Karl Popper - Marxismo, Significação & Ressentimento Sociológico.
Ubiracy de Souza Braga
“Platón, Hegel y Marx han sido para Popper los grandes enemigos de la sociedad abierta”. Alicia Delibes (2015)
Karl Popper teve na
sua formação a influência das discussões elaboradas no CírculodeViena uma associação fundada no final
da década de 1920 por cientistas, lógicos e filósofos que
concentrava seus esforços de compreensão e de domínio da teoria em torno de um projeto intelectual. Tal projeto era o
desenvolvimento de uma Filosofia da Ciência baseada em uma linguagem lógica e a
partir de procedimentos lógicos com alto rigor científico. O tema prioritário
dos estudos e pesquisas desse grupo residia na formulação de um critério satisfatório
que permitisse distinguir entre proposições com ou sem significação a partir do
critério de verificabilidade. Assim, aquilo que não tivesse possibilidade de
verificação deveria ser retirado do saber científico, como os enunciados
metafísicos. A Física era o modelo que eles propunham para todos os enunciados
científicos: só aquilo que foi dito a partir de observações poderia
ser considerado verdadeiro. Os enunciados que não pudessem ser examinados a
partir da verificação empírica não tinham significação e deveriam
ser desconsiderados da ciência. Pelo
critério de verificabilidade, era possível fazer uma distinção entre a
Filosofia e a Ciência.
O objetivo da Filosofia era,
para Rudolf Carnap, um dos principais representantes do Círculo, o de estudar a
natureza da linguagem científica, um estudo que compreenderia três processos:
um sintático, pelo qual ela estabeleceria teorias a respeito das relações
formais entre os signos; um semântico, pelo qual estabeleceria teorias a
respeito das interpretações; e um pragmático, pelo qual estabeleceria teorias a
respeito das relações entre a linguagem, o locutor e o ouvinte. Outros
pensadores importantes do Círculo de Viena foram Otto Neurath, Moritz Schilick
e Ernest Nagel. A ascensão do nazismo repercutiu na formação do Círculo: Carnap
e outros membros mudaram-se para os Estados Unidos da América; Hahn, Schilick e Neurath morreram. O movimento intelectual dispersou-se a
partir de então. A verificação pode ser feita ainda de outra forma além do
método empírico: por meio da aplicação da lógica para saber se há coerência no
enunciado. Nesse caso, a verificação é feita por demonstração. Dependentes de
constatações empíricas ou de demonstração lógico-matemática, até a chegada de
Ludwig Wittgenstein, as leis científicas para os pensadores do Círculo de Viena
só poderiam ser a posteriori, ou
seja, os enunciados científicos são constatações.
O Círculo de Viena foi o nome como ficou conhecido um grupo de filósofos que se juntou informalmente na Universidade de Viena de 1922 a 1936 com a coordenação de Moritz Schlick. Também foi chamado de “Sociedade Ernst Mach” (Verein Ernst Mach) em homenagem a Ernst Mach. Em reuniões semanais procuravam reconceitualizar o empirismo a partir das novas descobertas científicas e demonstrar as falsidades da Metafísica. Suas atividades cessam quando Schlick é assassinado por um fanático nazista em 1936. Seu sistema filosófico ficou reconhecido como o chamado positivismo lógico, empirismo lógico ou neopositivismo. Os membros do Círculo de Viena tinham uma visão comum da filosofia, que consistia na aplicação das postulações de Ludwig Wittgenstein, expostas em seu Tractatus Logico-Philosophicus, embora Wittgenstein insistisse que o “positivismo lógico” fosse uma visão errada sobre seus escritos. A influência do Círculo de Viena na Filosofia do século XX foi imensa. O Círculo de Viena surgiu da necessidade de fundamentar a ciência a partir das concepções ou acepções que a Filosofia da Ciência ganhou no século XIX. A filosofia era vinculada à Teoria do Conhecimento, mas a partir de Friedrich Hegel este vínculo se desfez.
A obra de Ludwig Wittgenstein tem uma abordagem inédita e provavelmente única a partir da fenomenologia da linguagem de Michel de Certeau, objeto de nossa análise. Antes a advertência: para descrever essas práticas cotidianas que produzem sem capitalizar, isto é, sem dominar o tempo, impunha-se um ponto de partida por ser o foco exorbitado da cultura contemporânea e de seu consumo: a leitura”. Isto porque, da televisão ao jornal, da publicidade a todas as epifanias mercadológicas, a nossa sociedade canceriza a vista, mede toda a realidade por sua capacidade de mostrar ou de se mostrar e transforma as comunicações em viagens do olhar. É de fato, uma epopeia do olho e da pulsão de ler. A economia fomenta uma hipertrofia da leitura. O binômio de produção-consumo poderia ser substituído por seu equivalente geral: “escritura-leitura”. Aliás, a leitura da imagem, ou do texto, parece constituir o ponto máximo da passividade que caracterizaria o consumidor, constituído em voyeur em uma “sociedade do espetáculo”. Wittgenstein não era inglês por nascimento ou “comportamento social”, ainda que ao morrer tenha levado consigo, talvez por “acidente de percurso” a nacionalidade inglesa. Filho caçula de uma família vienense rica e culturalmente refinada, de ascendência judaica, teve, tal como o sociólogo Max Weber, em família, a virtù como centro existencial de vida artística, mas não política como convicção, como diria Max Weber, e, em particular, a música do classicismo vienense. Na literatura a influência do extraordinário Wolfgang Goethe, formando um ambiente que mais tarde ele denominaria, com argúcia, o seu “bom treinamento intelectual pré-escolar”.
Viena na virada para do século XX conviveu
com momentos históricos e circunstâncias sociais e políticas díspares de
decadência e inovação, unidade e multiplicidade, cosmopolitismo e
provincianismo, propiciando o florescimento de surto de criatividade humana
ímpar tal que a vida cultural e política posterior seriam marcadas por seus
traços de genialidade e de bom humor, culpa e redenção, angústia e beleza.Os sábios eram pensadores de fora
do ambiente filosófico acadêmico cuja obra Wittgenstein lera ainda bem moço,
como Karl Kraus, o “feroz crítico” da cultura e da linguagem do final do
Império Habsburgo que lhe causou forte impressão, por sua insistência na
integridade pessoal. A obra de Karl Kraus inseria-se no contexto da chamada “crise
da linguagem”, quando a preocupação geral era a autenticidade da expressão
simbólica na arte e na vida pública. Outra expressão dessa crise foi a crítica
da linguagem de Mauthner, autor que perseguiu uma meta kantiana, a derrota da
especulação metafísica, substituindo a “crítica da razão” por uma “crítica da
linguagem”, sendo sua obra mais tributária de David Hume e de Ernest Mach. Seu
método era psicologista e historicista: a crítica da linguagem faz parte da
psicologia social. O conteúdo da crítica era empirista – a linguagem funda-se
nas sensações. Seu resultado foi cético – a razão idêntica à linguagem. Mas
esta última não serve para penetrar a realidade. Wittgenstein, acertadamente,
opõe sua própria “crítica [lógica] da linguagem” à de Mauthner, quem primeiro
identificou a filosofia com a crítica da linguagem.
De Otto Weiniger, autor do célebre ensaio:
Sex and CharacterSex and Character: An Investigation of Fundamental
Principles (2005) pode-se dizer, talvez, que era mais um psicopata do que
propriamente um sábio. Este autor defendia a tese da inferioridade da mulher
relativamente ao homem, receitando, então, aos homens a abstinência sexual.
Contudo, Otto Weiniger parece ter sido um autor bastante influente na Europa do início
do século, pelo menos se levarmos em conta o seu livro “Sexo e Caráter” que proliferou em vinte anos, 25 edições, e traduções em 8 línguas, o próprio Sigmund Freud
teve acesso e serviu-se dos manuscritos. Seu suicídio, encenado teatralmente em
1903, foi imitado por vários jovens em Viena. A influência benigna que exerceu
sobre Wittgenstein foi restrita. Contaminou-o com sua misoginia, com dúvidas,
igualmente tola e perniciosa, quanto ao poder criativo dos judeus, mas talvez
como Theodor Herzl que vislumbrava o Estado judeu, temendo o antissemitismo
ainda existente em Viena. A influência mais importante reside, entretanto, na
ideia de que o indivíduo tem o dever moral para consigo, e elementos empíricos
e os elementos a priori da mecânica.
Elucidou a possibilidade de
explicação científica com base na natureza da representação. A ciência constrói
“modelos” (“bilder”) da realidade empírica, de tal modo que as consequências
lógicas de tais modelos correspondam às consequências reais das situações
externas que descrevem. Suas teorias não são predeterminadas pela experiência,
mas antes construídas de forma ativa, respeitando-se restrições formais e
pragmáticas, às quais Hertz se referia como “as leis do pensamento”. Ele
requereu através da ciência evitar pseudoproblemas pela apresentação desses
elementos apriorísticos de modo claro e perspícuo. o Ludwig Boltzmann foi mais
hostil a Immanuel Kant. Acusou-o, em um espírito ideologizado da espécie darwiniano, de não levar em conta o
fato de que as “leis do pensamento” não são imutáveis, mas apenas inatas no
indivíduo, tendo em vista que são resultantes da “experiência da espécie”. Levou adiante, contudo, o projeto
hertziano de esclarecer a ciência com base em modelos que não se originam da
experiência, conservando a visão de que a confusão filosófica deve ser
resolvida pela revelação da natureza absurda de certas questões. Estes autores
exerceram influência sobre a teoria pictórica do Tractatus, e também
sobre a discussão que ali se encontra acerca da ciência.
E mais ainda, reforçaram
uma concepção de Immanuel Kant sobre a tarefa da filosofia, que Wittgenstein
encontrara também em Schopenhauer:
distinguindo-se da ciência, a filosofia não descreve a realidade; sua tarefa é
crítica. O plano inicial pragmático de Wittgenstein de estudar com Boltzmann, em
Viena, foi frustrado pelo suicídio deste último em 1906. Ele foi, então,
encaminhado a Berlim para estudar engenharia. Não tardou, entretanto, a ver-se
atraído por problemas filosóficos, “dando início ao hábito, que duraria por
toda a vida, de anotar suas reflexões filosóficas em apontamentos datados de
1914 em cadernos”. Em 1908, mudou-se para Manchester,
onde desenvolveu interesse primeiro pela matemática pura, e logo por seus
fundamentos filosóficos. Conheceu os escritos de Frege e Russell e, em 1909,
tentou resolver o maior problema então em destaque – a contradição que Russell
descobrira no sistema filosófico de Frege. Em 1911, traçou um plano para um
trabalho filosófico, o qual discutiu com Frege, mas desde Frege a semântica
filosófica colocou no centro a estreita relação entre significado e verdade.
Contudo, a completa equiparação do compreender ao conhecimento de condições da
verdade ou métodos de verificação, é insustentável visto que o aspecto da
verdade não é constitutivo para todas as modalidades e a compreensibilidade de
sentenças afirmativas não verificáveis é indiscutível. Especialmente a análise
de situações ditas radicais de Quine, de tradução e aprendizagem mostra coisas que
permanecem inaplicadas em teorias existentes.
Ao conselho deste foi para
Cambridge estudar com Russell, que a esta altura tornara-se a figura central
destes debates. Isto foi decisivo na vida de Wittgenstein. Frege e Russell
proporcionaram o pano de fundo essencial para sua “primeira filosofia”, bem
como alvos importantes de seu pensamento posterior. Enfim, para sermos breves,
o sistema lógico dos Principia Mathematica, de Russell e da filosofia de
Alfred Whitehead, assim como os de Frege, faz uso da analogia de eventos entre
a estrutura de proposições e estruturas associadas à teoria das funções
presentes na análise matemática. Entretanto, a concepção que Russell tinha de
função proposicional, na perspectiva comparada, diferia da noção de conceito de
Frege, no sentido de que seus valores não eram duas entidades lógicas e
relacionais, como o verdadeiro e o falso, mas sim proposições. Russell negou,
por conseguinte, que as sentenças “nomeiem valores de verdade”. Repudiou, além disso, a distinção
fregiana entre sentido e significado, juntamente com a suposição “de que é
possível a existência de proposições destituídas de valor de verdade”. Durante
um curto espaço de tempo, o que não é pouco, Wittgenstein foi a estrela em
ascensão em Cambridge, tendo sido membro de uma autoproclamada elite intelectual,
“os Apóstolos”. Em 1913, entretanto, ele parte para a Noruega, com o objetivo
de trabalhar sozinho em sua nova teoria da lógica. Com a deflagração da guerra
de 1914-18, vai para Viena e se voluntaria ao serviço militar.
Feito
prisioneiro em 1918, arranjou um jeito de enviar o manuscrito a Cambridge. O
apoio de Russell acabou por garantir sua publicação, em 1921, do Tractatus Logico-philosophicus,
bem como de uma tradução inglesa plus tard. Com o “Tractatus”, impresso
no papel Wittgenstein acreditava ter resolvido “todos” os problemas
fundamentais da filosofia. Ao retornar do cárcere, em 1919, doou a fortuna que
herdara de seu pai com o objetivo de “romper com o passado”. Para Michel de Certeau, enquanto diz
respeito à linguagem, a questão filosófica consistiria, sobretudo em
interrogar, em nossas sociedades técnicas, a grande partilha entre as
discursividades reguladoras da especialização e as narrativas do intercâmbio
massificado. - “Quando os filósofos usam uma palavra – ‘saber’, ‘ser’, ‘objeto’,
‘eu’, ‘proposição’, ‘nome’, – e procuram
captar a essência da coisa, devemo-nos sempre perguntar: na linguagem onde
vive, esta palavra é de facto sempre assim usada? (…). Nós reconduzimos as
palavras do seu emprego metafísico ao seu emprego quotidiano”. Se Ludwig
Wittgenstein pretende “trazer a linguagem do seu uso filosófico de volta ao seu
uso ordinário”, ao “everyday use”, ele se proíbe, ou proíbe ao filósofo toda
extrapolação metafísica “para fora”, como ocorre com Pierre Bourdieu no livro: Ce Que Parler
Veut Dire (1998), quando afirma: - “A fala não é apenas uma mensagem a ser decifrada; é também um produto que entregamos à apreciação de outros e cujo valor será definido na sua relação com outros produtos mais raros ou mais comuns”.
Enfim, Ludwig Wittgenstein opera a
mudança simbólica do lugar de análise, definida agora “por uma universalidade que
é identicamente uma obediência ao uso ordinário”. Essa mudança modifica o
estatuto do discurso antecipando Michel Foucault. Vendo-se “preso” na linguagem
ordinária, o filósofo não possui mais lugar próprio ou apropriável. É-lhe
retirada toda “posição” de domínio. O discurso analisador e o “objeto”
analisado têm o mesmo estatuto. De se organizar pelo trabalho de que dá
testemunho. Determinados por regras que não fundam nem superam. Igualmente
disseminadas em funcionamentos diferenciados. Inscritos em uma textura onde
cada fragmento pode “apelar” a outra instância. Dá-se uma permanente troca de
lugares distintos. O privilégio filosófico ou científico se perde no ordinário.
Essa perda tem como corolário a invalidação das verdades. Demonstrando que são
uma mistura de nonsense e de poder. Wittgenstein se esforça por reduzir
essas verdades a fatos e nos remete a uma redutibilidade linguística
identificada na exterioridade da linguagem. O
Círculo de Viena era composto por cientistas que, apesar de atuarem em várias
áreas como física, economia, etc., buscaram resolver problemas de fundamento da
ciência, problemas estes levantados a partir do descontentamento com os
neokantianos, prováveis seguidores de Kant, e os “fenomenólogos” seguidores de Hegel.
Schlick, por exemplo, tentou mostrar o vazio dos enunciados sintéticos a
priori, de Kant. E por duas vias: - Se os enunciados têm uma verdade lógica,
então eles são analíticos e não sintéticos; - Se a verdade dos enunciados
depende de um conteúdo factual, eles são, portanto, a posteriori e não a
priori. Dessa maneira, Schlick juntamente com seus companheiros tentou formular
um critério de cientificidade que pudesse ou que tivesse uma correspondência
com a Natureza.
Por isso, o Círculo de Viena adotou uma forma de empirismo
indutivista que se utiliza de instrumentos analíticos como a lógica e a matemática
para auxiliar na formação dos enunciados científicos. Tal critério seria,
então, o de verificabilidade. Para
os pesquisadores do Círculo os enunciados científicos deveriam ter uma
comprovação ou verificação baseada na observação ou experimentação. Isto era
feito indutivamente, ou seja, estabeleciam-se enunciados universais, pois entendem
que a ciência tem pretensão de universalidade a partir da observação de casos
particulares. O resultado do estabelecimento deste critério surgiu também a
partir da concepção de linguagem de Wittgenstein que os membros do Círculo de
Viena utilizaram. Para ele, o mundo era composto de “fatos” atômicos associados
e, assim, expressariam sua realidade. Daí os enunciados gerais poderem ser
decompostos em enunciados elementares referentes ou congruentes à Natureza, o
que exclui os enunciados metafísicos do processo de conhecimento. A indução resultou da aplicação do método empírico utilizado porque além de proceder experimentalmente,
proporcionava para a interpretação cotidiana um caráter de regularidade que permitia que se emitissem juízos
universais. Isto atesta o caráter anti-metafisico do Círculo de Viena e o procedimento regular de observação.
Karl Popper cunhou o termo racionalismo
crítico para descrever e explicar a sua filosofia. Esta designação é
significante e representa um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do chamado observacionalismo-indutivista da ciência, que disso resulta. Apesar disso, alguns acadêmicos, incluindo
Ernest Gellner (1925-1995), um filósofo e antropólogo social judeu-checo nascido na França e mais tarde naturalizado britânico, compreende que Karl Popper, não obstante pode não se ter visto na academia como um
positivista, mas “se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição
metafísica ou dedutiva”. A resposta de Popper encontra-se na argumentação
filosófica representada no truísmo de que “a teoria científica será sempre conjectural e provisória”.
Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma
previsão efetuada com base naquela teoria se verificaram. Ela deverá gozar
apenas do estatuto de uma teoria não
(ou ainda não) contrariada pelos fatos condicionados pela história e a sociedade. O que a experiência e as observações do
mundoreal “podem e devem tentar fazer é encontrar provas da falsidade
daquela teoria”. Este confronto da teoria com as observações poderá
provar a falsidade da teoria em análise.
Convém aqui lembrar que Popper,
antes de ser defensor do liberalismo político, foi comunista e só o deixou de
sê-lo, quando em julho de 1919, durante uma manifestação de esquerda em que
participou, “a polícia austríaca matou seis dos seus colegas”. A partir desse
momento, Popper abandonou a ideia pragmática de revolução, por implicar violência, e, sob
a influência de Russell, abraça o pacifismo, tornando-se antimarxista para o
resto da vida. É este anti-marxismo que ele expõe na sua obra A
Sociedade Aberta e os seus Inimigos (1987), perseguindo a historicidade do pensamento
dialético hic et nunc de Heráclito a Marx. De modo geral, o tratamento a que Karl Popper
submete as figuras emblemáticas desse pensamento que associa ao totalitarismo é
superficial e, muitas vezes, erróneo. Contudo, este elogio do racionalismo com
que termina a obra assenta numa decisão, como demonstrou o racionalista Jürgen
Habermas, não pode ser fundamentada racionalmente. Embora o seu racionalismo e
liberalismo, tendo como background o
ressentimento, tenham reconhecido modificações na sua
vida, permanece fiel no essencial a esses princípios no final suaviza o seu liberalismo ilimitado, atribuindo ao Estado liberal
a ideia de fazer respeitar os direitos civis e protegê-los contra
toda a forma de violência, social e política, aquela que é exercida de forma insidiosa nos meios de comunicação sobre os espíritos que tem neste aspecto absoluta razão.
Na filosofia da ciência
contemporânea há duas tendências que avaliam os procedimentos e fundamentos do
cientista. Uma é a tendência histórica e a outra é a tendência analítica. Assim
como o CírculodeViena, Popper faz
parte da tendência analítica que prioriza o aspecto metodológico no
desenvolvimento científico, o também chamado contexto de justificação. Porém,
apesar da adesão comum, Popper é, talvez, o crítico imediato de tudo o que foi
estabelecido no CírculodeViena.
Em primeiro lugar, Popper não elimina a Metafísica; simplesmente, assim como
Kant, tenta delimitar os campos de atuação desta e da ciência. Em segundo lugar,
esta delimitação ocorre pelo fato de não atentar para o conceito de significação, unicamente como critério
de demarcação ou de impossibilidade da metafísica. Em terceiro lugar, Popper
critica a forma de proceder por indução. Esta permitiria apenas uma semelhança
de regularidade que proporcionaria uma coletânea de fatos que impossibilita que
se refute uma teoria. Por conseguinte, Popper formulou um novo método. É o
modelo hipotético-dedutivo, em que a busca do conhecimento
não se dá a partir da observação de fatos e inferência de enunciados.
Na verdade, esta nova concepção pressupõe um interesse do sujeito em conhecer determinada realidade que o seu quadro de
referências já não mais satisfaz. Por isso, a mera observação não é levada em
conta, mas sim uma “observação intencionalizada” e seletiva que
busca criar um novo quadro de referências.
“A pesar
de ser un antimarxista convencido Popper, durante varios años, se siguió
considerando socialista. Llevar una vida en libertad en una sociedad igualitaria
le parecía el sueño ideal: - “Me costó cierto tiempo reconocer que eso no es
más que un bello sueño; que la libertad es más importante que la igualdad; que
el intento de realizar la igualdad pone en peligro la libertad, ni siquiera
puede haber igualdad entre los que no son libres. Tras aprobar el examen de
madurez (Matura), permaneció en la Universidad de Viena estudiando matemáticas,
física y filosofía. En 1925 fue admitido en Instituto Pedagógico, creado con el
fin de realizar la reforma de la educación austriaca. Allí conoció a la que fue
la única mujer de su vida, Josefine Anna Henninger. En 1930 comenzó a trabajar
como profesor de matemáticas y física en la escuela secundaria y a frecuentar
el CírculodeViena. En marzo de
1937, un año antes de la ocupación de Austria por Hitler, aceptó una oferta
para impartir clases en Nueva Zelanda. Allí, a pesar de que el trabajo le
ocupaba casi todo el día, puso en marcha su gran obra Lasociedadabiertaysusenemigos, que vería la luz en
Inglaterra, gracias a la ayuda Hayek, y después de muchísimas horas de trabajo:
- Reescribí el libro 22 veces, tratando siempre de que fuera más claro y más
sencillo y mi esposa mecanografió y volvió a mecanografiar el original completo
cinco veces en una vieja máquina de escribir. Platón, Hegel y Marx han sido
para Popper los grandes enemigos de la sociedad aberta” (cf. Delibes, 2015).
Karl Popper, no início de sua
carreira acadêmica, dedicou-se à temática da filosofia da ciência, ao
projetar-se com o livro A Lógica da Descoberta Científica (1934). O cerne da
ideia popperiana, no que diz respeito ao conhecimento, está na concepção de que
viver é um processo de solução de problemas (até mesmo para uma ameba). Nesse
processo, o homem formula análises teoréticas que ele jamais poderá saber se
são verdadeiras ou não. Ele é capaz de testar (tentar falsear) uma teoria, e
confirmá-la reiteradas vezes. Isso não quer dizer, que ela seja verdadeira. É
possível que, a qualquer momento, alguém formule a respeito do problema uma
nova hipótese melhor, ou uma maneira nova de testar a teoria e demonstrar que
ela é falsa. Assim aconteceu com a teoria newtoniana que, ao longo de séculos,
foi repetidas vezes corroborada, até que surgiu Albert Einstein (1879-1955) que formulou uma nova
concepção, derrubando as concepções de Isaac Newton (1642-1727). Em outras palavras, a ciência
vive de “conjecturas e refutações”, título de seu livro publicado em 1963 a
respeito do desenvolvimento analítico do pensamento científico. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se comprovou
falsa e procurar outra teoria para explicar o fenômeno social como objeto de
análise.
A falseabilidade é decorrência
da ideia de que existem enunciados básicos falseáveis. Para Popper, deve-se
chamar “empírica” ou “falseável” a teoria que divide a classe de todos os
enunciados básicos possíveis de maneira não ambígua nas duas subclasses não
vazias que se seguem. Primeira, a classe de todos aqueles enunciados básicos em
relação aos quais ela é inconsistente, ou que ela exclui, ou proíbe, chama-se a
esta classe de falseadores potenciais da teoria; e, a segunda, a classe
daqueles enunciados básicos que ela não contradiz, ou que ela permite que se deva
distinguir claramente entre o que ele denomina a falseabilidade e falseamento,
introduzindo a falseabilidade unicamente como um critério para o caráter
empírico de um sistema de enunciados. Com relação ao falseamento, devem-se
introduzir regras especiais que determinarão sob quais condições considerar que
um sistema está falseado. Na Nota 3 de Conjecturas e Refutações (cf.
Popper, 2006: 175), afirma: - “Mas a abordagem verdadeiramente científica
(embora, em minha opinião, demasiado determinista) de Marx tem sido esquecida
pelos partidários, os vulgarizadores do marxismo de Marx, para
lembrarmos Aron, propuseram a impopular teoria conspiratória da
sociedade, não mais convincente do que o mito dos Anciãos Sábios de Sião”.
Não queremos perder de vista que olegado de Marx, representa uma teoria, um método de análise e uma práxissobre as relações sociais de classe e do conflito
social, que utiliza uma interpretação materialista do desenvolvimento histórico
e uma visão dialética de transformação social. A metodologia marxista utiliza
inquéritos econômicos e sociopolíticos que se aplicam à crítica e análise ideológica
do desenvolvimento do capitalismo e o papel das lutas de classes na mudança
econômica sistêmica. Na segunda metade do século XIX, os princípios do marxismo
foram inspirados por dois filósofos alemães: Karl Marx e Friedrich Engels.
Análises e metodologias marxistas influenciaram várias ideologias políticas e
movimentos sociais. O marxismo engloba uma teoria econômica, uma teoria
sociológica, um método filosófico e uma interpretação revolucionária de mudança social.
Raymond Aron, não por acaso indica pistas que nos fornecem elementos sobre as dificuldades ligadas à carreira e à personalidade de Marx. Este é o aspecto fundamentalmente importante para entendermos o condicionamento entre a carreira (trabalho) e a sociedade nos tempos de Marx, que foi, ao mesmo tempo, um estudioso, um homem de ação, dotado de uma profecia, que tornou-o a posteriori, fundador de um Estado e de uma ideologia favorável a emancipação do desenvolvimento espiritual e material da classe operária mundial, enunciado como epígrafe no Manifesto do Partido Comunista de 1848. Da diversidade de sua personalidade resultou, inevitavelmente, a heterogeneidade da obra. Como todo autor prolífero, Marx se exprimiu sobre a maior parte dos assuntos políticos, econômicos e históricos, e, com um pouco de assiduidade e argúcia. Não se contradizem os que escrevem pouco, e Marx certamente não pertence a esta categoria. Ipso facto, a partir daí, toda proposição de ordem geral atribuída a Marx pode ser corrigida ou refutada por alguma citação muitas vezes desconhecida, retirada da análise de um artigo de jornal ou de uma carta. Segundo o desenvolvimento histórico, os marxistas, marxólogos ou marxianos - como se queira, essas três categorias sociais, apesar de distintas, têm características comuns: retificaram propostas que pareciam não estar de acordo com os acontecimentos, descobrindo um desses textos ainda esquecidos pela interpretação corriqueira de Marx.
Monsieur
Raymond Aron nos dá a seguinte explicação: chamam-se “marxólogos” os
especialistas no conhecimento e na interpretação científica do
pensamento de Marx. Quando se diz “marxiano” é o indivíduo, mas uma proposição
também pode ser considerada “marxiana”, que se remete, ou pode se remeter, ao
pensamento de Marx, sem pertencer à interpretação provisoriamente ortodoxa do
marxismo, dada pelos representantes oficiais dos Estados que se pretendem
marxistas. Maximilian Rubel e alguns outros, chamam de marxistas, com
um tom pejorativo, naturalmente, por causa da frase de Marx: “Eu próprio não
sou marxista”, aqueles que assim se declaram oficialmente, ou seja, os
representantes ou porta-vozes dos partidos comunistas, da União Soviética, da
China ou de qualquer outra república popular ou Estado soviético. Voltando à nossa questão abstrata, Aron
utilizará “marxologia” constatando uma particular dificuldade do pensamento de
Marx: é que segundo ele, Marx disse em algum lugar ter abandonado o manuscrito
de A Ideologia Alemã à crítica roedora dos ratos.
E
acrescentou ter tido, essa obra, como única finalidade permitir que Engels e
ele ajustassem seus conceitos próprios. Por isso não julgaram necessária a
publicação desse escrito da juventude, que julgavam ultrapassado. Mas, afinal
de contas, um autor não é o juiz supremo quanto á importância respectiva de
seus diferentes trabalhos. a posteridade tem o direito de acreditar que Marx,
envelhecido, se enganava no tocante a seu próprio gênio, que fórmulas dessa
ordem eram de lítotes ou que o intérprete pode legitimamente substituir o
sentido que o criador dá a obra por outro que lhe pareça mais satisfatório.
Afora essas obras essenciais, O Manuscrito Econômico-filosófico e a Ideologia
Alemã, publicou-se também um fragmento de uma Crítica, capítulo por
capítulo, de A Filosofia do Direito de Hegel. Só se reconhecia, até
então, um breve artigo que era uma introdução a essa crítica, da qual um
considerável fragmento foi publicado há cerca de 30 anos.
Desnecessário
dizer que um grande número de questões fundamentais se coloca, mesmo se reconhecendo
o sentido geral do itinerário de Marx. A mais geral é aquela da relação
existente da di-visão entre o jovem Marx, filósofo autor do Manuscrito
Econômico-filosófico e o Marx da maturidade, autor de O Capital. E a questão
ainda se subdivide em pelo menos duas outras, particulares: o que pensava o
Marx de O Capital do Marx do Manuscrito Econômico-filosófico, ou ainda, o que
pensava Marx, em 1867, da filosofia hegeliana, o que pensava da crítica que
havia redigido em 1844 de A Fenomenologia, de Hegel? Em que medida o próprio
Marx achava que O Capital trazia a aplicação, à matéria econômica, de um método
filosófico inspirado em Hegel? Mas a questão da relação entre os dois Marx,
para Aron, não se resolve com a resposta dada pelo Marx da maturidade. Pode-se perguntar o que o crítico analítico pensa e deve pensar da
relação entre esses dois homens, ou esses dois períodos.
E
isso não é tudo. A segunda parte da carreira de Marx é também de difícil
interpretação, dadas as características das obras que daí resultaram. O
sociólogo francês, diria que Marx, enquanto pesquisador, trabalhou em um único
livro, desde 1849 até sua morte, em 1883. Se a comparação não parecesse – com toda
a razão, sob muitos aspectos – surpreendente, diria ainda que, enquanto autor
genial, Marx se assemelha a Proust. É o homem de um único livro. A comparação
só vale, nesse ponto preciso. Ambos carregar, durante toda a vida, um livro único
e inacabado. Marx, de fato, a partir de 1849-1850, trabalhou em um único livro
que se chamava Crítica da Economia Política. A obra não se chamava O
Capital. Das Kapital foi o título dado a um fragmento dessa obra
global inacabada, que seria a Crítica da Economia Política. O título foi
mantido apenas para o fragmento publicado em 1859, sob o título Zur Kritik
der Politischen Ökonomie. Mas sabemos que esse pequeno livro era somente
fragmento da obra conjunta que Marx não cessou de trabalhar entre 1849 e 1883.
A
análise marxista tem sido aplicada a diversos temas e tem sido mal interpretada
e modificada durante o curso de seu desenvolvimento interno, resultando em
numerosas e às vezes contraditórias teorias que caem sob a rubrica de “marxismo”
ou “análise marxista”, mais próximo da ideologia do que da concepção de método
de interpretação da realidade social. O marxismo baseia-se em uma explicação
materialista do desenvolvimento da sociedade, tendo como ponto de partida as
atividades econômicas necessárias para satisfazer as necessidades materiais da
sociedade humana. A forma de organização econômica ou modo de produção é
compreendida como a origem, ou pelo menos uma influência direta, da maioria dos
outros fenômenos sociais - incluindo as relações sociais, sistemas políticos e
jurídicos, moralidade e ideologia. Assim, o sistema econômico e as relações
sociais são chamadas de infraestrutura e superestrutura. À medida que as forças sociais e produtivas, principalmente a tecnologia melhoraram, as formas existentes de
organização social tornam-se ineficientes e asfixiam o progresso. Estas
ineficiências se manifestam como contradições sociais na forma da luta de
classes.
De
acordo com a análise marxista, conflitos de classe dentro do capitalismo surgem
devido à intensificação das contradições entre uma produção mecanizada e
altamente produtiva e a socialização realizada pelo proletariado, além da
propriedade privada e da apropriação do produto excedente na forma de mais-valia
por uma pequena minoria de proprietários privados chamados coletivamente de
burguesia. Como a contradição torna-se aparente para o proletariado, a agitação
social entre as duas classes antagônicas se intensifica, culminando em uma
revolução social. O eventual resultado a longo prazo dessa revolução seria o
estabelecimento do socialismo - um sistema socioeconômico baseado na
propriedade cooperativa dos meios de produção, na distribuição baseada na
contribuição e produção organizada diretamente para o uso. Marx formulou a
hipótese de que, como as forças produtivas e a tecnologia continuam a avançar,
o socialismo acabaria por dar lugar a uma fase comunista de desenvolvimento
social em uma sociedade sem classes, erigida na propriedade comum e no
princípio “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas
necessidades”.
O
marxismo desenvolveu-se em diferentes ramos e escolas de pensamento. Algumas
vertentes colocam uma maior ênfase em determinados aspectos do marxismo
clássico, enquanto rejeitam ou tiram a ênfase de outros aspectos do marxismo,
às vezes combinando a análise marxista com conceitos não marxistas. Outras
variantes do marxismo veem algumas de suas características como uma força
determinante no desenvolvimento social - como o modo de produção, de classe,
relações de poder ou propriedade - enquanto discutem outros aspectos como menos
importantes ou irrelevantes. Apesar de compartilhar premissas semelhantes, as
diferentes escolas de pensamento do marxismo podem chegar a conclusões
contraditórias entre si. Por exemplo, diferentes economistas marxistas têm
explicações contraditórias de crise econômica e previsões diferentes para o
resultado de tais crises. Além disso, diferentes variantes teóricas e práticas do
marxismo aplicam a análise marxista para estudar diferentes aspectos da
sociedade, por exemplo, crises econômicas ou feminismo.
Estas
diferenças teóricas levaram vários partidos socialistas e comunistas e
movimentos políticos a adotar diferentes estratégias políticas para
alcançar o socialismo e defender diferentes programas e políticas entre si. Um
exemplo disso é a divisão entre socialistas revolucionários e reformistas que
surgiram no Partido Social-Democrata Alemão (SPD) durante o início do
século XX. Da mesma forma, embora os bolcheviques da Rússia terem declarado o
leninismo e, posteriormente, o marxismo-leninismo como o único desenvolvimento
legítimo do marxismo, os mencheviques e muitos outros sociais-democratas em
todo o mundo considerou-os desvios totalitários. Depois do marxismo-leninismo,
surgiria o marxismo-leninismo-maoismo, formalizado pelo PC do
Peru-Sendero Luminoso, e do marxismo-leninismo-maoismo, o
marxismo-leninismo-maoísmo-Pensamento Gonzalo se desenvolveria. As diversas compreensões
marxistas da história têm sido adotadas por acadêmicos nas disciplinas
de arqueologia e antropologia, estudos midiáticos, ciência política e
filosofia.
Seria quase impossível Karl Popper
ignorar Victor Adler, político austríaco, líder do movimento operário e
fundador do Partido Socialdemocrata da Áustria, organização nacionalista alemã
liderada por Georg Ritter von Schönerer (1842-1921), movimento que ele deixou quando seu caráter antissemita
se tornou mais pronunciado. Após reunir-se com os socialistas alemães Friedrich
Engels e August Bebel, enquanto viaja pela Alemanha, Suíça e Inglaterra (1883),
Victor Adler tornou-se um socialista dedicado. Depois dessa reunião manteve a
amizade com Engels, correspondendo-se com ele durante toda sua vida. Adler
estudou as ideias políticas de Karl Marx e passou a ser muito ativo na
política. Ele também publicou a revista socialista Gleichheit (“Igualdade”) junto do Editor Bretschneider em 1886, mas
censurada em 1889. Foi o principal responsável por fundar o Partido Socialdemocrata
da Áustria que teve existência entre dezembro 1888 e janeiro de 1889, no qual
ele permaneceu uma figura de liderança. Em 27 de julho de 1914, Adler aparecera exausto e debilitado, em uma reunião de emergência da SegundaInternacionalSocialista
em Bruxelas para fazer o discurso principal.
A Segunda Internacional (1889-1916) representou uma organização dos
partidos socialistas e operários criada principalmente por iniciativa de
Friedrich Engels, por ocasião do Congresso Internacional de Paris, em 14 de
julho de 1889. Do congresso participaram delegações de vinte países. Embora sem
a participação do ainda poderoso movimento anarco-sindicalista e dos
sindicatos, a Segunda Internacional representou a continuidade do trabalho da
extinta Primeira Internacional, dissolvida nos anos 1870, e existiu até 1916. No
período que se seguiu ao colapso da PrimeiraInternacional, os movimentos
trabalhista e socialista cresceram de maneira praticamente independente em cada
país, mantendo apenas uma tênue ligação. Entre 1876 e 1889 não houve vínculo estável. Havia conferências internacionais de
trabalhadores, convocadas ad hoc por
diferentes entidades políticas: 1876, em Berna; 1877, em Ghent; 1881, em Chur;
1883 e 1886, em Paris; 1888, em Londres.
Em 1889 houve um avanço, quando o CongressoInternacional de Paris decidiu promover a realização de congressos
internacionais periodicamente. O Congresso de Paris de fato consistiu de duas
conferências, convocadas separadamente - uma sendo marxista e a outra
possibilista ou moderada. Alguns anarquistas que estiveram presentes ao
congresso, defenderam a concentração da luta dos trabalhadores essencialmente
no terreno econômico, rejeitando a divisão política, mas eles foram excluídos
do congresso, em razão das claras divergências táticas. Posteriormente foram
realizados outros congressos unificados em Bruxelas (1891), em Zurique (1893) e
em Londres (1896). De todo modo, em geral, o ano de 1889 é considerado como o ponto
de partida da Segunda ou “Nova Internacional”, embora somente em 1900, durante
o Congresso de Paris daquele ano, tenha sido adotada uma constituição
definitiva para a NovaInternacional. Foi então criado o Bureau Socialista Internacional,
integrado por representantes de cada seção nacional filiada, com um executivo,
um secretário remunerado e um escritório central. Os membros do Bureau se reuniam pelo menos uma vez por
ano. O escritório central foi instalado em Bruxelas. O presidente, o secretário
e o executivo, encarregados das atividades permanentes da Internacional, eram membros da seção belga. Émile Vandervelde (1866-1938) e Jean Camille Huysmans (1871-1968) do Partido Trabalhista Belga foram o seu presidente e
secretário, respectivamente. Vladimir Ilyich Lenin foi membro desde 1905. Entre
as ações da 2ª Internacional
incluem-se a Declaração do 1º de Maio (1889) como Dia Internacional dos Trabalhadores e, em 1910, a Declaração do 8
de Março como DiaInternacionaldaMulher. A SegundaInternacional iniciou a campanha internacional pela jornada de
trabalho de oito horas.
Comparativamente, tal como a PrimeiraInternacional, no conceito de luta de classes, a Segunda
Internacional orientou-se, até o início do século XX, pelo marxismo. Mas
algumas correntes se desenvolvem à direita da Internacional, pregando o abandono
do princípio segundo o qual “a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos
próprios trabalhadores” - um princípio revolucionário da Primeira Internacional
- e recomendando privilegiar o parlamentarismo e o reformismo. Mas em 1904, o
congresso segue a posição do revolucionário Jules Guesde contra o reformista
Jean Jaurès, escolha oposta ao resultado das eleições, que deram 31 deputados a
Jaurès e 12 a Guesde. Interpretando os sentimentos de muitos presentes, Adler
admitiu que seu partido não pudesse fazer mais nada para impedir a guerra.
Ainda assim durante a 1ª grande guerra trabalhou para uma solução pacífica na
conferência socialista em Estocolmo (1917), mas não condenava a opinião
daqueles que defendiam a guerra, o que lhe causou uma relação tumultuada com
seu filho, Friedrich Adler, que defendia a saída da Áustria e uma solução
pacífica. Friedrich Adler foi responsável por assassinar Karl von Stürgkh, um
político conservador Ministro-Presidente da Cisleitânia e defensor da guerra,
em 21 de outubro de 1916. Entrando no novo governo austríaco em outubro de
1918, defendeu o Anschluss (a
unificação) do Estado austríaco com a Alemanha, mas morreu antes que pudesse
prosseguir nesse projeto, em 11 de novembro de 1918. Até sua morte, Victor Adler
fora considerado o líder socialista austríaco mais proeminente entre as
personalidades no quadro da SegundaInternacionalSocialista.
O assassinato de Jean Jaurès,
líder da Seção Francesa da InternacionalOperária (SFIO), poucos dias antes do
início da guerra, simbolizou o fracasso da doutrina antimilitarista da Segunda
Internacional. Após a irrupção da 1ª grande guerra (1914-18), os líderes socialistas (com
exceção dos russos e do sérvios), votaram a favor dos créditos militares
pedidos pelos respectivos governos. Os militantes fiéis ao internacionalismo e
ao pacifismo denunciaram o que consideraram uma traição por parte da maioria e
militaram contra a guerra, o que provocou a sua exclusão da Segunda
Internacional. Esse foi o caso, por exemplo, de de Rosa Luxemburgo e Karl
Liebknecht, na Alemanha. Alguns desses militantes hostis à guerra seriam mais
tarde chamados comunistas, por oposição aos seus ex-companheiros socialistas.
Outros oponentes da guerra formariam a ala esquerda dos partidos socialistas
(socialistas revolucionários). Durante o conflito, duas conferências - a de
Zimmerwald, em 1915, e, sobretudo a de Kiental, em 1916, ambas na Suíça -
reuniram os militantes da esquerda da Internacional
às vezes excluídos, para se opor à guerra e aos dirigentes socialistas que a
apoiaram. Na Conferência de Zimmerwald, os socialistas contrários à guerra tentaram
manter a unidade internacional contra o social-patriotismo dos dirigentes socialdemocratas.
A SegundaInternacional foi
afinal dissolvida em 1916, dado que os vários partidos nacionais que a
compunham não se mantiveram como uma frente unida contra a guerra, em geral
apoiando as posições dos governos dos respectivos países. A partir de então, a Internacional se manteve apenas
formalmente na Suíça (neutra durante a guerra), como a Internacional de Berna. Em
1920, a SegundaInternacional foi refundada. Alguns partidos socialistas europeus
se recusaram a aderir a essa Internacional,
ressuscitada e fortemente influenciados pelo austromarxismo. Decidiram
formar a União de Partidos Socialistas para a Ação Internacional (UPSAI), que
ficou reconhecida como “Segunda Internacional e meia”, “Internacional dois e meio”
ou, ainda, “União de Viena”. Em 1923, a UPSAI e a SegundaInternacional se
fundiram para formar a Internacional Operária e Socialista, socialdemocrata
que existiu até 1940. Após a 2ª guerra mundial (1941-45) foi constituída uma nova InternacionalSocialista, que mantem a linha política da Internacional Operária
e Socialista até hoje.
É justamente o método de falseamento
que gera o progresso da ciência, segundo Popper, pois ciência significa testar
hipóteses e descartá-las quando demonstradas falsas. Em outras palavras, uma
teoria científica pode ser refutada por uma única observação negativa, mas
nenhuma quantidade de observações positivas poderá garantir que a veracidade de
uma teoria científica seja eterna e imutável. Alguns consideram este aspecto
fulcral para a definição da ciência, chegando a afirmar que
"científico" é apenas aquilo que se sujeita a este confronto com os
factos. Ou seja: afirmam que só é científica aquela teoria que possa ser
falseável (refutável). Existem críticas contundentes quanto a esse aspecto.
Essas remanescem no bojo da própria Filosofia que Popper no âmbito do
conhecimento propõe. E por quê? Ao afirmar que toda e qualquer teoria deve ser
falseável, isso se aplica à própria teoria da falseabilidade de Popper.
A falseabilidade como historismo
deve ser falseável em si mesma.
Diante dessa evidente necessidade
- talvez sob a pena da escrita de sua teoria ser não-universal e portanto derrogada pela sua
imprecisão - poderá existir proposições em que a falseabilidade não é aplicável
(vide teorema da incompletude de Kurt Gödel). Por outro lado, essa crítica
poderia ser vista sob outro prisma: a falseabilidade é um critério metodológico
e prescritivo da ciência, e, portanto, metateórico,
isto é, se trata de uma teoria sobre teorias. Em outras palavras, o critério da
falseabilidade se aplica aos enunciados capazes de serem falsificados pela
experiência, ou seja, os enunciados das ciências empíricas, como a física
experimental e a biologia e não à epistemologia ou à filosofia da ciência.
Popper tendo estudado durante algum tempo os métodos das Ciências da Natureza,
admite que pudesse ser interessante estudar os métodos das Ciências Sociais.
Foi então que se deparou com o problema da tradição. Os anti-racionalistas do
campo da política, da teoria racional, etc., consideram habitualmente que este
problema não pode ser tratado por nenhuma espécie de teoria racional.
A sua atitude consiste em aceitar a
tradição como algo simplesmente dado. Temos de admiti-la; não podemos
racionalizá-la. A tradição desempenha um papel importante na sociedade, e
cabe-nos apenas compreender o seu significado e aceita-la. O nome mais importante
associado a esta perspectiva anti-racionalistas, para Popper, é o de Edmund
Burke, pois ele lutou, como sabem, contra as ideias da Revolução Francesa, e a
sua arma mais eficaz foi a análise da importância desse poder irracional a que
chamamos “tradição”; isto porque ele nunca recebeu uma resposta adequada por
parte dos racionalistas. Em vez de lhe responder, os racionalistas tenderam a
ignorar a sua crítica e a persistir na sua atitude anti-tradicionalista sem
assumir o desafio. Existe, sem dúvida, uma hostilidade tradicional entre
racionalismo e tradicionalismo. Os racionalistas têm tendência a adotar esta
atitude: - Eu não estou interessado na tradição. Quero julgar todas as coisas
pelos seus próprios méritos; quero descobrir os seus méritos e deméritos, e
quero fazê-lo com toda independência de qualquer tradição. Quero julgar pela
minha própria cabeça, e não pelas cabeças de outras pessoas que já viveram há
muito tempo. A questão está longe de ser tão simples quanto esta atitude supõe
é o que ressalta o racionalista, ele próprio, muito condicionado por uma
tradição racionalista que tradicionalmente as diz – o que demonstra a fraqueza de
representação de certas atitudes tradicionais relativamente ao problema da
tradição.
Na interpretação ideológica de Popper, entendida enquanto relação imaginária do homem com as suas condições reais de existência perante
a tradição, só há atitudes fundamentais possíveis. Uma delas é aceitarmos
uma tradição acriticamente, muitas
vezes, sem estarmos sequer, conscientes da sua existência. Em numerosos casos,
não conseguimos escapar a isso, na medida em que, com frequência, nós
simplesmente não nos apercebemos de que estamos face uma tradição (cf. Hacohen, 2000). Se eu uso o
meu relógio no pulso esquerdo, não preciso ter consciência de que estou a
aceitar uma tradição. Fazemos diariamente centenas de coisas sob a influência
de tradições de que não estamos minimamente conscientes. Mas, não sabendo que
estamos a agir sob a influência de uma tradição, não podemos evitar aceita-la
acriticamente. Outra possibilidade é atitude crítica que pode resultar numa rejeição. Ou talvez num compromisso com um pensamento conservador. Temos,
porém, que compreender uma tradição antes de criticá-la. Antes de estarmos em posição de dizer: - “Rejeitamos esta tradição por motivos
de ordem racional”. Para fazê-lo, temos que começar por ter a tradição bem
definida, e temos de compreender, em linhas gerais, qual pode ser a
função e o significado da tradição. Ipso facto é tão importante para os
racionalistas este problema. São pessoas
que estão prontas a desafiar e a criticar tudo, e mais alguma coisa, incluindo a
sua própria tradição.
Bibliografia geral consultada.
SILVA, Ludovico, Anti-Manual. Para Uso de Marxistas, Marxólogos y Marxianos. Caracas: Monte Ávila Editores, 1979; RUIZ, Carlos, “La Epistemologia de Popper y el Neoliberalismo”. In: Critica y Utopia. Buenos Aires, nº 12, 1984; POPPER, Karl, Miséria do Historicismo. São Paulo: Editora Cultrix; São Paulo: Universidade de São Paulo, 1980; Idem, Sociedade Abertae seus Inimigos. 3ª edição. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1987; NEIVA, Eduardo, O Racionalismo Crítico de Popper. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editor, 1999; HACOHEN, Malachi, Karl Popper - The Formative Years, 1902-1945. Cambridge: Cambridge University Press, 2000; RAPHAEL, Frederic, Popper. O Historicismo e sua Miséria. São Paulo: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2000; KRIEGER, Cesar Amorim,
A Consolidação do Direito Internacional Humanitário: Precedente do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha e a Contribuição Definitiva da Convenção de Roma
de 1998. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Centro de
Ciências Jurídicas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2002; LAURENTI, Carolina, Hume, Mach e Skinner: A Explicação do Comportamento. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia e Metodologia das Ciências. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2004; ARON, Raymond, “Introdução - Sobre a Dificuldade de Interpretar Marx”. In: O Marxismo de Marx. São Paulo: Editora Arx, 2005; SERPA, Luiz Gustavo Martins, A Sociedade Aberta e seus Amigos: O Conceito de Sociedade Aberta no Pensamento Político de Karl Popper, Schumpeter, Hayek e Von Mises. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Ciência Política. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007; DELIBES, Alicia, “El Anti-Marxismo de Karl Popper”. Disponível em: http://www.redfloridablanca/23/11/2015; OLIVEIRA, André Silva de, O Paradoxo da Regulação Estatal do Livre Mercado em Karl Popper e Friedrich Hayek: O Desafio da Revitalização do Liberalismo no Mundo Globalizado. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2017; BELLI, Rodrigo Bischoff, O Irracionalismo como Ideologia do Capital: Análise de suas Expressões Ideológicas Fascista e Pós-Modernista. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais. Marília: Universidade Estadual Paulista, 2017; entre outros.
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