Ubiracy de Souza
Braga
“O menor desvio inicial da verdade
multiplica-se ao infinito à medida que avança”. Aristóteles
O maior problema com a rede não
convencional de informações e o problema que lhe confere sua reputação negativa
são os boatos. A palavra “boato” algumas vezes é utilizada como sinônima de “grapevine”
(boato, ou como se diz: à boca pequena) transmitida fora dos padrões de segurança e sem a apresentação de evidências.
Ele é a parte não verificável e inverídica do grapevine. Ele poderia eventualmente, estar correto, mas isso,
geralmente não acontece, pois, trata-se de um tipo de informação indesejável.
O boato é essencialmente, o resultado
do interesse e da ambiguidade existentes em uma situação. Se a matéria em
discussão, sociologicamente é irrelevante ou não possui interesse para o
indivíduo, não lhe interessa absolutamente passar adiante boatos sobre ela.
Como os boatos dependem em grande medida, da ambiguidade das palavras e do interesse que
cada indivíduo possui, eles tendem a modificar-se, ao serem transmitidos em
grupo de uma pessoa para outra.
Seu
tema geral é normalmente mantido, mas não seus detalhes que possam ser
lembrados e passados adiante. Geralmente, as pessoas escolhem quais detalhes do
boato se ajustam a seus próprios interesses e visões de mundo. A fofoca
consiste não somente no ato social e político de fazer afirmações não baseadas
em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia, mas também em
divulgar fatos verídicos da vida de outras pessoas sem os consentimentos das
mesmas, independente da intenção de difamação ou de um simples comentário sem
fins malignos. Presente ao longo de toda a história, tal ato é frequentemente
ligado erroneamente à imagem das mulheres. O historiador Bernard Capp, da
Universidade de Warwick, no Reino Unido, afirma que “a rainha inglesa Elizabeth
I, por exemplo, foi intenso alvo de fofocas entre 1560 e 1570”. Embora
associado a um hábito feminino, estatisticamente os homens são mais fofoqueiros
e intrigantes. A Social Issues Research
Centre (Londres) entrevistou 1.000 donos de telefones celulares com o
intuito de saber qual era o teor das conversas. Destes, 33% dos homens eram
fofoqueiros habituais, contra apenas 26% das mulheres.
Do
ângulo da análise comparada a área urbana em que se concentram as quatro
principais universidades públicas no estado do Ceará, na cidade de Fortaleza,
sem temor a erro, podem ser identificadas no plano das ideias à Faixa de Gaza,
no âmbito da diversidade e diferença, pois, é um território palestino composto
por uma estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar
Mediterrâneo, no Oriente Médio, que faz fronteira com o Egito no sudoeste (11
km) e com Israel no leste e no norte (51 km). O território tem 41 quilômetros
de comprimento e apenas de 6 a 12 km de largura, com uma área total de 365 km².
A população da Faixa de Gaza é de cerca de 1,7 milhão de pessoas. A de
Fortaleza 2 609 716 habitantes estimados em 2016. Apesar da maior parte da população ter
nascido na Faixa de Gaza, uma grande porcentagem se identifica como refugiados
palestinos, que fugiram para Gaza durante o êxodo palestino que ocorreu após a
guerra árabe-israelense de 1948. A população é predominantemente muçulmana
sunita. Com uma taxa de crescimento anual de cerca de 3,2%, a Faixa de Gaza tem
a 7ª maior taxa de crescimento demográfico do mundo, além de ser um dos
territórios mais densamente povoados do planeta. A área sofre uma escassez
crônica de água e praticamente não tem indústrias. A infraestrutura é precária,
e quase nada foi refeito após os bombardeios israelenses de 2008-2009. A
designação Faixa de Gaza deriva do
nome da sua principal cidade, Gaza, cuja existência remonta historicamente à Antiguidade.
O
culto social da indiferença de classe representa o hábito de estupidez de uma
sociedade que perdeu o sentido de comunidade. O consumo é o leitmotiv do
progresso que faz da cidade um lugar passageiro. Onde tudo pode ser destruído e
reconstruído a qualquer momento, onde as histórias são substituídas por outras
sem perspectiva de futuro. A forma do urbano, sua razão suprema, a saber, a
simultaneidade e o encontro aparente não podem desaparecer. A cidade é fora de
dúvida a maior vitrine, onde os episódios cotidianos da existência material são
vividos e observados na indiferença da reprodução do capital. A ocupação
divertida do urbano, por uma população sonhadora movida pelo acaso de viver o
imprevisível, é descartada pela cidade contemporânea. A cidade é o palco da
reprodução do capital cultural dominante. Onde tudo se descobre, se reinventa,
e se apaga na mesma velocidade de espaço e tempo. Tudo é vivido na condição de
“espetáculo” como se a vida fosse um conjunto de cenas de teatro. A favela é
fruto da falta de observação de que o operário existe na construção civil
violentada pelo processo de trabalho, mas irradiada pela visão popular do cantor, poeta e escritor Chico Buarque. Ele é um ator, construtor social e sua
realidade não é virtual.
Tem-se
aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo. Ela
não constitui um exercício da solidão; mas sim uma verdadeira prática social. E
isso, em vários sentidos. Mas toda essa aplicação a si não possuía como único
suporte social a existência das escolas, do ensino e dos profissionais da
direção da alma; ela encontrava, facilmente, seu apoio em todo o feixe de
relações habituais de parentesco, de amizade ou de obrigação. Quando, no
exercício do cuidado de si, faz-se apelo a um outro, o qual advinha-se que
possui aptidão para dirigir e para aconselhar, faz-se uso de um direito; e é um
dever que se realiza quando se proporciona ajuda a um outro ou quando se recebe
com gratidão as lições que ele pode dar. Acontece também do jogo entre os
cuidados de si e a ajuda do outro inserir-se em relações preexistentes às quais
ele dá uma nova coloração e um calor maior. O cuidado de si, ou os cuidados que
se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos, aparece então como
uma intensificação das relações sociais. Sêneca dedica um consolo à sua mãe, no
momento em que ele próprio está no exílio, para ajudá-la a suportar essa
infelicidade e, talvez, infortúnios maiores. O “cuidado de si” aparece,
portanto, intrinsecamente ligado a uma espécie de “serviço da alma” que
comporta as condições e possibilidades de um fairplay de trocas com o outro e de um sistema ideológico e mesmo cultural repleto de obrigações
recíprocas.
Sem
temor a erro na vida cotidiana das cidades metropolitanas ao conceito de
autonomia, onde o ente possui arbítrio e pode expressar sua vontade livremente,
opondo-se também a noção de marginalidade que representa a ausência de regras.
A heteronomia é a característica da norma jurídica que estabelece que esta se
imponha à vontade sobre as vontades. Sendo exterior a ela, está diante do
cinismo e da violência do Estado criada onde a consciência moral, em
determinadas condições sociais e políticas evolui da heteronímia para a
autonomia. Significa que a sujeição às normas jurídicas não está dependente do
livre arbítrio de quem a elas está sujeito. Sua verificabilidade refere-se a
uma imposição exterior de que decorre da sua natureza obrigatória. Na América
Latina a heteronomia foi imposta pelos colonizadores e pela Igreja católica,
resultando em uma cultura paternalista, sectária, alienada, irracional,
acrítica, com dependência emocional criativa. Ao invés de buscar autonomia
adere-se aos valores condicionados pelo jugo opressor e a imitá-lo como
representação da opressão. O tecido das relações sociais deve ser entremeado de
lealdade, transparência e franqueza.
Geralmente
os homens fofocam sobre o ambiente de
trabalho, gafe de colegas e principalmente sobre mulheres. Também vale
ressaltar as razões que levam a fofoca: entre as mulheres, em geral, é uma
maneira de passar o tempo, enquanto para os homens pode servir, além de pura
informação, como meio de autoafirmação perante o círculo de amigos e colegas. Curiosamente,
muitos dos participantes do sexo masculino desta pesquisa inicialmente alegaram
que não fofocavam, enquanto quase a totalidade das mulheres prontamente admitia
fazer fofoca. Em novo interrogatório, no entanto, a diferença parece ser mais
uma questão de semântica do que material: o que as mulheres estavam felizes de
chamar de “fofocas”, os homens pragmaticamente definiam como “troca de
informações”. Um participante do sexo masculino, de forma mais honesta,
confidenciou: - “Nós não gostamos de chamar de fofoca, porque soa trivial -
como se você não tivesse nada melhor para fazer”. Um dos traços sociais mais
populares há séculos, a fofoca já interferiu nos rumos da história em múltiplos
e variados sentidos. A realidade do campo é sua perturbação peculiar de
conjunto, é a onda que se mantém com características físicas mesmo quando
afastada dos pontos materiais que a geram.
Vejamos
um exemplo conspícuo, aparentemente invisível, pois, segundo Lopes (1997: 202):
“Um boato lançado em Washington chega muito rapidamente a Nova York, embora nem
uma só das pessoas que se incumbiram de espalhá-lo tenha viajado entre essas
duas cidades. Estão envolvidos dois movimentos inteiramente diferentes: o do
boato, de Washington para Nova York, e o das pessoas que o espalharam. O vento,
passando sobre um campo de trigo, cria uma onda que se espalha por todo o
trigal. Devemos novamente distinguir, aqui, entre o movimento da onda e o das
plantas agitadas, as quais sofrem apenas oscilações (...). o movimento da onda,
observado, é o de um estado da matéria e não da matéria em si”. Tal agitação,
como uma estrutura energética percorrendo sua trajetória em movimento
constante, mostra-se em ritmada expansão e contração. A realidade do campo é
sua perturbação peculiar de conjunto, é a onda que se mantem desta forma. A
coisa nova é que pela primeira vez consideramos o movimento de algo que não é matéria, mas energia propagada através
da matéria. Também por ser entendido como “hoax”, uma palavra em inglês que
significa embuste ou farsa. Um “hoax” é uma mentira elaborada que tem como
objetivo enganar pessoas.
Um
homem atacado por um acesso de raiva é afetado de maneira muito diferente de
outro que apenas pensa nessa emoção. Se me dizem que certa pessoa está
apaixonada, entendo facilmente o que se quer dizer e faço uma ideia adequada da
situação dessa pessoa, mas jamais confundiria essa ideia com os tumultos e
agitações reais da paixão shakespeariana. Quando refletimos sobre as nossas
experiências e afetos passados, sobre a nossa vida e a condição do trabalho em
que estamos submetidos, o nosso pensamento age como um espelho fiel e copia
corretamente os objetos, mas as cores que emprega são pálidas e sem brilho em
comparação com aquelas de que estavam revestidas as nossas percepções
originais. Não se exige qualquer refinamento, discernimento, ou mesmo a grande
capacidade metafísica para assinalar a diferença.
Ou
o discurso de esquerda perdeu definitivamente as suas defesas ou é o clima de comunicação instalado,
no âmbito do Estado de desgaste e saturação dos valores nacionais e
democráticos, que começam a instigar os novos arautos das ideias protofascistas
do século XXI que se encontram vigilantes em cada esquina, em cada instituição.
Estamos diante num ponto de indefinição e de viragem particularmente
preocupante. Mas as conjunturas políticas de crise têm pelo menos o condão de
demarcar posições e separar as águas. A atual contradição não é apenas entre a
esquerda e a direita, mas também entre a memória, a história e o esquecimento e
entre o “futuro da democracia”, para lembrarmo-nos de Norberto Bobbio e o
regresso ao elitismo fascizante. Foram as ideias e as políticas dominantes na
Europa e o neoliberalismo que nela vingou nas últimas décadas que conduziram ao
estado em que nos encontramos. O paradoxo constatado no plano global constitui
a coexistência da homogeneização e dos particularismos. É encontrado no plano
local que tem por campo de ação o planeta no seu conjunto, considerado como um
mercado, uma zona de extensão, um local de concorrência ou de parceria, apesar
de coexistirem de maneira espetacular diferentes origens, línguas e culturas. A
particularidade diz respeito ao fato de saber o que acontece com nossa relação
com o real quando mudam as condições
da simbolização.
Daí
a importância sociológica em descrever e explicar no campo da imagem, de sua
produção, recepção, influência, de sua relação com o sonho, o devaneio, a
criação e a ficção, a substituição das mediações complexas pelos meios de
comunicação, posto que contenha em si uma possibilidade de violência, que hoje
afeta, contamina e penetra a vida social. A sociologia não confunde a prática
dos rituais com seu sentido. Seria preciso mencionar, assim, todos os casos de ficcionalização do real que correspondem
a uma verdadeira revolução, a partir do momento em que não é mais a ficção que
imita o real, mas o real que reproduz a ficção. Essa ficcionalização liga-se,
antes de tudo, à extrema abundância de imagens e à abstração do olhar que a
precede. A imagem televisiva no cinema, na residência familiar equaliza os
acontecimentos sociais sem poder jogar, como a imprensa escrita, com a
paginação e a diferença de caracteres: as imagens se sucedem ininterruptamente.
Constatamos simplesmente que a fronteira entre real e ficção, o imaginário individual
(os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) no âmbito da sociedade
se faz menos nítida e que o autor, mesmo que exista, está aparentemente ausente
da produção de conhecimento. Outros sinais indicam que a ficcionalização do
mundo está a caminho e que ela não passa unicamente pela imagem.
Os
símbolos permitem que um ator compreenda uma pessoa que conhece, a qualquer
tempo, mediante uma comparação entre tipos de conduta e de aparência, com base
em experiências prévias de como se comportam outras pessoas. Se um indivíduo é
totalmente desconhecido, os observadores podem obter, a partir de sua conduta e
aparência, indicações que lhes permitam utilizar uma experiência anterior, que
tenha tido com indivíduos aproximadamente parecidos, e aplicar-lhes
estereótipos não comprovados. A informação a respeito do indivíduo serve para
definir a situação, tornando os outros capazes de conhecer o que deles se pode
esperar. Assim informados, saberão qual a melhor maneira de agir para dele
obter uma resposta desejada e, além disso, para dirigir inteligentemente sua
própria atividade. As máscaras, constituem uma ferramenta expressiva
padrão. Elas são compostas por uma ambientação, uma aparência e modelos.
Como os modelos se constroem mediante a ambientação e a aparências, os signos e
o status social desempenham um papel decisivo.
Ao
que parece o ator, queira ou não, está orientado de acordo com um conjunto de
restrições culturais. Podemos citar também um processo identificado por Erving Goffman
de institucionalização das máscaras sociais, que seriam “expectativas abstratas
e estereotipadas” sobre um papel específico. A máscara se converteria então, em
uma representação coletiva uma vez que estas são construídas em “performances”
individuais que não são mais do que a forma ou expressão dessas representações
coletivas individualizadas e personalizadas com as características de cada
indivíduo. Quando, o professor que é um ator social adentra um grupo social
específico, a universidade, encontra correspondência na fixação de uma máscara
particular. Goffman chega a sugerir o caráter abstrato e geral das máscaras
sociais e as converte em veículos ideais no processo de socialização. Através
das máscaras sociais a atuação é adaptada a compreensão e as
expectativas da sociedade na qual se apresenta. Ipso facto, sobre estas
notas sobre a tópica do boato, vale lembrar na perspectiva nietzschiana o aforisma: - “O homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há
para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para
ouvir”.
Bibliografia
geral consultada:
ALLPORT, Gordon
Willard; POSTMAN, Leo Joseph, Psicología del Rumor.
Buenos Aires: Ediciones Psiquê, 1953; GOFFMAN, Erving, The Presentation of Self in Everyday life.
New York: Anchor
Books, 1959; MORIN, Edgar, La Rumeur
d’Orléans. Paris: Éditions du Seuil, 1969; CASTELLS,
Manuel, City, Class and Power. London; New York, MacMillan;
St. Martins Press, 1978; DUPUY, Jean, El Pánico. 1ª edicíon. Barcelona: Ediciones Gedisa, 1999; KAPFERER, Jean Noel, Boatos: O mais Antigo Mídia do Mundo. 1ª edição. Rio de Janeiro:
Editora Forense Universitária, 1993; LOPES, João Aloísio, Lições de Transitologia. Introdução a uma Teoria Geral da Comunicação
que Procura Compreender, num Enfoque Sócio-Tecnológico, como as Coisas Falam.
Tese de Livre Docência. São Paulo: EDICON: ECA/USP, 1997; LE GOFF, Jacques, Pour l`Amour des Villes. París: Éditions
Textuel, 1997; MARTINS, Valdir, O Boato como Simulacro: Uma Investigação sobre a Comunicação no Mercado
Financeiro. Tese de Doutorado. Programa de
Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2008; KASHER, Asa, “Analysis: A Moral Evaluation of the
Gaza War”. Disponível em: http://www.jpost.com/February (7) 2010; CRUZ,
Fábio Marques da, O Boato na Bolsa de
Valores: Um Estudo sobre as Ações com Maior Volume Financeiro entre 2007 e 2011.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação. Salvador: Instituto de Ciência da Informação da Universidade
Federal da Bahia, 2013; entre outros.
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