terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Victor Jara – Guitarra, Vida Artística & Política 40 años Despues.

                                                                                                                            Ubiracy de Souza Braga*

El verso es una paloma que busca donde anidar. Estalla y abre sus alas para volar y volar”. Víctor Jara 
      

Víctor Lidio Jara Martínez nasceu no município Lonquén, cidade de Santiago. Era filho dos camponeses Manuel Jara e Amanda Martínez. Manuel era um trabalhador braçal analfabeto e queria que seus filhos trabalhassem o quanto antes, ao invés de irem para a escola. Assim sendo, aos seis anos de idade Víctor Martínez já estava trabalhando no campo. Manuel era incapaz de extrair o sustento de sua família - além de Víctor tinha outros quatro filhos: María, Georgina, Eduardo e Roberto - como camponês no imóvel da família Ruiz-Tagle, tampouco foi capaz de encontrar um trabalho estável. Acabou virando um alcóolatra violento. Seu relacionamento com Amanda deteriorou-se, e Manuel abandonou a família quando Víctor ainda era criança. Amanda criou Víctor e seus irmãos sozinhos, insistindo que todos eles deveriam ir para a escola. Ao contrário de Manuel, Amanda - uma mestiça com raízes mapuche, originária do sul do país - não era analfabeta. Como um autodidata, tocava violão e piano, tendo sido cantor de canções folclóricas em casamentos e funerais de sua cidade natal.

Santiago, por vezes chamada Santiago do Chile para a distinguir de cidades homônimas, é a capital e a maior cidade do Chile. Está localizada na Região Metropolitana de Santiago, no vale central chileno, ao lado da cordilheira dos Andes. É o maior e mais importante e desenvolvido centro urbano, financeiro, cultural e administrativo do país. Chamada de Grande Santiago, ou simplesmente Santiago, representa uma aglomeração que possui 32 comunas de maneira íntegra e 11 comunas de forma parcial. A maior parte de Santiago está na província de mesmo nome, com alguns setores periféricos dentro das províncias de Maipo, Cordillera e Talagante.  A cidade de Santiago abriga os principais organismos governamentais à exceção do Congresso Nacional, localizado na cidade de Valparaíso, financeiros, administrativos, comerciais e culturais do Chile. Santiago também é sede da Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas (CEPAL), além de ser considerada a terceira capital latino-americana com melhor qualidade de vida, depois de Montevidéu (Montevideu em português europeu) e Buenos Aires, e uma Cidade Global “Beta +”, segundo estudos da Globalization and World Cities Research Network. É considerada a 2.ª cidade mais competitiva da América Latina e a 60ª do mundo. 

Em consequência de um grave acidente em casa sofrido pela irmã de Víctor, María, a família vai morar para a capital do país, Santiago, é uma aglomeração que possui 32 comunas de maneira íntegra e 11 comunas de forma parcial. A maior parte de Santiago está na província de mesmo nome, com alguns setores periféricos dentro das províncias de Maipo, Cordillera e Talagante, à procura de melhores condições econômicas. Víctor, juntamente com o irmão Lalo, ingressa no Liceu Ruíz-Table, onde ambos destacam pelos seus bons resultados académicos, até acabarem nele os estudos primários. O duro trabalho da mãe conseguiu algum progresso econômico para a família, mas obrigou-a a dedicar pouco tempo aos filhos. A viola de Amanda serviu a Víctor para a sua aproximação da música, com ajuda do seu amigo Omar Pulgar. A mudança de residência para o bairro de Chicago Chico dá ao jovem Víctor a possibilidade de ter um relacionamento mais amplo com outros jovens da mesma origem e condição social, agrupando-se na conjuntura em torno do Partido Democrata Cristão. Cantam, escutam música clássica, saem de excursão, jogam futebol e formam um coro. Os estudos religiosos fazem parte da sua formação. Durante os estudos secundários no Instituto Comercial, parece ter existido o sonho secreto vocacional de chegar a ser padre. Em 1950, a mãe morre repentinamente. 

O Partido Democrata Cristão do Chile (PDC), também chamado de Democracia Cristã, é um partido político chileno fundado em 28 de julho de 1957, através de diversos  grupos sociais-cristãos. Participaram de sua criação a Falange Nacional e o Partido Conservador Social Cristão, grupos sectários do Partido Conservador, e que formavam a Federação Social Cristã. É integrante da Internacional Democrata Cristã. Atualmente, ele é o maior partido em termos de número de militantes com pouco mais de 113,000 membros. O PDC adere ao humanismo cristão surgido nos ensinamentos da encíclica social Rerum Novarum, ditada pelo papa Leão XII em 1891, e as posteriores, que buscam entregar diretrizes nas vidas das pessoas para poder criar uma sociedade mais justa e que resolva os graves problemas sociais, provocados pela Revolução Industrial e as duras práticas do liberalismo. Na história do século XX no Chile, o PDC teve uma posição de centro democrática. Suas principais medidas na história do Chile são a Reforma Agrária, a Nacionalização do Cobre, oposição ao governo de Unidade Popular, sua participação na recuperação democrática, a defesa dos direitos humanos, violentados durante o Governo Militar que regeu o país sob comando de Augusto Pinochet (1973-1990) e a modernização do país nos últimos 15 anos, com sua participação nos governos da Concertación.

O período da República Presidencialista, da Constituição de 1925 até o golpe de Estado de 1973, marcou uma mudança nas instituições do país. Três partidos passaram a dominar a política: o Partido Radical, o Partido Democrata Cristão do Chile e os Partido Socialista do Chile. Muitas empresas públicas foram criadas neste período. Seu final foi marcada pelo triunfo das ideias de esquerda e socialistas. Após o Golpe de Estado de 11 de setembro de 1973 que derrubou o presidente democraticamente eleito Salvador Allende (1908-1973), um regime militar ditatorial tomou o poder violentados durante o Governo Militar que regeu o país sob comando de Augusto Pinochet (1973-1990)  a modernização do país durante os últimos 15 anos, com sua participação nos governos da Concertación. Dezenas de milhares de apoiantes da oposição foram presos, torturados ou mortos, inclusive no exterior, outros foram deportados ou condenados ao exílio. Com a ajuda dos Chicago Boys, Pinochet seguiu uma política econômica liberal, e uma nova constituição foi aprovada em 1980.



Aos 21 anos, entra para o coro da Universidade do Chile, participando na montagem da peça “Carmina Burana” iniciando seu trabalho de pesquisa e compilação folclórica. Três anos mais tarde, faz parte da companhia de teatro “Compañía de Mimos de Noisvander”, simultaneamente com os estudos de ator e direção na Escola Teatro da Universidade do Chile. Em 1957 entra no grupo de cantos e danças folclóricas “Cuncumén”, onde conhece Violeta Parra, que o encoraja a continuar na profissão. Violeta Parra pode ser considerada “a mãe da canção comprometida com a luta dos oprimidos e explorados”, tendo sido autora de páginas inapagáveis, como a canção “Volver a los 17”, que mereceu uma antológica gravação de Milton Nascimento e Mercedes Sosa. Outra de suas canções, “La Carta”, cantada em momentos de enorme comoção revolucionária, nas barricadas e nas ocupações, tem entre os seus versos o que diz: - “Os famintos pedem pão; chumbo lhes dá a polícia”. Mas suas canções não apenas são marcadas por versos demolidores contra toda a injustiça social. O lirismo dos versos de canções como “Gracias a la vida”, gravada também por Elis Regina, embalou o ânimo de gerações de revolucionários latino-americanos em momentos em que a vida era questionada nos seus limites mais básicos, assim como a letra comovedora de “Rin de Angelito”, descrevendo a morte de um bebê pobre: - “En su cunita de tierra lo arrullará, una campana mientras la lluvia le limpia, su carita en la mañana”.

Com 27 anos, em 1959 dirige a sua primeira obra de teatro: “Parecido a la Felicidad de Alejandro Sieveking”, escrita pelo dramaturgo e ator Alejandro Sieveking, e dirigida por Víctor Jara. Se apresentou pela primeira vez em 12 de setembro de 1959, quando ambos ainda eram vinte anos, encenando-a por vários países do continente latino-americano que engloba os países onde são faladas, primordialmente, línguas românicas (derivadas do latim) — no caso, o espanhol, o português e o francês - visto que, historicamente, a região foi maioritariamente dominada pelos impérios coloniais europeus. Como solista do grupo folclórico, grava o seu primeiro disco, “Dos Villancicos”. Em seguida, participa como assistente de direção na montagem de “La Viuda de Apablaza de Germán Luco Cruchaga”, cujo director era Pedro de la Barra, e dirige a obra “La Mandrágora”, de Nicolau Maquiavel. Como diretor artístico do grupo “Cuncumén” viaja pela Holanda, França, União Soviética, Checoslováquia, Polônia, Romênia e Bulgária. Em 1961, compõe a sua primeira canção, “Paloma Quiero Contarte”, dando continuidade ao seu trabalho de direção na montagem de “La Madre de los Conejos de Alejandro Sieveking”. Dirige “Animas de Día Claro”, de Sieveking.  Grava com o grupo “Cuncumén” o disco “Folclore Chileno”, onde inclui duas canções próprias, “Paloma Quiero Contarte” e “La Canción del Minero”. 

Começa a trabalhar como diretor na Academia de Folclore da “Casa da Cultura de Ñuñoa”, função que desempenharia até 1968. Nessa altura, e até 1970, faz parte da equipe estável de diretores do Instituto de Teatro da Universidade do Chile, Ituch e entre 1964 e 1967 é professor de atuação na universidade. O trabalho de direção teatral ocupa o seu tempo, realizando, quer como assistente de direção quer como diretor, várias montagens, entre elas uma para a TV da Universidade, além de uma tournée pela Argentina, Uruguai e Paraguai com a obra “Animas de Día Claro de Alejandro Sieveking”. Em 1963, passa a ser assistente de direção de Atahualpa del Cioppo na montagem de “El Círculo de Tiza” de Bertolt Brecht, para o Ituch. Continua a compor música e, em 1965, dirige a obra “La Remolienda” de Sieveking, como a montagem de “La Maña”, de Ann Jellicoe, para o Ictus, recebendo o prêmio “Laurel de Oro” como melhor realizador, e o prêmio da Crítica do Círculo de Jornalistas à melhor direção por “La Maña.
Em 1969 monta a obra “Antígona” de Sófocles para a Companhia da Escola de Teatro da Universidade Católica. Com a canção “Plegaria a un labrador”, ganha o primeiro prêmio do I Festival da Nova Canção Chilena e viaja a Helsinque para participar num Comício Mundial de Jovens pelo Vietnam, gravando ainda nesse período “Pongo en Tus Manos Abiertas”. Em 1970, participa em Berlim na “Conversação Internacional de Teatro” e em Buenos Aires no I Congresso de Teatro Latino-Americano. Envolve-se na campanha eleitoral da Unidade Popular do Chile e edita o disco “Canto Libre”. Nomeado embaixador cultural do Governo da Unidade Popular, em 1971 põe música, junto a Celso Garrido Lecca, ao ballet Los Siete Estados de Patricio Bunster para o Ballet Nacional do Chile. Junto a Violeta Parra e Inti-Illimani, entra no Departamento de Comunicações da Universidade Técnica do Estado. Com a casa Dicap, edita o disco “El Derecho de Vivir en Paz”, com que leva o prêmio Laurel de Oro à melhor composição do ano.
Os camponeses de Ranquil convidam-no à realização de uma obra musical sobre o lugar, e dentro seu compromisso social participa nos trabalhos voluntários para impedir a paralisação do país, que as forças reacionárias querem conseguir mediante a greve de camionistas. Trabalha como compositor de música para continuidade na Televisão Nacional do Chile desde 1972 até 1973; investiga e compila testemunhos em Hermida de la Victoria, a partir dos quais gravaria “La Población”. Viaja à URSS e a Cuba e dirige a Homenagem a Pablo Neruda pela obtenção do Prémio Nobel. Esse mesmo compromisso leva-o em 1973 a realizar diferentes atos, participando na campanha eleitoral para as eleições e ao parlamento em prol dos candidatos da Unidade Popular. Respondendo ao apelo de Pablo Neruda, participa como diretor e cantor num ciclo de programas da TV contra a guerra e contra o fascismo. Trabalha ainda em vários discos que não poderá gravar e realiza a gravação de “Canto por Travesura”.
        Professor da Faculdade de Comunicação da UTE, Víctor Jara militava no Partido Comunista do Chile - PCCh, havia apoiado a eleição de Allende pela Unidade Popular em 1971, e firmava-se como o maior nome da canção de protesto em seu país. O Partido Comunista do Chile é um partido político chileno de orientação marxista. Fundado em 1912 por Luís Emilio Recabarren sob o nome de Partido Operário Socialista, o PCCh e liderado por Guillermo Tellier. O partido publica um jornal chamado El Siglo. A organização juvenil do partido é a Juventudes Comunistas do Chile (JJCC), cujo integrante mais famoso foi o cantor e compositor Víctor Jara, assassinado em 16 de setembro de 1973, logo após a deflagração do golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet. Outros membros famosos do partido incluem o poeta vencedor do Prêmio Nobel Pablo Neruda e a cantora e compositora Violeta Parra. Atualmente, Camila Vallejo, é uma das dirigentes do Comitê Central da entidade, era presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh) e uma liderança dos protestos contra o sistema neoliberal na educação do Chile. 
       O Partido Comunista do Chile, a partir do momento da sua fundação tem desenvolvido um trabalho com jovens militantes e para a juventude. A criação da Federação da Juventude Comunista (FJC) em 1924, desenvolvendo um trabalho com pioneiros, prematuras crianças menores de 12 anos recebendo lições de princípios comunistas) e a impressão da revista La Llamarada, são sinais que revelam o trabalho ativo do Partido Comunista no domínio da juventude, trabalho que seria consolidado em 5 de setembro de 1932 com a reunião daria iniciação a uma orgânica nacional da FJC, e é reconhecida como a data de fundação da Jota. Durante os anos seguintes a sua fundação, o JJCC contribuiu substancialmente para os vários objectivos desenvolvidos pelos comunistas chilenos, sendo nos anos 30 uma das principais forças políticas responsáveis ​​para o desenvolvimento da luta contra o fascismo e o nazismo no Chile, bem como, o desenvolvimento de uma política de alianças ampla que permitiu a construção da Aliança do Juventude Libertadora (ALJ), expressão juvenil da política de frente popular desenvolvido pela do PCCh e terminando com a vitória presidencial do radical Pedro Aguirre Cerda. Após a vitória da Frente Popular e em conformidade com o que estava desenvolvendo o PCCh, o JJCC participou da ascensão de protestos de trabalhadores e estudantes, cujo maior exemplo foi la Massacre do Praça Bulnes, onde perece uma das militantes do JJCC Ramona Parra.  A JJCC enfrentou ilegal do PCC causada pela chamada Lei Maldita, buscando sempre a unidade mais ampla possível, que iria parar as políticas antidemocráticas de Gabriel González Videla.        
Bibliografia geral consultada.   

CÁNEPA-HURTADO, Gina, Violeta Parra y sus Relaciones con la Canción e de Lucha Latinoamericana. Berlín West. Tesis Doctoral, 1981; CASANUEVA, Fernando, La Societè Coloniale Chilenne et l`Église au XVIIIéme Siècles: Les Tentatives d`Évangelisatio des Indiens Rebelles. Thèse. Paris: Université de Paris Sorbonne, 1981; BENGOA, José, História del Pueblo Mapuche (Siglos XIX y XX). Santiago de Chile: Ediciones Sur, 1985; ALDUNATE, Arturo Fontaine, La Historia no Contada de los Economistas y el Presidente Pinochet. Santiago do Chile: Editor Zig-Zag, 1988; MUSSO, Osvaldo, La Nueva Canción Chilena. Continuidad y Reflexo. La Habana: Editor Casa de las Américas, 1988; CIFUENTES, Luís, La Reforma Universitária en Chile (1967-1973). Santiago de Chile: Editorial Universidad de Santiago de Chile, 1997; Idem, Kirberg, Testigo y Actor del Siglo XX. Santiago de Chile: Editorial Universidad de Santiago de Chile, 2010; MARTINS, Camila Savegnago O Chile Contemporâneo na Historiografia Política de Tomás Moulian. Dissertação de Mestrado em História e Cultura Política. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Franca: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2014; BRUM, Maurício, Estádio Chile, 1973: Morte e Vida de Víctor Jara, A Voz da Revolução Chilena. Coleção Direito, Política e Cidadania; 34. Ijuí: Editora Unijuí, 2014; ESPINOZA, Fernando Venegas, “Violeta Parra y su Conexión con la Cultura Popular de la Frontera del Biobío (1917-1934)”. In: Revista História. Universidad de Chile, n° 21, vol. 1, enero-junio 2014: 105-139; TOBAR CARRASCO, José Fabián, La Canción Contingente durante el Gobierno de la Unidad Popular (1970-1973): Analisis sobre el Uso de la Intertextualidad como Estratégia Política en la Creación y Recepción Musical. Tesis (Licenciatura en Estetica). Facultad de Filosofía. Santiago: Pontificia Universidad Catolica de Chile, 2014; SCHMIEDECKE, Natália, “La Influencia de DICAP en la Nueva Canción Chilena”. In: KARMY, Eileen; FARÍAS, Martín (Comp.), Palimpsestos Sonoros: Reflexiones sobre la Nueva Canción Chilena. Santiago de Chile: Ceibo Ediciones, 2014, pp. 201-218; GOMES, Caio de Souza, Quando Um Muro Separa, Uma Ponte Une: Conexões Transnacionais na Canção Engajada na América Latina (Anos 1960/70). São Paulo: Editora Alameda, 2015; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).  

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