sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Poder, Patrimonialismo Estatista & Educação Superior no Brasil.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

    A realidade histórica demonstrou a persistência secular da estrutura patrimonial”. Raymundo Faoro  

                           
            O Brasil é uma formação social explorada pela violência de caráter colonial e escravista. Em seu desenvolvimento está condicionada pela organização do espaço e tempo que tem como representação o sintoma da tragédia inscrita em sua memória. Não designa filiação nenhuma. É o nome comum de quem trabalha subexplorado, pela extração do pau-brasil e assim por diante. O nome lembra-nos Ginzburg (1992), é fio de Ariana que guia o investigador no labirinto documental em todas as sociedades conhecidas. Não só documentos nos arquivos e nas bibliotecas, mas às cidades, às paisagens, às formas das cidades, à expressão gestual das pessoas, como a Itália inteira pode ser considerada um imenso arquivo. Há anos Franco Venturi falou-nos com amarga ironia das bibliotecas e dos arquivos italianos como de terrenos submetidos a cultura extensiva do que intensiva. Variando “um pouco a metáfora, poderemos definir os arquivos italianos como jazidas preciosas de matérias-primas não exploradas”.
            Raymundo Faoro, jurista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), além de presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de 1977 a 1979, é autor do estudo clássico: “Os donos do poder” (1958; 1998; 2007; 2008)), obra ímpar que descreve a compreensão do período colonial brasileiro como a origem da corrupção e a gênese e formação da burocracia no país colonizado por Portugal, então um Estado absolutista. De acordo com o autor, toda a estrutura patrimonialista foi trazida para cá. No entanto, enquanto ocorreu sua “superação” em outros países, acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura de nossa economia política. Nesta sua concepção de Estado patrimonialista, Faoro coloca a propriedade individual como sendo concedida pelo Estado, caracterizando uma “sobrepropriedade” da coroa sobre seus súditos e também este Estado sendo regido por um soberano e seus funcionários. Nega a existência de um regime propriamente feudal nas origens do Estado nacional brasileiro, caracterizando sociologicamente que o regime tipo feudal refere-se à existência da “vassalagem” intermediando soberano e súdito e não funcionários do Estado.
Desenvolvendo seu raciocínio, Faoro conclui que o que se teve no Brasil foi o desenvolvimento de um capitalismo “politicamente orientado”, conceito este de inspiração baseado na formulação ideal típica weberiana. Negando-se em atribuir um papel hipostasiado à economia com relação à política, compreende o Brasil enquanto uma forma pré-capitalista de sociedade. Esta característica, no entanto, ainda será entendida no interior do pensamento weberiano em que capitalismo é definido como uma aquisição racional de lucros burocraticamente organizada, diferente do capitalismo politicamente orientado em que tal aquisição será direcionada por interesses dos Estados e da sua concorrência com outros Estados. O capitalismo “politicamente orientado” atribui ao Estado patrimonial e seus funcionários características de um “estamento burocrático”, como entrave da consolidação de uma ordem burguesa propriamente dita no país. Em seu antológico livro: “Os Donos do Poder”, realiza um diagnóstico preciso da origem do patrimonialismo brasileiro: a Casa de Aviz portuguesa no século XIV. Os reis de Portugal se consideravam proprietários do país e, portanto, da nação.


      Essa cultura atravessou mares e séculos e se enraizou com toda a força social e política no Brasil e na concepção de Estado soberano. Hoje já não há a Casa de Aviz. Outros são os tempos e outros são os donos do poder.  O Estado brasileiro é um paquiderme a serviço desses “donos” eventuais do poder. Inicialmente foram os próprios reis portugueses, depois os imperadores, depois os militares positivistas da República Velha. Agora os coronéis oriundos das oligarquias. Nada parecido com o atual, altamente sofisticado e requintado. São funcionários da “superestrutura” muitas vezes com reconhecidos títulos de PhD e que andam acompanhados, em jatinhos executivos, de poderosos empreiteiros e subempreiteiros de gigantescas obras públicas. Alguns destes com mandato popular nas Câmaras, Assembleias Legislativas ou no que Faoro, figura central nesse debate, vem argumentando que o patriarcado brasileiro cedeu lugar a um Estado Patrimonialista, observando que, ao contrário de vários países de origem anglo-saxã e sistema liberal de governo, o modelo de organização política, seguido pelo Brasil, se pauta pela dominação do público sobre o privado.
No Brasil, um país economicamente onde as desigualdades sociais no campo (cf. Martins, 1975) estão entre as maiores do mundo, apenas 1% de proprietários detém cerca de 50% das terras, em diversos momentos históricos do século XX, quando os movimentos sociais de camponeses defenderam a tese da revolução agrária. O primeiro se deu entre os anos de 1920 e 1930, com a famosa Coluna Prestes e a criação do PCB - Partido comunista Brasileiro. Outro momento se deu na década de 1960, com a criação das Ligas Camponesas com o lema: “Reforma Agrária na lei ou na marra” e no episódio contundente da Guerrilha do Araguaia. Existem vários movimentos sociais organizados por camponeses, com maior destaque o MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, cuja proposta refere-se à melhor divisão das terras brasileiras, exigindo que o governo federal propicie medidas complementares ao simples assentamento. Como por exemplo, a eletrificação e irrigação do campo, concessão de créditos rurais e execução de programas que visem estimular a atividade agrária e a subsistência do agricultor e de sua família. Podemos citar igualmente o MLT - Movimento de Luta pela Terra, que vem ganhando mais dinamismo e radicalização na luta pela reforma agrária. 
            Queremos descrever e explicar do ponto de vista político a permanência de grupos oligárquicos na formação social brasileira, caracterizada por pequenos grupos de interesse ou “lobby” que controlam as políticas sociais e econômicas em benefício de interesses próprios. O termo é também aplicado a grupos sociais que monopolizam o mercado econômico, o mercado político e cultural, contrariando o ideário constitutivo da democracia como sistema político. O pensamento e a prática política ligada à oligarquia não esteve rigidamente submetido a essa única forma de compreensão, pois o termo oligarquia pode ser muito bem empregado em outras formas de condicionamento social e político. Quando observamos que um mesmo partido político ocupa cargos de  altos escalões de governo, podemos identificar o desenvolvimento de uma oligarquia. Em geral, a presença das práticas oligárquicas individualistas impede que amplas parcelas da sociedade civil participem democraticamente do debate político. Podemos compreender a oligarquia divergindo e distante do sentido histórico da democracia.

         
            Oligarquia é um termo comumente referido enquanto uma relação social cujo sentido é dado, implicitamente, como óbvio – daí aparentemente não carecendo de qualquer explicação teórica e metodológica, na sociologia, mas evidentemente existe. O problema é que diferentes autores em sociologia e teoria política, inclusive no marxismo tomam o termo de formas distintas. O uso mais rigoroso desse conceito, dando-lhe tratamento teórico no plano de análise ao mesmo tempo, rigoroso e complexo, pode demonstrar-se bastante útil comparativamente ao menos com relação a três fins: 1) Como termo para designar grupos políticos tradicionais que dominam determinadas regiões, ou, por derivação de interesses, seu governo; 2) Como termo tomado na sua acepção clássica, platônica e aristotélica, de “governo dos ricos” ou, por extensão, como o “grupo dos ricos”. Trata-se de um uso que não se distingue completamente do primeiro; 3) Como um grupo minoritário dotado de poder dentro de organizações, principalmente, mas não só necessariamente as representativas, ou de seu governo. 
            O conservadorismo, em certo sentido, surgiu do tradicionalismo. De fato, ele é primordialmente nada mais do que o tradicionalismo tornado consciente. Apesar disso, os dois não são sinônimos, na medida em que o tradicionalismo só assume seus traços especificamente conservadores, enquanto expressão de um modo de vida e pensamento, como um movimento relativamente autônomo no processo histórico-social. Uma das características mais essenciais desse modo de vida e desse pensamento conservador parece ser a forma como ele se apega ao contraditório imediato, o real, o concreto. O conservador somente pensa em termos dos “sistemas como reação”, quando é forçado a desenvolver um sistema próprio para contrapor ao dos progressistas ou quando a marcha dos acontecimentos políticos, o priva de qualquer influência sobre o presente imediato, de tal forma que ele seria obrigado a “girar a roda da história para trás” a fim de reconquistar a sua influência ao nível ideológico ou político propriamente do poder. Sua natureza peculiar pode ser mais claramente percebida no seu conceito de propriedade de forma anteriormente diversa da propriedade contemporânea. Aquele sentido genuíno trazia consigo certos privilégios para seu dono - por exemplo; dava-lhe vez nas questões de Estado. Tal formação transige entre o domínio da autoridade e o conservadorismo vinculado ao imaginário individual e coletivo através da repressão e medo. Ignorar é a única resposta possível para a ignorância simbólica da Lei. 
            A relação entre pensar e sentir está em discussão. O que, no entanto, parece que só ilumina e clareia está perpassado de obscuridade através do que é a vingança nestes tempos de homens sombrios. Provisoriamente podemos dizer: vingança é a perseguição que resiste, opõe-se e subestima. E terá esta perseguição suportada e conduzida à reflexão até hoje vigente. Quando procede a mencionada dimensão atribuída ao espírito de vingança? Podemos pensar á medida que temos a possibilidade para tal. Porém, ainda não nos garante que o possamos na possibilidade. Permitir que algo, segundo o seu próprio modo de ser, venha para junto de nós; resguardar insistentemente tal permissão. Sempre podemos somente isso para o qual temos gosto – isso a que se é afeiçoado, à medida que o acolhemos. Verdadeiramente só gostamos do que, previamente e a partir de si mesmo, dá gosto. E nos dá gosto em nosso próprio ser à medida que tende para isso. Através desta tendência, reivindica-se nosso próprio modo de ser. A tendência é conselheira. A fala do aconselhamento dirige-se ao nosso modo próprio de ser, para ele nos conclama e, assim, nos atem. Na verdade, ater significa: cuidar, guardar. Nós o guardamos se nós não o deixamos fugir da memória, representante que é da concentração do pensamento. Portanto, é o que cabe pensar cuidadosamente, sendo a palavra conselheira de nosso modo próprio de pensar.
Distinguir dois elementos no interior de um grupo humano, os membros e os chefes, os que obedecem e os que comandam – os “governantes” e os “governados”, constitui uma visão justa, mas demasiadamente sumária, da realidade. Um punhado de indivíduos ligados por certa solidariedade, de um lado, alguns chefes, do outro, essa descrição convém a uma multidão num dia de sedição, a uma reunião de crianças num pátio de recreio, a um bando de ladrões conduzido por um chefe, a comunidades pequenas e instáveis - a partidos pré-históricos que ainda não são clãs pessoais, clientelas reunidas em torno de um homem. Não basta ela para comunidades grandes e duradouras; aqui os membros inserem-se num quadro institucional, num arcabouço mais ou menos complexo; a comunidade global é um conjunto de pequenas comunidades de base, ligadas entre si por mecanismos coordenadores. Nos partidos modernos, esse arcabouço assume grande importância: constitui ele o quadro geral da atividade dos partidários, a forma imposta à sua solidariedade: determina os mecanismos de seleção dos dirigentes e os poderes destes. Explica, “in statu quo res erant ante bellum” amiúde, a força e a eficiência de certos partidos, a fraqueza e a ineficácia de outros tantos. 
Contudo, um partido não é uma comunidade, mas um conjunto de comunidades, uma reunião de pequenos grupos disseminados através do país (seções, comitês, associações locais etc.), ligados por instituições coordenadoras. A expressão “elementos de base” designa essas células componentes do organismo partidário. A oposição dos partidos diretos e dos partidos indiretos situa-se num plano “horizontal”; a noção de elementos de base refere-se a um plano “vertical”. Cada um dos grupos corporativos ou profissionais que compõe um partido indireto é ele próprio uma reunião de “elementos de base”: sindicatos, cooperativas, as chamadas guildas de Boerenbond, ligas locais das classes médias etc., mas estes não possuem uma natureza política: o partido só aparece pela sua aglomeração, seja somente na cúpula, sejam-nos em diferentes escalões.
Não se confundirão, por outro lado, os elementos de base, células-mater do partido, e os organismos anexos, instituições que gravitam em torno dele, querem para reunir simpatizantes, quer para reforçar a adesão dos líderes partidários: movimentos de juventude, organizações femininas, ligas esportivas, instituições culturais etc. a distinção não é, aliás, sempre fácil entre estes e as comunidades profissionais ou corporativas cuja reunião forma os partidos indiretos; os sindicatos, por exemplo, são ora organismo anexos dum partido direto, ora um ramo do partido indireto. Somente uma análise geral da estrutura de um partido permite estabelecer uma distinção entre as duas hipóteses. A Lei 9.394/96 estabelece às diretrizes e bases da educação no Brasil. A educação de nível superior abrange os cursos sequenciais, graduação, pós-graduação e de extensão universitária. Em relação à pós-graduação, particularmente, a mesma tecnicamente se divide em latu sensu (Mestrado Acadêmico e Mestrado Profissional) e stricto sensu (Doutorado). A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é o órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pela avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu que tem 122.295 estudantes matriculados de pós-graduação, dos quais 76.323 são de mestrado acadêmico, 4.008 de mestrado profissional e 41.964 de doutorado. Dos 122.295 estudantes matriculados em 1.925 programas de pós-graduação reconhecidos pelo MEC apenas 44.112 são bolsistas.
O levantamento meramente estatístico é da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes/MEC). Há um crescimento ainda incipiente na cooperação dos Estados, empresas estatais e iniciativa privada para demanda de bolsas de pós-graduação. Além disso, há 40 mil alunos de pós-graduação sem bolsas de estudo. Muitos, porém, têm vínculo empregatício e não podem receber o benefício. A região Sudeste concentra 31.274 no doutorado; 45.856 no mestrado acadêmico e 2.893 no mestrado profissional. Na região Norte há 228 doutorandos e 1.507 mestrandos. São Paulo concentra 21.161 dos 41.964 alunos da área. Dos 76.323 alunos de mestrado acadêmico, 27.716 estão em São Paulo; 10.721 no Rio de Janeiro; 61 em Rondônia; 8 no Tocantins; e 4 no Acre. – “As regiões Norte e Centro-Oeste, excluindo o DF, têm os índices mais baixos de matriculados na pós-graduação e, consequentemente, de bolsas”.
De acordo com o survey apresentado por pesquisadores do Programa de Pós-graduação em “Ciência da Propriedade Intelectual” da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Rodrigues “et al” (2013), observou-se que o número de instituições de nível superior cresceu gradativamente no decorrer dos anos, acarretando o aumento do número de programas de mestrado e doutorado no Brasil, assim como o quantitativo de alunos matriculados nos respectivos cursos. Constatou-se que em 1998 o Brasil tinha 1.925 programas de mestrado e doutorado conjuntamente, em 2013 atingiu o total 3.486, representando um aumento de aproximadamente 250%. Em relação ao total de alunos matriculados na pós-graduação stricto sensu, houve aumento nos seguimentos mestrado acadêmico, profissional e doutorado, com ênfase no mestrado profissional. Quanto ao número de matriculados por grande área no curso de doutorado, certificou-se que a maioria dos alunos matriculados se encontra na grande área de Ciência Humanas, no mestrado acadêmico, também se destacou a grande área de Ciências Humanas e no mestrado profissional, a grande área multidisciplinar. Portanto, houve uma real evolução no quantitativo de programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil no período de 1998 á 2013, assim, como no número de alunos recentemente matriculados. 
No Brasil, um país economica e socialmente onde as desigualdades sociais no campo (cf. Martins, 1975) estão entre as maiores do mundo, apenas 1% de proprietários detém cerca de 50% das terras, em diversos momentos históricos do século XX, quando os movimentos sociais de camponeses defenderam a tese da revolução agrária. O primeiro se deu entre os anos de 1920 e 1930, com a famosa Coluna Prestes e a criação do PCB – Partido comunista Brasileiro. Outro momento se deu na década de 1960, com a criação das Ligas Camponesas com o lema “Reforma Agrária na lei ou na marra” e no episódio contundente da Guerrilha do Araguaia. Existem vários movimentos sociais organizados por camponeses, com maior destaque o MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, cuja proposta refere-se à melhor divisão das terras brasileiras, exigindo que o governo federal propicie medidas complementares ao simples assentamento. Como por exemplo, a eletrificação e irrigação do campo, concessão de créditos rurais e execução de programas que visem estimular a atividade agrária e a subsistência do agricultor e de sua família. Podemos citar igualmente o MLT - Movimento de Luta pela Terra, que vem ganhando mais dinamismo e radicalização na luta pela reforma agrária.
Não é por acaso que do ponto de vista político a noção de crise é privilegiada nos discursos contrarrevolucionários, em geral oligárquicos, funcionando em dois registros, mas complementares: por um lado, serve de explicação (saber) para a emergência do irracional no coração da racionalidade (isto é, serve para ocultar a crise verdadeira), por outro lado, mobiliza os agentes sociais acenando-lhes o risco da perda da identidade, suscitando-lhe o medo da desagregação social, isto é, da revolução e oferece-lhes a oportunidade de restaurar uma ordem não crítica graças à ação de alguns ditos “salvadores da ordem” ameaçada. Eis porque a crise, no discurso contrarrevolucionário, é posta como crise de autoridade. A imagem da “crise” serve para reforçar a submissão a um poder miraculoso que emana dos chefes esperados e que encarna em suas pessoas a identidade possível da sociedade consigo mesma. Na filosofia de Walter Benjamin a questão tópica da identidade é sempre concebida com a forma originária da ideologia. E esta representa a relação imaginária do homem com as suas condições reais de existência no âmbito da imaginação.   
A crise no Brasil é usada para fazer com que surja diante dos agentes sociais o sentimento de um terror hobbesiano que ameaça igualmente a todos. Dá-lhes o sentimento de uma comunidade de interesses e de destino e leva-nos a aceitar a bandeira da salvação da sociedade supostamente homogênea e integrada. Nessa medida, a imagem da crise pode funcionar como válvula de escape de um discurso e de uma prática contrarrevolucionários porque visa a impedir que as frações das classes sejam assumidas como tais. Vale lembrar que os integralistas não se cansaram de afirmar que a “crise brasileira” só poderia ser superada se fossem abandonados os interesses classistas do capital e do trabalho e se uma classe, não comprometida com as duas, pudesse conduzir os destinos da nação propondo a integração entre contrários.  Por outro lado, embora a imagem da crise seja inseparável do contexto onde possa haver a figuração empírica de “salvadores” ou “chefes”, o tipo de poder atribuído a eles irradia-se para a sociedade inteira, através de aparelhos de Estado que exerçam a mesma e única autoridade de sorte que o projeto de uma organização burocrática, corporativa e militarizada não será, desde esta forma de pensamento e prática autoritária, senão a consequência lógica da análise da realidade brasileira como idealidade patrimonialista.
 
Bibliografia geral consultada.
FAORO, Raymundo, Os Donos do Poder - Formação do Patronato político Brasileiro. Porto Alegre: Editor Globo, 1958; Idem, “Um Muro Secular entre a Mão e a Espiga”. In: Carta Capital. São Paulo n° 13, 1995; Idem, “A aventura liberal numa ordem patrimonialista”. In: Revista USP. São Paulo, n°17, 1998, pp. 14-29; Idem, A República Inacabada. Org. Fábio Konder Comparato. São Paulo: Editor Globo, 2007; SANTOS, Wanderley Guilherme, Ordem Burguesa e Liberalismo Politico. São Paulo: Editoras Duas Cidades, 1978; AGUIAR, Neuma, “Patriarcado, Sociedade e Patrimonialismo”. In: Soc. Estado. Vol.15 n° 2. Brasília. Jun./dez., 2000; BALBINO, Marcos Aurélio Lima, A Permanência do Argumento: Estudo Comparativo entre a 1ª e 2ª edições da Obra Os Donos do Poder: A Formação do Patronato Político Brasileiro. Dissertação de Mestrado em Ciência Política – IUPERJ. Rio de Janeiro, 2002; LESSA, Renato de Andrade, “Revisitando Faoro: O longínquo pesadelo brasileiro”. Disponível em: Travessias. Rio de Janeiro, volumes 2/3, 2006; HOSTINS, Regina Célia Linhares, “Os Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPG) e suas Repercussões na Pós-graduação Brasileira”. In: Perspectiva 24, nº1: 133-160; 2006; BRITO, Leonardo Octávio Belinelli, Brasil: Oriente Político? Uma Discussão sobre o Patrimonialismo Estatista. Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Departamento de Ciência Política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2015; BRAGA, Ubiracy de Souza, Oligarquia Revigorada: Consciência, Autoconsciência & Consciência Comum no Brasil. Tese de Livre Docência em Ciência Política. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, 2016; 568 páginas; SOUZA, Claudia Daniele de; FILIPPO, Daniela de, e CASADO, Elias Saenz, “Crescimento da Atividade Científica nas Universidades Federais Brasileiras”. In: Revista da Avaliação da Educação Superior 23, nº1: 126-156; 2018; PELEGRINI, Tatiane; FRANÇA, Marco Túlio Aniceto, “Endogenia acadêmica: insights sobre a pesquisa brasileira”. In: Estudos Econômicos. São Paulo, vol.50 nº4, pp.573-610, out.- dez. 2020; entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário