terça-feira, 25 de abril de 2017

Hannah Arendt - Cinema, Assimilação & Banalidade do Mal

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga
 
“Nas fotos de sua juventude Arendt transmite uma expressão de inteligência e paixão”. Molina (2016)

Hannah Arendt, nascida como Johanna Arendt, Linden-Limmer, atualmente bairro de Hanôver, Alemanha, em 14 de outubro de 1906 e falecida em Nova Iorque, em 4 de dezembro de 1975, foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. A privação de direitos e a perseguição na Alemanha de pessoas de origem judaica a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, obrigou-a decidir emigrar. O regime nacional-socialista retirou a nacionalidade sua nacionalidade em 1937, “o que lhe tornou apátrida até conseguir a nacionalidade estadunidense em 1951”. Trabalhou, entre outras atividades, como jornalista e professora universitária e publicou obras importantes sobre filosofia política. Foi a primeira intelectual contemporânea a entender que o imperialismo não se limitava ao expansionismo dos grandes grupos econômicos, tal como antes entenderam John A. Hobson, Rosa Luxemburgo e Vladimir Lenin, ou simplesmente Lenine, por exemplo. Compreendera o nível de análise através do afeto, iniciando uma sociologia das emoções primordialmente como resultado do amor ao mundo. Estava certa de que os males humanos não deixarão de nos fazer companhia e que a alternativa é o fortalecimento das instituições públicas, o envolvimento dos cidadãos na vida política e o desenvolvimento de virtudes associadas à cidadania. Como a probidade moral e a participação estavam fundadas na constatação de que o privatismo típico do homem moderno, a sua ocupação exclusivamente com seus próprios assuntos privados – com infeliz repercussão ainda em nossos tempos sombrios – apenas reforça o temor de que não haja resistência aos ataques que são desferidos contra o domínio público, seja por movimentos totalitários, seja tout court por interesses privados ou corporativos. Tal pragmatismo promove uma apolitia que se associa à incapacidade de conceber sentido de público que não equivalha à soma total dos interesses privados.


                         
Melhor dizendo, o indivíduo privatista é o mesmo que pensa ser justificada a existência do espaço público apenas na medida em que satisfaz os interesses dos indivíduos privados. O mesmo indivíduo que tolera, admite e recomenda a privatização da vida pública em que seus representantes aparentemente se constituam em modelos de probidade. Na esfera pública da cidadania comparativamente, não obstante, quase sempre confunde princípios políticos com metas econômicas e está disposto a abrir mão da aparente moralidade e pudor quando um representante qualquer demonstra ser um bom administrador. O mesmo que exige probidade moral e pública e desrespeita as regras mínimas da convivenciabilidade em nome da satisfação de interesses privados. A distorção entre o campo social e o político decorre da moderna concepção da sociedade, a qual encara a política como um simples espaço de regulação da esfera privada. O Estado nacional tende a regular a vida doméstica mediante o controle social sobre a família e a administração da vida privada. Trata-se de um processo contraditório, pois originariamente a economia pertencia ao domínio do chefe da família e a política à cidadania na polis. A esfera privada da família, fenômeno pré-político na Grécia Antiga, transformou-se num interesse coletivo controlado pelo monopólio de um Estado soberano, consequentemente a esfera privada e a esfera pública correlacionam-se reciprocamente. A passagem das preocupações da esfera privada da família e da casa para o domínio da política anulou a oposição clássica entre a polis e o oikos. A esfera privada atual teve a sua origem nos últimos períodos do Império Romano. Numa época em que devido à desagregação do Império, os cidadãos procuravam afirmar os seus direitos privados nomeadamente o direito de propriedade no espaço público como resposta aos ataques dos bárbaros. 
Na modernidade, o privado opunha-se à esfera da sociabilidade e da esfera política situando-se no domínio do chamado individualismo possessivo. Do ponto de vista da formação intelectual leu Marx e Trotsky e estabeleceu contatos na Hochschule für Politik. A Escola de Políticas Públicas da Baviera é uma instituição independente de Ciências Políticas da Escola de Governança da Universidade Técnica de Munique (TUM). Analisou a exclusão social dos judeus, na falta de melhor expressão, apesar da assimilação, com base no conceito de “pária”, empregado pela primeira vez por Max Weber para falar dos judeus. A este termo, ela opôs outro – “arrivista” -, inspirada pelos escritos de Bernard Lazare. Em 1932, publicou na revista Geschichte der Juden in Deutschland o artigo “Aufklärung und Judenfrage”, no qual expõe suas ideias sobre a independência do judaísmo, contrapondo-as com as dos iluministas Gotthold Ephraim Lessing e Moses Mendelssohn e o precursor do Romantismo, Johann Gottfried Herder. Também em 1932 escreve uma crítica do livro: Das Frauenproblem in der Gegenwart,  de Alice Rühle-Gerstel, no qual comenta a emancipação da mulher na vida pública, mas também discute suas limitações, sobretudo no casamento e na vida profissional. Constata o “menosprezo fático” que sofre a mulher na sociedade e critica os deveres que não são compatíveis com sua relativa independência. Em troca, Arendt contempla o tema do feminismo, por assim dizer à distância. Por um lado, insiste que as frentes políticas são “frentes de homens” e, por outro, considera “questionáveis os movimentos feministas”, assim como os também chamados movimentos juvenis, ambos com estruturas que transcendem as classes sociais,  tendem a fracassar em seu intento de criar partidos políticos influentes.



Hannah Arendt defendia, portanto, um conceito de pluralismo no âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade política seria gerado entre as pessoas (cf. Arendt, 2009). Importante é a perspectiva da inclusão do Outro. Em acordos políticos, convênios e leis, devem trabalhar em níveis práticos pessoas adequadas e dispostas. Como frutos desses pensamentos, Arendt se situava de forma crítica ante a democracia representativa e preferia um “sistema de conselhos” ou formas de “democracia direta”. Entretanto, ela continua sendo estudada como filósofa, em grande parte devido a suas discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Immanuel Kant, Martin Heidegger e Karl Jaspers, além de representantes importantes da filosofia moderna como Maquiavel e Montesquieu.  Justamente graças ao seu pensamento independente, a Theorie der totalen Herrschaft, seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos. Como fontes das investigações a politóloga utiliza, além de documentos filosóficos, políticos e históricos, biografias e obras literárias. Esses textos são interpretados de forma literal e confrontados com o pensamento de Arendt. Seu sistema de análise - parcialmente influenciado por Martin Heidegger (2001) - a converte em “uma pensadora original situada entre diferentes campos de conhecimento e especialidades universitárias”. O seu devenir pessoal e o de seu pensamento etnográfico na política demonstram um importante grau de coincidência.
E se a interpretação da história, como Hegel sustenta, representa o “autodesenvolvimento do Espírito, a realização da ideia divina”, de um plano cósmico, o homem histórico deve ser um em que se encontrem as potencialidades de seu tempo, a sua situação histórica e como  Friedrich Nietzsche é um nome universal e o nazismo é e representa, incondicionalmente a decadência humana, essa forma de totalitarismo muito bem descrita e explicada por Arendt (1963), necessitava de justificações filosóficas: “não trepidaram em falsificar as obras de Nietzsche, ao expurgar muitas passagens importantes que acusavam o povo alemão e ao deturpar outras”. O preconceito se antecipa ao juízo recorrendo ao passado. Sua justificação temporal se limita aos períodos da história - em termos quantitativos a maior parte dela - em que o novo é relativamente raro e o velho não morreu na reprodução vida social e material. Em nossa utilização geral, afirma Arendt, “a palavra juízo tem dois significados que se devem distinguir com clareza, mas que se confundem sempre que falamos”.
Juízo significa, primeiramente, organização e subsunção do individual e particular ao geral e universal, procedendo-se então a uma avaliação ordenada com a aplicação de parâmetros pelos quais se identifica o concreto e de acordo com decisões. Por trás de todos esses juízos há um prejulgamento, um preconceito. Somente o caso individual é julgado, não o próprio parâmetro ou a questão de ele ser ou não uma medida adequada do objeto que está sendo medido. Num dado momento, emitiu-se um juízo sobre o parâmetro, mas esse juízo foi adotado, tornando-se, por assim dizer, um meio para se emitirem futuros juízos. Mas juízo pode significar algo totalmente diferente e sempre significa de fato quando nos confrontamos com algo que nunca vimos e para o que não temos nenhum parâmetro à disposição. Esse juízo que não conhece parâmetro só pode recorrer à evidência do que está sendo julgado, e seu único pré-requisito é a faculdade de julgar, o que tem muito mais a ver com a capacidade de discernir do que com a capacidade de organizar e subordinar. Tais juízos sem parâmetros nos são bastante familiares quando se trata de questões de estética e gosto, que, como observou Kant, não se podem discutir, mas de que se pode, seguramente, discordar e concordar. Na vida cotidiana isso se verifica “em face de uma situação desconhecida, que fulano ou beltrano fez um juízo correto ou equivocado”.
Melhor dizendo, em toda crise histórica, são os preconceitos os primeiros a se esboroar e deixar de ser confiáveis, ipso facto, é essa pretensão de universalidade que distingue muito claramente ideologia de preconceito (sempre parcial por natureza). A ideologia afirma peremptoriamente que não devemos mais nos fiar em preconceitos - declarados como literalmente inapropriados. A falta de padrões no mundo moderno - a impossibilidade de formar novos juízos sobre o que aconteceu e o que acontece todos os dias com base em padrões sólidos, reconhecidos por todos, e de subsumir esses eventos a princípios gerais bem conhecidos, assim como a dificuldade, estreitamente associada, de se proverem princípios de ação para o que deve acontecer agora - tem sido frequentemente descrita como niilismo inerente à nossa época, como desvalorização de valores, uma espécie de crepúsculo dos deuses, uma catástrofe na ordem moral do mundo. Todas essas interpretações pressupõem tacitamente que só se pode esperar que os seres humanos tivessem juízos se tiverem parâmetros, que a faculdade de julgar não é,  mais do que a habilidade de consignar casos individuais aos seus lugares corretos e adequados dentro de princípios gerais aplicáveis e sobre os quais estão todos de acordo. 
O primeiro livro “As Origens do Totalitarismo”, originalmente intitulado L`Impérialisme. Les Origines du Totalitarisme (1951) consolida o prestígio intelectual como uma das figuras mais profícuas do pensamento político ocidental. Arendt assemelha de forma polêmica as categorias sociais distintas nazismo e o socialismo, como ideologias totalitárias, isto é, com uma explicação compreensiva da sociedade, distante da possível formulação ideal-típica, mas também inclusiva da vida individual, e demonstra como a via totalitária depende da “banalização do terror” (“banality of the devil”), da manipulação das massas, do “acriticismo massificado” à mensagem absoluta ideal do poder. Adolf Hitler e Josef Stalin seriam em sua interpretação duas faces da mesma moeda tendo alcançado o poder por terem explorado a solidão organizada das massas. Sete anos depois publica o ensaio A Condição Humana (The Human Condition) enfatiza a importância da política como ação e processo, dirigida à conquista da liberdade. Contudo, sabemos que esses preconceitos, observa Torres (2007) não são novos na vida social, havendo toda uma tradição secularizada de identificação da política com domínio, com violência, cuja origem remonta à desvinculação entre política e liberdade realizada pelos filósofos que primeiro trataram do tema, em clara oposição à experiência da polis grega. Nesse sentido, Arendt ressalta que não havia sequer o interesse pelo problema da liberdade na Antiguidade, tendo o mesmo surgido tardiamente na filosofia, com Epicteto, como uma forma do Eu se relacionar com uma realidade externa que lhe seria adversa, resultando então de um estranhamento do mundo. 
O que está em jogo na relação política, inicialmente quando os nazistas apresentaram como sua principal descoberta, segundo Arendt (2012), tinha como escopo o papel significativo dos judeus na política mundial, e o que propagavam como principal alvo - a perseguição dos judeus do mundo inteiro - foi considerado pela opinião pública mero pretexto, interessante truque demagógico para conquistar as massas. Pois bem: não existe aspecto da história contemporânea mais irritante e mais mistificador do que o fato social dentre tantas questões políticas vitais, ter cabido  ao problema judaico, aparentemente insignificante e sem importância, a duvidosa honra de por em movimento toda uma máquina infernal. Tais discrepâncias entre a causa e o efeito social constituem ultraje ao bom senso a tal ponto que as tentativas de explanar o antissemitismo parecem forjadas com o fito de salvar o equilíbrio mental  dos que mantêm o senso de proporção e a esperança de conservar o juízo. Uma dessas apressadas explicações identifica o antissemitismo com desenfreado nacionalismo e suas explosões de xenofobia. Mas,  na verdade, o antissemitismo moderno crescia enquanto declinava o nacionalismo tradicional, tendo atingido seu clímax no momento em que o sistema europeu de Estados-nações, com seu precário equilíbrio de poder, entrara em colapso. Os nazistas, como sabemos, não eram meros nacionalistas. Sua propaganda distinguia-se das características do partidos políticos nascentes. Ela era dirigida aos simpatizantes e não aos membros convictos do partido. Os primeiros partidos antissemitas das últimas décadas do século XX foram os primeiros a coligar-se em nível internacional. Desde o início, convocavam congressos internacionais, e preocupavam-se com a coordenação de atividades em escala internacional, ou, pelo menos, intereuropeia. Noutras palavras, nem a opressão nem a exploração em si chegam a constituir a causa de ressentimento: mas a riqueza sem função palpável é muito mais intolerável, porque ninguém pode compreender, e em seu ersatz aceitar, porque ela deve ser tolerada.  

                         
A analogia das palavras não deve levar a confusões. Ontem como hoje chamam-se partidos as facções que dividiam as Repúblicas antigas, os clãs que se agrupavam em tono de um condottiere na Itália da Renascença, os clubes onde se reuniam os deputados das assembleias revolucionárias, os comites que preparavam as eleições censitárias das assembleias revolucionárias, bem como as vastas organizações populares que enquadram a opinião pública nas democracias modernas. Essa identidade nominal justifica-se por um lado, segundo Duverger (1980), pois traduz certo parentesco profundo: todas essas instituições não desempenham o mesmo papel, que é o de conquistar o poder político e exercê-lo? Os verdadeiros datam apenas de pouco mais de um século. Mesmo o oportuno e brilhante Manifesto do Partido Comunista, de 1848, de Marx & Engels, ainda é parte de um projeto utopico de base operária para a universalização das relações de poder. Em 1850, nenhum país do mundo conhecia partidos políticos no sentido contemporâneo do termo. Mesmo entre norte-americanos, encontravam-se aenas tendências de opiniões, clubes populares, associações de pensamento, grupos parlamentares, mas nenhum partido político propriamente dito. Em 1950, estes funcionavam na maior parte das nações civilizadas, os outros se esforçavam por imitá-las. O mesmo ocorre para compreender a diferença de estrutura que separa o Partido Trabalhista britânico do Partido Socialista francês, se não forem conhecidas as diferentes circunstâncias históricas de seu nascimento. Enfim, é impossível analisar seriamente o pluripartidarismo francês, ou neerlandês, ou o bipartidarismo norte-americano, sem se reportar às origens dos partidos em cada um desses países, que explica sua proliferação em alguns e sua restrição no outro. Em seu conjunto, o desenvolvimento dos partidos parece associado ao da democracia, isto é, à extensão do sufrágio popular e das prerrogativas parlamentares. O nascimento dos partidos encontra-se, portanto, ligado ao dos grupos parlamentares e comitês eleitorais.   
Economicamente quando A. Hitler subiu ao poder, os bancos alemães, onde por mais de cem anos os judeus ocupavam posições-chave, já estavam quase judenrein - desjudaizados - e, os judeus na Alemanha, após longo e contínuo crescimento em posição social e em número, declinavam tão rapidamente que os estatísticos prediziam o seu desaparecimento em poucas décadas. É verdade que as estatísticas não indicam necessariamente processos históricos reais: mas é digno de nota que, para um estatístico, a perseguição e o extermínio dos judeus pelo nazistas pudessem parecer uma insensata aceleração de um processo que provavelmente ocorreria de qualquer modo, em termos da extinção do judaísmo alemão. O mesmo é verdadeiro em quase todos os países da Europa ocidental. O Caso Dreyfus não ocorreu no Segundo Império, quando os judeus da França estavam no auge de sua prosperidade e influência, mas na Terceira República, quando eles já quase desaparecido das posições importantes (embora não do cenário político). O antissemitismo  austríaco tornou-se violento não sob o reinado de Metternich e Francisco José, mas na República Austríaca após 1918, quando era perfeitamente óbvio que quase nenhum outro grupo havia sofrido tanta perda da influência e prestígio em consequência do desmembramento da monarquia dos Habsburgos quanto aos judeus. A perseguição de grupos impotentes, ou em processos de perder o poder, pode não constituir um espetáculo agradável, mas decorre da mesquinhez  humana. O que faz com que os homens obedeçam ou tolerem o poder e, por outro lado, odeiem aqueles que dispõem da riqueza sem o poder é a ideia de que o poder tem uma determinada função e certa utilidade geral. Até mesmo a exploração e a opressão podem levar  a sociedade ao trabalho e ao estabelecimento de ordem, Só a riqueza sem o poder ou o distanciamento altivo do grupo que, embora poderoso, não exerce atividade política são considerados parasitas e revoltantes, porque nessas condições desaparecem os últimos laços que mantêm ligações entre os homens.  A riqueza que não explora deixa de gerar até mesmo a relação existente entre o explorador e o explorado; o alheamento sem política indica a falta do menor interesse do opressor pelo oprimido. 
A diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento dos oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas perfeitamente obedientes. O terror, como o conhecemos hoje, ataca sem provocação preliminar, e suas vítimas são inocentes até mesmo do ponto de vista do perseguidor. Esse foi o caso da Alemanha nazista, quando a campanha de terror foi dirigida contra os judeus, isto é, contra pessoas cujas características comuns eram aleatórias e independentes da conduta individual específica. Na Rússia soviética a situação é mais confusa, já que o sistema bochevista, ao contrário do nazista, nunca admitiu em teoria o uso de terror contra pessoas inocentes: tal afirmação, embora possa parecer hipócrita em vista de certas práticas, faz muita diferença. Por outro lado, a prática russa é mais avançada” do que a nazista em um particular: a arbitrariedade do terror segundo a procedência socioeconômica (de classe) do indivíduo foi abandonada há tempos, de sorte qualquer pessoa na Rússia pode subitamente tornar-se vítima do terror policial. O terror, contudo, assume a simples forma do governo só no último estágio de seu desenvolvimento. O que interessa ao historiador é que os judeus, antes de se tornarem as principais vítimas do terror moderno, constituíam o centro de interesse da ideologia nazista. Ora, uma ideologia que tem de persuadir e mobilizar as massas não pode escolher sua vítima arbitrariamente. Em outras palavras, se o número de pessoas  que acreditam na veracidade de uma fraude tão evidente como os “Protocólos dos Sábios do Sião é bastante elevado para dar a essa fraude o foro de dogma de todo um movimento político, a tarefa do historiador já não consiste em descobrir a fraude, pois o fato de tantos acreditarem nela é mais importante do que a circunstância (historicamente secundária) de se tratar de uma fraude.  Enfim, a explicação tipo bode expiatório escamoteia, portanto, a seriedade do antissemitismo e da importância das razões pelas quais os judeus foram atirados ao centro dos acontecimentos. Igualmente disseminada para Arendt, é a doutrina do eterno antissemitismo, na qual o ódio aos judeus é apresentado como reação normal e natural, e que se manifesta com maior ou menor virulência segundo o desenrolar da história. 
O aparecimento e o crescimento do antissemitismo moderno foram concomitantes e interligados à assimilação judaica, e ao processo de secularização e fenecimento dos antigos valores religiosos e espirituais do judaísmo. Vastas parcelas do povo judeu foram, ao mesmo tempo, ameaçadas externamente de extinção física e, internamente, de dissolução. Nessas condições, os judeus ques e preocupavam com a sobrevivência do seu povo descobriram, num curioso e desesperado erro de interpretação, a ideia consoladora de que o antissemitismo “eterno” estaria a eterna garantia da existência judaica. Essa atitude decerto superticiosa, relacionada com a fé em sua eleição” por Deus e com a esperança messiânica, era fortalecida pelo real fato de ter sido a hostilidade cristã, para os judeus, autêntico fator que, durante muitos séculos, desempenhava o papel do poderoso agente preservador, espiritual e político. Os judeus confundem o moderno antissemitismo com o antigo ódio religioso antijudaico. Esse erro é compreensível na sua assimilação, processada à margem do cristianismo, os judeus desconheciam-lhes o aspecto religioso e cultural. Enfrentando o cristianismo em declínio, os judeus podiam imaginar, em toda a inocência, que o antissemitismo correspondia a uma espécie de retrocesso, à medieval e anacrônica Idade das Trevas A ignorância simbólica, ou ideológica, no sentido marxista, ou a incompreensão histórica do seu próprio passado foi, em parte, responsável pela fatal subestimação dos perigos reais e sem precedentes que estavam por vir. Mas é preciso lembrar também que a inabilidade de análise política resultava da própria natureza da história judaica, história de um povo sem governo, sem país e sem idioma. A história judaica oferece extraordinário espetáculo de um povo, único nesse particular, que começou a existência histórica a partir de um conceito bem definido da história e com a resolução quase consciente de realizar na terra um plano bem delimitado, e que depois, sem desistir dessa ideia, evitou qualquer ação política durante 2 mil anos. 
Em consequência, a história política do povo judeu tornou-se mais dependente de fatores imprevisíveis e acidentais do que a história de outras nações, de sorte que os judeus assumiam diversos papéis na sua atuação histórica, tropeçando em todos e não aceitando responsabilidade precípua por nenhum deles. A história judaica oferece extraordinário espetáculo de um povo, único nesse particular, que começou sua existência histórica a partir de um conceito bem definido da história e coma a resolução quase consciente de realizar na terra, segundo Arendt, um plano bem delimitado, e que depois, sem desistir dessa ideia, evitou qualquer ação política durante 2 mil anos. Em consequência, a história política do povo tornou-se mais independente de fatores imprevistos e acidentais do que a história de outras nações , de sorte que os judeus assumiam diversos papéis na sua atuação histórica, tropeçando em todos e não aceitando a responsabilidade precípua por nenhum deles. Isto é, após a catástrofe final, após a aniquilação quase completa dos judeus na Europa, a tese do antissemitismo eterno tornou-se mais perigosa do que nunca, pois ela poderia levar até à absolvição os mais tenebrosos criminosos entre os antissemitas. Longe de garantir a sobrevivência do povo judeu, o antissemitismo ameaçou-o claramente de extermínio. Contudo, essa explicação do antissemitismo, tal como a teoria do bode expiatório - e por motivos semelhantes -, sobreviveu ao confronto com a realidade, pois ela acentua a absoluta inocência das vítimas do teror moderno, o que aparentemente é confirmado pelos fatos históricos e sociológicos, tanto quando na pesquisa cinematográfica constituída pala Sétima Arte

Os filmes O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, 1959), reconstitui a história social de uma garota de 13 anos durante a 2ª guerra mundial foi uma das provas mais concretas do temor pelo qual passaram os judeus naquela conjuntura geopolítica de terror. Anne Frank e sua família se esconderam durante dois anos pelo temor de serem levados a um campo de concentração. Sua última frase foi escrita em 1º de agosto de 1944. Três dias depois, os alemães prenderam toda a família. Anne morreu de tifo em março de 1945, num campo de extermínio humano. A Lista de Schindler é daqueles projetos mais pessoais do cineasta judeu-americano Steven Spielberg. O filme narra a história real de Oskar Schindler, um industrial alemão que negociava com os nazistas a utilização de trabalhadores judeus em sua fábrica, poupando-os de serem levados para os campos de concentração. A representação das imagens em preto e branco imprime ao filme o terror do qual aqueles judeus foram poupados e a tensão social e política pela qual passou Oskar Schindler. É um filme clássico sobre o Holocausto, ganhou sete estatuetas do Óscar em 1994, entre elas a do binômio produção/consumo de Melhor filme e Diretor destacando o papel de interpretação e de dramaticidade da obra calcada na memória social. O Menino do Pijama Listrado (2008) é sobre relação de amizade entre dois meninos de oito anos que vivem separados por uma cerca eletrificada. Bruno é filho de um oficial nazista e Shmuel é o garoto com o pijama listrado, expressando a representação do estigma de assimilação, preso em um campo de concentração. Ingênuo, Bruno supõe que aquela gente que vive do outro lado da cerca é camponesa, mas não entende o motivo político de tanta infelicidade, muito menos a representação da roupa listrada que seu amigo veste. As conversas com Schmuel demonstram a ele o que realmente acontece dos que estão encerrados do lado de lá do arame farpado e põe fim à sua ilusão humana da existência. 

Metodologicamente quando temos em mente realmente o outro como individualidade, como ocorre na conversação terapêutica ou no interrogatório de um acusado, realmente não se pode falar de uma situação de possível acordo. Tudo isso, que caracteriza a situação do pôr-se de acordo na conversação toma sua versão propriamente hermenêutica, onde se trata de compreender a forma e o conteúdo de textos. Caso contrário, nos encontramos diante de um tribunal. O instrumental conceitual sustentado nos conceitos de “jogos de linguagem”, “significação”, “seguir regras”, “dar ordens”, “forma de vida” e tantos outros, sugerem possíveis aplicações no contexto da linguagem relativa à descrição das atividades sociais ou culturais, constituindo-se primícias em relacionar a filosofia de Ludwig Wittgenstein com as ciências sociais, desde Peter Winch, Hanna Fenichel-Pitkin, Anthony Giddens, Derek Phillipe, ou Hannah Arendt, para ficarmos nesses exemplos. Não estamos longe de admitir que o conceitos significando “seguir regras”, ou, “dar ordens” é uma expressão verbal indicativa de uma realização onde há uma diferença entre crer que se está seguindo uma regra e estar de fato seguindo-a. Este conceito foi magistralmente utilizado por Hannah Arendt em sua etnografia “Eichmann em Jerusalem. Um relato sobre a banalidade do mal” (São Paulo: Companhia das Letras, 1999, edição original: Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil, (1963), posto que, o segredo, que envolve o preconceito, estudado magistralmente por Georg Simmel, tinha uma finalidade evidentemente prática. Segundo Arendt, aqueles que eram informados explicitamente da ordem do Füher Adolf Hitler não eram mais “portadores de ordens”, mas progrediam ao grau de “portadores de segredos” e tinham de fazer um juramento especial. Além disso, toda correspondência referente ao assunto, o extermínio físico em massa de judeus ficava sujeita a rígidas “regras de linguagem”, e, exceto nos relatórios dos Einsatzgruppen, é raro encontrar documentos em que ocorram palavras ousadas e discriminatórias como “extermínio”, “eliminação”, ou “assassinato”. Os codinomes prescritos para o assassinato eram “solução final”, “evacuação” (“Aussiedlung”), e “tratamento especial” (“Sonderbehandlung”); a deportação, ficando óbvio a menos que envolvesse judeus enviados para Theresienstadt, o “gueto dos velhos” para judeus privilegiados, caso em que se usava “mudança de residência”, habilmente forjada na medida em que recebia nomes de “reassentamento” (“Umsiedlung”) e “trabalho no Leste” (“Arbeitseinsatz im Osten”), sendo que “o uso destes últimos nomes prendia-se ao fato de os judeus serem realmente muitas vezes reassentados temporariamente em guetos, onde certa porcentagem deles era temporariamente usada para trabalhos forçados” (cf. Arendt, 1999:100).
O instrumental sustentado nos conceitos de “jogos de linguagem”, “regras”, “significação”, “seguir regras”, “dar ordens”, “forma de vida” e tantos outros, sugerem possíveis aplicações no contexto da linguagem relativa à descrição das atividades sociais ou culturais constituindo-se primícias em relacionar a filosofia de Wittgenstein com as ciências sociais desde Peter Winch, Hanna Fenichel-Pitkin, Anthony Giddens, Derek Phillipe, para ficarmos nesses exemplos. Não estamos longe de admitir que o conceito “seguir regras” (ou, “dar ordens”) que é uma expressão verbal indicativa de uma realização onde há uma diferença entre crer que se está seguindo uma regra e estar de fato seguindo-a. Foi magistralmente utilizado por Arendt em seu destacado ensaio Eichmann em Jerusalem. Um Relato sobre a Banalidade do Mal (Editora Companhia das Letras, 1999, edição original: “Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil”, 1963), posto que, o segredo, estudado por Georg Simmel, tinha uma finalidade prática. Conforme a etnografia de Arendt, aqueles que eram informados explicitamente da ordem do Füher não eram mais “portadores de ordens”, mas progrediam ao grau missiona´rio de “portadores de segredos” e tinham de fazer um juramento especial. Além disso, toda correspondência referente ao assunto, notadamente um conjunto de práticas sociais sobre o extermínio físico de judeus ficava sujeita a rígidas “regras de linguagem”, e, exceto nos relatórios dos Einsatzgruppen, é raro encontrar documentos em que ocorram palavras marcadas e ousadas como “extermínio”, “eliminação”, ou “assassinato”. Os codinomes prescritos para assassinato eram “solução final” (“Endlösung”), “evacuação” (“Aussiedlung”), e “tratamento especial” (“Sonderbehandlung”). A deportação - a menos que envolvesse judeus enviados para Theresienstadt, o “gueto dos velhos” para judeus privilegiados, caso em que se usava “mudança de residência” - recebia os nomes de “reassentamento” (“Umsiedlung”) e “trabalho no Leste” (“Arbeitseinsatz im Osten”), sendo que o uso destes últimos nomes prendia-se ao fato de os judeus serem muitas vezes reassentados temporariamente em guetos, e porcentagem deles era temporariamente usada para trabalhos forçados.
É neste sentido que, no ano de 1963, Hannah Arendt escreveria “Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil”, a partir da cobertura jornalística que faria do julgamento do exterminador dos judeus e arquiteto da “Solução Final” para a The New Yorker. Nesta etnografia impressionante revela-se que o grande exterminador dos judeus não era um demônio e um poço de maldade, segundo Hannah Arendt, como o criam os ativistas judeus, mas alguém “terrível e horrivelmente normal”, como um “típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou de ter mesmo contrição” (cf. Boeno, 2010). Esta perspectiva valer-lhe-ia a crítica ideológica virulenta das organizações judaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt apontara, apenas, para a complexidade da natureza humana, para certa “Report on the Banality of Evil” que surge quando se compadece com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal conclui: “é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade”. 
   As origens do fascismo alemão remontam a 1919, quando um grupelho de sete homens se reuniu numa cervejaria de Munique e fundou o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores alemães. O nome do partido é sugestivo e não tardou a ser abreviado na fala popular para “nazi”. Em pouco tempo, o mais obscuro dos sete surgia como chefe. Chamava-se ele Adolf Hitler e tinha nascido em 1889, sendo filho de um pequeno funcionário aduaneiro da Áustria (cf. Nicholls, 2000). O começo de sua vida foi infeliz e desajustado. Rebelde e indisciplinado desde a infância parece ter sido sempre oprimido por um sentimento solitário de frustração. Na escola, perdia tempo desenhando retratos e por fim resolveu ser pintor. Com esse objetivo em vista dirigiu-se em 1909 para Viena, esperando ingressar na Academia. Reprovado no exame durante quatro anos arrastou sua existência obscura como vendedor ocasional e pintor de pequenos esboços e aquarelas que mal conseguia vender a lojas de arte. Enquanto “isso ia alimentando alguns preconceitos políticos de índole violenta” (cf. Burns, 1967: 883).
 A ideologia fascista pode ancorar-se em três características humanas: o medo, o fanatismo e a intolerância. É um fenômeno político e discursivo (propaganda) deste século e cuja formulação definitiva talvez não possa se dar como concluída. Ela tem-se estabelecido pela fórmula autoritária: “Crer e não pensar”; “trabalhar e não refletir”; “obedecer e não discutir”. Surgiu em torno de 1890 na Europa ocidental como “eclipse da razão”. Temos aí o conceito de “autoridade irracional”, que poderia ser caracterizado como o poder sobre o povo, logrado sobre a base do terror, onde a crítica está proibida, e onde existe uma absoluta desigualdade entre os membros da comunidade. No inicio da 2ª guerra mundial (1940-1945) a Alemanha encontrava-se em conflito político-ideológico com os judeus radicados na Alemanha. No filme: “O menino de pijama listrado” uma família alemã que morava em Berlim teve que se mudar para uma casa perto do “campo de concentração” (“Arbeitseinsatz im Osten”), onde o Ralf pai de Bruno trabalhava desenvolvendo atividades secretas como militar de caserna. Seu filho Bruno fez amizade com um judeu chamado Shmel (Samuel) onde aprendeu o significado e sentido cultural da amizade. Bruno apesar de ter prejudicado Samuel ele o perdoou. Sem preconceito social, Bruno prometeu a Samuel que o ajudaria na procura seu pai, sumido, aparentemente depois de ter ido fazer um trabalho e não havia voltado. Em verdade havia sido confinado num “campo de concentração” nazista.
No filme em questão, no dia em que Bruno iria se mudar para morar com sua tia resolveu fugir para ajudar Samuel a procurar seu pai, vestindo-se como as outras crianças, cavou um buraco passando para dentro do campo de concentração. Lá dentro junto com Samuel foi à sua cabana a procura do pai, porém antes que conseguissem sair do campo de concentração foi levado junto com os judeus para a câmera de gás. Quando sua família sentiu sua ausência, fora a sua procura e encontrara suas roupas jogadas em frente ao campo de concentração, quando seu pai entrou em busca de Bruno. Viram que havia uma cabana vazia e lembrou-se que aquele seria o dia em que os judeus seriam colocados na câmera de gás. Logo descobriram que seu filho estava junto com os judeus com seus pijamas jogados ao chão e havia sido morto envenenado pelo gás letal. Quando o terror e a inocência dão as mãos, salta aos olhos a narrativa do filme: The Boy in the Striped Pyjamas (2008) que usa e abusa da inocência infantil para chocar o público, que absorve os absurdos do nazismo, equidistantes da interpretação de Albert Camus como analisaram noutro lugar. Dirigido por Mark Herman, o filme é surpreendente e baseado no livro homônimo de John Boyne, onde o terror e a inocência dão-se as mãos e compõem uma ciranda cujo efeito social específico para o espectador representa um misto de encanto e nojo. Isso fica explícito logo nos primeiros minutos de exibição quando as crianças, absortas em suas brincadeiras, correm pelas ruas. Estrategicamente espalhados pelo cineasta nas cenas estão elementos como soldados, cães, bandeiras com suásticas. Já nos primeiros minutos nos deparamos com a contextualização do período histórico e político-ideológico. A inocência é reforçada pela sonoplastia que evoca relaxamento. O que virá, no entanto, é o significado do terror; implícito, e ipso facto intenso representando a expressão da dor física e mental.



No filme The Boy in the Striped Pyjamas (2008) o menino aparentava ter medo e ao mesmo tempo admiração pelo pai, por ser autoritário na vida familiar e político-militar. A corrupção da consciência, fenomenologicamente falando, no sentido que emprega Merleau-Ponty (2006: 53 e ss.) funciona como a “essência da consciência para o mal”, ou, “essência da percepção para o mal”, posto que: a consciência só começa a serem determinando um objeto, e mesmo os fantasmas de uma “experiência interna” só é possível por empréstimo à experiência externa. Portanto, não há vida privada da consciência. A consciência só tem como obstáculo o caos, que não é nada. Mas em uma consciência que constitui tudo, ou, antes, que possui eternamente a estrutura inteligível de todos os seus objetos, assim como na consciência empirista que não constitui nada, a atenção permanece um poder abstrato, ineficaz, porque ali ela não tem nada para fazer. Contudo, a amizade pura, livre e desinteressada dos meninos Bruno e Shmuel mostrou o mundo onde os preconceitos de diversidades, sejam eles de qualquer categoria, credo, classe social, esmagam a esperança e a vontade de se conviver em paz. Historicamente os campos de concentração conjugado com o processo de trabalho forçado não foram uma exclusividade um mal dos nazistas e, tampouco, foram inventados por eles. Basta citar um único exemplo de modelo precedente dos gulags da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que existiram desde a hegemonia histórica dos czares, quando eram chamados de katorgas. Os nazistas destacaram-se em virtude do processo de “mecanização da morte”, isto é, da aplicação de um método perverso praticamente com planejamento industrial de morte por gás venenoso.

Além disso, os corpos dos mortos nas câmaras de gás eram incinerados em fornos construídos com essa finalidade. Quando a 2a guerra mundial estava chegando ao fim, e os nazistas progressivamente perdiam terreno, os cadáveres dos campos de concentração começaram a ser despejados em valas comuns e incinerados nas covas. Geograficamente a maior parte dos judeus mortos no holocausto era do Leste Europeu. Sabemos também que os principais campos de concentração e extermínio nazista não se encontravam em território alemão, mas, sim, no Leste europeu, sobretudo na Polônia. Em terreno alemão, os campos construídos tinham tamanho pequeno (se comparados com os poloneses), sendo a maior parte destinada a trabalhos forçados para opositores políticos, homossexuais, criminosos, e não propriamente para extermínio.  O primeiro campo a ser construído foi o de Dachau, em 1933 no ano em que Adolf Hitler assumiu o poder; outros foram erguidos nas cidades de Breitenau e Flossenbürg. A partir de 1941, quando houve o ataque à Rússia com a Operação Barbarossa (Unternehmen Barbarossa), representando o nome de código para a invasão da União Soviética pelas Potências do Eixo, iniciada em 22 de junho de 1941, durante a guerra mundial finda em 1945. Foi projetado para alcançar os objetivos político-ideológicos da Alemanha nazista de conquistar a União Soviética ocidental para que ela pudesse ser repovoada pelos alemães, de usar os povos eslavos como força de trabalho escravo para o chamado esforço de guerra do Eixo e de aproveitar as reservas de petróleo do Cáucaso e os recursos agrícolas dos territórios soviéticos, os nazistas ocuparam vastas regiões, incluindo praticamente todo o território polonês e partes dos Países Baixos, Ucrânia, Croácia, Bielorrússia e outros países.

Nesses locais estava concentrada a maior parte da população judaica da Europa. Ao contrário do que normalmente se imagina, a população judaica alemã representava cerca de menos de 1% da população da Alemanha quando Hitler assumiu o poder. A maior parte dos judeus mortos no holocausto foi capturada nos países do Leste. A consciência não está menos intimamente ligada aos objetos em relação aos quais ela se distrai do que aqueles aos quais ela se volta. O filme foi baseado no best-seller homônimo de John Boyne. Diferente do seu processo de criação normal, Boyne declarou que escreveu a primeira versão do livro em apenas dois dias e meio. O campo de concentração no qual o pai de Bruno trabalha não é nomeado, mas os especialistas dizem ser possível reconhecê-lo como o campo de Auschwitz pela presença de quatro crematórios na composição do cenário.  - “Auschwitz I, o principal campo do complexo de Auschwitz, representou a primeira das unidades a serem estabelecidas, nas proximidades da cidade polonesa de Oswiecim. Sua construção teve início em maio de 1940, em um quartel de artilharia usado anteriormente pelo exército polones na região de Zasole, subúrbio de Oswiecim. O campo foi se expandindo continuamente por meio de trabalho escravo. A câmara improvisada estava localizada no porão da prisão (Bloco 11). Mais tarde, uma câmara de gás fixa foi construída dentro do crematório”. A propaganda nazista do campo de concentração que aparece no filme foi baseada em um vídeo originalmente editado em 1941, produzido pelos ideólogos nazistas. Sociologicamente representou uma rede de campos de concentração localizados no sul da Polônia operados pelo Terceiro Reich e colaboracionistas nas áreas polonesas anexadas politicamente pela Alemanha Nazista, tendo se constituído o maior símbolo do Holocausto perpetrado pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1940, o governo de Adolf Hitler construiu vários campos de concentração e um campo de extermínio nesta área. A razão direta para sua construção foi o fato de que as prisões em massa de judeus, especialmente poloneses, por toda a Europa que ia sendo conquistada pelas tropas nazistas, excediam em grande número a capacidade das prisões convencionais até então existentes. Ele foi o maior dos campos de concentração nazistas, consistindo de Auschwitz I (Stammlager, campo principal e centro administrativo do complexo); Auschwitz II–Birkenau (campo de extermínio), Auschwitz III–Monowitz, e mais 45 outros campos desgraçadamente como satélites. 

Bibliografia geral consultada. 

BURNS, Edward McNall, História da Civilização Ocidental. 2ª edição. Porto Alegre: Editor Globo, 1967; LACLAU, Ernesto, Política e Ideología en la Teoría Marxista: Capitalismo, Fascismo, Populismo. México: Siglo Veintiuno Editores, 1978; Idem, La Razón Populista. Buenos Aires: Editor Fondo de Cultura Económica, 2005; ARENDT, Hannah, Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil. New York: Viking Press, 1963; Idem, La Crise de la Culture: Huit Exercices de Pensée Politique. Paris: Éditions Gallimard, 1972; Idem, L` Impérialisme. Les Origines du Totalitarisme. Paris: Éditions du Seuil, 1980; Idem, Homens em Tempos Sombrios. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1987; Idem, Vita activa. La Condizione Umana. Milan: Edizione Bompiani, 1989; Idem, Essays in Understanding: 1930-1954. New York: Schocken Books Editors, 2005; Idem, Journal de Pensee (1950-1973). Paris: Éditions Du Seuil, 2005; Idem, Origens do Totalitarismo. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2012; TORRES, Ana Paula Repolês, “O Sentido da Política em Hannah Arendt”. In: Trans/Form/Ação vol. 30 nº 2. Marília, 2007; BOYNE, John, O Menino do Pijama Listrado. 1ª edição. São Paulo: Editora Seguinte, 2007; BOENO, Maico Russiano de Souza, O Bur(r)ocrata, uma Análise Existencialista do Pensamento de Hannah Arendt no Caso Eichmann até a Formação do Tribunal penal Internacional. São Paulo: Editor Publit, 2010; MOREIRA, Elzanira Rosa Mello, A Banalidade do Mal e a Faculdade de Pensar: Política e Ética nas Reflexões de Hannah Arendt. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Belém: Universidade Federal do Pará, 2017; LAZIER, Tiago Cerqueira, Hannah Arendt: Entre a Contingência e o Absoluto. Tese de Doutorado. Departamento de Ciência Política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; MIZAEL, Táhcita Medrado, Redução do Preconceito Racial: Uma Investigação Analítico-Comportamental. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Centro de Educação e Ciências Humanas. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2019; ROCHA, Lara França da, Pensar em Tempos Sombrios: As Implicações Políticas do Pensamento na Perspectiva de Hannah Arendt. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2019; entre outros.

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