sexta-feira, 29 de julho de 2016

Albert Camus: Filosofia, Nobel & Jornalismo Político.

                                                                                                             Ubiracy de Souza Braga*

                                           Je n`ai pas dit exclut Dieu, ce qui est équivalent à sa demande. Albert Camus 


                Albert Camus nasceu no dia 7 de novembro de 1913, na Argélia francesa numa família dita “pied-noir”. É um termo usado para fazer referência aos cidadãos franceses, e outros de ascendência europeia, que viveram no Norte da África francês, nomeadamente a Argélia francesa, o Protetorado Francês do Marrocos ou o Protetorado Francês da Tunísia, por várias gerações, até ao fim da colonização francesa no norte Africa entre 1956 e 1962. Em particular, o termo Pieds-Noirs é utilizado para aqueles cidadãos descendentes de europeus que regressaram a França assim que a Argélia se tornou independente. Assim, é expressão que se refere à população francesa das antigas colônias e Departamentos franceses no norte da África: Argélia, Tunísia e Marrocos, que foi repatriada a partir do fim da ocupação em 1962, notadamente após a guerrilha de Independência da Argélia. Morreu em 1960, vítima de um acidente de automóvel. Na maleta estava contido o manuscrito de “Le Primier Homme”, um romance autobiográfico. É uma publicação póstuma do autor, que planejava escrever uma saga e conta a trajetória de Jacques Cormery. Albert Camus nos apresenta à Argélia do início do século XX.
       Povoada com colonos franceses às turras com os nativos, todos “nadando em uma miséria extrema”. Demonstra o início do nacionalismo argelino o qual teve como seu fundador, Ahmed Mesli (1898-1974), em árabe: مصالي الحاج que mais tarde culminou na guerra de Independência. Segundo estudos e análises críticas a ideia do “absurdo da existência humana”, é a maior contribuição de Camus para a filosofia. Representou um dos motivos que fizeram com que o autor deixasse o país natal e se mudasse para a França. No ano de 1934 ele entra no PCF - Parti Communiste Français, contrai matrimônio com Simone Hie, obtém o certificado de Estudos Literários Clássicos e de Filosofia Geral e História da Filosofia. Começa a escrever “L`Envers et l`Endroit” e em maio, inicia a escrita dos “Cadernos” e funda o “Teatro do Trabalho”. Compõe a peça “Revolta nas Astúrias”, e, por influência de Jean Grenier, no outono de 1935 adere ao jovem Parti Communiste Algérien criado em 1920.   
Redige a tese de doutorado sobre Plotino, nascido em Licopólis em 205 e morto no   Egito em 270, foi um filósofo neoplatônico. Mas sua paixão pela política e pela literatura o faz ingressar no Partido do Povo da Argélia, passando pari passu a escrever para dois periódicos socialistas. Trava conhecimento com o filósofo existencialista marxista Jean-Paul Sartre de quem se torna um grande amigo. Ingressa na Resistência Francesa e lança o jornal clandestino Combat. De biografia ímpar, se já não é um truísmo, é fato raro em tempos de crise de consciência na modernidade, como o transitório, o fugidio, o contingente, para lembramos de Gustave Flaubert que marcou a literatura francesa pela profundidade de suas análises psicológicas, seu senso de realidade, sua lucidez sobre o comportamento social. Com pai francês e mãe de origem espanhola, Albert Camus reconhece cedo a angústia o gosto amargo do homem diante da morte. Escreveu sobre temas conspícuos como a peste, o medo, a submissão do “homem ao absurdo”, a guerra de Independência da Argélia, sua terra natal, paixão e de formação política. Em 1938, Albert Camus colaborou com a fundação do jornal “Alger Républicain”.    
                                         

           Durante a guerra mundial de 1939-1945, colabora pari passu com o jornal “Combat”, além de sua participação no jornal “Paris-Soir”. Como intelectual empreende uma crítica analítica singular. Independente, fora do partidarismo oportunista e, sobretudo, das formas contemporâneas do binômio “produção-consumo”, no sentido que o Marx da Introdução de 1859 emprega, no âmbito do jornalismo consumista que se faz refém no dias de hoje  da chamada “indústria cultural”. Fora deste sentido, “Combat” foi um jornal francês.  Sua fundação ocorre em meio à 2ª guerra mundial, sendo um diário clandestino editado pela Resistência francesa e com a colaboração de Albert Camus. Em agosto de 1944, com o fim da ocupação nazista em Paris, o jornal passa a circular fora da clandestinidade e a partir deste momento, adotam uma postura infelizmente anticomunista.  Em 1947 Albert Camus deixa o jornal, juntamente com Pascal Pia. Contudo, Combat teve grande destaque do ponto de vista marginal da comunicação na década de 1960, nos eventos da Guerra da Argélia e o Maio de 1968.
       Camus tornou-se jornalista pelo dom de retratar como poucos a realidade social, após cursar filosofia e trabalhar em jornais da Argélia e na prestigiosa Editora Gallimard, na França. Tivesse Camus escapado ao acidente que lhe tirou a vida, aos 46 anos, em janeiro de 1960, talvez mudasse de ideia sobre sua visão aparentemente sombria do século XX. Teria assistido a Independência política da Argélia, a derrota do franquismo, quem sabe mesmo a derrubada do muro de Berlim, o final da moribunda “Guerra Fria” e, em particular, a criação da União Europeia. No dia 21 de julho de 1990, vale lembrar Roger Waters, ex-baixista do Pink Floyd, fez um dos maiores e mais importantes shows da história mundial do rock. Perante 200 mil pessoas, na Potsdamer Platz, em Berlim, acompanhado por astros da música pop, tocou na comemoração da queda do Muro de Berlim. Marco da Guerra Fria, disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, o Muro de Berlim dividia-se em ocidental e oriental. Com o colapso do bloco comunista, a edificação acabou sendo derrubada, e a cidade passou a ser uma só, novamente. Antes de se tornar presidente o 23º presidente francês, foi líder da União por um Movimento Popular (UMP). Durante a presidência de Jacques Chirac, foi Ministro do Interior nos primeiros dois governos de Jean-Pierre Raffarin de maio de 2002 a agosto de 2004, e depois foi nomeado Ministro das Finanças no último governo de Raffarin de agosto de 2004 a março de 2005, e novamente Ministro do Interior no governo de Dominique de Villepin (2005-2007). Sarkozy foi também presidente do Conselho Geral do departamento francês de Hauts-de-Seine de 2004 a 2007 e prefeito de Neuilly-sur-Seine, uma das comunas mais ricas da França, de 1983 a 2002. 
Foi Ministro do Orçamento no governo de Édouard Balladur durante o último mandato de François Mitterrand. Sarkozy é conhecido por querer revitalizar a economia francesa. Quando candidato à presidência da França, nas eleições de 2007, ele prometeu reavivar a ética trabalhista, promover novas iniciativas e combater a intolerância. Nas relações exteriores, prometeu um fortalecimento da Entente Cordiale com o Reino Unido e uma cooperação mais próxima com os Estados Unidos. Foi eleito presidente da República com 53,1% dos votos, derrotando Ségolène Royal. Durante seu mandato, fez votar várias reformas, dentre as quais a chamada Loi Relative aux Libertés et Responsabilités des Universités (2007), e a Reforma das aposentadorias (2010). Seu mandato foi marcado pelo impacto da Crise econômica mundial iniciada em 2008 e da crise da dívida pública da Zona Euro. Candidato à reeleição em 2012, foi derrotado por François Hollande, obtendo 48,4% dos votos no segundo turno. Já se vão pouco mais de 100 anos de seu nascimento, a melancolia, a estética “noir” dos cafés de Saint-German-des-Pés, a imagem do homem viril e de algumas mulheres encantadoras, como: Maria Casares ou Catherine Sellers. Maria Victoria Casares Quiroga y Pérez, artisticamente, María Casares (1922-1996) foi atriz espanhola com notório sucesso no cinema francês. Trabalhou na televisão, cinema, atuando num dos clássicos franceses: “Les enfants du paradis”, mas dedicou-se ao teatro, tornando o seu nome prêmio teatral: “María Casares”. Camus conheceu-a mais tarde estrela de Orfeu de Cocteau, uma atriz reconhecida, em 1944.  Filha de um rico espanhol republicano, um refugiado de Franco, ela era uma mulher politizada, voluntariosa, inteligente e apaixonada. Ela talvez tenha sido a única de suas amantes que teve uma relação amorosa de igualdade com ele, mas que não trataremos agora.
 Além disso, Olivier Todd afirma: - “Se ele era um Don Juan, era um Don Juana”. Casares, que morreu recentemente, escreveu uma autobiografia em que ela foi sincera sobre sua relação com o célebre Camus, mas com uma curiosa altivez nunca citou diretamente de suas centenas de cartas. Conhecida por ter, entre outros julgados sob a direção de Alain Resnais, Marguerite Duras ou Albert Camus, que era um dos companheiros da atriz Catherine Sellers que também empresta sua voz para documentários. Ela foi membro do júri de Marguerite Duras. Recebeu o prêmio de melhor atriz da União de críticas nos anos 1981/1982. Jean Grenier foi fundamental para que Albert Camus se graduasse em filosofia. Tanto Nicole Grenier quanto o velho mestre Jean Guerin, foram lembrados no livro: O Homem Revoltado (1951). O livro analisa o conceito da revolta de um ponto de vista histórico, esmiuçando suas características e seus desvirtuamentos. Contudo, a revolta para Camus tem uma dupla significação. Não é apenas histórica, apesar do seu ensaio ser histórico, pois analisa as manifestações históricas da revolta per se encontra algo de irredutível à própria natureza histórica. As manifestações históricas analisadas são muitas e de vários períodos históricos. Seja a denominada Revolta Metafísica de Epicuro e Lucrécio na Antiguidade, seja na negação do Marquês de Sade. Ou na afirmação do Único, de Max Stirner, na mesma seção que Friedrich Nietzsche.

         Ele observa e analisa essas manifestações também na poesia e na própria revolução. Seja na revolta dos escravos liderados por Espártaco ou na revolução que deu origem a URSS, e seus desdobramentos. Passando claro, pelas ideias e pela efetivação da clássica revolução burguesa na França. Neste sentido é possível afirmar que se por alguma razão se distinguia esse racionalista do mito, foi pelo aspecto moral de sua obra. Sua dissertação de mestrado é sobre neoplatonismo e sua tese de doutoramento, assim como a de Hannah Arendt sobre Santo Agostinho. A guerra da Argélia (1954-1962) representou um movimento de luta pela Independência da Argélia, então território francês. Caracterizou-se por ataques de guerrilha e atos de violência contra civis - perpetrados tanto pelo exército e colonos franceses chamados os pied-noirs quanto pelo Front de Libération Nationale - FLN e outros grupos argelinos pró-Independência. O governo francês considerava criminoso ou terrorista todo ato de violência cometido por argelinos contra franceses, inclusive militares. No entanto, alguns franceses, como o antigo guerrilheiro anti-nazi e advogado Jacques Vergès, compararam a Resistência francesa à ocupação nazi com a resistência argelina à ocupação francesa. Uma campanha de atentados antiárabes (1950-1953) havia sido praticada por colonos direitistas. Desencadeado, em contrapartida, a luta lançada pela FLN em 1954. Apenas dois anos antes de a França desistir do seu controle sobre a Tunísia e Marrocos. 
O principal rival argelino da FLN - com o mesmo objetivo de Independência política para a Argélia - representava o Mouvement National Algérien - MNA, cujos insurgentes principais eram trabalhadores argelinos em França. A FLN e o MNA lutaram entre si durante o conflito político. Em filosofia, metodologicamente “Absurdo” se refere ao conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida. Ou, a inabilidade humana para encontrar algum significado. Nesse contexto “absurdo” não significa, “logicamente impossível”, mas sim “humanamente impossível”. O universo e a mente humana não causam separadamente o Absurdo. Mas é o Absurdo que surge pela natureza contraditória de ambos existindo simultaneamente. Esta filosofia está relacionada ao existencialismo de Sartre e ao niilismo de Nietzsche, ainda que não deva ser confundido com estes. “Absurdismo”, portanto, como conceito tem suas raízes no século XIX com o filósofo dinamarquês Kierkegaard. Já como sistema de crença nasceu do movimento existencialista quando o filósofo Albert Camus rompe essa tendência e publica seu manuscrito “O mito de Sísifo”. As consequências da 2ª guerra mundial proporcionaram um ambiente social propício para as visões “absurdistas”, na devastada França, como de Emil Cioran (1911-1995), escritor e filósofo romeno radicado na França.           
Le Mythe de Sisyphe é considerado o ponto de partida. Trata-se de uma sensibilidade, não de uma filosofia do absurdo. O autor diz isso em parte do prólogo: - “aqui se encontrará unicamente a descrição, o estado puro de uma doença do espírito. Nenhuma metafísica, nenhuma crença foi misturada a isso por enquanto”. Sem lugar a dúvidas, “O mito de Sísifo” é a obra capital do absurdo. Assim como fez Jean-Paul Sartre, ao publicar em 1943 o ensaio: “O Ser e o Nada”, onde tenta exibir a tese da novela “A Nausea” (1938), Camus publica o ensaio em que tenta resolver os problemas propostos em sua narração “O estranho”, ambos de 1942. Um dos aspectos relacionados por estudiosos a este ensaio de Camus é o tema do suicídio. Foi analisado magistralmente por Émile Durkheim, mas para Camus, especialmente em sua primeira parte: “Um raciocínio absurdo”. A resposta que Camus tenta diante deste problema, refere-se a um trabalho sobre o sentimento do absurdo, sua gênese, seu conteúdo. Desenvolve o conceito do tempo, como inimigo, para entender a ilogicidade do mundo. O espectro da morte como uma certeza do absurdismo. O absurdo nos liberta de toda espécie de julgamentos, de toda a moral, nos recupera uma outra certeza. Viver sem apelação é a nossa vontade. Sem recorrer ao passado nem ao futuro. Sem recorrer à verdade nem a deus. Nem a nada de que não envolva o entendimento.       
De acordo com o “absurdismo”, por toda a história os humanos tentam encontrar sentido para suas vidas. Isto é correto, mas tradicionalmente, essa busca resulta em uma das duas conclusões: ou que a vida não tem sentido, ou que a vida contém nela um propósito definido por uma força maior - uma crença em Deus, ou a aderência a alguma religião ou outro conceito abstrato. Camus percebe que preencher a lacuna com alguma crença ou sentido inventado é um mero “ato de ilusão”; isto é, evitar ou contornar ao invés de reconhecer e abraçar o Absurdo. Para Camus, “a ilusão é uma falha fundamental na religião”, no existencialismo, no caso do existencialismo ateísta, entretanto, não inclui “ilusão” e em várias outras escolas do pensamento. Se o indivíduo escapa ao Absurdo, então ele não poderá confrontá-lo. Mesmo com uma força espiritual para dar significado, outra questão surge: Qual o propósito de Deus? Kierkegaard acreditava que não há propósito de Deus compreensível aos humanos. Fazendo da crença em Deus “um absurdo por si mesma”, um fim em si mesmo. Camus, por outro lado, sugere que acreditar em Deus é “negar um dos termos da contradição”, entre a humanidade e o universo, portanto, não absurdo, mas é o que ele chama de “suicídio filosófico”. 
         Camus pondera, - “Eu não disse exclui Deus, o que equivale à Sua afirmação”. No entanto, todo este pessimismo tende a apagar-se com o mesmo final que dá a sua obra. Diz: “devemos imaginar Sísifo feliz”. E aqui surgem então dois conceitos fundamentais: a consciência e a esperança configurada numa relação entre proximidade e distância. Diante deste mundo complexo e incompreensível, diante da cotidianidade da vida, onde tudo acabará com a morte, surge a consciência. Camus diz isso muito bem: “pois tudo começa pela consciência e nada vale mais do que por ela”. O absurdo então não é a sociedade nem o homem, senão a interação entre ambos. “A consciência é um desejo louco de clareza”. Em relação à esperança, trata-se de encontrar outros caminhos; tudo tem um por que, inclusive o que parece estar motivado fora da razão. Finalmente, está a rebelião (cf. Silva, 2008), tendo como escopo a ilusão da liberdade inequivocamente contrária no sentido de Jean-Paul Sartre, mas que denota ser outra obsessão de Camus. Assim o homem se libera e voltamos ao conceito do presente. - “O presente e a sucessão dos presentes… é o ideal absurdo”. Camus, como analogamente também Kierkegaard, ainda assim, sugere que enquanto o absurdo não leva à crença em Deus, também não leva à Sua negação.
 
Para alguns, suicídio representa uma solução quando confrontados com a futilidade de viver a vida destituída de qualquer significado, sendo o suicídio apenas um meio egoísta de adiantar o resultado final do destino de cada um. Para Albert Camus em O Mito de Sísifo, não é uma solução vantajosa, porque se a vida é verdadeiramente absurda, combatê-la é ainda mais absurdo; ao invés disso, nós deveríamos viver, e conciliar o fato político de que vivemos numa realidade social sem sentido. Suicídio, de acordo com Camus, é simplesmente um ato de evitar o Absurdo, ao invés de viver apesar dele. É a beleza que as pessoas encontram na vida que a faz valer a pena. Pois, a vida se torna ainda mais bonita quando descobrimos que a verdadeira alegria de viver encontra-se nos detalhes. As pessoas podem criar sentido para suas vidas, que pode não ser um sentido filosoficamente objetivo, se é que há um, mas ainda assim pode prover algo pelo que lutar, como um segredo de uma vida bem-sucedida. Ele insistiu que se deve sempre manter uma distância irônica no sentido afetivo que emprega Kierkegaard entre esse significado inventado e o conhecimento do Absurdo, de forma que o significado inventado não tome o lugar do Absurdo.        
A liberdade não pode ser alcançada além do que a absurdidade da existência permite; entretanto, o mais perto de que alguém pode chegar de ser absolutamente livre é pela aceitação do Absurdo. Camus introduziu a ideia da “aceitação sem resignação”, contrariando Max Weber, como um meio de lidar: a) com o reconhecimento do absurdo, b) questionando se um homem pode ou não “viver sem apelo”, c) enquanto ser definindo uma “revolta consciente” contra a evasão da absurdidade do mundo. Em um mundo destituído de significado superior ou justiça após a morte, o ser humano se torna tão absolutamente livre quanto é humanamente possível. É através dessa liberdade que o homem pode atuar, ou como mística, através do apelo a alguma força sobrenatural, ou, como um herói do absurdo, através da revolta contra tal esperança. Acossado pela intelligentsia ligada, ou simpática, ao sovietismo, condenou igualmente os ataques nucleares dos Estados Unidos ao Japão; a prerrogativa dos vetos, no Conselho de Segurança da ONU; o absurdo da Guerra Fria, cuja lógica de extremos e incertezas sempre se recusou a adotar. Fez da oposição ao terror do franquismo quase sua obsessão pessoal. 
Na interpretação filosófica de Georges-Michel Darricades, metodologicamente há dois tópicos fundamentais nos quais podemos abraçar a obra de Camus: “o absurdo e a rebeldia”. De alguma maneira, ele gostava de ordenar seus ciclos, denominados assim por ele. Desta maneira, na série de análise sobre o “Absurdo”, logicamente incluía: “O estranho”, “O mito de Sísifo”, “Calígula” e “O mal-entendido”; e na série “Rebeldia”, estava o livro “A peste” e “O homem rebelde”. Há muitas páginas de Camus que ultrapassam a sucinta relação que Georges-Michel Darricades pretende para dar consistência ao artigo. Aí estão: “Avesso e Direito”, “Casamentos”, “O verão”, no plano dos ensaios; “A queda”, “O exílio no reino da narrativa”; “O mal-entendido”, “O estado de sítio”, “Os justos”, no teatro. E outros textos como “Atualidades” e “Cadernetas”, que estão mais perto da contingência e do devir dos acontecimentos que lhe tocou viver. Esta filosofia está relacionada simultaneamente à interpretação do existencialismo quanto ao niilismo, ainda que não deva ser confundido com estes analiticamente.   
A rejeição da esperança, no “absurdismo”, demonstra a recusa de acreditar em qualquer coisa além do que essa vida absurda pode prover. Doravante, a recusa do herói do absurdo à esperança se torna sua habilidade de viver o presente com paixão. A esperança, como Camus enfatiza, não tem, entretanto nada a ver com desespero, significando que os dois termos não são antônimos. O indivíduo pode viver rejeitando completamente a esperança, e, de fato, só pode fazê-lo sem esperança. A esperança é vista pelo “absurdista” como outro método fraudulento de evadir o Absurdo, e não tendo esperança, o indivíduo estará motivado consequentemente a viver cada momento ao máximo. O “absurdista” não é guiado por moralidade, mas ao invés disso, pela sua própria integridade. O “absurdista” é, de fato, amoral, porém não necessariamente imoral. De modo geral a questão da moralidade implica um firme senso definitivo em oposição assimétrica entre certo e errado, enquanto a integridade implica honestidade consigo e consistência nas motivações  entre ações e decisões na sua existência.                    

 Na fotoJacques Lacan, Cécile Eluard, Pierre Reverdy, Louise Leiris, Zanie Campan, Pablo Picasso, Valentine Hugo, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Michel Leiris, Jean Aubier y Brassaï, fotografiados por este en 1944, tras la lectura de Le désir attrapé par la queue, de Picasso. Sob estas diretrizes, não é sem sentido que sua obra filosófica e literária tenha o absurdo como estandarte, como bandeira militar, analogamente como no mar é a bandeira distintiva de um chefe de Estado que é arvorada no mastro principal de um navio. Grosso modo, seus livros testemunham as angústias e rancores de seu tempo e os dilemas e conflitos já observados por escritores que o precederam, tal como Kafka ou Dostoievski, por exemplo. Esta proximidade entre Camus e estes dois autores evidencia uma cadeia que se estende até os dias atuais, indica a fonte de um movimento heterogêneo - abrange arte, teatro, literatura, filosofia -, que por conveniência poderemos identificar como a “estética do absurdo”. Alguns ilustres filiados a este movimento cujo foco é o absurdo são eles: Samuel Beckett e Eugène Ionesco. Albert Camus mudou-se para a França em 1939 antes da invasão imperilaista alemã. Mudou-se devido às polêmicas com as autoridades francesas na Argélia. 
Lembramos que o tema da rebelião já o preocupava vários anos antes. Um amigo lhe pedira para escrever algo a respeito para uma compilação sobre o tema, por isso, tinha várias anotações em seu Diário sobre ele. Este ensaio, um dos mais importantes de Camus, reflete um antes e um depois em relação aos seus contemporâneos. Significou o início do distanciamento e a polêmica com Sartre. E também recebeu o ataque de boa parte da intelectualidade francesa e da publicação: Les Temps Modernes. A pergunta central que propõe é: “o crime é legítimo?”. Então, denuncia o terrorismo de Estado no nazismo, fascismo e no comunismo, este último através de sua expressão mais depurada, o stalinismo. O autor se distancia dessa rebelião morna, comum em muitos intelectuais de seu tempo: “eu me sublevo, depois me retiro à montanha, lavo as mãos…”. Ao contrário, fala da cidade, a rebelião deve ser feita ali para ser realmente eficaz. No entanto, sabe que é difícil; o indivíduo luta contra o mal, mas é impossível mudá-lo em um só dia pelo bem. Em suas  palavras: - “depois de tudo, os filhos sempre morrerão injustamente, mesmo na sociedade perfeita. Em seu maior esforço, o homem só pode tentar diminuir aritmeticamente a dor do mundo”. Mas “o porquê de Dimitri Karamazov continuará ressoando; a arte e a rebeldia somente terminarão com o último homem”.
Do ponto de vista literário e de afeto político, particularmente o livro: L`Étranger é considerado consensualmente o mais famoso romance do escritor Albert Camus. Lançada em 1942, tendo sido traduzida em mais de quarenta línguas é sua obra-prima. Recebeu uma adaptação cinematográfica com o título em italiano: “Lo straniero”, filme franco-italiano de 1967, do gênero drama, realizado por Luchino Visconti em 1967, como ocorre em 1972 com o filme: “Ludwig”, sobre a vida e a morte de Luís II da Baviera, mais conhecido por sua admiração por Richard Wagner e sua comissão de vários palácios na Baviera entre eles: “Neuschwanstein” e “Herrenchiemsee”. O filme foi gravado em Munique. Contudo, “L`Étranger”, para o que nos interessa, faz parte do “ciclo do absurdo”, a trilogia composta de um romance: a) “L`Étranger”, um ensaio: b) “Le mythe de Sisyphe”, e c) da peça de teatro: “Calígula”, que descrevem o aspecto fundamental de sua filosofia: o absurdo. O romance narra a história de Meursault, que comete um assassinato e é julgado por esse ato crimionoso. A ação desenrola-se na Argélia, época em que ainda era colônia francesa. A acusação concentra-se no fato de “Meursault não conseguir ou não ter vontade de chorar no funeral da sua mãe”.  L`Étranger representa uma novela de 1942 escrita por  Camus. Seu tema e perspectiva são frequentemente citados como exemplos da filosofia de Camus, absurdo somado ao existencialismo, embora Camus pessoalmente rejeitasse a última designação. O personagem-título é Meursault, um indiferente colono francês na Argélia descrito como “um cidadão da França domiciliado no Norte da África, um homem do Mediterrâneo, um homme du midi, mas que dificilmente compartilha da cultura mediterrânea tradicional. 
Semanas após o funeral de sua mãe, ele mata um homem árabe na Argel francesa, que estava envolvido em um conflito com um dos vizinhos de Meursault. Mersault é julgado e condenado à morte. A história é dividida em duas partes, apresentando a visão narrativa em primeira pessoa de Mersault antes e depois do assassinato, respectivamente. Por ironia do destino, nas notas ao texto ele escreve que aquele romance deveria terminar inacabado. Por coincidência, a sua mãe falece no mesmo ano que ele. Uma curiosidade sobre o acidente de automóvel: Camus não deveria ter feito a viagem para Paris de carro junto com os amigos Gallimard: Michel, Janine e a filha deles, Anne. Ele faria esta viagem com o poeta René Char, de trem. Por insistência de Michel, ele resolve ir de carro com eles. Char também foi convidado, mas não quis lotar o carro, além de já haver comprado sua passagem. Camus também já tinha seu bilhete de trem comprado quando foi convencido a ir de carro. No acidente de automóvel o Facel-Véga de Michel se espatifou contra uma árvore. Apenas Camus morreu na hora. Michel morreu no hospital 5 dias depois. O relógio do painel do carro parou no instante do acidente: 13: 55 horas. Eis aqui um pequeno fragmento de seu discurso à Academia sueca ao receber o prêmio Nobel: - “A tarefa do escritor, ao mesmo tempo, não se separa de deveres difíceis. Por definição, hoje, ele não pode colocar-se a serviço de quem faz a história: está a serviço daqueles que a sofrem” (“La tâche de l`écrivain, tout en n`étant pas séparé de fonctions difficiles. Par définition, aujourd`hui, il ne peut pas vous apporter de qui rend service de l`histoire: est au service de ceux qui souffrent”). 
Bibliografia geral consultada.

 KADDACHE, Mahfoud, Histoire de Nationalisme Algérien. Volume I. Paris-Argel: Éditions Paris-Méditerranée, 2003; SOERENSEN, Bruno, “et al”, Cem Anos pela Estrada do Progresso: Um Século de Prêmio Nobel. Adamantina (SP): Edições Omnia, 2004; MÁDOZ, Inmaculada Cuquerella, La Superación del Nihilismo en la Obra de Albert Camus: La Vida como Obra Trágica. Tese de Doutorado. Valência: Universität de Valência, 2007; SILVA, Nilson Adauto Guimarães da, A Revolta na Obra de Albert Camus: Posicionamento no Campo Literário, Gênero, Estética e Ética. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008; GERMANO, Emanuel Ricardo, O Pensamento dos Limites: Contingência e Engajamento em Albert Camus. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008; BRANCHE, Raphaëlle (Org.), La Guerre d’Indépendance des Algériens 1954-1962. Paris: Presses Nationales de la Fondation des Sciences Politiques, 2009;CASARES, María, “En la Muerte de María Casares”. Disponível em: http://elsimagico.wordpress.com/2009/05/18; PIMENTA, Danilo Rodrigues, A Criação Absurda segundo Albert Camus. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Departamento de Filosofia. Instituto de Filosofia, Artes e Cultura, Universidade Federal de Ouro Preto, 2010; MACHADO, Patrícia de Oliveira, Absurdo, Revolta, Ação: Albert Camus. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia. Brasília: Universidade de Brasília, 2010; JESUS, Angela Regina Binda da Silva de, Entre o Sim e o Não, o Sol e a Indiferença: Meursault, o Herói Absurdo em L`Étranger de Albert Camus. Dissertação de Mestrado.  Centro de Ciências Humanas e Naturais: Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2010; PIMENTA, Danilo Rodrigues, A Criação Absurda segundo Albert Camus. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Departamento de Filosofia. Instituto de Filosofia, Artes e Cultura. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2010; WILLIAMS, Raymond, Cultura e Materialismo. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 2011; SAMPAIO, Leandson Vasconcelos, Filosofia, Jornalismo e Dramaturgia: Ética, Engajamento e Responsabilidade em Albert Camus. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Instituto de Cultura e Arte. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2015; PIMENTA, Danilo Rodrigues, Entre o Absurdo e a Revolta: Por uma Proposta Filosófica para o Ensino de Filosofia Pensada a partir de Albert Camus. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2016; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará.

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