Em
1966, foi indicada como diretora do Grupo Central de Revolucionários. Colaborou
com Lin Biao para o avanço da ideologia de Maoista, bem como o culto à
personalidade de Mao. Sua influência foi grande durante o ápice da revolução, em
assuntos de Estado, em especial os que tangiam arte e cultura, tendo idealizado
os pôsteres característicos da revolução. Em 1969, ganhou um assento no Politburo
chinês. Antes da morte de Mao, o Bando dos Quatro controlava muitas
instituições políticas chinesas, incluindo mídia e propaganda. No entanto,
Jiang Qing, derivando a maior parte de sua legitimidade política de Mao, muitas
vezes se viu em desacordo com outros líderes. A morte de Mao, em 1976, tirou
boa parte de seu poder político. Jiang foi presa em outubro de 1976, por Hua
Guofeng e seus aliados, sendo condenada por outros membros do partido. Desde
então, Jiang Qing foi oficialmente marcada negativamente como tendo sido parte
do “Grupo Contrarrevolucionário de Lin Biao e Jiang Qing” e devastação causada
pela Revolução Cultural foi atribuído. Embora ela tenha sido inicialmente
condenada à morte, sua sentença foi comutada para prisão perpétua em 1983.
sábado, 26 de dezembro de 2015
Jiang Qing – Mulher, Poder & Revolução Social na China Comunista.
Giuliane de Alencar & Ubiracy
de Souza Braga
“Jiang
Qing foi a única mulher entre os principais líderes da Revolução Chinesa”. Andrea
Longobardi
Historicamente entre a derrota chinesa para os
ingleses na 1ª Guerra do Ópio, em 1842, e o advento da Revolução Chinesa, em
1949, a China esteve envolvida em seguidos conflitos internos e externos de
grandes proporções, que redundaram em elevadas perdas humanas e materiais e
significativa instabilidade política no país. Segundo a tradição cultural, este
intervalo é conhecido como o “Século da Humilhação”, período que representou o
eclipse da milenar civilização chinesa frente ao poderio econômico e militar
dos países capitalistas industrializados, os quais inclusive dominaram, em diferentes
conjunturas políticas, regiões significativas do território chinês. A
vitória dos comunistas e a consolidação do poder com a constituição da
República Popular da China (RPC) em 1949, foi o marco de uma nova era para as
mulheres chinesas. A despeito de não ter sido a primeira vez que foram chamadas
a estar à frente do processo revolucionário, foi a primeira vez que, de fato,
tiveram um papel ativo e visível globalmente na construção da RPC moderna.
A
luta das mulheres chinesas não começou apenas com o Partido Comunista Chinês
(PCC). Muitas foram, ao longo da história, as que fizeram frente ao modelo hegemônico
socialmente sobre o que deve ser o papel e responsabilidade social da mulher.
Não obstante, encontraram muita resistência e foram extremamente reprimidas. Com
a fundação da RPC que o movimento de emancipação da mulher ganhou força e a sua
imagem começou a mudar historicamente. Desde a década de 1930,
a condição de rival mais importante da China coube ao Japão, país que alcançou
rápido desenvolvimento econômico e social dentro da Ásia, tornando-se a mais importante potência
econômica e militar deste continente antes do final do século XIX. As relações entre as duas nações tem sido relativamente cordiais desde 12 de setembro de 1979 quando houve o estabelecimento das relações diplomáticas entre Pequim e Tóquio. Após mais de um século de embates internos e invasões
estrangeiras, o triunfo dos comunistas em outubro de 1949, por ocasião da
Revolução Chinesa, encerrou o governo republicano burguês no país conduzido
pelo Partido Nacionalista Chinês que se refugiou na ilha de
Taiwan, dando continuidade à República da China.
Em contrapartida, no
continente, sob o comando do Partido Comunista Chinês (PCC), tinha início a RPC.
Acenava-se não apenas mediante a possibilidade de transformações sociais profundas no país na direção de
uma sociedade igualitária, mas, também, com o compromisso em enfrentar os
desafios relacionados ao desenvolvimento da sua base material, nitidamente
atrasada em relação às nações industrializadas, e a preservação da integridade territorial
do país após quase um século de invasões estrangeiras. O chamado Período
Maoísta (1949-1978), demarca as três primeiras décadas da República Popular da China (RPC), em que Mao
Tsé-tung, será a principal liderança política até a sua morte, em
setembro de 1946. Uma vez que até a ascensão de Deng Xiaoping, em dezembro de
1978, o PCC, sob o comando de Hua Guofeng, manteve as mesmas
diretrizes, optou-se por este intervalo como parte do Período Maoísta. O maoísmo também chamado de pensamento de Mao Tsé-Tung e de marxismo-leninismo-maoísmo, é uma corrente do comunismo baseada nos ensinamentos de Mao Tsé-Tung (1893-1976). Na República Popular da China, o Pensamento de Mao Tsé- Tung é a doutrina oficial do Partido Comunista da China. Através das reformas iniciadas por Deng Xiaoping em 1978, a definição e o papel da ideologia de Mao na China mudou de modo radical e tem hoje um papel histórico que não é meramente decorativo.
Uma das características políticas do maoísmo
que o distancia do leninismo é o voluntarismo. Portanto, as condições sociais objetivas
da sociedade não são muito importantes para a revolução social se as condições
subjetivas, isto é, a vontade revolucionária do povo está presente. Isso leva
os maoístas “a defender a insurreição armada como método de tomar o poder em
todas as sociedades, e não só nas agrárias”. O maoísmo segue sendo um movimento
de grande importância em alguns países, como na Índia, Filipinas, e no Nepal,
aonde partidos maoístas lideram guerrilhas e atuam nos governos. Em alguns
países ocidentais, o maoísmo teve forte influência durante o século XX. O “Sendero
Luminoso” liderou uma guerrilha por muitas décadas no Peru. A teoria maoísta representou
um instrumental na formação do grupo “Panteras Negras” nos Estados Unidos. Assim
como no movimento comunista na França e no norte da África, com teóricos como
Charles Bettelheim, Jacques Ranciere, e Alain Badiou. Depois de Friedrich Engels, foi sem dúvida Mao Tsé-Tung
que trouxe a contribuição mais importante para a teoria da guerra revolucionária
moderna.
Ele procede com muita liberdade, recusando-se a se deixar aprisionar
pelos esquemas tirados da experiência da guerra civil na Rússia no início da
Revolução de 1917. Os acontecimentos políticos ocorridos na luta contra a
invasão japonesa, bem como a fraqueza original do exército chinês, levaram Mao
Tsé-Tung a desenvolver a “teoria da guerra de libertação” em duas direções: a
guerra revolucionária na China, e a guerra anti-japonesa dos partizans. Na análise das condições
desta dupla guerra ele utiliza a teoria das contradições tal como a
desenvolvera em diversas ocasiões. Seu estudo se orienta em três sentidos: “as
leis gerais da guerra, as leis gerais da guerra revolucionária, e as leis da
guerra revolucionária na China”. Convencido de que a guerra é um fenômeno
social ligado à divisão da sociedade em classes antagonistas, e persuadido de
que, com o desenvolvimento da humanidade, um dia a guerra desaparecerá, Mao
Tsé-Tung designa como fim das guerras a supressão das guerras da seguinte forma.
– “Para suprimir a guerra só existe um meio: lutar pela guerra contra a guerra,
pela guerra revolucionária contra a guerra contrarrevolucionária de classe.
Todas as guerras da história dividem-se em duas categorias:
as guerras justas e as guerras injustas. Todas as guerras
contrarrevolucionárias são injustas, todas as guerras revolucionárias são
justas. Somos nós mesmos que, com as nossas próprias mãos, pomos fim á época de
guerras na história da humanidade, e a guerra que fazemos é, sem dúvida
nenhuma, parte da última guerra” (cf. Chambre, 1963: 226-227).
A diferença que tradicionalmente se tem considerado
definitiva entre o maoísmo e o resto do marxismo, nomeadamente o
marxismo-leninismo, está por volta da defesa voluntarista da luta armada.
Porém, a defesa da violência como fórmula revolucionária está presente desde Marx
e Engels, tal como Lenin mostrou em obras como “O Estado e a Revolução” ou “A
revolução proletária e o renegado Kautsky”. As particularidades essenciais do
maoísmo, neste contexto, são as seguintes. A ideia de que a tomada violenta do
poder pode ser realizada não por uma insurreição armada de base operária que
tome o poder de Estado e depois o consolide mediante a guerra civil, como
sucedeu na Rússia. Mas sim por uma inversão da ordem das coisas: primeiro a
guerra civil, de base camponesa e prolongada, que acabe por cercar e conquistar
as cidades e finalmente tomar o poder de Estado. Mao defendeu a ideia de que o
campesinato é uma força revolucionária que poderia ser mobilizada pelo Partido
Comunista. Considerava a base da revolução os sobreviventes nas relações feudais, enquanto o
proletariado devia ser a força diretriz.
Jiang Qing, também reconhecida no Ocidente como Chiang
Ching, nascida em Zhucheng, na província chinesa de Shandong, foi uma atriz com
o nome Lan Ping. Em 1933, ingressou no Partido Comunista da China, trabalhando
como atriz a partir daquele ano até 1937, na cidade de Shanghai. Dois anos
depois, em 1939, é apresentada a Mao Tsé-Tung, a quem viria a se casar. Em 1949
se torna Ministra da Cultura. Em 1966 foi eleita como diretora da Revolução
Cultural. Em 1969, entra no Birô Político. Neste ponto, é associada como
responsável por defender o pragmatismo comunista maoísta. Jiang Qing tinha estreitas relações com as
Guardas Vermelhas e seus combatentes. Inúmeras vezes se reuniam em locais
públicos e semelhantes, os criticava, incentivava-os e lhes dava sugestões,
ideias, enfim, buscando sempre se unir politicamente aos Guardas. Durante a
Revolução Cultural poderia ter ido além se a linha proletária não tivesse sido
golpeada e o Estado e partido comunista chineses usurpados pelos revisionistas
com a morte do Presidente Mao. Demonizada pelos revisionistas,
preconceituosamente como “bruxa”, em artigos oficiais chineses, foi sentenciada
a pena capital, depois transformada em prisão perpétua. Morreu em 1991 “com
chuva de fogos de artifício pelos revisionistas, tendo até comemorado sua morte
nos órgãos oficiais”.
Jiang
Qing também reconhecida como Madame Mao (1914-1991), foi uma atriz
chinesa que desempenhou grande papel político durante a Revolução Cultural
Chinesa. Nos palcos, adotava o nome de Lan Ping. Foi a quarta esposa de Mao
Tsé-Tung, casando-se com ele em Yan`an, em novembro de 1938, tendo sido a
primeira Primeira-dama da China pós-revolução. É reconhecida outrossim por
formar uma aliança política radical legítima como o Bando dos Quatro. No
entanto, foi presa um mês depois da morte de Mao (1976), por suas tendências
radicais. Foi a pessoa mais poderosa nos últimos anos do regime maoísta. Foi
secretária pessoal de Mao nos anos de 1940 e chefe da Seção de Filmagens do
Departamento de Propaganda do Partido Comunista, nos anos 1950. Foi uma
importante emissária de Mao nos primeiros estágios da Revolução Cultural.
A biografia de
Madame Mao ficaria estereotipada principalmente pela fúria vingativa e
assassina com que tratou seus inimigos durante a tumultuada Revolução Cultural
(1965-1976), o que lhe valeu a alcunha de “Demônio dos Ossos Brancos”. A filha
indesejada de uma concubina que se recusou a ter os pés amarrados, como mandava
a autoritária tradição milenar chinesa, a atriz voluntariosa e rebelde que se
tornaria companheira do líder revolucionário Mao Tsé-tung no final dos anos
1930, foi praticamente varrida na poeira da história, como aquelas bonecas que
ela autografava, esquecidas para sempre no armário de brinquedos de alguma
criança. O resgate dessa figura trágica e complexa é feita no livro: “A
construção de Madame Mao” (2002), de Anchee Min, uma talentosa escritora
chinesa radicada nos Estados Unidos desde 1984.
A narrativa cativante de Anchee revela uma mulher
ambiciosa, valorosa, mas também carente, que tentava se libertar da opressiva herança
familiar buscando segurança em seus companheiros – ela teve três antes de Mao.
Com este último, que encontrou nas montanhas de Yan’an, quando ele liderava a
guerrilha comunista contra o governo de Chiang Kai-chek, Jiang Qing viveu uma
intensa paixão. Madame Mao era odiada pelo entourage
maoísta e, apesar de reivindicar, jamais teve nenhum cargo político. Apenas
quando o Grande Timoneiro se viu ameaçado pelos seus inimigos dentro do Partido
Comunista, no início dos anos 60, Jiang Qing se transformou numa das principais
inspiradoras da Revolução Cultural, um movimento anárquico, mobilizador de
milhões de estudantes que Mao manipulou contra a liderança comunista. A
ex-atriz finalmente encontrava o papel e o palco de sua vida, que terminariam
com a morte do imperador vermelho, em 1976. A construção de Madame Mao mostra, a personagem demasiadamente humana, muito além dos
estereótipos machistas costumeiros.
A linha de massas deu ao maoísmo comparativamente uma
natureza sempre distinta do bolchevismo e das experiências socialistas típicas
dos países europeus. De um modo geral, as execuções de inimigos do povo eram
precedidas de julgamentos com grande participação popular. Com um intuito
pedagógico muito diferente do dos métodos aplicados pela Tcheka,
caracterizados, após a guerra, pelo desaparecimento silencioso dos opositores.
Os militares do exército branco que se rendiam eram em regra integrados no
Exército Vermelho, e muitos oficiais e patrões foram também aceitos, desde que
concordassem honestamente com a direção do partido. De um modo geral, pode-se
dizer que o comunismo maoísta nunca teve semelhanças com a experiência
socialista da União Soviética ou dos países do Leste europeu. O
melhor exemplo dessa diferença seja o destino dado ao monarca do regime deposto
na Rússia e na China. Na primeira ele foi fuzilado, bem como toda a sua família
e criadagem, sem julgamento. O imperador foi ressocializado, na falta de melhor expressão e mais
tarde “empregado como cicerone do palácio que outrora fora dele e que depois
passou a ser aberto ao povo”.
Segundo Mao Tsé-Tung, as classes sociais permanecem
depois da tomada de poder pelos revolucionários, de modo que também deve
continuar a luta de classes durante o governo socialista, já que a burguesia
mantém, após a revolução, a capacidade de restaurar o capitalismo. Evitar que
isso acontecesse na China foi o principal motivo para organizar a Grande
Revolução Cultural Proletária. Além dos pontos essenciais que diferenciariam o
maoísmo do marxismo-leninismo, o pensamento de Mao contém uma doutrina militar
integral que liga explicitamente a ideologia política com a estratégia militar.
Para o maoísmo, “o poder nasce do fuzil”, e por essa via era possível que os
camponeses participassem numa guerra popular configurada como guerra de
guerrilhas marxistas em três fases: Primeira: mobilização de camponeses e
estabelecimento da organização. Segunda: estabelecimento das bases rurais e
incremento de coordenação entre guerrilhas. E terceira, refere-se à transição em
face de uma guerra convencional.
A partir dos finais do século XIX, sob a influência
das várias igrejas cristãs, e, especialmente dos missionários protestantes, os
intelectuais chineses começaram a despertar para a necessidade de repensar o
estatuto da mulher na sociedade chinesa. Com a chegada da república, a luta
pela emancipação da mulher é assumida pelo poder político. O movimento
feminista inicial, por transplante da influência ocidental, que desde cedo
começou também a evidenciar características chinesas. Assim, a libertação das
mulheres, desenvolveu-se, por um lado, seguindo os padrões ocidentais, que valorizavam,
sobretudo, a educação e a aquisição de direitos cívicos e econômicos para as
mulheres. Mas, por outro lado deu origem as tentativas de libertação de
contornos mais revolucionários e nacionalistas. Para muitas feministas
chinesas, a emancipação da mulher só faria sentido se fosse integrada no
movimento político mais vasto de libertação do país, leia-se das influências,
querem dinásticas, querem estrangeiras. Esta segunda vertente do movimento social feminista
acabou por se integrar necessariamente no partido comunista chinês.
As
mulheres, desde 1949, na nova China revolucionária, passaram, a ocupar metade
do Céu, para tal deviam corresponder ao que a nova ideologia política
representava para elas, em princípio deviam libertar-se, sobretudo economicamente.
Passariam a serem as forças produtivas modelares da China vermelha. A mulher
chinesa do mundo é agora figura de algum peso, sobretudo, nas cidades.
Masculiniza-se, endurece e tem tendência a isolar-se, numa reação, por ventura
natural, a um passado de sofrimento e dor. No campo, porém, a sua situação não
melhora grandemente, sobrecarregada e dividida através da divisão social do trabalho entre as tarefas de casa e
trabalho, continua a encontrar no suicídio uma resposta confortante para os
males que a afligem. Esta divisão dá origem às regras jurídicas que determinam as relações das funções divididas, mas cuja violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. Do ponto de vista do trabalho a gestão de carreira envolve duas partes principais: a da organização e a concepção do indivíduo. Diferentemente de décadas passadas, quando as organizações definiam as carreiras de seus empregados, na modernidade o papel do indivíduo na gestão da carreira se torna relevante e assume um papel progressivamente mais atípico.
Em relação ao período anterior a Revolução Chinesa, o
avanço econômico chinês durante o Período Maoísta é inequívoco. Neste dado
período, a China cresceu a uma taxa anual média de 4,4% a.a., muito superior ao
verificado entre 1820 e 1952, quando esta taxa foi de 0,22% a.a. Entretanto,
apesar do PIB chinês triplicar entre 1952 e 1978, em termos internacionais, sua
participação na economia mundial, manteve-se em torno de 5%. Por outro lado, se
entre 1700 e 1820, o PIB per capita chinês permaneceu essencialmente o mesmo e,
entre 1820 e 1952, declinou a uma taxa anual média de 0,1% a.a., no período
posterior, entre 1952 e 1978 esta tendência foi invertida, com a taxa anual
média de crescimento sendo de 2,33 a.a., contudo, abaixo da média Por seu
turno, a estatização dos meios de produção e a planificação da economia
alcançaram importantes avanços na industrialização pesada e na infraestrutura
com a duplicação das ferrovias e da área irrigada. Entre 1952 e 1978, o setor
secundário aumentou sua participação no PIB de 10 % para 36,8%, enquanto o
setor primário caiu de 59,7% para 34,4%, comparativamente no mesmo período. Por
outro lado, a população rural manteve-se estável, próxima a 80%, o que sinaliza
a importância da industrialização realizada nas comunas. Assim, em 1978, a
China caracterizava-se por ser um país significativamente industrializado,
embora geograficamente não urbanizado.
Enfim, para sermos breves, no que diz respeito à economia e as contas externas, houve
um pequeno aumento do comércio exterior chinês, sobretudo, até a década de
1960, momento a partir do qual o país se encontrou praticamente isolado
internacionalmente, fruto não apenas da estratégia de autossuficiência, mas,
fundamentalmente, devido aos embargos comerciais imperialistas ocidentais impostos ao país
até a década de 1970. Demograficamente, contudo,
a China cresceu rapidamente no Período Maoísta. Enquanto entre 1820 e 1948, a
população chinesa crescera 49%, apenas nos 26 anos decorridos entre 1952 e
1978, o país passou de 569 milhões de habitantes para 956 milhões, um aumento
de 68%. Este extraordinário aumento populacional levaria as autoridades
chinesas, já em 1972, a adotarem um conjunto de medidas com o objetivo de
controlar a natalidade, sendo sancionada em 1978 a chamada “política de filho
único”. O acentuado aumento populacional relaciona-se ao fim dos conflitos
armados e às melhorias verificadas na saúde básica, com sensível diminuição da
taxa de mortalidade infantil, de 37 para 18,2 mortes a cada 100 mil
recém-nascidos e no aumento da expectativa de vida de 38 para 64 anos.
Paralelamente, houve um aumento expressivo da escolaridade da população chinesa
medido pela média dos anos dedicados ao ensino entre pessoas com mais de 15
anos, aumentando consideravelmente de 1,7, em 1952, para 5,33, em 1978.
Outra
diferença capital comparativamente com a época de Mao Tsé-Tung nos anos seguintes à sua morte
foi o final do poder unipessoal. Deng apoiou um sistema de liderança coletivo
e uma sucessão organizada após sua morte em 1997. Jiang Zemin foi presidente
durante dois mandatos de cinco anos e seu sucessor, Hu Jintao, cumpriu com a
nova tradição. Mas Xi voltou aos velhos tempos revolucionários para se tornar o
líder mais poderoso desde Mao. Como Mao, Xi se “beneficiou” do culto à
personalidade desenhado por veículos estatais. Guardadas as proporções o
fundador do país teve o pensamento e a radicalização política de Mao Tsé-Tung.
O atual líder consagrou na Constituição o pensamento Xi Jinping sobre o socialismo
com características chinesas para uma Nova Era. Mao teve seu Livro Vermelho. Xi
tem sua versão do século XXI, um aplicativo ideológico pró-governo chamado “Study
Xi, Strong Country”, em seus ensinamentos. Xi Jinping supervisou a chamada “linha
dura” contra a corrupção que castigou mais de 1,5 milhão de responsáveis do
partido, uma medida popular entre os cidadãos comuns, mas observada pelos
analistas como uma possibilidade de expurgar rivais. A “abertura” da economia
não foi acompanhada de reformas políticas. Os opositores temem que as
autoridades utilizem o desenvolvimento tecnológico da China, como o
reconhecimento facial, para vigiar mais seus cidadãos. Na região de Xinjiang,
no Noroeste, a maioria da etnia uigur sofreu na própria carne o alto
custo de estar enfrentado com o governo. Os defensores dos direitos humanos
suspeitam que o governo chinês tenha internado em acampamentos de reeducação a
um (01) milhão de pessoas, principalmente desta minoria e da kazaja,
ambas muçulmanas.
Bibliografia geral consultada.
BÈRGERE,
Marie-Claire, A Economia da China Popular.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980; BETTELHEIM, Charles, A China Depois de Mao. Lisboa: Edições 70, 1981; MEYER, Charles, Histoire de la Femme Chinoise. 4000 ans de
Pouvoir. Paris:
Editeur Jean Claude Lattès, 1986; DENG Xiaoping, Selected
works (Vol. I: 1938-1965). Beijing: People’s Press Editors, 1993; GRANET, Marcel, O Pensamento Chinês. Rio de Janeiro: Editor Contraponto, 1997; MIN,
Anchee, Construção de Madame Mao. São Paulo: Editora Rocco, 2002; SUKUP, Viktor, “A China frente à Globalização: Desafios e Oportunidade”. In: Rev. Bras. Polit. Int. 45 (2): 82-113; 2002; NAVES, Márcio, Mao – O Processo da Revolução. São Paulo: Editora Brasiliense,
2005; FAIRBABK, John King & GOLDMAN, Merle, China: Uma Nova História. Porto Alegre: LP&M Editores,
2006; QING, Jiang, “From Mind Confucianism to Political Confucianism” in Fan,
Ruiping (ed.) The Renaissance of Confucianism
in Contemporary China. Hong Kong: City University
of Hong Kong, 2011; pp. 17-32; MITTER, Rana, China Moderna. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011; CARVALHO, Miguel Henriques, A Economia Política do Sistema Financeiro Chinês (1978-2008). Rio
de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2013; RAMOS, Marcelo Maciel; ROCHA, Rafael Machado, “O Confucionismo Político e os Caminhos para o Constitucionalismo Chinês”. In: Rev. Fac. Direito. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, n° 67, pp. 421-452. jul./dez., 2015; SILVA, Athos Munhoz Moreira da, A Ascensão da China e os seus Impactos para o Leste Asiático. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais. Faculdade de Ciências Econômicas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015; entre outros.
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