria a pauta dos trabalhadores às ruas e à Assembleia Constituinte (1987-1988), conferindo nova qualidade à luta política na transição da ditadura militar para o regime democrático. Seus principais expoentes eram de uma geração formada sob a repressão do regime militar que atingiu duramente os sindicatos e organizações políticas da classe trabalhadora. Uma das primeiras medidas após o golpe de 1° de abril de 1964 foi a proibição do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a central sindical ligada ao antigo Partido Trabalhista Brasileiro e ao Partido Comunista do Brasil. O presidente do CGT, Dante Pelacani, foi cassado e perseguido; o vice-presidente, Clodesmidt Riani, foi preso; mais de mil sindicalistas foram cassados, muitos foram presos ou exilados.
Cerca de 600 sindicatos sofreram intervenção da ditadura em 1964 e 1965. A repressão implantou uma política de arrocho que reduziria os salários em cerca de 20% entre 1965 e 1967. O valor real do salário mínimo seria reduzido em 42% entre 1964 e 1974. Para minar a resistência dos trabalhadores, o direito à estabilidade no emprego após dez anos de contrato – que favorecia a organização nos locais de trabalho – foi substituído pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço; uma nova legislação impediu as greves a partir de junho de 1964. Mesmo nessas condições, várias categorias conseguiram manter a combatividade. Em abril de 1968, uma grande greve na região de Contagem e Belo Horizonte conquistou um aumento nacional de 10%. A repressão caiu sobre os trabalhadores depois da vitória, com a demissão dos líderes e ativistas. Seus nomes foram incluídos numa lista de perseguição política, que os impediu de trabalhar em qualquer fábrica da região. No 1° de Maio de 1968, em São Paulo, sindicalistas e militantes protestaram na data da solenidade oficial. Em junho, em Osasco, uma greve com ocupação de fábrica foi reprimida com uso da força policial por tropas do Exército. Em 1981, Lula da Silva e Lech Walesa em Roma.

A greve de Osasco terminou com a prisão de centenas de trabalhadores. A repressão que se seguiu ao Ato Iinstitucional-5, em dezembro de 1968, parecia ter calado definitivamente a voz dos trabalhadores. Foi um período de resistência silenciosa nas fábricas e em poucos sindicatos, pois a maioria das entidades estava sob a intervenção de agentes comprometidos com a ditadura ou sob a direção de “pelegos”, sindicalistas controlados pelos patrões. A nova liderança sindical se formou na medida em que os trabalhadores percebiam o esgotamento do “milagre econômico”, que havia promovido o crescimento da economia e do parque industrial, ao custo de uma brutal concentração de renda. Esse modelo começou a falir a partir do choque de petróleo de 1973, seguido pela crise da dívida externa e pela estagnação da economia. O regime para enfrentar a crise recaiu mais uma vez sobre os trabalhadores, submetidos ao arrocho salarial e, nos centros industriais, a um sistema de rotatividade pelo qual as empresas promoviam demissões em massa para reduzir os salários de contratação.
Em análise comparada Gdańsk é uma cidade em que se realizaram vários eventos importantes do ponto de vista da história mundial. Em 01 de setembro de 1939 eclodiu a 2ª guerra mundial, que mudou o mapa do mundo contemporâneo. Ao mesmo tempo, Gdańsk é o berço do movimento sindical “Solidariedade” que levou à mudança de paradigma da questão social para a questão sindical, situando o trabalho como centro das relações de desenvolvimento de métodos de trabalho e de produção na esfera da globalização das sociedades. O fato de ter liderado as paralisações dos grevistas e de ser católico apostólico romano deu a Wałęsa uma base de apoio popular, comparativamente ao sindicalismo dos metalúrgicos do ABC e o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT) tendo como prócer do movimento Luiz Inácio Lula da Silva, mas os seus ganhos tiveram um carácter positivo a resistência do regime comunista. Em 13 de dezembro de 1981, o governo impôs a lei marcial, o sindicato Solidariedade entrou na ilegalidade, seus líderes foram presos, incluindo Lech Wałęsa, até 14 de novembro de 1982. O país passou a ser governado por uma ditadura comandada pelo general Wojciech Jaruzelski.
Foi um político e militar comunista da Polônia. Ocupou os cargos de primeiro-ministro (1981-1985), chefe do conselho de estado (1985-1989) e presidente da Polônia (1989-1990). Lutou na 2ª guerra mundial e tornou-se general em 1956. Chefe do Estado-Maior em 1965 e Ministro da Defesa da Polônia entre 1968 e 1981, Jaruzelski tornou-se, em seguida, chefe do governo e secretário do Comitê Central do Partido Operário Unificado Polaco. Utilizou o estado de exceção para reprimir o sindicato Solidariedade em dezembro de 1981 e requisitou a prisão dos líderes do movimento, incluindo Lech Wałęsa. Formou o Conselho Militar de Salvação Nacional, que tomou o poder e submeteu o país à hegemonia soviética, com um tímido processo de reforma econômica e social para calar a oposição interna. No final de 1982, a lei marcial foi suspensa e Wałęsa, libertado. Três anos depois, Jaruzelski abandonou o cargo de primeiro-ministro para se tornar presidente do Conselho de Estado. Abriu caminho para uma reforma democrática sob as diretrizes de Mikhail Gorbatchev. Contudo, não conseguiu recuperar sua popularidade, apesar de seu programa de reformas.
Em julho de 1980, ao se verem enfrentado a uma crise econômica, o governo da Polônia elevou o preço dos alimentos e outros bens de consumo, enquanto tentava refrear o crescimento dos salários. A subida dos preços tornou difícil para muitos poloneses a compra das necessidades básicas e uma onda de greves varreu o país. Em meio às crescentes tensões, uma popular operadora de empilhadeiras chamada Anna Walentynowicz foi despedida dos estaleiros Lenin de Gdansk, importante cidade do norte da Polônia. Em meados de agosto, em torno de 17 mil trabalhadores do estaleiro começaram uma greve de braços cruzados exigindo a reincorporação dela, bem como um moderado aumento dos salários. Eram liderados por Walesa, que havia sido ele próprio demitido havia quatro anos por “ativismo sindical”. Em 31 de agosto de 1980, representantes do governo comunista da Polônia aceitam as reivindicações dos trabalhadores dos estaleiros da cidade de Gdansk em greve. O ex-eletricista Lech Walesa liderava os grevistas, o que o levou a fundar o sindicato Solidariedade, o primeiro sindicato independente de trabalhadores organizado numa nação do bloco socialista. Em 31 de agosto, Walesa e Mieczyslaw Jagielski representante do governo, assinaram um acordo em que concedia a muitas das reivindicações dos trabalhadores. Walesa assinou o documento com uma caneta esferográfica gigante decorada com um retrato do recém-eleito papa João Paulo II, Karol Wojtyla, ex-arcebispo de Cracóvia.
   A Hungria - mutatis mutandis - começou o período pós-guerra como uma livre democracia pluripartidária, e as eleições em 1945 produziram um governo de coalizão sob a batuta do primeiro-ministro Zoltán Tildy. Entretanto, o Partido Comunista, apoiado pela União Soviética das Repúblicas Soviéticas, que tinha recebido somente 17% dos votos, constantemente obtinha pequenas concessões em um processo nomeado “tática do salame”, que fatiava a influência política do governo eleito. Depois das eleições de 1945, os poderes do Ministro do Interior - que supervisionava a Autoridade de Proteção de Estado (ÁVH) - foram transferidos do “Partido dos Pequenos Proprietários Independentes” para a chamada “gente de confiança” do Partido Comunista. A ÁVH empregava métodos de intimidação, falsas acusações, prisões e tortura para suprimir a oposição política. O breve período de democracia pluripartidária acabou quando o Partido Comunista fundiu-se com o Partido Socialdemocrata para se tornar o “Partido Popular dos Trabalhadores Húngaro”, cuja lista de candidatos foi a votos sem oposição em 1949. A República Popular Húngara foi então declarada.
Depois da 2ª guerra mundial, a Hungria caiu na esfera de influência soviética e foi ocupada pelo Exército Vermelho. Em 1949, os soviéticos tinham concluído um tratado de assistência mútua com a Hungria que garantia direitos políticos à União Soviética para uma contínua presença militar, assegurando o último controle político. De 1950 a 1952, a Polícia de Segurança forçadamente realocou milhares de pessoas para obter propriedades e moradias para os membros do Partido Popular dos Trabalhadores, e remover a ameaça da classe intelectual e burguesa. Milhares foram presos, torturados, julgados e aprisionados em campos de concentração, deportados para o leste, ou eram executados, incluindo o fundador da ÁVH László Rajk. Em um único ano, mais de 26.000 pessoas foram forçadamente realocadas de Budapeste. Como uma consequência, empregos e moradias eram muito difíceis de obter. Os deportados geralmente experimentavam parcas condições de habitação e eram recrutados para trabalho escravo em fazendas coletivas. Muitos morreram como resultado das pobres condições sociais de vida e desnutrição. O estudo do idioma russo e instrução política comunista foram tornados parte do currículo escolar e universitário pelo país.
Analogamente ficou demonstrado pela intervenção da ex-União Soviética na Hungria, em 1956, e posteriormente na então Checoslováquia, em 1968, pondo termo ao “socialismo de rosto humano” conhecido como a primavera de Praga receou-se que, quando a crise polaca se acirrou, em 1981, a ameaça de invasão do país pelas forças do Pacto de Varsóvia se pudesse concretizar. De acordo com a teoria de soberania limitada formulada por Leonid Brejnev considerada um dos princípios fundamentais da política externa soviética relativamente aos países comunistas da Europa de Leste, podia procurar evitar-se que o país eventualmente saísse do campo socialista. Para o Kremlin haveria uma situação irreversível na Europa resultante do status quo estabelecido nas conferências de Yalta e Postdam realizadas, respectivamente, em fevereiro e julho de 1945, que tinham claramente delineado as áreas de influência das duas superpotências emergentes, a União Soviética e os Estados Unidos da América, ficando a Polónia na esfera soviética. Para muitos polacos ocorrera traição ao passar para a esfera de influência soviética em detrimento da manutenção dos vínculos com a Europa ocidental.
 Lula e o historiador Eric Hobsbawm.
Reconstituíram-se os Partidos dos Pequenos Proprietários, Socialdemocrata e Camponês Petőfi. O Politburo Soviético decide, numa primeira fase (30 de outubro) mandar as tropas sair de Budapeste, e mesmo da Hungria se viesse essa a ser a vontade do novo governo. Mas no dia seguinte volta a trás e decide-se pela intervenção militar e instauração de um novo governo. A 1° de novembro, o governo húngaro, ao tomar conhecimento das movimentações militares em direção a Budapeste, comunica a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a proteção das Nações Unidas. A 3 de novembro, Budapeste está cercada por mais de (01) mil tanques. Em 4 de novembro, o Exército Vermelho invade Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia a Hungria, derrotando rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20 000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e posteriormente executado) e substituído no poder pelo simpatizante soviético János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e próximo de 13 mil foram presos. Como sabemos, as tropas soviéticas apenas saíram da Hungria em 1991.
A crescente influência soviética ficou demonstrada pela série de acontecimentos de que se destacam. Denuncia do Tratado de Amizade assinado com a Jugoslávia devido às criticas de Stalin ao Marechal Tito. Nomeação do Marechal Rokossovsky, de origem polaca, mas que sempre tinha vivido na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e adquirido a nacionalidade soviética, para o cargo de Ministro da Defesa e pari passu Comandante-Chefe das Forças Armadas. Reconhecimento formal de Moscovo, em 6 de Junho de 1950, da fronteira ocidental polaca com a República Democrática Alemã, definida pela linha Oder-Neisse, o que implicitamente significava que o traçado das fronteiras dos países colocados sob sua influência eram decididas em última instância pela União Soviética. O processo foi completado com a adopção, em 22 de Julho de 1952, da nova Constituição que criava a República Popular da Polónia e a posterior adesão, como atrás se mencionou, ao Pacto de Varsóvia e ao Comecon.
A despeito da censura governamental e as tentativas de evitar publicação do noticiário sobre a greve, protestos similares irromperam em cidades industriais por toda a Polônia. Em 17 de agosto, um Comitê de Greve Interfábricas apresentou ao governo polonês 21 reivindicações, incluindo o direito de organizar sindicatos independentes, o direito à greve, a libertação de prisioneiros políticos e ampliação do direito de expressão. Temendo que uma greve geral pudesse levar a uma generalizada revolta nacional, o governo enviou uma comissão ao estaleiro Gdansk a fim de negociar com os trabalhadores rebeldes. Não representou apenas um movimento de alcance nacional, mas a informação sobre a sua existência espalhou-se facilmente no âmbito da comunicação política na sociedade globalizada. À frente do movimento permaneceu Lech Wałęsa, um eletricista do estaleiro de Gdańsk, posteriormente vencedor do Prêmio Nobel da Paz, assim como presidente da Polônia. Daí por diante foram também assinados os “Acordos de agosto” graças ao qual a organização Solidariedade foi legalizada. O acordo abriu caminho para a greve da Solidariedade no Estaleiro de Gdańsk, onde os trabalhadores tomaram o partido da sua colega, Anna Walentynowicz, operadora da grua expulsa do trabalho pela sua atividade social e oposicionista.
Vale lembrar neste aspecto quando voltou a seu país natal para fazer este filme, o cineasta húngaro István Szabó já havia adquirido fama e respeito internacionais com Mephisto, de 1981, Coronel Redl, de 1985, e Encontro com Vênus, de 1991 - todas as três grandes coproduções internacionais, lançadas conjunturalmente no mercado cinematográfico. Este aqui é em tudo diferente desses três anteriores que garantiram a Szabó a admiração geral; não é um afresco, um painel; é um pequeno retrato; não é um espetáculo para dezenas de atores, é todo em tom menor, centrado na amizade de duas mulheres que vivem no seu dia-a-dia a passagem de um mundo para outro. Ao contrário do que seria de se esperar, não se comemora com fanfarras o fim do regime autoritário, o fim dos grilhões, a volta à liberdade plena. Demonstra a perplexidade das pessoas  diante da mudança radical de tudo à sua volta – e tem mesmo um tom melancólico com a perda do valor da solidariedade entre as pessoas, o sonho que não se conseguiu realizar. Um belíssimo diálogo resume a weltanschauung de Szabó sobre aquele momento radical. Uma das amigas, a querida Böbe do título original do filme, pergunta à outra, a doce Emma; o que ela quer da vida, e ela diz: - “Uma sociedade fraterna; que apreciem o que eu faço”. E Böbe responde contrária ao fetiche do dinheiro: - “Isso não vale mais nada. O que vale agora é o dinheiro e as coisas materiais que você possui”.
O sindicato saiu da clandestinidade após negociações com o governo em 1988-1989, assim como outras organizações sindicais. Com o desmoronamento do bloco de Leste e a liberalização aparentemente democrática, ficou consagrada a realização de eleições livres. Em 9 de dezembro de 1990 Wałęsa foi eleito presidente, tomando posse em 22 de dezembro de 1990. Em 1995, realizaram-se novas eleições presidenciais, mas Wałęsa foi derrotado por uma diferença pequena de 3 pontos percentuais no segundo turno. Nas eleições presidenciais de 2000, não conseguiu para além de 1% dos votos, devido a uma crescente insatisfação da opinião pública em relação às suas posições. A 11 de maio de 1993, recebeu o Grande-Colar da Ordem da Liberdade e a 18 de outubro de 1994, recebeu o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal. Etnograficamente Gdańsk está repleto de espaços e lugares relacionados com a Solidariedade. Ao lado do pavilhão histórico de Segurança e do Pavilhão Olivia, pode ser vista a Praça da Solidariedade com o monumento aos trabalhadores do estaleiro mortos em 1970. Merece destaque a exposição “Caminhos para a Liberdade” que apresenta de forma detalhada e muito acessível a história da luta pela liberdade dos polacos e de outras nações europeias colocado no abrigo da Guerra Fria a poucas centenas de metros de distância do monumento aos trabalhadores do estaleiro.
No frigir dos ovos da greve de Gdansk, líderes do Comitê de Greve Interfábricas votaram a criação de uma única federação nacional conhecida como Solidarnosc (“Solidariedade”), que logo evoluiu para um movimento social de massas com a adesão de mais de 10 milhões de pessoas. O Solidarnosc atraiu a simpatia de inúmeros líderes sindicais do Ocidente e a hostilidade de Moscou, que chegou a cogitar uma intervenção militar na Polônia. No final de 1981, sob a pressão conservadora da União Soviética, o governo do general Wojciech Jaruzelski revogou o reconhecimento do Solidarnosc e decretou lei marcial na Polônia. Cerca de 6.000 ativistas do sindicato Solidariedade foram presos, inclusive Walesa, que ficou detido por quase um ano. O movimento Solidarnosc moveu-se clandestinamente, continuando a receber apoio político e logístico de líderes internacionais como o presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan, que impôs sanções à Polônia. Walesa foi agraciado em 1983 com o Prêmio Nobel da Paz e, após a queda do governo em 1989, tornou-se o primeiro presidente da Polônia a ser eleito pelo voto popular. A agitação política operária continuou, embora de forma mais contida. Mas o sindicalista Lech Wałęsa só seria libertado em 1982.
Um ano depois lhe era atribuído o Prêmio Nobel da Paz. Ele foi incapaz de aceitá-lo pessoalmente, temendo que o governo polonês o impedisse de voltar ao país. Então, sua esposa Danuta Walesa aceitou o prêmio em seu lugar. A criação em 1980 do primeiro sindicato polonês livre da União Soviética é descrita por Danuta como um dos dias mais felizes da sua vida, a par do10 de Dezembro de 1983, quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, em nome do marido, que estava consciente de não poder voltar a entrar no país se se deslocasse à Noruega. Revela em sua autobiografia a sua solidão a partir do momento em que seu marido assumiu a direção do sindicato e a Presidência da Polônia. O livro relata de forma franca a sensação de solidão que Danuta sofreu nos anos 1980, quando a oposição à repressão estatista vivia momentos decisivos às ordens de Lech Walesa, então eletricista nos estaleiros de Gdansk. Nesse período Danuta criou oito filhos, dos quais era “mãe, professora, cozinheira, empregada, enfermeira, uma mulher que não tinha tempo para nada”, conforme descreve em sua autobiografia. O livro evoca com certa amargura aquele período em que dezenas de políticos, ativistas, jornalistas etc. se reuniam clandestinamente por horas no apartamento de Walesa, enquanto Danuta preparava lanches e mantinha a casa em ordem, sede improvisada do movimento. – “A política roubou meu marido e na política não há amigos de verdade”, explica em entrevista na televisão pública polonesa. A esposa de Walesa, que reitera que “chega um momento na vida onde certas coisas são reveladas”, lamenta que seu marido não a tenha surpreendido com um buquê de flores ou um simples detalhe para agradecer seu esforço. – “Os homens não são muito brilhantes em alguns assuntos”, diz Danuta, que descreve seu marido como uma pessoa “introvertida e difícil de conhecer”.
Nobel da Paz é um dos cinco Prêmios legados pelo inventor da dinamite, o sueco Alfred Nobel. Os prêmios de Física, Química, Fisiologia ou Medicina e Literatura são entregues anualmente em Estocolmo, sendo o Nobel da Paz atribuído em Oslo. O Comité Nobel Norueguês, cujos membros são nomeados pelo Parlamento norueguês, tem a função de escolher o laureado pelo prémio, que é entregue pelo seu presidente atualmente o ex-primeiro-ministro e atual Secretário-Geral do Conselho da Europa  Thorbjørn Jagland. Mais de 160 mil pessoas assinaram uma campanha iniciada pelo argentino Adolfo Pérez Esquivel, que recebeu o Nobel da Paz em 1980, para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso pelos supremacistas que compõem o judiciário brasileiro, baseado na lógica do justiceiro da república de Curitiba S. Moro (PSDB), receba o prêmio neste ano. É público e notório o apoio ideológico do advogado com o golpe de Estado de 2016 no Brasil. A campanha para o prêmio Nobel da Paz está sendo realizada pelo site Change.org. Pérez Esquivel considera que Lula merece ser reconhecido com o Nobel pela “luta contra a pobreza e a fome no Brasil”.
O ativista argentino disse que apresentará uma carta para defender Lula no Comitê Nobel em setembro, quando será aberta a convocação para as indicações ao prêmio. - “Através do seu compromisso social, sindical e político, Lula desenvolveu políticas públicas para superar a fome e a pobreza no seu país, um dos de maior desigualdade estrutural no mundo”. Assim, afirmou: - “O governo de Lula foi uma construção democrática e participativa com meios não violentos que elevou o nível de vida da população e deu esperanças aos setores mais necessitados. O mundo reconhece que houve um antes e um depois na história do Brasil desigual depois dos dois mandatos de Lula”. A petição que pede que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) seja indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz, momento em que já alcançou 84% da meta de assinaturas em cinco dias de campanha. O documento formal proposto pelo argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Nobel da Paz (1980), estima conseguir 200 mil adesões. Até a pouco, cinco dias depois da iniciativa de indicação ser criada, mais de 166,8 mil pessoas já se manifestaram favoráveis. O ativista social criou a petição no dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o pedido de habeas corpus ao petista. O texto que deverá ser apresentado ao comitê Nobel em setembro deste ano refere-se a Lula como alguém que, “através do seu compromisso social, sindical e político desenvolveu políticas públicas para superar a fome e a pobreza do seu país um dos de maior desigualdade estrutural do mundo”.  Para Esquivel, a nomeação de Lula é importante já que “a paz não é só a ausência da guerra, nem evitar a morte de uma ou mais pessoas, a paz também é dotar de esperança o futuro dos povos, em especial os sectores mais vulneráveis”, afirma em seu depoimento político-afetivo no texto.
Bibliografia geral consultada.
HOBSBAWM, Eric, Estudios de Historia de la Clase Obrera. Barcelona: Editorial Crítica, 1979; MOISÉS, José Álvaro, “PT: Una novedad histórica?”. In: Cuadernos de Marcha. México, DF, volume 9, pp. 11-19, 1980; Idem, “Partidos y gobernabilidad en Brasil. Obstáculos institucionales”. In: Nueva Sociedad. Caracas, vol. 134, pp. 158-171, 1994; PEREIRA, Luís, “1980-81: A Revolução na Polônia”. In: Revista de Administração de Empresas. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 1982; HIRSZOWICZ, Maria; MINK, Georges; MLYNÁŔ, Zedenék, Les Problemes de la Crise en Pologne. Paris: Éditeur Z. Mlynar, 1986; BETTO, Frei, Lula, Biografia Política de un Obrero. Cidade de México: MCCLP, 1990; TUCCARI, Francesco, I Dilemmi della Democrazia Moderna. Max Weber e Robert Michels. Roma-Bari: Editore Laterza, 1993; SLATTA, Richard, “Eric Hobsbawm`s Social Bandit: A Critique and Revision”. In: A Contracorriente, vol. 1, n° 2, 2004; FIGUEIREDO, Rui, João Paulo II e a Transição Polaca para a Democracia. Lisboa: Editora Huguin, 2005; GATI, Charles, Failed Illusions: Moscow, Washington, Budapest and the 1956 Hungarian Revolt. Stanford: Stanford University Press, 2006; FERGUSON, Niall, La Guerra del Mundo. Barcelona: Editor Debate, 2007; ATASSIO, Aline Prado, A Batalha pela Memória: Os Militares e o Golpe de 1964. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2007; TEIXEIRA, João José Ataíde Amaral Marques, A Crise da Polónia em 1980-81: Antecedentes e Repercussões. Dissertação de Mestrado em História. Lisboa: Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa; Instituto Universitário de Lisboa, 2008; SANTOS, Antônio Carlos dos, Eric J. Hobsbawm  e a ´Era do Socialismo`: Da Revolução Russa ao Colapso da União Soviética (1917-1991). Dissertação de Mestrado em História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2011; REIS FILHO, Daniel Aarão, RIDENTI, Marcelo, MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Orgs.), A Ditadura que Mudou o Brasil: 50 Anos do Golpe de 1964. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2014; MARCELINO, Paula, “La Nouvelle Phase du Syndicalisme Brésilien”. In: Cahiers des Amériques Latines, n° 80, pp.147-167, 2015; CRACCO, Rodrigo Bianchini, Contribuições de Paul Ricoeur aos Historiadores acerca da Fenomenologia da Memória. In: Tempos Históricos, vol. 21, n° 2, pp. 351-373, 2017;  SILVA, Luiz Inácio, “Discurso de São Bernardo”, In: Secco, Lincoln, A ideia: Lula e o Sentido do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Núcleo de Estudos de O Capital, 2018; entre outros.

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