domingo, 9 de abril de 2017

A Teoria do Boato & Impossibilidade Fora do Vídeo.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga
 
“O menor desvio inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança”. Aristóteles
 
  

                    
            O maior problema com a rede não convencional de informações e o problema que lhe confere sua reputação negativa são os boatos. A palavra “boato” algumas vezes é utilizada como sinônima de “grapevine” (boato, ou como se diz: à boca pequena) transmitida fora dos padrões de segurança e sem a apresentação de evidências. Ele é a parte não verificável e inverídica do grapevine. Ele poderia eventualmente, estar correto, mas isso, geralmente não acontece, pois, trata-se de um tipo de informação indesejável. O boato é essencialmente, o resultado do interesse e da ambiguidade existentes em uma situação. Se a matéria em discussão, sociologicamente é irrelevante ou não possui interesse para o indivíduo, não lhe interessa absolutamente passar adiante boatos sobre ela. Como os boatos dependem em grande medida, da ambiguidade das palavras e do interesse que cada indivíduo possui, eles tendem a modificar-se, ao serem transmitidos em grupo de uma pessoa para outra.  
Seu tema geral é normalmente mantido, mas não seus detalhes que possam ser lembrados e passados adiante. Geralmente, as pessoas escolhem quais detalhes do boato se ajustam a seus próprios interesses e visões de mundo. A fofoca consiste não somente no ato social e político de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia, mas também em divulgar fatos verídicos da vida de outras pessoas sem os consentimentos das mesmas, independente da intenção de difamação ou de um simples comentário sem fins malignos. Presente ao longo de toda a história, tal ato é frequentemente ligado erroneamente à imagem das mulheres. O historiador Bernard Capp, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, afirma que “a rainha inglesa Elizabeth I, por exemplo, foi intenso alvo de fofocas entre 1560 e 1570”. Embora associado a um hábito feminino, estatisticamente os homens são mais fofoqueiros e intrigantes. A Social Issues Research Centre (Londres) entrevistou 1.000 donos de telefones celulares com o intuito de saber qual era o teor das conversas. Destes, 33% dos homens eram fofoqueiros habituais, contra apenas 26% das mulheres.

           
Do ângulo da análise comparada a área urbana em que se concentram as quatro principais universidades públicas no estado do Ceará, na cidade de Fortaleza, sem temor a erro, podem ser identificadas no plano das ideias à Faixa de Gaza, no âmbito da diversidade e diferença, pois, é um território palestino composto por uma estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo, no Oriente Médio, que faz fronteira com o Egito no sudoeste (11 km) e com Israel no leste e no norte (51 km). O território tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 km de largura, com uma área total de 365 km². A população da Faixa de Gaza é de cerca de 1,7 milhão de pessoas. A de Fortaleza 2 609 716 habitantes estimados em 2016.  Apesar da maior parte da população ter nascido na Faixa de Gaza, uma grande porcentagem se identifica como refugiados palestinos, que fugiram para Gaza durante o êxodo palestino que ocorreu após a guerra árabe-israelense de 1948. A população é predominantemente muçulmana sunita. Com uma taxa de crescimento anual de cerca de 3,2%, a Faixa de Gaza tem a 7ª maior taxa de crescimento demográfico do mundo, além de ser um dos territórios mais densamente povoados do planeta. A área sofre uma escassez crônica de água e praticamente não tem indústrias. A infraestrutura é precária, e quase nada foi refeito após os bombardeios israelenses de 2008-2009. A designação Faixa de Gaza deriva do nome da sua principal cidade, Gaza, cuja existência remonta historicamente à Antiguidade.
O culto social da indiferença de classe representa o hábito de estupidez de uma sociedade que perdeu o sentido de comunidade. O consumo é o leitmotiv do progresso que faz da cidade um lugar passageiro. Onde tudo pode ser destruído e reconstruído a qualquer momento, onde as histórias são substituídas por outras sem perspectiva de futuro. A forma do urbano, sua razão suprema, a saber, a simultaneidade e o encontro aparente não podem desaparecer. A cidade é fora de dúvida a maior vitrine, onde os episódios cotidianos da existência material são vividos e observados na indiferença da reprodução do capital. A ocupação divertida do urbano, por uma população sonhadora movida pelo acaso de viver o imprevisível, é descartada pela cidade contemporânea. A cidade é o palco da reprodução do capital cultural dominante. Onde tudo se descobre, se reinventa, e se apaga na mesma velocidade de espaço e tempo. Tudo é vivido na condição de “espetáculo” como se a vida fosse um conjunto de cenas de teatro. A favela é fruto da falta de observação de que o operário existe na construção civil violentada pelo processo de trabalho, mas irradiada pela visão popular do cantor, poeta e escritor Chico Buarque. Ele é um ator, construtor social e sua realidade não é virtual.
Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo. Ela não constitui um exercício da solidão; mas sim uma verdadeira prática social. E isso, em vários sentidos. Mas toda essa aplicação a si não possuía como único suporte social a existência das escolas, do ensino e dos profissionais da direção da alma; ela encontrava, facilmente, seu apoio em todo o feixe de relações habituais de parentesco, de amizade ou de obrigação. Quando, no exercício do cuidado de si, faz-se apelo a um outro, o qual advinha-se que possui aptidão para dirigir e para aconselhar, faz-se uso de um direito; e é um dever que se realiza quando se proporciona ajuda a um outro ou quando se recebe com gratidão as lições que ele pode dar. Acontece também do jogo entre os cuidados de si e a ajuda do outro inserir-se em relações preexistentes às quais ele dá uma nova coloração e um calor maior. O cuidado de si, ou os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos, aparece então como uma intensificação das relações sociais. Sêneca dedica um consolo à sua mãe, no momento em que ele próprio está no exílio, para ajudá-la a suportar essa infelicidade e, talvez, infortúnios maiores. O “cuidado de si” aparece, portanto, intrinsecamente ligado a uma espécie de “serviço da alma” que comporta as condições e possibilidades de um fairplay de trocas com o outro e de um sistema ideológico  e mesmo cultural repleto de obrigações recíprocas. 



Sem temor a erro na vida cotidiana das cidades metropolitanas ao conceito de autonomia, onde o ente possui arbítrio e pode expressar sua vontade livremente, opondo-se também a noção de marginalidade que representa a ausência de regras. A heteronomia é a característica da norma jurídica que estabelece que esta se imponha à vontade sobre as vontades. Sendo exterior a ela, está diante do cinismo e da violência do Estado criada onde a consciência moral, em determinadas condições sociais e políticas evolui da heteronímia para a autonomia. Significa que a sujeição às normas jurídicas não está dependente do livre arbítrio de quem a elas está sujeito. Sua verificabilidade refere-se a uma imposição exterior de que decorre da sua natureza obrigatória. Na América Latina a heteronomia foi imposta pelos colonizadores e pela Igreja católica, resultando em uma cultura paternalista, sectária, alienada, irracional, acrítica, com dependência emocional criativa. Ao invés de buscar autonomia adere-se aos valores condicionados pelo jugo opressor e a imitá-lo como representação da opressão. O tecido das relações sociais deve ser entremeado de lealdade, transparência e franqueza.           
Geralmente os homens fofocam sobre o ambiente de trabalho, gafe de colegas e principalmente sobre mulheres. Também vale ressaltar as razões que levam a fofoca: entre as mulheres, em geral, é uma maneira de passar o tempo, enquanto para os homens pode servir, além de pura informação, como meio de autoafirmação perante o círculo de amigos e colegas. Curiosamente, muitos dos participantes do sexo masculino desta pesquisa inicialmente alegaram que não fofocavam, enquanto quase a totalidade das mulheres prontamente admitia fazer fofoca. Em novo interrogatório, no entanto, a diferença parece ser mais uma questão de semântica do que material: o que as mulheres estavam felizes de chamar de “fofocas”, os homens pragmaticamente definiam como “troca de informações”. Um participante do sexo masculino, de forma mais honesta, confidenciou: - “Nós não gostamos de chamar de fofoca, porque soa trivial - como se você não tivesse nada melhor para fazer”. Um dos traços sociais mais populares há séculos, a fofoca já interferiu nos rumos da história em múltiplos e variados sentidos. A realidade do campo é sua perturbação peculiar de conjunto, é a onda que se mantém com características físicas mesmo quando afastada dos pontos materiais que a geram.
Vejamos um exemplo conspícuo, aparentemente invisível, pois, segundo Lopes (1997: 202): “Um boato lançado em Washington chega muito rapidamente a Nova York, embora nem uma só das pessoas que se incumbiram de espalhá-lo tenha viajado entre essas duas cidades. Estão envolvidos dois movimentos inteiramente diferentes: o do boato, de Washington para Nova York, e o das pessoas que o espalharam. O vento, passando sobre um campo de trigo, cria uma onda que se espalha por todo o trigal. Devemos novamente distinguir, aqui, entre o movimento da onda e o das plantas agitadas, as quais sofrem apenas oscilações (...). o movimento da onda, observado, é o de um estado da matéria e não da matéria em si”. Tal agitação, como uma estrutura energética percorrendo sua trajetória em movimento constante, mostra-se em ritmada expansão e contração. A realidade do campo é sua perturbação peculiar de conjunto, é a onda que se mantem desta forma. A coisa nova é que pela primeira vez consideramos o movimento de algo que não é matéria, mas energia propagada através da matéria. Também por ser entendido como “hoax”, uma palavra em inglês que significa embuste ou farsa. Um “hoax” é uma mentira elaborada que tem como objetivo enganar pessoas.        
Um homem atacado por um acesso de raiva é afetado de maneira muito diferente de outro que apenas pensa nessa emoção. Se me dizem que certa pessoa está apaixonada, entendo facilmente o que se quer dizer e faço uma ideia adequada da situação dessa pessoa, mas jamais confundiria essa ideia com os tumultos e agitações reais da paixão shakespeariana. Quando refletimos sobre as nossas experiências e afetos passados, sobre a nossa vida e a condição do trabalho em que estamos submetidos, o nosso pensamento age como um espelho fiel e copia corretamente os objetos, mas as cores que emprega são pálidas e sem brilho em comparação com aquelas de que estavam revestidas as nossas percepções originais. Não se exige qualquer refinamento, discernimento, ou mesmo a grande capacidade metafísica para assinalar a diferença. 
Ou o discurso de esquerda perdeu definitivamente as suas defesas ou é o clima de comunicação instalado, no âmbito do Estado de desgaste e saturação dos valores nacionais e democráticos, que começam a instigar os novos arautos das ideias protofascistas do século XXI que se encontram vigilantes em cada esquina, em cada instituição. Estamos diante num ponto de indefinição e de viragem particularmente preocupante. Mas as conjunturas políticas de crise têm pelo menos o condão de demarcar posições e separar as águas. A atual contradição não é apenas entre a esquerda e a direita, mas também entre a memória, a história e o esquecimento e entre o “futuro da democracia”, para lembrarmo-nos de Norberto Bobbio e o regresso ao elitismo fascizante. Foram as ideias e as políticas dominantes na Europa e o neoliberalismo que nela vingou nas últimas décadas que conduziram ao estado em que nos encontramos. O paradoxo constatado no plano global constitui a coexistência da homogeneização e dos particularismos. É encontrado no plano local que tem por campo de ação o planeta no seu conjunto, considerado como um mercado, uma zona de extensão, um local de concorrência ou de parceria, apesar de coexistirem de maneira espetacular diferentes origens, línguas e culturas. A particularidade diz respeito ao fato de saber o que acontece com nossa relação com o real quando mudam as condições da simbolização.
Daí a importância sociológica em descrever e explicar no campo da imagem, de sua produção, recepção, influência, de sua relação com o sonho, o devaneio, a criação e a ficção, a substituição das mediações complexas pelos meios de comunicação, posto que contenha em si uma possibilidade de violência, que hoje afeta, contamina e penetra a vida social. A sociologia não confunde a prática dos rituais com seu sentido. Seria preciso mencionar, assim, todos os casos de ficcionalização do real que correspondem a uma verdadeira revolução, a partir do momento em que não é mais a ficção que imita o real, mas o real que reproduz a ficção. Essa ficcionalização liga-se, antes de tudo, à extrema abundância de imagens e à abstração do olhar que a precede. A imagem televisiva no cinema, na residência familiar equaliza os acontecimentos sociais sem poder jogar, como a imprensa escrita, com a paginação e a diferença de caracteres: as imagens se sucedem ininterruptamente. Constatamos simplesmente que a fronteira entre real e ficção, o imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) no âmbito da sociedade se faz menos nítida e que o autor, mesmo que exista, está aparentemente ausente da produção de conhecimento. Outros sinais indicam que a ficcionalização do mundo está a caminho e que ela não passa unicamente pela imagem.
 

 
Os símbolos permitem que um ator compreenda uma pessoa que conhece, a qualquer tempo, mediante uma comparação entre tipos de conduta e de aparência, com base em experiências prévias de como se comportam outras pessoas. Se um indivíduo é totalmente desconhecido, os observadores podem obter, a partir de sua conduta e aparência, indicações que lhes permitam utilizar uma experiência anterior, que tenha tido com indivíduos aproximadamente parecidos, e aplicar-lhes estereótipos não comprovados. A informação a respeito do indivíduo serve para definir a situação, tornando os outros capazes de conhecer o que deles se pode esperar. Assim informados, saberão qual a melhor maneira de agir para dele obter uma resposta desejada e, além disso, para dirigir inteligentemente sua própria atividade. As máscaras, constituem uma ferramenta expressiva padrão. Elas são compostas por uma ambientação, uma aparência e modelos. Como os modelos se constroem mediante a ambientação e a aparências, os signos e o status social desempenham um papel decisivo.
Ao que parece o ator, queira ou não, está orientado de acordo com um conjunto de restrições culturais. Podemos citar também um processo identificado por Erving Goffman de institucionalização das máscaras sociais, que seriam “expectativas abstratas e estereotipadas” sobre um papel específico. A máscara se converteria então, em uma representação coletiva uma vez que estas são construídas em “performances” individuais que não são mais do que a forma ou expressão dessas representações coletivas individualizadas e personalizadas com as características de cada indivíduo. Quando, o professor que é um ator social adentra um grupo social específico, a universidade, encontra correspondência na fixação de uma máscara particular. Goffman chega a sugerir o caráter abstrato e geral das máscaras sociais e as converte em veículos ideais no processo de socialização. Através das máscaras sociais a atuação é adaptada a compreensão e as expectativas da sociedade na qual se apresenta. Ipso facto, sobre estas notas sobre a tópica do boato, vale lembrar na perspectiva nietzschiana o aforisma: - “O homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir”.
Bibliografia geral consultada:
 
ALLPORT, Gordon Willard; POSTMAN, Leo Joseph, Psicología del Rumor. Buenos Aires: Ediciones Psiquê, 1953; GOFFMAN, Erving, The Presentation of Self in Everyday life. New York: Anchor Books, 1959; MORIN, Edgar, La Rumeur d’Orléans. Paris: Éditions du Seuil, 1969; CASTELLS, Manuel, City, Class and Power. London; New York, MacMillan; St. Martins Press, 1978; DUPUY, Jean, El Pánico. 1ª edicíon. Barcelona: Ediciones Gedisa, 1999; KAPFERER, Jean Noel, Boatos: O mais Antigo Mídia do Mundo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1993; LOPES, João Aloísio, Lições de Transitologia. Introdução a uma Teoria Geral da Comunicação que Procura Compreender, num Enfoque Sócio-Tecnológico, como as Coisas Falam. Tese de Livre Docência. São Paulo: EDICON: ECA/USP, 1997; LE GOFF, Jacques, Pour l`Amour des Villes. París: Éditions Textuel, 1997; MARTINS, Valdir, O Boato como Simulacro: Uma Investigação sobre a Comunicação no Mercado Financeiro. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008; KASHER, Asa, “Analysis: A Moral Evaluation of the Gaza War”. Disponível em: http://www.jpost.com/February (7) 2010; CRUZ, Fábio Marques da, O Boato na Bolsa de Valores: Um Estudo sobre as Ações com Maior Volume Financeiro entre 2007 e 2011. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Salvador: Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia, 2013; entre outros.

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