sábado, 7 de janeiro de 2017

Carlos Moore - Etnologia & Concepção Linear da História.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga
Há que entender bem que não estamos falando somente da escravidão como categoria econômica”. Carlos Moore


          Carlos Moore nascido Charles Moore Wedderburn em Santiago de Cuba, em 1942, é um etnólogo dedicado ao registro da história e da cultura negra, reconhecido internacionalmente pelo seu engajamento contra o racismo, pelo pan-africanismo e por ter escrito a biografia do cantor, saxofonista e ativista nigeriano Fela Kuti, intitulada: “Fela, Esta Vida Puta”. Nestas notas analisaremos em seu ersatz a formação política e a produção do discurso etnológico de Moore. Sua família origina-se de diversas etnias das Antilhas: o pai biológico era de Trinidad e os pais dele, seus avós, eram de Barbados; o pai que o adotou era jamaicano e a mãe natural de ilhas da região. Ele viveu em Cuba até os 15 anos, mudando-se para Nova Iorque, Estados Unidos da América (EUA), em 1958. Lá conheceu Maya Angelou que o influenciou sobre a tópica questão racial e a formação do pensamento intelectual negro. Carlos Moore fez dois doutorados na Universidade de Paris VII, em Etnologia (1979), e depois em Ciências Humanas (1983). Suas pesquisas no doutorado são intituladas Doutor em Ciências Humanas (“Doctorat d’Etat”, 1983). Dissertação: “The Strategic Implications of Cuban Foreign Policy in Black Africa; 1960-1980” (2 vols.). Universidade de Paris-7. Departamento de Sociologia, Antropologia, Etnologia e Religião. Doutor em Etnologia (“Doctorat de IIIème Cycle”, 1979). Dissertação: “The Impact of Domestic Ethnicity on the International Relations of the Cuban State, 1959-1979”. Universidade de Paris-7. Departamento de Sociologia, Antropologia, Etnologia e Religião.              
       Nasceu e cresceu em Cuba, filho de pais jamaicanos, possuindo ambas as cidadanias. Recebeu uma formação interdisciplinar no âmbito da Etnologia, Sociologia, História, Antropologia na Universidade de Paris-7 (França), na qual ele obteve dois Ph.Ds, inclusive o prestigiado Doutorado de Estado. Morou e trabalhou na Europa por quinze anos (França), na África por oito anos (Egito, Nigéria e Senegal), no Caribe por dezoito anos (Trinidad-Tobago, Guadalupe, Martinica), e viajou intensamente pelo sudeste da Ásia (Filipinas, Austrália, Ilhas Fidji, Papua Nova Guiné, Indonésia) em projetos de pesquisa, tendo agora fixado residência permanente no Brasil. Fluente em quatro línguas: francês, inglês, espanhol e português, Moore Wedderburn possui “expertise” em assuntos internacionais e o impacto social e político sobre questões de raça, etnia e gênero exercem na sociedade contemporânea. Sua carreira profissional como pesquisador, de 1984 a 2000, incluíram cargos como Professor Visitante na Universidade Internacional da Flórida (EUA), Universidade do Caribe (Trinidad-Tobago) e Universidade do Caribe Francês (Martinica e Guadalupe).

                                
Retornou a Cuba juntando-se ao movimento marxista-leninista liderado por Fidel Castro. O Movimento 26 de Julho representou uma estratégia e tática de guerrilha revolucionária cubano, fundada em 1954 por Fidel Castro e seus companheiros, contra o ditador Fulgencio Batista Zaldívar (1901-1973) militar cubano que serviu como presidente eleito da ilha entre 1940 e 1944, e depois ditador entre 1952 e 1959, até ser derrubado pela Revolução Cubana. O Movimento lutou contra o regime de Batista nas frentes rurais e urbanas. Os principais objetivos do movimento foram a distribuição da terra aos camponeses, a nacionalização dos serviços públicos, a industrialização, as eleições honestas e a reforma educacional em larga escala. No entanto, se concorda com os princípios revolucionários, discordava das autoridades sobre a discriminação racial intermitente em Cuba. Depois de ser preso algumas vezes, deixa a ilha em 1963, tomando um novo rumo em destino à França onde conclui seus estudos. Lá ele conhece outros ativistas negros como o senegalês Alioune Diop e o filósofo poeta da Martinica Aimé Césaire e passa a trabalhar como jornalista na Agencie France-Presse (AFP). Na França, inicia sua vida acadêmica e trabalha também como jornalista. Em sua démarche esteve lado a lado com importantes ativistas, ente eles, Malcolm X, Cheikh Anta Diop, Aimé Césaire, Stokely Carmichael, Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Walterio Carbonell, Harold Cruse, Alex Haley entre outros.        
                Ao que parece a vida de Carlos Moore em vários aspectos se aproxima deste relato – “Para alcançar a trajetória de Carlos Moore, é preciso compreender que, como filho de imigrantes jamaicanos, ele ocupava o degrau mais baixo da escala racial da sociedade cubana. Pior do que um negro cubano era um negro imigrante das demais ilhas do Caribe. Em seu livro aparecem genocídios de imigrantes negros em Cuba dos quais a maioria jamais ouviu falar. Aos 13 anos, sua mãe tinha sido estuprada e engravidada pelo padrasto. Com um filho do incesto, ela casou-se com outro imigrante jamaicano. Moore nasceria anos depois, entre vários irmãos. E jamais entendeu por que era “rejeitado” pela mãe, que o espancava a ponto de deixá-lo de cama por dias, coberto de talhos e hematomas, tendo chegado a desenvolver uma espécie de reação convulsiva. O pequeno Moore fazia buracos no quintal, para tentar escapar dessa mãe. Sua fotografia era a única que não estava pendurada na casa da família” (cf. Brum, 2015).
        A biografia dita oficial de Fela Kuti foi escrita em 1982 por Carlos Moore e encontra-se disponível em português desde 2011. Fela Kuti nasceu em Abeokuta, no estado de Ogun, na Nigéria, em uma família de classe média alta do ramo Igbá dos Iorubas. Sua mãe, Funmilayo Ransome-Kuti, a primeira mulher nigeriana a dirigir um automóvel, foi uma feminista atuante no movimento anticolonial, e seu pai, Reverendo Israel Oludotun Ransome-Kuti, um pastor protestante e diretor de escola, foi o primeiro presidente da União Nigeriana de Professores e tornou-se um político de considerável influência. Seus irmãos Dr. Beko Ransome-Kuti e Olikoye Ransome-Kuti, ambos médicos, são conhecidos na Nigéria. Ele mudou-se para Londres em 1958 com a intenção de estudar Medicina, mas acabou decidindo estudar música no Trinity College of Music. Lá, formou a banda Koola Lobitos, tocando “highlife” com outros músicos nigerianos que viviam em Londres. Em 1961, Fela casou-se com sua primeira esposa, a nigeriana Remilekum (Remi) Taylor com quem ele teria três filhos (Femi, Yeni e Sola).                           
Em 1963, Fela voltou para a Nigéria, reformou o Koola Lobitos e trabalhou como produtor de rádio para a Empresa Nigeriana de Transmissão. Em 1969, no meio da Guerra Civil da Nigéria, Fela levou a banda para os Estados Unidos, passando a chamá-la Fela-Ransome Kuti and Nigéria. Fela redescobriu o movimento Black Power por meio de Sandra Smith (depois Isidore), uma partidária do movimento “Panteras Negras”, que influenciaria fortemente sua música e suas concepções políticas. Ela apresentou a Fela o trabalho de Malcolm X, Eldridge Cleaver e outros ativistas e pensadores negros. A partir de então, Fela compreenderia melhor a luta de sua mãe pelos direitos dos africanos que estavam sob o regime de dominação colonial, assim como o apoio que ela dava à doutrina do Pan-Africanismo exposta por Kwame Nkrumah. Essas ideias também o inspiraram a criar seu próprio estilo musical,  conhecido como afrobeat, uma mistura do jazz norte-americano com o rock psicodélico e o highlife da África Ocidental. Logo, o Serviço de Naturalização e Imigração foi informado por um empresário que Fela e sua banda estavam nos Estados Unidos sem licença de trabalho. A banda então realizou uma rápida sessão de gravação em Los Angeles, que mais tarde viria a ser lançado como “The 69 Los Angeles Sessions”.
 A obra de Carlos Moore nada tem de polêmica, mas um contraditório fruto do mimetismo sociológico francês sobre a concepção teórica de Marx e Engels e o significado sociológica do primitivo. Uma das principais referências teóricas do movimento negro brasileiro, figura aparentemente de esquerda, mas que vem sendo citado com muita frequência por reacionários como seguidores do falso filósofo, o fascista Olavo de Carvalho devido à sua crítica vulgar ao marxismo como ideologia. Enquanto a ideologia do marxismo vulgar sustenta que a metáfora da “superestrutura” (jurídico-político-ideológico) é determinada pela “base” econômica, os marxistas ocidentais em geral analisaram criticamente a cultura como um fenômeno histórico e social, ao lado da produção e da distribuição econômica ou das relações de poder político. Afirmavam que a cultura deveria ser estudada a partir do conceito hegeliano de crítica imanente, isto é, a descrição e a crítica de um texto filosófico ou cultural são conduzidas nos seus próprios termos, a fim de desenvolver suas inconsistências internas, de modo a permitir o avanço intelectual. A crítica imanente foi destacada por Marx nos seus primeiros escritos, a partir dos “desenvolvimentos” de Hegel de uma nova forma de pensamento dialético no qual, o pensamento que se apropria do real impulsiona por si próprio.
  Moore é inimigo declarado do marxismo vulgar, mas também “patina” na análise concreta de uma situação concreta quando critica Marx e Engels por um suposto racismo, como condena erroneamente todo o marxismo e todo o movimento comunista como racista. Ao mesmo tempo, numa postura político-afetiva reacionária demonstra uma atitude extremamente amistosa, quase de adoração, pelo negro conservador norte-americano Barack Obama. Se o racismo é resultado principalmente do encontro de grupos com fenótipos diferenciados, e essa diferenciação fenotípica sempre existiu, a política no combate ao racismo é descartada de forma sutil como o fez Barack Obama. Ao que parece o etnólogo não percebendo a semelhança étnica é um analista cego. Um grupo de filósofos franceses já nos advertia, na década de 1970, sobre o círculo de uma só e mesma questão que, no entanto será preciso transpor, já que a característica do discurso científico é o ser escrito. E que, portanto levanta a questão da forma literária de sua escrita. Assim, não saímos do círculo de uma só e mesma questão: se pudemos, sem sair dele, não girar num círculo, é que ele não representa mais o círculo fechado da ideologia. Mas o círculo perpetuamente aberto pelos seus próprios fechos, de um conhecimento fundamentado que fascinaram o público ocidental desde os anos 1970.  
   O conservadorismo liberal é uma ideologia política que combina políticas socialistas conservadoras com elementos liberais, especialmente sobre questões econômicas e sociais, ou um ramo do conservadorismo político fortemente influenciado pelo liberalismo. O conservadorismo liberal é uma posição que incorpora e suporta as liberdades civis ao capitalismo, associado com posições conservadoras. Na maioria dos países o termo “liberal” é usado para descrever visões econômicas de livre mercado. Este é o caso, por exemplo, na Europa Continental, Austrália e América Latina. Que tipo de raciocínio é esse que acusa os maiores analistas do Capital, Marx e Engels de serem elaboradores de uma teoria de dominação e supremacia branca, “proletariana” (cf. Moore, 1972) e depois os acusa de não “defenderem” os negros e não condenarem a escravidão? Como podem ser defensores e elaboradores de uma teoria racista e ao mesmo tempo serem solidários à resistência negra? Como Moore pode imputá-los de defensores da “supremacia branca” e ao mesmo tempo reclamar que não defendem a causa negra? Simples. De acordo com Santos (2014) construindo um discurso em que não há saída para Marx e Engels. Eles são culpados pela ação e pela omissão; por dizer e não dizer; por defender e não defender; isto é, façam o que façam; digam o que digam; escrevam o que escreverem, tornam-se sentenciado pela escrita inoxidável de Carlos Moore.
   Segundo sua concepção de etnologia, a teoria de Marx e Engels e a ignorância em relação à História da África deveram-se ao profundo eurocentrismo, não podendo ser dissociados do ambiente e do tempo e espaço em que viveram, marcada pela ideologia da chamada “supremacia branca”. Para ratificar sua argumentação, Moore faz uma série de considerações sobre uma das passagens mais conhecidas de Marx sobre o tráfico de escravizados no continente africano, escrita no livro O Capital. Desnecessário dizer que Marx é preciso ao relacionar a questão do desenvolvimento capitalista com a tópica da consciência, pois admite, “com o desenvolvimento da produção capitalista durante o período manufatureiro, a opinião pública europeia perdeu o que ainda lhe restava de pudor e consciência. As nações se jactavam cinicamente de toda a infâmia que constituísse um meio para a acumulação de capital”. Marx escreveu seu famosa obra Das Kapital, durante os seus últimos 30 anos de vida, no exílio em Londres, na sala de leitura da extraordinária Biblioteca Britânica.
         Foi o maior império em extensão de terras descontínuas do mundo. Um império composto por domínios, colônias, protetorados, mandatos e territórios governados ou administrados pelo Reino Unido. Originou-se com as conquistas das colônias ultramarinas e entrepostas estabelecidas pela Inglaterra durante o final do século XVI e início do século XVII. No seu auge, foi o maior império da história política e, por mais de um século, foi a principal potência mundial. Em 1920 o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas, ¼ da população do mundo ocidental e oriental e abrangeu mais de 35 500 000 km², quase 24% da área geográfica total da Terra. Como resultado, seu legado político, cultural e linguístico é generalizado, globalizado. No auge do seu poder, foi dito muitas vezes que “o sol nunca se põe no Império Britânico” devido à sua extensão de poder geopolítico ao redor do mundo garantir que o Sol sempre estivesse brilhando em pelo menos um de seus numerosos territórios invadidos e colonizados. Representou um período histórico de colapso dos impérios da Espanha, China, França, Sacro Império Romano-Germânico e Mogol. Testemunhou o crescimento da influência dos impérios Britânico, Russo, Alemão, Japonês e Norte-Americano, estimulando conflitos militares e avanços técnico-científicos de exploração.
              A British Library é a Biblioteca Nacional do Reino Unido, uma das maiores do mundo. Atualmente, o seu acervo possui aproximadamente 150 milhões de itens e a cada ano incorporam-se à coleção cerca de três milhões de itens novos. A Biblioteca Britânica contém, além de livros, mapas, jornais, partituras, patentes, manuscritos, selos, dentre outros materiais. Todos estão dispostos sobre 625 km de prateleiras que crescem 12 km a cada ano. O espaço físico para a leitura possui capacidade para mil e duzentos leitores. Entre as coleções especiais da Biblioteca Britânica, consta o caderno de anotações de Leonardo da Vinci, material de 300 a. C. aos jornais atuais, a Carta Magna, a gravação do discurso experimental do líder negro Nelson Mandela, cerca de 50 milhões de patentes, 310 mil volumes de manuscritos, de Jane Austen a James Joyce, de Händel aos Beatles, e aproximadamente mais de 260 mil títulos de jornais e mais de quatro milhões de mapas. A biblioteca disponibiliza informações para estudantes, pesquisadores de ciências específicas e para executivos no Reino Unido e ao redor do mundo. A cada ano aproximadamente seis milhões de buscas são geradas pelo catálogo online e mais de 100 milhões de itens são fornecidos aos leitores de todo o mundo.
 A palavra laboratório origina-se do latim através da junção das palavras “labor” (trabalho) e “orare” (orar) misturando aspectos da “oralidade” e experimentação. A importância do laboratório na pesquisa social baseia-se no exercício de suas atividades repetitivas em condições ambientais controladas e normatizadas, de modo a assegurar que não ocorram influências ideológico-culturais que alterem o resultado da pesquisa, de modo a garantir que o experimento seja repetível em outro laboratório e obtenha o mesmo resultado. Um exemplo paradigmático de laboratório surge com a biblioteca do Museu Britânico, nos tempos de Marx, ao contrário de um centro de ideias e artes criativas como Paris, capital do século XIX, ou mesmo Berlim comparativamente, era em Londres a capital da ciência. E Marx, Charles Darwin, como poucos utilizaram-na em seu favor como pesquisadores das maiores descobertas de seu tempo. Marx, que a consciência determinas a essência do ser e Darwin, que o homem em seu processo é o centro da espécie. Sua rotunda, sala de leitura circular, uma sala de exposição na qual os turistas conhecem a cadeira preferida de Marx, logo viria a se tornar o “lar de Marx” fora de sua casa. Capital política e administrativa do mais importante império colonialista de além-mar que existiu no mundo ocidental durante os três primeiros quartos do século XIX, Londres era também o centro nevrálgico do capitalismo transnacional globalizado.
Vale lembrar que Marx passou os últimos 34 anos de sua vida em Londres. Mudou-se da Prússia em 1849, para Londres, lá morrendo em 1883. As ideias revolucionárias o fizeram indesejado primeiro na sua Prússia e depois em Paris, onde se asilou. Londres era para ser uma passagem temporária, mas se tornaria sua cidade definitiva. Sem Londres Marx não se tornaria um notável filósofo social e pesquisador. Foi na opulência literária incomparável do British Museum, que ele pôde ler avidamente os livros de Filosofia, Arte e Economia Política que o habilitariam com um estilo literário a escrever sua obra máxima: “O Capital”. Jenny Marx, sua mulher companheira solícita e culta “passava a limpo” os manuscritos que o marido trazia da lendária “Reading Room” do museu (e biblioteca) de Londres, a mesma que o russo Vladimir Lênin frequentaria sob o codinome de Jacob Richter. Nesse período áureo também Charles Darwin conviveu com suas agruras na fantástica cidade de Londres.
 Morreu em 1882 tendo sido sepultado com todas as honrarias na abadia de Westminster como um dos grandes filhos da Inglaterra. Mas não foi apenas no tempo e no espaço que os caminhos de Marx e Darwin se cruzaram. Marx quis dedicar a edição inglesa de sua obra, “O Capital” a Darwin, mas este recusou, sendo dedicado: - “A mi inovidable amigo, al pioneiro intrépido, fiel y noble del proletariado, Wilhelm Wolff, nascido en Tarnau el 21 de junio de 1809, muerto en el exílio, en Manchester, el 9 de mayo de 1864” (cf. Marx, 1973: 19). Quando Marx morreu, um ano após Charles Darwin, o seu amigo Friedrich Engels escreveu: - “Tal como Darwin descobriu a lei da evolução da natureza orgânica, também Marx descobriu a lei da evolução da história humana”. Contudo, Darwin adota basicamente com sua descoberta no âmbito da evolução o conceito de “descent with modification”, restringindo a aplicação de desenvolvimento ao indivíduo na sua história da natureza biológica, circunscrevendo particularmente o universo de sua análise científica exclusivamente à natureza.  
Marx inventou muita coisa útil para o mundo contemporâneo. Inventou um estilo literário associado à imagem do “esquerdista barbudo”, uma imagem que resistiu ao tempo. Marx inventou também a descrença num sistema econômico sanguinário que não responderia de forma simples as questões do valor da economia no âmbito do processo de valorização em torno do trabalho que a humanidade pudesse reinventar. Seu Manifesto do Partido Comunista, de 1848, foi determinante para que, poucos anos depois, a Alemanha de Bismarck e de Marx, criasse leis inovadoras no âmbito trabalhista. O Manifesto Comunista conclamava os proletários a se insurgir porque nada tinham a perder exceto os grilhões e tinham o mundo massificado a ganhar. O Welfare State, se não ofereceu realizações econômicas aos proletários, livrou-os aparentemente das correntes o bastante para que tivessem o que perder no mundo das mercadorias. O Manifesto Comunista acabaria sendo traduzido para mais de 200 línguas, mas quando foi publicado passou despercebido na esfera da ideologia.
Não devemos perder de vista a magnificência intelectual e descritiva da obra de Marx e que uma peculiar primeira edição da obra O Capital - Crítica da Economia Política, de Marx, que leva a assinatura do autor e foi ofertada para seu amigo Johann Eccarius, foi leiloada recentemente pela casa Bonham de Londres em 15 de junho de 2016. Segundo Bonham, a peça tem um preço estimado de saída de entre 80 mil e 120 mil libras (US$ 115 mil e US$ 173 mil) e seria vendida em uma jornada dedicada a livros e manuscritos. – “Esta é uma sensacional e importante cópia de um livro que mudou o mundo. Tanto Marx como Eccarius foram figuras importantes durante o difícil nascimento do comunismo e desfrutaram de uma relação pessoal estreita durante muitos anos até que os ciúmes e as diferenças políticas os separaram”, afirmou o especialista em livros da casa de leilões Simon Roberts.  A peça é 18 de setembro de 1867, quatro dias depois da publicação do primeiro volume, e uma das poucas cópias que sobreviveram, segundo Bonham. O Capital é um tratado de economia, formado por três volumes, dos quais o primeiro foi revisto e publicado em vida por Marx.  

Bibliografia geral consultada.

MOORE, Carlos, Were Marx and Engels Racists? - The Prolet-Aryan outlook of Marx and Engels. Chicago: International Publishers Limited, 1972; Idem, Castro, the Blacks and Africa. Los Angeles: Center for Afro-American Studies (CAAS); University of California, Los Angeles (UCLA), 1989; Idem, African Presence in the Americas. Trenton, NJ: África World Press, 1995; Idem, Racismo e Sociedade: Novas Bases Epistemológicas para Entender o Racismo. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007; Idem, A África que Incomoda: Sobre a Problematização do Legado Africano no Quotidiano Brasileiro. Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2008; Idem, “Abdias Nascimento e o Surgimento de um Pan-Africanismo Contemporâneo Global”. In: NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.), Sankofa. A Matriz Africana no Mundo. São Paulo: Editor Selo Negro, 2008; Idem, Pichón: Race and Revolution in Castro´s Cuba. Chicago: Lawrence Hill Books, 2008; Idem, Marxismo e a Questão Racial: Karl Marx e Friedrich Engels frente ao Racismo e à Escravidão. Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2010; Idem, Fela. Questa Bastarda di una Vita. Biografia Autorizzata. Roma: Editore Arcana, 2012; SCHWARCZ, Lilia Moritz, Nem Preto Nem branco, Muito pelo Contrário: Cor e Raça na Sociabilidade Brasileira. 1ª edição. São Paulo: Editor Claro Enigma, 2012; MACEDO, Marluce de Lima, Intelectuais Negros, Memória e Diálogos para uma Educação Antirracista: Uma Leitura de Abdias do Nascimento e Edison Carneiro. Tese de Doutorado em Educação. Salvador: Universidade do Estado da Bahia, 2013; SANTOS, Rosenverck Estrela. “O Marxismo e a Questão Racial: Reflexões Anticapitalistas sobre a Obra de Carlos Moore”. In: https://blog.esquerdaonline.com/22/10/2014; Idem, “O Marxismo e a Questão Racial no Brasil: Reflexões Introdutórias”. In: https://blog.esquerdaonline.com/22/10/2014; SODRÉ, Muniz, Claros e Escuros: Identidade, Povo e Mídia no Brasil. 3ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2015; BRUM, Eliane, “Um Negro em Eterno Exílio”. In: https://brasil.elpais.com/2015/08/31; entre outros.

3 comentários:

  1. texto muito interessante pela explanação e pela crítica.

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    1. Obrigado. Hoje pela manhã (09/02), resolvi ampliar o artigo com algumas inclusões na bibliografia e no corpo do texto.

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