“The death of the forest is the end of our life”. Dorothy Stang
Todas
as tentativas feitas até hoje para resolver os problemas do sonho partiam
diretamente do conteúdo onírico manifesto dado na memória, esforçando-se
para obter a partir dele a interpretação do sonho ou, quando renunciavam a uma
interpretação do sonho ou, quando renunciavam a uma interpretação, para
fundamentar seu juízo sobre o sonho por referência a esse conteúdo. Para Freud
(2017) somos os únicos a nos defrontar com outros fatos; para nós, um novo
material psíquico se introduz entre o conteúdo onírico e os resultados de nossa
observação: o conteúdo onírico latente – ou os pensamentos oníricos –
obtido pelo nosso método. Foi a partir desses pensamentos, e não do conteúdo
onírico manifesto, que desenvolvemos a solução do sonho. Por isso também se
apresentou a nós uma nova tarefa que antes não existia, a de investigar as
relações de conteúdo onírico manifesto com os pensamentos oníricos latentes e
pesquisar os processos que levaram estes a se transformarem naquele. Os
pensamentos oníricos e o conteúdo onírico se mostram a nós como duas figurações
do mesmo conteúdo em duas línguas diferentes, melhor dizendo, se apresenta como
uma tradução numa outra forma de expressão, cujos signos e leis sintáticas
devemos conhecer pela comparação entre o original e a tradução. Os
pensamentos oníricos são compreendidos.
Uma
observação perspicaz de Stricker, segundo Freud, chamou nossa atenção para o
fato de as manifestações de afeto no sonho não poderem ser despachadas com o
desdém com que, despertos, costumamos nos livrar do conteúdo onírico: - Quando
tenho medo dos ladrões no sonho, os ladrões em dúvida são imaginários, mas o
medo é real”, e o mesmo acontece quando me alegro no sonho. Segundo o
testemunho de nossa sensibilidade, o afeto experimentado no sonho de forma alguma
é inferior comparado aquele de mesma intensidade que se experimenta na vigília,
e mais energicamente do que pelo seu conteúdo de representações, é pelo seu
conteúdo de afetos que o sonho reivindica o direito de ser incluí entre as experiências
reais da psique. Não realizamos essa inclusão na vigília porque não sabemos
avaliar psiquicamente um afeto a não ser ligando- a um conteúdo de
representações. Se o afeto e a representação não se corresponderem segundo o
tipo e a intensidade, nosso juízo de vigília fica desnorteado. Strümpell
afirmou que nos sonhos as representações são privadas de seus valores
psíquicos. Porém, o contrário também não falta no sonho, ou seja, que surja uma
intensa manifestação de afeto no caso de um conteúdo que não parece oferecer
ocasião para a liberação do afeto. Encontro-me em sonhos numa situação
terrível, perigosa ou repugnante, porém não sinto qualquer medo ou repugnância;
em compensação, outras vezes me apavoro com coisas inofensivas e me alegro com
coisas pueris. Esse enigma desaparece tão súbita e completamente como talvez
nenhum outro dos enigmas oníricos se passarmos do conteúdo manifesto ao
latente.
Do ponto de vista sociológico,
ambientalismo, é movimento ecológico ou movimento verde que consiste em uma diversidade
de correntes de pensamento e movimentos sociais que têm na defesa do ambiente
sua principal preocupação, reivindicando medidas de proteção ambiental e,
sobretudo, uma ampla mudança nos hábitos e valores da sociedade de modo a
estabelecer um paradigma de vida
sustentável. O ambientalismo teve de esperar o fim das grandes guerras
ocidentais para emergir como uma tendência influente e como um campo ou área de
estudos específicos. Assim, mediante a constatação de que o modelo de
desenvolvimento global em vigor, baseado numa perspectiva de crescimento
contínuo, na manipulação tecnológica da natureza e numa visão positivista de
que os recursos naturais são inesgotáveis existem basicamente para o benefício
humano (cf. Cunha e Menezes, 2015; Bringel, 2015; Amaral, 2017). A esta dimensão histórica de tempo e espaço social já haviam causado uma destruição ímpar ambiental, sem
precedentes na história da humanidade, pondo em risco até mesmo a futura sobrevivência
da espécie humana.
Rapidamente
o movimento ganhou grande espaço nas mídias e desde então vem obtendo
resultados importantes, atraindo uma enorme quantidade de outros campos do
saber para o debate e a pesquisa ambiental, considerando todas as esferas da
sociedade diretamente implicadas e corresponsáveis tanto pelos problemas como
pelas soluções que devem ser encontradas, e ambicionando o desenvolvimento de
uma visão integrada e de um manejo racional, respeitoso e responsável da vida
sobre a Terra. O nível de conscientização popular e de envolvimento acadêmico e
institucional nunca foi tão alto, mas ao questionarem o atual modelo de
civilização os ambientalistas atraíram uma sonora e poderosa legião de críticos
do planejamento comprometidos com o status
quo e outro tanto de céticos. Muitas vezes os embates foram violentos e
houve retrocessos dramáticos. Mas, como já foram reconhecidos por inúmeras
organizações internacionais respeitadas, pesquisadores renomados ligados a
grandes universidades e mesmo instâncias governamentais de inúmeros países, os
impactos negativos que a sociedade moderna tem acarretado ao meio ambiente são
vastos, requerem medidas urgentes de mitigação ou reversão e, ipso facto consequências globais
catastróficas com tendência destrutiva continuada e inalterada, especialmente
quando se considera a velocidade do bendito progresso
na modernidade comparado ao crescimento da população mundial.
A
tese central do “nacionalismo desenvolvimentista” tem como representaçãosocial o
desenvolvimento econômico e a consolidação da nacionalidade constituindo dois
aspectos do mesmo processo emancipatório. O desenvolvimento
dependeria, assim, de uma consciência nacional mobilizada em torno de uma
vontade no plano global de desenvolvimento. Na esfera de ação cultural, a
retórica do início dos anos 1960, tanto de “direita” como de “esquerda”, para
lembrarmo-nos da ciosa interpretação de Norberto Bobbio, foi demarcada pelo uso
corrente das categorias sociais “povo” e “nação”, ou nacional- popular. Os
movimentos de esquerda no caso emblemático do Centro Popular de Cultura (CPC), além do discurso anti-imperialista
adotaram também uma postura vanguardista, baseada na premissa de que a
autêntica cultura popular revolucionária é 2aquela produzida por artistas e
intelectuais que optaram por ser povo - enquanto a cultura do povo era
considerada arcaica e atrasada. A coleção Cadernos
Brasileiros e a Revista Civilização
Brasileira, editadas por Ênio Silveira, e a História Nova, organizada por Nelson Werneck Sodré, sugerem a
intensa colaboração entre o ISEB e o CPC.
Dorothy
Mae Stang, reconhecida como Irmã Dorothy foi uma freira norte-americana
naturalizada brasileira. Pertencia às Irmãs de Nossa Senhora de Namur,
congregação religiosa fundada em 1804 por Santa Julie Billiart e Françoise Blin
de Bourdon. Esta congregação católica internacional reúne mais de duas mil
mulheres que realizam trabalho pastoral nos cinco continentes. Dorothy Stang ingressou
na vida religiosa em 1948, emitiu seus votos perpétuos: pobreza, castidade e
obediência em 1956. De 1951 a
1966 foi professora em escolas da congregação: St. Victor School (Calumet City,
Illinois), St. Alexander School (Villa Park, Illinois) e Most Holy Trinity
School (Phoenix, Arizona). Neste ano iniciou seu ministério no
Brasil, na cidade de Coroatá, no Estado do Maranhão, mas estava presente na Amazônia
desde a década de 1970 junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Sua
atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com
projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais
da Transamazônica. Seu trabalho tinha como escopo a minimização dos conflitos
fundiários entre trabalhadores rurais e latifundiários. Como missionária atuou
ativamente nos movimentos sociais no Pará.
A
floresta amazônica localiza-se no norte da América do Sul, abrange os estados
do Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Pará e Roraima, além de menores proporções
nos países: Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e
Guiana Francesa. Por estar localizada próxima à linha do Equador, a floresta
amazônica apresenta clima equatorial. Assim, é marcada por elevadas
temperaturas e umidade do ar. A floresta amazônica é considerada a maior
floresta tropical do mundo e concentra enorme biodiversidade. Além disso, ela
faz parte do bioma Amazônia, o maior dos seis biomas brasileiros. Ela
corresponde a 53% das florestas tropicais ainda existentes. Por isso, a sua
conservação é debatida em âmbito internacional, em virtude de sua dimensão e
importância ecológica. Criada em 1953, a Amazônia Legal é uma área que abrange
nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato
Grosso, Tocantins e Maranhão. Ela compreende, aproximadamente, área global em
torno de 61% de todo o território brasileiro. O objetivo político da criação da
Amazônia Legal é promover o desenvolvimento
econômico, social e ambiental da região.
Irmã
Dorothy Stang esteve presente na Amazônia desde a década de 1970 junto aos
trabalhadores rurais da Região do Xingu. Sua atividade pastoral e missionária
propunha a geração de emprego e renda com projetos sociais de reflorestamento
em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da área da rodovia Transamazônica
construída no decorrer do governo do general Emílio Garrastazu Médici, entre
1969 e 1974. Uma obra de grande proporção para o desenvolvimento da região, quando
o governo conduziu aproximadamente quatro mil homens entre 1970 e 1973, com o
intuito de abrir estradas e estabelecer a comunicação entre as cidades. Seu
trabalho como religiosa também tinha como escopo a minimização dos conflitos
fundiários na região. Atuou ativamente na formação dos movimentos sociais no
Pará. Devido seu engajamento sua participação em projetos de desenvolvimento sustentável ultrapassou as fronteiras da
pequena Vila de Sucupira, no município de Anapu, no Estado do Pará, a 500 km de
Belém do Pará, ganhando reconhecimento nacional e internacional.
Do
ponto de vista do espaço o município de Anapu enfrenta conflitos por terra, com
assassinatos históricos e pontuais de trabalhadores rurais e de defensores dos
direitos civis. Criado há 15 anos por Dorothy Stang e militantes do movimento sem-terra,
o PDS Virola-Jatobá tinha o objetivo de criar renda social para famílias
assentadas usando recursos naturais da floresta, no entanto, sem destruí-la. A
utilização dos 160 lotes é dada por meio de uma concessão, ou seja, “o morador não se torna proprietário do pedaço
onde vive”. Uma pequena parte da área pode ser usada para agricultura familiar. O restante é floresta e deve ser preservado -
é essa área de reserva que está sendo desmatada pelos invasores. A criação da
reserva criou conflitos com exploradores ilegais de madeira e grileiros que
atuavam em Anapu. Em fevereiro de 2005, a freira Dorothy Stang, de 73 anos, foi
assassinada com seis tiros. O crime teve repercussão política internacional.
Cinco homens foram condenados pela morte - um deles, um fazendeiro, foi
apontado como mandante. Por outro lado, uma das controvérsias exógena ao modelo
PDS é de que ele não conseguiu consolidar as famílias no terreno, questão
imanente à reforma agrária e menos por não ser economicamente sustentável.
Pelos 160 lotes originais já passaram mais de 600 famílias em 15 anos de
projeto social.
A
religiosa participava da Comissão Pastoral
da Terra (CPT) da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde a sua fundação e acompanhou com
determinação e solidariedade a vida e a luta de organização dos trabalhadores
do campo, sobretudo na região da Transamazônica, no Pará. Defensora de uma
reforma agrária justa e consequente, Irmã Dorothy mantinha intensa agenda de
diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções
duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração laboral da
terra na Região Amazônica. Dentre suas inúmeras iniciativas em favor dos mais
empobrecidos, Irmã Dorothy ajudou a fundar a primeira escola de formação de
professores na rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena Anapu. Era a
Escola Brasil Grande. Ainda em 2004 recebeu premiação da Ordem dos Advogados do
Brasil, secção Pará, pela sua luta em defesa dos direitos humanos. Em 2005, foi
homenageada pelo documentário “Amazônia Revelada”.
O
seu trabalho pastoral era a catequese e a formação de Comunidades cristãs. O
zelo da Irmã Dorothy a levava a atuar em várias cidades e vilarejos rurais da
região do Xingu, formando filhos e filhas de Deus. Ela buscava também a geração
de emprego e renda, com projetos de reflorestamento em áreas degradadas. Seu
trabalho focava-se também na minimização dos conflitos fundiários existentes na
região. Atuou em várias pastorais sociais do Pará, principalmente na Comissão
Pastoral da Terra. Devido ao seu trabalho junto aos agricultores, ganhou vários
prêmios a nível nacional e internacional. Participava ativamente na luta dos
trabalhadores do campo contra a grilagem e a devastação da floresta. Ajudou a
fundar a primeira escola de formação de professores na rodovia Transamazônica.
Planejada para integrar o Norte brasileiro com o resto do país, foi inaugurada
em 27 de agosto de 1972, ainda inacabada e faltando vários trechos a serem
asfaltados. Inicialmente projetada para ser uma rodovia pavimentada com 8 mil
quilômetros de comprimento, conectando as regiões Norte e Nordeste do Brasil
com o Peru e o Equador, não sofreu maiores modificações desde sua inauguração.
Depois
o projeto foi modificado para 4 977 km até Benjamin Constant, porém a
construção foi interrompida em Lábrea totalizando 4 223 km. É a terceira maior
rodovia do Brasil, com 4 223 km de comprimento, ligando a cidade de Cabedelo,
na Paraíba à Lábrea, no Amazonas, cortando sete estados brasileiros: Paraíba,
Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. É classificada como rodovia
transversal. Em grande parte, principalmente no Pará e no Amazonas, a rodovia
ainda não é totalmente pavimentada. Os trabalhadores ficavam completamente
isolados e sem comunicação por meses. Alguma informação era obtida apenas nas
visitas ocasionais a algumas cidades próximas. O transporte geralmente era
feito por pequenos aviões, que usavam pistas totalmente precárias. Por não ser pavimentado,
o trânsito na Rodovia Transamazônica é impraticável nas épocas de chuva na
região, entre outubro e março. O desmatamento em áreas próximas à rodovia é um
sério problema ocasionado por sua construção.
A
pavimentação dos 993 quilômetros da rodovia BR-163 que atravessam o sudoeste paraense
desponta como uma das principais e mais estudadas e debatidas obras de
infraestrutura da atualidade brasileira. Se, por um lado, o debate em torno da
obra reforça sua importância estratégica para o escoamento da produção de soja
do centro-norte do Mato Grosso, por outro, gera revolta nos movimentos
socioambientais e nas populações tradicionais que, apesar de quererem a
trafegabilidade da estrada, têm convivido com um clima intenso de violência e o
conflito pela posse da terra e pela exploração descontrolada e ambiciosa dos
seus recursos naturais. O cenário político é agravado pela situação controversa
fundiária indefinida da região, que facilita a grilagem de terras da União e a
expulsão de trabalhadores rurais, facilitado pela ausência do Estado ou
cumplicidade das autoridades ambientais, fundiárias, policiais e indígenas. A ausência do Estado nessa rodovia ajuda a acirrar os conflitos e põe
em xeque a viabilidade socioambiental e a sustentabilidade do empreendimento.
Essas
decisões de cunho fundiário, associadas à intensificação da ação do Ibama na
região, à expedição da Portaria 10 do Incra, que suspendeu a liberação de planos
de manejo em terras públicas, e às operações de investigação contra a corrupção
no Incra e no Ibama, criaram uma situação de caos na economia local, dominada
pelo comércio de terras e de madeira. Em abril de 2005, a segunda versão do
Plano BR-163 Sustentável foi discutida em uma nova rodada de consultas públicas
na região. O resultado está sendo sistematizado pelo GTI da BR-163 e está
prestes a ser apresentado com a última versão do plano. Apesar de o processo de
consultas terem sido criticados pelo pouco retorno de seus resultados aos
trabalhadores rurais a metodologia empregada possibilitou o diálogo e o
confronto entre os atores econômicos, sociais e políticos. A última audiência
pública referente à rodovia BR-163 ocorreu em maio de 2005, em Brasília, e
tratou da apresentação do estudo sobre o modelo de concessão da estrada
encomendado pelo DNIT ao Instituto Militar de Engenharia (IME). Na audiência,
foi confirmada a viabilidade econômica da exploração da rodovia e foi assumido
que a pavimentação da BR-163 ficaria sob a responsabilidade do setor privado –
prevista para ser uma concessão de 20 anos –, descartando o arranjo previamente
suscitado de Parceria Público-Privada (PPP). Atualmente, o DNIT está esperando
a análise do EIA-Rima e a liberação da licença de funcionamento pelo IBAMA,
além de preparar o edital para a licitação dos trechos de pavimentação e
manutenção da estrada.
A
morosidade da ação burocrática governamental nas suas três esferas de governo e
a fragilidade dos órgãos públicos com base no regionalismo acentuam-se com o sucateamento
da infraestrutura e com a corrupção presente no corpo funcional. As recentes
ações de fortalecimento dos órgãos públicos na região, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), associadas ao poder de polícia, além
da expedição de marcos regulatória, como a Portaria 10, de dezembro de 2004,
assinada conjuntamente pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), e a Medida Provisória 239, que estabelece a
limitação administrativa de 8,2 milhões de hectares no percurso da rodovia, só
têm acirrado os conflitos na região, pois afetam diretamente a grilagem de
terras e a exploração madeireira identificada como ilegal. Essas duas últimas
atividades, apesar de ilícitas, representam o lastro da economia local
atualmente, pois se constituem de fonte de empregos e de poder político. Em
suma, o governo federal encontra-se em uma encruzilhada histórica desenvolvimentista. Se, por um lado,
suas ações têm repercutido na direção da solução dos problemas de ocupação desordenada
da terra e do uso indiscriminado de seus recursos, por outro, têm acirrado a
violência contra trabalhadores rurais e determinado o desmatamento na região.
A
contradição real nos faz acreditar que a sustentabilidade para a região depende
somente das ações legitimistas governamentais e da presente capacidade da
sociedade local em perceber o que representa suas riquezas para a preservação
da região. No passado recente, a abertura de estradas numa região aparentemente
inóspita como a Amazônia despertou interesse dos cidadãos brasileiros, principalmente
do Nordeste do país, pela terra e dos governantes e empresários, pela
facilidade de acesso aos recursos naturais como minérios e madeira. Essa estratégia
geopolítica possibilitou o avanço da fronteira agrícola, a expansão das atividades
agropecuárias para o interior da Amazônia, além de permitir a ligação com as
regiões mais desenvolvidas do país. Apesar dos projetos sociais aparentemente
estarem embasados na premissa de que se propõem trazer melhorias para a
produção econômica e para o bem-estar social, o resultado histórico desses investimentos,
como a abertura de novas estradas, teve como impacto social uma ocupação
desordenada decorrente de negligência do Estado: É notório que 80% do desmatamento
da região encontram-se nas principais rodovias federais. Acredita-se que parte
dos impactos causados pela abertura ou pavimentação de uma estrada na Amazônia
possa ser minimizada se os investimentos forem acompanhados de apoio técnico governamental
em outras áreas que não somente a de infraestrutura.
A
Irmã Dorothy Stang foi assassinada, com seis tiros, um na cabeça e cinco ao
redor do corpo, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, às sete
horas e trinta minutos da manhã, em uma estrada de terra de difícil acesso, a
53 km da sede do município de Anapu, no Estado do Pará. Segundo testemunha,
antes de receber os disparos que lhe ceifaram a vida, ao ser indagada se estava
armada, Ir. Dorothy afirmou: “eis a minha arma!” mostrando a volumosa Bíblia.
Leu ainda alguns versículos das bem aventuranças para aquele que logo em
seguida lhe balearia. No cenário dos conflitos agrários no Brasil, seu nome
associa-se aos de tantos outros homens, mulheres e crianças que morreram e
morrem sem ter seus direitos civis respeitados. O corpo da missionária está enterrado
em Anapu, onde recebeu e recebe as homenagens de tantos que nela reconhecem as
virtudes heroicas da matrona cristã. O fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida,
acusado de ser o mandante do crime, havia sido condenado em um primeiro
julgamento a 30 anos de prisão. Num segundo julgamento foi absolvido. Após um
terceiro julgamento, foi novamente condenado pelo júri popular a 30 anos de
prisão.
A
reação do governo foi rápida. Ministros de Estado se deslocaram até Anapu (PA).
Autoridades de todos os níveis se manifestaram condenando a agressão. O
exército brasileiro deslocou contingentes para a região. Promessas de punição
implacável dos culpados se repetiram. Medidas para regularizar a posse das
terras foram anunciadas e áreas de proteção ambientais criadas. Não demorou
muito tempo e os dois pistoleiros executores do crime foram detidos. Depois foi
preso o intermediário que os contratou e por fim dois fazendeiros, apontados
como mandantes do crime. As investigações da polícia federal apontaram para uma
ação envolvendo um consórcio de fazendeiros e madeireiros interessados na
eliminação desta missionária. Os executores do assassinato, Rayfran das Neves
Sales e Clodoaldo Carlos Batista e o intermediário Amayr Feijoli da Cunha, o
Tato, foram julgados e condenados num processo muito rápido para a morosidade
da justiça paraense. Um dos mandantes, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi
condenado a 30 anos de prisão, em 2007, porém, menos de um ano depois, em
segundo julgamento, foi absolvido. Julgado novamente em abril de 2010, foi
condenado, após 15 horas de julgamento, a 30 anos de prisão em regime fechado.
Em outubro de 2011 obteve o direito de cumprir sua pena em regime semiaberto.
O
outro acusado de ser mandante, Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, esteve preso durante um ano, mas foi solto, pouco depois,
por habeas corpus emitido pelo
Supremo Tribunal Federal (STF).Julgado
novamente em 2010, Regivaldo também foi condenado a 30 anos de prisão. O
Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), ao rejeitar a apelação, decretou sua prisão
cautelar. Um pedido de habeas corpus
foi feito para que o réu pudesse permanecer em liberdade até o julgamento do
último recurso contra a condenação. Este foi negado pelo relator do caso,
desembargador convocado Adilson Vieira Macabu, que considerou não haver
elementos que justificassem sua libertação. As outras medidas governamentais
não surtiram o efeito proclamado. Pior do que isso, em 2008 e 2009, o governo
federal publicou as Medidas Provisórias
422 e 458 que acabam regularizando a grilagem de terras na Amazônia em áreas de
até 1500 hectares. Com o discurso de propor um ordenamento jurídico para a
ocupação da Amazônia, pavimenta-se, o caminho para a ampliação do agronegócio,
com suas monoculturas predatórias para a exportação. O projeto de reformulação
do Código Florestal e a aberração de Belo Monte, abriram feridas na ecologia da
Amazônia de Dorothy, de Chico Mendes e de tantos outros e outras, cujo sangue
semeia e fertiliza estas terras. Em 2011, essa mesma realidade vitimou, José
Cláudio e Maria do Espírito Santo, assassinados por defender a floresta e a
convivência harmônica dos povos com ela.
Bibliografia
geral consultada.
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“Supremo Manda Soltar Mandante do Assassinato de Dorothy Stang”. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/2018/05/25; FREITAS, Hingryd Inácio de, Assentamentos Rurais em Terras Baianas: Sujeitos em Luta, Territórios em Disputa. Tese de Doutorado. Departamento de Geografia. Centro de Ciências. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2018; entre outros.
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