sábado, 5 de dezembro de 2015

Joan Baez – Violão, Domínio & Canto Pacifista de Liberdade.

                                                                                                                        Ubiracy de Souza Braga
                                                                                                                                
Você não pode escolher como vai morrer. Pode decidir como viver  para que não tenha sido em vão”. Joan Baez 

                                                 
           Quando historicamente, nos séculos XIII ou XIV, os artistas se propõem a ilustrar anedotas ou episódios particulares, eles hesitam, e sua ingenuidade surpresa produz um resultado canhestro: nenhum deles se compara ao virtuosismo dos artistas que representam episódios nos séculos XV e XVI. Antes do século XV, portanto, as cenas de interior são muito raras. A partir de então, elas se tornam cada vez mais frequentes. O evangelista, antes situado num meio atemporal, torna-se um escriba em sua escrivaninha, com a pena e a raspadeira na mão. Primeiro ele é colocado na frente de um simples drapeado decorativo, mas finalmente aparece num quarto cheio de livros em prateleiras: do evangelista, passou-se ao autor em seu quarto, a Froissart escrevendo uma dedicatória em seu livro. Nas ilustrações do texto de Terêncio do palácio dos Doges, as mulheres trabalham e fiam em seus aposentos, com suas criadas, ou aparecem deitadas na cama, nem sempre sozinhas. Veem-se cozinhas e salas de albergues. As cenas galantes e as conversações se passam agora no espaço fechado de uma sala. Surge o tema do parto, cujo pretexto é o nascimento da Virgem. Criadas, comadres e parteiras se atarefam no quarto em torno da cama da mãe. Surge também o tema da morte, da morte no quarto, em que o agorlizante luta em seu Idto por sua salvação. A representação mais frequentes do quarto e da sala corresponde a uma tendência nova do sentimento, que se volta então para a intimidade da vida privada.  As cenas de exterior não desaparecem, é certo - são a origem das paisagens, mas as cenas de interior tornam-se mais numerosas e mais originais. Iriam caracterizar a pintura de gênero todo o tempo de sua existência.

A vida privada, rechaçada na Idade Média, invade a iconografia, particularmente a pintura e a gravura ocidentais no século XVI e, sobretudo no XVII: a pintura holandesa e flamenga e a gravura francesa comprovam a extraordinária força desse sentimento, antes inconsistente ou menosprezado. Sentimento já tão moderno, que para nós é difícil compreender o quanto era novo. Essa farta ilustração da vida privada poderia ser classificada em dois grupos: o do namoro e da farra à margem da vida social, no mundo suspeito dos mendigos, nas tabernas, nos bivaques, entre os boêmios e os vagabundos - que desprezaremos por estar fora de nosso assunto - e sua outra face, o grupo da vida em familia. Se percorrermos as coleções de estampas ou as galerias de pintura dos séculos XVI-XVII, ficaremos impressionados com essa verdadeira avalancha de imagens de familias. Esse movimento culmina na pintura da primeira metade do século XVII na França, e na pintura de todo o século e até mais na Holanda.  Ele persiste na França durante a segunda metade do século XVII na gravura e nos leques pintados, reaparece no século XVIII na pintura, e dura até o século XIX, até a grande revolução estética que baniria da arte a cena de gênero. Nos séculos XVI e XVII, os retratos de grupos são numerosíssimos. Alguns são retratos de confrarias ou corporações. Mas a maioria representa uma familia reunida.  Estes surgem no século XV, com os doadores que se fazem representar no nível inferior de alguma cena religiosa, como sinal de sua devoção. Esses doadores são discretos e estão sozinhos.

Mas logo começam a trazer a seu lado toda a familia, incluindo os vivos e os mortos: as mulheres e os filhos mortos também têm seu lugar na pintura. De um lado aparece o homem e os meninos, do outro a ou as rnulheres, cada uma com as filhas de seu leito. O nível ocupado pelos doadores amplia-se ao mesmo tempo em que se povoa, em detrimento da cena religiosa, que se torna então uma ilustração, quase um hors-d`oeuvre. Na maioria dos casos ela se reduz aos santos padroeiros do pai e da mãe, o santo do lado dos homens e a santa do lado das mulheres. Convém observar a imponência assumida pela devoção dos santos padroeiros, que figuram como protetores da familia: ela é o sinal de um culto particular de caráter familiar, como o do anjo da guarda, embora este último tenha um caráter mais pessoal e mais peculiar à infância. Essa etapa do retrato dos doadores com sua família pode ser ilustrada com numerosos exemplos do século XVI: os vitrais da família Montmorency em Monfort-L`Amaury, Montmorency e Ecouen; ou os numerosos quadros pendurados como ex-votos nos pilarcs e nas paredes das igrejas alemãs, muitos dos quais ainda permanecem em seu lugar nas igrejas de Nuremberg e muitas outras pinturas, às vezes ingênuas e mal feitas, chegaram aos museus regionais da Alemanha e da Suíça alemã. Os retratos de familia de Holbein são fiéis a esse estilo. Tudo indica que os alemães se tenham apegado por mais tempo a essa forma de retrato religioso da familia, destinado às igrejas; ele seria uma forma mais barata do vitral dos doadores, mais antigo, e anunciaria os ex-votos mais anedóticos e pitorescos do século XVIII e início do XIX, que representam não mais a reunião familiar dos vivos e dos mortos, mas o acontecimento miraculoso que salvou um indivíduo ou um membro da familia de um naufrágio, um acidente ou uma doença. O retrato de familia representa na sociedade uma espécie de ex-voto.

                            

Mas logo começam a trazer a seu lado toda a familia, incluindo os vivos e os mortos: as mulheres e os filhos mortos também têm seu lugar na pintura. De um lado aparece o homem e os meninos, do outro a ou as rnulheres, cada uma com as filhas de seu leito. O nível ocupado pelos doadores amplia-se ao mesmo tempo em que se povoa, em detrimento da cena religiosa, que se torna então uma ilustração, quase um hors-d`oeuvre. Na maioria dos casos ela se reduz aos santos padroeiros do pai e da mãe, o santo do lado dos homens e a santa do lado das mulheres. Convém observar a imponência assumida pela devoção dos santos padroeiros, que figuram como protetores da familia: ela é o sinal de um culto particular de caráter familiar, como o do anjo da guarda, embora este último tenha um caráter mais pessoal e mais peculiar à infância. Essa etapa do retrato dos doadores com sua família pode ser ilustrada com numerosos exemplos do século XVI: os vitrais da família Montmorency em Monfort-L`Amaury, Montmorency e Ecouen; ou os numerosos quadros pendurados como ex-votos nos pilarcs e nas paredes das igrejas alemãs, muitos dos quais ainda permanecem em seu lugar nas igrejas de Nuremberg e muitas outras pinturas, às vezes ingênuas e mal feitas, chegaram aos museus regionais da Alemanha e da Suíça alemã. Os retratos de familia de Holbein são fiéis a esse estilo. Tudo indica que os alemães se tenham apegado por mais tempo a essa forma de retrato religioso da familia, destinado às igrejas; ele seria uma forma mais barata do vitral dos doadores, mais antigo, e anunciaria os ex-votos mais anedóticos e pitorescos do século XVIII e início do XIX, que representam não mais a reunião familiar como sobrevivência, em torno dos vivos e dos mortos, mas o acontecimento miraculoso que salvou um indivíduo ou um membro da familia de um naufrágio, um acidente ou uma doença. O retrato de familia é uma espécie de ex-voto. 

           Joan Baez é compositora e intérprete de música popular desde o início 1960 até os dias atuais. É a irmã mais velha de Mimi Farinia (1945-2001), com quem compartilhou a paixão pela composição e sua visibilidade sem remorso como ativista política, embora Farinia fizesse sem muito alarde e de observação pública como Baez durante o pintalho que ela estava viva. Sua carreira profissional começou em 1959 no “Newport Folk Festival”, onde, com 18 anos, foi a grande revelação. Ela lançou pela Vanguard Records no ano seguinte seu álbum de estreia, “Joan Baez”, uma coleção de baladas tradicionais que venderam moderadamente bem, chamando a atenção pela qualidade singular do repertório e por seu talento no violão acústico, aliado a sua bela voz de soprano. O álbum seguinte, “Joan Baez, Vol. 2”, foi lançado em 1961. Ganhou um disco de ouro, o mesmo acontecendo na sequência com “Joan Baez in Concert”, de 1962. Com apresentações regulares, Baez tornou-se um fenômeno artístico. Em 1963, já era considerada uma das cantoras mais populares dos Estados Unidos da América. Em 1964 lança o disco “Joan Baez/5”, incorporando neste trabalho uma seleção de músicas populares folk dos Estados Unidos e América Latina, com destaque para interpretações de composições dos músicos brasileiros Villa-Lobos e Zé do Norte. 
         Além de folk tradicional e canções de protesto, ajudou na promoção de Bob Dylan, impressionada com suas composições iniciais e várias de seu repertório. Acabaram tornando-se namorados, mas o relacionamento acabou em 1965. Entre seus sucessos podem ser citados “We shall overcome”, “With God on our side”, “All my trials”, entre outros. O “country blues” ou “rural blues” historicamente é o mais antigo gênero do blues, devido ao blues surgir das canções de trabalho nas fazendas de algodão e, o delta blues é o início de tudo. “Piedmont blues” surgiu depois, sendo também dos mais antigos tipos de blues, apesar de Memphis, que é do condado Tennessee ser cortado pelo rio Mississipi (raízes do delta). Contudo o delta blues se expandiu por todo o país. Este estilo foi encontrado principalmente na região entre as montanhas Apalaches ao oeste e planície costeira a leste, que se estende do sul ao norte de Atlanta para Washington DC, e é o mais diferente blues, se diferindo principalmente do delta, devido à característica da música apalache, originando vários estilos como “memphis blues’’ e “jug bands’’ (bandas de jarro). Piedmonte blues é caracterizado pelo andamento mais rápido em sua mistura com ragtime tocado ao banjo, sendo o pai da técnica finger-picking e, pela técnica das “bandas de cordas’’ (“string bands”) da música country.
          Musicalmente é influenciada pelo ragtime, bandas de cordas, música apalache e os “shows ambulantes de medicina” (“traveling medicine shows”), ou seja, é homogêneo de música branca e negra, com sua vasta maioria negra, com exceções como um dos únicos brancos do blues, o Frank Hutchison. Um dos principais nomes do “piedmont blues” é Blind Blake. A “música apalache” é a primeira forma da música country, sendo formado de notas blues, banjo oriundo da África e principalmente da música europeia, e era tocada principalmente por brancos. Ela era chamada de “hillbilly” (caipira), considerada degradante, e foi rotulada de “old-time music” como eufemismo nos anos de 1920 pela Okeh Records para descrever a forma de música de Fiddlin` John Carson, já que a Okeh havia criado a Race Records 3 anos antes com o sucesso do blues de Mamie Smith. O termo “country music” foi adotado nos anos de 1940 para evitar o termo “hillbilly” ainda usado neste período de efervescência. Substituiu também o termo “old-time music”. Além disso, a indústria fonográfica separou a música negra como “Race Records’’ para música afro-americana e “hillbilly” para “música de branco”, e não havia uma divisão muito clara das duas músicas, exceto a etnia. Negros e brancos dividiam o mesmo repertório como músicos livres, e foi separado na imigração dos negros para áreas urbanas na década de 1920 em simultâneo com o desenvolvimento da indústria fonográfica. Blues serviu como código por uma gravação designada à vendas para negros, além do racismo. 
        A Okeh foi a primeira gravadora de Race Records e à gravar música country. Um dos pioneiros a fazerem sucessos no gênero foi Louis Jordan and His Tympany Five, com músicas inicialmente jazz-blues, passa a fazer sons mais dançantes e simples atingindo um público maior, quebrando a separação dos públicos branco e negro. O exemplo mais concreto de reconhecimento deste gênero foi Caldonia em 1945. Outro exemplo jump dele é a “G.I Jive’’ de 1944. O jump blues foi a primeira manifestação reconhecida do estilo musical rhythm & blues, sendo Louis Jordan conhecido como o pai do rhythm & blues. Caledonia é considerado o nascimento do rock & roll. Por outro lado, com o impulso do jazz dos anos de 1930, o avanço do boogie woogie e pelo avanço tecnológico. Os músicos influenciados fortemente pelo blues clássico passam a desenvolver o bar blues, onde eram tocados em guetos de Chicago, Detroit, que, era caracterizado pela presença da gaita e pelo blues mais rápido, e, pouco depois seria popularizado por Muddy Waters, Howlin` Wolf, Elmore James, entre outros. Muddy Waters, foi principalmente “blues puro, lento e melancólico”, porém elétrico, conhecido como “blues elétrico’’, e, das poucas canções estilisticamente rhythm & blues no início de sua carreira são a “Last Time I Fool Around With You”, de 1949, “Rollin’ And Tumblin”, entre outras. Estas duas com influência forte do memphis blues. Por sua vez a “Rollin’ And Tumblin” é uma versão de Gus Cannon dos anos de 1920 (“Minglewood Blues”), um grupo de memphis blues de jug band, porem eletrificado, pesado e de roupagem diferente do “piedmont blues” das décadas de 1920 e 1930.                                                                     
         Historicamente seus rhythm & blues seguiriam uma linha do piedmont, delta blues, country, cajun, zydeco como “Sugar Sweet”, de 1955, All Aboard de 1956 e Got My Mojo Working de 1957. O termo por sua vez foi criado por Jerry Wexler em 1948 para tentar quebrar o termo “race music” popularizado pela Race Records, lembrando que, mesmo sendo uma música com certa influência de ambas as raças, era predominada por músicos negros. O R&B em sua abreviação ao qual se refere também, a tudo que envolvia e envolve até hoje a ampla variedade musical negra. Chamado de R&B Charts (paradas de R&B), e, em termos estilísticos o rhythm & blues começou a florescer em meados de 1930, e suas gravações na década de 1940. O estilo era caracterizado pelo 6/8 até os anos de 1950. Nas paradas R&B também incluíam blues genuínos, melódicos, jazz, swing, boogie woogie e gospel, gravados mormente por músicos negros. Assim como Dylan, Baez foi influenciada pela chamada Invasão Britânica e passou a usar, ainda que discretamente, acompanhamento elétrico, além do seu violão a partir de “Farewell Angelina”, de 1965, pouco tempo depois de Dylan começar a experimentar o folk rock. No final dos anos 60, Baez flertou com a poesia, lançando o livro: “A Journey Through Our Time” e com a música country “One day at time”, de 1968. No ano seguinte, lançaria um álbum duplo inteiramente dedicado às canções de Bob Dylan, “Any day now”. Também tocou em “Woodstock – Three days”, numa época em que estava inteiramente envolvida na luta pacifista contra a Guerra do Vietnã quando aproximadamente três a quatro milhões de vietnamitas dos dois lados morreram, além de outros dois milhões de cambojanos e laocianos, arrastados para a guerra com a propagação do conflito, e de aproximadamente 58 mil soldados dos Estados Unidos. 
        Em 1968 ela se casa com David Harris, um proeminente opositor da Guerra do Vietnã que seria preso no mesmo ano. Harris, fã de música country, fez com que Baez fosse mais influenciada pelo country rock, com “David's Album”, de 1970 e culminando com o duplo “Blessed are”, de 1971, seu último disco pelo selo Vanguard, mas sua versão “The Night They Drove Old Dixie Down” The Band fez extraordinário sucesso, entrando para o “Top Tem” norte-americano. Joan Baez foi impedida de se apresentar numa época em que o Brasil vivia uma ditadura. No começo da década de 1950, conselheiros militares americanos foram enviados para a então Indochina Francesa. O envolvimento político dos Estados Unidos nos conflitos da região aumentou nos anos 1960, com o número de tropas estacionadas no Vietnã triplicando de tamanho em 1961 e de novo em 1962. Após o Incidente do Golfo de Tonkin, em 1964, quando um contratorpedeiro americano foi supostamente atacado por embarcações norte-vietnamitas, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma resolução que deu autorização ao presidente americano para aumentar a presença militar do país no Vietnã e escalar o conflito. Unidades de combate americanas começaram a chegar em peso no país em 1965. A guerra rapidamente se expandiu, atingindo o Laos e o Camboja, que passaram a ser intensamente bombardeados pela força aérea dos Estados Unidos a partir de 1968, o mesmo ano que os comunistas lançaram a grande Ofensiva do Tet. Esta ofensiva falhou no seu objetivo de derrubar o governo sul-vietnamita e iniciar uma revolução socialista por lá, mas é considerado o ponto de virada da guerra, já que a população americana passou a questionar se uma vitória militar seria possível, com o inimigo capaz de lançar grandes ataques mesmo após anos de derramamento de sangue. Havia uma grande disparidade entre o que a imprensa americana e o governo falavam, com os dados apresentados por ambos geralmente contrastando. Nos Estados Unidos da américa e Ocidente, a partir do final dos anos 1960.

Começou um forte sentimento de oposição a guerra como parte de um grande movimento de contracultura. A guerra mudou a dinâmica das relações entre os blocos Leste e Oeste, também alterando as divisões norte-sul do mundo. A partir de 1969, os Estados Unidos começaram o processo de “Vietnamização”, que visava melhorar a capacidade militar do Vietnã do Sul de lutar a guerra por si só, sem apoio externo. Os americanos esperavam assim poder reduzir sua participação no conflito sem ter que comprometer o objetivo estratégico máximo de impedir a expansão do comunismo na região, transferindo a responsabilidade de lutar para os próprios sul-vietnamitas. Assim, no começo dos anos 1970, os Estados Unidos começaram a retirar suas tropas do Vietnã. O que se seguiu, em janeiro de 1973, foi a assinatura do Acordos de Paz de Paris, porém isso não significou o fim das hostilidades. Envolvimento militar norte-americano direto na Guerra do Vietnã foi encerrado formalmente em 15 de agosto de 1973. Não demorou muito tempo e na primavera de 1975, os norte-vietnamitas iniciaram uma grande ofensiva para anexar o Sul de uma vez por todas. Em abril de 1975, Saigon foi conquistada pelos comunistas, marcando o fim da guerra, com o Norte e o Sul do Vietnã sendo formalmente unificados no ano seguinte. O custo em vidas da guerra foi extremamente alto. O total de vietnamitas mortos, civis ou militares, varia de 966. 000 a 3,8 milhões. Entre 240. 000 e 300. 000 cambojanos, e 20 000 a 62 000 laocianos perderam a vida também. Já os americanos estimam suas perdas em 58 000 soldados mortos, mais de 300 mil feridos e 1 626 ainda desaparecidos em 1975. Para os Estados Unidos, a Guerra do Vietnã resultou numa das maiores confrontações armadas em que o país já se viu envolvido, e a derrota provocou a “Síndrome do Vietnã” em seus cidadãos e sua sociedade, causando profundos reflexos na sua cultura, na indústria cinematográfica e grande mudança na sua política exterior, até a eleição de Ronald Reagan, em 1980.  Joan Baez canta duas canções que fazem parte da trilha sonora do filme: “Silent Running”, do diretor Douglas Trumbull, também responsável pelos efeitos especiais de “2001: uma odisseia no espaço”, de Stanley Kubrick. O filme é de 1971 e é uma ficção científica ecológica com músicas: “Rejoice on the Sun” e “Silent Running”.

        Nos anos da década de1990, mesmo diante de mudanças sociais e estéticas constantes de gravadora, Baez continuou lançando seus álbuns. O CD “Ring them bells”, de 1996, foi considerado o melhor trabalho de folk contemporâneo do ano, por revistas especializadas no gênero. O seu último foi “Dark Chords on a Big Guitar”, de 2003, após alguns anos sem gravar. Em 2008, Joan Baez comemorou os 50 anos de sua carreira musical com turnês pelos Estados Unidos e Europa. Também lançou o CD “Day After Tomorrow”, de 2008, produzido pelo cantor e compositor Steve Earle. O CD marcou sua volta ao “Top 200” da Billboard, alcançando na semana de lançamento do álbum a posição de número 128, após 29 anos, desde “Honest Lullaby”. Joan vive em Woodside, Califórnia. Quando as leis segregacionistas foram finalmente banidas, em 1964, durante a presidência de Lyndon B. Johnson, Joan Baez já estava na linha de frente da luta contra o envolvimento norte-americano no Vietnã, e de apoio ao movimento do “draft resistance”, a resistência à convocação para o serviço militar obrigatório. Recusou-se a pagar, no imposto de renda, a percentagem referente aos gastos militares do governo federal. 
           Foi presa algumas vezes pela participação nessas ações – nunca por muito tempo, é verdade. Era presa, passava algumas horas ou dias na cadeia, saía e, como diz David Crosby, dava uma passadinha em casa, tomava um banho, comia alguma coisa, e voltava para o local dos protestos. - “É um tipo de coragem que você não vê todo dia”, constata Crosby, ele mesmo um batalhador – e vencedor – de uma dura luta contra as drogas. Joan visitou o inimigo Vietnã do Norte em 1972, e estava em Hanói quando a capital sofreu um dos maiores bombardeios de toda a História; voltou de lá com gravações de sons, vozes de pessoas, ruídos de bombardeio, que depois colocaria em disco, “Where Are You Now, My Son?” – um lado inteiro de um LP ocupado por uma colagem de barulhos. É um tipo de coragem estética que não se vê todo dia.
          Embora a maior parte das pessoas só consiga associar o nome de Joan Baez às canções folclóricas e de protesto do início dos anos 1960, sua carreira teve diversas fases. Cantou folk songs, depois canções inspiradas na tradição folk criadas por seus contemporâneos – a geração que explodiu nos anos 60, Bob Dylan, Tim Hardin, Phil Ochs, Richard Fariña, Eric Andersen –, depois passou pelo country, fez pop da melhor qualidade, caminhou pelos standards da boa canção norte-americana, compôs ela própria dezenas de canções, recriou pérolas do rock e do pop do repertório dos Beatles, Rolling Stones, Simon & Garfunkel, Dire Straits, Peter Gabriel, Elvis Costello, Tom Waits, Jackson Browne, e, mais recentemente, apresentou músicas dos compositores mais jovens que seguiram seus passos, entre eles: Tracy Chapman, Dar Williams, Eliza Gilkynson, Patty Griffin, Steve Earle, Natalie Merchant. Cantou em inglês, em francês, em alemão, em espanhol, em português, em ídiche, em russo. Visitou e apresentou-se em todos os continentes, inclusive no âmbito de países e nações que praticamente se reinventaram como a União Soviética, a Tchecoslováquia e o Vietnã do Norte; passou por Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Espanha, Portugal, França, Itália, Polônia, Nicarágua, Chile, Argentina, Brasil, Camboja, Austrália, Canadá, Islândia, Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Bósnia.   
 
              A história oficial diz que a garotinha Joan Chandos Baez tinha 15 anos de idade quando, pela primeira vez na vida, ouviu uma palestra sobre não-violência e direitos civis proferida por um então jovem Martin Luther King, Jr., no ginásio em que estudava, em Palo Alto, na região da Baía de San Francisco, Califórnia. Foi também naquele mesmo ano de 1956 que ela comprou seu primeiro violão. O importante é compreender que, em 1958, quando Joan Baez tinha 17 anos, em Palo Alto, o que ela fazia era cantar canções tradicionais, canções folk, acompanhada ao violão, influenciada por Harry Belafonte, depois por Odetta, depois por Pete Seeger – na ordem que ela mesma enumera em “How Sweet the Sound”. Joan é o resultado da união de um mexicano com uma escocesa. O pai, Albert Vinicio Baez, era um cientista, formado em Física; a mãe, Joan Bridget Baez, era filha de um religioso – um ministro da Igreja Episcopal, liberal, intelectualizado. Albert e Joan tiveram três filhas: Pauline Thalia, nascida em 1939, em Orange, Nova Jersey; Joan Chandos, nascida a 9 de janeiro de 1941, em Staten Island, Nova York; e Mimi Margharita, nascida em 1945, em Stanford, na Califórnia. Os locais foram mencionados porque indicam um fato importante, marcante, na vida da família e na infância de Joan: - “Não ficávamos em nenhum lugar por mais de quatro anos”. O cientista Albert Baez tinha sempre boas propostas de emprego, e então a família estava constantemente se mudando. Em 1951, quando Joan estava com dez anos, a família se mudou para Bagdá, a capital do Iraque – foi o primeiro contato direto da garotinha com a miséria extrema. Após um ano, felizmente Albert trocou de emprego e a família se mudou de novo para a Califórnia. Das 20 maiores cidades dos Estados Unidos, quatro estão localizadas na Califórnia: Los Angeles, São José, San Diego e São Francisco. Sua capital, Sacramento, também é reconhecidamente uma grande cidade. 
        A região Sul da Califórnia é densamente povoada, sendo que as duas maiores cidades do estado (Los Angeles e San Diego) estão localizadas ali. Já na região norte estão localizadas as cidades de São Francisco e São José, além da capital do estado, Sacramento. Após o contato com os europeus, os espanhóis foram o primeiro povo a explorar e colonizar a área onde atualmente fica o estado de Califórnia, e após a independência mexicana, tornaram-se parte do México. Os norte-americanos anexaram a Califórnia na década de 1850, na guerra com o México. O cognome do estado é Golden State, que significa “estado dourado”. Sua origem ainda é tema de discussão. O cognome pode ter vindo da corrida do ouro de 1849, quando minas de ouro atraíram dezenas de milhares de pessoas de todo o país para a região. Outra possibilidade no âmbito da história de origem nativa é uma referência à relva nativa do estado, que adquire uma cor dourada na estação seca. Coloquialmente, o cognome também é uma referência ao seu clima, quente e ensolarado durante a maior parte do ano. A palavra Califórnia tem origem portuguesa e se refere aos fornos de cal da região de Sesimbra em Portugal, local de procedência do navegador português João Rodrigues Cabrilho que foi posteriormente nomeado Juan Rodríguez Cabrillo pelos espanhóis, que navegou a serviço de Espanha em 1542, e pensava ser a Califórnia uma ilha. Cabrilho procurava a Norte, uma passagem do Pacífico para o Atlântico e explorou por lá até mais ou menos onde viria a ser mais tarde São Francisco. O nome do estado vem da novela Las Sergas de Esplandián, do século XVI, que foi escrita pelo espanhol Garci Rodríguez de Montalvo. Nesta novela, Montalvo descreveu um paraíso chamado de California, um paraíso que estaria localizado em uma ilha na costa oeste da América do Norte.

Bibliografia geral consultada.
ADORNO, Theodor, “Ideias para a Sociologia da Música”. In: Teoria e Prática. São Paulo: Teoria e Prática Editora, nº 3, abril de 1968; Idem, “Tiempo Libre”. In: Consignas. Buenos Aires: Ediciones Amorrortu, 1969; ROSZAK, Theodore, A Contracultura. Petropolis (RJ): Editoras Vozes, 1972;  CLAGHORN, Charles Eugene, Biographical Dictionary of American Music. EUA: Parker Publishing Company, 1973; HAUPT, Georges, L`Historien et le Mouvement Social. Paris: Editeur Maspéro, 1980; BAEZ, Joan, And a Voice to Sing With: A Memoir. Londres: Editor Century Hutchinson, 1988;  MENEZES BASTOS, Rafael José de, “Esboço de uma Teoria da Música: Para Além de uma Antropologia sem Música e de uma Musicologia sem Homem”. Disponível em: Anuário Antropológico 95, 1994; PETERSON, Richard, Creating Country Music: Fabricating Authenticity. Chicago: University of Chicago Press, 1999; PENDLE, Karin (ed.), Women and Music: A History. Bloomington: Indiana University Press, 2001; DONALDSON, Rachel Clare, Music for the People: The Folk Music Revival and American Identity, 1930-1970. Thesis PhD in History. Vanderbilt University, 2011; ROLIM, Tácito Thadeu Leite, Brasil e Estados Unidos no Contexto da Guerra Fria e seus Subprodutos: Era Atômica e dos Mísseis, Corrida Armamentista e Espacial, 1945-1960. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Departamento de História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012; CAMPOS FILHO, Romualdo Pessoa, Araguaia: Depois da Guerrilha, uma Outra Guerra: A Luta pela Terra no Sul do pará, Impregnada pela Ideologia de Segurança Nacional (1975-2000). Tese de doutorado. Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Estudos socioambientais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2013; BRIGATTI, Gustavo, “A Música Virou Entretenimento, diz Joan Baez”. In: https://gauchazh.clicrbs.com.br/2014/01; Artigo: “Após Quatro Décadas, Geraldo Vandré Retorna aos Palcos em Show de Joan Baez”. In: http://caras.uol.com.br/musica/24.03.2014MOURA BERGAMO, Thelma Maria de, Michel Foucault e os Mestres do Dizer Verdadeiro. Tese Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015; OLIVEIRA, Augusta da Silveira de, Fair and Tender Maid: Mulheres, Folk, Revival e os Anos Iniciais de Joan Baez. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em História. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015; entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza:  Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

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