1º de Maio de 1886 - O Fabuloso Dia de Trabalho de Todos os Tempos.
Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga
“A República livre executou cinco pessoas por
suas convicções”. William Dean Howells
William
Dean Howells (1837-1920) foi um romancista realista norte-americano, crítico
literário e dramaturgo, apelidado de The Dean of American Letters. Ele
era particularmente conhecido por seu mandato como editor do The Atlantic
Monthly, bem como por seus próprios escritos prolíficos, incluindo a
história de Natal: Christmas Every Day e os romances The Rise of
Silas Lapham e A Traveler from Altruria. Howells nasceu em 1º de
março de 1837, em Martinsville, Ohio (hoje como Martins Ferry, Ohio),
filho de William Cooper Howells e Mary Dean Howells, o segundo de oito filhos.
Seu pai era um editor de jornal e impressor que se mudava com frequência para
Ohio. Em 1840, a família se estabeleceu
em Hamilton, Ohio, onde seu pai supervisionava um jornal Whig e seguia o Swedenborgianismo.
Seus nove anos foram o período mais longo em que permaneceram em um só lugar. A
família tinha que viver frugalmente, embora o jovem Howells fosse encorajado
por seus pais em seus interesses literários. Ele começou cedo a ajudar
seu pai com trabalhos tipográficos e de impressão, um trabalho conhecido como o diabo da impressora. Em 1852, seu pai conseguiu que um de seus
poemas fosse publicado no Ohio State Journal sem avisá-lo.
Em
1856, Howells foi eleito secretário da Câmara dos Representantes do Estado. Em
1858, ele começou a trabalhar no Ohio State Journal, onde escreveu
poesia e contos, e também traduziu peças do francês, espanhol e alemão. Ele
estudou avidamente alemão e outras línguas e estava muito interessado em
Heinrich Heine. Em 1860, ele visitou Boston e se encontrou com os escritores
James T. Fields, James Russell Lowell, Oliver Wendell Holmes, Sr., Nathaniel
Hawthorne, Henry David Thoreau e Ralph Waldo Emerson. Ele se tornou amigo
pessoal de muitos deles, incluindo Henry Adams, William James, Henry James e
Oliver Wendell Holmes Jr. A William Dean Howells House em Cambridge, MA foi
projetada por sua esposa Elinor Mead, e foi ocupada por Howells e sua família
de 1873 a 1878. Em 1860, Howells escreveu a biografia de campanha de Abraham
Lincoln, Life of Abraham Lincoln, e posteriormente ganhou um consulado em
Veneza. Ele se casou com Elinor Mead na véspera de Natal de 1862 na embaixada norte-americana
em Paris. Ela era irmã do escultor Larkin Goldsmith Mead e do arquiteto William
Rutherford Mead, da firma McKim, Mead e White. Entre seus filhos estava o
arquiteto John Mead Howells.
Os
Howells voltaram para a América em 1865 e se estabeleceram em Cambridge,
Massachusetts. Ele escreveu para várias revistas, incluindo The Atlantic
Monthly e Harper`s Magazine. Em janeiro de 1866, James Fields
ofereceu-lhe o cargo de editor assistente no The Atlantic Monthly; ele
aceitou depois de negociar com sucesso por um salário mais alto, embora tenha
ficado frustrado com a supervisão de Fields. Howells foi nomeado editor em
1871, após cinco anos como editor assistente, e permaneceu nesse cargo até
1881. Em 1869, conheceu Mark Twain, com quem formou uma amizade de longa data.
Mas seu relacionamento com o jornalista Jonathan Baxter Harrison foi mais
importante para o desenvolvimento de seu estilo literário e sua defesa do
realismo. Harrison escreveu uma série de artigos para o The Atlantic Monthly
durante a década de 1870 sobre a vida dos americanos comuns. Howells deu uma
série de doze palestras sobre “poetas italianos do nosso século” para o
Instituto Lowell durante sua temporada de 1870-1871. Ele publicou seu primeiro
romance Their Wedding Journey em 1872, mas sua reputação literária
disparou com o romance realista A Modern Instance (1882), que descrevia
a decadência de um casamento. Seu romance de 1885, The Rise of Silas Lapham,
tornou-se seu trabalho mais conhecido, descrevendo a ascensão e queda de um
empresário americano do ramo de tintas. Suas visões sociais também foram
fortemente representadas nos romances Annie Kilburn (1888), A Hazard
of New Fortunes (1890) e An Imperative Duty (1891).
Ele
ficou particularmente indignado com os julgamentos resultantes do motim de
Haymarket, o que o levou a retratar um motim semelhante em A Hazard of New
Fortunes e a escrever publicamente para protestar contra os julgamentos dos
homens supostamente envolvidos no caso de Haymarket. Em sua escrita pública e
em seus romances, ele chamou a atenção para as questões sociais prementes da
época. Ele se juntou à Liga Anti-Imperialista em 1898, em oposição à anexação
das Filipinas pelos Estados Unidos. Seus poemas foram coletados em 1873 e 1886,
e um volume foi publicado em 1895 sob o título Stops of Various Quills.
Ele foi o iniciador da escola de realistas americanos e tinha pouca simpatia
por qualquer outro tipo de ficção. No entanto, ele frequentemente encorajava
novos escritores nos quais descobria novas ideias ou novas técnicas ficcionais,
como Stephen Crane, Frank Norris, Hamlin Garland, Harold Frederic, Abraham
Cahan, Sarah Orne Jewett e Paul Laurence Dunbar.
Em
1902, Howells publicou The Flight of Pony Baker, um livro para crianças
parcialmente inspirado em sua própria infância. Nesse mesmo ano, ele comprou
uma casa de verão com vista para o rio Piscataqua em Kittery Point, Maine. Ele
voltou para lá anualmente até a morte de Elinor, quando deixou a casa para seu
filho e família e se mudou para uma casa em York Harbor. Seu neto, John Noyes
Mead Howells, doou a propriedade para a Universidade de Harvard como um
memorial em 1979. Em 1904, ele foi uma das primeiras sete pessoas escolhidas
para membro da Academia Americana de Artes e Letras, da qual se tornou
presidente. Em fevereiro de 1910, Elinor Howells começou a usar morfina para
tratar o agravamento de sua neurite. Ela morreu em 6 de maio, alguns dias após
seu aniversário, e apenas duas semanas após a morte do amigo de Howells, Mark
Twain. Henry James ofereceu suas condolências, escrevendo: - “Penso nesta
laceração de sua vida com um senso infinito de tudo que isso significará para
você”. Howells e sua filha Mildred decidiram passar parte do ano em sua casa em
Cambridge, na Concord Avenue; embora, sem Elinor, eles o achassem “terrível em
sua fantasmagórica e horripilante”. Howells morreu durante o sono pouco depois
da meia-noite de 11 de maio de 1920, e foi enterrado em Cambridge,
Massachusetts. Oito anos depois, sua filha publicou sua correspondência como a biografia de sua vida literária.
Na
década de 1880, os Estados Unidos da América atravessavam uma crise de superprodução.
Essa crise gerou uma legião de centenas de milhares de desempregados e uma
série de mazelas para a classe operária. Seu custo de vida se elevou
enormemente e a mortalidade avançou um alto nível principalmente entre as
crianças. Os baixos salários faziam com que suas mulheres e filhos trabalhassem
para receber o equivalente a 33% do orçamento familiar. Os avanços técnicos, ao
invés de diminuir, intensificavam o trabalho, a jornada era geralmente de dez a
doze horas, sendo frequentemente necessário trabalhar quinze horas e até aos
domingos e feriados. Fruto dessa conjuntura de crise econômica, o movimento
operário teve um forte desenvolvimento, expresso na agregação de setores mais
atrasados com elementos mais antigos e conscientes da classe operária e na
heterogeneidade da sua composição. Grandes sindicatos foram formados nos anos
da crise (1882-1885) nos maiores centros industriais do país, como nas cidades
de Nova Iorque, Detroit, Chicago, Cincinnati. Nesse período de grande
efervescência política, aumentaram consideravelmente os órgãos de imprensa
operária.
Do
ponto de vista do capital, a saída para sua própria crise não pode ser dada
pelo Estado. Financiar com recursos públicos a imensa montanha de dívidas e
créditos impagáveis sobre a qual está assentada a economia global é apenas uma
condição preliminar para que o capital possa retomar, em patamares mais
elevados, sua taxa de lucro. Não basta, portanto, fazer do Tesouro dos Estados
Nacionais o meio pelo qual toda a sociedade é compulsoriamente chamada a
financiar as rendas, lucros e prejuízos dos capitalistas: é preciso recuperar a
lucratividade do próprio capital no processo social de sua produção, no
processo de produção do valor e da mais-valia, o que só pode ser obtido por um
aumento ainda maior da superexploração do trabalho, num ambiente marcado pelo
acirramento inevitável das contradições, antagonismos e limites do capital e
pela retomada histórica das grandes lutas e mobilizações de massa da classe
trabalhadora. A rigor, desde as análises de Karl Marx, o capital não resolve suas
crises cíclicas, que fazem parte de seu funcionamento e do próprio processo de
sua reprodução ampliada. Ele apenas as desloca, conjunturalmente no tempo e no
espaço, com o único objetivo de restabelecer sua taxa de lucro em níveis quase
sempre mais elevados.
Os
maiores sindicatos, de gráficos, mineiros, carpinteiros e muitos outros tinham
um jornal próprio. Apareceram por todo o país mais de quatrocentos jornais
periódicos simpatizantes das organizações operárias, como o diário: Laborer em Massachusetts, o semanário Craftsman em Washington e o Labor Tribune em Pittsburg. Havia ainda
os jornais dos grupos socialistas e anarco-sindicalistas, como o New-Ypor Volks-Zeitung, o Der Sozialist, o Alarm e o Arbeiter-Zeitung.
Os mais ativos eram os semanários Alarm,
dirigidos por Albert Parsons e escrito em inglês, e Arbeiter-Zeitung, em alemão, dirigido por August Spies. Com o
aprofundamento da crise e o agravamento da situação dos operários, o movimento
se amplia, tendo como reivindicação central a redução da jornada de trabalho.
Essa reivindicação é importante tanto do ponto de vista econômico, quanto
político. Do primeiro, porque é uma reivindicação que vai contra a tentativa da
burguesia de aumentar a exploração dos operários através da extração da
mais-valia absoluta. Do ponto de vista político, porque a jornada de trabalho exaustiva
coloca também enormes dificuldades para a organização dos trabalhadores, tanto
sindical, quanto em partidos políticos. É necessário ter certo tempo livre para a atividade
política. Nesse sentido, os capitalistas são enormemente privilegiados também
pelo enorme tempo livre de que dispõe para se dedicar a essa atividade, além
dos seus políticos profissionais, comparativamente que gozam tanto de uma situação financeira
favorável, quanto de agenciamento e financiamento do ponto de vista estatal.
O
filme: Le Jeune Karl Marx, dirigido pelo haitiano Raoul Peck, narra o
percurso das ideias revolucionárias que se forma no jovem Marx, ao longo dos
anos de 1843 a fevereiro de 1848, quando da publicação do programa da Liga
Comunista, conhecido como Manifesto do Partido Comunista. Em fins de 1843, Marx
casa-se com Jenny e ambos deixam a Alemanha rumo à França, onde passam a
residir em Paris até 1845, quando é expulso para Bruxelas e, posteriormente,
dirige-se a Londres onde irá residir até a sua morte. O “clima de comunicação”
intelectual do Liceu onde Marx estudou até 1835, como podemos imaginar, não era
diferente. Aí também o espírito liberal da Ilustração fora introduzido, de modo
que Marx recebeu uma educação tipicamente humanista do ponto de vista da sociedade
liberal. O próprio reitor do Liceu, Johann Hugo Wyttenbach, havia contribuído
para que aí reinasse um espírito liberal e racionalista. Wyttenbach havia
participado da fundação do “Trier Cassino Club”, era amigo íntimo da família
Marx e professor de história de Karl. Nesse mesmo Liceu do qual ele era reitor,
o professor de matemática foi acusado de materialismo e ateísmo, e o professor
de hebraico de ter se juntado “às cantorias revolucionárias” por influência
francesa. Por tudo isso, e logo após a polícia ter encontrado sátiras
antigovernamentais em posse de alunos envolvidos no debate sobre filosofia,
Wyttenbach foi obrigado a receber Loehrs, tido por reacionário, como co-Reitor.
Marx expressou seu repúdio a Loehrs despedindo-se de todos os professores menos
dele ao sair do Liceu.
Marx
tornou-se reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença
filosófica que profere em um manuscrito intitulado: Crítica da Filosofia do Direito
de Hegel (1843): - “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração
de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de
espírito. É o ópio do povo”. Em verdade, Marx se ocupou muito pouco em criticar
sistematicamente a atividade religiosa, mas o fez de maneira singular,
evidenciando sua formação ideológica no limite da consciência. Nesse quesito
ele basicamente seguiu as opiniões de Ludwig Feuerbach, para quem a religião
não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico: é criada pela
fabulação dos homens. Ao integrar a Filosofia alemã, do socialismo utópico e da
economia política clássica, Marx elaborou, simultaneamente, o método de análise
e a interpretação do capitalismo como um modo fundamentalmente antagônico de
desenvolvimento histórico. Em essência, o capitalismo é um modo de produção e
de reconhecimento da produção-consumo e extração de mais-valia.
Marx foi o terceiro de nove filhos,
de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na
época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788-1863), era judia
holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777-1838), um advogado e conselheiro de
Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao
cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros
de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos. Johanna
Bertha Julie von Westphalen, conhecida como Jenny von Westphalen ou Jenny Marx
(1814-1881), foi esposa de Karl Marx, filha de Johann Ludwig (1770-1842), Barão
von Westphalen, professor na Friedrich-Wilhelm-Universität de Berlim. Em 1830,
Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que
eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde na
Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para
a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel,
cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor. Em
Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado pelo hegeliano
de esquerda Bruno Bauer. Ali perdeu interesse pelo Direito em seu
conservadorismo e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do
movimento dos chamados jovens hegelianos.
Seu
pai faleceu neste mesmo ano. Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia
com uma tese materialista sobre a Diferença da Filosofia da Natureza em
Demócrito e Epicuro. Impedido de seguir uma carreira acadêmica tornou-se, em
1842, redator-chefe da Rheinische Zeitung (“Gazeta Renana”), um jornal
da província de Colônia, onde conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano,
durante visita deste a redação do jornal. Karl Marx é um nome fundamental para
compreender o desenvolvimento político do mundo moderno e a crítica ideológica
desde a metade do século XIX, tendo ecos até os dias de hoje. Marx nasceu em
uma rica família de classe média em Tréveris, na Renânia prussiana, e estudou
nas universidades de Bonn e Berlim, onde ficou interessado pelas ideias
filosóficas dos jovens hegelianos. Depois dos estudos, ele escreveu para
Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e começou a
trabalhar na teoria da concepção materialista da história. Ele se mudou para
Paris em 1843, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu
Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. É
curioso como mesmo atestando sua importância, o que se vê é um distanciamento
em relação a seus pensamentos por parte de quem é a favor e de quem é contra o
que obviamente deturpa o que o pensador escreveu há tempos atrás.
Talvez
seja esse o pensamento para a realização do longa-metragem O Jovem Karl Marx,
uma típica cinebiografia revolucionária da agonia à glória em 120 minutos,
individualizando pensamentos e fazendo da narrativa audiovisual um amontoado de
ações para reconstituir uma epopeia de um homem, no caso um teórico,
transformando-se em algo muito maior que sua própria individualidade, ou sem
ter a consciência de seu trabalho e de suas ideias. É o que mais parece
problemático em O Jovem Karl Marx, um filme que individualiza referências em
torno de glórias de um pensador que propunha coletivizações das relações
políticas em primeira instância. Dirigido por Raoul Peck, que também escreve o
roteiro junto com Pascal Bonitzer demonstra que sua principal dificuldade é a representação
digna do valor histórico daqueles personagens. Ao final, tudo que a família
tinha eram precisamente as ideias de Marx, que durante a maior parte da vida
deles só existiram como uma tempestade se preparando dentro do cérebro
disciplinado, turbulento, epigramático e conciso do pai, e que aparentemente
quase ninguém mais reconhecia ou mesmo compreendia em sua globalidade. Por
improvável que fosse Marx fez o que se havia proposto a fazer: ele mudou o
mundo.
Em 1843, a Gazeta Renana foi fechada
após publicar uma série de críticas ao governo prussiano. Tendo perdido o seu
emprego de redator-chefe, Marx mudou-se para Paris. Lá assumiu a direção da
publicação Deutsch-Französische Jahrbücher (“Anais Franco-Alemães”) e
foi apresentado a diversas sociedades secretas de socialistas. Antes ainda da
sua mudança para Paris, Marx casou-se, no dia 19 de junho de 1843, com Jenny
von Westphalen, a filha de um barão da Prússia com a qual mantinha noivado
desde o início dos seus estudos universitários. Noivado que foi mantido em
sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não concordavam com a
união. De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação
chamada Vorwärts! que contestava o regime político alemão da época. Por
conta disto, Marx foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano.
Migrou então para Bruxelas, para onde Engels também viajou. Entre outros
escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto do Partido Comunista. Em 1848,
Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo reacionário. Com Friedrich Engels,
mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova Gazeta Renana. Após análises
publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia em 1849.
Até
meados de 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos,
seu salário e presentes de amigos e aliados políticos, além da herança legada
por seu pai. Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave crise
financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o
governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças,
então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por Ferdinand
Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para Londres, onde
fixaram residência definitiva para trabalhar como correspondente em Londres
para o New York Tribune onde declarou seu notório apoio público ao
governo de Abraham Lincoln durante a Guerra da Secessão. Do casamento de Marx
com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições
sanitárias e de subsistência que foram forçados a viver no exílio em Londres,
apenas três sobreviveram à idade adulta. As crianças eram: Jenny Caroline
(1844-1883), Jenny Laura (1845-1911), Edgar (1847-1855), Henry Edward Guy
(“Guido”; 1849-1850), Jenny Eveline Frances (“Franziska”; 1851-52), Jenny Julia
Eleanor (1855-1898) e mais um que morreu antes de ter recebido seu nome,
ocorrido em julho de 1857.
Uma
carta de Marx a Jenny, escrita em 21 de junho de 1856, quando ele estava em Manchester é particularmente expressiva.
Nela afirma o filósofo marxista Leandro Konder, vemos o viço do amor, sua impetuosidade,
20 anos depois de sua primeira aparição. Marx começa dizendo: - “Amadinha do meu
coração, torno a te escrever porque estou sozinho e porque me cansa ficar
dialogando contigo na minha cabeça o tempo todo, sem que tomes conhecimento
disso, sem que possas me ouvir e responder”. Conta em seguida que beija sempre
o retrato dela e que sonha com ela: - “Beijo dos pés à cabeça, caio de joelhos
diante de ti e gemo: ´Amo-a, minha senhora`. De fato, eu te amo. E te amo mais
do que o mouro de Veneza jamais amou” (a comparação com Otelo se devia ao fato
de o apelido de Marx em família ser ´mouro`). Adiante, Marx escreve: - “Quem,
entre os meus numerosos caluniadores, quem, entre os meus inimigos
maledicentes, já me acusou de ter vocação para desempenhar o papel de
apaixonado num teatro de segunda categoria? Nenhum. No entanto, essa acusação
seria verdadeira”.
Em
1886 o número de participantes nas manifestações aumenta doze vezes. Daí
resulta que 320 mil trabalhadores aderem à greve geral de maio deste ano pela
jornada de oito horas. Esta foi a primeira intervenção de massa do proletariado
industrial enquanto classe na história dos Estados Unidos. No dia 1° de maio de
1886 os principais centros industriais norte-americanos foram paralisados por
uma greve geral, que assustou os capitalistas da indústria norte-americana. Nesse
dia os grevistas organizados de Chicago se reuniram em uma grande assembleia na
Praça Haymarket, reivindicando redução da jornada de trabalho para oito horas e
melhoria nas condições de trabalho. Preocupadas com a amplitude que o movimento
adquiria, as autoridades armaram uma provocação, e numa manifestação chamada
para o dia 4, por ocasião do assassinato de grevistas pela polícia que havia
ocorrido no dia anterior, lançaram uma bomba no meio da multidão. Policiais e
soldados de guarnições especializadas “aguardavam esse sinal para abrir fogo
contra a os operários grevistas”.
Em
Outubro de 1884, uma convenção presidida pela Federação de Ofícios e Sindicatos
Organizados decidiu por unanimidade que o dia 1º de Maio de 1886 seria a data
em que a jornada de 8 horas diárias se tornaria padrão. Com a proximidade da
data escolhida, os sindicatos estadunidenses organizaram uma greve geral em
apoio à causa. A história política do dia do trabalho remonta o ano de 1886 na
industrializada cidade de Chicago nos Estados Unidos da América. No dia 1º de
maio deste ano, milhares de trabalhadores foram às ruas reivindicar melhores
condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada de trabalho de treze
para oito horas diárias. Neste mesmo dia ocorreu nos Estados Unidos uma grande greve geral dos trabalhadores. Dois dias
após os acontecimentos, um conflito envolvendo policiais e trabalhadores
provocou a morte de alguns manifestantes. Chicago se tornou um dos principais
centros de protestos e uma das manifestações na cidade terminou em tragédia. A
polícia reprimiu o movimento de forma violenta, com a morte de quatro
operários. Esses fatos ocorreram no dia 1º de maio de 1886, passando essa data
a simbolizar a luta dos trabalhadores.
Após
a Guerra de Secessão, mais especificamente após a Depressão de 1873, houve uma
rápida expansão da produção industrial nos Estados Unidos. Chicago era um
importante centro industrial e centenas de emigrantes germânicos foram
empregados ganhando $1,50 dólares por dia. Trabalhadores norte-americanos
tinham uma jornada de pouco mais de 60 horas semanais, trabalhando 6 dias por
semana. A cidade tornou-se palco para várias tentativas de organização
sindical, exigindo melhorias nas condições de trabalho. Empregadores reagiam
com medidas antisíndicas, demitindo e marcando participantes, “bloqueando empregado”
que representavam séries de táticas que consistiam praticamente em “trancar
trabalhadores do lado de fora do local de trabalho”, impedindo-os de trabalhar,
“recrutando fura-greves”; “contratando espiões”, criminosos e segurança privada
e principalmente com o objetivo de desestabilizar o movimento trabalhista incitando
conflitos étnicos numa tentativa de desunir os trabalhadores.
Os
jornais locais apoiavam os interesses dos capitalistas e habitualmente se
opunham à mídia sindical e imigrante. Durante o abrandamento econômico entre
1882 e 1886, organizações anarquistas e socialistas estiveram preponderantemente
ativas. A organização sindical “Knights of Labor” rejeitava o socialismo e
radicalismo, mas apoiava a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias,
teve um aumento de 70.000 associados em 1884 para mais de 700.000 em 1886. O
movimento anarquista em Chicago, composto por milhares de trabalhadores na sua
maioria imigrante, centrava-se sobre o jornal de língua alemã “Arbeiter-Zeitung”
(“Times Workers”), editado por August Vincent Theodore Spies (1855-1887) um
ativista anarquista nascido na Alemanha, que lutou em defesa dos direitos
básicos aos trabalhadores nos Estados Unidos, país para o qual imigrou. Foi
julgado e considerado culpado de conspiração e enforcado, juntamente com Albert
Parsons, Adolph Fischer e George Engel, em consequência de um ataque a bomba à
polícia durante a revolta de Haymarket. Entre os anarquistas sindicalistas do
mundo, Spies é lembrado como um dos cinco mártires de Haymarket. Outros
anarquistas construíam uma militância revolucionária armada.
É no âmbito desse contexto social e político que se dá o
movimento reivindicativo que marcou na história essa importante data do
Primeiro de Maio. Há anos, existia a ideia de que o dia dos trabalhadores e das
trabalhadoras deveria ser dividido em três partes: oito horas para o trabalho,
oito horas de sono e oito horas para o lazer e o estudo. No ano de 1884, a
Federação dos Sindicatos Organizados dos Estados Unidos e do Canadá, precursora
da Federação Americana do Trabalho -
AFL declarou que a partir do dia 1º de maio de 1886 a jornada de oito horas de
trabalho passaria a vigorar, apesar dos capitalistas afirmarem que isso era
impossível. Esse movimento, na realidade, refletia uma das reivindicações
centrais dos movimentos operários, e continuava a mobilização já iniciada
anteriormente em países como Inglaterra, França e Austrália. As adesões para o
movimento foram muito grandes, já que a reivindicação central era comum a todos
os trabalhadores. Um pouco antes do tão esperado Primeiro de Maio de 1886,
milhares de trabalhadores e trabalhadoras havia aderido à luta pela redução da
jornada. - “Brancos e negros, homens e mulheres, nativos e imigrantes, todos
estavam envolvidos”.
Especificamente
nos Estados Unidos da América, o anarquismo, força protagonista deste movimento social, vinha
crescendo desde o Congresso de Pittsburgh, em 1883, e com a fundação da International Working People’s Association
(IWPA), expressão de massas anarquista que, em 1886, chegou a ter 2500
militantes e 10 mil colaboradores. Entre seus fundadores, podemos destacar Lucy
Parsons – mulher, negra e ex-escrava –, que teve um papel decisivo na
organização operária de Chicago, incorporando a pauta das mulheres negras e dos
negros. Vale lembrar que a IWPA, entendendo as condições especificas de
mulheres e negras/os na sociedade, defendeu a pauta das opressões, denunciando
a forma como o chamado “mundo do trabalho” se utiliza dessas condições sociais
e políticas para promover uma maior precarização e exploração do trabalho,
explorando ainda mais. Em um de seus inúmeros discursos ela atentava para que a
crítica, enquanto trabalhadores pudessem ir além da figura dos patrões, que refletissem
também sobre o mundo do trabalho: - “Então você não pode ver que entre a imagem
do ‘bom chefe’ e a do ‘mau patrão’ tanto faz? E, que, você é a presa comum de
ambos, e que a função dele é simplesmente explorar? Você não pode ver que é o
sistema industrial e não o ‘chefe’ que deve ser mudado?”. Outro marco
significativo foi o jornal diário Chicagoer
Arbeiter Zeitung e a fundação, em 1884, da Central Labor Union (CLU), que chegaram a 28 mil trabalhadores,
somente em Chicago, em 1886.
No
dia 1º de maio de 1886 as ruas da cidade de Chicago foram tomadas pelos
trabalhadores, em protestos e greves, cujo objetivo central estava na redução da
jornada de trabalho. Chicago, desse tempo, era o principal centro de agitação
política dos EUA e os anarquistas exerciam a maior influência no movimento. De
acordo com o relato de um jornal popular, “não saía qualquer fumaça das altas
chaminés das fábricas e dos engenhos, e as coisas assumiam uma aparência de sabá (o sábado judeu)”. Entre 80 e 90
mil pessoas saíram às ruas em apoio ao crescente movimento somente na cidade de
Chicago. Grandes manifestações com mais de 10 mil pessoas também aconteceram em
Nova York e Detroit. Aconteceram reuniões e comícios em Louisville, Kentucky,
Baltimore e Maryland. Estima-se que por volta de meio milhão de pessoas tenha
tomado parte nas manifestações do Primeiro de Maio nos EUA. Estima-se também
que por volta de 1200 fábricas entraram em greve em todo o país em apoio ao
movimento.
A posição dos líderes capitalistas era
claramente refletida com apoio na imprensa conservadora que nomeava
preconceituosamente os manifestantes de “cafajestes, preguiçosos, e canalhas
que buscavam criar desordens”. Outro veículo da imprensa afirmava que “esses
brutos [os/as operários/as] só compreendem a força, uma força que possam
recordar durante várias gerações”. Os capitalistas compravam armas de fogo para
a polícia local. Esses são apenas alguns exemplos da “rede de apoio” de
interesses que se formou entre patrões e a mídia, todos em defesa do Capital e
da ordem estabelecida. No dia 03 de maio as manifestações e greves continuavam.
August Spies, um tipógrafo anarquista e editor do periódico Arbeiter-Zeitung, discursou para 6 mil
trabalhadores e trabalhadoras. Ainda enquanto ele falava, os fura-greves da
fábrica Mc Cormick Harvester estavam saindo, e parte dos manifestantes
deslocou-se para frente da fábrica, com o objetivo de contestar os fura-greves.
Isso aconteceu, pois o local em que falava August Spies ficava a um quarteirão
da fábrica. Os manifestantes desceram a rua e fizeram com que os fura-greves
voltassem para dentro da fábrica. Foi então que chegou a polícia. Eram em torno
de 200 policiais que, ao reprimir os manifestantes, acabaram matando seis
pessoas, mas outras fontes dizem quatro ou sete, ferindo e prendendo muitas
outras. Spies, vendo o resultado brutal da repressão policial, dirigiu-se ao
escritório do Arbeiter-Zeitung e fez
uma circular, convocando os trabalhadores e as trabalhadoras para outra
manifestação no início da noite do dia seguinte.
O protesto do dia 4 de maio ocorreu na famosa Praça
Haymarket, e nele discursaram, além de Spies, Albert Parsons, tipógrafo,
militante anarquista e companheiro de Lucy Parsons, e Samuel Fielden, imigrante
inglês, operário da indústria têxtil e também militante anarquista. Os
discursos pediam unidade e continuidade no movimento. Havia aproximadamente
2500 pessoas no local, que até o momento faziam um protesto pacífico, tão
pacífico que o prefeito Carter Harrison, presente no início dos discursos,
afirmou que “nada do que acontecia dava a impressão de haver necessidade de
intervenção da polícia”. Já no final da noite o mau tempo contribuía para que
houvesse apenas cerca de 200 pessoas na praça. Com a ordem de dispersar a
manifestação imediatamente, um grupo de 180 policiais chegou ao local. Apesar
de Spies ter dito que os manifestantes eram pacíficos, a polícia iniciou o
processo de dispersar o ato. Foi nesse momento que uma bomba explodiu em meio
aos policiais, matando sete e ferindo aproximadamente 70, entre policiais e
manifestantes. A polícia abriu fogo contra a multidão, sendo responsável por
incontáveis mortes. Alguns relatos falam em 100 mortos e dezenas de presos e
feridos. Ninguém nunca soube, de fato, se quem jogou a bomba foram os
manifestantes ou a própria polícia, para incriminar o movimento.
Sem
possuir prova alguma de que eram culpados da explosão da bomba, e possuindo, ao
contrário, provas irrefutáveis de que apenas dois dos dirigentes estavam
presentes no momento, num julgamento teatralizado e vergonhoso, sete operários,
Albert Parsons, August Spies, Samuel Fielden, Michael Schwab, Adolph Fischer,
George Engel, Louis Lingg, foram condenados a morte e um, Oscar Neebe, a quinze
anos de prisão. Na escolha do júri, foram rejeitadas todas as pessoas que
tivessem relações com organizações operárias ou que manifestassem simpatia por
elas. A maior parte dos jurados eram patrões ou pessoas diretamente ligadas a
eles, todas abertamente hostis aos operários e às atividades socialistas. Fica
absolutamente claro que quando se trata de defender seus interesses, contra a
mobilização revolucionária das massas, os capitalistas não se lembram de
cumprir a lei, nem de ser uma sociedade democrática, mas depois usam a
democracia como farsa para atacar a classe operária, suas organizações, suas
reivindicações e suas lutas. Esse ato de absoluta arbitrariedade cumpria uma
função política: intimidar e desmobilizar o crescente movimento operário que
evoluía cada vez mais para uma via consciente em Chicago e nos Estados Unidos da América.
A
despeito desse fato foram feitas numerosas manifestações operárias nos Estados
Unidos e na Europa e da opinião progressista norte-americana. Apesar da grande
pressão, as penas não foram canceladas. Apenas as de Schwab e Fielden foram
substituídas pela de prisão perpétua. Lingg morreu na prisão. Parsons, Spies,
Fischer e Engel foram enforcados em 11 de novembro de 1887. Em sua
autobiografia, Spies diria algum tempo mais tarde que “o anarquismo não era nem
mesmo mencionado. Mas o anarquismo era bom o suficiente para servir como um
bode expiatório para Bonfield [chefe de polícia de Chicago]. Esse demônio, com
o objetivo de justificar seu ataque assassino à reunião, disse: - “Eram
anarquistas. – Anarquistas! Oh, que horror!”. O fato é que o acontecimento político
da utilização bomba foi manipulado como motivo generalizado para a perseguição
de todo o movimento radical de trabalhadores. A polícia invadiu casas e
escritórios de trabalhadores aparentemente suspeitos realizando inúmeras
prisões. Muitas pessoas que nem sabiam o que representava as palavras
anarquismo ou socialismo foram presas e torturadas. Definitivamente, a polícia
primeiro atacava e prendia, para depois averiguar se havia alguma “culpa” dos
acusados.
O resultado desse processo foi a prisão
temporária de Rudolph Schnaubelt, acusado de jogar a bomba. Ele foi solto
depois de algum tempo sem acusações formais e há quem diga que ele “era um
agente pago pelas autoridades para cometer o atentado”. Com Schnaubelt solto, a
polícia prendeu Fielden e seis imigrantes anarquistas alemães: Spies, Neebe,
Adolph Fischer, tipógrafo, Louis Lingg, carpinteiro, George Engel, tipógrafo e
Michael Schwab, encadernador. A polícia também procurava Albert Parsons, já que
ele era um importante líder da IWPA em Chicago, mas ele conseguiu se esconder e
não ser capturado. Parsons acabou depois se apresentando no dia do julgamento.
Apesar de apenas três deles terem estado presentes no dia da explosão da bomba,
foram todos incriminados e responsabilizados por ato de motivação política.
O julgamento teve início em 21 de junho de
1886 com um júri nitidamente manipulado. Ele era composto de empresários, seus
funcionários e um parente de um dos policiais mortos. Não houve provas apresentadas contra os
anarquistas e nada que levasse a uma conexão clara dos acusados com a explosão
da bomba. Não houve, também, quaisquer provas de que eles teriam incitado a
violência ou algo do tipo em seus discursos. No entanto, o resultado do
julgamento representou um claro medo por parte da sociedade capitalista em
relação aos operários organizados e combativos. Numa deliberada tentativa de
conter o crescente movimento operário, sete dos acusados foram condenados à
morte em 19 de agosto. Neebe foi condenado a 15 anos de prisão. Apesar de
insistir não ser culpado, Neebe, em uma demonstração de solidariedade aos seus
companheiros, falou ao juiz que sentia não ser enforcado com os outros. A
punição aos anarquistas deveria servir como exemplo à sociedade, demonstrando
o que aconteceria àqueles que desafiassem o poder do Estado e
do Capital.
Enfim, Spies pronunciou-se em sua última
defesa falando sobre os enforcamentos: -“Aqui terão apagado uma faísca, mas lá
e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É
um fogo subterrâneo e vocês não podem apagá-lo”. Importante também a defesa
proferida por Albert Parsons: - “A propriedade das máquinas como privilégio de
uns poucos é o que combatemos o monopólio das mesmas, eis aquilo contra o que
lutamos. Nós desejamos que todas as forças da natureza, que todas as forças
sociais, que essa força gigantesca, produto do trabalho e da inteligência das
gerações passadas, sejam elas postas à disposição do homem, submetidas ao homem
para sempre. Este, e não outro, é o objetivo do socialismo”. Schwab e Fielden
tiveram suas penas comutadas para prisão perpétua, depois de uma grande
campanha pela liberdade dos acusados. Lingg suicidou-se na prisão um dia antes
de ser enforcado. Em 11 de novembro de 1887 Spies, Parsons, Fischer e Engel
foram enforcados, e assim ficaram reconhecidos mundialmente como os Mártires de
Chicago. Milhares de pessoas tomaram parte na procissão dos funerais e a
campanha pela liberdade política de Fielden, Schwab e Neebe continuaram.
Em
26 de junho de 1893 o governador Altgeld libertou-os, alegando que eram
inocentes do crime pelo qual estavam sendo acusados. A universalização da data de
1° de Maio foi estabelecida no ano de 1889, pela Segunda Internacional Socialista, num congresso realizado em Paris
que reuniu os principais partidos socialistas e diversos sindicatos representativos da
Europa. Para homenagear aqueles que morreram nos conflitos diretos com o
aparelho repressivo de Estado, a reunião da Segunda
Internacional Socialista, ocorrida na capital francesa em 20 de junho de
1889, criou o Dia Internacional dos
Trabalhadores manifestado em 1º de maio de cada ano. Em 1890 as
manifestações de Primeiro de Maio se generalizaram nos EUA e Europa, assim como
nas Américas ocorressem inclusivamente no Chile, Peru e Cuba. O movimento pela
jornada diária de oito horas de trabalho ganhou apoio generalizado e acabou
fazendo com que o 1° de Maio se tornasse uma data mundial de organização e mobilização
do trabalho, entrando em vigor um projeto de lei que garante para as
trabalhadoras domésticas a jornada máxima de 8 horas diárias, o pagamento de
horas extras, o direito de se organizarem em um sindicato e outros benefícios
conquistados pelas lutas sociais e mobilizações políticas que marcaram definitivamente
o Dia dos Trabalhadores mundialmente.
O
escritor William Dean Howells, eminente personalidade norte-americana chegou a
declarar: - “A república livre executou cinco pessoas por suas convicções”. Em
Chicago os operários erigiram um obelisco em homenagem aos mártires de
Haymarket. Esses acontecimentos também tiveram grande repercussão no mundo
todo. O 1º Congresso da II Internacional, organização dos partidos operários e
socialistas, dirigida pelos revolucionários marxistas, reunido em Paris, tomando
por base a luta que estava acontecendo naquele momento, deliberou que todas as
organizações operárias e partidos políticos socialistas deveriam trabalhar para
que em um dia específico em todos os locais onde houvesse organização operária,
fosse realizada uma manifestação pela redução da jornada de trabalho. Em 1890
esse ato foi realizado em vários lugares. A data preferencial era o 1º de maio,
mas não foi realizado nessa data em todos os países. Como a manifestação
implicava em fazer um chamado geral aos trabalhadores por um dia, era praticamente como uma greve geral de um
dia. Portanto, nos países onde a organização operária ainda era aparentemente
fraca, o ato foi convocado para o domingo, mas rapidamente, o 1º de maio se
transformou na data unificada de luta
da classe operária. Nos EUA, curiosamente a burguesia imperialista, para
ocultar seu crime monstruoso contra a classe operária estabeleceu um “dia do
trabalho” em setembro.
Atualmente
o 1° de maio é feriado na maioria dos países reconhecidos pelos estados
nacionais. Isso aconteceu porque na prática os trabalhadores transformavam em
feriado nacional, o que revela o enorme poder de luta da classe operária
internacional. O fato de uma classe social oprimida pelo capital, pobre, em
geral inculta, com enormes dificuldades para se organizar, estabeleceu esse dia
internacional, é demonstração não só da unidade na divisão internacional do
trabalho, como da força expressiva e natureza social internacional da classe
trabalhadora. Os capitalistas tentam, sem sucesso, desconstruir esta tradição
de luta da classe operária mundial. Na impossibilidade de quebrar a organização
política dos operários e abolir o feriado internacional de 1º de maio utilizam-se
dos funcionários da superestrutura, no Direito, na Administração, na
Antropologia e Planejamento, nas universidades, nas organizações sindicais e
políticas ligadas ao proletariado para tentar prostituir sua consciência nesta
data e a na memória individual (os sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os
símbolos) dos trabalhadores que defendem através da emancipação social da vida coletiva
sua própria classe. Ipso facto, não
por acaso é que sistematicamente os trabalhadores conscientes retomam a
bandeira histórica e politico-afetiva do 1º de maio. Este dia marcado para
sempre como luta internacionalista, contra os capitalistas e o
capitalismo em geral. E de luta afirmativa pelos direitos civis garantidos
pelas leis trabalhistas de organização sindical.
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