Deus Empirismo - Experiência & Aspectos do Maniqueismo.
Ubiracy de Souza Braga
“Quando uma bola de bilhar choca com outra, a segunda deve mover-se”. David Hume
O
maniqueísmo representa uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada
e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo heresiarca do século III, que
divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou Diabo. A matéria é
intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do
termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo usado para descrever todas as
doutrinas fundamentadas nos dois princípios opostos do Bem e do Mal. Quando o
gnosticismo primitivo já perdia a sua influência no mundo circum-mediterrâneo,
surgiu na Babilônia e na Pérsia, no século III, uma nova vertente, o
maniqueísmo. O seu fundador foi o profeta persa Mani (ou Manés) e as suas
ideias sincretizavam elementos gerais articulados em torno do conhecimento do
zoroastrismo, do hinduísmo, do budismo, do judaísmo e do cristianismo. Desse
modo, Mani considerava na análise comparada que Zoroastro, Buda e Jesus como “pais da Justiça”, e
pretendia, através de uma revelação divina, purificar e superar as mensagens
individuais de cada um deles, anunciando uma verdade completa.
Com
base em interpretações heterodoxas e alternativas do pentateuco e doutros
relatos da Escritura hebraica e cristã, os gnósticos afirmam que o universo material
(cosmo) foi criado por uma emanação imperfeita do Deus supremo chamada
demiurgo, para prender a centelha divina (espírito) no corpo humano. Esta
centelha divina poderia, ser liberta na gnose: o conhecimento intuitivo sobre o
espírito e a natureza da realidade. De fato, as religiões mais antigas do mundo
se originaram todas na Ásia, especialmente na Mesopotâmia, Índia e China. Elas
possuem diferenças entre si, como a presença ou ausência de deuses, o número de
divindades ou seres aos quais prestma culto, como o número quase infinito de
seguidores. As ideias e ramos gnósticos floresceram no mundo mediterrâneo no
século II d.C., em conjunto e trocando influências com os primeiros movimentos
cristãos e médio-platônicos. Mesmo com um considerável declínio após o século
II, o gnosticismo sobreviveu sub-repticiamente ao longo dos séculos na cultura
ocidental, manifestando durante o Renascimento através do esoterismo ocidental,
assumindo a proeminência com a espiritualidade moderna: a
urgência de enriquecermos nossa vida interior, nossa dimensão subjetiva em que se encontra nosso verdadeiro potencial de autenticidade.
Do
Império Persa, o gnosticismo se alastrou até a China através do maniqueísmo, ao
passo que o mandeísmo ainda vive no Iraque. As primeiras definições e
tentativas de destrinchar o gnosticismo ocorreram no contexto da Era cristã.
Embora alguns estudiosos suponham que o gnosticismo seja anterior ou
contemporâneo ao cristianismo, todos os textos gnósticos até hoje descobertos
são posteriores à primeira metade do século I, época em que o cristianismo já
estava estabelecido como religião através dos apóstolos. O estudo do
gnosticismo e do cristianismo primitivo de Alexandria foram ambos reacesos após
a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945, por um camponês local
chamado Mohammed Ali Samman, que encontrou uma jarra selada enterrada que
continha treze códices de papiro embrulhados em couro. Os códices contêm
cinquenta e dois textos, em sua maioria gnósticos, além de incluírem três
trabalhos pertencentes ao Corpus Hermeticum e uma tradução/alteração parcial d`A
República de Platão. Conforme as suas ideias, a fusão dos dois elementos
primordiais, o reino da luz e o reino das trevas, teria originado o mundo
material, essencialmente mau. Para redimir os homens de sua existência
imperfeita, os “pais da Justiça” haviam vindo à Terra, mas como a mensagem
deles havia sido corrompida, Mani viera a fim de completar a missão, como
o Paráclito prometido por Cristo. É o resultado do sincretismo religioso, de múltiplas influências.
E trouxera segredos para a purificação da
luz, apenas destinados aos eleitos que praticassem uma rigorosa vida ascética.
Jesus Cristo teria nascido na Palestina, naquele que acabou sendo estabelecido
como o ano 1 da Era Cristã, durante o reinado de Otávio Augusto, primeiro
imperador romano. Sua morte ocorreu, provavelmente, em 33 d.C., no reinado de
Tibério, o segundo imperador. Durante
os três séculos seguintes, o Cristianismo foi largamente perseguido no Império
Romano, até sua legalização, no reinado de Constantino, em 313, e sua posterior
oficialização como religião do Império por Teodósio, em 390. Assim, percebemos
que as origens e a evolução do Cristianismo estão organicamente vinculadas à
evolução do Império Romano. Os impuros, no máximo podiam vir a ser catecúmenos
e ouvintes, obrigados apenas à observância dos dez mandamentos. As ideias
maniqueístas espalharam-se desde as fronteiras com a China até ao Norte d`África.
Mani acabou crucificado no final do século III, e os seus adeptos sofreram
perseguições políticas na Babilônia e no Império Romano, neste último front sob
o governo do Imperador Diocleciano e in statu nascendi os imperadores cristãos.
Apesar da igreja ter condenado esta doutrina em diversos sínodos desde o século
IV, ela permaneceu viva até à Idade Média. Agostinho de Hipona foi adepto do
maniqueísmo cujas obras foram muito influentes no
desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental.
O
empirismo representa a escola do pensamento filosófico relacionada à teoria do
conhecimento que pensa estar na experiência à origem de todas as ideias. O
termo empirismo advém do grego έμπειρία, cuja tradução para o latim é experientia. O estudo do conhecimento
humano, dentre os diversos pontos de vista da epistemologia, como o
racionalismo, o idealismo e historicismo, o empirismo enfatiza o papel
tecnológico da experiência e da identificação da evidência, experiência
sensorial, especialmente na formação de ideias, sobre a noção de ideias inatas
ou tradições. Empiristas podem argumentar que as tradições surgem devido às
relações de experiências sensoriais anteriores. O empirismo causou uma mudança comportamental
na ciência, pois devido a supervalorização da experiência e do conhecimento científico,
baseado em resultados práticos sobre o domínio da natureza, surgiu a chamada metodologiacientífica. A oposição empirismo-racionalismo origina-se devido a
tópica metodológica, em vez de
princípios fundamentais, obtidos por meio do conhecimento da verdade além de qualquer sentido utilitário.
O
apriorismo é outra dimensão heurística com pretensão em conciliar racionalismo e empirismo. Apesar de
concordar com o intelectualismo no que diz respeito a existência de um fator
racional e um empírico advindos do conhecimento humano, o apriorismo situa o
fator “a priori” no pensamento, na razão e não da experiência. Deste modo, este
tende ao racionalismo como “sujeito” que desempenha o principal papel na reprodução
do conhecimento. Deste ponto de vista, existe em nosso conhecimento elementos
que são independentes da experiência, na medida em que são “a priori”. Estes
elementos são de natureza formal do conhecimento que recebem seu conteúdo da
experiência. Em outras palavras, estes elementos “a priori”, ou fatores
apriorísticos, são análogos a recipientes vazios que são preenchidos com os conteúdos provindos da experiência. O material do conhecimento provém da experiência, a forma que deste irá adquirir
está no pensamento. O fundador do apriorismo é Immanuel Kant (cf. Girotti, 2011) que revela o pensamento filosóficol sempre à frente da experiência, isto por que é ele que organiza mentalmente o processo de
conhecimento levando as formas a priori ao conteúdo da experiência determinando
os objetos do conhecimento. Na prática científica e no debate epistemológico, existem per se dois conceitos arquetípicos diametralmente opostos: empirismo e racionalismo.
Na Antiguidade clássica o conhecimento teórico e prático, como saber universal e
necessário ideal de conhecer é independente da experiência, a sabedoria. A
forma mais primitiva de racionalismo está em Platão. A última expressão da
verdade e do conhecimento, como a ciência, é a Metafísica e o mais próximo possível do modelo ideal de vida a
felicidade, como ética, constituem o ideal do sábio. Em Atenas clássica
apareceu uma dupla atitude de pensar que será mantida na historicidade da
filosofia no Ocidente em que são conhecidos principalmente como racionalismo e
empirismo, como duas atitudes e formas de entender a função do pensamento e do
sentido da vida. O primeiro a manter uma atitude claramente empirista foram os
sofistas racionalistas que negavam a especulação sobre o mundo natural compartilhado
por seus antecessores pré-socráticos. O valor da verdade é restrito ao valor da
experiência e do exercício do poder, quer individual (moral) ou socialmente
(política). Este empirismo está interessado em retórica no domínio da linguagem
como um instrumento essencial para a vida política ateniense e do exercício do
poder. Na antiguidade se via concepções empiristas. Os estoicos já falavam que “a
alma é uma tábua onde não há nada escrito”. É na Modernidade que se inscreve os mais
importantes representantes do empirismo: John Locke e David Hume reconheceram o conhecimento da matemática válidos, mas em
contrapartida combatiam o princípio das idéias inatas.
Na filosofia Abelardo é considerado um dos mais importantes e mais ousados
pensadores do século XII. Ficou conhecido do público por sua vida pessoal,
especialmente por seu relacionamento com Heloísa de Paráclito, de quem fala em
sua “História das Minhas Calamidades”. Na filosofia ocupa uma posição importante
por ter formulado o conceitualismo,
postura que não pertence propriamente nem ao idealismo, nem ao materialismo. A
obra principal de Abelardo, chamada Dialética,
inspirada no pensamento de Boécio foi a obra de Lógica mais influente até o
final do século XIII em Roma, onde foi usada como manual escolar, já que a Lógica
era ministrada como parte do trivium,
fornecendo aos estudantes os argumentos e armas da crítica para às disputas
metafísicas e teológicas. Abelardo demonstra a urgência e o desconforto do ensino que breve seria o universitário e o urbano, por oposição ao monástico: ser filósofo é “proceder pela inteligência e não pela rotina”. A opinião de Abelardo de que a dialética é o único caminho da verdade, teve o efeito histórico benéfico de desconstruir preconceitos e encorajar o pensamento livre. Nas Escrituras, os apóstolos e o padres humanos são passíveis de errar.
Heloísa
é mais reconhecida pela sua relação amorosa com Pedro Abelardo. Ela era
brilhante estudiosa de Latim, Grego e Hebraico, e tinha uma reputação de
inteligência e perspicácia. Abelardo escreve que ela era nominatissima, “muito
conhecida” por seu dom da escrita e leitura. Parece que era de uma classe
social mais baixa que a de Abelardo, que era originalmente da nobreza, embora
ele tivesse rejeitado fidalguia para ser um filósofo. O que se sabe é que ela
era a funcionária de seu tio, cônego em Paris chamado Fulbert. Nos seus
manuscritos, Abelardo narra a história da sedução de Heloísa e sua posterior
relação ilícita, que continuou até Heloísa ter um filho, a quem chamou Astrolabius
(Astrolábio). Abelardo casou-se secretamente com Heloísa. Eles esconderam esse
fato, a fim de não prejudicar a carreira de Abelardo. A opinião aceita é que
Fulbert, em sua ira, puniu Abelardo atacando-o enquanto dormia e castrando-o.
Outra visão é que Fulbert divulgou o segredo do casamento e sua família
procurou vingança, ordenando a castração de Abelardo. Após a castração,
Abelardo tornou-se monge. No convento de Argenteuil, Heloísa tomou o hábito e
tornou-se abadessa.
No período de convivência no
convento, começou a correspondência entre os dois amantes. Após ter deixado a
Abadia do Paracleto, Abelardo fugiu das perseguições, e escreveu sua História
Calamitatum, explicando suas tribulações, tanto em sua juventude como um
filósofo e posteriormente como simples monge. Heloísa respondeu-lhe tanto em
nome da Paraclete e dela mesma. Nas cartas que se seguiram, Heloísa manifestou
consternação pelos problemas morais e políticos enfrentados por Abelardo. Assim
começou uma correspondência apaixonada entre ambos, mas tipicamente erudita.
Heloísa incentivava Abelardo em sua obra filosófica e ele dedicou a sua
profissão de fé a ela. Em um ponto, ela diz a ele para compartilhar cada
detalhe de sua vida e para não a proteger de aborrecimento. O Problemata
Heloissae é uma coleção de 42 perguntas teológicas dirigidas de Heloísa a
Abelardo no tempo em que ela era abadessa em Paraclete, e suas respostas a
elas. Embora tenham se casado, o cônego Fulberto, tio e responsável da jovem,
ficou furioso com a situação e ordenou com que Abelardo, na escuridão da noite,
fosse castrado. Assim, por volta de 1118, além de ter ordenado Heloísa a se
tornar monja, Abelardo também se abrigou no claustro monástico, mais por conta
da “confusão da vergonha” do que “pela vocação de uma vida religiosa”. Tomou a
abadia de S. Denis em Paris como refúgio, no entanto sua estadia foi
conturbada.
Por conta de diversos problemas
com seus novos irmãos e uma condenação por heresia no concílio de Soissons em
1121, Abelardo, com a ajuda de alguns amigos, fundou o Paracleto, que significa
“aquele que consola ou conforta; aquele que encoraja e reanima; aquele que
revive; aquele que intercede em nosso favor como um defensor numa corte”. No
cristianismo, o termo é utilizado para se referir ao Espírito Santo e o termo
tem sido objeto de longo debate entre os teólogos, com diversas teorias sobre o
assunto. um oratório próximo ao rio Ardusson, também em Paris. Sentindo-se
pressionado por seus críticos e temendo uma nova condenação, Abelardo abandonou
o Paracleto para se tornar abade do mosteiro de Gildas-Rhuys, na Bretanha, em
c. 1127.O comportamento de seus novos
irmãos não era compatível ao de monges que eram e, ao tentar corrigi-los,
Abelardo foi vítima de algumas tentativas claustrofóbicas de homicídio. Essas
informações biográficas são encontradas na História Calamitatum, carta
que Abelardo escrevera, por volta de 1132, a um amigo não
nomeado.
A recomendação de celibato
clerical na igreja latina possui sua primeira representação pelo Concílio de
Elvira (295-302), mas, como este concílio era apenas um concílio provincial
espanhol, pois Elvira era uma cidade romana, junto a Granada, as suas decisões
não foram cumpridas por toda a Igreja cristã. O Concílio de Elvira assim
legislou: - “Bispos, presbíteros, diáconos e outros que ocupem uma posição no
ministério devem abster-se totalmente de relações sexuais com suas esposas e da
procriação de filhos. Se alguém desobedecer, seja ele privado do estado
clerical” (XXXIII cânon). O Primeiro Concílio de Niceia (323) decretou apenas
que “todos os membros do clero estão proibidos de morar com qualquer mulher,
com exceção da mãe, irmã ou tia” (III cânon). No final do século IV, a Igreja
Latina promulgou várias leis a favor do celibato. Foram geralmente bem aceites
no Ocidente no pontificado de São Leão Magno (440-461), mas o Concílio de
Calcedônia (451) também “proibiu o casamento de monges e virgens consagradas”
(XVI cânon), impondo o celibato ao clero.
Em troca dos ensinamentos feitos
por Abelardo à sobrinha, Fulbert hospedou o professor em sua residência em
Paris. No início, o tio de Heloísa ficou temeroso de deixar a bela jovem a sós
com o professor. Com o passar do tempo, o tio adquiriu confiança em Abelardo.
Heloísa, nascida em 1100 e educada, por assim dizer em “berço de ouro”, formosa
e delicada, iniciou com 17 anos os seus contatos com o professor Abelardo que
quando conheceu a jovem Heloísa de Argentuil, era conhecida “pela abundância
dos conhecimentos literários”. Ela já o conhecia de renome e o admirava por sua
fama e inteligência. Bastaram os primeiros encontros entre Abelardo e Heloísa
para que nascesse entre os dois um amor platônico. Um amor real seria quase
impossível a moralidade descrita pelas regras sociais e políticas. Mas com o
passar do tempo a paixão e o desejo não puderam resistir e o casal iniciou a
relação amorosa. Heloísa engravidou de Abelardo refugiaram-se na
Bretanha, onde nasceu Astrolábio.
Na história da igreja a
“virgindade religiosa”, denominada de “Virgindade Sacra”, “Sagrada Virgindade”
ou “Santa Virgindade”, é um conceito importante na tradição cristã,
especialmente no que diz respeito à Virgem Maria que ocupa um lugar central no
dogma cristão católico e ortodoxo. Votos de castidade e celibato são
necessários para entrar na vida monástica ou no sacerdócio. A sagrada
virgindade e a perfeita castidade consideram a Igreja Católica, quando consagrada
ao serviço de Deus, um dos mais “preciosos tesouros” deixados por Cristo à sua
Igreja. Afirma ainda a Doutrina da Igreja Católica que a santa virgindade é
mais excelente que o matrimônio, isto no Concílio de Trento. Sobre o tema
afirma João Paulo II na Exortação Apostólica Familiaris consortium (n°
16): - Permanecendo no celibato, o homem pode entregar a Deus um coração
indiviso, segundo seu Filho, Jesus Cristo, que ao Pai entregou o
amor do seu coração. - “É então que o homem conquista o supremo
cume, o vértice do testemunho cristão: Tornando livre de um modo singular o
coração humano (...) a virgindade testemunha que o Reino de Deus e a sua
justiça são aquela pérola que devemos preferir a qualquer outro valor”.
Contudo, o celibato é visto de forma
diferente por distintos grupos cristãos. Embora no passado fosse aceite o
matrimônio de padres ordenados tendo a inclusão de São Paulo recomendando a
fidelidade matrimonial aos bispos, na atualidade, excetuando em casos
referentes aos diáconos e a padres ordenados pelas Igrejas orientais católicas
e pelos ordinariatos pessoais para anglicanos, todo o clero católico
latino é obrigado a observar e cumprir o celibato. Nas Igrejas orientais, o
celibato é apenas obrigatório para os bispos, que são escolhidos entre os
sacerdotes celibatários. A Igreja Católica de rito latino, sinteticamente, dá
as seguintes principais razões de ordem teológica para o celibato dos
sacerdotes e religiosos de vida consagrada: a) com o celibato os sacerdotes
entregar-se-iam de modo mais excelente a Cristo, unindo-se a Ele com o coração
indiviso; b) neste sentido, o celibato facilita ao sacerdote a participação in limine no amor de Cristo
pela humanidade abstrata uma que vez que Ele não teve outro vínculo nupcial a não ser o que
contraiu com a sua Igreja; c) com o celibato os clérigos dedicar-se-iam com
maior disponibilidade ao serviço dos outros homens; d) a pessoa e a vida do
sacerdote são possessão da Igreja, que faz às vezes de Cristo, seu esposo; e) o
celibato dispõe o sacerdote pare receber e exercer com generosidade a
paternidade que pertence a Cristo.
No século XVII, René Descartes fundou o racionalismo, rapidamente
difundido pelo continente europeu, representado pari passu por Spinoza na
Holanda e Leibniz na Alemanha. O método empírico de Francis Bacon e de Thomas
Hobbes influenciou uma geração de filósofos no Reino Unido a partir daquele
século. John Locke é considerado o fundador dessa tradição, reconhecida como
“empirismo britânico”, em oposição ao racionalismo que predominava na maior
parte da Europa continental. O conceito de “idéias complexas” conduziu Locke a
sustentar a opinião de que o conhecimento é relativo e que, portanto, não é
possível falar em idéias universais. No século XVIII, George Berkeley (1685-1753) desenvolve o empirismo de John Locke, mas não admite a passagem dos conhecimentos
fornecidos pelos “dados da experiência” para o conceito abstrato de “substância
material”. Por isso, Berkeley afirma, grosso modo, que uma substância material não pode ser
conhecida em si mesma.
O que se conhece, essencialmente, resume-se às
qualidades apreendidas durante o processo perceptivo. Assim, o que existe
realmente na realidade como substância material nada mais é que a representação
de um “feixe de sensações”. Daí sua famosa frase: “ser é ser percebido”.Preocupado
que a posição de Locke levaria ao ateísmo, Berkeley formulou a hipótese de que
as coisas só existiriam na medida em que são percebidas. Para além destas,
existiriam as entidades que percebem, tendo sua existência garantida mesmo sem
que outro as perceba. Exagerando a alegoria da tabularasa, Berkeley
defendeu que a ordem que vemos na natureza é a escrita de Deus. Por isto, sua
posição é hoje conhecida como idealismo subjetivo. Na sequência desta
discussão, o filósofo Hume moveu a posição empirista na direção do ceticismo.
Para Hume, a recusa de Berkeley se daria pelo fato de que o empirismo possui
implicações que não são aceitas pela maioria dos filósofos, devido a convicções
pessoais.
No campo conceitual, Hume utiliza a distinção de argumentos, proposta
por Locke, entre “demonstrativos” e “prováveis” e a expande, dividindo os
argumentos em demonstrações, provas e probabilidades. Sendo as provas, aqueles
argumentos da experiência aos quais não se pode oferecer oposição. Hume afirma
ainda que a razão por si mesma não poderia fazer surgir qualquer ideia
original, ao mesmo tempo em que desafia a causalidade, ao afirmar que a razão não
seria capaz de concluir que a existência de uma causa seja um requisito natural
absoluto. O
ceticismo científico tem relação com o filosófico, mas não são
idênticos. Muitos praticantes não são adeptos do
ceticismo filosófico clássico. Quando críticos de controvérsias científicas,
terapias alternativas ou paranormalidades
são ditos céticos, isto se refere apenas à postura cética científica adotada. O
termo cético é usado atualmente para se referir a uma pessoa que tem uma
posição crítica em determinada situação, geralmente por empregar princípios do
pensamento crítico e métodos científicos, melhor dizendo, o ceticismo
científico para verificar a validade de ideias. Os céticos veem em sua interpretação a evidência
empírica como importante, já que ela provê provavelmente o melhor modo de se
determinar a validade compreensiva de uma ideia. Apesar de o ceticismo envolver o uso do
método científico e do pensamento crítico, isto não necessariamente significa
que os céticos usem estas ferramentas constantemente.
Os
céticos são frequentemente confundidos com, ou até mesmo apontados como,
cínicos. Porém, o criticismo cético válido (em oposição a dúvidas arbitrárias
ou subjetivas sobre uma ideia) origina-se de um exame objetivo e metodológico
que geralmente é consenso entre os céticos. Note também que o cinismo é
geralmente tido como um ponto de vista que mantém uma atitude negativa
desnecessária acerca dos motivos humanos e da sinceridade. Apesar de as duas
posições não serem mutuamente exclusivas, céticos também podem ser cínicos,
cada um deles representa uma afirmação fundamentalmente diferente sobre a
natureza do mundo. De outra parte, os céticos científicos constantemente recebem
também, acusações de terem a mente fechada ou de inibirem o progresso
científico devido às suas exigências de evidências cientificamente comprovadas
ou válidas.
A necessidade de evidências cientificamente adequadas como suporte
a teorias é mais evidente na área da saúde, onde utilizar uma técnica sem a
avaliação científica dos seus riscos e benefícios pode levar a piora da doença,
gastos desnecessários e abandono de técnicas comprovadamente
eficazes. Locke
argumentou que a experiência forma as ideias em nossa mente. Para Locke, as
idéias universais não passam de nomes (nominalismo), é convenção humana
que não tem correspondência com a realidade, porque não podem ser sentidas ou
experimentadas. Como bom cristão, Locke, embora não católico, precisou resolver
este problema da existência de Deus. O que fez através do argumento da “fé como
probabilidade”. A consequência da negação da substância é a negação absoluta da
Metafísica. O que traz em si uma negação indireta da existência de Deus.
Ele
procura demonstrar que qualquer ideia que temos não nasce conosco, mas se
inicia na experiência, mas não são as experiências de vida, o que seria um erro. Experiência para
ele são as nossas sensações (sentidos). Ouvimos, enxergamos, tocamos,
saboreamos e cheiramos. Cada um dos cinco sentidos leva informações para o
nosso cérebro. Quando nascemos não sabemos o que é uma maçã, mas formamos a
ideia de maçã a partir dos sentidos. Vemos a sua cor, sentimos o seu aroma,
tocamos sua casca e mordemos a fruta. Cada uma dessas sensações nos faz ter a
ideia de maçã. A partir da sensação,
há a reflexão. Dessa forma, nossas ideias são reflexos indutivos daquilo que
nossos sentidos perceberam do mundo. A posição empirista é frequentemente
contrastada com o racionalismo, que estabelece a razão como origem do conhecimento, independente dos sentidos. Hume infere que a moral resulta do sentimento, e não da Razão; em sua
opinião a moral não é racional, é utilitária, no sentido em que é a “utilidade
da moral” que fundamenta as qualidades morais. Portanto,
para Hume, a ética é utilitarista.
Apesar de existir, o mundo natural seria impossível de ser conhecido
verdadeiramente pelo homem, pois esse conhecimento só é acessível ao ente Deus.
Ao assumir esse empirismo radical, George Berkeley cria a corrente conhecida
como “idealismo subjetivo”. Avançando no pensamento de Berkeley, o escocês
David Hume identifica dois tipos de conhecimento: matérias de fato e relação de
ideias. O primeiro relacionado com a percepção imediata; a única forma
verdadeira de conhecimento. A relação de ideias é uma inferência de outras
ideias, ou seja, ao relacionar duas ideias que temos nas nossas mentes
provenientes da experiência concluímos outra ideia. Esta nova ideia, é
logicamente verdadeira e necessária, pois é inferida através de um raciocínio
demonstrativo (regras da lógica formal). Mas este conhecimento é tautológico, pois não acrescenta nada de
novo, é apenas uma representação de ideias que já possuíamos. O modelo
empirista de constituição do conhecimento estava baseado nas chamadas Ciências
Experimentais, tal como botânica, química, astronomia e mecânica.
Eram ciências
contrárias ao inatismo e que negavam conceitos clássicos da filosofia, a
exemplo de “essência” e “ser”, considerados puro nominalismo. Este último termo
se refere a conceitos e categorias que não passam de nomes, estariam
esvaziados, pois refletiriam sensações e não concepções racionais. Assim, os
empiristas tencionavam alcançar a verdade tentando antecipar experiências,
sobretudo, através da descoberta das leis da natureza. O que fundou uma ética utilitarista e
hedonista, baseada nos costumes úteis para tornar a convivência social possível
e a vida mais feliz e prazerosa. O costume é, portanto, o grande guia da vida humana. Baseado
neste argumento, Hume refuta a própria causalidade, a noção de causa e efeito,
fundamental para a ciência. O simples motivo de um fenômeno ser sempre seguido
de outro faz com que eles se relacionem entre si de tal forma que um é encarado
como causa do outro. O fundamento da investigação
científica está na experiência e na observação.
Hume formula uma crítica à ideia
de causalidade. Para ele, a ideia de causa e efeito está baseada na associação
entre anterior e posterior, como, por exemplo, na afirmação “a pedra esquenta
porque os raios de sol incidem sobre ela”. Só é possível comprovar o fato de que
a pedra esquenta e o fato de o sol incidir sobre ela, isolados. A causa pela
qual a pedra esquentou não pode ser observada, e, segundo o autor, deriva
apenas de uma crença. Causa e efeito, enquanto impressões sensíveis, não seriam
mais do que um evento seguido de outro. A noção de “causalidade-necessária” a
partir da simples observação, sem aplicação dos “raciocínios demonstrativos”. Para
comprovar a existência de causas necessárias (“leis gerais”), tudo o que se
baseia na simples experiência para a conclusão dessas causas é somente uma
dedução humana, que de forma alguma constitui um conhecimento verdadeiro, é
apenas um costume, hábito, como vemos dessa sua tese representa o nascimento do Sol: - “O
Sol nascerá amanhã!”. É a crença que temos da observação
dos dias. A experiência de ver o Sol todos os dias não prova novo dia amanhã; é nosso hábito, nosso costume de vê-lo nascer intensamente em nossos dias.
Bibliografia
geral consultada.
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Editore, 1997;COMPAGNON, Antoine, Le Démon de la Théorie: Literature et Sens Commun. Paris: Éditions Du Seuil, 1998; SCHMITT, Jean-Claude, “La ‘Découverte de l’Individu’: Une
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outros.
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