Ubiracy de Souza Braga
“O currículo sempre foi usado para consignar um posto social”. Ivan Illich
Grau de escolaridade é, por definição, o cumprimento de um determinado ciclo de estudos. Se um indivíduo completou todos os anos de um ciclo e for aprovado, diz-se que este obteve o grau de escolaridade do ciclo em questão. Desse modo, o aprovado no último nível do ensino fundamental, obtém a escolaridade do ensino fundamental. O estudante que obtém a licenciatura não obtém um novo grau ao estudar mais um ano para obter o bacharelado. Os graus de licenciado, bacharel e Tecnólogo são na verdade especificações dentro do ensino superior, assim como os residentes e especialistas não são mais ou menos graduados. A pós-graduação é vista pela Lei brasileira como a continuidade dos objetivos maiores da escolaridade assim chamada entre nós de “ensino superior”. Em relação a quem? Ela afunila os caminhos possíveis, e por vezes traz habilitações mistas entre diversas áreas sem que o estudante precise cursar uma nova graduação. Escolaridade é um termo utilizado para se referir ao tempo de permanência dos alunos no período escolar. É o período onde os alunos desenvolvem suas habilidades de aprendizado, além de desenvolver a capacidade de compreensão do ensino. A escolaridade também está relacionada com a progressão do ensino na escola.
Ela é composta por sistemas formais e obrigatórios de educação. Estes níveis escolares também podem ser chamados de grau de escolaridade. Eles correspondem, comparativamente, ao grau de instrução que um indivíduo possui, mediante os níveis de escolaridade que foram iniciadas ou concluídas por ele. Filósofo
e crítico social, Ivan Illich nasceu em 1926, em Viena. Estimulou a reflexão
sociológica ao desenvolver um pensamento que, apesar de não ser meramente
utópico, é fortemente crítico da direção tomada pelo desenvolvimento econômico.
A sua formação católico-romana, que chegou a levá-lo ao sacerdócio, não é estranha
ao romantismo conservador das suas obras, tendo já sido apontado como o
expoente da tradição anarquista romântica. Com uma eclética formação com base
na história, nas ciências da natureza, na filosofia e teologia, interessou-se
particularmente pela lógica do desenvolvimento econômico moderno, prestando
especial atenção ao chamado Terceiro Mundo. Sua família mudou-se para Roma,
onde Illich completou os seus estudos: Física (Florença), Filosofia e Teologia
(Roma) e doutoramento em História (Salzburgo). Por ser fluente em dez línguas,
Illich tornou-se intérprete do Cardeal Spellman (Nova York) e teve como função
preparar religiosos para a comunidade hispano-americana. Nos anos 1960 mudou-se
para o México onde criou o Centro Intercultural de Formação (CIF) – uma espécie
de universidade aberta como surgiu neste período em Portugal. Faleceu em Bremen, Alemanha, em dezembro de 2002.
Entre
1936 e 1941 viveu a maior parte do tempo com seu avô materno em Viena. Estudou
histologia e cristalografia na universidade de Florença. Entre 1942 e 1946
estudou teologia e filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana do Vaticano,
e trabalhou como padre em Nova Iorque. Na década de 1950, convidado pelo
arcebispo de Nova York, instalou-se nos Estados Unidos da América (EUA), com a
missão de preparar sacerdotes para celebrar o ofício religioso nas comunidades
hispano-americanas. Nos anos 1960, mudou-se para o México, onde criou o Centro Intercultural de Formação
(CIF) com a finalidade em voga de formar missionários internacionais
interessados em trabalhar na América Latina. Durante esse período, fez severas
críticas à Igreja Católica, que apontava como a maior instituição burocrática
não governamental do mundo, propagadora do “credo desenvolvimentista e
modernizador de estilo ocidental”. Em 1956 foi nomeado vice-reitor da
Universidade Católica de Porto Rico. Ivan
Illich e Paulo Freire participaram de grandes debates quando trabalharam
no International Committee for Documentation - CIDOC, coordenado pelo professor Ivan Illich em Cuernavaca na cidade do México nos anos 1960.
Cuernavaca é o município da capital do
estado mexicano de Morelos. É reconhecida como “a cidade da eterna primavera” -
assim denominada pelo barão Alexander Von Humboldt devido ao seu clima
agradável durante boa parte do ano. A cidade foi fundada pelos tlahuicas, uma das sete tribos nahuatlacas, embora por todo estado de
Morelos haja vestígios de estabelecimentos prévios de grupos olmecoides e toltecas. Os tlahuicas (compreendidos etnograficamente
“como os que amassam a terra”) se dedicavam ao cultivo do algodão o qual atraiu
o interesse dos mexicas. Cuauhnáhuac foi cidade tributária deles
até a chegada do exército imperialista de Hernan Cortés. Durante a colonização,
a agricultura seguiu sendo predominante ao concentrar-se na cidade a produção
da cana de açúcar introduzida na região pelos espanhóis. Devido ao apreciado
clima de Cuernavaca muitas personalidades, como escritores, artistas e milionários
estrangeiros, estabeleceram sua residência nesta cidade. Entre outros, se
encontram Malcolm Lowry, Barbara Hutton, Ivan Illich e John Spencer. Lowry
ambienta em uma cidade chamada Quauhnahuac
que bem poderia ser Cuernavaca no seu romance Debaixo do vulcão. Neste lugar Geoffrey Firmin, ex-cônsules
britânico, tenta alcançar uma lucidez que ele não acha na sobriedade do lugar. 1938. É o dia da Festa dos Mortos no México, e Geoffrey Firmin - ex-cônsul britânico, alcoólatra e um homem arruinado - está vivendo o último dia da sua existência.
Afundado em bebida enquanto sua ex-mulher e seu meio-irmão tentam ajudá-lo, o diplomata se vê transformado em uma figura trágica e sofrida. A sua história - imagem da agonizante jornada de um homem em direção ao calvário - tornou-se um livro profético publicado em 1947. O projeto e as ideias difundidas pelo CIDOC foram fortemente censurados pela Igreja Católica, fato político que levou Illich a abandonar o sacerdócio no fim dos anos 1960. Depois de 10 anos, as posturas do CIDOC entraram em conflito com o Estado Vaticano. Em 1976 o centro foi fechado com o consentimento daqueles que faziam parte. Devido à sua ascendência judaica, teve de abandonar a Áustria aos cinco anos de idade. Devido ao antissemitismo, fenômeno de longa data, cujas “manifestações de vida”, no sentido simmeliano, e motivos aos quais têm variado consoante a época e o local, os judeus mantiveram-se unidos durante séculos por uma crença e uma tradição comuns. Na Europa, muitos judeus falam iídiche (“Jiddisch”), língua baseada no Alemão, no Hebraico e nas línguas eslavas. A partir dos anos 1980, viajou pelo mundo ocidental, repartindo seu tempo social entre os Estados Unidos da América, México e Alemanha. Em 1982, lançou Gender, logo traduzido para o espanhol, um livro polêmico em que descreve como inatingíveis algumas metas inquestionáveis da sociedade coetânea, como a questão tópica relativa à igualdade entre os sexos.
Foi nomeado professor Visitante de Filosofia e Ciência, Tecnologia e Sociedade na Universidade Estadual da Pensilvânia, e também professor Visitante da Universidade de Bremen. Seus últimos anos foram marcados pela luta contra um câncer na face que o levou à morte em 2002. Seguindo sua crítica esotérica à medicina tradicional utilizou tratamentos alternativos para enfrentar o câncer, que batizou de “Minha mortalidade”. Seu livro mais famoso, fora de dúvida é “Sociedade sem escolas” (1971), uma crítica política à institucionalização da educação nas sociedades contemporâneas. Através de exemplos sobre a natureza ineficaz da educação institucionalizada, se mostrava favorável à autoaprendizagem, apoiada em relações sociais intencionais, e numa intencionalidade fluida e informal. A globalização econômica da educação, antevista por Marx, é um processo que na concepção de Illich ocorre em ondas (embora na economia se descreva como ciclos)com avanços e retrocessos separados por intervalos maculados que podem durar séculos.
Pode-se considerar a abordagem de Ivan Illich semelhante à Marx e Ludwig Feuerbach, ao considerar que a Escola aliena, pois forma nos alunos uma consciência distorcida da realidade social e histórica. “A propriedade privada”, diz Marx, aliena não somente a individualidade dos homens, mas também as das coisas no processo social entre si e no processo social da produção. A educação universal por meio da escolaridade não é possível. Nem seria mais exequível se se tentasse mediante instituições alternativas criadas segundo o estilo das escolas atuais. Nem novas atitudes dos professores para com os seus alunos, nem a proliferação de novas ferramentas e métodos físicos ou mentais nas salas de aula ou nos dormitórios, nem mesmo a intenção de aumentar a responsabilidade dos pedagogos até ao ponto de incluir a vida completa dos seus alunos, teria como resultado a educação universal. A busca de novos canais educativos deverá ser transformada na procura do seu oposto institucional: redes ou células educativas que aumentem a oportunidade de cada um transformar cada momento da sua vida num outro de aprendizagem, de partilha e de interesse. Acreditava contribuir trazendo os conceitos a quem realiza tais investigações sobre as grandes linhas de pensamento no âmbito da educação - e também para quem procura alternativas para outros tipos estabelecidos de serviços.
Afundado em bebida enquanto sua ex-mulher e seu meio-irmão tentam ajudá-lo, o diplomata se vê transformado em uma figura trágica e sofrida. A sua história - imagem da agonizante jornada de um homem em direção ao calvário - tornou-se um livro profético publicado em 1947. O projeto e as ideias difundidas pelo CIDOC foram fortemente censurados pela Igreja Católica, fato político que levou Illich a abandonar o sacerdócio no fim dos anos 1960. Depois de 10 anos, as posturas do CIDOC entraram em conflito com o Estado Vaticano. Em 1976 o centro foi fechado com o consentimento daqueles que faziam parte. Devido à sua ascendência judaica, teve de abandonar a Áustria aos cinco anos de idade. Devido ao antissemitismo, fenômeno de longa data, cujas “manifestações de vida”, no sentido simmeliano, e motivos aos quais têm variado consoante a época e o local, os judeus mantiveram-se unidos durante séculos por uma crença e uma tradição comuns. Na Europa, muitos judeus falam iídiche (“Jiddisch”), língua baseada no Alemão, no Hebraico e nas línguas eslavas. A partir dos anos 1980, viajou pelo mundo ocidental, repartindo seu tempo social entre os Estados Unidos da América, México e Alemanha. Em 1982, lançou Gender, logo traduzido para o espanhol, um livro polêmico em que descreve como inatingíveis algumas metas inquestionáveis da sociedade coetânea, como a questão tópica relativa à igualdade entre os sexos.
Foi nomeado professor Visitante de Filosofia e Ciência, Tecnologia e Sociedade na Universidade Estadual da Pensilvânia, e também professor Visitante da Universidade de Bremen. Seus últimos anos foram marcados pela luta contra um câncer na face que o levou à morte em 2002. Seguindo sua crítica esotérica à medicina tradicional utilizou tratamentos alternativos para enfrentar o câncer, que batizou de “Minha mortalidade”. Seu livro mais famoso, fora de dúvida é “Sociedade sem escolas” (1971), uma crítica política à institucionalização da educação nas sociedades contemporâneas. Através de exemplos sobre a natureza ineficaz da educação institucionalizada, se mostrava favorável à autoaprendizagem, apoiada em relações sociais intencionais, e numa intencionalidade fluida e informal. A globalização econômica da educação, antevista por Marx, é um processo que na concepção de Illich ocorre em ondas (embora na economia se descreva como ciclos)com avanços e retrocessos separados por intervalos maculados que podem durar séculos.
Pode-se considerar a abordagem de Ivan Illich semelhante à Marx e Ludwig Feuerbach, ao considerar que a Escola aliena, pois forma nos alunos uma consciência distorcida da realidade social e histórica. “A propriedade privada”, diz Marx, aliena não somente a individualidade dos homens, mas também as das coisas no processo social entre si e no processo social da produção. A educação universal por meio da escolaridade não é possível. Nem seria mais exequível se se tentasse mediante instituições alternativas criadas segundo o estilo das escolas atuais. Nem novas atitudes dos professores para com os seus alunos, nem a proliferação de novas ferramentas e métodos físicos ou mentais nas salas de aula ou nos dormitórios, nem mesmo a intenção de aumentar a responsabilidade dos pedagogos até ao ponto de incluir a vida completa dos seus alunos, teria como resultado a educação universal. A busca de novos canais educativos deverá ser transformada na procura do seu oposto institucional: redes ou células educativas que aumentem a oportunidade de cada um transformar cada momento da sua vida num outro de aprendizagem, de partilha e de interesse. Acreditava contribuir trazendo os conceitos a quem realiza tais investigações sobre as grandes linhas de pensamento no âmbito da educação - e também para quem procura alternativas para outros tipos estabelecidos de serviços.
Suas ideias sugerem que a institucionalização da educação é uma tendência frontal
de institucionalização da sociedade, e as ideias possíveis de desinstituicionalização
da educação poderiam tornar-se um ponto de partida para a
desinstitucionalização no âmbito da sociedade globalizada. Como pensador
holístico, de inteligência formidável e erudição católica ampla, Ivan Illich
sempre propôs as suas análises comparativas nos termos mais amplos possíveis. Sem
temor a erro, seu livro é mais do que apenas uma crítica analítica, pois contém
propostas para reinventar toda a aprendizagem em várias instâncias de
interpretação da sociedade e na esfera individual. Possui destaque a sua
proposta, realizada em 1971, de criar as “redes de aprendizagem” (“telarañas de
aprendizaje”) apoiadas em tecnologias de base eletrônicas. Muitas das
características das “redes de aprendizagem” recordam o uso massificado da internet em geral, e em particular, o
trabalho e ideias da própria descrição mecanizada na Wikipédia.
Sua obra multifacetada compreende temas
depreendidos a partir das relações sociais entre o indivíduo e a sociedade com
a ciência e a técnica. Ipso facto, não devemos perder de vista que todo ponto é a vista a partir de um ponto no qual se encontra aquele leitor, lembrava Frei Betto sobre a literatura como subversão.
Mas
Ivan Illich é claro quando afirma: usarei o termo teia de oportunidades em vez de rede para
designar modalidades específicas de acesso a cada um dos quatro conjuntos de
recursos. A palavra rede é muitas vezes usada erroneamente para designar os
canais reservados ao material selecionado por outros, para doutrinação,
instrução e diversão. Mas também pode ser usada para os serviços telefônicos e
postais que são principalmente utilizados pelos indivíduos que desejam enviar
mensagens uns aos outros. Oxalá tivesse outra palavra com menos conotações de armadilha,
menos batida pelo uso corrente e menos ideologizada, sendo, portanto, mais
sugestiva pelo fato social de incluir aspectos legais, organizacionais e,
sobretudo técnicos. Não encontrando tal palavra, o autor pretende redimir a que
está disponível, usando-a como sinônimo de teia educacional. O que precisamos
é de novas redes sociais, imediatamente disponíveis ao grande público em geral e
elaboradas de forma a darem igual oportunidade para a aprendizagem escolar e o ensino.
Seus
escritos explosivos foram atacados tanto pela esquerda quanto pela direita. Sua
obra mais famosa no âmbito do “social irradiado”, guardadas as proporções de
tempo/espaço é fora de dúvida o livro: “Sociedade Sem Escolas”, onde do ponto
de vista da esfera de ação política defende a perspectiva de desescolarização
da educação. Assim, por extensão, temos o “autodidatismo” e a “concepção de
redes de aprendizado”. Criticava abertamente os malefícios da
institucionalização, monopólios, commoditização e profissionalização de áreas
chaves da sobrevivência humana. Desdobrou também a ideia da “contra
produtividade” - de forma perspicaz na qual uma instituição estimula o
“dirigismo” tornando-se o oposto do seu propósito institucional. Segundo
Illich, um dos grandes mitos de nossa época está na crescente
forma caracterizada como institucionalização: todos os nossos passos se acham enquadrados e submetidos a
instituições criadas para “proteger” e “orientar”, mas que na verdade cerceiam
as ações humanas. Saúde, nutrição, educação, transporte, bem-estar, equilíbrio
psicológico, meios de comunicação social foram colocados nas mãos dos
especialistas, retirando dos indivíduos a capacidade de decidir e poder tomar decisões
por si mesma.
Para entendermos a dimensão e atualidade do pensamento de Ivan Illich basta rememorarmos a tragédia expressa na interpretação de Brad Pitt no filme: “The Curious Case of Benjamin Button” (2008), baseado no conto homônimo lançado em 1921 pelo escritor F. Scott Fitzgerald tendo em vista que ele se inspirou na frase de Mark Twain: - “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18?” Trata-se da história de um homem, Benjamin, que em 1918 nasce com a aparência envelhecida e por isso, pensando que ele é um monstro, seu pai o abandona. Benjamin é criado num lar assistencial de idosos e, enquanto pequeno, todos pensavam que ele iria acabar por morrer rapidamente. Durante a sua infância conhece Daisy, o grande amor de sua vida. Apesar de não acreditarem na sua sobrevivência, ele vai ficando mais novo ao longo dos anos, vendo os outros ao seu redor envelhecerem. No decorrer do filme, somos levados a conhecer sua trajetória que é totalmente contrária a natureza comum da vida, onde nascemos, nos tornamos crianças, adolescentes, jovens e, por fim, envelhecemos e vamos ficando cansados. O que caminha da melhor maneira possível, quando criança o misterioso caso do garoto, é um caso curioso para quem está ao seu redor. Ele conhece Daisy, vivida no filme pela atriz Cate Blanchett, os dois ainda crianças brincam e vivenciam grandes momentos juntos. Porém, a vida de Daisy segue o ciclo natural, ela começa a envelhecer e Benjamin Button a ficar cada vez mais jovem. Um desencontro de tempos, como duas pessoas que se amam, mas que não podem se relacionar. Um precisa esperar o tempo do outro para que possam se envolver.
Para entendermos a dimensão e atualidade do pensamento de Ivan Illich basta rememorarmos a tragédia expressa na interpretação de Brad Pitt no filme: “The Curious Case of Benjamin Button” (2008), baseado no conto homônimo lançado em 1921 pelo escritor F. Scott Fitzgerald tendo em vista que ele se inspirou na frase de Mark Twain: - “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18?” Trata-se da história de um homem, Benjamin, que em 1918 nasce com a aparência envelhecida e por isso, pensando que ele é um monstro, seu pai o abandona. Benjamin é criado num lar assistencial de idosos e, enquanto pequeno, todos pensavam que ele iria acabar por morrer rapidamente. Durante a sua infância conhece Daisy, o grande amor de sua vida. Apesar de não acreditarem na sua sobrevivência, ele vai ficando mais novo ao longo dos anos, vendo os outros ao seu redor envelhecerem. No decorrer do filme, somos levados a conhecer sua trajetória que é totalmente contrária a natureza comum da vida, onde nascemos, nos tornamos crianças, adolescentes, jovens e, por fim, envelhecemos e vamos ficando cansados. O que caminha da melhor maneira possível, quando criança o misterioso caso do garoto, é um caso curioso para quem está ao seu redor. Ele conhece Daisy, vivida no filme pela atriz Cate Blanchett, os dois ainda crianças brincam e vivenciam grandes momentos juntos. Porém, a vida de Daisy segue o ciclo natural, ela começa a envelhecer e Benjamin Button a ficar cada vez mais jovem. Um desencontro de tempos, como duas pessoas que se amam, mas que não podem se relacionar. Um precisa esperar o tempo do outro para que possam se envolver.
O
sistema de currículos Lattes surgiu da necessidade global de controle político do
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) para gerenciar uma base de dados sobre
pesquisadores em C&T para credenciamento de orientadores no país. Leva o
nome do físico paranaense César Lattes. De 1993 a 1999, utilizaram-se
formulários “em papel”, um sistema em ambiente DOS (BCURR) e um sistema de
currículos específico para credenciamento de orientadores. Nesse período, a
Agência acumulou aproximadamente 35 mil registros curriculares da atividade de
pesquisa em C&T no país. Embora esses instrumentos tenham viabilizado a
operação de fomento da Agência, a natureza das informações dificultava uma
plena utilização dessa base de dados em outros processos de gestão em C&T.
Por exemplo, não era possível separar coautores ou mesmo contabilizar índices
puros de coautoria nos currículos vitae. O sistema de C&T, no Brasil, é
gerido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Com um orçamento anual da
ordem de R$ 2 bilhões, durante o governo Dilma Rousseff, com mandato
presidencial de 1° de janeiro de 2011, interrompido com o golpe de Estado de
meados de abril até 31 de agosto de 2016, chamado por ela de “interrupção
ilegal e usurpadora” do seu mandato e disse que vai lutar com “todos os
instrumentos”, o MCT possuía em sua estrutura 20 Instituições de grande porte
no desenvolvimento de pesquisas. No que diz respeito à gerência de recursos e
formulação de políticas de C&T, o MCT é auxiliado pelo velho CNPq e pela elitista
FINEP.
O
progresso estaria provocando o consumo desordenado, resultado da criação
ilimitada de novas necessidades: hoje em dia ter sede é precisar de
Coca-Cola... O automóvel esperança de “economia de tempo” gerou os engarrafamentos
das grandes cidades e a poluição do ar. Ao constatar que o vertiginoso
desenvolvimento tecnológico levou o homem à alienação, Illich considera
importante desmistificar o ideal de progresso e de consumo insaciável. Daí a
tese radical e negação da reprodução escolar. Por que não desescolarizar a
sociedade? Não é possível uma educação universal através da escola. - “Seria
mais factível se fosse tentada por outras instituições, seguindo o estilo das
escolas atuais. Nem as novas atitudes dos professores em relação aos alunos,
nem a proliferação de práticas educacionais rígidas ou permissivas (na escola
ou no quarto de dormir), nem a tentativa de prolongar a responsabilidade do
pedagogo até absorver a própria existência de seus alunos vai conseguir a educação
universal. A procura de novas saídas educacionais deve virar procura de inverso institucional: a teia educacional que aumenta a oportunidade de
cada um de transformar todo instante sua vida num aprendizado,
de participação, de cuidado. Esperamos contribuir com conceitos válidos aos que
se ocupam dessa pesquisa no campo educacional - e também aos que procuram
alternativas para outras indústrias de serviço estabelecidas” (cf. Illich,
2010: 14).
Portanto,
a solução da crise não estaria em promover reformas de métodos ou currículos,
nem simplesmente em denunciar que a escola é instrumento de inculcação dos
valores da classe dominante. Mas em questionar o fato aceito universalmente de
que a escola é o único e melhor meio de educação. Melhor seria, se ela fosse
destruída! Em um mundo marcado pelo controle das Instituições, “a Escola
escraviza mais que a família, devido à estrutura sistemática e organizada, à
hierarquia, aos rituais das provas e ao mito do diploma”. Encarceradas nas Escolas
pela exigência da frequência obrigatória, as crianças ficam à mercê do poder
arbitrário dos professores. Aí elas se curvam à obediência cega, desenvolvem
uma atitude servil e o respeito pelo relógio. É a aprendizagem perversa da
hierarquia. Portanto, lembra o filósofo Ivan Illich que a noção de “desenvolvimento econômico” não permitia “domínio das necessidades”, nem“libertação da escassez”, mas de alguma forma uma dependência de especialistas para satisfazer suas necessidades básicas. Paradoxalmente,
a convicção de que a escolarização universal é absolutamente necessária,
mantêm-se mais firmemente nos países em que menos pessoas foram e serão
servidas por escolas. Na América Latina a maioria dos pais e crianças ainda
podem tomar diferentes rumos em relação à educação. As somas de dinheiro governamentais
investidas nas escolas e professores podem ser proporcionalmente mais elevadas
do que nos países ricos, mas esses investimentos são totalmente insuficientes
para atender a maioria, nem mesmo para possibilitar quatro anos de frequência
escolar. Fidel Castro falava como se intencionasse caminhar para a
desescolarização quando promete que, por volta de 1980, Cuba estaria em
condições de acabar com sua Universidade, uma vez que toda a vida em Cuba seria
uma experiência educacional. Ao nível da escola primária e secundária, porém,
Cuba - como qualquer outro país latino-americano – age como se a passagem por
um período definido como “idade escolar” fosse um objetivo inquestionável para
todos, retardado apenas por uma carência temporária de recursos econômicos etc.
A
dupla decepção da intensa escolaridade, como se verifica nos Estados Unidos - e
como é prometida na América Latina - complementa-se uma à outra. Os
norte-americanos pobres estão sendo desmantelados pelos doze anos de
escolaridade cuja falta estigmatiza os latino-americanos pobres como
irremediavelmente atrasados. Nem na América do Norte nem na América Latina
obtêm os pobres a igualdade através da escolarização obrigatória. Mas em ambas
as regiões a simples existência de escolas desencoraja e incapacita os pobres
de assumirem o controle da própria aprendizagem. Em todo o mundo a escola tem
um efeito antieducacional sobre a sociedade: reconhece-se a escola como a
instituição especializada em educação. Os fracassos da escola são tidos, pela
maioria, como prova de que a educação é tarefa muito dispendiosa, muito
complexa, sempre misteriosa e muitas vezes quase impossível. A igualdade de
oportunidades na educação é meta desejável e realizável, mas confundi-la com
obrigatoriedade escolar é confundir salvação com igreja. A escola tornou-se a
religião universal do proletariado modernizado, e faz promessas férteis de
salvação aos pobres da era tecnológica. O Estado-Nação adotou-a, moldando todos
os cidadãos num currículo hierarquizado,
à base de diplomas sucessivos, algo parecido com os ritos de iniciação e
promoções hieráticas de outrora. O Estado assumiu a obrigação de impor os
ditames de seus educadores por meio de inspetores bem intencionados e de
exigências empregatícias; mais ou menos como o fizeram os reis espanhóis que
impunham os ditames de seus teólogos pelos conquistadores e pela Inquisição
(cf. Illich, 2010: 25).
E
pior, com a agravante de muitos destes serviços na medida em que se especializam
podem se tornar frequentemente monopólios. Com a destruição das antigas
tradições e dos “vernacular skills” das sociedades pré-industriais, não é
deixada alternativa às populações senão a de recorrerem a estes serviços
desumanizados e instigadores do consumo passivo. Em alternativa, Illich propôs
uma série de soluções para tornar mais democráticas e participativas as
estruturas das sociedades. Instrução representa a escolha de circunstâncias que
facilitam a organização da aprendizagem. A atribuição de funções sociais exige
uma série de condições que o candidato deve preencher se quiser atingir o
posto. A escola fornece instrução, mas não aprendizagem para essas funções.
Isto não é nem razoável, nem libertador. Não é razoável porque não vincula as qualidades
relevantes ou competências com as funções, mas apenas o processo pelo qual se
supõe sejam tais qualidades adquiridas. Não é libertador ou educacional porque
a escola reserva a instrução para aqueles cujos passos na aprendizagem se
ajustam a medidas previamente aprovadas de controle social.
Enfim,
a desescolarização da sociedade
implica um reconhecimento da dupla natureza da aprendizagem. Insistir apenas na
instrução prática seria um desastre; igual ênfase deve ser posta em outras
espécies de aprendizagem. Se as escolas são o lugar errado para se aprender uma
habilidade, são o lugar mais errado ainda para se obter educação. A escola
realiza mal ambas as tarefas; em parte porque não sabe distinguir as duas. A
escola é ineficiente no ensino de habilidades, principalmente, porque é
curricular. Na maioria das escolas, um programa que vise a fomentar uma
habilidade técnica está sempre vinculado a outra tarefa que é socialmente irrelevante. A história
social está ligada ao progresso na matemática; e a assistência às aulas, ao direito de
usar o campo de jogos. A
escola é ainda menos eficiente na concatenação das circunstâncias que
incentivam o uso franco e explorador das habilidades adquiridas, para o qual
Illich reserva o termo “educação liberal”. A principal razão disso é que a
escola obrigatória e a escolarização tornam-se um fim em si mesmo: uma estada
forçada na companhia de professores, que paga o duvidoso privilégio de poder
continuar nessa companhia. Assim como o ensino de habilidades deve ser liberto
de cerceamentos curriculares, assim deve a educação liberal estar dissociada da
frequência obrigatória.
Tanto a aprendizagem de habilidades quanto a educação
do senso inventivo e criativo podem ser favorecidos por disposições
institucionais, mas são de natureza diversa e muitas vezes oposta. Desnecessário dizer que artes liberais
detêm um lugar central na história social do ensino superior. Desde suas
origens greco-romanas e sua incorporação na estrutura curricular das
universidades medievais até o programa acadêmico do Harvard College, no século
XVII, foram uma peça fundamental de equilíbrio no ensino superior ocidental.
Entretanto, no final do século XIX, a educação liberal, baseada no estudo das
artes liberais, entrou aparentemente em franca decadência. As forças sociais
para essa erosão também tiveram origem no Ocidente. Um novo modelo de
universidade, que emergiu na Alemanha, desafiou a solidez da educação liberal
ao enfatizar a pesquisa e a pós-graduação no lugar do ensino de graduação. O
núcleo curricular – que em certo momento trazia uma junção estreita e
compatível de cursos de línguas clássicas, literatura, história, religião,
matemática e ciência básica – veria muito mais ingressantes até meados do
século XX, todos reivindicando espaço em decorrência de uma crescente especialização
das disciplinas acadêmicas .
Os
Estados Unidos da América são vistos como um bastião da educação liberal, mas
suas faculdades e universidades tiveram de reagir à crescente demanda de
estudantes e de suas famílias por uma educação mais utilitária. As disciplinas
das artes liberais competem com o desejo de currículos cada vez mais práticos
que dão base a cursos como o de administração de empresas. Na Europa, a
especialização precoce triunfou sobre a educação liberal. Muito embora existam
instituições tradicionais de artes liberais, como a American University of
Paris, somente nos últimos anos tem-se vislumbrado uma renovação dentro da
região que deu origem às artes liberais. Neste novo cenário, a Holanda desponta
como um exemplo proeminente, onde oito instituições de artes liberais foram
estabelecidas dentro do sistema universitário. A Polônia hoje abriga um
movimento ativo e bem-sucedido em prol da educação liberal que está ligado a
suas universidades públicas e vem crescendo em prestígio. Na Alemanha posteriormente unificada,
também existem instituições de artes liberais relativamente novas em Berlim e
Bratislava. O European Colleges of Liberal Arts and Sciences representa um
consórcio fundado em resposta a esse desenvolvimento.
No entanto, por uma
questão de perspectiva, faz-se importante notar que essas instituições de artes
liberais apenas captam uma pequena parcela dos estudantes da União Europeia. Illich
observa historicamente que o direito de a universidade fixar metas de consumo é
algo novo. Em muitos países, a universidade obteve este poder apenas na década
de 1960, quando se difundiu a ilusão de que todos tinham igual acesso à
educação. Antes disso, a universidade protegia a liberdade individual de falar,
mas não convertia, automaticamente, seu conhecimento em riqueza. Ser um escolar
na Idade Média significava ser pobre, até mesmo um esmoler. Devido à sua
vocação, o escolar medieval aprendia latim, tornando-se um marginal, objeto de
escárnio ou de estima de camponeses e príncipes, dos citadinos e do clero. Para
ter sucesso no mundo, o escolástico tinha que, primeiro, entrar nele,
ingressando no serviço público – de preferência no da Igreja. A antiga
Universidade era uma zona franca para descobrir e discutir ideias novas e
velhas. Mestres e alunos se reuniam para ler textos de outros mestres já
falecidos que traziam novas perspectivas aos sofismas de seu tempo. A universidade
era, pois, uma comunidade de pesquisa acadêmica e inquietude endêmica.
Estes e outros exemplos corroboram a conclusão de que a educação liberal está presenciando uma migração global. Para a maior parte do mundo não ocidental, incluindo os países que trazem um transplante de uma época passada, a educação liberal é, geralmente, um conceito alienígena. Por exemplo, apesar do seu próprio sucesso, a American University of Cairo teve pouca influência em trazer a educação liberal para o gigantesco sistema público de educação superior egípcio. Não obstante a força das graduações norte-americanas, em boa parte dos países ditos em desenvolvimento, as pós-graduações e o compromisso com a pesquisa têm exercido maior atração de educadores estrangeiros. Sem qualquer razão para compreender a natureza de um bacharelado, existe pouco incentivo em perceber o papel da educação liberal e o seu componente geral de formação curricular. Além disso, as agências doadoras, como o Banco Mundial, marginalizaram ainda mais a educação liberal ao enfatizar mão de obra e estudos de mercado como elementos essenciais para o planejamento da educação superior nos países em desenvolvimento. Estes em dificuldades com as reformas no ensino superior tendem a direcionar o foco principal aos problemas de ordem não curricular, como acessibilidade e finanças, e no caso brasileiro a questão dos órgãos públicos financiadores da pesquisa acadêmica e a questão tópica da variação do valor das bolsas de pesquisas nem sempre atualizadas com o câmbio internacional.
A
grande questão é se a educação liberal pode desenvolver-se de maneira
independente. E, ainda assim, estar disponível para o maior número possível de
estudantes nos países em desenvolvimento? Mesmo sem uma resposta definitiva,
alguns avanços notáveis estão em andamento. A China exibe um foco significativo
no componente de formação geral nos cursos de graduação. A Polônia vive um
cenário misto que inclui o já mencionado e vigoroso movimento da educação liberal
ao lado das sobras curriculares da era de influência soviética. A Índia e a
Turquia, muito embora não se constituam como grandes repositórios da educação
liberal têm instituições que pretendem combinar os fundamentos gerais da
educação liberal com uma educação profissional. Um novo desenvolvimento na
África do Sul guarda uma promessa. O ministro da educação e
formação lançou uma iniciativa para fortalecer as ciências humanas. O
objetivo é fortalecer a educação e a pesquisa nas artes liberais para apoiar a
transformação social do país após seu passado recente de apartheid.
Bibliografia
geral consultada.
ILLICH, Ivan, “L’école, cette vache sacrée”. In: Les Temps Modernes. Paris. Volume 25, n° 280, pp. 673-683; 1969; Idem, After Deschooling What? New York: Harper
& Row Editors, 1973; Idem, “Comment Éduquer sans École?” In: Esprit. Paris. Volume 39, n° 404, pp.
1123-1152, juin. 1971; Idem, La
Convivialité. Paris: Éditions Du Seuil, 1973; Idem, En América Latina, ¿para qué sirve la escuela? Buenos Aires:
Ediciones Búsqueda, 1973; Idem, Dialogo:
Análisis Crítico de la Desescolarización y Concientización en la Coyuntura
Actual del Sistema Educativo. Buenos Aires: Ediciones Busqueda, 1975; Idem, Sociedade sem Escolas.
7ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1985; MESQUIDA, Peri, “O Diálogo de Illich e Freire
em Torno da Educação para uma Nova Sociedade”. In: Contrapontos, vol. 7, Itajaí, set./dez., 2007; pp. 549-563; DI
PIETRO, Leila Oliveira, Desescolarização
ou Escolarização da Sociedade? Desafios e Perspectivas à Educação.
Dissertação de Mestrado em Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação.
Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Educação, 2008; RIBEIRO, Álvaro Manoel Chaves, O Ensino Doméstico e a Organização Escolar: Um contributo Sociológico-Organizacional sobre a Realidade Portuguesa. Portugal: Universidade doMinho, 2011; KALLER-DIETRICH, Martina, Vita di Ivan
Illich: Il Pensatore del Novecentos piu Necessário e Attuale. Tradução de
Maria Giovana Zim. Itália: Edizioni dell`Asina,
2011; SOUZA, Milena Pimenta de, Educação Escolarizada: O que Pensam os Adolescentes? Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Brasília: Universidade de Brasília, 2015; GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patrícia Santos, Intelectuais Mediadores. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2016; LEÃO NETO, Edson Pereira de Souza, Ivan Illich: Uma Aproximação com sua Trajetória-Obra (1926-1967). Dissertação de Mestrado. Centro de Energia Nuclear na Agricultura. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2017; LIMA, Ismael de, Teias de Aprendizagem: Uma Proposta de Ensino com Recursos Educacionais Abertos Baseada na Perspectiva de Ivan Illich. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário