quarta-feira, 17 de maio de 2017

Karl Popper - Marxismo, Significação & Ressentimento.

                                                                                                   Ubiracy de Souza Braga

Platón, Hegel y Marx han sido para Popper los grandes enemigos de la sociedad abierta”. Alicia Delibes (2015)

                                                                                                             
           Karl Popper teve na sua formação a influência das discussões elaboradas no Círculo de Viena  uma associação fundada no final da década de 1920 por  cientistas, lógicos e filósofos que concentrava seus esforços de compreensão e de domínio da teoria em torno de um projeto intelectual. Tal projeto era o desenvolvimento de uma Filosofia da Ciência baseada em uma linguagem lógica e a partir de procedimentos lógicos com alto rigor científico. O tema prioritário dos estudos e pesquisas desse grupo residia na formulação de um critério satisfatório que permitisse distinguir entre proposições com ou sem significação a partir do critério de verificabilidade. Assim, aquilo que não tivesse possibilidade de verificação deveria ser retirado do saber científico, como os enunciados metafísicos. A Física era o modelo que eles propunham para todos os enunciados científicos: só aquilo que foi dito a partir de observações poderia ser considerado verdadeiro. Os enunciados que não pudessem ser examinados a partir da verificação empírica não tinham significação e deveriam ser desconsiderados da ciência.  Pelo critério de verificabilidade, era possível fazer uma distinção entre a Filosofia e a Ciência.
          O objetivo da Filosofia era, para Rudolf Carnap, um dos principais representantes do Círculo, o de estudar a natureza da linguagem científica, um estudo que compreenderia três processos: um sintático, pelo qual ela estabeleceria teorias a respeito das relações formais entre os signos; um semântico, pelo qual estabeleceria teorias a respeito das interpretações; e um pragmático, pelo qual estabeleceria teorias a respeito das relações entre a linguagem, o locutor e o ouvinte. Outros pensadores importantes do Círculo de Viena foram Otto Neurath, Moritz Schilick e Ernest Nagel. A ascensão do nazismo repercutiu na formação do Círculo: Carnap e outros membros mudaram-se para os Estados Unidos da América; Hahn, Schilick e Neurath morreram. O movimento intelectual dispersou-se a partir de então. A verificação pode ser feita ainda de outra forma além do método empírico: por meio da aplicação da lógica para saber se há coerência no enunciado. Nesse caso, a verificação é feita por demonstração. Dependentes de constatações empíricas ou de demonstração lógico-matemática, até a chegada de Ludwig Wittgenstein, as leis científicas para os pensadores do Círculo de Viena só poderiam ser a posteriori, ou seja, os enunciados científicos são constatações.
       Círculo de Viena foi o nome como ficou conhecido um grupo de filósofos que se juntou informalmente na Universidade de Viena de 1922 a 1936 com a coordenação de Moritz Schlick. Também foi chamado de “Sociedade Ernst Mach” (Verein Ernst Mach) em homenagem a Ernst Mach. Em reuniões semanais procuravam reconceitualizar o empirismo a partir das novas descobertas científicas e demonstrar as falsidades da Metafísica. Suas atividades cessam quando Schlick é assassinado por um fanático nazista em 1936. Seu sistema filosófico ficou reconhecido como o chamado positivismo lógico, empirismo lógico ou neopositivismo. Os membros do Círculo de Viena tinham uma visão comum da filosofia, que consistia na aplicação das postulações de Ludwig Wittgenstein, expostas em seu Tractatus Logico-Philosophicus, embora Wittgenstein insistisse que o “positivismo lógico” fosse uma visão errada sobre seus escritos. A influência do Círculo de Viena na Filosofia do século XX foi imensa. O Círculo de Viena surgiu da necessidade de fundamentar a ciência a partir das concepções ou acepções que a Filosofia da Ciência ganhou no século XIX. A filosofia era vinculada à Teoria do Conhecimento, mas a partir de Friedrich Hegel este vínculo se desfez.
       A obra de Ludwig Wittgenstein tem uma abordagem inédita e provavelmente única a partir da fenomenologia da linguagem de Michel de Certeau, objeto de nossa análise. Antes a advertência: para descrever essas práticas cotidianas que produzem sem capitalizar, isto é, sem dominar o tempo, impunha-se um ponto de partida por ser o foco exorbitado da cultura contemporânea e de seu consumo: a leitura”. Isto porque, da televisão ao jornal, da publicidade a todas as epifanias mercadológicas, a nossa sociedade canceriza a vista, mede toda a realidade por sua capacidade de mostrar ou de se mostrar e transforma as comunicações em viagens do olhar. É de fato, uma epopeia do olho e da pulsão de ler. A economia fomenta uma hipertrofia da leitura. O binômio de produção-consumo poderia ser substituído por seu equivalente geral: “escritura-leitura”. Aliás, a leitura da imagem, ou do texto, parece constituir o ponto máximo da passividade que caracterizaria o consumidor, constituído em voyeur em uma “sociedade do espetáculo”. Wittgenstein não era inglês por nascimento ou “comportamento social”, ainda que ao morrer tenha levado consigo, talvez por “acidente de percurso” a nacionalidade inglesa. Filho caçula de uma família vienense rica e culturalmente refinada, de ascendência judaica, teve, tal como o sociólogo Max Weber, em família, a virtù como centro existencial de vida artística, mas não política como convicção, como diria Max Weber, e, em particular, a música do classicismo vienense. Na literatura a influência do extraordinário Wolfgang Goethe, formando um ambiente que mais tarde ele denominaria, com argúcia, o seu “bom treinamento intelectual pré-escolar”. 


              Viena na virada para do século XX conviveu com momentos históricos e circunstâncias sociais e políticas díspares de decadência e inovação, unidade e multiplicidade, cosmopolitismo e provincianismo, propiciando o florescimento de surto de criatividade humana ímpar tal que a vida cultural e política posterior seriam marcadas por seus traços de genialidade e de bom humor, culpa e redenção, angústia e beleza. Os sábios eram pensadores de fora do ambiente filosófico acadêmico cuja obra Wittgenstein lera ainda bem moço, como Karl Kraus, o “feroz crítico” da cultura e da linguagem do final do Império Habsburgo que lhe causou forte impressão, por sua insistência na integridade pessoal. A obra de Karl Kraus inseria-se no contexto da chamada “crise da linguagem”, quando a preocupação geral era a autenticidade da expressão simbólica na arte e na vida pública. Outra expressão dessa crise foi a crítica da linguagem de Mauthner, autor que perseguiu uma meta kantiana, a derrota da especulação metafísica, substituindo a “crítica da razão” por uma “crítica da linguagem”, sendo sua obra mais tributária de David Hume e de Ernest Mach. Seu método era psicologista e historicista: a crítica da linguagem faz parte da psicologia social. O conteúdo da crítica era empirista – a linguagem funda-se nas sensações. Seu resultado foi cético – a razão idêntica à linguagem. Mas esta última não serve para penetrar a realidade. Wittgenstein, acertadamente, opõe sua própria “crítica [lógica] da linguagem” à de Mauthner, quem primeiro identificou a filosofia com a crítica da linguagem.

         De Otto Weiniger, autor do célebre ensaio: Sex and Character Sex and Character: An Investigation of Fundamental Principles (2005) pode-se dizer, talvez, que era mais um psicopata do que propriamente um sábio. Este autor defendia a tese da inferioridade da mulher relativamente ao homem, receitando, então, aos homens a abstinência sexual. Contudo, Otto Weiniger parece ter sido um autor bastante influente na Europa do início do século, pelo menos se levarmos em conta o seu livro “Sexo e Caráter” que proliferou em vinte anos, 25 edições, e traduções em 8 línguas, o próprio Sigmund Freud teve acesso e serviu-se dos manuscritos. Seu suicídio, encenado teatralmente em 1903, foi imitado por vários jovens em Viena. A influência benigna que exerceu sobre Wittgenstein foi restrita. Contaminou-o com sua misoginia, com dúvidas, igualmente tola e perniciosa, quanto ao poder criativo dos judeus, mas talvez como Theodor Herzl que vislumbrava o Estado judeu, temendo o antissemitismo ainda existente em Viena. A influência mais importante reside, entretanto, na ideia de que o indivíduo tem o dever moral para consigo, e elementos empíricos e os elementos a priori da mecânica.

         Elucidou a possibilidade de explicação científica com base na natureza da representação. A ciência constrói “modelos” (“bilder”) da realidade empírica, de tal modo que as consequências lógicas de tais modelos correspondam às consequências reais das situações externas que descrevem. Suas teorias não são predeterminadas pela experiência, mas antes construídas de forma ativa, respeitando-se restrições formais e pragmáticas, às quais Hertz se referia como “as leis do pensamento”. Ele requereu através da ciência evitar pseudoproblemas pela apresentação desses elementos apriorísticos de modo claro e perspícuo. o Ludwig Boltzmann foi mais hostil a Immanuel Kant. Acusou-o, em um espírito ideologizado da espécie darwiniano, de não levar em conta o fato de que as “leis do pensamento” não são imutáveis, mas apenas inatas no indivíduo, tendo em vista que são resultantes da “experiência da espécie”. Levou adiante, contudo, o projeto hertziano de esclarecer a ciência com base em modelos que não se originam da experiência, conservando a visão de que a confusão filosófica deve ser resolvida pela revelação da natureza absurda de certas questões. Estes autores exerceram influência sobre a teoria pictórica do Tractatus, e também sobre a discussão que ali se encontra acerca da ciência. 

         E mais ainda, reforçaram uma concepção de Immanuel Kant sobre a tarefa da filosofia, que Wittgenstein encontrara também em Schopenhauer: distinguindo-se da ciência, a filosofia não descreve a realidade; sua tarefa é crítica. O plano inicial pragmático de Wittgenstein de estudar com Boltzmann, em Viena, foi frustrado pelo suicídio deste último em 1906. Ele foi, então, encaminhado a Berlim para estudar engenharia. Não tardou, entretanto, a ver-se atraído por problemas filosóficos, “dando início ao hábito, que duraria por toda a vida, de anotar suas reflexões filosóficas em apontamentos datados de 1914 em cadernos”. Em 1908, mudou-se para Manchester, onde desenvolveu interesse primeiro pela matemática pura, e logo por seus fundamentos filosóficos. Conheceu os escritos de Frege e Russell e, em 1909, tentou resolver o maior problema então em destaque – a contradição que Russell descobrira no sistema filosófico de Frege. Em 1911, traçou um plano para um trabalho filosófico, o qual discutiu com Frege, mas desde Frege a semântica filosófica colocou no centro a estreita relação entre significado e verdade. Contudo, a completa equiparação do compreender ao conhecimento de condições da verdade ou métodos de verificação, é insustentável visto que o aspecto da verdade não é constitutivo para todas as modalidades e a compreensibilidade de sentenças afirmativas não verificáveis é indiscutível. Especialmente a análise de situações ditas radicais de Quine, de tradução e aprendizagem mostra coisas que permanecem inaplicadas em teorias existentes.

            Ao conselho deste foi para Cambridge estudar com Russell, que a esta altura tornara-se a figura central destes debates. Isto foi decisivo na vida de Wittgenstein. Frege e Russell proporcionaram o pano de fundo essencial para sua “primeira filosofia”, bem como alvos importantes de seu pensamento posterior. Enfim, para sermos breves, o sistema lógico dos Principia Mathematica, de Russell e da filosofia de Alfred Whitehead, assim como os de Frege, faz uso da analogia de eventos entre a estrutura de proposições e estruturas associadas à teoria das funções presentes na análise matemática. Entretanto, a concepção que Russell tinha de função proposicional, na perspectiva comparada, diferia da noção de conceito de Frege, no sentido de que seus valores não eram duas entidades lógicas e relacionais, como o verdadeiro e o falso, mas sim proposições. Russell negou, por conseguinte, que as sentenças “nomeiem valores de verdade”. Repudiou, além disso, a distinção fregiana entre sentido e significado, juntamente com a suposição “de que é possível a existência de proposições destituídas de valor de verdade”. Durante um curto espaço de tempo, o que não é pouco, Wittgenstein foi a estrela em ascensão em Cambridge, tendo sido membro de uma autoproclamada elite intelectual, “os Apóstolos”. Em 1913, entretanto, ele parte para a Noruega, com o objetivo de trabalhar sozinho em sua nova teoria da lógica. Com a deflagração da guerra de 1914-18, vai para Viena e se voluntaria ao serviço militar. 

        Feito prisioneiro em 1918, arranjou um jeito de enviar o manuscrito a Cambridge. O apoio de Russell acabou por garantir sua publicação, em 1921, do Tractatus Logico-philosophicus, bem como de uma tradução inglesa plus tard. Com o “Tractatus”, impresso no papel Wittgenstein acreditava ter resolvido “todos” os problemas fundamentais da filosofia. Ao retornar do cárcere, em 1919, doou a fortuna que herdara de seu pai com o objetivo de “romper com o passado”. Para Michel de Certeau, enquanto diz respeito à linguagem, a questão filosófica consistiria, sobretudo em interrogar, em nossas sociedades técnicas, a grande partilha entre as discursividades reguladoras da especialização e as narrativas do intercâmbio massificado. - “Quando os filósofos usam uma palavra – ‘saber’, ‘ser’, ‘objeto’, ‘eu’,  ‘proposição’, ‘nome’, – e procuram captar a essência da coisa, devemo-nos sempre perguntar: na linguagem onde vive, esta palavra é de facto sempre assim usada? (…). Nós reconduzimos as palavras do seu emprego metafísico ao seu emprego quotidiano”. Se Ludwig Wittgenstein pretende “trazer a linguagem do seu uso filosófico de volta ao seu uso ordinário”, ao “everyday use”, ele se proíbe, ou proíbe ao filósofo toda extrapolação metafísica “para fora”, como ocorre com  Pierre Bourdieu no livro: Ce Que Parler Veut Dire (1998), quando afirma: - “A fala não é apenas uma mensagem a ser decifrada; é também um produto que entregamos à apreciação de outros e cujo valor será definido na sua relação com outros produtos mais raros ou mais comuns”.

           Enfim, Ludwig Wittgenstein opera a mudança simbólica do lugar de análise, definida agora “por uma universalidade que é identicamente uma obediência ao uso ordinário”. Essa mudança modifica o estatuto do discurso antecipando Michel Foucault. Vendo-se “preso” na linguagem ordinária, o filósofo não possui mais lugar próprio ou apropriável. É-lhe retirada toda “posição” de domínio. O discurso analisador e o “objeto” analisado têm o mesmo estatuto. De se organizar pelo trabalho de que dá testemunho. Determinados por regras que não fundam nem superam. Igualmente disseminadas em funcionamentos diferenciados. Inscritos em uma textura onde cada fragmento pode “apelar” a outra instância. Dá-se uma permanente troca de lugares distintos. O privilégio filosófico ou científico se perde no ordinário. Essa perda tem como corolário a invalidação das verdades. Demonstrando que são uma mistura de nonsense e de poder. Wittgenstein se esforça por reduzir essas verdades a fatos e nos remete a uma redutibilidade linguística identificada na exterioridade da linguagem.  O Círculo de Viena era composto por cientistas que, apesar de atuarem em várias áreas como física, economia, etc., buscaram resolver problemas de fundamento da ciência, problemas estes levantados a partir do descontentamento com os neokantianos, prováveis seguidores de Kant, e os “fenomenólogos” seguidores de Hegel. Schlick, por exemplo, tentou mostrar o vazio dos enunciados sintéticos a priori, de Kant. E por duas vias: - Se os enunciados têm uma verdade lógica, então eles são analíticos e não sintéticos; - Se a verdade dos enunciados depende de um conteúdo factual, eles são, portanto, a posteriori e não a priori. Dessa maneira, Schlick juntamente com seus companheiros tentou formular um critério de cientificidade que pudesse ou que tivesse uma correspondência com a Natureza.

 Por isso, o Círculo de Viena adotou uma forma de empirismo indutivista que se utiliza de instrumentos analíticos como a lógica e a matemática para auxiliar na formação dos enunciados científicos. Tal critério seria, então, o de verificabilidadePara os pesquisadores do Círculo os enunciados científicos deveriam ter uma comprovação ou verificação baseada na observação ou experimentação. Isto era feito indutivamente, ou seja, estabeleciam-se enunciados universais, pois entendem que a ciência tem pretensão de universalidade a partir da observação de casos particulares. O resultado do estabelecimento deste critério surgiu também a partir da concepção de linguagem de Wittgenstein que os membros do Círculo de Viena utilizaram. Para ele, o mundo era composto de “fatos” atômicos associados e, assim, expressariam sua realidade. Daí os enunciados gerais poderem ser decompostos em enunciados elementares referentes ou congruentes à Natureza, o que exclui os enunciados metafísicos do processo de conhecimento. A indução resultou da aplicação do método empírico utilizado porque além de proceder experimentalmente, proporcionava para a interpretação cotidiana um caráter de regularidade que permitia que se emitissem juízos universais. Isto atesta o caráter anti-metafisico do Círculo de Viena e o procedimento regular de observação.

Karl Popper cunhou o termo racionalismo crítico para descrever e explicar a sua filosofia. Esta designação é significante e representa um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do chamado observacionalismo-indutivista da ciência, que disso resulta. Apesar disso, alguns acadêmicos, incluindo Ernest Gellner (1925-1995), um filósofo e antropólogo social judeu-checo nascido na França e mais tarde naturalizado britânico, compreende que Karl Popper, não obstante pode não se ter visto na academia como um positivista, mas se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição metafísica ou dedutiva. A resposta de Popper encontra-se na argumentação filosófica representada no truísmo de que “a teoria científica será sempre conjectural e provisória”. Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma previsão efetuada com base naquela teoria se verificaram. Ela deverá gozar apenas do estatuto de uma teoria não (ou ainda não) contrariada pelos fatos condicionados pela história e a sociedade. O que a experiência e as observações do mundo real “podem e devem tentar fazer é encontrar provas da falsidade daquela teoria”. Este confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade da teoria em análise.

           Convém aqui lembrar que Popper, antes de ser defensor do liberalismo político, foi comunista e só o deixou de sê-lo, quando em julho de 1919, durante uma manifestação de esquerda em que participou, “a polícia austríaca matou seis dos seus colegas”. A partir desse momento, Popper abandonou a ideia pragmática de revolução, por implicar violência, e, sob a influência de Russell, abraça o pacifismo, tornando-se antimarxista para o resto da vida. É este anti-marxismo que ele expõe na sua obra A Sociedade Aberta e os seus Inimigos (1987), perseguindo a historicidade do pensamento dialético hic et nunc de Heráclito a Marx. De modo geral, o tratamento a que Karl Popper submete as figuras emblemáticas desse pensamento que associa ao totalitarismo é superficial e, muitas vezes, erróneo. Contudo, este elogio do racionalismo com que termina a obra assenta numa decisão, como demonstrou o racionalista Jürgen Habermas, não pode ser fundamentada racionalmente. Embora o seu racionalismo e liberalismo, tendo como background o ressentimento, tenham reconhecido modificações  na sua vida, permanece fiel no essencial a esses princípios no final suaviza o seu liberalismo ilimitado, atribuindo ao Estado liberal a ideia de fazer respeitar os direitos civis e protegê-los contra toda a forma de violência, social e política, aquela que é exercida de forma insidiosa nos meios de comunicação sobre os espíritos que tem neste aspecto absoluta razão.                                    
       Na filosofia da ciência contemporânea há duas tendências que avaliam os procedimentos e fundamentos do cientista. Uma é a tendência histórica e a outra é a tendência analítica. Assim como o Círculo de Viena, Popper faz parte da tendência analítica que prioriza o aspecto metodológico no desenvolvimento científico, o também chamado contexto de justificação. Porém, apesar da adesão comum, Popper é, talvez, o crítico imediato de tudo o que foi estabelecido no Círculo de Viena. Em primeiro lugar, Popper não elimina a Metafísica; simplesmente, assim como Kant, tenta delimitar os campos de atuação desta e da ciência. Em segundo lugar, esta delimitação ocorre pelo fato de não atentar para o conceito de significação, unicamente como critério de demarcação ou de impossibilidade da metafísica. Em terceiro lugar, Popper critica a forma de proceder por indução. Esta permitiria apenas uma semelhança de regularidade que proporcionaria uma coletânea de fatos que impossibilita que se refute uma teoria. Por conseguinte, Popper formulou um novo método. É o modelo hipotético-dedutivo, em que a busca do conhecimento não se dá a partir da observação de fatos e inferência de enunciados. Na verdade, esta nova concepção pressupõe um interesse do sujeito em conhecer determinada realidade que o seu quadro de referências já não mais satisfaz. Por isso, a mera observação não é levada em conta, mas sim uma “observação intencionalizada” e seletiva que busca criar um novo quadro de referências.
A pesar de ser un antimarxista convencido Popper, durante varios años, se siguió considerando socialista. Llevar una vida en libertad en una sociedad igualitaria le parecía el sueño ideal: - “Me costó cierto tiempo reconocer que eso no es más que un bello sueño; que la libertad es más importante que la igualdad; que el intento de realizar la igualdad pone en peligro la libertad, ni siquiera puede haber igualdad entre los que no son libres. Tras aprobar el examen de madurez (Matura), permaneció en la Universidad de Viena estudiando matemáticas, física y filosofía. En 1925 fue admitido en Instituto Pedagógico, creado con el fin de realizar la reforma de la educación austriaca. Allí conoció a la que fue la única mujer de su vida, Josefine Anna Henninger. En 1930 comenzó a trabajar como profesor de matemáticas y física en la escuela secundaria y a frecuentar el Círculo de Viena. En marzo de 1937, un año antes de la ocupación de Austria por Hitler, aceptó una oferta para impartir clases en Nueva Zelanda. Allí, a pesar de que el trabajo le ocupaba casi todo el día, puso en marcha su gran obra La sociedad abierta y sus enemigos, que vería la luz en Inglaterra, gracias a la ayuda Hayek, y después de muchísimas horas de trabajo: - Reescribí el libro 22 veces, tratando siempre de que fuera más claro y más sencillo y mi esposa mecanografió y volvió a mecanografiar el original completo cinco veces en una vieja máquina de escribir. Platón, Hegel y Marx han sido para Popper los grandes enemigos de la sociedad aberta” (cf. Delibes, 2015).
           Karl Popper, no início de sua carreira acadêmica, dedicou-se à temática da filosofia da ciência, ao projetar-se com o livro A Lógica da Descoberta Científica (1934). O cerne da ideia popperiana, no que diz respeito ao conhecimento, está na concepção de que viver é um processo de solução de problemas (até mesmo para uma ameba). Nesse processo, o homem formula análises teoréticas que ele jamais poderá saber se são verdadeiras ou não. Ele é capaz de testar (tentar falsear) uma teoria, e confirmá-la reiteradas vezes. Isso não quer dizer, que ela seja verdadeira. É possível que, a qualquer momento, alguém formule a respeito do problema uma nova hipótese melhor, ou uma maneira nova de testar a teoria e demonstrar que ela é falsa. Assim aconteceu com a teoria newtoniana que, ao longo de séculos, foi repetidas vezes corroborada, até que surgiu Albert Einstein (1879-1955) que formulou uma nova concepção, derrubando as concepções de Isaac Newton (1642-1727). Em outras palavras, a ciência vive de “conjecturas e refutações”, título de seu livro publicado em 1963 a respeito do desenvolvimento analítico do pensamento científico. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se comprovou falsa e procurar outra teoria para explicar o fenômeno social como objeto de análise. 
          A falseabilidade é decorrência da ideia de que existem enunciados básicos falseáveis. Para Popper, deve-se chamar “empírica” ou “falseável” a teoria que divide a classe de todos os enunciados básicos possíveis de maneira não ambígua nas duas subclasses não vazias que se seguem. Primeira, a classe de todos aqueles enunciados básicos em relação aos quais ela é inconsistente, ou que ela exclui, ou proíbe, chama-se a esta classe de falseadores potenciais da teoria; e, a segunda, a classe daqueles enunciados básicos que ela não contradiz, ou que ela permite que se deva distinguir claramente entre o que ele denomina a falseabilidade e falseamento, introduzindo a falseabilidade unicamente como um critério para o caráter empírico de um sistema de enunciados. Com relação ao falseamento, devem-se introduzir regras especiais que determinarão sob quais condições considerar que um sistema está falseado. Na Nota 3 de Conjecturas e Refutações (cf. Popper, 2006: 175), afirma: - “Mas a abordagem verdadeiramente científica (embora, em minha opinião, demasiado determinista) de Marx tem sido esquecida pelos partidários, os vulgarizadores do marxismo de Marx, para lembrarmos Aron, propuseram a impopular teoria conspiratória da sociedade, não mais convincente do que o mito dos Anciãos Sábios de Sião”. 
             Não queremos perder de vista que o legado de Marx, representa uma teoria, um método de análise e uma práxis sobre as relações sociais de classe e do conflito social, que utiliza uma interpretação materialista do desenvolvimento histórico e uma visão dialética de transformação social. A metodologia marxista utiliza inquéritos econômicos e sociopolíticos que se aplicam à crítica e análise ideológica do desenvolvimento do capitalismo e o papel das lutas de classes na mudança econômica sistêmica. Na segunda metade do século XIX, os princípios do marxismo foram inspirados por dois filósofos alemães: Karl Marx e Friedrich Engels. Análises e metodologias marxistas influenciaram várias ideologias políticas e movimentos sociais. O marxismo engloba uma teoria econômica, uma teoria sociológica, um método filosófico e uma interpretação revolucionária de mudança social.
            Raymond Aron, não por acaso indica pistas que nos fornecem elementos sobre as dificuldades ligadas à carreira e à personalidade de Marx. Este é o aspecto fundamentalmente importante para entendermos o condicionamento entre a carreira (trabalho) e a sociedade nos tempos de Marx, que foi, ao mesmo tempo, um estudioso, um homem de ação, dotado de uma profecia, que tornou-o a posteriori, fundador de um Estado e de uma ideologia favorável a emancipação do desenvolvimento espiritual e material da classe operária mundial, enunciado como epígrafe no Manifesto do Partido Comunista de 1848. Da diversidade de sua personalidade resultou, inevitavelmente, a heterogeneidade da obra. Como todo autor prolífero, Marx se exprimiu sobre a maior parte dos assuntos políticos, econômicos e históricos, e, com um pouco de assiduidade e argúcia. Não se contradizem os que escrevem pouco, e Marx certamente não pertence a esta categoria. Ipso facto, a partir daí, toda proposição de ordem geral atribuída a Marx pode ser corrigida ou refutada por alguma citação muitas vezes desconhecida, retirada da análise de um artigo de jornal ou de uma carta. Segundo o desenvolvimento histórico, os marxistas, marxólogos ou marxianos - como se queira, essas três categorias sociais, apesar de distintas, têm características comuns: retificaram propostas que pareciam não estar de acordo com os acontecimentos, descobrindo um desses textos ainda esquecidos pela interpretação corriqueira de Marx.
 Monsieur Raymond Aron nos dá a seguinte explicação: chamam-se “marxólogos” os especialistas no conhecimento e na interpretação científica do pensamento de Marx. Quando se diz “marxiano” é o indivíduo, mas uma proposição também pode ser considerada “marxiana”, que se remete, ou pode se remeter, ao pensamento de Marx, sem pertencer à interpretação provisoriamente ortodoxa do marxismo, dada pelos representantes oficiais dos Estados que se pretendem marxistas. Maximilian Rubel e alguns outros, chamam de marxistas, com um tom pejorativo, naturalmente, por causa da frase de Marx: “Eu próprio não sou marxista”, aqueles que assim se declaram oficialmente, ou seja, os representantes ou porta-vozes dos partidos comunistas, da União Soviética, da China ou de qualquer outra república popular ou Estado soviético.  Voltando à nossa questão abstrata, Aron utilizará “marxologia” constatando uma particular dificuldade do pensamento de Marx: é que segundo ele, Marx disse em algum lugar ter abandonado o manuscrito de A Ideologia Alemã à crítica roedora dos ratos.
E acrescentou ter tido, essa obra, como única finalidade permitir que Engels e ele ajustassem seus conceitos próprios. Por isso não julgaram necessária a publicação desse escrito da juventude, que julgavam ultrapassado. Mas, afinal de contas, um autor não é o juiz supremo quanto á importância respectiva de seus diferentes trabalhos. a posteridade tem o direito de acreditar que Marx, envelhecido, se enganava no tocante a seu próprio gênio, que fórmulas dessa ordem eram de lítotes ou que o intérprete pode legitimamente substituir o sentido que o criador dá a obra por outro que lhe pareça mais satisfatório. Afora essas obras essenciais, O Manuscrito Econômico-filosófico e a Ideologia Alemã, publicou-se também um fragmento de uma Crítica, capítulo por capítulo, de A Filosofia do Direito de Hegel. Só se reconhecia, até então, um breve artigo que era uma introdução a essa crítica, da qual um considerável fragmento foi publicado há cerca de 30 anos.
Desnecessário dizer que um grande número de questões fundamentais se coloca, mesmo se reconhecendo o sentido geral do itinerário de Marx. A mais geral é aquela da relação existente da di-visão entre o jovem Marx, filósofo autor do Manuscrito Econômico-filosófico e o Marx da maturidade, autor de O Capital. E a questão ainda se subdivide em pelo menos duas outras, particulares: o que pensava o Marx de O Capital do Marx do Manuscrito Econômico-filosófico, ou ainda, o que pensava Marx, em 1867, da filosofia hegeliana, o que pensava da crítica que havia redigido em 1844 de A Fenomenologia, de Hegel? Em que medida o próprio Marx achava que O Capital trazia a aplicação, à matéria econômica, de um método filosófico inspirado em Hegel? Mas a questão da relação entre os dois Marx, para Aron, não se resolve com a resposta dada pelo Marx da maturidade. Pode-se perguntar o que o crítico analítico pensa e deve pensar da relação entre esses dois homens, ou esses dois períodos.
E isso não é tudo. A segunda parte da carreira de Marx é também de difícil interpretação, dadas as características das obras que daí resultaram. O sociólogo francês, diria que Marx, enquanto pesquisador, trabalhou em um único livro, desde 1849 até sua morte, em 1883. Se a comparação não parecesse – com toda a razão, sob muitos aspectos – surpreendente, diria ainda que, enquanto autor genial, Marx se assemelha a Proust. É o homem de um único livro. A comparação só vale, nesse ponto preciso. Ambos carregar, durante toda a vida, um livro único e inacabado. Marx, de fato, a partir de 1849-1850, trabalhou em um único livro que se chamava Crítica da Economia Política. A obra não se chamava O Capital. Das Kapital foi o título dado a um fragmento dessa obra global inacabada, que seria a Crítica da Economia Política. O título foi mantido apenas para o fragmento publicado em 1859, sob o título Zur Kritik der Politischen Ökonomie. Mas sabemos que esse pequeno livro era somente fragmento da obra conjunta que Marx não cessou de trabalhar entre 1849 e 1883.  
A análise marxista tem sido aplicada a diversos temas e tem sido mal interpretada e modificada durante o curso de seu desenvolvimento interno, resultando em numerosas e às vezes contraditórias teorias que caem sob a rubrica de “marxismo” ou “análise marxista”, mais próximo da ideologia do que da concepção de método de interpretação da realidade social. O marxismo baseia-se em uma explicação materialista do desenvolvimento da sociedade, tendo como ponto de partida as atividades econômicas necessárias para satisfazer as necessidades materiais da sociedade humana. A forma de organização econômica ou modo de produção é compreendida como a origem, ou pelo menos uma influência direta, da maioria dos outros fenômenos sociais - incluindo as relações sociais, sistemas políticos e jurídicos, moralidade e ideologia. Assim, o sistema econômico e as relações sociais são chamadas de infraestrutura e superestrutura. À medida que as forças sociais e produtivas, principalmente a tecnologia melhoraram, as formas existentes de organização social tornam-se ineficientes e asfixiam o progresso. Estas ineficiências se manifestam como contradições sociais na forma da luta de classes.
De acordo com a análise marxista, conflitos de classe dentro do capitalismo surgem devido à intensificação das contradições entre uma produção mecanizada e altamente produtiva e a socialização realizada pelo proletariado, além da propriedade privada e da apropriação do produto excedente na forma de mais-valia por uma pequena minoria de proprietários privados chamados coletivamente de burguesia. Como a contradição torna-se aparente para o proletariado, a agitação social entre as duas classes antagônicas se intensifica, culminando em uma revolução social. O eventual resultado a longo prazo dessa revolução seria o estabelecimento do socialismo - um sistema socioeconômico baseado na propriedade cooperativa dos meios de produção, na distribuição baseada na contribuição e produção organizada diretamente para o uso. Marx formulou a hipótese de que, como as forças produtivas e a tecnologia continuam a avançar, o socialismo acabaria por dar lugar a uma fase comunista de desenvolvimento social em uma sociedade sem classes, erigida na propriedade comum e no princípio “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”.
O marxismo desenvolveu-se em diferentes ramos e escolas de pensamento. Algumas vertentes colocam uma maior ênfase em determinados aspectos do marxismo clássico, enquanto rejeitam ou tiram a ênfase de outros aspectos do marxismo, às vezes combinando a análise marxista com conceitos não marxistas. Outras variantes do marxismo veem algumas de suas características como uma força determinante no desenvolvimento social - como o modo de produção, de classe, relações de poder ou propriedade - enquanto discutem outros aspectos como menos importantes ou irrelevantes. Apesar de compartilhar premissas semelhantes, as diferentes escolas de pensamento do marxismo podem chegar a conclusões contraditórias entre si. Por exemplo, diferentes economistas marxistas têm explicações contraditórias de crise econômica e previsões diferentes para o resultado de tais crises. Além disso, diferentes variantes teóricas e práticas do marxismo aplicam a análise marxista para estudar diferentes aspectos da sociedade, por exemplo, crises econômicas ou feminismo.
Estas diferenças teóricas levaram vários partidos socialistas e comunistas e movimentos políticos a adotar diferentes estratégias políticas para alcançar o socialismo e defender diferentes programas e políticas entre si. Um exemplo disso é a divisão entre socialistas revolucionários e reformistas que surgiram no Partido Social-Democrata Alemão (SPD) durante o início do século XX. Da mesma forma, embora os bolcheviques da Rússia terem declarado o leninismo e, posteriormente, o marxismo-leninismo como o único desenvolvimento legítimo do marxismo, os mencheviques e muitos outros sociais-democratas em todo o mundo considerou-os desvios totalitários. Depois do marxismo-leninismo, surgiria o marxismo-leninismo-maoismo, formalizado pelo PC do Peru-Sendero Luminoso, e do marxismo-leninismo-maoismo, o marxismo-leninismo-maoísmo-Pensamento Gonzalo se desenvolveria. As diversas compreensões marxistas da história têm sido adotadas por acadêmicos nas disciplinas de arqueologia e antropologia, estudos midiáticos, ciência política e filosofia.
          Seria quase impossível Karl Popper ignorar Victor Adler, político austríaco, líder do movimento operário e fundador do Partido Socialdemocrata da Áustria, organização nacionalista alemã liderada por Georg Ritter von Schönerer (1842-1921), movimento que ele deixou quando seu caráter antissemita se tornou mais pronunciado. Após reunir-se com os socialistas alemães Friedrich Engels e August Bebel, enquanto viaja pela Alemanha, Suíça e Inglaterra (1883), Victor Adler tornou-se um socialista dedicado. Depois dessa reunião manteve a amizade com Engels, correspondendo-se com ele durante toda sua vida. Adler estudou as ideias políticas de Karl Marx e passou a ser muito ativo na política. Ele também publicou a revista socialista Gleichheit (“Igualdade”) junto do Editor Bretschneider em 1886, mas censurada em 1889. Foi o principal responsável por fundar o Partido Socialdemocrata da Áustria que teve existência entre dezembro 1888 e janeiro de 1889, no qual ele permaneceu uma figura de liderança. Em 27 de julho de 1914, Adler aparecera exausto e debilitado, em uma reunião de emergência da Segunda Internacional Socialista em Bruxelas para fazer o discurso principal.
        A Segunda Internacional (1889-1916) representou uma organização dos partidos socialistas e operários criada principalmente por iniciativa de Friedrich Engels, por ocasião do Congresso Internacional de Paris, em 14 de julho de 1889. Do congresso participaram delegações de vinte países. Embora sem a participação do ainda poderoso movimento anarco-sindicalista e dos sindicatos, a Segunda Internacional representou a continuidade do trabalho da extinta Primeira Internacional, dissolvida nos anos 1870, e existiu até 1916. No período que se seguiu ao colapso da Primeira Internacional, os movimentos trabalhista e socialista cresceram de maneira praticamente independente em cada país, mantendo apenas uma tênue ligação. Entre 1876 e 1889 não houve vínculo estável. Havia conferências internacionais de trabalhadores, convocadas ad hoc por diferentes entidades políticas: 1876, em Berna; 1877, em Ghent; 1881, em Chur; 1883 e 1886, em Paris; 1888, em Londres.
            Em 1889 houve um avanço, quando o Congresso Internacional de Paris decidiu promover a realização de congressos internacionais periodicamente. O Congresso de Paris de fato consistiu de duas conferências, convocadas separadamente - uma sendo marxista e a outra possibilista ou moderada. Alguns anarquistas que estiveram presentes ao congresso, defenderam a concentração da luta dos trabalhadores essencialmente no terreno econômico, rejeitando a divisão política, mas eles foram excluídos do congresso, em razão das claras divergências táticas. Posteriormente foram realizados outros congressos unificados em Bruxelas (1891), em Zurique (1893) e em Londres (1896). De todo modo, em geral, o ano de 1889 é considerado como o ponto de partida da Segunda ou “Nova Internacional”, embora somente em 1900, durante o Congresso de Paris daquele ano, tenha sido adotada uma constituição definitiva para a Nova Internacional. Foi então criado o Bureau Socialista Internacional, integrado por representantes de cada seção nacional filiada, com um executivo, um secretário remunerado e um escritório central. Os membros do Bureau se reuniam pelo menos uma vez por ano. O escritório central foi instalado em Bruxelas. O presidente, o secretário e o executivo, encarregados das atividades permanentes da Internacional, eram membros da seção belga. Émile Vandervelde (1866-1938) e Jean Camille Huysmans (1871-1968) do Partido Trabalhista Belga foram o seu presidente e secretário, respectivamente. Vladimir Ilyich Lenin foi membro desde 1905. Entre as ações da 2ª Internacional incluem-se a Declaração do 1º de Maio (1889) como Dia Internacional dos Trabalhadores e, em 1910, a Declaração do 8 de Março como Dia Internacional da Mulher. A Segunda Internacional iniciou a campanha internacional pela jornada de trabalho de oito horas.
           Comparativamente, tal como a Primeira Internacional, no conceito de luta de classes, a Segunda Internacional orientou-se, até o início do século XX, pelo marxismo. Mas algumas correntes se desenvolvem à direita da Internacional, pregando o abandono do princípio segundo o qual “a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores” - um princípio revolucionário da Primeira Internacional - e recomendando privilegiar o parlamentarismo e o reformismo. Mas em 1904, o congresso segue a posição do revolucionário Jules Guesde contra o reformista Jean Jaurès, escolha oposta ao resultado das eleições, que deram 31 deputados a Jaurès e 12 a Guesde. Interpretando os sentimentos de muitos presentes, Adler admitiu que seu partido não pudesse fazer mais nada para impedir a guerra. Ainda assim durante a 1ª grande guerra trabalhou para uma solução pacífica na conferência socialista em Estocolmo (1917), mas não condenava a opinião daqueles que defendiam a guerra, o que lhe causou uma relação tumultuada com seu filho, Friedrich Adler, que defendia a saída da Áustria e uma solução pacífica. Friedrich Adler foi responsável por assassinar Karl von Stürgkh, um político conservador Ministro-Presidente da Cisleitânia e defensor da guerra, em 21 de outubro de 1916. Entrando no novo governo austríaco em outubro de 1918, defendeu o Anschluss (a unificação) do Estado austríaco com a Alemanha, mas morreu antes que pudesse prosseguir nesse projeto, em 11 de novembro de 1918. Até sua morte, Victor Adler fora considerado o líder socialista austríaco mais proeminente entre as personalidades no quadro da Segunda Internacional Socialista.
           O assassinato de Jean Jaurès, líder da Seção Francesa da Internacional Operária (SFIO), poucos dias antes do início da guerra, simbolizou o fracasso da doutrina antimilitarista da Segunda Internacional. Após a irrupção da 1ª grande guerra (1914-18), os líderes socialistas (com exceção dos russos e do sérvios), votaram a favor dos créditos militares pedidos pelos respectivos governos. Os militantes fiéis ao internacionalismo e ao pacifismo denunciaram o que consideraram uma traição por parte da maioria e militaram contra a guerra, o que provocou a sua exclusão da Segunda Internacional. Esse foi o caso, por exemplo, de de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, na Alemanha. Alguns desses militantes hostis à guerra seriam mais tarde chamados comunistas, por oposição aos seus ex-companheiros socialistas. Outros oponentes da guerra formariam a ala esquerda dos partidos socialistas (socialistas revolucionários). Durante o conflito, duas conferências - a de Zimmerwald, em 1915, e, sobretudo a de Kiental, em 1916, ambas na Suíça - reuniram os militantes da esquerda da Internacional às vezes excluídos, para se opor à guerra e aos dirigentes socialistas que a apoiaram. Na Conferência de Zimmerwald, os socialistas contrários à guerra tentaram manter a unidade internacional contra o social-patriotismo dos dirigentes socialdemocratas.
           A Segunda Internacional foi afinal dissolvida em 1916, dado que os vários partidos nacionais que a compunham não se mantiveram como uma frente unida contra a guerra, em geral apoiando as posições dos governos dos respectivos países. A partir de então, a Internacional se manteve apenas formalmente na Suíça (neutra durante a guerra), como a Internacional de Berna. Em 1920, a Segunda Internacional foi refundada. Alguns partidos socialistas europeus se recusaram a aderir a essa Internacional, ressuscitada e fortemente influenciados pelo austromarxismo. Decidiram formar a União de Partidos Socialistas para a Ação Internacional (UPSAI), que ficou reconhecida como “Segunda Internacional e meia”, “Internacional dois e meio” ou, ainda, “União de Viena”. Em 1923, a UPSAI e a Segunda Internacional se fundiram para formar a Internacional Operária e Socialista, socialdemocrata que existiu até 1940. Após a 2ª guerra mundial (1941-45) foi constituída uma nova Internacional Socialista, que mantem a linha política da Internacional Operária e Socialista até hoje.
          É justamente o método de falseamento que gera o progresso da ciência, segundo Popper, pois ciência significa testar hipóteses e descartá-las quando demonstradas falsas. Em outras palavras, uma teoria científica pode ser refutada por uma única observação negativa, mas nenhuma quantidade de observações positivas poderá garantir que a veracidade de uma teoria científica seja eterna e imutável. Alguns consideram este aspecto fulcral para a definição da ciência, chegando a afirmar que "científico" é apenas aquilo que se sujeita a este confronto com os factos. Ou seja: afirmam que só é científica aquela teoria que possa ser falseável (refutável). Existem críticas contundentes quanto a esse aspecto. Essas remanescem no bojo da própria Filosofia que Popper no âmbito do conhecimento propõe. E por quê? Ao afirmar que toda e qualquer teoria deve ser falseável, isso se aplica à própria teoria da falseabilidade de Popper. A falseabilidade como historismo deve ser falseável em si mesma.
        Diante dessa evidente necessidade - talvez sob a pena da escrita de sua teoria ser não-universal e portanto derrogada pela sua imprecisão - poderá existir proposições em que a falseabilidade não é aplicável (vide teorema da incompletude de Kurt Gödel). Por outro lado, essa crítica poderia ser vista sob outro prisma: a falseabilidade é um critério metodológico e prescritivo da ciência, e, portanto, metateórico, isto é, se trata de uma teoria sobre teorias. Em outras palavras, o critério da falseabilidade se aplica aos enunciados capazes de serem falsificados pela experiência, ou seja, os enunciados das ciências empíricas, como a física experimental e a biologia e não à epistemologia ou à filosofia da ciência. Popper tendo estudado durante algum tempo os métodos das Ciências da Natureza, admite que pudesse ser interessante estudar os métodos das Ciências Sociais. Foi então que se deparou com o problema da tradição. Os anti-racionalistas do campo da política, da teoria racional, etc., consideram habitualmente que este problema não pode ser tratado por nenhuma espécie de teoria racional.  
           A sua atitude consiste em aceitar a tradição como algo simplesmente dado. Temos de admiti-la; não podemos racionalizá-la. A tradição desempenha um papel importante na sociedade, e cabe-nos apenas compreender o seu significado e aceita-la. O nome mais importante associado a esta perspectiva anti-racionalistas, para Popper, é o de Edmund Burke, pois ele lutou, como sabem, contra as ideias da Revolução Francesa, e a sua arma mais eficaz foi a análise da importância desse poder irracional a que chamamos “tradição”; isto porque ele nunca recebeu uma resposta adequada por parte dos racionalistas. Em vez de lhe responder, os racionalistas tenderam a ignorar a sua crítica e a persistir na sua atitude anti-tradicionalista sem assumir o desafio. Existe, sem dúvida, uma hostilidade tradicional entre racionalismo e tradicionalismo. Os racionalistas têm tendência a adotar esta atitude: - Eu não estou interessado na tradição. Quero julgar todas as coisas pelos seus próprios méritos; quero descobrir os seus méritos e deméritos, e quero fazê-lo com toda independência de qualquer tradição. Quero julgar pela minha própria cabeça, e não pelas cabeças de outras pessoas que já viveram há muito tempo. A questão está longe de ser tão simples quanto esta atitude supõe é o que ressalta o racionalista, ele próprio, muito condicionado por uma tradição racionalista que tradicionalmente as diz – o que demonstra a fraqueza de representação de certas atitudes tradicionais relativamente ao problema da tradição.  
          Na interpretação ideológica de Popper, entendida enquanto relação imaginária do homem com as suas condições reais de existência perante a tradição, só há atitudes fundamentais possíveis. Uma delas é aceitarmos uma tradição acriticamente, muitas vezes, sem estarmos sequer, conscientes da sua existência. Em numerosos casos, não conseguimos escapar a isso, na medida em que, com frequência, nós simplesmente não nos apercebemos de que estamos face uma tradição (cf. Hacohen, 2000). Se eu uso o meu relógio no pulso esquerdo, não preciso ter consciência de que estou a aceitar uma tradição. Fazemos diariamente centenas de coisas sob a influência de tradições de que não estamos minimamente conscientes. Mas, não sabendo que estamos a agir sob a influência de uma tradição, não podemos evitar aceita-la acriticamente. Outra possibilidade é atitude crítica que pode resultar numa  rejeição. Ou talvez num compromisso com um pensamento conservador. Temos, porém, que compreender uma tradição antes de criticá-la. Antes de estarmos em posição de dizer: - “Rejeitamos esta tradição por motivos de ordem racional”. Para fazê-lo, temos que começar por ter a tradição bem definida, e temos de compreender, em linhas gerais, qual pode ser a função e o significado da tradição. Ipso facto é tão importante para os racionalistas este problema. São pessoas que estão prontas a desafiar e a criticar tudo, e mais alguma coisa, incluindo a sua própria tradição. 
Bibliografia geral consultada.
SILVA, Ludovico, Anti-Manual. Para Uso de Marxistas, Marxólogos y Marxianos. Caracas: Monte Ávila Editores, 1979; RUIZ, Carlos, La Epistemologia de Popper y el Neoliberalismo. In: Critica y Utopia. Buenos Aires, nº 12, 1984; POPPER, Karl, Miséria do Historicismo. São Paulo: Editora Cultrix; São Paulo: Universidade de São Paulo, 1980; Idem, Sociedade Aberta e seus Inimigos. 3ª edição. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1987; NEIVA, Eduardo, O Racionalismo Crítico de Popper. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editor, 1999; HACOHEN, Malachi, Karl Popper - The Formative Years, 1902-1945. Cambridge: Cambridge University Press, 2000;  RAPHAEL, Frederic, Popper. O Historicismo e sua Miséria. São Paulo: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2000; KRIEGER, Cesar Amorim, A Consolidação do Direito Internacional Humanitário: Precedente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a Contribuição Definitiva da Convenção de Roma de 1998. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Centro de Ciências Jurídicas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2002; LAURENTI, Carolina, Hume, Mach e Skinner: A Explicação do Comportamento. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia e Metodologia das Ciências. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2004; ARON, Raymond, Introdução - Sobre a Dificuldade de Interpretar Marx. In: O Marxismo de Marx. São Paulo: Editora Arx, 2005; SERPA, Luiz Gustavo Martins, A Sociedade Aberta e seus Amigos: O Conceito de Sociedade Aberta no Pensamento Político de Karl Popper, Schumpeter, Hayek e Von Mises. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Ciência Política. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007;  DELIBES, Alicia, “El Anti-Marxismo de Karl Popper”. Disponível em: http://www.redfloridablanca/23/11/2015OLIVEIRA, André Silva de, O Paradoxo da Regulação Estatal do Livre Mercado em Karl Popper e Friedrich Hayek: O Desafio da Revitalização do Liberalismo no Mundo Globalizado. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2017; BELLI, Rodrigo Bischoff, O Irracionalismo como Ideologia do Capital: Análise de suas Expressões Ideológicas Fascista e Pós-Modernista. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais. Marília: Universidade Estadual Paulista, 2017; entre outros. 

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