Cornelius Castoriadis - Filosofia & Origem do Grupo Autonomia
Ubiracy de Souza Braga
“Por trás das aparências há, e haverá sempre,
outras aparências”. Cornelius Castoriadis
Nascido
em Constantinopla em 1922, o filósofo Cornelius Castoriadis estudou Direito, Economia e Filosofia em Atenas. Quando da ocupação alemã
de seu país, constituiu um grupo, no interior do Partido Comunista Grego, que
se opunha à política chauvinista, julgando-a mero desvio local, capaz de ser
corrigido através da luta ideológica no interior do aparelho. Foi fundado em
1918 como Partido Socialista-Trabalhista da Grécia, sendo a agremiação política
mais antiga do país. Teve participação ativa na Resistência e na libertação da
Grécia durante a II Guerra Mundial, quando chegou a ter cerca de 450.000
filiados. De 1946 a 1949, lutou contra o Exército Helênico, então monarquista,
na Guerra Civil Grega. Por consequência política, foi colocado na ilegalidade e
passou a concorrer às eleições como Esquerda Democrática Unida até o golpe
de Estado de 1967. Até obter a nacionalidade francesa em 1970, Castoriadis foi,
paralelamente, economista da Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico e escreveu sob pseudônimos diversos como: Chaulieu, Cardan,
Coudray e Delvaux. Quase toda a militância de Socialismo ou Barbárie se
protege, a princípio, sob pseudônimos, a fim de defender-se da “caça às bruxas”
da chamada Guerra Fria: Lefort assina C. Montal; Jean- François Lyotard
adota o nome F. Laborde; o historiador Pierre Souyri sob a denominação P.
Brune; o operário da fábrica Renault Jacques Gautrat se transforma, nas
reuniões do grupo e páginas da revista, em Daniel Mothé. Foi durante essa
conjuntura política, em 1958, que obteve seu melhor resultado eleitoral obtendo
60 assentos e 24% dos votos. Aderiu então à organização trotskista de Spiros
Stinas, em que militou até emigrar para a França, ao final de 1945.
Em 1946, reúne-se a Claude
Lefort para fundar a revista Socialisme ou Barbarie. Uma parte
considerável dos historiadores argumenta que a chamada “Guerra Fria” representou
uma disputa dos países que apoiavam as liberdades civis (liberdade de opinião e
de expressão e de voto), representada pelos EUA e outros países ocidentais e do
outro lado, a doutrina comunista ateia, onde era suprimida a possibilidade de
eleger e de discordar, defendida pela União Soviética (URSS) e outros países
onde o comunismo fora imposto por ela. Outra parte defende que esta foi uma
disputa entre o capitalismo, que patrocinou regimes ditatoriais na América
Latina, representado pelos Estados Unidos, e o socialismo autoritário
expansionista ou socialismo de Estado, onde fora suprimida a propriedade
privada, defendido pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e
China. Entretanto, esta caracterização política só pode ser considerada válida com
uma série de restrições e apenas para o período do imediato pós-2ª guerra
Mundial, até a década de 1950. Logo após, nos anos 1960, o bloco socialista se
dividiu e durante as décadas de 1970 e 1980, a China comunista se aliou aos
Estados Unidos na disputa contra a União Soviética. Além disso, muitas das
disputas regionais envolveram Estados capitalistas, como os imperialistas
norte-americanos, contra diversas potências mais nacionalistas. Durante o
regime militar grego, foi uma das mais importantes vozes de oposição. Após o
fim do regime militar, em 1984, manteve cerca de 9% dos votos até atingir o
pico de 13% (28 assentos) em 1989. Declinou até 4,5% em 1993 e ascendeu para
7-8% entre 2007 e 2012. Com o surgimento do Syriza, perdeu parte de seus votos,
mantendo-se atualmente com o apoio de cerca de 5% dos gregos.
Sociologicamente
a chamada Guerra Fria representa a designação atribuída ao período histórico de
disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos da América
(EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, compreendendo o período
entre o final da 2ª guerra Mundial (1940-1945) e a dissolução da União
Soviética correu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº
142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. A declaração reconheceu a
Independência das antigas repúblicas soviéticas e criou a Comunidade de
Estados Independentes (CEI). A conjuntura anterior representou um conflito
extraordinário de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e
ideológica entre as duas nações, no plano das relações políticas e econômicas e
suas zonas conflitantes de influência político-militar. É chamada guerra “fria”
porque não houve guerra direta entre as duas superpotências, dada a
inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. A corrida armamentista pela
construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central
durante a primeira metade da chamada “Guerra Fria”, estabilizando-se na década
de 1960-1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente dos
Estados Unidos da América (EUA), Ronald Reagan chamado de “Guerra nas
Estrelas”. A corrida espacial foi um dos episódios que marcaram a segunda
metade do século XX e foi resultado direto da Guerra Fria. Ocorrida entre os
anos de 1957 e 1975, a corrida espacial ficou caracterizada pela intensa
exploração no espaço realizada por americanos e soviéticos. Um dos episódios
geopolíticos de maior relevância da corrida espacial foi a estratégia global
ocorrida com a chegada do homem à Lua. É neste âmbito de transformações
globais polarizadas que Socialisme ou Barbarie representou um grupo
socialista libertário radical francês do período pós-guerra. Seu nome vem de
uma frase de Rosa Luxemburgo usada em um ensaio de 1916, The Junius
Pamphlet.
O grupo existiu durante os anos 1948 até 1965. A personalidade
que o animava era Castoriadis, também reconhecido como Pierre Chaulieu ou Paul
Cardan. O grupo se originou na trotskista Quarta Internacional, onde
Castoriadis e Claude Lefort constituíram a chamada “Tendência Chaulieu-Montal”
no Partido Comunista Internacionalista francês, em 1946. Em 1948, eles
experimentaram o seu “desencanto final com o trotskismo”, levando-os a romperem
com os trotskistas para formar o Socialisme ou Barbarie, cujo jornal
começou a aparecer em março de 1949. Castoriadis mais tarde disse a respeito
desse período que sua principal audiência e do jornal era formada pela esquerda
radical: bordigistas, comunistas de conselho, alguns anarquistas e
órfãos da esquerda alemã dos anos 1920. Eles foram vinculados à tendência
Johnson-Forest, que desenvolveu um corpo de ideias dentro das organizações
trotskistas norte-americanas. Uma facção desse grupo formou mais tarde o grupo Facing
Reality. Os primeiros tempos também trouxeram debates com Anton Pannekoek e
um influxo de ex-bordigistas para o grupo. Era composto tanto de intelectuais
quanto de trabalhadores e concordavam com a ideia de que os principais inimigos
da sociedade eram as burocracias que governavam o capitalismo moderno. eles
documentaram e analisaram a luta contra a burocracia no jornal do grupo.
A edição de número 13 ocorrida em janeiro-março
de 1954, por exemplo, era dedicada à Revolta de 1953 na Alemanha Oriental e às
greves que pipocaram em vários setores de trabalhadores franceses naquele
verão. Seguindo a crença de que o que a luta diária que a classe trabalhadora
encarava era o conteúdo real do socialismo, os intelectuais encorajavam os
trabalhadores no grupo a relatarem cada aspecto de suas vidas no trabalho. O
caráter-gueto de Socialismo ou Barbárie não deriva, contudo, apenas da guerra
fria Leste-Oeste. Ao chegar a Paris, a bordo do navio Mataroa, Cornelius
Castoriadis, assim como outros intelectuais - qual Kostas Axelos, por exemplo
-, vem fugido da perseguição movida contra a esquerda grega. Não somente,
porém, da repressão desencadeada pela aliança atlantista, como igualmente dos
próprios comunistas, conforme relata, em tons quase dramáticos, Morin: -
“Raríssimos foram os intelectuais europeus que, sob a ocupação nazista, se
tornaram militantes da heresia trotskista. Os comunistas trotskistas, presos
pela Gestapo, sofriam a mesma sorte dos comunistas stalinistas e, no interior
das prisões e campos nazistas, os stalinistas, no melhor dos casos, punham os
trotskistas em quarentena e, na pior, liquidavam os hitlero-trotskistas. Na
Grécia da Liberação, o Partido Comunista decidiu, em tomada de posição
do Comitê Central, pelo extermínio dos trotskistas. Condenado à morte pelos
comunistas e prevendo ser abatido pelos anticomunistas, Castoriadis emigrou
para a França” (cf. Morin, 1989: 11).
Assim
sendo, o possível círculo de acolhida ao fugitivo em Paris está nos setores
igualmente minoritários da IVInternacional. Mas Castoriadis bem cedo
diagnostica um tronco leninista-burocrático comum a stalinismo e trotskismo. O
grupo Socialismo ou Barbárie fará ruptura com a IV Internacional - ruptura esta
marcada por uma dupla originalidade. De modo diferente das inumeráveis cisões
anteriores do movimento trotskista, ela não se dá à moda de uma pequena capela
que muda de chefe sem transformar em nada a doutrina. Ao contrário de outras
dissensões que igualmente rejeitam a organização de tipo leninista, ela não
joga fora o bebê (Marx) junto com a água do banho
(Lênin-centralismo-stalinismo). Ao romper com os heterodoxos ortodoxos - IV
Internacional e dissidências da IV Internacional - em nome do marxismo, Socialismo
ou Barbárie emerge como a “heresia de uma heresia” (cf. Morin, 1989). O SocialismeouBarbarie era crítico
do leninismo, rejeitando a ideia de um partido revolucionário e colocando
ênfase nos conselhos de trabalhadores.
Enquanto
alguns membros partiram para formarem outros grupos, aqueles que permaneceram
se tornaram mais e mais críticos do marxismo ao longo do tempo. Jean Laplanche,
um dos membros-fundadores do grupo, recorda os primeiros dias da organização. O
grupo era composto tanto de intelectuais quanto de trabalhadores e concordavam
com a ideia de que os principais inimigos da sociedade eram as burocracias que governavam
o capitalismo. Eles documentaram e analisaram a luta contra a burocracia no
jornal do grupo. A edição de número 13 referente a janeiro-março de 1954, por
exemplo, era dedicada à interpretação da Revolta de 1953 na Alemanha do Leste e
às greves em vários setores de trabalhadores franceses naquele verão. Seguindo
a ideologia de que o que a luta diária que a classe trabalhadora encarava era o
conteúdo real do socialismo, os
intelectuais encorajavam os trabalhadores no grupo a relatarem cada aspecto social
da vida cotidiana no trabalho.
A Hungria começou o período
pós-guerra como uma livre democracia pluripartidária, e as eleições em 1945
produziram um governo de coalizão sob a batuta do primeiro-ministro Zoltán
Tildy. Entretanto, o Partido Comunista, apoiado pela União Soviética, que tinha
recebido somente 17% dos votos, constantemente obtinha pequenas concessões em
um processo nomeado “tática do salame”, que fatiava a influência do governo
eleito. Depois das eleições de 1945, os poderes do Ministro do Interior - que
supervisionava a Autoridade de Proteção
de Estado (ÁVH) - foram transferidos do “Partido dos Pequenos Proprietários
Independentes” para gente de confiança
do Partido Comunista. A ÁVH empregava métodos de intimidação, falsas acusações,
prisões e tortura para suprimir a oposição política. O breve período de
democracia pluripartidária acabou quando o Partido Comunista fundiu-se com o
Partido Socialdemocrata para se tornar o “Partido Popular dos Trabalhadores
Húngaro”, cuja lista de candidatos foi a votos sem oposição em 1949. A República
Popular Húngara foi declarada.
Depois
da 2ª guerra mundial, a Hungria sucumbiu na esfera político-ideológica de influência soviética e foi ocupada militarmente pela guerra de movimernto do Exército Vermelho. Em 1949, os soviéticos tinham concluído um tratado de
assistência mútua com a Hungria que garantia direitos políticos à União
Soviética para uma contínua presença militar, assegurando o último controle
político. Dentre 1950-52, a Polícia de Segurança forçadamente realocou milhares
de pessoas para obter propriedades e moradias para os membros do Partido
Popular dos Trabalhadores, e remover a ameaça da classe intelectual e burguesa.
Milhares foram presos, torturados, julgados e aprisionados em campos, deportados para o leste, ou eram executados, incluindo o fundador
da ÁVH László Rajk. Em um único ano, mais de 26.000 pessoas foram forçadamente
realocadas de Budapeste. Como uma consequência, empregos e moradias eram muito
difíceis de obter. Os deportados geralmente experimentavam parcas condições de
habitação e eram recrutados para trabalho escravo em fazendas coletivas. Muitos
morreram como resultado das pobres condições de vida e desnutrição. O estudo do
idioma russo e instrução política comunista foram tornados parte do currículo
escolar e universitário pelo país. László
Rajk nasceu em Székelyudvarhely, sendo o nono filho de uma família de saxões da Transilvânia, seus laços afetivos com o
comunismo começaram como membro do Partido Comunista da Hungria
(KMP). Posteriormente, foi expulso da universidade por suas ideias políticas e
se tornaria operário da construção civil, até 1936, quando ingressou na Frente
Popular na Guerra Civil Espanhola.
Ele se tornou comissário do Batalhão
Rakosi da XIII Brigada Internacional. Após o colapso da Espanha republicana,
ele ficou internado na França até 1941, quando finalmente pôde retornar à
Hungria, onde se tornou secretário do Comitê Central do Partido Comunista, um
movimento comunista clandestino. Em dezembro de 1944, ele foi preso por um
destacamento do Partido Arrow Cross. Ele seria executado e transportado para a
prisão de Sopronkőhida, depois para a Alemanha; mas a intercessão de seu irmão
mais velho, Endre, um subsecretário fascista, salvou sua vida. László
Rajk foi lançado em 13 de maio de 1945. Ele voltou para a Hungria e participou
da política partidária tornando-se um membro de todas as corporações líderes do
partido (MKP) e do Parlamento Extemporal. Rajk foi membro do Alto Conselho
Nacional de 7 de dezembro de 1945 a 2 de fevereiro de 1946. Em 20 de março de
1946, foi nomeado ministro do Interior. Neste posto ele organizou exército
privado do Partido Comunista Húngaro e da polícia secreta, um análogo
organização para a KGB, Securitate, Stasi e depois, o ÁVH (originalmente AVO), tornando-se
diretamente responsável por isso. Sob a estratégia de “luta contra o fascismo e
a reação” e “defesa do poder do proletariado”, ele proibiu e liquidou vários
estabelecimentos e grupos religiosos, nacionalistas e rebeldes em torno de
1.500. Ele foi transferido do Ministério do Interior para o Ministério das
Relações Exteriores de 5 de agosto de 1948 a 30 de maio de 1949. Rákosi, que
via Rajk como uma ameaça ao seu poder, decidiu acusá-lo de falsas acusações e
mandou prendê-lo em 30 de maio 1949 sob acusações forjadas. Rajk, que era
popular entre os comunistas antes, logo se tornou o “cachorro acorrentado” de
Tito , Horthy e “o imperialista”.
Queridasamigas (Édes Emma, drága Böbe), 1992.
O
levante húngaro começou em 23 de outubro de 1956, com uma manifestação pacífica
de estudantes em Budapeste. Exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação
do “socialismo verdadeiro”. Quando os estudantes tentaram resgatar alguns
colegas que haviam sido presos pela polícia política, esta abriu fogo contra a
multidão. No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas
ruas da capital. A estátua de Josef Stálin foi derrubada por manifestantes que
entoavam, “russos, voltem para casa”, “abaixo Gerő” e “viva Nagy”. Em resposta,
o comitê central do Partido Comunista Húngaro recomendou o nome de Imre Nagy
para a chefia de governo. Em 25 de outubro, tanques soviéticos dispararam
contra manifestantes na Praça do Parlamento. Chocado com tais acontecimentos, o
comitê central do partido forçou a renúncia de Gerő e substituiu-o por Imre
Nagy. Prontamente foi à Rádio Kossuth e anunciou a futura instalação das
liberdades, como seja o multipartidarismo, a extinção da polícia política, a
melhoria radical das condições de vida do trabalhador e a busca do socialismo
condizente com as características nacionais da Hungria. Em 28 de outubro, o
primeiro-ministro Nagy vê as suas opções serem aceites por todos os órgãos do
Partido Comunista. Os populares desarmam a polícia política. Em 30 de outubro,
Nagy comunicou a libertação do cardeal Mindszenty e de outros prisioneiros
políticos.
Reconstituíram-se
os Partidos dos Pequenos Proprietários, Socialdemocrata e Camponês Petőfi. O Politburo Soviético decide, numa primeira
fase (30 de outubro) mandar as tropas sair de Budapeste, e mesmo da Hungria se
viesse essa a ser a vontade do novo governo. Mas no dia seguinte volta a trás e
decide-se pela intervenção militar e instauração de um novo governo. A 1° de novembro,
o governo húngaro, ao tomar conhecimento das movimentações militares em direção
a Budapeste, comunica a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e
pede a proteção das Nações Unidas. A 3 de novembro, Budapeste está cercada por
mais de (01) mil tanques. Em 4 de novembro, o Exército Vermelho invade
Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia a
Hungria, derrotando rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20 000
pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e
posteriormente executado) e substituído no poder pelo simpatizante soviético
János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350
enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e próximo de 13
mil foram presos. Como sabemos, as tropas soviéticas apenas saíram da Hungria
em 1991.
Escolas
religiosas foram nacionalizadas e líderes de igrejas foram substituídos. Em
1949 o líder da Igreja Católica Húngara, cardeal József Mindszenty, foi preso e
condenado à prisão perpétua por traição. Sob Rákosi, o governo húngaro era dos mais
repressores na Europa. A Revolução Húngara de 1956 e outros eventos da década
de 1950 levaram à afluência de mais membros ao grupo. Nesse período conturbado
do Leste europeu, eles propunham o ponto fundamental como a necessidade do
capitalismo, por um lado, reduzir os trabalhadores a simples executores de
tarefas e, por outro, a impossibilidade de continuar funcionando se for bem
sucedido nesse ínterim. O capitalismo precisa atingir objetivos mutuamente
incompatíveis: a participação e a exclusão do trabalhador na produção - como
todos os cidadãos em relação à política. Isso ficou caracterizado como a
distinção entre o dirigeant (“dirigente”)
e o exécutant (“executor”). Essa
perspectiva permitiu o grupo expandir-se no que se refere às novas formas de luta
e de conflito social que emergiam fora da esfera da produção.
Vale
lembrar neste aspecto quando voltou a seu país natal para fazer este filme, o
cineasta húngaro István Szabó já havia adquirido fama e respeito internacionais
com o filme Mephisto, de 1981, CoronelRedl, de 1985, e EncontrocomVênus, de 1991, realizando-se três grandes coproduções internacionais,
lançadas no mercado cinematográfico internacional. Este aqui é em tudo
diferente desses três anteriores, comparativamente, que garantiram a Szabó a admiração geral; não
é um afresco, um painel; é um pequeno retrato; não é um espetáculo para dezenas
de atores, é todo em tom menor, centrado na amizade natural de duas mulheres que vivem
no seu dia-a-dia a passagem de um mundo para outro. Ao contrário do que seria
de se esperar, não se comemora com fanfarras o fim do regime autoritário, o fim
dos grilhões, a volta à liberdade plena (cf. Gati, 2006). Demonstra a
perplexidade das pessoas diante da
mudança radical que ocorre de tudo à sua volta – e tem mesmo um tom melancólico com a
perda do valor da solidariedade entre as pessoas, o sonho que não se conseguiu
realizar. Um belíssimo diálogo resume a weltanschauung
de Szabó sobre aquele momento radical. Uma das amigas, a querida Böbe do título
original do filme, pergunta à outra, a doce Emma; o que ela quer da vida, e ela
diz: - “Uma sociedade fraterna; que apreciem o que eu faço”. E Böbe responde,
ao contrário: - “Isso não vale mais nada. O que vale agora é o dinheiro e as
coisas materiais que você possui”.
Em
1958 desentendimentos quanto ao papel político do grupo levou à saída de
membros importantes. Claude Lefort e Henri Simon deixaram o grupo para formar “Informations
et Liaison Ouvrières”. Em 1960, o grupo tinha crescido para ao redor de 100
membros e tinha desenvolvido novas ligações internacionais, primariamente na
emergência de uma organização irmã na Grã-Bretanha chamada “Solidarity”. Disputas
dentro do grupo sobre a crescente rejeição do marxismo por Castoriadis levou à
saída do grupo ao redor do jornal Pouvoir
Ouvrier. O principal jornal Socialismeou Barbarie continuou a ser publicado
até a edição final em 1965, depois da qual o grupo permaneceu dormente e foi
então dissolvido. Uma tentativa de Castoriadis para reviver o grupo durante os nichos
através da ressonância dos eventos de Maio de 1968 fracassou. A Internacional Situacionista foi
associada ao grupo e influenciada através da interpretação de Guy Debord (1966), que era membro
de ambos. O movimento social italiano Autonomia
também acabou influenciado, embora de forma menos influente diretamente. A
busca de uma argumentação que vise à universalidade (a própria filosofia) não
se originaria na racionalidade humana, mas na imaginação intelectual criadora
e/ou “imaginária radical”.
O homem é criação propiciada por uma formação
exagerada da faculdade da imaginação que faz a essência do homem, precisamente
criadora. Para que a espécie humana pudesse sobreviver, a psique precisou ser
socializada e dar sentido a um mundo aparentemente sem-sentido
natural-biológico. Ao criar as significações, institui-se a sociedade que é a
origem de si mesma. Não se poderia pensar a humanidade fora do mundo de
significações, ou a subjetividade, a
partir do termo “para si”, das representações das instituições sociais. O “para
si” é inferido a partir das instancias, interdependentes, em que todas existem, mas
nenhuma se mantém sem a outra, numa completa relação de atividade e
reciprocidade representando a totalidade
do sujeito. Enfim, Castoriadis admite que é impossível fazer filosofia sem uma
ontologia, isto é, sem uma interrogação
sobre o ser, mas, ao contrário do que possa pensar aquele para quem ontologia
soa como “palavra proibida”, sua reflexão é inteiramente articulada à questão
política. Não sendo, pois, uma idealização, mas um pensamento radical sobre a possibilidade de uma sociedade na qual
os homens tenham consciência de seu poder. Por sua vez, o imaginário radical
enquanto imaginário social aparece como corrente do coletivo anônimo,
traduzindo-se na sociedade e no que para o social-histórico é posição, criaçãoefazerser. Duas dimensões não incomunicáveis nem estáticas, obviamente, embora a dimensão
de análise psíquica, a todo tempo, tenha a sua participação oculta na formação do que é próprio na criação.
Bibliografia
geral consultada.
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Edizione Dédalo, 1998; AMORIM, Mirtes Miriam, Labirintos da Autonomia: A
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