“Je n`ai pas dit exclut Dieu, ce qui est équivalent à sa demande. Albert
Camus
Albert
Camus nasceu no dia 7 de novembro de 1913, na Argélia francesa numa família
dita “pied-noir”. É um termo usado para fazer referência aos cidadãos franceses, e outros de ascendência europeia, que viveram no Norte da África francês, nomeadamente a Argélia francesa, o Protetorado Francês do Marrocos ou o Protetorado Francês da Tunísia, por várias gerações, até ao fim da colonização francesa no norte Africa entre 1956 e 1962. Em particular, o termo Pieds-Noirs é utilizado para aqueles cidadãos descendentes de europeus que regressaram a França assim que a Argélia se tornou independente. Assim, é expressão que se refere à população francesa das antigas
colônias e Departamentos franceses no norte da África: Argélia, Tunísia e
Marrocos, que foi repatriada a partir do fim da ocupação em 1962, notadamente após a guerrilha de
Independência da Argélia. Morreu
em 1960, vítima de um acidente de automóvel. Na maleta estava contido o
manuscrito de “Le Primier Homme”, um romance autobiográfico. É uma publicação
póstuma do autor, que planejava escrever uma saga e conta a trajetória de
Jacques Cormery. Albert Camus nos apresenta à Argélia do início do século XX.
Povoada com colonos franceses às turras com os nativos, todos “nadando em uma
miséria extrema”. Demonstra o início do nacionalismo argelinoo
qual teve comoseu fundador, Ahmed
Mesli (1898-1974), em árabe: مصالي الحاج
que mais tarde culminou na guerra de Independência. Segundo estudos e análises
críticas a ideia do “absurdo da existência humana”, é a maior
contribuição de Camus para a filosofia. Representou um dos motivos que fizeram com
que o autor deixasse o país natal e se mudasse para a França. No ano de 1934
ele entra no PCF - Parti Communiste Français, contrai matrimônio com Simone Hie,
obtém o certificado de Estudos Literários Clássicos e de Filosofia Geral e
História da Filosofia. Começa a escrever “L`Envers et l`Endroit” e em maio,
inicia a escrita dos “Cadernos” e funda o “Teatro do Trabalho”. Compõe a peça “Revolta nas
Astúrias”, e, por influência de Jean Grenier, no outono de 1935 adere ao jovem Parti
Communiste Algérien criado em 1920.
Redige a tese de doutorado sobre Plotino, nascido em Licopólis em 205 e morto no Egito em 270, foi um filósofo neoplatônico. Mas sua paixão pela política e pela literatura o faz ingressar no Partido do Povo da Argélia, passando pari passu a escrever para dois periódicos socialistas. Trava conhecimento com o filósofo existencialista marxista Jean-Paul Sartre de quem se torna um grande amigo. Ingressa na Resistência Francesa e lança o jornal clandestino Combat. De biografia ímpar, se já não é um truísmo, é fato raro em tempos de crise de consciência na modernidade, como o transitório, o fugidio, o contingente, para lembramos de Gustave Flaubert que marcou a literatura francesa pela profundidade de suas análises psicológicas, seu senso de realidade, sua lucidez sobre o comportamento social. Com pai francês e mãe de origem espanhola, Albert Camus reconhece cedo a angústia o gosto amargo do homem diante da morte. Escreveu sobre temas conspícuos como a peste, o medo, a submissão do “homem ao absurdo”, a guerra de Independência da Argélia, sua terra natal, paixão e de formação política. Em 1938, Albert Camus colaborou com a fundação do jornal “Alger Républicain”.
Durante a guerra mundial de 1939-1945,
colabora pari passu com o jornal
“Combat”, além de sua participação no jornal “Paris-Soir”. Como intelectual
empreende uma crítica analítica singular. Independente, fora do partidarismo oportunista
e, sobretudo, das formas contemporâneas do binômio “produção-consumo”, no
sentido que o Marx da Introdução de 1859 emprega, no
âmbito do jornalismo consumista que se faz refém no dias de hoje da chamada “indústria cultural”. Fora deste sentido, “Combat” foi
um jornal francês. Sua fundação ocorre
em meio à 2ª guerra mundial, sendo um diário clandestino editado pela
Resistência francesa e com a colaboração de Albert Camus. Em agosto de 1944,
com o fim da ocupação nazista em Paris, o jornal passa a circular fora da
clandestinidade e a partir deste momento, adotam uma postura infelizmente anticomunista.
Em 1947 Albert Camus deixa o jornal,
juntamente com Pascal Pia. Contudo, Combat teve grande destaque do ponto de vista marginal da comunicação na década de
1960, nos eventos da Guerra da Argélia e o Maio de 1968.
Camus
tornou-se jornalista pelo dom de retratar como poucos a realidade social, após
cursar filosofia e trabalhar em jornais da Argélia e na prestigiosa Editora
Gallimard, na França. Tivesse Camus escapado ao acidente que lhe tirou a vida,
aos 46 anos, em janeiro de 1960, talvez mudasse de ideia sobre sua visão aparentemente
sombria do século XX. Teria assistido a Independência política da Argélia, a
derrota do franquismo, quem sabe mesmo a derrubada do muro de Berlim, o final
da moribunda “Guerra Fria” e, em particular, a criação da
União Europeia. No dia 21 de julho de 1990, vale lembrar Roger Waters,
ex-baixista do Pink Floyd, fez um dos maiores e mais importantes shows da
história mundial do rock. Perante 200 mil pessoas, na Potsdamer Platz, em
Berlim, acompanhado por astros da música pop, tocou na comemoração da queda do
Muro de Berlim. Marco da Guerra Fria, disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, o Muro de Berlim dividia-se em ocidental e oriental. Com o colapso do bloco comunista, a edificação
acabou sendo derrubada, e a cidade passou a ser uma só, novamente. Antes
de se tornar presidente o 23º presidente francês, foi líder da União por um
Movimento Popular (UMP). Durante a presidência de Jacques Chirac, foi Ministro
do Interior nos primeiros dois governos de Jean-Pierre Raffarin de maio de 2002
a agosto de 2004, e depois foi nomeado Ministro das Finanças no último governo
de Raffarin de agosto de 2004 a março de 2005, e novamente Ministro do Interior
no governo de Dominique de Villepin (2005-2007). Sarkozy foi também presidente
do Conselho Geral do departamento francês de Hauts-de-Seine de 2004 a 2007 e
prefeito de Neuilly-sur-Seine, uma das comunas mais ricas da França, de 1983 a
2002.
Foi Ministro do Orçamento no governo de Édouard Balladur durante o
último mandato de François Mitterrand. Sarkozy é conhecido por querer
revitalizar a economia francesa. Quando candidato à presidência da França, nas
eleições de 2007, ele prometeu reavivar a ética trabalhista, promover novas
iniciativas e combater a intolerância. Nas relações exteriores, prometeu um
fortalecimento da Entente Cordiale com o Reino Unido e uma cooperação mais
próxima com os Estados Unidos. Foi eleito presidente da República com 53,1% dos
votos, derrotando Ségolène Royal. Durante seu mandato, fez votar várias
reformas, dentre as quais a chamada Loi Relative aux Libertés et Responsabilités des Universités (2007), e a Reforma das aposentadorias (2010). Seu mandato foi marcado
pelo impacto da Crise econômica mundial iniciada em 2008 e da crise da dívida
pública da Zona Euro. Candidato à reeleição em 2012, foi derrotado por François
Hollande, obtendo 48,4% dos votos no segundo turno. Já se vão pouco mais de 100 anos de seu
nascimento, a melancolia, a estética “noir” dos cafés de Saint-German-des-Pés,
a imagem do homem viril e de algumas mulheres encantadoras, como: Maria Casares
ou Catherine Sellers. Maria Victoria Casares Quiroga y Pérez, artisticamente,
María Casares (1922-1996) foi atriz espanhola com notório sucesso no cinema
francês. Trabalhou na televisão, cinema, atuando num dos clássicos franceses:
“Les enfants du paradis”, mas dedicou-se ao teatro, tornando o seu nome prêmio
teatral: “María Casares”. Camus conheceu-a mais tarde estrela de Orfeu de
Cocteau, uma atriz reconhecida, em 1944.
Filha de um rico espanhol republicano, um refugiado de Franco, ela era
uma mulher politizada, voluntariosa, inteligente e apaixonada. Ela talvez tenha sido a
única de suas amantes que teve uma relação amorosa de igualdade com ele, mas
que não trataremos agora.
Além
disso, Olivier Todd afirma: - “Se ele era um Don Juan, era um Don Juana”. Casares, que
morreu recentemente, escreveu uma autobiografia em que ela foi sincera sobre
sua relação com o célebre Camus, mas com uma curiosa altivez nunca citou
diretamente de suas centenas de cartas. Conhecida por ter, entre outros julgados
sob a direção de Alain Resnais, Marguerite Duras ou Albert Camus, que era um
dos companheiros da atriz Catherine Sellers que também empresta sua voz para
documentários. Ela foi membro do júri de Marguerite Duras. Recebeu o prêmio de
melhor atriz da União de críticas nos anos 1981/1982. Jean Grenier foi
fundamental para que Albert Camus se graduasse em filosofia. Tanto Nicole Grenier
quanto o velho mestre Jean Guerin, foram lembrados no livro: O Homem Revoltado (1951). O livro analisa o conceito da revolta de um ponto de vista histórico, esmiuçando suas características e seus desvirtuamentos. Contudo, a revolta para Camus tem uma dupla significação. Não é apenas histórica, apesar do seu ensaio ser histórico, pois analisa as manifestações históricas da revolta per se encontra algo de irredutível à própria natureza histórica. As manifestações históricas analisadas são muitas e de vários períodos históricos. Seja a denominada Revolta Metafísica de Epicuro e Lucrécio na Antiguidade, seja na negação do Marquês de Sade. Ou na afirmação do Único, de Max Stirner, na mesma seção que Friedrich Nietzsche.
Ele observa e analisa essas manifestações também na poesia e na própria revolução. Seja na revolta dos escravos liderados por Espártaco ou na revolução que deu origem a URSS, e seus desdobramentos. Passando claro, pelas ideias e pela efetivação da clássica revolução burguesa na França. Neste sentido é possível afirmar que se por alguma razão se distinguia esse racionalista do mito, foi pelo aspecto moral de sua obra. Sua dissertação de mestrado é sobre neoplatonismo e sua tese de
doutoramento, assim como a de Hannah Arendt sobre Santo Agostinho. A
guerra da Argélia (1954-1962) representou um movimento de luta pela Independência
da Argélia, então território francês. Caracterizou-se por ataques de guerrilha e
atos de violência contra civis - perpetrados tanto pelo exército e colonos
franceses chamados os pied-noirs quanto pelo Front de Libération Nationale - FLN e outros grupos argelinos pró-Independência.
O governo francês considerava criminoso ou terrorista todo ato de violência
cometido por argelinos contra franceses, inclusive militares. No entanto,
alguns franceses, como o antigo guerrilheiro anti-nazi e advogado Jacques
Vergès, compararam a Resistência francesa à ocupação nazi com a resistência
argelina à ocupação francesa. Uma campanha de atentados antiárabes (1950-1953)
havia sido praticada por colonos direitistas. Desencadeado, em contrapartida, a
luta lançada pela FLN em 1954. Apenas dois anos antes de a França desistir do seu controle sobre a Tunísia e Marrocos.
O principal rival
argelino da FLN - com o mesmo objetivo de Independência política para a Argélia
- representava o Mouvement National Algérien - MNA, cujos insurgentes principais eram
trabalhadores argelinos em França. A FLN e o MNA lutaram entre si durante o
conflito político. Em filosofia, metodologicamente “Absurdo”
se refere ao conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à
vida. Ou, a inabilidade humana para encontrar algum significado. Nesse contexto
“absurdo” não significa, “logicamente impossível”, mas sim “humanamente
impossível”. O universo e a mente humana não causam separadamente o Absurdo.
Mas é o Absurdo que surge pela natureza contraditória de ambos existindo
simultaneamente. Esta filosofia está relacionada ao existencialismo de Sartre e ao niilismo de Nietzsche, ainda que não
deva ser confundido com estes. “Absurdismo”, portanto, como conceito tem suas
raízes no século XIX com o filósofo dinamarquês Kierkegaard. Já como sistema de crença nasceu do movimento
existencialista quando o filósofo Albert Camus rompe essa tendência e publica seu manuscrito “O mito de Sísifo”. As consequências
da 2ª guerra mundial proporcionaram um ambiente social propício para as visões “absurdistas”, na devastada França, como de Emil Cioran (1911-1995), escritor e filósofo romeno radicado na França.
Le Mythe de Sisyphe é considerado o ponto de partida.
Trata-se de uma sensibilidade, não de uma filosofia do absurdo. O autor diz
isso em parte do prólogo: - “aqui se encontrará unicamente a descrição, o
estado puro de uma doença do espírito. Nenhuma metafísica, nenhuma crença foi
misturada a isso por enquanto”. Sem lugar a dúvidas, “O mito de Sísifo” é a
obra capital do absurdo. Assim como fez Jean-Paul Sartre, ao publicar em 1943 o
ensaio: “O Ser e o Nada”, onde tenta exibir a tese da novela “A Nausea” (1938),
Camus publica o ensaio em que tenta resolver os problemas propostos em sua
narração “O estranho”, ambos de 1942. Um dos aspectos relacionados por
estudiosos a este ensaio de Camus é o tema do suicídio. Foi analisado magistralmente
por Émile Durkheim, mas para Camus, especialmente em sua primeira parte: “Um
raciocínio absurdo”. A resposta que Camus tenta diante deste problema,
refere-se a um trabalho sobre o sentimento do absurdo, sua gênese, seu
conteúdo. Desenvolve o conceito do tempo, como inimigo, para entender a ilogicidade
do mundo. O espectro da morte como uma certeza do absurdismo. O absurdo nos liberta de toda espécie de julgamentos, de toda a moral, nos recupera uma outra certeza. Viver sem apelação é a nossa vontade. Sem recorrer ao passado nem ao futuro. Sem recorrer à verdade nem a deus. Nem a nada de que não envolva o entendimento.
De
acordo com o “absurdismo”, por toda a história os humanos tentam encontrar
sentido para suas vidas. Isto é correto, mas tradicionalmente, essa busca
resulta em uma das duas conclusões: ou que a vida não tem sentido, ou que a
vida contém nela um propósito definido por uma força maior - uma crença em
Deus, ou a aderência a alguma religião ou outro conceito abstrato. Camus
percebe que preencher a lacuna com alguma crença ou sentido inventado é um mero
“ato de ilusão”; isto é, evitar ou contornar ao invés de reconhecer e abraçar o
Absurdo. Para Camus, “a ilusão é uma falha fundamental na religião”, no
existencialismo, no caso do existencialismo ateísta, entretanto, não inclui
“ilusão” e em várias outras escolas do pensamento. Se o indivíduo escapa ao
Absurdo, então ele não poderá confrontá-lo. Mesmo com uma força espiritual para
dar significado, outra questão surge: Qual o propósito de Deus? Kierkegaard acreditava que não há propósito de Deus compreensível aos humanos.
Fazendo da crença em Deus “um absurdo por si mesma”, um fim em si mesmo. Camus,
por outro lado, sugere que acreditar em Deus é “negar um dos termos da
contradição”, entre a humanidade e o universo, portanto, não absurdo, mas é o
que ele chama de “suicídio filosófico”. Camus pondera, - “Eu não disse exclui Deus, o que equivale à Sua
afirmação”. No
entanto, todo este pessimismo tende a apagar-se com o mesmo final que dá a sua
obra. Diz: “devemos imaginar Sísifo feliz”. E aqui surgem então dois conceitos
fundamentais: a consciência e a esperança configurada numa relação entre proximidade e distância. Diante deste mundo complexo e
incompreensível, diante da cotidianidade da vida, onde tudo acabará com a
morte, surge a consciência. Camus diz isso muito bem: “pois tudo começa pela
consciência e nada vale mais do que por ela”. O absurdo então não é a sociedade
nem o homem, senão a interação entre ambos. “A consciência é um desejo louco de
clareza”. Em relação à esperança, trata-se de encontrar outros caminhos; tudo
tem um por que, inclusive o que parece estar motivado fora da razão. Finalmente, está a rebelião (cf. Silva, 2008),
tendo como escopo a ilusão da liberdade inequivocamente contrária no sentido de Jean-Paul Sartre, mas que denota ser outra obsessão de Camus. Assim o homem se
libera e voltamos ao conceito do presente. - “O presente e a sucessão dos
presentes… é o ideal absurdo”. Camus, como analogamente também Kierkegaard, ainda assim, sugere que enquanto o absurdo não leva à crença em Deus, também não leva à Sua negação.
Para
alguns, suicídio representa uma solução quando confrontados com a futilidade de viver a
vida destituída de qualquer significado, sendo o suicídio apenas um meio egoísta de
adiantar o resultado final do destino de cada um. Para Albert Camus em O Mito
de Sísifo, não é uma solução vantajosa, porque se a vida é verdadeiramente
absurda, combatê-la é ainda mais absurdo; ao invés disso, nós deveríamos viver,
e conciliar o fato político de que vivemos numa realidade social sem sentido. Suicídio, de
acordo com Camus, é simplesmente um ato de evitar o Absurdo, ao invés de viver
apesar dele. É a beleza que as pessoas encontram na vida que a faz valer a
pena. Pois, a vida se torna ainda mais bonita quando descobrimos que a verdadeira alegria de viver encontra-se nos detalhes. As pessoas podem criar sentido para suas vidas, que pode não ser um sentido
filosoficamente objetivo, se é que há um, mas ainda assim pode prover algo pelo
que lutar, como um segredo de uma vida bem-sucedida. Ele insistiu que se deve sempre manter uma distância
irônica no sentido afetivo que empregaKierkegaard entre esse significado inventado e o conhecimento do
Absurdo, de forma que o significado inventado não tome o lugar do Absurdo.
A
liberdade não pode ser alcançada além do que a absurdidade da existência
permite; entretanto, o mais perto de que alguém pode chegar de ser
absolutamente livre é pela aceitação do Absurdo. Camus introduziu a ideia da
“aceitação sem resignação”, contrariando Max Weber, como um
meio de lidar: a) com o reconhecimento do absurdo, b) questionando se um homem
pode ou não “viver sem apelo”, c) enquanto ser definindo uma “revolta
consciente” contra a evasão da absurdidade do mundo. Em um mundo destituído de
significado superior ou justiça após a morte, o ser humano se torna tão
absolutamente livre quanto é humanamente possível. É através dessa liberdade
que o homem pode atuar, ou como mística, através do apelo a alguma força
sobrenatural, ou, como um herói do absurdo, através da revolta contra tal
esperança. Acossado pela intelligentsia
ligada, ou simpática, ao sovietismo, condenou igualmente os ataques nucleares
dos Estados Unidos ao Japão; a prerrogativa dos vetos, no Conselho de Segurança
da ONU; o absurdo da Guerra Fria, cuja lógica de extremos e incertezas sempre
se recusou a adotar. Fez da oposição ao terror do franquismo quase sua obsessão
pessoal.
Na interpretação filosófica de Georges-Michel Darricades, metodologicamente há dois tópicos fundamentais nos quais podemos abraçar a obra de Camus: “o absurdo e a rebeldia”. De alguma maneira, ele gostava de ordenar seus ciclos, denominados assim por ele. Desta maneira, na série de análise sobre o “Absurdo”, logicamente incluía: “O estranho”, “O mito de Sísifo”, “Calígula” e “O mal-entendido”; e na série “Rebeldia”, estava o livro “A peste” e “O homem rebelde”. Há muitas páginas de Camus que ultrapassam a sucinta relação que Georges-Michel Darricades pretende para dar consistência ao artigo. Aí estão: “Avesso e Direito”, “Casamentos”, “O verão”, no plano dos ensaios; “A queda”, “O exílio no reino da narrativa”; “O mal-entendido”, “O estado de sítio”, “Os justos”, no teatro. E outros textos como “Atualidades” e “Cadernetas”, que estão mais perto da contingência e do devir dos acontecimentos que lhe tocou viver. Esta filosofia está relacionada simultaneamente à interpretação do existencialismo quanto ao niilismo, ainda que não deva ser confundido com estes analiticamente.
A
rejeição da esperança, no “absurdismo”, demonstra a recusa de acreditar em
qualquer coisa além do que essa vida absurda pode prover. Doravante, a recusa
do herói do absurdo à esperança se torna sua habilidade de viver o presente com
paixão. A esperança, como Camus enfatiza, não tem, entretanto nada a ver com
desespero, significando que os dois termos não são antônimos. O indivíduo pode
viver rejeitando completamente a esperança, e, de fato, só pode fazê-lo sem
esperança. A esperança é vista pelo “absurdista” como outro método fraudulento
de evadir o Absurdo, e não tendo esperança, o indivíduo estará motivado consequentemente a viver
cada momento ao máximo. O “absurdista” não é guiado por moralidade, mas ao
invés disso, pela sua própria integridade. O “absurdista” é, de fato, amoral, porém
não necessariamente imoral. De modo geral a questão da moralidade implica um firme senso definitivo em oposição assimétrica entre certo e errado, enquanto a
integridade implica honestidade consigo e consistência nas motivações entre ações e decisões na sua existência.
Na foto: Jacques Lacan, Cécile Eluard, Pierre Reverdy, Louise Leiris, Zanie Campan, Pablo Picasso, Valentine Hugo, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Michel Leiris, Jean Aubier y Brassaï, fotografiados por este en 1944, “tras la lectura de Le désir attrapé par la queue, de Picasso”.Sob estas diretrizes, não é sem sentido que sua obra filosófica e literária tenha o absurdo como estandarte, como bandeira militar, analogamente como no mar é a bandeira distintiva de um chefe de Estado que é arvorada no mastro principal de um navio. Grosso modo, seus livros testemunham as angústias e rancores de seu tempo e os dilemas e conflitos já observados por escritores que o precederam, tal como Kafka ou Dostoievski, por exemplo. Esta proximidade entre Camus e estes dois autores evidencia uma cadeia que se estende até os dias atuais, indica a fonte de um movimento heterogêneo - abrange arte, teatro, literatura, filosofia -, que por conveniência poderemos identificar como a “estética do absurdo”. Alguns ilustres filiados a este movimento cujo foco é o absurdo são eles: Samuel Beckett e Eugène Ionesco. Albert Camus mudou-se para a França em 1939 antes da invasão imperilaista alemã. Mudou-se devido às polêmicas com as autoridades francesas na Argélia.
Lembramos
que o tema da rebelião já o
preocupava vários anos antes. Um amigo lhe pedira para escrever algo a respeito
para uma compilação sobre o tema, por isso, tinha várias anotações em seu
Diário sobre ele. Este ensaio, um dos mais importantes de Camus, reflete um
antes e um depois em relação aos seus contemporâneos. Significou o início do
distanciamento e a polêmica com Sartre. E também recebeu o ataque de boa parte
da intelectualidade francesa e da publicação: Les Temps Modernes. A pergunta
central que propõe é: “o crime é legítimo?”. Então, denuncia
o terrorismo de Estado no nazismo, fascismo e no comunismo, este último através
de sua expressão mais depurada, o stalinismo. O autor se distancia dessa
rebelião morna, comum em muitos intelectuais de seu tempo: “eu me sublevo,
depois me retiro à montanha, lavo as mãos…”. Ao contrário, fala da cidade, a
rebelião deve ser feita ali para ser realmente eficaz. No entanto, sabe que é
difícil; o indivíduo luta contra o mal, mas é impossível mudá-lo em um só dia
pelo bem. Em suas palavras: - “depois de tudo, os filhos sempre
morrerão injustamente, mesmo na sociedade perfeita. Em seu maior esforço, o
homem só pode tentar diminuir aritmeticamente a dor do mundo”. Mas “o porquê de
Dimitri Karamazov continuará ressoando; a arte e a rebeldia somente terminarão
com o último homem”.
Do
ponto de vista literário e de afeto político, particularmente o livro:L`Étranger é considerado consensualmente o mais famoso romance do escritor Albert Camus. Lançada
em 1942, tendo sido traduzida em mais de quarenta línguas é sua obra-prima.
Recebeu uma adaptação cinematográfica com o título em italiano: “Lo straniero”,
filme franco-italiano de 1967, do gênero drama, realizado por Luchino Visconti
em 1967, como ocorre em 1972com o filme: “Ludwig”, sobre a vida
e a morte de Luís II da Baviera, mais conhecido por sua admiração por Richard
Wagner e sua comissão de vários palácios na Baviera entre eles: “Neuschwanstein”
e “Herrenchiemsee”. O filme foi gravado em Munique. Contudo, “L`Étranger”, para
o que nos interessa, faz parte do “ciclo do absurdo”, a trilogia composta de um
romance: a) “L`Étranger”, um ensaio: b) “Le mythe de Sisyphe”, e c) da
peça de teatro: “Calígula”, que
descrevem o aspecto fundamental de sua filosofia: o absurdo. O romance narra a história de Meursault, que comete um
assassinato e é julgado por esse ato crimionoso. A ação desenrola-se na Argélia, época em
que ainda era colônia francesa. A acusação concentra-se no fato de “Meursault
não conseguir ou não ter vontade de chorar no funeral da sua mãe”. L`Étranger representa
uma novela de 1942 escrita por Camus. Seu tema e perspectiva são
frequentemente citados como exemplos da filosofia de Camus, absurdo somado ao
existencialismo, embora Camus pessoalmente rejeitasse a última designação. O
personagem-título é Meursault, um indiferente colono francês na Argélia
descrito como “um cidadão da França domiciliado no Norte da África, um homem do
Mediterrâneo, um homme du midi”, mas que dificilmente compartilha da
cultura mediterrânea tradicional.
Semanas após o funeral de sua mãe, ele mata
um homem árabe na Argel francesa, que estava envolvido em um conflito com um
dos vizinhos de Meursault. Mersault é julgado e condenado à morte. A história é
dividida em duas partes, apresentando a visão narrativa em primeira pessoa de
Mersault antes e depois do assassinato, respectivamente. Por ironia do destino, nas notas ao texto ele escreve que aquele romance
deveria terminar inacabado. Por coincidência, a sua mãe falece no mesmo ano que
ele. Uma curiosidade sobre o acidente de automóvel: Camus não deveria ter feito
a viagem para Paris de carro junto com os amigos Gallimard: Michel, Janine e a
filha deles, Anne. Ele faria esta viagem com o poeta René Char, de trem. Por insistência de Michel, ele resolve ir de carro com eles. Char também
foi convidado, mas não quis lotar o carro, além de já haver comprado sua
passagem. Camus também já tinha seu bilhete de trem comprado quando foi
convencido a ir de carro. No acidente de automóvel o Facel-Véga de Michel se
espatifou contra uma árvore. Apenas Camus morreu na hora. Michel morreu no
hospital 5 dias depois. O relógio do painel do carro parou no instante do acidente:
13: 55 horas. Eis aqui um pequeno fragmento de seu discurso à Academia
sueca ao receber o prêmio Nobel: - “A tarefa do escritor, ao mesmo tempo, não
se separa de deveres difíceis. Por definição, hoje, ele não pode colocar-se a
serviço de quem faz a história: está a serviço daqueles que a sofrem” (“La
tâche de l`écrivain, tout en n`étant pas séparé de fonctions difficiles. Par
définition, aujourd`hui, il ne peut pas vous apporter de qui rend service de l`histoire:
est au service de ceux qui souffrent”).
Bibliografia geral consultada.
KADDACHE, Mahfoud,
Histoire de Nationalisme Algérien. Volume I. Paris-Argel: Éditions
Paris-Méditerranée, 2003; SOERENSEN, Bruno,
“et al”, Cem Anos pela Estrada do Progresso: Um Século de Prêmio Nobel.
Adamantina (SP): Edições Omnia, 2004; MÁDOZ, Inmaculada Cuquerella, La Superación del
Nihilismo en la Obra de Albert Camus: La Vida como Obra Trágica. Tese de
Doutorado. Valência: Universität de Valência, 2007; SILVA, Nilson Adauto
Guimarães da, A Revolta na Obra de Albert Camus: Posicionamento no Campo
Literário, Gênero, Estética e Ética. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Letras Neolatinas. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 2008; GERMANO, Emanuel Ricardo, O Pensamento dos Limites:
Contingência e Engajamento em Albert Camus. Tese de Doutorado. Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo,
2008; BRANCHE, Raphaëlle (Org.), La Guerre d’Indépendance des Algériens 1954-1962. Paris: Presses Nationales de la Fondation des Sciences Politiques, 2009;CASARES, María, “En la Muerte de María Casares”. Disponível em: http://elsimagico.wordpress.com/2009/05/18;PIMENTA, Danilo Rodrigues,
A Criação Absurda segundo Albert Camus. Dissertação de Mestrado. Programa
de Pós-Graduação em Filosofia. Departamento de Filosofia. Instituto de
Filosofia, Artes e Cultura, Universidade Federal de Ouro Preto, 2010; MACHADO, Patrícia de Oliveira, Absurdo, Revolta, Ação: Albert Camus. Dissertação
de Mestrado. Faculdade de Filosofia. Brasília: Universidade de Brasília, 2010;
JESUS, Angela Regina Binda da Silva de, Entre o Sim e o Não, o Sol e a
Indiferença: Meursault, o Herói Absurdo em L`Étranger de Albert Camus.
Dissertação de Mestrado. Centro de
Ciências Humanas e Naturais: Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo,
2010; PIMENTA, Danilo Rodrigues, A Criação Absurda segundo Albert Camus.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Departamento
de Filosofia. Instituto de Filosofia, Artes e Cultura. Ouro Preto: Universidade
Federal de Ouro Preto, 2010; WILLIAMS, Raymond, Cultura e Materialismo. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 2011; SAMPAIO, Leandson Vasconcelos, Filosofia, Jornalismo e Dramaturgia: Ética,
Engajamento e Responsabilidade em Albert Camus. Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Instituto de Cultura e Arte. Fortaleza:
Universidade Federal do Ceará, 2015; PIMENTA, Danilo Rodrigues, Entre o Absurdo
e a Revolta: Por uma Proposta Filosófica para o Ensino de Filosofia Pensada a
partir de Albert Camus. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Campinas:
Universidade Estadual de Campinas, 2016; entre outros.
___________________
* Sociólogo (UFF),
Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e
Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da
Coordenação do curso de Ciências Sociais. Fortaleza: Universidade Estadual do
Ceará.
“Enquanto
houver Norte e Nordeste fraco, não haverá Estado forte, pois o país será fraco”. Ulysses Guimarães
Ulysses Guimarães formou-se advogado
pela Universidade de São Paulo, em 1940. Foi vice-presidente da União Nacional
dos Estudantes e secretário da Federação Paulista de Futebol. Elegeu-se
deputado estadual em 1947, pelo Partido Social Democrático (PSD). Três anos
depois, concorreu à Câmara dos Deputados, sendo reeleito em 1954 e em 1958,
quando foi também delegado do Brasil junto à Organização das Nações Unidas
(ONU). Em 1961, foi nomeado ministro da Indústria e do Comércio, durante o brevíssimo
regime parlamentarista. Exonerou-se no ano seguinte, retornando a suas
atividades na Câmara. Dois anos após o golpe militar de 1° de abril de1964, com
a instituição do bipartidarismo, filiou-se ao MDB - Movimento Democrático Brasileiro -, o partido de oposição à
ditadura militar golpista, e foi eleito seu vice-presidente, além de deputado
federal pelo partido. Nos dois anos seguintes foi presidente do Parlamento
Latino-americano. Em 1971 assumiu a presidência do MDB. Em 1973, idealizou politicamente sua anticandidatura simbólica à Presidência da República como forma de repúdio ao regime militar golpista de 1° de abril de 1964, tendo como vice o notável jornalista e ex-governador de Pernambuco, Barbosa Lima Sobrinho. Em 29 de novembro de 1976, no Plenário Tiradentes da Assembleia Legislativa de São Paulo, fundou a Ordem dos Parlamentares do Brasil (OPB), uma Associação de Classe, vale lembrar sua existência sem vínculos partidários, religiosos ou sociais, da qual passa a ser Patrono.
À frente do partido, participou de todas as possíveis campanhas pelo retorno do país à democracia, inclusive a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita. Com o fim do bipartidarismo (1979), o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) amplificou-se de Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do qual seria presidente. Ao final do período político analisado como o mais autoritário e de linha dura do regime militar, reconhecido internacionalmente como os “anos de chumbo”, em 1973, apresentou-se como anticandidato à presidência da República, como forma de protestar contra a farsa da eleição presidencial promovida e patrocinada pela ditadura, em que o candidato governista já estava previamente eleito, pela via indireta do voto de um Congresso manipulado. No ano seguinte, porém, reelegeu-se deputado, função que exerceu até 1977 quando o Congresso foi colocado em recesso pelo Executivo. Em 1979, com a volta do pluripartidarismo, Ulysses Guimarães integrou-se ao PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro tornando-se seu presidente. A mobilização popular, no entanto, força uma transição para a democracia, Tancredo Neves é eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985. Tancredo adoece, não chega a tomar posse e morre em 21 de abril. Seu vice, José Sarney assume a Presidência. A última eleição indireta marca a transição para a democracia só se completa em 1988, no governo de José Sarney, com a promulgação da nova Constituição brasileira. Com Tancredo Neves, Orestes Quércia, Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) e Franco Montoro, liderou campanhas pela redemocratização, como a das eleições diretas através do slogan “Diretas Já”.
Em abril de 1977, depois que o MDB se recusou a aprovar o projeto de reforma do Judiciário enviado pelo governo, o presidente Geisel decretou o recesso do Congresso e editou o chamado “pacote de abril”, que estabelecia, entre outros pontos, a permanência do pleito indireto para os governos estaduais em 1978, e a eleição indireta de um senador por Estado. O MDB obteve consentimento para a formação de uma rede nacional de rádio e televisão a fim de transmitir os pronunciamentos de seus lideres feitos durante o simpósio A Luta pela Democracia, que foram críticos ao regime militar. Em represália, o líder do MDB na Câmara, Alencar Furtado, teve seu mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos, e Ulysses Guimarães foi acusado de “desobediência” à legislação eleitoral. Em agosto de 1978, o MDB aprovou os nomes do general Euler Bentes e do senador Paulo Brossard para disputarem a presidência e a vice-presidência da República por via indireta. Ulysses Guimarães designou uma comissão executiva para organizar a campanha dos candidatos, mas não participou diretamente dela. Reunido em 15 de outubro, o Colégio Eleitoral elegeu a chapa governista formada pelo general João Batista de Figueiredo e por Aureliano Chaves que iniciou sua carreira política como deputado estadual pela UDN (1958-1966), integrando a linha ortodoxa do partido, reconhecida como Banda deMúsica, ao lado de Carlos Lacerda, Afonso Arinos e Pedro Aleixo. Chegou a liderar sua bancada da UDN e também a exercer a liderança do governo Magalhães Pinto ao qual serviu à burocracia como Secretário de Estado da Educação (1964) e Secretário de Obras Pública.
Em novembro, Ulysses Guimarães voltou a eleger-se para a Câmara. Em março de 1979, o general Figueiredo tomou posse na presidência. Nesse ano, duas importantes medidas foram tomadas: a decretação da anistia, em agosto, e a extinção dos partidos políticos, em novembro. No quadro da reformulação partidária a maioria do MDB, em seguida ingressou no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), sendo Ulysses Guimarães eleito seu presidente. Em novembro de 1980 o Congresso aprovou projeto do governo restabelecendo eleições diretas para os governos dos Estados em 1982. Dois anos depois, Ulysses reelegeu-se mais uma vez. Nesse pleito, o PMDB elegeu nove governadores. O avanço oposicionista fez crescer a mobilização em torno da eleição direta para a presidência da República. Aos poucos, a campanha das Diretas Já tomou conta das ruas. Apelidado pela imprensa nacional de “o Senhor Diretas”, Ulysses Guimarães participou intensamente dos comícios que ocorriam em todo o país. No Congresso, estava em discussão uma emenda constitucional, apresentada pelo deputado Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas para a presidência e convocava a primeira eleição para 15 de novembro de 1984. Porém, no dia 25 de abril, a emenda não foi aprovada. A oposição multifacetada e mesmo dividida em seu núcleo, decidiu participar das eleições indiretas, no Colégio Eleitoral escolhendo candidato mineiro Tancredo Neves governador de Minas Gerais.
Dante
Martins de Oliveira (1952-2006) começou sua carreira política no MR-8 - Movimento Revolucionário Oito de Outubro,
quando o grupo já havia optado pela via política em vez da luta armada contra a
ditadura militar. Depois, foi filiado ao MDB e eleito deputado estadual em
1978. Em 1982, já pelo PMDB, elegeu-se deputado federal. Dante também exerceu
os cargos de prefeito de Cuiabá e governador de Mato Grosso. Recebeu o nome de “Emenda Dante de Oliveira
Pereira de Carvalho” a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº05/1983,
apresentada pelo Deputado Federal Dante de Oliveira (PMDB-MT), que tinha por
objetivo reinstaurar as eleições diretas para presidente da República no
Brasil, através da alteração dos artigos 74 e 148 da Constituição Federal de
1967 (Emenda Constitucional nº 1, de 1969), uma vez que a tradição democrática
havia sido interrompida no país pelo golpe militar de 1° de abril de 1964. A
enorme pressão popular para que a emenda fosse aprovada transformou-se num dos
maiores movimentos político-sociais da história do Brasil e logo recebeu o nome
de Diretas Já representando um movimento político suprapartidário em defesa do retorno de eleições diretas para a presidência da República. Tendo se iniciado em maio de 1983, o movimento social ganhou dimensões ideológicas (mídia) políticas (partido) e sociais mais amplas, culminando numa série de comícios, nos primeiros meses de 1984, que mobilizaram milhões de brasileiros quando da campanha para a sucessão do governo do general João Batista Figueiredo, último presidente do regime militar instituído em 1964.
No Brasil, a última eleição direta para a presidência da República havia sido a de 3 de outubro de 1960, quando foi eleito Jânio Quadros. Com a promulgação, pelo regime de 1964, do Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de 1965, e como definido em seu artigo 9º, o presidente e vice-presidente da República passaram a ser eleitos por maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão pública e votação nominal, com o povo brasileiro perdendo o direito de escolher seu presidente através do voto direto. De
acordo com a pesquisa do IBOPE, 84% da população brasileira eram favoráveis à
aprovação da emenda. A Proposta de Emenda Constitucional foi
rejeitada pela Câmara dos Deputados no dia 25 de abril de 1984. Por se tratar
de uma emenda constitucional, eram necessários votos favoráveis de dois terços
da Casa (320 deputados) para que a Proposta seguisse ao Senado. O resultado da
votação foi: 298 deputados a favor; 65 contra; 3 abstenções e 113 ausências ao
plenário. Com a rejeição da emenda, a eleição para presidente da República de
1985 foi novamente indireta. Entretanto, articulações da oposição ao regime
militar, em especial do PMDB, endossadas pela mídia e com forte apoio popular,
racharam a base governista que era maioria no Congresso, ocasionando a
escolha do oposicionista Tancredo Neves - (PMDB) como presidente da República.
Encerrou-se assim um ciclo de cinco presidentes militares iniciado em 1964.
Tancredo não viria a tomar posse, falecendo no dia 21 de abril de 1985. O vice José Sarney, tomou posse em 15 de março, pelo processo de redemocratização do país, mesmo tendo apoiado o movimento retrógrado militar por vinte anos consecutivos.
No feriado paulista de 25 de
janeiro, um público estimado em duzentas mil pessoas permaneceu, sob uma chuva
de duas horas, na Praça da Sé, centro da cidade, participando do comício pró-Diretas Já, onde líderes
oposicionistas dividiram o palanque e encerraram o comício de mãos dadas,
cantando o hino nacional. Nas fotos estampadas na cobertura da imprensa vê-se
lado a lado: Franco Montoro, governador do estado de São Paulo (PMDB-SP),
Leonel Brizola, governador do estado do Rio de Janeiro (PDT-RJ), Ulisses Guimarães,
presidente do PMDB, e Luís Inácio Lula da Silva, presidente do Partido dos Trabalhadores
(PT). Além dos políticos, vários artistas ocuparam o palco das Diretas Já, dentre eles Morais Moreira
cantou o Frevo dasdiretas, ao lado de Fernanda Montenegro,
Chico Buarque, Milton Nascimento, Sônia Braga, Bruna Lombardi, Irene Ravache,
entre outros. Desde o comício da praça da Sé, o Menestrel das Alagoas - composição de Milton Nascimento e Fernando
Brant em homenagem ao recentemente falecido senador de Alagoas pelo PMDB,
Teotônio Vilela, um dos principais defensores do caráter suprapartidário do movimento - tornou-se o hino da campanha das Diretas Já, tendo sido cantada na
ocasião por extraordinária Fafá de Belém. Outros símbolos da campanha começaram
a surgir como o Dragão das Diretas; o
uso de camisetas com slogans pró-Diretas Já e o uso do amarelo da
bandeira nacional nos para-brisas dos carros, nas fachadas de edifícios e nas
roupas etc.
Em 1º de fevereiro de 1987 tomou
posse como presidente da Assembleia Nacional Constituinte, responsável por
estabelecer nova Constituição democrática para o Brasil após 21 anos de regime
militar. Como presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses substituiu o
Presidente Sarney assumindo várias vezes a presidência, sendo o primeiro
paulista a fazê-lo desde que Ranieri Mazzilli assumira a presidência com o
golpe de 1964. Em novembro de 1987 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante
D. Henrique de Portugal. Devido à sua grande popularidade, candidatou-se à
Presidência da República nas eleições de 1989. Não por acaso os acervos do
Conselho Nacional de Segurança, da Comissão Geral de Investigações (CGI) e do
próprio Serviço Nacional de Informações (SNI), revelam que o então deputado
Ulysses Guimarães foi alvo de investigação, mesmo no período de
redemocratização do país, enquanto dirigia a Câmara e a Assembleia Nacional
Constituinte. Com uma trajetória única e exemplar
na história política brasileira, eleito 11 vezes deputado federal, Ulysses
Guimarães foi um ícone no combate à ditadura militar nas trincheiras do
autêntico MDB. Primeiro com a sua anticandidatura e, depois, como o símbolo
Senhor Democracia, participou como um dos principais protagonistas da
redemocratização do país. No Colégio Eleitoral, apoiou Tancredo Neves e, após a
sua morte, garantiu a posse do vice José Sarney na Presidência da República. Mais
tarde, o “Senhor Democracia”, como era chamado o deputado,
conduziu a Constituinte de 1988 e participou da campanha pelo parlamentarismo e
pelo impeachment do corrupto alagoano Fernando Collor de Mello.
A avaliação registrada em 1987 no delicado processo de Abertura Política, afirmava que o deputado Ulysses poderia causar crise partidária entre os aliados. Um dos fatos políticos descritos em documentos oficiais de março de 1987 representa o início das negociações para a indicação do líder do partido na Constituinte sendo um dos candidatos Mário Covas, que contava com a simpatia do sinistro Sistema Nacional de Informação (SNI), mas não de Ulysses Guimarães. Seu prestígio foi retomado em 1992, durante o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Ulysses foi um dos responsáveis por um dos principais golpes políticos sofridos por Fernando Collor. Pedia abertamente que a votação do impeachment no Congresso nacional não fosse secreta. Morreu em acidente de helicóptero, em Angra dos Reis (RJ), com destino a São Paulo em 12 de outubro de 1992, junto à esposa D. Mora, o ex-senador Severo Gomes, sua esposa e o piloto. O corpo de Ulysses foi o único não encontrado. Mera coincidência? Claro que não! A aparente coincidência de sua morte fez aflorar uma reflexão em voga de uma teoria da conspiração. Adversários políticos teriam interesse na morte de Ulysses porque ele fora um dos principais artífices do movimento pelo impeachment do então presidente da República Fernando Collor sendo destituído do cargo dois meses depois.
Segundo essa teoria, Ulysses teria sido vítima de uma sabotagem, do mesmo modo da que envolveu a morte do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek (1956 a 1961), em acidente de carro, em agosto de 1976. As suspeitas nunca se comprovaram. O Brasil se despedia do SenhorDemocracia. Os indivíduos formulam teorias “conspiratórias” para explicar, por exemplo, as relações de poder em grupos sociais e a existência imaginada no âmbito da política. Teorias da conspiração têm origens principalmente psicológicas ou sócio-políticas. As origens psicológicas propostas incluem projeção; a necessidade pessoal de tentar explicar um evento significante com uma causa significante; e o resultado de vários tipos e estágios de transtornos de pensamento como disposição paranoica, por exemplo, que vão desde as doenças mentais graves até as diagnosticáveis. Alguns preferem explicações sócio-políticas para não se sentirem inseguras ao se depararem com situações aleatórias, imprevisíveis ou, quase inexplicáveis. As teorias da conspiração são formulações de escolhas racionais e concretamente se referem a um conjunto de práticas e saberes sociais. Michael Butter afirma que a disseminação de tais teorias contribuem para a ascensão de partidos populistas de direita.
O cientista político Michael Barkun, ao discutir o uso de “teoria da conspiração” na cultura norte-americana contemporânea, sustenta que este termo é usado para uma crença que explica um evento como sendo o resultado de um plano secreto de conspiradores excepcionalmente poderosos e astutos que visam atingir um fim malévolo. No decorrer da história humana, líderes políticos e econômicos têm sido verdadeiramente a causa de enormes quantidades de morte e miséria e, algumas vezes, se envolviam em conspirações, ao mesmo tempo em que promoviam teorias conspiratórias sobre seus alvos. Alguns argumentam que as teorias da conspiração, que eram limitadas a públicos marginais, se tornaram comuns nos meios de comunicação de massa, contribuindo para que o conspiracionismo emergisse como um fenômeno cultural nos Estados Unidos, entre o final do século XX e início do XXI. Segundo os antropólogos Todd Sanders e Harry G. West, evidências sugerem que um amplo setor norte-americano dá credibilidade a algumas teorias conspiratórias. A crença nessas teorias e estratégias golpistas tornou-se um tema de grande interesse para sociólogos e especialistas em análise política.
Um
estudo publicado em 2012 também constatou que teóricos de conspiração acreditam
frequentemente em múltiplas conspirações, mesmo quando uma contradiz a outra.
Por exemplo, pessoas que acreditam que Osama Bin Laden foi capturado vivo pelos
norte-americanos também estão propensas a acreditar que, na realidade, Bin
Laden havia sido morto antes da invasão de 2011 a sua casa em Abbottabad,
Paquistão. Em um artigo de 2013 publicado na revista Scientific American
Mind, o psicólogo Sander van der Linden argumenta que existem evidências
científicas convergentes de que (1) as pessoas que acreditam numa conspiração
são susceptíveis a aderirem a outras; (2) em alguns casos, a ideação
conspiratória tem sido associada com a paranoia e esquizotipia; (3) as
concepções de mundo conspiracionistas tendem a provocar a desconfiança de
princípios científicos bem estabelecidos, como a associação entre tabagismo e
câncer ou entre o aquecimento global e as emissões de CO²; e (4) a ideação
conspiratória geralmente leva as pessoas a verem padrões onde aparentemente não
existem. Van der Linden também cunhou o termo “o efeito conspiratório”. Alguns
historiadores defendem que existe um elemento de projeção psicológica no
conspiracionismo. Esta projeção histórico-social, e, portanto, individual (o
sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) se manifesta sob a forma de
atribuição de características indesejáveis aos conspiradores.
Em seu livro A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, Karl Popper utiliza o termo “teoria da conspiração” para criticar ideologias que conduzem ao historicismo. O positivismo transforma-se, desde logo, em uma regra de moral individual, administrativa e política. É que procuramos suprir, muito às pressas, as nossas deficiências com as ideias que nos chegam. O certo é que, cansados do ensino verbalístico e estéril da escolástica envelhecida e pobre que se impusera até então ao país, os espíritos cultos e as instituições sociais de pesquisa em geral governamentais abraçam com entusiasmo o positivismo. Popper argumenta que o totalitarismo foi fundado em cima de teorias conspiratórias que “recorriam a complôs imaginários conduzidos por cenários paranoicos baseados no tribalismo, chauvinismo ou racismo”. Portanto, Popper não argumenta contra a existência de conspirações cotidianas, como se sugeria incorretamente em muita da literatura posterior. Em sua crítica aos totalitários do século XX, escreve: - “Não quero dar a entender que as conspirações nunca ocorrem (...), são fenômenos sociais típicos”, pois, “conspirações ocorrem, é preciso admitir. Mas, apesar de suas ocorrências, o fato marcante que refutou a teoria da conspiração é que foram poucas as conspirações que tiveram êxito. Os conspiradores raramente consomem sua conspiração”.
Analistas dos meios sociais de comunicação de massa notam regularmente uma tendência nas mídias de notícias e de cultura popular para compreender acontecimentos através do prisma de agentes individuais, em oposição a notícias estruturais ou institucionais mais complexas. Caso se trate de uma observação conjuntural, pode-se esperar que a audiência que demanda o consumo seja mais receptiva a informações personalizadas e dramáticas de fenômenos sociais. Um segundo tropo da mídia, talvez relacionado, é o esforço em atribuir responsabilidades individuais a acontecimentos negativos. Os meios de comunicação de massa têm a tendência de iniciar a busca por culpados, caso ocorra um acontecimento social, mas afetivo que seja de tamanha importância, e acabam não tirando o assunto da agenda de notícias por vários dias, semanas, meses. Seguindo a mesma direção, tem-se dito que o conceito de “puro acidente” já não é mais permitido em um artigo de notícias. O primeiro presidente eleito após o longo período de ditadura civil-militar foi morto em uma teoria da conspiração? O mineiro Tancredo Neves foi o primeiro presidente civil eleito após a ditadura militar, que durou 21 anos no país (1964-1985). Em 15 de janeiro de 1985, em eleição indireta no ColégioEleitoral, composto de senadores, deputados federais e representantes das Assembleias Legislativas estaduais, Tancredo Neves derrotou o candidato apoiado pelos militares, Paulo Salim Maluf.
Em 14 de março, véspera da posse, Tancredo teve fortes dores abdominais, foi internado às pressas e fez uma operação de emergência. No dia seguinte, quem tomou posse em seu lugar foi o vice-presidente, José Sarney, ex-presidente do PDS, partido que apoiava a ditadura militar. Após uma agonia de 38 dias e sete cirurgias, Tancredo Neves oi declarado morto coincidentemente em 21 de abril. Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o atual presidente Michel Temer estiveram no centro de uma grande conspiração que culminou com a deposição de Dilma Rousseff, através de um processo fraudulento, que precisa ser revisto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). – “Não podemos aceitar que pessoas que chegaram ao poder pelas mãos de Eduardo Cunha queiram mexer na Constituição, que sintetizou uma série de direitos conquistados pelo povo”. Para o deputado, é hora de Eduardo Cunha elucidar como funcionava o sistema de corrupção por ele articulado, e que essas revelações podem atingir Temer, a quem classifica como “usurpador”. – “Fizeram toda uma campanha como se estivessem lutando pela honestidade e pela probidade. Na verdade, ele (Cunha) era um dos mentores e articuladores desse processo de corrupção”, ressalta Teixeira, que cobra a realização de Diretas Já, para restabelecer a legitimidade do governo, além de uma Constituinte exclusiva que trate da reforma política. Sobre o deputado conservador Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o ex-sindicalista “Paulinho da Força”, um dos dez parlamentares que votaram pela absolvição de Eduardo Cosentino da Cunha, Paulo Teixeira afirmou que ele demonstra, mais uma vez, de que lado está: - “Sempre esteve na contramão da boa política”.
Bibliografia
geral consultada.
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Aliandro, Ulysses Guimaraes,
Pessoal-Intransferível. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais. Departamento de Sociologia. São Paulo: Pontifícia
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Programa de Pós-Graduação em História. Niterói: Instituto de Ciências Humanas e
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Conceito do Direito em Marx. Porto Alegre: Antônio Fabris Editor, 2012;
TELES, Tayson Ribeiro, A Fala de Ulysses Guimarães no Ato Promulgador da
Constituição de 1988: Uma Análise Bakhtiniana. Dissertação de Mestrado em
Linguagem e Identidade/Cultura e Sociedade. Rio Branco: Universidade Federal do
Acre, 2016; HERZFELD, Michael, A Produção Social da Indiferença: Explorando
as Raízes Simbólicas da Burocracia Ocidental. Petrópolis (RJ): Editoras
Vozes, 2016; ÁGOAS, Frederico; NEVES, José, O Espectro da Pobreza. História,
Cultura e Política no século XX. 1ª
edição. Lisboa: Editora Mundos Sociais, 2016; entre outros.
_______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“Como é que alguns optam por
corrupção, onde há tantas maneiras legais de serdesonesto”. Brenon Salvador
A
cultura, que caracteriza as sociedades humanas, é organizada/organizadora pela via
do conhecimento ou veículo cognitivo da
linguagem, a partir, segundo Morin, do “capital cognitivo coletivo” dos
conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências
vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E,
dispondo de seu capital cognitivo, a cultura institui as regras/normas que
organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais. Estas regras
geram processos sociais e regenera globalmente a complexidade social adquirida
por essa mesma cultura. Assim, a cultura não deve ser compreendida pelas
metáforas estruturais, que são termos impróprios em uma organização recursiva
onde o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo que o
produz ou gera. Isso facto, cultura e sociedade estão em relação geradora
mútua; nessa relação, não podemos esquecer as interações entre indivíduos, eles
próprios portadores ou transmissores de cultura, que regeneram a sociedade, a
qual regenera a cultura. Daí a tese sociológica segundo a qual, “se a cultura
contém um saber coletivo acumulado em uma memória social, se é portadora de
princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a
linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura, então a cultura não
comporta somente uma dimensão cognitiva: é uma máquina cognitiva cuja práxis é
cognitiva”.
É
neste sentido próprio de saber cognitivo que uma cultura abre e fecha as
potencialidades bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza
fornecendo aos indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus
paradigmas, a sua lógica, os seus esquemas, os seus métodos de aprendizagem,
métodos de investigação, de verificação, etc., mas, ao mesmo tempo, ela as
fecha e inibe com as suas normas, regras, proibições, tabus, o seu
etnocentrismo, a sua autossacralização, a sua ignorância de ignorância. Ainda
aqui, o que abre o conhecimento é o que fecha o conhecimento. Desde o seu
nascimento, o ser humano conhece não só por si, para si, em função de si, mas,
também pela sua família, pela sua tribo, pela sua cultura, pela sua sociedade,
para elas, em função delas. Assim, o conhecimento de um indivíduo alimenta-se
de memória biológica e de memória cultural, associadas na própria memória, que
obedece a várias entidades de referência, diversamente presentes nela. Tudo o
que é linguagem, lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento,
constitui-se na encruzilhada dialógica entre dois princípios de tradução, um
contínuo, o outro descontínuo (binário).
As
aptidões individuais organizadoras na formação do cérebro humano necessitam de
condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões
do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está
nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura.
Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito
conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura
conhece através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do
conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa
estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo em que
há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma contendo as
outras e, nesse sentido, cada uma contendo o todo enquanto todo. Falar em
complexidade é falar em relação de interação simultaneamente complementar,
concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias
cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas essa complexidade que
permite compreender a possível autonomia relativa do espírito e no sentido
técnico do cérebro individual.
Mas
é assim mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua
determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais. Em
relação à determinação cultural utilizando sua aptidão bioantropológicas para
organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua autonomia
jogando com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange, limita e
alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas, defasagens.
Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual e a sociedade.
Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está inscrita no
princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento cotidiano,
quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura fornece ao
pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de concepção, de
conceptualização. Impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos
individuais. A cultura e, exatamente pela via da cultura, a sociedade está no
interior do conhecimento. O conhecimento está na cultura e a cultura está na
representação do conhecimento. Um ato cognitivo per se é, essencialmente
um elemento persuasivo do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato
cognitivo individual.
As
nossas percepções ou mesmo concepções estão sob um controle, não apenas de
constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis
culturais e históricas. A percepção é submetida a categorizações,
conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a
identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento intelectual
organiza-se em função de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as
ideias sociais e as informações técnicas, bem como em função de significações
mitológicas e de projeções imaginárias. Assim se opera a “construção social da
realidade”, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a
realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais, em que o real
(imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (ficção), que constitui a
visão de mundo, que se concretiza em verdade, em erro, na mentira. Para a sociologia do conhecimento, é necessário, segundo Morin, conceber
não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a interação do
conhecimento/na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o é produto/produtor
sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva.
Os
homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que
produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a
cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma
cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a
impressão de que nada seria capaz de libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo,
ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas
culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre,
mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo
impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que
toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde tira conhecimentos
objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar
que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma
ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história.
Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura,
à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento
científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia
potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e
tornar-se um pensamento pessoal crítico.
Sobre
a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o
que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer.
Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue cercas de arame
farpado e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso
de terminações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento
da menor ideia, da menor teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas
determinações que pesam do exterior sobre o conhecimento. É necessário
considerar, também, os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que
são, segundo Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios
iniciais, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem uma visão
de mundo e das coisas que governam/e controlam de modo imperativo e proibitivo
a lógica dos discursos, pensamentos, teorias. Ao organizar os paradigmas e
modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de
convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a
força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva
do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem também da força
imperativa e coercitiva que leva a evidência aos convictos e o temor inibitório
aos desalmados.
Em
primeiro lugar o termo “biônico” foi ideologizado no Brasil devido ao seriado The
Six Million Dollar Man produzido e exibido entre 1974 e 1978 pelo canal norte-americano
ABC. Nele o coronel Steve Austin, interpretado por Lee Majors recebeu “implantes
cibernéticos” que lhe salvaram a vida após um grave acidente. Como compensação
passou a trabalhar como “agente especial” do governo utilizando para isso suas
capacidades ampliadas. Transposta para o mundo político, analogamente, tal designação
serviu para quem “ascendeu ao poder sem o desgaste de uma campanha eleitoral”. Neste
período surgiram os governadores biônicos, prefeitos biônicos em certas categorias
de municípios e senadores biônicos. No caso dos senadores o termo “biônico”
derivou também do “Pacote de Abril” de 1977 que alterou as regras para o pleito
de 1978. Nele, cada Estado escolheria um nome pela “via indireta” na renovação
de 2/3 das cadeiras mediante votação de um famigerado Colégio Eleitoral, o que
deu à ARENA 21 das 22 cadeiras em jogo impedindo a repetição da rotunda vitória
do MDB em 1974. Das 23 vagas a serem preenchidas por voto direto os arenistas
conquistaram 15 vagas. No total o placar das eleições foi 36 a 9 para o golpe
de classe.
Após
a queda do presidente João Goulart em 1° de abril de 1964, as Forças Armadas e
seus “aparelhos de Estado” na sociedade civil inseriram na vida política institucional
do país diretrizes capazes de assegurar seu controle e resistência parlamentar ao
novo regime. Cânones que deram arrimo à deposição de 7 dos 22 governadores de Estado
eleitos em 1960, com anos de mandato, em 1962 para um quatriênio e cujos
mandatos estavam em curso, tudo isso no bojo das cassações dos direitos civis e
políticos de adversários do novo regime militar golpista. Exemplos dessa
alternância forçada nos portentos estaduais representaram a deposição de Arraes
(1965; 1970; 1985) em Pernambuco, a cassação de Badger da Silveira no Rio de
Janeiro e a subida de Jarbas Passarinho ao governo do Pará nos dias do golpe militar.
Com
a Anistia Política brasileira de fins da década de 1970, retornou ao Brasil.
Com a reversão do sistema bipartidário antes imposto pelo regime militar,
Brizola quis assumir a antiga legenda PTB - Partido Trabalhista Brasileiro, mas
perdeu a disputa do registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral - TSE para
Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas. Fundou, então, juntamente com outros
trabalhistas históricos e novos simpatizantes, o PDT – Partido Democrático
Trabalhista. O partido viria a se unir à Internacional Socialista, em 1986,
quando Brizola foi elevado a vice-presidente da entidade. Poucos meses antes de
morrer, Brizola foi feito presidente de honra da Internacional Socialista. Na
primeira eleição de que participa após o exílio, Brizola é eleito governador do
Rio de Janeiro no ano de 1982. A eleição vinha sendo disputada por Sandra
Cavalcanti (PTB), Lysâneas Maciel (PT), Moreira Franco (PDS) e Miro Teixeira
(PMDB), que perdem força com a entrada de Leonel de Moura Brizola.
Em 1979, o Brasil teve a Anistia e
os que foram exilados pelo regime golpista militar puderam retornar ao país.
Brizola retorna e, com a nova lei partidária, tenta reorganizar seu antigo PTB.
Porém, Ivete Vargas a derrota na justiça e consegue para si a sigla partidária.
De acordo com a avaliação de Leonel Brizola e demais dirigentes do PDT, o PTB de Ivete
Vargas passou a ser um partido de direita, como de fato acabou por
distanciar-se do seu glorioso passado trabalhista. Em 1982 a legenda de Ivete
lança como candidato ao governo paulista Jânio Quadros e para o fluminense
Sandra Cavalcanti. Ambos militaram na antiga UDN, partido de direita rival dos
trabalhistas. O atual Partido Trabalhista Brasileiro nega, sem razão, que seja
um partido político de direita, embora tenha uma postura identificada como tal
desde seu ressurgimento, em 1980. A cena em que Brizola rasga uma folha de
papel com a inscrição PTB, numa coletiva à imprensa, é a marca simbólica, correta do fim de um sonho para os brizolistas.
O projeto principal e mais polêmico
de suas duas gestões no governo fluminense foram os Centros Integrados de
Educação Pública (CIEPS). Trata-se de escolas idealizadas, na sua concepção
pedagógica, pelo professor e antropólogo Darcy Ribeiro. Seus prédios
diferenciam-se bastante dos prédios de escolas tradicionais. Têm o desenho
arquitetônico de Oscar Niemeyer. Foram construídos, na sua maioria, em favelas
e periferia da capital e do estado do Rio de Janeiro. Isso consolidou o que se
poderia denominar de brizolismo entre os eleitores destas áreas que batizaram
os CIEPS de Brizolões. Os opositores diziam que os CIEPS eram “caros, de
custosa manutenção”, ignorando a importância do projeto, que visava manter as
crianças dentro do ambiente escolar durante a maior parte do dia. E ainda
acusavam Brizola de “utilizar os centros como arma de propaganda eleitoral”,
visando à conquista do eleitorado de outros estados, pois muitos foram erguidos
na beira de rodovias. Após o governo Brizola, os CIEPs foram, em grande parte,
sucateados pela ignorância e má fé de seus sucessores.
O
projeto arquitetônico dos edifícios é da autoria do arquiteto comunista Oscar
Niemeyer, tendo sido erguidas mais de 500 unidades. Uma de suas características
é a utilização de peças pré-moldadas de concreto, barateando a sua construção.
As escolas são constituídas por três estruturas: o edifício principal,
erguendo-se em três pavimentos, abrigando as salas de aula, centro médico,
cozinha, refeitório, banheiros, áreas de apoio e recreação; o ginásio
esportivo, que também pode receber atividades artísticas e culturais; o
edifício da biblioteca e dos dormitórios. No segundo governo de Leonel Brizola,
alguns CIEPs passaram a contar com piscinas. Um projeto com características
parecidas são os Centros de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente
(CAICs), adotado em âmbito nacional a partir da década de 1990. O projeto
objetivava, adicionalmente, “tirar crianças carentes das ruas”, oferecendo-lhes
os “pais sociais”, funcionários públicos residentes nos CIEPs que cuidavam de
crianças ali residentes. Leonel Brizola era reconhecido por sua forma de falar
e pensamento. Sua fala, carregada do sotaque e de expressões gaúchas que parecia
cultivar, era quase que uma marca registrada. Não era difícil imitá-lo. Sua
retórica era inflamada.
Não
perdia oportunidade para criar caricaturas verbais significativas de seus
oponentes, como obteve pregnância ao chamar Lula, de “sapo barbudo”, Paulo
Maluf, de “filhote da ditadura” e Moreira Franco, de “gato Angorá”. Era um
orador par excellence, carismático, capaz de provocar reações fortes entre
partidários e adversários. Seu discurso era baseado concretamente em pontos
nevrálgicos da sociedade brasileira, como a valorização da péssima educação
pública e a questão nacionalista das perdas internacionais, pagamento de
encargos da dívida externa e envio de lucros ao exterior. Dilson Domingos
Funaro (1933-1989) foi um empresário brasileiro do ramo de plásticos,
proprietário da fábrica de brinquedos Trol. Foi presidente do BNDES e ministro
da Fazenda do Brasil durante o governo José Sarney (1985-1987), tomando posse
em 26 de agosto de 1985 e deixou o ministério em 29 de abril de 1987. O Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) é uma empresa pública
federal com sede no Rio, cujo principal objetivo representa o financiamento num
período de longo prazo e investimento nos segmentos da economia brasileira.
Durante seu cargo como ministro da Fazenda, foi responsável pela criação de um
plano de estabilização financeira, o Plano Cruzado. Durante seu cargo como
ministro da Fazenda, foi responsável pela criação de um plano de estabilização
financeira, o Plano Cruzado. Também foi o responsável pela assinatura da
moratória unilateral da dívida externa brasileira, conferida em 20 de fevereiro
de 1987.
Em
virtude de tais mudanças sociais e observando critérios como a data da
investidura (4
de maio) e a quebra da linha sucessória em que recebeu o governo das mãos do
presidente da Assembleia Legislativa, o
primeiro governador biônico do país foi o fluminense Paulo Torres. Com os
governos estaduais entregues a prepostos ou simpatizantes dos militares, a sucessão
obedeceu ao crivo das eleições diretas que renovaram o governo de dez estados
em 3de outubro de 1965 entrementes a vitória de adversários dos militares em
Minas Gerais e na Guanabara cimentaram a alternativa pela eleição indireta dos
governadores de estado a partir de 1966 com o AI-3, na verdade uma mera
ratificação dos nomes anunciados por Brasília. Durante todo esse período o
único mandatário pertencente ao MDB foi Chagas Freitas governador da Guanabara
(1971-75) e do Rio de Janeiro (1979-83). Seu nome deu origem ao termo “chaguismo”,
que designou sua forma particular de utilizar a máquina pública estatal para
vencer as eleições e que dominou a política carioca e fluminense de 1970 a
1982.
Em 1964, Chagas Freitas apoiou
ativamente o movimento militar que deu o golpe de estado que depôs o presidente
eleito João Goulart. No entanto, vendo que a ARENA, partido criado para apoiar
e dar ilusão de legalidade para os militares, estava sob controle dos
lacerdistas, preferiu filiar-se ao MDB, aproveitando a forte inclinação
oposicionista do eleitorado da Guanabara. Como antiga capital federal o Rio de
Janeiro ainda sediava diversos órgãos e autarquias e Chagas Freitas,
vislumbrando esse fato, aproximou-se dos interesses do funcionalismo público e
foi o mentor de uma política clientelista que buscava não hostilizar o governo
da ditadura militar. A tranquila eleição de 1966 representou não só a conquista
do quarto mandato de Chagas Freitas, mas a consolidação do seu domínio dentro
do MDB com o predomínio de seus aliados políticos no partido. Em 1970, com
apoio da maioria na Assembleia Legislativa, foi eleito governador da Guanabara
por “via indireta”, o único eleito pela oposição durante todo o regime militar.
No entanto, a cúpula nacional do MDB criticou a sua posição dúbia em relação ao
governo militar do qual era, na prática, aliado regional.
Sou sociólogo, mas se a razão –
como diz Hegel – “é a certeza consciente de ser toda a realidade”, a verdade
reside apenas no todo quando as partes se tornam racionais à medida que
participam de forma consciente. O Estado para Hegel é um todo “ético
organizado”, o verdadeiro, porque é a unidade da vontade universal e da
representação das subjetividades. Entretanto, todos esses elementos, tomados um
a um ou em conjunto, são insuficientes para explicar ou compreender
satisfatoriamente determinada época histórica. Principalmente quando permanece
simbolizada pelo poder e pelas formas contemporâneas de oligarquização de
governos em que o poder político está concentrado num pequeno número de
pessoas. Os problemas sociais e políticos provocados pela oligarquização da educação no Ceará, por
outro lado, tem engessado a “máquina burocrática”, toldando negativamente a
educação de nível superior.
Em segundo lugar, numa aproximação
conceitual e metodológica não devemos perder de vista que a Fenomenologia dello Spirito, de G. W.
Friedrich Hegel (1973) representa a elaboração inicial de um julgamento
filosófico a respeito da história, e isto é importante na medida em que a noção
de consciência (“Bewusstsein”), formulada assim, sugere ser tema central do
mundo contemporâneo. O espírito, dizia Hegel, não pode conhecer-se diretamente.
É preciso que negue previamente, de certo modo, que saia de si e se torne
“estranho a si mesmo”, exteriorizando-se e produzindo sucessivamente todas as
formas do real – quadros do pensamento, natureza, história; e depois que reverta
à origem, alcançando assim o conhecimento verdadeiro, a filosofia do espírito
absoluto. Afastando-se de si, exteriorizando-se, para voltar depois a si mesma,
a Ideia triunfa do que a limitava, afirmando-se na negação das suas negações
sucessivas. A “Fenomenologia do Espírito”, entendida assim, demonstra como a
consciência se eleva, pouco a pouco, desde as formas elementares da sensação
até à ciência, identificada por Hegel, aliás, com a racionalidade da religião –
tal como o valor absoluto da religião cristã se integra na verdade do saber na
esteira social da vida.
Se levarmos a sério a percepção
central em Hegel de que toda reflexão, e isso significa também toda
investigação do objeto, no campo da filosofia (e da realidade) pressupõe
inevitavelmente categorias lógicas,
não poderemos deixar de reconhecer que a Fenomenologia do Espírito implica
algum tipo de lógica, a qual se legitima a si mesma, e que pressupõe aquelas
outras formas de consciência e sua destruição em um sentido
histórico-psicológico, assim como histórico-sociológico, não em um sentido
teórico de validade para Hegel, segundo o qual “o objetivo de uma introdução à
filosofia só poderia se aclarar esses pontos de vista objetivo da filosofia”. A
filosofia também tem a tarefa de conduzir a consciência ainda não formada pelo
caminho que a ela conduz, e lhe facilitar o elemento, que não lhe é dado
imediatamente, no qual ela se movimenta como ciência pura, em que a forma
pronta da filosofia hegeliana está dada com a Lógica e a Enciclopédia. Somente
aqui ausência de pressupostos, fundamentação última do método forma realizados
de maneira pura.
Em terceiro lugar a noção de “desenvolvimento”
passa a ser central depois dessa concepção e, para o bem ou para o mal até os
dias de hoje. Mesmo a ideia de progresso, que implicava que o depois pudesse
ser explicado em função do antes, encalhou, de certo modo nos recifes do século
XX, ao sair das esperanças ou das ilusões que acompanharam a travessia do mar
aberto pelo século XIX. Esse questionamento refere-se a várias ocorrências
distintas entre si que não atestam um progresso moral da humanidade, e sim, uma
dúvida sobre a história como portadora de sentido, dúvida renovada,
essencialmente no que se refere ao seu método, objeto e fundamentalmente nas
grandes dificuldades não só em fazer do tempo um princípio de inteligibilidade,
como ainda em inserir aí um princípio de identidade. A história: isto é, uma
série de acontecimentos reconhecidos como acontecimentos por muitos,
acontecimentos que podemos pensar que importarão aos olhos dos historiadores de
amanhã e, ao qual cada um de nós, por mais consciente que seja de nada representar
pode vincular algumas circunstâncias ou imagens particulares, como se fosse a
cada dia menos verdadeiro que os homens, que fazem a história (pois, senão,
quem mais?), não sabem que a fazem.
O novo conceito de dialética desenvolvido por Friedrich Hegel é mais do que a mera
“síntese de opostos” em sua complementaridade para caracterizá-lo: é todo um
complexo sistema, baseado numa original concepção do absoluto que na filosofia
de Hegel, precisa incorporar todos os momentos significativos do movimento pelo
qual se realiza, assimilando tanto o positivo como o negativo, superando-o numa
capacidade de síntese viva, para pode se estruturar, rigorosamente, como ocorre
no sistema científico: - “A verdadeira figura em que a verdade existe”, afirma
Hegel, “só pode ser o sistema científico dela”. O sentido desse movimento
realizado e expresso no “sistema” – só pode ser compreendido do ângulo do
resultado alcançado. Na obra: “Fenomenologia do Espírito”, o “saber absoluto”
pressupõe – e simultaneamente elucida – a “experiência da consciência” em todas
as suas “figuras”, desde a “certeza sensível” e da “percepção” até o ponto de
chegada da análise dialética proporcionado pelo “espírito”, que adquire a plena consciência de si
mesmo, depois de superar as limitações em termos do “discernimento” (“Verstand”), da “consciência
de si” e da “razão” (“Vernunft”).
Pelo que depreendemos, teremos uma
única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente,
na multiplicidade das determinações, e que a partir de determinados graus
distintos, são em essência, necessárias. E juntas de novo, constituem um
sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro
momento era o “em si” da realização, e “em si” do gérmen etc. O segundo é a
existência, aquilo se exalta e que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de
ambos, mais precisamente agora o fruto e movimento da própria evolução, o
resultado de todo este movimento em torno do conhecimento. E a isto Hegel chama abstratamente “o ser por
si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser
verdadeiro “por si”, idêntico consigo. O que o espírito produz seu objeto, é
ele mesmo. É um desembocar em seu outro reconhecimento. O desenvolvimento é um
desprendimento, um desdobrar-se, e ao mesmo tempo, um desafogo.
O conceito de evolução não
somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já
no “em si”, e este concreto chega a ser “por si” através dela, impulsiona-se a
si mesmo a este ser “por si”. O concreto é “em si” diferente, mas logo só “em
si”, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto
ainda em unidade, ainda não como diferente antropologicamente. É em si distinto
e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta
contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à
diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças.
Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada
para a dissolução de si mesma. O distinto vem assim a ser atualmente, na
existência. Porém, do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente
que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a
unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este
movimento é a unidade verdadeiramente concreta.
Um discurso político, no âmbito da consciência, tem uma estrutura e
finalidade muito diferente do discurso econômico, mas politicamente pode operar
no nível da análise a dimensão econômica produzindo efeitos sociais específicos
em termos de persuasão. Não queremos perder de vista que a Fenomenologia é a
história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão como
procedimento da Ciência. Daí a analogia
que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a
história do desenvolvimento do pensamento, mas este vir-a-ser é necessário, como força irresistível que se manifesta
lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação.
Ipso facto quando Hegel afirma sobre a filosofia em geral, que “a coruja de
Minerva só levanta voo ao anoitecer” (“die Eule der Minerva beginnt erst mit
der einbrechenden Dämmerung ihren Flug”), ele quer dizer categoricamente que
vale somente para uma filosofia da história, ou seja, que é verdadeiro para a
concepção científica de história e que, além disso, corresponde à “weltanschauung”
dos historiadores como ofício descrever metodologicamente a história real.
Entende-se por carreira, a sucessão
de cargos efetivos, estruturados em níveis e graus segundo sua natureza,
complexidade e grau de responsabilidade, de acordo com o plano definido por lei
de cada ente federativo. Segundo as disposições constitucionais em vigor,
“servidores públicos” são todos aqueles que mantêm vínculo de trabalho
profissional com os órgãos e entidades governamentais, integrados em cargos ou
empregos de qualquer delas: União, Estados, Distrito Federal, municípios e suas
respectivas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia
mista. Trata-se de designação genérica e abrangente, introduzida pela
Constituição Federal de 1988, uma vez que, até a promulgação da Carta hoje em
vigor, prevalecia a denominação de “funcionário público” para identificação dos
titulares de cargos na administração, aos quais se estendia o regime
estatutário.
A
vida política do amazonense Luís Antônio de Medeiros, deputado federal pelo
PL-SP, é marcada por uma “virada da esquerda para a direita”. Depois de
envolver-se com a luta armada, em 1971, refugiou-se no Chile e filiou-se ao
Partido Comunista Brasileiro (PCB). Na década de 70, viveu em Cuba e na União
Soviética. Quando voltou ao Brasil, em
1977, foi trabalhar como metalúrgico em São Paulo e, dois anos depois, entrou
para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (SinMet). Em 1981, já como
primeiro-secretário do SinMet, abandonou a direção estadual do PCB e começou
sua guinada de centro- direita. Em 1986, assumiu a presidência do sindicato e
aderiu à recém-criada Confederação Geral dos Trabalhadores, que reunia a ala
mais conservadora do sindicalismo e se opunha à CUT - Central Única dos Trabalhadores. À frente do SinMet, Medeiros tornou-se
o principal expoente do “sindicalismo de resultados”, de melhoria salarial em
detrimento da política.
Em
1981 Rondônia foi elevada ao patamar de estado, mas só elegeu seu primeiro
governador em 1986 na pessoa de Jerônimo Santana. Meses antes a Paraíba ungiu o
derradeiro governador biônico do país quando a Assembleia Legislativa elegeu o
senador Milton Cabral em 1986 após a renúncia do governador e de seu
vice-governador e após um mês de interinidade do presidente do Tribunal de
Justiça. Após a Constituição de 1988 todas as unidades federativas passaram a escolher
seus governadores pelo voto direto graças a concessão de autonomia política ao
Distrito Federal, a transformação do Amapá e de Roraima em estados e a
incorporação de Fernando de Noronha a Pernambuco. Hoje a única hipótese para a
existência de governadores ditos “biônicos” é a criação de territórios
federais, visto que estes são uma divisão administrativa da União. Tal
definição, porém, não afasta as discussões sobre a natureza, a origem e o
significado dos partidos políticos para os governadores. Há uma natureza constitutivamente autoritária
em nossa sociedade. A Constituinte de 1988 criou meios para contê-la, entre os
quais o Ministério Público, a ação popular e a ação direta de
inconstitucionalidade. Mas não apostou
todas as suas fichas no sistema de representação.
Nas
eleições de 1989, apoiou à candidatura de Fernando Collor de Melo à Presidência
da República e, em 1990, começou a articular a formação da “Força Sindical”,
fundada no ano seguinte. Em 1992, declarou apoio ao impeachment de Fernando Collor e teve seu nome ligado a um
inquérito que apurava o desvio de US$ 118 mil de uma verba repassada, em 1990,
pela Secretaria Estadual do Trabalho ao Instituto
Brasileiro de Estudos Sindicais, do qual era presidente. O inquérito foi
concluído em 1995 e acabaria por condená-lo a restituir US$ 30 mil ao governo
de São Paulo. Em 1993, Medeiros filiou-se ao Partido Progressista (PP) e, em
1994, lançou-se candidato para o governo de São Paulo - quando Mário Covas foi
eleito. Ainda em 1994, apoiou a candidatura de FHC à Presidência da República.
No ano seguinte, reportagem do jornal Folha
de S. Paulo trouxe novas acusações ligadas ao IBES. Wagner Cinchetto,
ex-tesoureiro do Instituto, acusava Medeiros de um esquema paralelo de
arrecadação de recursos econômicos para
viabilizar o funcionamento da Força
Sindical.
Em
1995, foi para o PTB, aliado de FHC e, em 1998, foi para o PFL, elegendo-se
deputado federal. Em 2001, foi para o PL, partido que pode apoiar a candidatura
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. As Centrais Sindicais instituídas pela Lei
11.648, de 31 de março de 2008 que introduziu essa figura em nossa estrutura
sindical que anteriormente só existiam
no plano institucional através de algumas entidades conhecidas pela sociedade,
tais como a CUT - Central Única dos Trabalhadores, Força Sindical, CONLUTAS - Coordenação
Geral de Lutas, USB - União Sindical
Brasileira e outras – last but not
least – consideradas erroneamente de menor expressão. Com efeito, a Lei nº
11.648/08 demarca uma importante mudança de simbólica do sistema sindical
brasileiro, em que as Centrais Sindicais que atinjam os critérios de
representatividade passarão a ocupar um espaço importante de diálogo social,
como na indicação de integrantes de alguns Órgãos públicos ou “Fóruns
Tripartites”, que estejam discutindo questões de interesse geral dos
trabalhadores.
A
CSP Conlutas – Central Sindical e Popular ou, simplesmente, CSP Conlutas é uma
organização sindical brasileira que se propõe a construir uma alternativa de
luta à Central Única dos Trabalhadores, à União Nacional dos Estudantes (UNE) e
ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MTST). Segundo seus fundadores, essas
organizações não mais representariam os trabalhadores e a base dos seus
sindicatos e movimentos: a) “por sua estreita ligação ao governo”, b) “pelos
seus métodos burocráticos” e, por não c) “defender consequentemente os trabalhadores”.
Foi fundada no Congresso Nacional da Classe Trabalhadora – CONCLAT – ocorrido
em Santos, São Paulo, nos dias 5 e 6 de junho de 2010, a partir da fusão e
filiação de várias entidades sindicais existentes, entre elas, a então Conlutas
- Coordenação Nacional de Lutas, que se organizava desde 2004, e de onde veio a
maior parte da base sindical da nova entidade. A CSP Conlutas surge a partir da
unidade de vários setores do movimento sindical na luta contra as reformas
neoliberais aplicadas pelo governo Lula.
Em
21 setembro de 2010, o jornal elitista Estado
de São Paulo contabilizava a central como formada por 140 sindicatos e 2 milhões
de trabalhadores. Embora, a CSP-Conlutas defende uma política de diálogo,
compondo mesas de negociação com governo e empresários, conhecidas como “comissões
tripartites”, e adotando um discurso político moderado, em defesa de um “sindicalismo
responsável”, mantém-se aparentemente independente do governo e dos patrões,
sem prejuízo da ação direta como instrumento prioritário. Ao mesmo tempo,
desenvolve uma política de unidade com o restante do movimento sindical e
popular, especialmente com as demais centrais sindicais, como a CUT e a CTB,
reforçando o assim chamado “Espaço de Unidade e Ação” que orientará a campanha
contra o Programa de Proteção ao Emprego, o ajuste fiscal e em apoio às greves
e mobilizações que estão acontecendo. A
reunião teve representatividade de 250 pessoas, representantes de nove Estados
e o DF, 65 organizações sindicais, populares, estudantis, políticas e
partidárias estiveram na reunião que ocorreu na quadra do Sindicato dos
Metroviários de São Paulo.
Enfim,
Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se não enxergamos o todo, podemos
atribuir valores exagerados a verdades limitadas, prejudicando a compreensão de
uma verdade geral. Essa visão é sempre provisória, nunca alcança uma etapa
definitiva e acabada, caso contrário a dialética estaria negando a si própria.
O método dialético nos incita a revermos o passado, à luz do que está
acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do futuro, o que está
sendo em nome do que “ainda não é”. Para Hegel, o trabalho é o conceito chave para compreensão da superação da
dialética, atribuindo o verbo suspender (com três significados): negação de uma
determinada realidade, conservação de algo essencial dessa realidade e elevação
a um nível superior. A filosofia descreve a realidade e a reflete, portanto, a
dialética pretende não interpretar, mas refletir acerca da realidade. A
dialética é a história das contradições. Em alemão: “aufheben” significa
supressão (ou, “suprassunção”) e ao mesmo tempo manutenção da coisa suprimida.
O reprimido ou negado permanece dentro da totalidade. Hegel, um dos filósofos
que mais brilhantemente tratou da dialética, esta contradição não é apenas do
pensamento, mas da realidade. Então, tudo está em processo [social] de
constante devir.Bibliografia
geral consultada:
TOCQUEVILLE, Alexis, De la Democratie en Amerique. Paris: Éditions Gallimard, 1951; ECO, Umberto, Apocalittici e Integrati. Milano:
Bompian Editore, 1964; ARRAES, Miguel, Palavra
de Arraes. Textos de Miguel Arraes; depoimentos de Antônio Callado “et al”.
Carta de François Mauriac. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,
1965; Idem, Le Brésil: Le peuple et le
pouvoir. Paris: Éditions François Maspéro, 1970; Idem, A Democracia e a Questão Nordestina. Recife: Editora ASA, 1985; DREIFUSS, René
Armand, 1964: A Conquista do Estado. Ação
Política, Poder e Golpe de Classe. 2ª edição revista. Petrópolis (RJ): Editoras
Vozes, 1981; TUCCARI, Francesco, I dilemmi della
democrazia moderna. Max Weber e Robert Michels. Roma-Bari: Editore Laterza,
1993; MONTCLAIRE, Stéphane, “Lula et les Candidats du PT: Ampleur et limites d`un succès électoral, article présenté au débat Le Brésil des Réformes”. IHEAL - Paris III. Sorbonne Nouvelle, 13 juin 2003; BOBBIO, Norberto, Il Futuro della Democrazia. 1ª ed. Itália: Einaudi Editore, 2005; GOMES, Rita
Helena, A Desobediência em Hobbes.
Tese de Doutorado em Filosofia. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas
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Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1972; Idem, Introducción al
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4 – As Ideias. Habitat, Vida, Costumes, Organização. 4ª edição. Porto
Alegre: Editora Sulina, 2008; COUTINHO, Célio
Ribeiro, Formação Político-educativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) no Contexto do Governo Lula (2003 a 2010). Tese de Doutorado.
Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira. Fortaleza: Universidade
Federal do Ceará, 2014; MESQUITA, Lucas Ribeiro, Itamaraty, Partidos Políticos e Política Externa Brasileira: Institucionalização de Projetos Partidários nos Governos FHC e Lula. Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2013; TISESCU, Alessandra Devulsky da Silva, Aglietta e a Teoria da Regulação: Direito e Capitalismo. Tese de Doutorado. Faculdade de Direito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; FIUZA, Guilherme, Não é A Mamãe: Para Entender A Era Dilma. Rio de Janeiro: Editor Record, 2014; Idem, “Pixuleco 171, O Herói Inflável”. In: Revista Época, 24 de agosto de 2015, pp. 26 e ss.; VIANNA, Luiz Jorge Werneck. “A Cultura do Ressentimento é
Venenosa”. In: IHU - Instituto Humanitas Unisinos, volume 476, pp. 15-20, 2015; LÖWY, Michael, “O Golpe de Estado de 2016 no Brasil”. Disponível em: blogdaboitempo.com.br/2016/05/17; entre
outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político
(UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de
Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).