sábado, 26 de dezembro de 2015

Jiang Qing – Mulher & Revolução na China Comunista

                                   Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

                        Jiang Qing foi a única mulher entre os principais líderes da Revolução Chinesa”. Andrea Longobardi
 
      
Historicamente entre a derrota chinesa para os ingleses na 1ª Guerra do Ópio, em 1842, e o advento da Revolução Chinesa, em 1949, a China esteve envolvida em seguidos conflitos internos e externos de grandes proporções, que redundaram em elevadas perdas humanas e materiais e significativa instabilidade política no país. Segundo a tradição cultural, este intervalo é conhecido como o “Século da Humilhação”, período que representou o eclipse da milenar civilização chinesa frente ao poderio econômico e militar dos países capitalistas industrializados, os quais inclusive dominaram, em diferentes conjunturas políticas, regiões significativas do território chinês. A vitória dos comunistas e a consolidação do poder com a constituição da República Popular da China (RPC) em 1949, foi o marco de uma nova era para as mulheres chinesas. A despeito de não ter sido a primeira vez que foram chamadas a estar à frente do processo revolucionário, foi a primeira vez que, de fato, tiveram um papel ativo e visível globalmente na construção da RPC moderna. 
A luta das mulheres chinesas não começou apenas com o Partido Comunista Chinês (PCC). Muitas foram, ao longo da história, as que fizeram frente ao modelo hegemônico socialmente sobre o que deve ser o papel e responsabilidade social da mulher. Não obstante, encontraram muita resistência e foram extremamente reprimidas. Com a fundação da RPC que o movimento de emancipação da mulher ganhou força e a sua imagem começou a mudar historicamente. Desde a década de 1930, a condição de rival mais importante da China coube ao Japão, país que alcançou rápido desenvolvimento econômico e social dentro da Ásia, tornando-se a mais importante potência econômica e militar deste continente antes do final do século XIX. As relações entre as duas nações tem sido relativamente cordiais desde 12 de setembro de 1979 quando houve o estabelecimento das relações diplomáticas entre Pequim e Tóquio. Após mais de um século de embates internos e invasões estrangeiras, o triunfo dos comunistas em outubro de 1949, por ocasião da Revolução Chinesa, encerrou o governo republicano burguês no país conduzido pelo Partido Nacionalista Chinês que se refugiou na ilha de Taiwan, dando continuidade à República da China. 
Em contrapartida, no continente, sob o comando do Partido Comunista Chinês (PCC), tinha início a RPC. Acenava-se não apenas mediante a possibilidade de transformações sociais profundas no país na direção de uma sociedade igualitária, mas, também, com o compromisso em enfrentar os desafios relacionados ao desenvolvimento da sua base material, nitidamente atrasada em relação às nações industrializadas, e a preservação da integridade territorial do país após quase um século de invasões estrangeiras. O chamado Período Maoísta (1949-1978), demarca as três primeiras décadas da República Popular da China (RPC), em que Mao Tsé-tung, será a principal liderança política até a sua morte, em setembro de 1946. Uma vez que até a ascensão de Deng Xiaoping, em dezembro de 1978, o PCC, sob o comando de Hua Guofeng, manteve as mesmas diretrizes, optou-se por este intervalo como parte do Período Maoísta. O maoísmo também chamado de pensamento de Mao Tsé-Tung e de marxismo-leninismo-maoísmo, é uma corrente do comunismo baseada nos ensinamentos de Mao Tsé-Tung (1893-1976). Na República Popular da China, o Pensamento de Mao Tsé- Tung é a doutrina oficial do Partido Comunista da China. Através das reformas iniciadas por Deng Xiaoping em 1978, a definição e o papel da ideologia de Mao na China mudou de modo radical e tem hoje um papel histórico que não é meramente decorativo.

                                  
Uma das características políticas do maoísmo que o distancia do leninismo é o voluntarismo. Portanto, as condições sociais objetivas da sociedade não são muito importantes para a revolução social se as condições subjetivas, isto é, a vontade revolucionária do povo está presente. Isso leva os maoístas “a defender a insurreição armada como método de tomar o poder em todas as sociedades, e não só nas agrárias”. O maoísmo segue sendo um movimento de grande importância em alguns países, como na Índia, Filipinas, e no Nepal, aonde partidos maoístas lideram guerrilhas e atuam nos governos. Em alguns países ocidentais, o maoísmo teve forte influência durante o século XX. O “Sendero Luminoso” liderou uma guerrilha por muitas décadas no Peru. A teoria maoísta representou um instrumental na formação do grupo “Panteras Negras” nos Estados Unidos. Assim como no movimento comunista na França e no norte da África, com teóricos como Charles Bettelheim, Jacques Ranciere, e Alain Badiou. Depois de Friedrich Engels, foi sem dúvida Mao Tsé-Tung que trouxe a contribuição mais importante para a teoria da guerra revolucionária moderna.
Ele procede com muita liberdade, recusando-se a se deixar aprisionar pelos esquemas tirados da experiência da guerra civil na Rússia no início da Revolução de 1917. Os acontecimentos políticos ocorridos na luta contra a invasão japonesa, bem como a fraqueza original do exército chinês, levaram Mao Tsé-Tung a desenvolver a “teoria da guerra de libertação” em duas direções: a guerra revolucionária na China, e a guerra anti-japonesa dos partizans. Na análise das condições desta dupla guerra ele utiliza a teoria das contradições tal como a desenvolvera em diversas ocasiões. Seu estudo se orienta em três sentidos: “as leis gerais da guerra, as leis gerais da guerra revolucionária, e as leis da guerra revolucionária na China”. Convencido de que a guerra é um fenômeno social ligado à divisão da sociedade em classes antagonistas, e persuadido de que, com o desenvolvimento da humanidade, um dia a guerra desaparecerá, Mao Tsé-Tung designa como fim das guerras a supressão das guerras da seguinte forma. – “Para suprimir a guerra só existe um meio: lutar pela guerra contra a guerra, pela guerra revolucionária contra a guerra contrarrevolucionária de classe. Todas as guerras da história dividem-se em duas categorias: as guerras justas e as guerras injustas. Todas as guerras contrarrevolucionárias são injustas, todas as guerras revolucionárias são justas. Somos nós mesmos que, com as nossas próprias mãos, pomos fim á época de guerras na história da humanidade, e a guerra que fazemos é, sem dúvida nenhuma, parte da última guerra” (cf. Chambre, 1963: 226-227).   
A diferença que tradicionalmente se tem considerado definitiva entre o maoísmo e o resto do marxismo, nomeadamente o marxismo-leninismo, está por volta da defesa voluntarista da luta armada. Porém, a defesa da violência como fórmula revolucionária está presente desde Marx e Engels, tal como Lenin mostrou em obras como “O Estado e a Revolução” ou “A revolução proletária e o renegado Kautsky”. As particularidades essenciais do maoísmo, neste contexto, são as seguintes. A ideia de que a tomada violenta do poder pode ser realizada não por uma insurreição armada de base operária que tome o poder de Estado e depois o consolide mediante a guerra civil, como sucedeu na Rússia. Mas sim por uma inversão da ordem das coisas: primeiro a guerra civil, de base camponesa e prolongada, que acabe por cercar e conquistar as cidades e finalmente tomar o poder de Estado. Mao defendeu a ideia de que o campesinato é uma força revolucionária que poderia ser mobilizada pelo Partido Comunista. Considerava a base da revolução os  sobreviventes nas relações feudais, enquanto o proletariado devia ser a força diretriz.                      
Jiang Qing, também reconhecida no Ocidente como Chiang Ching, nascida em Zhucheng, na província chinesa de Shandong, foi uma atriz com o nome Lan Ping. Em 1933, ingressou no Partido Comunista da China, trabalhando como atriz a partir daquele ano até 1937, na cidade de Shanghai. Dois anos depois, em 1939, é apresentada a Mao Tsé-Tung, a quem viria a se casar. Em 1949 se torna Ministra da Cultura. Em 1966 foi eleita como diretora da Revolução Cultural. Em 1969, entra no Birô Político. Neste ponto, é associada como responsável por defender o pragmatismo comunista maoísta.  Jiang Qing tinha estreitas relações com as Guardas Vermelhas e seus combatentes. Inúmeras vezes se reuniam em locais públicos e semelhantes, os criticava, incentivava-os e lhes dava sugestões, ideias, enfim, buscando sempre se unir politicamente aos Guardas. Durante a Revolução Cultural poderia ter ido além se a linha proletária não tivesse sido golpeada e o Estado e partido comunista chineses usurpados pelos revisionistas com a morte do Presidente Mao. Demonizada pelos revisionistas, preconceituosamente como “bruxa”, em artigos oficiais chineses, foi sentenciada a pena capital, depois transformada em prisão perpétua. Morreu em 1991 “com chuva de fogos de artifício pelos revisionistas, tendo até comemorado sua morte nos órgãos oficiais”. 
  Jiang Qing também reconhecida como Madame Mao (1914-1991), foi uma atriz chinesa que desempenhou grande papel político durante a Revolução Cultural Chinesa. Nos palcos, adotava o nome de Lan Ping. Foi a quarta esposa de Mao Tsé-Tung, casando-se com ele em Yan`an, em novembro de 1938, tendo sido a primeira Primeira-dama da China pós-revolução. É reconhecida outrossim por formar uma aliança política radical legítima como o Bando dos Quatro. No entanto, foi presa um mês depois da morte de Mao (1976), por suas tendências radicais. Foi a pessoa mais poderosa nos últimos anos do regime maoísta. Foi secretária pessoal de Mao nos anos de 1940 e chefe da Seção de Filmagens do Departamento de Propaganda do Partido Comunista, nos anos 1950. Foi uma importante emissária de Mao nos primeiros estágios da Revolução Cultural.

Em 1966, foi indicada como diretora do Grupo Central de Revolucionários. Colaborou com Lin Biao para o avanço da ideologia de Maoista, bem como o culto à personalidade de Mao. Sua influência foi grande durante o ápice da revolução, em assuntos de Estado, em especial os que tangiam arte e cultura, tendo idealizado os pôsteres característicos da revolução. Em 1969, ganhou um assento no Politburo chinês. Antes da morte de Mao, o Bando dos Quatro controlava muitas instituições políticas chinesas, incluindo mídia e propaganda. No entanto, Jiang Qing, derivando a maior parte de sua legitimidade política de Mao, muitas vezes se viu em desacordo com outros líderes. A morte de Mao, em 1976, tirou boa parte de seu poder político. Jiang foi presa em outubro de 1976, por Hua Guofeng e seus aliados, sendo condenada por outros membros do partido. Desde então, Jiang Qing foi oficialmente marcada negativamente como tendo sido parte do “Grupo Contrarrevolucionário de Lin Biao e Jiang Qing” e devastação causada pela Revolução Cultural foi atribuído. Embora ela tenha sido inicialmente condenada à morte, sua sentença foi comutada para prisão perpétua em 1983.

 A biografia de Madame Mao ficaria estereotipada principalmente pela fúria vingativa e assassina com que tratou seus inimigos durante a tumultuada Revolução Cultural (1965-1976), o que lhe valeu a alcunha de “Demônio dos Ossos Brancos”. A filha indesejada de uma concubina que se recusou a ter os pés amarrados, como mandava a autoritária tradição milenar chinesa, a atriz voluntariosa e rebelde que se tornaria companheira do líder revolucionário Mao Tsé-tung no final dos anos 1930, foi praticamente varrida na poeira da história, como aquelas bonecas que ela autografava, esquecidas para sempre no armário de brinquedos de alguma criança. O resgate dessa figura trágica e complexa é feita no livro: “A construção de Madame Mao” (2002), de Anchee Min, uma talentosa escritora chinesa radicada nos Estados Unidos desde 1984.
A narrativa cativante de Anchee revela uma mulher ambiciosa, valorosa, mas também carente, que tentava se libertar da opressiva herança familiar buscando segurança em seus companheiros – ela teve três antes de Mao. Com este último, que encontrou nas montanhas de Yan’an, quando ele liderava a guerrilha comunista contra o governo de Chiang Kai-chek, Jiang Qing viveu uma intensa paixão. Madame Mao era odiada pelo entourage maoísta e, apesar de reivindicar, jamais teve nenhum cargo político. Apenas quando o Grande Timoneiro se viu ameaçado pelos seus inimigos dentro do Partido Comunista, no início dos anos 60, Jiang Qing se transformou numa das principais inspiradoras da Revolução Cultural, um movimento anárquico, mobilizador de milhões de estudantes que Mao manipulou contra a liderança comunista. A ex-atriz finalmente encontrava o papel e o palco de sua vida, que terminariam com a morte do imperador vermelho, em 1976. A construção de Madame Mao mostra, a personagem demasiadamente humana, muito além dos estereótipos machistas costumeiros.
A linha de massas deu ao maoísmo comparativamente uma natureza sempre distinta do bolchevismo e das experiências socialistas típicas dos países europeus. De um modo geral, as execuções de inimigos do povo eram precedidas de julgamentos com grande participação popular. Com um intuito pedagógico muito diferente do dos métodos aplicados pela Tcheka, caracterizados, após a guerra, pelo desaparecimento silencioso dos opositores. Os militares do exército branco que se rendiam eram em regra integrados no Exército Vermelho, e muitos oficiais e patrões foram também aceitos, desde que concordassem honestamente com a direção do partido. De um modo geral, pode-se dizer que o comunismo maoísta nunca teve semelhanças com a experiência socialista da União Soviética ou dos países do Leste europeu. O melhor exemplo dessa diferença seja o destino dado ao monarca do regime deposto na Rússia e na China. Na primeira ele foi fuzilado, bem como toda a sua família e criadagem, sem julgamento. O imperador foi ressocializado, na falta de melhor expressão e mais tarde “empregado como cicerone do palácio que outrora fora dele e que depois passou a ser aberto ao povo”. 
Segundo Mao Tsé-Tung, as classes sociais permanecem depois da tomada de poder pelos revolucionários, de modo que também deve continuar a luta de classes durante o governo socialista, já que a burguesia mantém, após a revolução, a capacidade de restaurar o capitalismo. Evitar que isso acontecesse na China foi o principal motivo para organizar a Grande Revolução Cultural Proletária. Além dos pontos essenciais que diferenciariam o maoísmo do marxismo-leninismo, o pensamento de Mao contém uma doutrina militar integral que liga explicitamente a ideologia política com a estratégia militar. Para o maoísmo, “o poder nasce do fuzil”, e por essa via era possível que os camponeses participassem numa guerra popular configurada como guerra de guerrilhas marxistas em três fases: Primeira: mobilização de camponeses e estabelecimento da organização. Segunda: estabelecimento das bases rurais e incremento de coordenação entre guerrilhas. E terceira, refere-se à transição em face de uma guerra convencional.
A partir dos finais do século XIX, sob a influência das várias igrejas cristãs, e, especialmente dos missionários protestantes, os intelectuais chineses começaram a despertar para a necessidade de repensar o estatuto da mulher na sociedade chinesa. Com a chegada da república, a luta pela emancipação da mulher é assumida pelo poder político. O movimento feminista inicial, por transplante da influência ocidental, que desde cedo começou também a evidenciar características chinesas. Assim, a libertação das mulheres, desenvolveu-se, por um lado, seguindo os padrões ocidentais, que valorizavam, sobretudo, a educação e a aquisição de direitos cívicos e econômicos para as mulheres. Mas, por outro lado deu origem as tentativas de libertação de contornos mais revolucionários e nacionalistas. Para muitas feministas chinesas, a emancipação da mulher só faria sentido se fosse integrada no movimento político mais vasto de libertação do país, leia-se das influências, querem dinásticas, querem estrangeiras. Esta segunda vertente do movimento social feminista acabou por se integrar necessariamente no partido comunista chinês.
As mulheres, desde 1949, na nova China revolucionária, passaram, a ocupar metade do Céu, para tal deviam corresponder ao que a nova ideologia política representava para elas, em princípio deviam libertar-se, sobretudo economicamente. Passariam a serem as forças produtivas modelares da China vermelha. A mulher chinesa do mundo é agora figura de algum peso, sobretudo, nas cidades. Masculiniza-se, endurece e tem tendência a isolar-se, numa reação, por ventura natural, a um passado de sofrimento e dor. No campo, porém, a sua situação não melhora grandemente, sobrecarregada e dividida através da divisão social do trabalho entre as tarefas de casa e trabalho, continua a encontrar no suicídio uma resposta confortante para os males que a afligem. Esta divisão dá origem às regras jurídicas que determinam as relações das funções divididas, mas cuja violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. Do ponto de vista do trabalho a gestão de carreira envolve duas partes principais: a da organização e a concepção do indivíduo. Diferentemente de décadas passadas, quando as organizações definiam as carreiras de seus empregados, na modernidade o papel do indivíduo na gestão da carreira se torna relevante e assume um papel progressivamente mais atípico. 
Em relação ao período anterior a Revolução Chinesa, o avanço econômico chinês durante o Período Maoísta é inequívoco. Neste dado período, a China cresceu a uma taxa anual média de 4,4% a.a., muito superior ao verificado entre 1820 e 1952, quando esta taxa foi de 0,22% a.a. Entretanto, apesar do PIB chinês triplicar entre 1952 e 1978, em termos internacionais, sua participação na economia mundial, manteve-se em torno de 5%. Por outro lado, se entre 1700 e 1820, o PIB per capita chinês permaneceu essencialmente o mesmo e, entre 1820 e 1952, declinou a uma taxa anual média de 0,1% a.a., no período posterior, entre 1952 e 1978 esta tendência foi invertida, com a taxa anual média de crescimento sendo de 2,33 a.a., contudo, abaixo da média Por seu turno, a estatização dos meios de produção e a planificação da economia alcançaram importantes avanços na industrialização pesada e na infraestrutura com a duplicação das ferrovias e da área irrigada. Entre 1952 e 1978, o setor secundário aumentou sua participação no PIB de 10 % para 36,8%, enquanto o setor primário caiu de 59,7% para 34,4%, comparativamente no mesmo período. Por outro lado, a população rural manteve-se estável, próxima a 80%, o que sinaliza a importância da industrialização realizada nas comunas. Assim, em 1978, a China caracterizava-se por ser um país significativamente industrializado, embora geograficamente não urbanizado.
Enfim, para sermos breves, no que diz respeito à economia e as contas externas, houve um pequeno aumento do comércio exterior chinês, sobretudo, até a década de 1960, momento a partir do qual o país se encontrou praticamente isolado internacionalmente, fruto não apenas da estratégia de autossuficiência, mas, fundamentalmente, devido aos embargos comerciais imperialistas ocidentais impostos ao país até a década de 1970.  Demograficamente, contudo, a China cresceu rapidamente no Período Maoísta. Enquanto entre 1820 e 1948, a população chinesa crescera 49%, apenas nos 26 anos decorridos entre 1952 e 1978, o país passou de 569 milhões de habitantes para 956 milhões, um aumento de 68%. Este extraordinário aumento populacional levaria as autoridades chinesas, já em 1972, a adotarem um conjunto de medidas com o objetivo de controlar a natalidade, sendo sancionada em 1978 a chamada “política de filho único”. O acentuado aumento populacional relaciona-se ao fim dos conflitos armados e às melhorias verificadas na saúde básica, com sensível diminuição da taxa de mortalidade infantil, de 37 para 18,2 mortes a cada 100 mil recém-nascidos e no aumento da expectativa de vida de 38 para 64 anos. Paralelamente, houve um aumento expressivo da escolaridade da população chinesa medido pela média dos anos dedicados ao ensino entre pessoas com mais de 15 anos, aumentando consideravelmente de 1,7, em 1952, para 5,33, em 1978.
Outra diferença capital comparativamente com a época de Mao Tsé-Tung nos anos seguintes à sua morte foi o final do poder unipessoal. Deng apoiou um sistema de liderança coletivo e uma sucessão organizada após sua morte em 1997. Jiang Zemin foi presidente durante dois mandatos de cinco anos e seu sucessor, Hu Jintao, cumpriu com a nova tradição. Mas Xi voltou aos velhos tempos revolucionários para se tornar o líder mais poderoso desde Mao. Como Mao, Xi se “beneficiou” do culto à personalidade desenhado por veículos estatais. Guardadas as proporções o fundador do país teve o pensamento e a radicalização política de Mao Tsé-Tung. O atual líder consagrou na Constituição o pensamento Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma Nova Era. Mao teve seu Livro Vermelho. Xi tem sua versão do século XXI, um aplicativo ideológico pró-governo chamado “Study Xi, Strong Country”, em seus ensinamentos. Xi Jinping supervisou a chamada “linha dura” contra a corrupção que castigou mais de 1,5 milhão de responsáveis do partido, uma medida popular entre os cidadãos comuns, mas observada pelos analistas como uma possibilidade de expurgar rivais. A “abertura” da economia não foi acompanhada de reformas políticas. Os opositores temem que as autoridades utilizem o desenvolvimento tecnológico da China, como o reconhecimento facial, para vigiar mais seus cidadãos. Na região de Xinjiang, no Noroeste, a maioria da etnia uigur sofreu na própria carne o alto custo de estar enfrentado com o governo. Os defensores dos direitos humanos suspeitam que o governo chinês tenha internado em acampamentos de reeducação a um (01) milhão de pessoas, principalmente desta minoria e da kazaja, ambas muçulmanas. 
Bibliografia geral consultada.

BÈRGERE, Marie-Claire, A Economia da China Popular. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980; BETTELHEIM, Charles, A China Depois de Mao. Lisboa: Edições 70, 1981; MEYER, Charles, Histoire de la Femme Chinoise. 4000 ans de Pouvoir. Paris: Editeur Jean Claude Lattès, 1986; DENG Xiaoping, Selected works (Vol. I: 1938-1965). Beijing: People’s Press Editors, 1993; GRANET, Marcel, O Pensamento Chinês. Rio de Janeiro: Editor Contraponto, 1997; MIN, Anchee, Construção de Madame Mao. São Paulo: Editora Rocco, 2002; SUKUP, Viktor, A China frente à Globalização: Desafios e Oportunidade. In: Rev. Bras. Polit. Int. 45 (2): 82-113; 2002; NAVES, Márcio, Mao – O Processo da Revolução. São Paulo: Editora Brasiliense, 2005; FAIRBABK, John King & GOLDMAN, Merle, China: Uma Nova História. Porto Alegre: LP&M Editores, 2006; QING, Jiang, “From Mind Confucianism to Political Confucianism” in Fan, Ruiping (ed.) The Renaissance of Confucianism in Contemporary China. Hong Kong: City University of Hong Kong, 2011; pp. 17-32; MITTER, Rana, China Moderna. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011; CARVALHO, Miguel Henriques, A Economia Política do Sistema Financeiro Chinês (1978-2008). Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013; RAMOS, Marcelo Maciel; ROCHA, Rafael Machado, O Confucionismo Político e os Caminhos para o Constitucionalismo Chinês. In: Rev. Fac. Direito. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, n° 67, pp. 421-452. jul./dez., 2015; SILVA, Athos Munhoz Moreira da, A  Ascensão da China e os seus Impactos para o Leste Asiático. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais. Faculdade de Ciências Econômicas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015;  entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário