“Minha maior simpatia sempre foi
pelo PSB”. Heitor Correia Férrer
Falar em valor implica em falar em moral. Mas falar em
moral em Nietzsche jamais quer dizer falar em maneiras prescritas para agir,
pensar e sentir, pelo contrário. É falar em perspectivas ou “perspectivas
avaliadoras”. E Nietzsche toma como ponto de partida a civilização grega antes
de Sócrates, ou bendita pré-socrática. A
Grécia pré-socrática foi assolada pelo “demônio de Sócrates”, expressão do
próprio Nietzsche que instituiu um modo de pensar e sentir que dominou o mundo:
a razão como instância e escopo para determinar a verdade e a mentira. E com a
derrocada da multiplicidade das religiões pagãs, a morte dos deuses gregos,
surge então o imperador da desgraça: o deus monoteísta. Os sacerdotes passam a
dominar e classificar a vida, melhor dizendo, a moral do ressentimento, portanto, dos fracos, aquela que passa a sobrepujar a moral
expansiva à vida. Sofremos de uma impotência para admirar uma força que se afirma, morremos de medo da mínima possibilidade de transvaloração dos valores, queremos paz estupidificante, o sono dos justos. O ressentimento é hostilidade para com o mundo e a busca por um entorpecimento contra ele.
O
Partido Socialista Brasileiro (PSB) é um partido político brasileiro fundado em
1985 e registrado oficialmente em 1988. Foi criado por um grupo político que
reivindicou a legenda e sigla do antigo PSB. O partido utiliza como símbolo uma
pomba da paz e suas cores são vermelho, amarelo e branco. Em dezembro de 2021 o
PSB possuía 635.837 filiados, sendo São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais
os estados com mais membros. O partido político teve membros ocupando
importantes postos nos governos dos presidentes Itamar Franco, Luís Inácio Lula
da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Colocou-se como oposição aos governos
de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso e, em determinados momentos,
também aos governos de Dilma Rousseff e do Vice-presidente Michel Temer. A maior
parte dos deputados federais do partido faz oposição ao governo autoritário de
Jair Messias Bolsonaro. Com a
redemocratização (1985), foi fundado um novo Partido Socialista Brasileiro, contudo, resgatando o programa e manifesto apresentados em 1947, por João Mangabeira.
Entre
os signatários do partido, estavam os juristas Evandro Lins e Silva, Evaristo
de Morais Filho e o escritor Rubem Braga. Para presidir a primeira comissão provisória
foi escolhido o linguista Antônio Houaiss, que no ano seguinte deixou a presidência
do partido para o senador Jamil Haddad. A secretária-geral ficou com Roberto
Amaral (ex-PCBR). O novo PSB nasceu buscando conquistar espaços em um
eleitorado de esquerda já integrado a outros partidos (como o PT e o PDT). Em
1986, apesar da intensa mobilização, o PSB elegeu apenas uma deputada para a
Constituinte. Mas, dois anos depois, rompido com Brizola, o prefeito do Rio de
Janeiro, Saturnino Braga, deixou o PDT para retornar ao PSB, sua antiga
agremiação. Em 1988, Arthur Virgílio Neto é eleito prefeito de Manaus pela
legenda. Mais tarde, trocaria o PSB pelo PSDB. Em 1989, o PSB coligou-se ao Partido
dos Trabalhadores (PT) e ao PCdoB para formar a coligação “Frente Brasil
Popular”, que lançou a primeira candidatura de Luís Inácio Lula da Silva à
presidência da República. O PSB indicou, então, a vaga para vice, com o senador
gaúcho José Paulo Bisol (ex-PMDB e PSDB).
Vivemos no aqui e agora, e Friedrich Nietzsche inverte a forma de avaliar os valores. A pergunta a ser feita não é mais agir pelo “Bem” ou pelo “Mal”, mas “Para além do bem e do mal”. O único critério que não depende de
classificação, e que se impõe por si só é a vida que não pode ser julgada. Pois
não há outra para que possamos julgá-la, a vida é, tal como ela é: pluralidade. A vida é pluralidade de
forças agindo querendo se expandir. Não convém a razão dizer que força é essa.
Ela não é essência, é aparência: onde há vida há forças em movimento agindo em
busca da expansão. A vontade se mostra como sede de dominar, fazer-se mais forte, constranger outras forças mais fracas e assimilá-las. Quanto pode uma força? No mundo da natureza a onda sonora que se expande, o ímã que atrai, a célula que se divide formando o tecido orgânico, o animal que subjuga o outro são exemplos desta vontade que não encontra um ponto de repouso, mas procura sempre conquistar mais. Cada força, quando dominante, abre novos horizontes, encontra novas passagens, cria novos caminhos. Se o amor pela vida se auto-impõe como incondicional já que
não há como julgá-la, colocamos a vida como centro de avaliação e perguntemos:
o que eu estou chamando de “bom” e o que eu estou chamando de “mal” são
expansivos, são potentes à minha vida em dada situação?
Heitor Correia Férrer nasceu em Lavras da Mangabeira em
11 de outubro de 1955. Lavras da Mangabeira é uma alusão à atividade que foi
exercida no local, a mineração, e o nome da árvore abundante na região, a
mangabeira (“Hancornia speciosa”). Sua denominação original era São Vicente
Ferrer de Lavras de Mangabeira, depois São Vicente das Lavras, Lavras e, desde
1911, Lavras da Mangabeira. Com a expansão da Estrada de Ferro de Baturité até
a cidade do Crato em 1910, no município de Lavras da Mangabeira foram
inauguradas três estações de trem (Arrojado – antigo Paino; Lavras da
Mangabeira – antiga Lavras; Iborepi – antigo Riacho Fundo). Esta malha ferroviária
representou o impulso para a economia local, principalmente porque a partir da
estação de Paino ou Arrojado, o Ceará ficou ligado à Paraíba via o Ramal da
Paraíba. Famílias que vieram a Lavras da Mangabeira em busca do ouro
estabeleceram-se de modo a constituir essa cidade e consolidar sua própria
história. Buscando conservar seu sangue, herança genética e seus sobrenomes,
mantiveram uniões entre famílias e podem
ser observados como clãs, que ainda hoje conservam esses padrões e moram ou
mantem fortíssimas ligações com a cidade e entre sua família.
Atualmente, encontra-se em seu 3° mandato legislativo como
deputado estadual na Assembleia Legislativa do Ceará. Foi vereador de Fortaleza
por quatro (04) mandatos consecutivos. É médico formado pela Universidade
Federal do Ceará (UFC), com pós-graduação em “Doenças Tropicais e Saúde Pública”.
Filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) desde 1987 elegeu-se vereador
de Fortaleza em 1988, tendo sido reeleito por mais três (03) mandatos
consecutivos. Nas eleições de 1998, foi candidato a Vice-Governador na chapa
encabeçada por José Aírton (PT). Assumiu seu primeiro mandato como deputado
estadual em fevereiro de 2003, “tendo sido o parlamentar que mais apresentou
projetos sociais naquela legislatura”. Nas eleições de 2010, Férrer foi
reeleito para o 3° mandato como deputado estadual, com 53.311 votos. Na eleição
municipal de Fortaleza em 2012, foi candidato a prefeito como membro da
coligação “Fortaleza Merece Mais” (PDT/PPS). Obteve 262.365 votos (20,97% dos
votos), ficando bem posicionados em 3° lugar entre os 10 candidatos. Seu
desempenho foi surpreendente nas eleições de 2014. Foi eleito o 4° mais votado
com 93.876 votos.
Buffet milionário, compra de
helicópteros sem licitação, foto infringindo lei de trânsito, sorteio de
ingressos de show via Facebook. O então governador Cid Gomes atraiu vários
holofotes nacionais para a política cearense em apenas um mês. E, sobretudo deu
motivos de sobra para as críticas de seu único
opositor na Assembleia Legislativa, o deputado Heitor Férrer (PDT). Atento às
contas públicas do Estado, foi o parlamentar o maior beneficiado politicamente
com as escorregadas do chefe do Governo. -“O governador não pode entender como
natural a aquisição de equipamentos sem licitação, porque a lei não permite.
Ele não pode encarar como normal gastar num dia só, na inauguração de um
equipamento, como o Centro de Eventos, R$ 3,1 milhões com um cantor e R$ 600
mil com buffet. Porque isso é
extrapolar a razoabilidade e a sanidade. É um governador que tem méritos, mas
que perde o senso republicano em algumas de suas atitudes”, avalia Heitor, ao jornal
Tribuna do Ceará. Chamado de “desonesto” e “demagogo” pelo coronel Cid Ferreira Gomes, o deputado
Heitor Férrer rebate o que seria politicamente uma série de desonestidades do político e ex-governador. Vejamos:
- “Desonestidade é embarcar a sogra num avião pago pelo povo do Ceará”. Apesar
da relação tensa, ele garante não há desrespeito de sua parte. - “Se eu me
encontrar com o governador – afirma o deputado estadual Heitor Férrer - numa solenidade oficial,
cumprimento sem o menor constrangimento, sem o menor sentimento de rancor. É
uma relação puramente institucional”.
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) é um partido
político de esquerda brasileiro que aparentemente segue a ideologia socialista
democrática. Foi criado em 1947 a partir da “Esquerda Democrática”, até ser
extinto por força do Ato Institucional
nº 2, de 1965. Em 1985, com a redemocratização no Brasil, foi recriado. Entre
1947 e 1964, editou o jornal Folha
Socialista. Obteve registro definitivo junto ao Tribunal Superior Eleitoral
em 1º de julho de 1988 com o código eleitoral 40. Externamente, é membro do Foro
de São Paulo, uma organização que reúne partidos políticos e organizações de esquerda, criada em 1990, a partir de um seminário internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT), do Brasil, que convidou outros partidos e organizações da América Latina e do Caribe para promover alternativas às políticas dominantes na região durante a década de 1990, e para promover a integração latino-americana no âmbito econômico, político e cultural. Segundo a organização, atualmente mais de 100 partidos e organizações políticas de diversos países participam dos encontros políticos. Antes de 1947, houve diversas agremiações com o nome de “Partido
Socialista Brasileiro” na história do movimento operário e
socialista nacional. Na primeira década de século XX, foram criados alguns partidos
socialistas de caráter regional e em 1932, registrou-se a fundação de um
efêmero Partido Socialista no Rio de Janeiro, de formação tenentista e
plataforma pró-Getúlio Dornelles Vargas. Em abril de 1947 por ocasião dos debates em torno da
2ª Convenção Nacional da Esquerda
Democrática, no Rio de Janeiro, seus integrantes decidiram constituir-se
como Partido Socialista Brasileiro - PSB, sob a liderança de João Mangabeira,
Hermes Lima e Domingos Vellasco. O PSB foi registrado em 6 de agosto de 1947,
contando em sua bancada com os dois deputados federais eleitos pela ED. De
formação antigetulistas, o PSB procurou representar uma alternativa às
políticas do PTB e do PCB. Aos primeiros, censurava tanto a dedicação à figura
do caudilho quanto à excessiva vinculação com as estruturas sindicais corporativistas
fascistas herdadas na ditadura do Estado Novo (1937-45). Mesmo contrário ao
chamado “culto à personalidade”, ao centralismo e ao busílis de democracia
interna dentre comunistas, o PSB aceitava algumas teses marxistas, defendendo a
socialização dos meios de produção, apesar de sua influência no movimento
operário ser incipiente.
Em seu programa, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) defendeu a “transformação
da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos
meios de produção”, que deveria se realizar dentro das regras da luta
democrática e liberal. Dessa forma, o partido procurou situar-se a meio caminho
entre o socialismo radical de inspiração marxista e a social-democracia. Para o
PSB, o regime soviético era definido com um “capitalismo de Estado”. Segundo o
Programa de 1947: “A socialização realizar-se-á gradativamente, até a
transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas,
mantida a propriedade privada nos limites da possibilidade de sua utilização
pessoal, sem prejuízo do interesse coletivo”. Sua crítica ao stalinismo levou o
PSB a atrair intelectuais como Rubem Braga, José Lins do Rego, Antônio Cândido,
Joel Silveira, José Honório Rodrigues, Fúlvio Abramo, Mário Apolinário dos
Santos, João da Costa Pimenta, José de Freitas Nobre, Hélio Pellegrino e Sérgio
Buarque de Holanda. Por algum tempo, o PSB também recebeu a adesão da tendência
trotskista liderada por Mário Pedrosa, mas esta foi expulsa em 1949,
tornando-se a Liga Comunista Internacionalista. Nessa época, o PSB foi
influente na União Nacional dos Estudantes (UNE), durante os exercícios dos presidentes Roberto Gusmão
(1947/48) e Rogê Ferreira (1949/50).
O deputado Heitor Férrer em seus mandatos na Assembleia Legislativa e na
Câmara ficou marcado positivamente por denúncias que atingiram parlamentares e
membros do Executivo, “virando escândalos inclusive nacionais”. É político
disciplinado, tendo a política como vocação e seu mandato se pauta pela curiosidade,
na busca de informações. – “Eu gosto de ler diários oficiais, de buscar as
análises das cotas do Governo. Eu ando com relatório técnico do Tribunal de
Contas, para saber quanto o Governo gastou em cada área. Por exemplo, nós já
estamos no meio do ano e o governador não aplicou quase nada em ciência e
tecnologia, 0,29% do previsto. Sou muito curioso e tenho uma boa assessoria.
Tenho dois advogados, um administrador, assessores de informática e de
imprensa, secretária só para cuidar da agenda, outra pessoa que alimenta o site
com informações diárias. Um dos advogados faz todo dia a leitura do Diário Oficial, que é um jornal que
ninguém lê. Com uma assessoria complexa, o mandato acaba se enriquecendo de
informações”.
Na entrevista à Tribuna do Ceará – “Qual é o sentimento de chegar à tribuna e fazer
uma denúncia que o senhor sabe que terá grande repercussão?”, Heitor
Férrer responde: – “A gente não sabe exatamente o que vai repercutir. A
oposição diz que eu tenho ansiedade para aparecer na mídia. Ora, todo homem
público tem interesse de aparecer na mídia, porque ele vive de votos. O
importante é ser imparcial e impessoal. O que denuncio são casos que chamam a
atenção porque causam perplexidade. Por exemplo, quando o governador do Estado
resolveu fazer uma reforma no Palácio da Abolição, divulgada no edital de
licitação por R$ 39 milhões, eu fui ler o edital, e detectei que as torneiras
custariam R$ 2.045. Como é que o Ceará pode bancar uma torneira por R$ 2.045?
Fui à tribuna, denunciei, a imprensa ajudou a revelar e o governador se
incomodou tanto com os questionamentos que acabou reformulando o edital de
licitação. No fim, o valor caiu de R$ 39 milhões para R$ 19 milhões. Portanto,
nós conseguimos uma economia de R$ 20 milhões para o bolso dos cearenses”. Bibliografia
geral consultada.
DUVERGER, Maurice, Os PartidosPolíticos. Brasília: Editora da Universidade
de Brasília, 1954; NIETZSCHE, Friedrich,
Così parlò Zarathustra. A cura di Giorgio Colli e Mazzino Montinari.
Milano: Adelphi Editore, 1968; MARTON, Scarlett, Nietzsche: Uma Filosofia a Marteladas. 2ª edição. São Paulo:
Editora: Brasiliense, 1992; ROSS, Werner, El
Águila Angustiada. Buenos Aires: Ediciones Paidós, 1994; LIMA JÚNIOR, Olavo Brasil (Org.), Sistema Partidário Brasileiro: Diversidade e Tendências
(1982-1994). Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997; ARRUDA, José Maria (Org.), A Era Jereissati: Modernidade e Mito. Fortaleza: Edições Demócrito
Rocha, 2002; BOBBIO, Norberto, Ni con Marx ni contra Marx. 1ª edição.
Espanha: Fondo de Cultura, 1999; Idem, Il
Futuro della Democrazia. 1ª edição. Itália: Einaudi Editore, 2005; LACLAU,
Ernesto, La Razón Populista. Buenos
Aires: Fondo de Cultura Econômica, 2007; RORTY, Richard, Contingência, Ironia e Solidariedade. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 2007; ALENCAR, Gustavo Magno Barbosa, Pelas Tramas da Política: A Constituição do Partido Liberal Moderado na Província do Ceará (1830-1837). Dissertação Mestrado. Programa de Pós-graduação em História. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2014; ANJOS, Herbert Gler Mendes dos, Socialismo e Liberdade: O PSB e a Cultura Socialista-democrática no Brasil (1945-1965). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas. Brasília: Universidade de Brasília, 2014; BIZERRO, Joice Mara Cesar, A Trajetória do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Nordeste: Organização e Atuação na Arena Eleitoral (1988- 2012). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Teresina: Universidade Federal do Piauí, 2014; Artigo: “Minha maior simpatia sempre foi pelo PSB, diz Heitor Férrer”. Disponível em: http://www.opovo.com.br/2015/08/29/; entre outros.
______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“O conhecimento
é uma ilha cercada por um oceano de mistério”. Ludwig Wittgenstein
Ludwig Wittgenstein with his school class in Lower Austria, 1922-24.
Quando tratamos de analisar a filosofia de Ludwig Wittgenstein
será impossível compreende-la se olharmos de maneira dogmática, ou com
parâmetros da filosofia anterior, é preciso analisa-lo com a própria filosofia
de Wittgenstein. Quando falo de uma filosofia dogmática, refiro a algo que pode
ser interpretado de modo muito sistemático, o que Ludwig detestava. Foi esse um
dos motivos dele ter se tornado fã de Sigmund Freud. O inventor da Psicanálise
escrevia e refletia de uma maneira totalmente contrária ao dogmatismo. E Wittgenstein
adorava isso, porém achava que Freud errava na conclusão de seus trabalhos
quanto a interpretação sobre os sonhos, já que o alemão tendia a levar os
sonhos para um lado sexual. Mas para Wittgenstein os sonhos tem sim um
significado, porém não dessa maneira. Porque para ele, Freud tentava separar a
interpretação dos sonhos dos sentimentos dos sonhos! E quando isso ocorre, o
sonho já teria outro sentido.
A linguagem e o mundo se correlacionam, e neste
sentido ela é uma forma de representação (“αντιπροσώπευση”), porém não
é possível descrever pela linguagem o mundo como totalidade. Essa seria a
essência de alguns dos vários pensamentos desse filósofo. A maneira como sua
filosofia é analisada por alguns intérpretes de seu legado, faz com que ele seja classificado como um filósofo neopositivista, o que é
injusto. Entendemos como neopositivista a corrente que negava em parte a
metafísica, pois eles valorizavam a ciência e achavam que a metafísica não
teria nenhuma contribuição. Considerando-a não somente inútil e contraditória
como desprovida de significado. Nessa medida isso não cabe para Wittgenstein,
que a exaltava e estudava de maneira intensa. Ele ainda chega a dizer: - “Mesmo [com] todas as questões científicas
possíveis tendo obtido resposta, nossos problemas de vida não terão sido sequer
tocados”.
Wittgenstein de fato influenciou a corrente neopositivista
com o seu “Tractatus Logicus-Philosophicus”, no entanto, o maior crítico desse
livro foi o próprio austríaco. Que inclusive em seus cadernos de 1914-16
discute o Tractatus, e em uma das
cartas da mesma época ele diz que o sentido do Tractatus é uma obra ética. Isso é uma discussão muito longa
tratada por todos que analisam e leem a filosofia de Wittgenstein. Uma
definição muito boa sobre o Tractatus
é que “O Tractatus é uma obra ética, justamente por não falar sobre ética”. Ou
seja, na interpretação de Ludwig Wittgenstein não seria possível existir uma ciência que pudesse de fato
estudar a ética. Não é que não se pudesse falar de ética, mas quando tentamos
estudá-la a perspectiva sempre será da própria pessoa que fala. E neste sentido
afirma: - “Eu só posso dizer: eu não ridicularizo essa tendência no homem, eu
me descubro diante dela”.
A metafísica para Wittgenstein nunca foi algo que
devesse ser negado ou que seria desprovido de significado. Wittgenstein se opôs
a isso, de sua maneira. Como ele mesmo diz: - “Minha filosofia é como ajudar
uma mosca a voar fora do pote”. Ele mesmo chega a admitir que o seu “Tractatus”
beirou o absurdo, foi feito contra uma filosofia dogmática e quase se torna
uma. A importância do amadurecimento intelectual de Wittgenstein em sua
filosofia é grande e sempre deve ser ressaltada. Ele foi o maior crítico dele
mesmo. Seu livro póstumo “Investigações Filosóficas” representa um aspecto de
seu amadurecimento. É nesse livro que ele quebra com a questão meramente da
linguagem única. Demonstra os “Jogos de Linguagem”, termo que demonstra como
Ludwig passa a entender a linguagem, como um jogo, em que você deve saber usar
as regras bem, como a própria linguagem.
Os filósofos neopositivistas, como já inferimos, são
tidos por quase ridicularizarem a metafísica, o que Wittgenstein não concordava
nem um pouco. O próprio diz: - “Muitas das maiores obras que já lí, eram obras,
textos metafísicos”. Sua admiração cognitiva fez com que ele se tornasse um
crítico dela e assim pudesse analisá-la. O filósofo austríaco para nos referirmos
ao ambiente de sua familiaridade intelectual, encontrava questões abordadas na
metafísica com uma concepção bem desnorteada. Com a proposição de sua filosofia
da linguagem ele encontrou várias formulações metodológicas elaboradas de
maneiras errôneas. Ele começa então através da compreensão de sua “linguagem” a
critica-la.
Wittgenstein, por exemplo, não quer saber: “O que é
liberdade?”, mas primeiro de tudo ele acha que ao formularmos essa pergunta
precipitada, primeiro deveríamos nos perguntar: “Como a liberdade é associada a
realidade?”, e, “Que realidade?”. Ou ainda: “A realidade de quem?”. É a questão
que ele próprio cita, no exemplo do jogo de Xadrez, que poderíamos nos lembrar
da clássica cena do filme: “O Sétimo Selo” do grande cineasta e gênio sueco
Ingmar Bergman, aonde o jogador de xadrez enfrenta a morte. Nós humanos quando
nos deparamos com a morte, enfrentaremos de maneiras totalmente diferentes. Cada
um com seus atos, seus sentimentos, suas frustrações, é a morte, porém, cada um
enfrenta a morte de uma maneira diferente. Você poderá jogar contra qualquer
pessoa, computador não é o mesmo jogo, mas tem as mesmas regras, porém as
experiências são diferentes, a maneira como cada um jogar o jogo é diferente.
Então se fossemos, por exemplo, refletir em análise
comparativa o filósofo Sócrates com Wittgenstein, os dois em relação ao homem,
teriam sérias discordâncias. Pois para Sócrates, o homem deve buscar a verdade
una, e para o austríaco ele indaga o que é a verdade, e ainda diria que se
existir a verdade, o que de fato seria ela? A minha dor de dente, não é igual a
sua, ou a de qualquer outro alguém, mas damos o mesmo nome a essas dores, então
qual seria de fato verdadeira? Para o austríaco se, por exemplo, duas pessoas
estivessem conversando e um falasse: - “Você gosta de futebol?”, e outro
perguntasse: - “Que tipo de futebol?”. Ludwig diria que representa um problema
de linguagem. Pois futebol para os dois seriam jogos diferentes, embora com a utilização
da mesma palavra.
É bem conhecido e narrado por muitas pessoas um “causo”
que teria acontecido entre Wittgenstein e Bertrand Russel, seu mestre. Russel
teria dito: - “Nesse quarto não há um hipopótamo”. Ludwig diz que é impossível
saber, uma pergunta que não tem como responder, pois não é uma simples pergunta,
mas uma pergunta metafísica. Russel fica indignado, chegou a olhar embaixo das mesas que estavam para provar que o animal não estaria
ali. Wittgenstein relutava em dizer que, do ponto de vista das propriedades da
filosofia da linguagem, não tem como saber a resposta para essa pergunta.
Imagem. The Music salon in the Palais Wittgenstein, onde aborda a questão dos solipsistas em seus
escritos. Ele refere-se principalmente a questão das experiências reais ou não
reais. A sua metafísica aborda muito a questão da própria realidade, até de um
ponto hermenêutico de Gadamer, que seria uma aproximação do que de fato seria
“a verdade”. A hermenêutica filosófica de Hans-Georg Gadamer nega que exista apenas
uma interpretação metodológica para se alcançar a verdade. Mas afirma que há
uma predisposição à sua existência. Porém Wittgenstein chega por uma base
lógica a refutar a ideia dos solipsistas, que eram céticos radicais. Ele
contesta o que os solipsistas dizem: - “Apenas minhas experiências são reais” e
“As experiências de todos são reais”. Há uma notória “quebra” lógica nessas
afirmações. Assim, concorda que as experiências de cada um são diferentes das
dos outros, porém essas afirmações são negativas entre si. E então, de fato há
ou não experiências reais? E o que são elas?
Para Ludwig, os filósofos deveriam ser como Friedrich Nietzsche,
quase que poetas, transbordando potência e “ajudando a mosca a voar para fora
do frasco”. Ludwig fazia isso a sua maneira, porém foi muito mal compreendido,
até pelo seu mentor, Bertrand Russel, que achava que Wittgenstein havia
enlouquecido. Um homem apaixonado, irascível, meticuloso e acima de tudo, um
gênio, que se dedicou de maneira intensa a sua filosofia, não tentou se adequar
ao mundo, mas fez com que o mundo no âmbito discursivo da linguagem tivesse que
se adequar a ele.
Bibliografia geral consultada.
WITTGENSTEIN, Ludwig, Tractatus Logico-Philosophicus.Londres: Routledge &
Kegan Paul Ltd., 1922; Idem, Investigações Filosóficas. São Paulo: Editora
Nova Cultural, 1989; Idem, The Blue Book; Wittgenstein, Ludwig, Lectures
on Philosophy (Cambridge 1932, 1933).
Monk, Ray, Ludwig Wittgenstein-The Duty of Genius. Londres: Vintage
Books, 1991;HARTNACK,
Justus, Wittgenstein y La Filosofia Contemporanea. Barcelona: Editorial
Ariel, 1977; MORENO, Arley R., Wittgenstein-Ensaio Introdutório. Rio de
Janeiro: Livraria Taurus Editora, 1985/1986; BAKER, Gordon, Wittgenstein, Frege and the Vienna Circle.
Oxford: Basil Blackwell, 1988; BUCHHOLZ, Kai, Compreender
Wittgenstein. 2ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2009; BALIEIRO, Marcos
Ribeiro, Essa Mistura Terrena Grosseira: Filosofia e Vida Comum em David
Hume. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2009; GIMBO, Fernando Sepe, Foucault, o Ethos e o
Pathos de um Pensamento. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação
em Filosofia. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2015; SIAPKAS,
Johannes, “Ontología del Otro: Reflexiones sobre la Filosofía de Michel de
Certeau”. In: La Torre del Virrey. Revista de Estudios Culturales, nº
17, pp. 48-59, 2015/1; entre outros.
________________
* Aluno do curso de graduação em Filosofia. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“Michel Carrouges isolou, sob o nome de máquinas celibatárias, certo número
de máquinas fantásticas”. Gilles Deleuze e Félix Guattari
O celibato do latim “cælibatus” representa o estado
daquele que não é casado ou que é célibe é, na sua definição literal, o estado
de uma pessoa que se mantém solteira, sem obrigação de manter a virgindade,
podendo ter relações sexuais. No entanto, o termo é popularmente usado para
descrever uma pessoa que escolhe abster-se de atividades sexuais. Para a Igreja Católica Apostólica Romana, a
castidade antes do casamento é uma forma de conhecer o parceiro. A Igreja
aceita que o desejo pelo prazer sexual faz parte da natureza humana, mas que a
felicidade e o prazer não são sinônimos. O prazer poderia transformar o
parceiro sexual em um meio, em um ato egoísta, enquanto o verdadeiro
conhecimento do parceiro (amor) poderia estar sendo camuflado. O celibato
é visto de forma diferente por diferentes grupos cristãos. Embora no passado
fosse aceite o matrimônio de padres ordenados tendo a inclusão de São Paulo
recomendando a fidelidade matrimonial aos bispos.
Na atualidade, excetuando em
casos referentes aos diáconos e a padres ordenados pelas Igrejas orientais
católicas e pelos ordinariatos pessoais para anglicanos, todo o clero
católico latino é obrigado a observar e cumprir o celibato. Nas Igrejas
orientais, o celibato é apenas obrigatório para os bispos, que são escolhidos
entre os sacerdotes celibatários. A Igreja Católica de rito latino,
sinteticamente, dá as seguintes principais razões de ordem teológica para o
celibato dos sacerdotes e religiosos de vida consagrada: a) com o celibato os
sacerdotes entregar-se-iam de modo mais excelente a Cristo, unindo-se a Ele com
o coração indiviso; b) o celibato facilita ao sacerdote a participação no amor
de Cristo pela humanidade uma que vez que Ele não teve outro vínculo nupcial a
não ser o que contraiu com a sua Igreja; c) com o celibato os clérigos
dedicar-se-iam com maior disponibilidade ao serviço dos outros homens; d) a
pessoa e a vida do sacerdote são possessão da Igreja, que faz às vezes de
Cristo, seu esposo; e) o celibato dispõe o sacerdote pare receber e exercer com
generosidade a paternidade que religiosamente pertence a Jesus Cristo. Igreja católica: mãe das igrejas evangélicas?
A
recomendação de celibato clerical na igreja latina possui sua primeira menção
pelo Concílio de Elvira (295-302), mas, como este concílio era apenas um
concílio provincial espanhol (Elvira era uma cidade romana, junto a Granada),
as suas decisões não foram cumpridas por toda a Igreja cristã. O Concílio de
Elvira assim legislou: “Bispos, presbíteros, diáconos e outros que ocupem uma
posição no ministério devem abster-se totalmente de relações sexuais com suas
esposas e da procriação de filhos. Se alguém desobedecer, seja ele privado do
estado clerical” (XXXIII cânon). O Primeiro Concílio de Niceia (323) decretou
apenas que “todos os membros do clero estão proibidos de morar com qualquer
mulher, com exceção da mãe, irmã ou tia” (III cânon). No final do século IV, a
Igreja Latina promulgou várias leis a favor do celibato. Foram geralmente bem
aceites no Ocidente no pontificado de São Leão Magno (440-461), mas o Concílio
de Calcedônia (451) “proibiu o casamento de monges e virgens consagradas” (XVI
cânon), impondo o celibato ao clero regular.
Não
queremos perder de vista que a “virgindade religiosa”, denominada também de “virgindade
sacra”, “Sagrada Virgindade” ou “Santa Virgindade”, é um conceito importante na
tradição cristã, especialmente no que diz respeito à Virgem Maria que ocupa um
lugar central no dogma cristão católico e ortodoxo. Votos de castidade e
celibato são necessários para entrar na vida monástica ou no sacerdócio. A
sagrada virgindade e a perfeita castidade considera a Igreja Católica, quando
consagrada ao serviço de Deus, um dos mais “preciosos tesouros” deixados por
Cristo à sua Igreja. Afirma ainda a Doutrina da Igreja Católica que a santa
virgindade é mais excelente que o matrimônio, isto no Concílio de Trento. Sobre
o tema afirma João Paulo II na Exortação Apostólica Familiaris consortio (n°. 16): - Permanecendo no celibato, o homem
pode entregar a Deus um coração indiviso, segundo o modelo do seu Filho, Jesus
Cristo, que ao Pai entregou o amor exclusivo e total do seu coração. “É então
que o homem conquista o supremo cume, o vértice do testemunho cristão: Tornando
livre de um modo singular o coração humano (...) a virgindade testemunha que o
Reino de Deus e a sua justiça são aquela pérola que devemos preferir a qualquer
outro valor”.
Porém, apesar disso, houve vários avanços e recuos na
aplicação desta prática eclesiástica, nomeadamente entre o clero secular,
chegando até mesmo a haver alguns Papas casados, como por exemplo, o Papa
Adriano II (867-872). No século XI, vários Papas, especialmente Leão IX
(1049-1054) e Gregório VII (1073-1085), esforçaram-se novamente por aplicar com
maior rigor as leis do celibato. Isto ocorreu devido à crescente degradação
moral do clero, causada em parte pela confusão instaurada pelo desmembramento
do Império Carolíngio. Naquele período, houve padres e bispos que chegaram a demonstrar
publicamente que tinham esposas ou concubinas. Segundo fontes históricas,
durante o Concílio de Constança (1414-1418), 700 prostitutas atenderam
sexualmente os participantes. Por fim, o Primeiro
Concílio de Latrão (1123) e o Segundo
Concílio de Latrão (1139) condenaram e invalidaram o concubinato e os
casamentos de clérigos. Pelo uso da força como “aparelho de estado” secular reforçando
assim o celibato clerical, “que já era na altura uma prática frequente e aceite
pela maioria como necessária”. O celibato é defendido porque os celibatários
era livres e disponíveis. Com o tempo, o clero regular se foi destacando
em relação ao clero secular. O celibato clerical voltou ainda a ser defendido
em força pelo Quarto Concílio de Latrão (1215) e pelo Concílio de Trento
(1545-1563), que impôs definitivamente o celibato obrigatório a todo o clero da
Igreja Latina, incluindo o clero secular.
Foi na base do terrorismo de colonização, feito entre nós no Brasil, na Índia e em África,
que se impôs a paz cristã, que se sujeitou todo o gentio à lei dos colonos.
Tirar o medo aos cristãos, senhorear o gentio pela guerra, amedronta-lo com
grandes ameaças, domá-lo e metê-lo no jugo e sujeição, tomar suas terras e
roças e reparti-las pelos colonos. Aí está um quadro sumário dos contatos
luso-indígenas do primeiro século, que ensopou nosso terá de sangue, como narra
Francisco Adolfo de Varnhagen, apesar dos esforços da catequese jesuítica,
sempre mais lembrada e louvada porque é a história triunfante e oficial. A
colonização portuguesa no Brasil teve como principais características:
civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar. Sabemos que os
termos “civilizar”, “explorar”, “exterminar”, “conquistar” e “dominar” estão ligados às relações de poder de determinada civilização sobre
outra, os portugueses submetendo ao domínio e conquista os indígenas. Já os
termos explorar, povoar remete-se à exploração e povoamento do novo território
(América).
Perseguições políticas e perseguições religiosas, discriminações
raciais, com censura, absolutismo, falta de ensino, de imprensa, somam-se aos
excessos dos castigos exemplares dados às maiorias conservadas sempre em estado
de “minoridade política e civil”. Abusos das autoridades, lutas entre governadores
e magistrados, a corrupção e relaxação das minorias dirigentes – os governos
longos, de trinta, de vinte e cinco, de quinze anos não são exceção – dão ipso
facto à História geral do Brasil, escrita, como é sabido por um conservador, um
sentido revelador. Ou seja, não é surpresa que um homem tão solidamente
fortificado na sua ideologia conservadora e na sua política pragmática, como Francisco
Adolfo de Varnhagen, que vimos estudando hic et nunc, mas que com sabedoria jamais situou o debate no terreno abstrato e absoluto da
Justiça, mas no da convivência e da utilidade, como observou o historiador Capistrano
de Abreu, “deixasse ocultas as fraquezas essenciais do colonialismo”.
Tais ameaças fizeram com que a política colonial portuguesa
fosse modificada. No ano de 1530, o expedicionário Martim Afonso de Sousa
fundou o primeiro centro de exploração colonial no litoral do atual Estado de
São Paulo. Essa primeira ocupação deu origem à Vila de São Vicente que, tempos
depois, teria a companhia de outros focos de ocupação localizados na região do
Planalto de Piratininga. Muitos dos primeiros habitantes eram degredados e
desertores que viviam marginalizados no Velho Continente. O sistema de
capitanias, bem sucedido nas ilhas da Madeira e de Cabo Verde, foi inicialmente
implantado no Brasil com a doação da Ilha de São João, atual ilha de Fernando
de Noronha, por Carta Régia de Dom Manuel I (1495 - 1521), datada de 16 de fevereiro
de 1504, que doou a Fernando de Noronha, arrendatário do contrato de exploração
do pau-brasil, o “Caesalpinia echinata”, constituindo a capitania de São João,
sem qualquer efeito na prática, uma vez que não há notícia de sua colonização à
época. Os descendentes de Noronha continuaram herdando o título de
posse da capitania até ao seu último representante, João Pereira Pestana, em
1692.
Se, de modo geral, prevalece da parte do povo o “espírito
de conciliação”, que se manifesta na unidade linguística, na mestiçagem, na
tolerância racial e nas acomodações que atenuam os antagonismos socais, seria
falso sustentar que seu comportamento foi sempre conformista. Listas sociais
sem fim e com grande derramamento de sangue demonstram as divisões
inconciliáveis e os comportamentos inconformistas. A Guerra dos Bárbaros (1688-1691) prossegue as campanhas de
extermínio indígena do primeiro século. Travadas no estado do Rio Grande do
Norte, quando os índios resistem à expropriação de suas terras, e terminadas
com terrível morticínio, condenado pelas autoridades eclesiásticas, elas
prosseguem e se efetuam em todo o país. Prossegue no século XVIII com a “guerra
do gentio Paiaguá” (1732-1736), ordenada por provisão régia, mais tarde
repetida contra todos os índios bravos, especialmente os botocudos, em 1808. As
guerras ofensivas no Mato Grosso, em Goiás e Minas Gerais exterminaram os
grupos indígenas, e não só por isso também, Capistrano de Abreu escreveu ao
estudar o povo sertanejo, muito mais importante que os episódios da ocupação da
costa, que “os alicerces assentaram sobre sangue, com sangue se foi amansando e
ligando o edifício e as pedras se desfazem, separam e arruínam”.
As lutas políticas sangrentas pela posse da terra,
pela expulsão indígena, de latifundiários e destes com os sertanejos fizeram
também correr muito sangue. Foi somente em 1699 que se tentou impor ordem
àquele campo de batalha cotidiano. O crime no sertão, onde reinou sempre mais
respeito pela propriedade que pela vida, afirma José Honório Rodrigues, “as
lutas de famílias oligárquicas mancharam de sangue os alicerces sociais e com
sangue se foi formando a consciência política”. Não
foram menores a violência, a crueza e o sangue das guerras contra quilombos
negros, mineiros, baianos, cariocas, pernambucanos; o de Palmares suportou 17
expedições punitivas, na última das quais, em 1694, foi cercado por 3.000
homens, e custaram inumeráveis vítimas e muito sangue; quilombolas do Rio de
Janeiro, no século XVII, foram também afogados em sangue. Revoltas populares de
colonos contra excessos fiscais, favores e privilégios foram suprimidas
cruentamente, como no Rio de Janeiro, em 1660, quando foi enforcado Jerônimo
Barbalho e sua cabeça foi exposta no pelourinho; como no Maranhão,
em 1684, quando Manoel Bequinho e Jorge Sampaio foram decapitados e Francisco
Dias Deiró foi supliciado em efigie.
Neste
aspecto, para lembrarmo-nos de Nietzsche, a mentira sagrada inventou
assim um Deus que pune e recompensa,
que aprova, em todos os detalhes, o livro de leis do sacerdote que os envia,
exatamente, como seus porta-vozes e procuradores do mundo; - um além da vida, no qual somente se pensa
efetiva a grande máquina-punitiva, - a esse fim serve a imortalidade da alma; a consciência
moral [Gewissen] no homem, ser
consciente daquilo que institui bem e mal. – que Deus em pessoa fala aqui,
quando ela aconselha a conformidade com a prescrição sacerdotal; a moral como
negação de todo processo natural, como redução de todo o acontecer moralmente
condicionado, o efeito moral (isto é, a ideia recompensa e punição) como o que
perpassa o mundo, como uma força isolada, como creator de toda mudança; - a verdade como algo oferecido, revelado, coincidindo com a doutrina do sacerdote: condição de toda
salvação e felicidade, nesta e na outra vida (cf. Nietzsche, 2008: 100).
Observa Michel de Certeau que à inauguração de uma
nova prática escriturística, marcada no céu do século XVIII pela insalubridade
laboriosa de Robinson Crusoé, pode então comparar a sua generalização assim
como é representada pelas máquinas fantásticas cujas figuras vão aparecer, por
volta de 1910-1914, nas obras de Alfred Jarry (“O supermacho, 1902; “O Doutor
Faustroll, 1911), Raymond Roussel (“ Impressões da África”, 1910; “Locus Solus”,
1914), Marcel Duchamp (“Le Grand Verre: A casada desnudada por seus celibatários,
mesmo, 1911-1925), Franz Kafka (“A Colônia Penas, 1914), etc.: mitos que falam
do encerramento nas operações de uma escritura que se maquina indefinidamente e
não encontra nunca a não ser a si mesma. Só há saídas em ficções, janelas
pintadas, espelhos de vidro. Só há brechas e rompimentos escritos. São comédias
de desnudamentos e torturas, relatos “autômatos” de desfolhamentos de sentidos,
estragos teatrais de rostos decompostos. Essas produções têm um ar fantástico, “não
pela indecisão de um real que mostrariam nas fronteiras da linguagem, mas pela
relação entre dispositivos produtores de simulacros e a ausência de outra coisa”
(cf. Carrouges, 1954; Deleuze e Guattari, 1973; Certeau, 2013: 221; ). O voto faz com que o eleitor tenha um “lado” à
esquerda ou à direita. Mesmo sem partido definido na politica, como no futebol, o eleitor sabe escolher seu candidato na medida e de
acordo com sua inclinação ideológica.
Historicamente, a origem do partido político pode remontar à primeira metade do século XIX, na
Europa e nos Estados Unidos. É o momento da afirmação do poder da classe
burguesa e, de um ponto de vista político, é o momento da difusão das
instituições parlamentares ou da batalha [das ideais] política pela sua
constituição. Na Inglaterra, o país das mais antigas tradições parlamentares,
os partidos aparecem com o Reform Act
de 1832, o qual, ampliando o sufrágio, permitiu que as camadas industriais e
comerciais do país participassem, juntamente com a aristocracia, na gestão dos
negócios públicos. Tratava-se de simples etiquetas atrás das quais estavam os
representantes de um grupo homogêneo, não dividido por conflitos de interesses
ou por diferenças ideológicas substanciais, que aderiam a um ou a outro grupo,
sobretudo por tradições locais ou familiares. Como afirma Max Weber, eles não
eram mais do que séquitos de poderosas famílias aristocráticas tanto que “toda
a vez que um Lord, por qualquer motivo, mudava de partido, tudo o que dele
dependia passava, na mesma hora, para o partido oposto”. Depois do Reform Act começaram a surgir, no país,
algumas estruturas organizativas que tinham de ocupar-se da execução
prevista pela lei para a eleição do Parlamento e de recolher votos em favor
deste ou daquele candidato.
Precisamente por seus objetivos essencialmente
eleitorais, a participação dos inscritos na formulação da plataforma política
do partido é de natureza formal: mais do que o debate político de base, a
atividade crucial do partido é a escolha dos candidatos para as eleições, que
devem corresponder a toda uma série de requisitos aptos para aumentar o
potencial eleitoral do partido. Por esta razão, ganham ainda importância os
notáveis, que, precisamente pelo fato de ocuparem posições-chaves na sociedade
civil, podem procurar para o partido grande clientela e fornecer parte dos
meios econômicos necessários para o financiamento da atividade eleitoral. Ao
mesmo tempo, a conquista das posições de poder político e a gestão dos negócios
públicos a nível nacional e local faz aumentar os recursos eleitorais dos
partidos que a partir dessas posições podem corresponder às exigências de
variados grupos da população e merecer seu apoio. Por que o voto é obrigatório
no Brasil? Há argumentos favoráveis e contrários a esse falso dever que voltam
à discussão em períodos de campanha. Se o Brasil, sétima potência econômica do
mundo, com uma democracia reconhecida por todos, onde existe a separação dos
três poderes, continua entre os 24 países que ainda obrigam a votar, significa,
no mínimo, uma clara anomalia democrática.
A última vez
que a pesquisa Datafolha, há quatro
anos, publicou os índices de brasileiros que prefeririam que o voto fosse
facultativo, ficou claro que a grande maioria (64%) achava que “o voto não
fosse obrigatório na sociedade brasileira”. E entre esses 64% figuravam,
sobretudo os mais instruídos e os jovens. Não seria suficiente esse índice, que
certamente hoje seria ainda maior, para que se incluísse na reforma política a
liberdade de votar? Como se fosse pouco, outra pesquisa indicou que 30% dos
eleitores já tinha esquecido o nome do candidato votado 20 dias depois de ir às
urnas. Será esse o fruto da obrigatoriedade do voto? Como escreveu Nicolás
Ocarazán: - “O voto obrigatório é uma maneira desesperada de tentar que os
apáticos votem. Mas se a política é incapaz de seduzi-los pela via das ideias,
para que obrigá-los a participar em um sistema incapaz de ser representativo e
participativo?”. A intolerância dos políticos ao voto facultativo,
ao contrário da maioria dos países do mundo, poderia levar a
pensar que mais que da defesa de um direito trata-se de interesses
inconfessáveis que pouco têm a ver com a defesa dos valores da plena
democracia. Bibliografia geral consultada.
CARROUGES, Michel, Les
Machines Célibataires. Paris: Éditions Arcanes, 1954; PORTILLO, Álvaro del,
O Sacerdote no Vaticano II. Lisboa:
Editor Aster, 1972; DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix, El Antiedipo, Capitalismo y Esquizofrenia. Barcelona: Editorial Grijalbo,
1973; CARROUCHES, Michel, Les Machines Célibataires. Paris: Editeur Arcanes; Chênes, 1976; BOATTO, Alberto, De la guillotine considérée comme une machine célibataire. Marseilhe: Édition Via Valeriano, 1989; SADA,
Ricardo e MONROY, Alfonso, Curso de
Teologia Moral. Lisboa: Editor Rei dos
Livros, 1998; EVANS, Geoffrey, “Class Inequality and the Formation of Political
Interests in Eastern Europe”. In: European
Journal of Sociology, vol. 38, 1997; Idem, (org.), The End of Class Politics? Class Voting in Comparative Context. Oxford:
Oxford University Press, 1999; Idem, “The Continued Significance of Class
Voting”. In: Annual Review of Political
Science, vol. 3, 2000; MAGDALENA, Enrique Miret, “La Azarosa Historia del
Celibato Clerical”. In:
Jornal El País, 26 de março de 2002;
NIETZSCHE, Friedrich, A Vontade de Poder.
Rio de Janeiro: Editor Contraponto, 2008; DOSSE, François, Gilles Deleuze & Félix Guattari: biografia cruzada. Porto Alegre: Artmed Editora, 2010; JARRY, Alfred, O Supermacho. Vila Nova de Gaia: Eudeia Editora Nova Lello, 2011; CERTEAU, Michel, “As Máquinas
Celibatárias”. In: A Invenção do Cotidiano.
Artes de fazer. 20ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2013; AGAMBEN,
Giorgio, El Hombre sin Contenido.
Barcelona: Ediciones Altera, 1998; Idem, Il
Fuoco e il Racconto. Roma: Editorial Nottetempo, 2014; entre outros.
_______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“A burrice não
tem fronteiras ideológicas”. Roberto Campos
Roberto
de Oliveira Campos nasceu em Cuiabá, em 17 de abril de 1917 e faleceu no Rio de
Janeiro, em 9 de outubro de 2001. Foi um economista, professor, escritor,
diplomata e político brasileiro. Nascido em Mato Grosso, oriundo de uma família
de origem humilde, formou-se em Filosofia e Teologia em um seminário católico,
seguindo a carreira diplomática após ser aprovado no concurso do Itamaraty. Foi
nomeado cônsul de terceira classe em Washington, e, nesta cidade, se formou em
Economia pela Universidade George Washington. Pouco tempo foi promovido a
cônsul de segunda classe, e designado segundo secretário de Washington. Fez
parte da delegação brasileira da Conferência de Bretton Woods, que criou
o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Fez parte da representação do Brasil nas Nações Unidas em Nova Iorque, onde fez a sua
Pós-Graduação em Economia pela Universidade de Colúmbia. No período em que
permaneceu nos Estados Unidos da América, foi membro da delegação brasileira em
diversas reuniões e conferências internacionais.
Mais
tarde, tornou-se parte da assessoria econômica do presidente Getúlio Vargas
(1882-1954), sendo um dos idealizadores da Petrobras, autarquia que havia sido
inicialmente pensada como empresa mista sob controle majoritário do Estado ao
invés de um monopólio estatal. No Governo Juscelino Kubitschek (1902-1976), foi
um dos Presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
e teve uma participação importante no Plano de Metas. Após o Golpe de Estado de
1º de abril de 1964, foi ministro do Planejamento durante o governo de Humberto
de Alencar Castelo Branco, quando promoveu muitas reformas econômicas. Foi um
dos idealizadores do BNDES, Banco Central do Brasil, Estatuto da Terra e do Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Em 1982, foi eleito senador pelo seu estado
natal, Mato Grosso. Em 1990, ao invés de disputar a reeleição como senador,
preferiu se candidatar a deputado federal pelo Rio de Janeiro, tendo sido
eleito naquele ano e reeleito em 1994. Em 1998, Roberto Campos disputou as
eleições por uma cadeira no Senado Federal, também pelo Rio de Janeiro, mas Saturnino
Braga ficou à frente na disputa por uma diferença de 5% dos votos. Em 23 de setembro
de 1999, foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Faleceu de um
infarto agudo do miocárdio no dia 9 de outubro de 2001, no Rio de Janeiro.
De
acordo com a crítica o termo “BBB” foi usado por Kokay pela primeira vez em uma
reunião da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara no início do ano, e arrancou risadas dos
colegas. A expressão não tardou a se difundir entre parlamentares de partidos políticos
de esquerda, que também identificam nessa articulação uma ameaça aos direitos
humanos e das minorias. - “Desde a discussão do Código Florestal, em 2012, os
ruralistas buscam essa aproximação com os evangélicos. Logo depois, eles
estavam unidos em torno da PEC 215, que retira do Executivo a prerrogativa de
demarcar Terras Indígenas, transferindo-a para o Congresso. Mais recentemente
agregaram a Bancada da Bala”, afirma o deputado Ivan Valente, do PSOL. - “Com
Eduardo Cunha na presidência da Câmara, essa aliança consolidou-se. Até porque
esses grupos ajudaram a elegê-lo”. - “É um retrocesso para a árdua história de conquista dos nossos direitos”, afirma o índio Lindomar Terena. Para ele, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que altera o procedimento de demarcação de terras, deixará as populações indígenas ainda mais vulneráveis. - “O agronegócio tem avançado para cima do nosso território. Não existe vontade política para demarcar as terras, então quem vai sempre tombar nessa luta são os índios”, lamenta Lindomar Terena, que é um dos coordenadores do movimento social Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Aprovada por uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados, a PEC 215 tira do Executivo e passa para o Congresso a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e a criação de unidades de conservação ambiental. O texto ainda proíbe a ampliação de terras indígenas já demarcadas e prevê indenização aos proprietários. - “A bancada ruralista, que representa grandes corporações nacionais e multinacionais do agronegócio, quer impedir e inviabilizar todo e qualquer novo reconhecimento de território indígena no país. Se for aprovada em definitivo, a lei representará um risco de genocídio dos povos originários do Brasil nos próximos anos”, afirma Cleber Buzatto, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Em seu parecer, o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da PEC, argumenta que é necessário dar mais poder de decisão aos estados e “instaurar um maior equilíbrio” sobre as atribuições da União. O parlamentar diz que a demarcação tem “impacto significativo” e compara o reconhecimento de terras indígenas por órgãos técnicos do governo a uma “intervenção federal”.
Somados
as bancadas dos chamados BBB dispõem de 40% dos votos da Câmara, mas são
capazes de formar maioria com tranquilidade, diz André Luís dos Santos, do
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). - “Eles não têm
dificuldade para angariar apoio de outros blocos, até por ocuparem postos-chave
na estrutura de poder da Casa”. Na política do Brasil, a chamada “bancada
da bala” é o nome pelo qual é conhecida a frente parlamentar composta por
políticos ligados à indústria de armas, ex-policiais e militares de modo geral.
No nível federal, a bancada se movimentou para alterar o “Estatuto do
Desarmamento” através da propositura de 41 projetos, dentre os quais constava o
do parlamentar Rogério Mendonça (PMDB-SC), que propôs a revogação total do
Estatuto. Contudo, não é apenas no Congresso Nacional que o grupo se faz
presente. Na Câmara Municipal de São Paulo, assumiram no ano de 2013 os
vereadores Álvaro Camilo (PSD), ex-comandante-geral da PM, Paulo Telhada
(PSDB), ex-comandante da ROTA, e Conte Lopes (PTB), capitão aposentado que atuou
na Rota e foi deputado estadual. Na Câmara, a bancada pressiona para criar
Comissão de Segurança, desmembrando assim a Comissão de Direitos Humanos. O
deputado Federal Major Olímpio (PDT-SP) também representa a Segurança Pública (“Bancada
da Bala”) na Câmara dos deputados. Ex-deputado estadual por dois mandatos, encabeça o movimento pela redução da maioridade penal, pelo aumento de
pena nos crimes cometidos por agentes da lei e pelo fim da saída temporária de
presos condenados.
O
conceito de “guerra de posição” faz parte da teoria da hegemonia política e responde à exigência
de definição das características históricas novas da luta política no mundo
depois da 1ª Grande Guerra e da Revolução de Outubro de 1917.- “A passagem da guerra
manobrada à guerra de posição”, afirma Gramsci, surge “como a questão de teoria
política mais importante colocada pelo período do pós-guerra e a mais difícil
de ser resolvida corretamente”. A “revolução em dois tempos”, ele havia afirmado
no final dos anos vinte num célebre artigo do jornal italiano “Ordine Nuovo”
com o artigo: “Due Rivolucioni”, isto é, a conquista do Estado numa batalha
campal definitiva e o empenho da maquina estatal para transformar coercitivamente
a sociedade, não pode se constituir no arquétipo da revolução proletária. A
Revolução de Outubro de 1917, portanto, era considerada a última revolução do século
XIX. A passagem na qual o conceito de “guerra de posição sob o terreno
político” é formulado da maneira mais expressiva faz referência – da mesma
forma quando o teórico político e socialista Antônio Gramsci enuncia a
concepção de hegemonia – à disputa que havia contraposto Lênin com a tática da
“frente única” a Leon Trotsky com a teoria da “revolução permanente” a respeito
dos modos de se desenvolver a luta revolucionária depois do “grande ato metafísico”
de Outubro.
Nessa
frente, a ala de congressistas mais numerosa é a ruralista, formada por 109
deputados e 17 senadores da República,
segundo a “Radiografia do Novo Congresso”, atualizada a cada nova legislatura
pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). Após Kátia
Abreu assumir o Ministério da Agricultura, o aparente oposicionista Ronaldo
Caiado, do DEM, emergiu como uma das principais referências da chamada Bancada
do Boi no Senado. Campeão de votos no Rio Grande do Sul, Luís Carlos Heinze, do
Partido Progressista (PP), mantém a liderança do grupo na Câmara. A Bancada da
Bíblia (cf. Braga, 2014), por sua vez, aumentou quantitativamente de 73 para 75
o número de deputados eleitos, além de preservar três senadores, registra
estatisticamente o (DIAP). O pastor Marco Feliciano, do PSC, quase dobrou a
quantidade de votos obtidos de 2010 para 2014, e segue como uma referência
política. Mas é o peemedebista Eduardo Cunha, fiel da Igreja Sara
Nossa Terra, fundada em 1992 pelo bispo Robson Rodovalho e sua mulher, Lúcia
Rodovalho, a Sara Nossa Terra tem sede em Brasília e segue a doutrina da chamada Teoria
da Prosperidade, vertente religiosa que defende, em linhas gerais, que os fiéis podem aumentar a sua riqueza material de forma proporcional às doações que fazem à igreja, quem ocupa o palco, por definir o que entra na pauta da Câmara. A
bancada ruralista é atuante na hora de contrapor-se a Projetos de Lei sociais
com o objetivo de promover a Reforma Agrária. Foi para barrar as normas
constitucionais, na Assembleia. Presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária, deputado Luís Carlos Heinze, “sugere a ação armada dos
agricultores contra índios e ofende minorias”. Foto da Agência Câmara.
Em
2005, na Comissão Parlamentar de Inquérito da Terra, conseguiu derrotar o
Relatório final apresentado pelo relator da CPI e aprovar outro de acordo com
os seus interesses. A bancada ruralista, por pressões junto ao Poder Executivo,
vêm conseguindo sucessivas concessões para o pagamento das dívidas rurais, com
alongamento de prazos, redução ou dispensa de juros e linhas de crédito
favorecidas nos bancos oficiais. Também tem tido êxito na defesa dos alimentos
transgênicos, contra os quais se colocam inúmeras entidades de proteção ao meio
ambiente. Dentre as atividades da bancada, segundo seus críticos,
destacar-se-ia sua atuação para impedir o efetivo combate ao trabalho escravo
nas fazendas, e sua feroz oposição a quaisquer medidas de preservação da
ecologia e do meio ambiente, bem como o patrocínio de um projeto de lei em
tramitação no Congresso nacional, já aprovado no Senado, que aumenta em 150% o limite
legal para desmatamentos nas fazendas da Amazônia e dá anistia aos fazendeiros
que já desmataram, ilegalmente, suas propriedades nos últimos sete anos. Uma
tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo (USP) pelo cientista político Leonardo Sakamoto
estabeleceria uma relação política entre a morosidade na apreciação dos projetos
antiescravagistas e as doações de campanha eleitoral. Segundo ele, empresas
agropecuárias acusadas de utilizar trabalho escravo, seus donos e parentes
fizeram doações nas eleições de 2002 e 2004 que ajudaram a eleger dois
governadores, cinco deputados federais, três deputados estaduais, três prefeitos
e um vereador.
Vale lembrar que Leonardo
Sakamoto é um jornalista brasileiro com sólida formação acadêmica. Além da
graduação em jornalismo, possui mestrado (2003) e doutorado em Ciência Política
(2007) pela Universidade de São Paulo (USP). Cobriu conflitos armados e o
desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste (1998), Angola (1999) e no
Paquistão (2007) e retratou problemas sociais em reportagens realizadas por
todo o país. Diretor da ONG Repórter Brasil, foi seu representante na Comissão
Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Atuou como conselheiro do
Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão, em Genebra (2014-2020),
e como comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão para o Setor
Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos
(2018-2019). Foi
Visiting Scholar do Departamento de Ciência Política da New School for
Social Research, em Nova Iorque (2015-2016). Sakamoto foi professor de
Jornalismo na Universidade de São Paulo (2000-2002) e é professor de Jornalismo
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É comentarista do
Jornal da Cultura, da TV Cultura e colunista da New Internationalist, no
Reino Unido. Escreve diariamente sobre política e direitos humanos em sua
coluna no portal UOL.
Em 2017, Leonardo Sakamoto recebeu o prêmio Hero
Acting to End Modern Slavery Award, do Departamento de Estado dos Estados
Unidos da América, por sua luta contra a escravidão contemporânea. Em 2016, foi
indicado ao prêmio Repórteres sem Fronteiras pela Liberdade de Imprensa, por
conta de sua cobertura diária das violações aos direitos humanos e das ameaças
e agressões que sofreu em decorrência de seu trabalho. Por
conta de sua atuação como jornalista na área de direitos humanos e de ativista
no combate ao trabalho escravo contemporâneo, Leonardo Sakamoto tem sido vítima
de ameaças de morte e agressões. Por conta disso, o Ministério Público Federal
demandou apuração dessas tentativas de intimidação de seu trabalho em 2016. Dois
anos depois, ele sofreu nova onda de ataques virtuais por conta do surgimento
de fake news, via redes sociais, dando conta de que ele seria dono de
agências de checagem de notícias e que estaria com uma parceria com empresas de
redes sociais visando a censurar pessoas e grupos. Em função disso, o
jornalista foi novamente ameaçado de morte. O Ministério Público Federal
demandou nova apuração sobre o caso.
A Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA), a bancada ruralista vem crescendo desde 2015. Ele
analisou ainda a participação de três deputados federais, um estadual e três
prefeitos entre proprietários e/ou parentes de ruralistas donos de fazendas
autuadas por suposta utilização de força de trabalho que tem como componente o escravo.
A bancada ruralista, uma das mais eficientes do Congresso, cresceu nas eleições
de 2010 e terá sua capacidade de atuação ampliada nas discussões, articulações
e negociações de políticas públicas do setor no âmbito do Poder
Legislativo. Levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) demonstra a reeleição ou eleição de 158 parlamentares que priorizaram em
2011, a agenda do setor rural. Dos 158 parlamentares ruralistas, 91 são
deputados reeleitos e 49 deputados novos. Há ainda 18 senadores, sendo dez
atuais com mandato até completar o ano de 2015, seis novos e dois reeleitos que
cumprirão mandato até 2019. Na atual legislatura, o DIAP identifica 120
parlamentares na defesa de interesses liberais conservadores da agenda ruralista, com aumento
de apenas três a mais que a quantidade da legislatura passada, mas que contava
com 117 representares do setor empresarial rural.
O
Departamento classifica como integrante da bancada ruralista aquele parlamentar
que, mesmo não sendo proprietário rural ou da área econômica de agronegócios, assume sem
constrangimento a defesa dos pleitos da bancada, não apenas em plenários e nas
comissões, mas em entrevistas à imprensa e nas manifestações de plenário. Enquadra-se
nessa classificação o deputado reeleito Ônix Lorenzoni (DEM-RS), que mesmo não
sendo dono de propriedade rural, atua e defende o setor rural na Comissão de
Agricultura, principal colegiado da Câmara para onde convergem as demandas do
setor rural. Além de Ônix, outros 21 deputados reeleitos integram atualmente a
comissão permanente. De composição pluripartidária, a bancada tem sido um
exemplo de grupo de interesse e de pressão bem sucedido. O perdão de dívida é
pauta constante dos ruralistas. Sempre que existe uma matéria relevante para
votar, a bancada exige o perdão ou renegociação de dívidas sob a pena de votar
contra o governo. A bancada ruralista na Câmara dos Deputados ganhou novos
adeptos como o arrozeiro Paulo Cezar Quartiero (DEM-RR), porta-voz e defensor
dos agricultores na demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Outro
nome comemorado entre os ruralistas é o deputado federal Irajá Abreu (DEM-TO),
filho da presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e senadora
ruralista reeleita, Kátia Abreu (DEM-TO). Entre os líderes ruralistas reeleitos
o deputado Homero Pereira (PR/MT), que liderou em 2005 o “tratoraço” e o bem organizado
movimento político “locaute ruralista” quando fechou arbitrariamente rodovias à revelia dos
poderes públicos pelo país afora em maio de 2006.
Em
vídeo gravado durante uma audiência em
Vicente Dutra (RS), parlamentares como os deputados Luís Carlos Heinze (PP-RS)
e Alceu Moreira (PMDB-RS) não só incitam a violência com o uso de armas de fogo
contra lideranças indígenas que tentam retomar suas terras invadidas historicamente
por fazendeiros, grileiros e madeireiros. Além disso, insultam nas relações de
gênero gays e lésbicas, e reforçam o discurso inverossímil acerca da demarcação
de terras indígenas para os produtores rurais. Nas imagens, os parlamentares racistas
se referem aos índios, quilombolas e homossexuais como “tudo o que não presta”,
e estimulam agricultores a usarem de segurança armada para expulsar indígenas
do que consideram serem suas terras. - “Nós,
os parlamentares, não vamos incitar a guerra, mas lhes digo: se fartem de
guerreiros e não deixem um vigarista desses dar um passo na sua propriedade.
Nenhum! Nenhum! Usem todo o tipo de rede. Todo mundo tem telefone. Liguem um
para o outro imediatamente. Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito
que for necessário”, disse o deputado Alceu Moreira, utilizando metáforas de guerra vinculadas ao militares golpistas de 1964. - “A própria baderna, a
desordem, a guerra é melhor do que a injustiça”.
Na
tentativa de colocar o público contra o próprio governo, de cuja base eleitoral
o seu partido (PMDB) faz parte, ele afirma que o “movimento pela demarcação de
terras indígenas” seria uma “vigarice orquestrada” pelo ministro da Secretaria
Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Moreira diz também que
tal movimento seria patrocinado pelo Ministério Público Federal, o qual,
segundo ele, defenderia a “injustiça”. Ao contrário do que sugere, porém, a
demarcação de terras indígenas é direito previsto na Constituição Federal, e o
governo Dilma é notadamente o que menos demarcou terras desde a Ditadura
Militar. O parlamentar é presidente da Federação Estadual de Agricultura de
Mato Grosso. A bancada ruralista é majoritariamente masculina, pois apenas
cinco mulheres frequentam esse seleto grupo conservador. São elas as novas
deputadas federais Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha do ex-senador e
ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, e Iracema Portela (PP-PI), esposa do
deputado federal e senador eleito Ciro Nogueira (PP). Completam o grupo as
senadoras reeleitas Kátia Abreu (DEM-TO) e Lúcia Vânia (PSDB-GO). No Senado, a
força política e estratégica do agronegócio será ainda maior na próxima legislatura com a chegada dos
ex-governadores Blairo Maggi (PR-MT), Ivo Cassol (PP-RO), Luiz Henrique
(PMDB-SC), Marcelo Miranda (PMDB-TO) e o grupo do deputado federalBenedito
de Lira (PP), que obteve apoio quando foi eleito para seu primeiro mandato de
senador pelos próceres da chamada república [do estado] de Alagoas.
Um
antigo flerte entre as duas bancadas mais representativas do Congresso
está virando casamento. Evangélicos e
ruralistas estão concretizando uma frente conjunta para votar dois dos projetos
mais sensíveis aos interesses do governo – e também dos setores que
representam: a Lei Geral da Copa do Mundo de Futebol e o novo Código Florestal.
Juntas, as duas bancadas podem reunir 170 votos, o que representa 33% do
parlamento. É quase o dobro da bancada do Partido dos Trabalhadores (85 deputados), a maior da Casa. A
fidelidade à bancada, quando o assunto é pauta, é maior até mesmo do que ao
partido. O que pode significar um esfacelamento ainda maior da base do governo.
Já os ruralistas se opõem a itens do novo Código Florestal aprovado no Senado e
ambicionam retornar para a primeira versão aprovada na Câmara na primeira
derrota da presidenta Dilma Rousseff na Casa, em 2011. Para o governo, no
entanto, o projeto sancionado pelos senadores é o texto mais próximo de um
consenso entre ruralistas e ambientalistas. A Conferência sobre o Meio Ambiente
Rio+20, aumentou a pressão para aprovar
um código dos defensores da natureza. - “O governo terá de se preocupar”,
afirma o deputado João Campos (PSDB-GO), expoente do grupo evangélico que articula
com Moreira Mendes (PSD-RO), representante do agronegócio na política.
Kátia
Abreu, foi ministra da Agricultura no governo Dilma Rousseff (PT) enquanto senadora
pelo PMDB do Tocantins e presidente da Confederação
Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ela foi a primeira mulher a
assumir a presidência da entidade. E ainda a primeira mulher a ser escolhida
para presidir a bancada ruralista no Congresso Nacional. Em 1998, foi eleita
pelo antigo PFL do Tocantins primeira suplente na Câmara dos Deputados. Assumiu
a cadeira por dois anos, tendo comandado a bancada ruralista na Casa. Kátia Abreu
cumpriu mandato como deputada federal entre 2000 e 2006 e foi eleita senadora
pela primeira vez em 2006. Em 2010, recebeu o prêmio-ironia “motosserra de
ouro” concedido pela reconhecida organização ambientalista Greenpeace “por sua
defesa ferrenha de mudanças no Código Florestal, em prol de mais desmatamentos
no Brasil”. A senadora recebeu do Greenpeace na manhã desta quarta-feira, em Cancún, o prêmio “Motosserra de Ouro”. Segundo o site oficial da Organização Não-Governamental (ONG), o “prêmio” é um símbolo “de sua luta incansável pelo esfacelamento da lei que protege as florestas do país”, referindo-se à proposta do novo Código Florestal do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que, se aprovada, vai abrir novas concessões a desmatadores. A bancada ruralista do Congresso, da qual a senadora faz parte, tem procurado apressar a votação da nova proposta na Câmara dos Deputados. Na questão da demarcação de terras indígenas a senadora se pronuncia a favor dos produtores rurais. Os rumores de sua
indicação provocaram críticas dentro do PT e entre críticos ambientalistas. Deixou o DEM
(ex-Partido da Frente Liberal) em 2011 para ingressar no PSD, partido do ex-prefeito de São Paulo
Gilberto Kassab. Trocou de partido em 2013 filiou-se ao PMDB, quando disputou a
reeleição ao Senado em 2014. É uma empresária, pecuarista e política filiada ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). Foi a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento durante o segundo governo de Dilma Rousseff. Em 1998, Kátia Abreu disputou pela primeira vez uma cadeira na Câmara dos Deputados, ficando como primeira suplente. Assumiu a vaga em duas oportunidades entre abril de 2000 e abril de 2002. Foi escolhida para presidir a Bancada Ruralista no Congresso Nacional, sendo a primeira mulher no país a comandá-la, que na época contava com 180 integrantes. Em 2002, foi efetivamente eleita para a Câmara dos Deputados com 76.170 votos, a mais votada no Estado do Tocantins. Em 2006, concorreu e venceu a eleição a uma vaga ao Senado Federal, derrotando Siqueira Campos, que tentava a reeleição. Em 2007, criticou a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), criticando ainda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ex-líder sindical e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 2009, figurou entre as cem personalidades mais influentes do Brasil, numa lista publicada pela edição especial da Revista Época. Dentre as 100 personalidades destacam-se 30 políticas, dentre os quais somam 5 senadores. Em 2010, em entrevista a revista Veja a senadora, fez críticas as políticas para o agronegócio dos ministérios do trabalho, desenvolvimento agrário e meio ambiente do governo democrático de Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em 2011, torna-se aliada ao governo Dilma Rousseff. Em 2016 permaneceu mais fiel à Dilma Rousseff que ao partido onde se situa: - “Outros, como Katia Abreu, são considerados mais fiéis à presidente que ao partido, a ponto de considerarem uma troca de legenda para permanecer ao seu lado” e "A ministra Kátia Abreu é uma política sem teto. O PMDB, partido que a abriga, o faz obrigado pelas contingências, da mesma forma como ela está presa ao governo Dilma”. Em abril de 2016, o presidente em exercício do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o senador Romero Jucá, confirmou em nota que faz questão de solicitar a Comissão de Ética o processamento com a maior rapidez possível para a satisfação da base partidária e dos representados. Com isso a Senadora Kátia Abreu, pode ser expulsa do partido, por recusar a entregar seu cargo. Em agosto de 2016, começou a possibilidade dela ser expulsa do PMDB, inclusive como “paralelo do caso dela com o de Roberto Requião, outro senador do PMDB que votou contra o impedimento da ex-presidente”; e supostamente, “processo deve começar em breve”. Em dezembro de 2016, votou contra a PEC do Teto dos Gastos Públicos. Em julho de 2017 contra a reforma trabalhista. Em 13 de setembro de 2017, o PMDB por recomendação da Comissão de Ética afastou Kátia Abreu por 60 dias motivado por ter votado, contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores (PT).
Eleita
duas vezes presidente da República, em 2010 e em 2014, Dilma Rousseff foi a 1ª
mulher a governar o Brasil. A presidência do Brasil foi o primeiro cargo
público obtido em disputa eleitoral por Dilma Rousseff. Antes disso, ela ocupou
secretarias no governo municipal de Porto Alegre, no governo do Rio Grande do
Sul, no Ministério de Minas e Energia e na Casa Civil da Presidência da
República no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Natural de Belo Horizonte
(MG), Dilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947. É filha de pai
búlgaro e mãe brasileira. Ela iniciou sua militância política em 1964, com a
derrubada do governo João Goulart. Ingressou na luta estudantil, militando posteriormente
na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Foi presa,
torturada e teve os direitos políticos cassados. Quando o país foi
redemocratizado, denunciou as torturas em processos judiciais, sendo indenizada
pela Secretaria de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, junto com outros
perseguidos políticos. Com o fim do bipartidarismo, em 1979, Dilma Rousseff participou
dos esforços do líder trabalhista Leonel Brizola para a recriação do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), que havia sido extinto pelos militares com o
golpe de Estado. Perdida a sigla para o grupo de Ivete Vargas, ela ajudou Leonel
Brizola a criar o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 1985, quando Alceu
Collares elegeu-se prefeito de Porto Alegre pelo PDT, assumiu a Secretaria
Municipal da Fazenda.
Em
1993, na gestão de Collares no governo do Rio Grande do Sul, ela assumiu a
Secretaria de Minas, Energia e Comunicação, onde ficou dois anos. Em 1998,
com a vitória de Olívio Dutra para o governo gaúcho, Dilma retornou ao comando
da mesma pasta. Dilma Rousseff integrou a equipe que elaborou a proposta de
governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Eleito presidente, Lula a nomeou
ministra de Minas e Energia, ocasião em que ela também assumiu a presidência do
Conselho de Administração da Petrobras. Em 2005, com a queda de José Dirceu,
Dilma passou a chefiar a Casa Civil, cargo posteriormente entregue à
secretária-executiva da pasta, Erenice Guerra. Em 2010, Dilma Rousseff elegeu-se pelo Partido
dos Trabalhadores à Presidência, sendo a primeira mulher a assumir
o Palácio do Planalto, em 1º de janeiro de 2011, ocupando o posto
de 36º presidente da República.
Em
2013, enfrentou onda de protestos realizados em quase todo o país, marcados por
críticas direcionadas aos políticos em geral e aos integrantes dos três
poderes. Como resposta, Dilma anunciou projetos destinados a atender os pleitos
da população, assim como uma reforma política não concretizada. As
manifestações de rua duraram até a realização da Copa do Mundo de Futebol,
quando a presidente foi vaiada ao chegar para a abertura dos jogos. Em 2014,
ela ganhou sua segunda eleição presidencial. Foi eleita com 55,7 milhões de
votos, em momento marcado por declínio do produto interno bruto (PIB),
crescimento da inflação e início das investigações que culminaram na operação
Lava Jato, envolvendo a Petrobras, políticos e empreiteiras. Dilma Rousseff assumiu
seu segundo mandato em 1º de janeiro de 2015, enfraquecida por uma crise
econômica e pelas denúncias que atingiam os partidos que a apoiaram. A partir
de fevereiro, seus índices de popularidade entraram novamente em declínio e,
por todo o país, começaram as manifestações conhecidas como “panelaço”,
resultando em rejeição maciça a seu governo e na apresentação de vários pedidos
de impeachment.
Dilma
Vana Rousseff, eleita presidente da República Federativa do Brasil desde
janeiro de 2011, sendo reeleita nas eleições de 2014, foi destituída do posto
em 31 de agosto de 2016 por meio de um processo de impeachment. No
decorrer do ano de 2015, cinquenta pedidos de impeachment foram
protocolados na Câmara dos Deputados contra Dilma Rousseff do Partido dos
Trabalhadores (PT). A maior parte desses pedidos foi arquivada “por falta de
material probatório e argumentos”. Um deles foi acolhido pelo presidente da
Câmara, o deputado Eduardo Cunha, em 2 de setembro de 2016. Esse pedido foi
elaborado e protocolado em outubro pelos juristas Janaína Conceição Paschoal,
Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo. O pedido estava ainda subscrito por três
líderes de movimentos sociais que ajudaram a articular as grandes manifestações
de ruas do ano de 2015: Kim Patroca Kataguiri, do Movimento Brasil Livre,
Rogério Chequer, do Vem Pra Rua e Carla Zambelli Salgado, do Movimento Contra a
Corrupção.
Após
o acolhimento do pedido, este seguiu para apreciação na Câmara dos Deputados, à
qual coube decidir se o pedido teria prosseguimento (admissibilidade) ou não.
No dia 17 de abril de 2016, ocorreu, no plenário da Câmara, a votação que
decidiu pelo prosseguimento. 367 deputados votaram pela admissibilidade, e o
pedido foi encaminhado para o Senado Federal. No dia 12 de maio, houve uma seção
plenária dos senadores para decidir pela abertura do processo de impeachment.
55, de 81 senadores, votaram pela abertura. Dilma Rousseff, a partir de então,
teve que se afastar do cargo de presidente até que o processo fosse concluído.
O vice-presidente Michel Temer assumiu interinamente. O crime imputado contra a
presidente da República está previsto no artigo 85 da Constituição Federal.
Trata-se do crime de responsabilidade. Outra lei que enquadra esse tipo de crime
e que foi trabalhada pelos denunciantes do pedido é a Lei 1.079, de 1950.
Segundo a denúncia, Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores, teria “ordenado
a edição de créditos suplementares sem a autorização do Senado, bem como
realizado operação de crédito com instituição financeira controlada pela União”.
Os
denunciantes, por óbvio motivo, prefeririam que a Presidente da República
tivesse condições de levar seu mandato a termo. No entanto, a situação se
revela tão drástica e o comportamento da Chefe da nação se revela tão
inadmissível, que alternativa não resta além de pedir a esta Câmara dos
Deputados que autorize seja ela processada pelos crimes de responsabilidade
previstos no artigo 85, incisos V, VI, e VII, da Constituição Federal; nos
artigos 4º, incisos V e VI; 9º, números 3 e 7; 10 números 6, 7, 8 e 9; 11º,
número 3, da Lei 1.079/1950. A defesa de Dilma Rousseff, durante o processo,
foi feita pelo brilhante advogado José Eduardo Cardozo. Os pontos apresentados
foram justificados por uma bancada de senadores da base aliada da presidente e
pertencentes aos Partido dos Trabalhadores, Partido Comunista do Brasil e Partido
do Movimento Democrático Brasileiro e REDE. A defesa procurou argumentar que
não houve crime nas operações de crédito editadas pela presidente e que tais
operações foram apenas “autorizações de gastos sem impacto na realização da
despesa”.
Além
disso, a defesa procurou ainda sustentar a narrativa de que todo o processo,
desde a acolhida na Câmara até os momentos finais, era um “golpe branco”, ou
golpe parlamentar (quando não é utilizada violência) contra a presidente Dilma,
articulado entre atores políticos, como o próprio vice-presidente da República
e o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O relator do processo, senador Antônio
Anastasia, corroborou os argumentos da denúncia e repudiou a sugestão da defesa
de que toda a peça processual era um “golpe”. Nas palavras de Anastasia: - A
abertura de créditos suplementares por decreto é uma exceção à regra geral de
fixação das dotações orçamentárias em lei. Nesse sentido, a Constituição veda
expressamente a abertura de crédito suplementar sem prévia autorização
legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes (art. 167, V). A
edição dos decretos, objeto deste processo, como demonstrado, violou
flagrantemente esse dispositivo constitucional, revelando conduta irresponsável
da denunciada com relação aos deveres de diligência que lhe são atribuídos com
vistas à tutela do equilíbrio das contas públicas.
Findados
os trâmites da Comissão Especial de Impeachment, que deu a ambiência
para a discussão do pedido, o processo então seguiu para a sua fase final, que
começou no dia 29 de agosto, quando a presidente Dilma Rousseff foi ao Senado
fazer sua defesa e ser questionada pelos senadores. Após isso, os advogados de
defesa e de acusação fizeram seus discursos finais. Depois, dois senadores
partidários de Dilma Rousseff e dois contrários também fizeram suas
considerações finais. No dia 31 de agosto, foi posto em votação o texto da
sentença que deveria ou não ser aprovado pelos senadores. Porém, antes que a
votação começasse, o primeiro-secretário do Senado, senador Vicentinho Alves,
leu um requerimento elaborado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) que
solicitava o “fatiamento”, isto é, o destaque do texto da sentença. A sentença,
segundo a Constituição, previa que Dilma deveria perder o mandato de presidente
e ficar inabilitada para o exercício de funções públicas por oito anos. O
requerimento pedia uma votação separada para cada um desses tópicos. O
requerimento foi aceito pelo presidente da seção, que era também o presidente
do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. Nesse sentido, a votação
sobre a perda do mandato foi desfavorável à Dilma Rousseff, visto que 61
senadores votaram a favor da perda. Já a segunda votação favoreceu-a: 42
senadores optaram por não deixar Dilma inabilitada para o exercício de funções
públicas, contra 36 que se opuseram.
Bibliografia geral consultada.
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Proposta Editorial, 1980; MARIANO, Ricardo; PIERUCCI, Antônio Flávio, “O Envolvimento dos Pentecostais na Eleição de Collor”. In: Novos Estudos CEBRAP, n° 34, pp. 92-106, 1992; IANNI, Octávio, Escravidão e Racismo. 2ª
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