sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Domitila Chungara - Trabalho & Consciência de Classe Boliviana.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

La burguesía siempre ha sido brutal, mentirosa y ladrona”. Domitila Barrios de Chungara

              
                 
            A Bolívia foi palco de grandes civilizações, a mais importante das quais foi a civilização Tiahuanaco. Estudiosos das culturas andinas classificam esta civilização como os mais importantes precursores do império Inca, florescendo como a capital administrativa e ritualística de um grande poder regional por mais de cinco séculos. O primeiro europeu a registrar a existência do sítio foi o conquistador espanhol Pedro Cieza de León quando se deparou com indícios de Tiwanaku em 1549 enquanto buscava Collasuyo. Alguns estudiosos especulam que o nome moderno “Tiwanaku” está relacionado ao termo aimará “taypiqala”, que significa “pedra no meio”, em alusão à crença de que ficaria no centro do mundo. Entretanto, o nome pelo qual Tiwanaku era conhecida pelos seus habitantes se perdeu, uma vez que esse povo não deixou linguagem escrita. Tornou-se parte do império Inca no século XV. As cordilheiras bolivianas eram parte da cultura dos Andes muito antes da invasão dos espanhóis. Dados estatísticos parcialmente conclusivos sugerem que a agricultura lá teve início em aproximadamente 3.000 a. C. e a produção de metal, especialmente cobre, começou 1.500 anos depois. A região dos Andes já era provavelmente habitada há 20 mil anos.
            A cidade e seus habitantes não deixaram história escrita, e a população local atual pouco conhece da cidade e de sua história. Uma teoria baseada na arqueologia propõe que, por volta do ano 400, Tiwanaku, de uma força dominante local, passou a ser a um Estado predatório. A cidade teria expandido seus domínios até a região dos Andes orientais, disseminando sua cultura e estilo de vida pelas regiões atualmente ocupadas pelo Peru, Bolívia e Chile. Tiwanaku, entretanto, não foi exclusivamente uma cultura violenta. A cidade também usou a política para se expandir, criando colônias, negociando tratados comerciais que tornaram as outras culturas adjacentes dependentes de Tiwanaku e estabelecendo cultos estatais. Muitas cidades foram atraídas para Tiwanaku por motivos religiosos, pois a cidade nunca deixou de ser um centro religioso. A força raramente era necessária para a expansão do império, mas, no extremo norte da bacia hidrográfica, houve resistência a este estilo tradicional de dominação. Existem evidências de que as bases de algumas estátuas foram trazidas de outras culturas até Tiwanaku e colocadas em posição de subordinação perante os deuses de Tiwanaku, de modo a demonstrar os efeitos simbólicos de poder de Tiwanaku sobre essas cidades.


No começo do século II a. C., a civilização Tiwanaku se desenvolveu ao sul do lago Titicaca, centrada ao redor da grande cidade de Tiwanaku, desenvolvendo avançadas técnicas agrícolas e arquitetura, descritas etnograficamente por Darcy Ribeiro antes de desaparecer por volta de 1.200 d. C., talvez em consequência de longa seca.   Contemporâneas aos Tiwanaku existiram também a civilização Troxo, nas planícies do leste, e a civilização Mollo, ao norte da atual cidade de La Paz. Ambas desenvolveram técnicas agrícolas avançadas e se dissiparam no mesmo período. Quando os espanhóis conquistaram no século XVI, a Bolívia, rica em depósitos de prata, foi incorporada no vice-reino do Pelo, e mais tarde no de Rio Da Prata. Simon Bolívar reconhecido como libertador nasceu em Caracas, na Venezuela, no ano de 1783. A luta pela Independência das colônias começou em 1809, mas permaneceu parte da Espanha até 1825, quando foi libertada por Simon Bolívar, a quem o país deve o seu nome. Após uma breve união com o Peru, a Bolívia tornou-se totalmente independente. Nos anos seguintes, a Bolívia perdeu parte do seu território “devido a vendas e à guerra”. As Minas de Potosí localizam-se no cerro de Potosí, na região do Alto Peru, Departamento de Potosí. Constituíram-se no principal produtor de prata na América, durante o período colonial.

As jazidas foram descobertas em 1545 por um indígena chamado Hualpa ou Gualca. Neste mesmo ano foi registrada uma primeira mina, que o espanhol Juan de Villarroel denominou “Descoberta”. Ao final do século XVIII contavam-se cerca de 5 mil “bocas de mina”, produzindo anualmente 250 a 300 mil marcos de prata. Etnograficamente a boca da mina é sustentada por concreto e antigas pedras cobertas por sangue de lhama. Já nas minas mais recentes, as entradas são feitas com eucalipto. Na entrada existe uma lista, feita à mão, com a escala dos mineiros que trabalharão em cada dia da semana. Os mineiros vestem-se com calças, blusas, sandálias e capacetes com uma lâmpada sustentada por querosene. Existem também os tubos que conduzem ar comprimido para a perfuração e ventilação. Ao entrar-se pela galeria principal, percebe-se muita água, poeira e lama, que aumenta à medida que se caminha. Dentro da mina, existem várias galerias nas quais só se pode entrar arrastando-se e onde a temperatura varia de muito quente a muito fria. A sua exploração em grande escala foi possibilitada pela descoberta, em 1563, de jazidas de mercúrio em Huancavelica. O sistema de exploração mineira era baseado no trabalho indígena, por meio da mita, um sistema de trabalho existente na região conquistada pelo Império Espanhol na América do Sul. Sua aplicação data do ano de 1573, sob o governo do Vice-Rei Francisco Toledo, tendo sido aplicado como um regime de trabalho assalariado forçado. Estima-se que 1/3 da produção tenha circulado às margens dos controles fiscais. Ainda existem pessoas trabalhando nas minas devotas á “el tio” (diabo) mesmo pertencendo a religião cristã, essas pessoas continuam lá porque querem obter dignidade para sua família.                    
O papel das mulheres indígenas nas sociedades andinas era caracterizado como uma relação colaborativa no âmbito do publico e privado. Para entendermos o papel da mulher andina naquela sociedade, é importante notar que o governo espanhol buscou substituir o Império Inca sem desafiar abertamente as ordens morais e a hierarquia nativa. A partir do momento no qual a família do mitayo o acompanha na sua jornada, faz-se vital que a mulher exerça atividades em razão da lógica da complementariedade de gênero que guiava o pensamento social andino. Nesse sentido, enquanto os parceiros trabalhavam nas minas, as mulheres andinas realizavam uma série de atividades como empregadas dos espanhóis e mestiços, além de vender seus produtos nos mercados locais. Algumas mulheres que não conseguiam acompanhar seus maridos na viagem até a mina ficavam responsáveis pelo pagamento do sistema tributário, tendo em vista que o governo colonial buscou compensar a queda nos rendimentos da coroa a partir do retorno ao sistema tributário incaico, no qual os tributos eram cobrados apenas a partir de um homem adulto, casado, com uma residência. É importante notar que as mulheres não exerciam trabalho nas minas em razão da lógica social espanhola, na qual as atividades produtivas eram ligadas ao homem ao passo que as mulheres exerciam atividades com pouco reconhecimento social para a sociedade em seu tempo.

Domitila Barrios de Chungara foi uma líder operária. De família humilde deu numerosos depoimentos a respeito do sofrimento que tinham os mineiros de seu país. Tornou-se famosa por sua luta “pela via pacífica” contra as ditaduras de René Barrientos Ortuño e de Hugo Banzer Suárez. Domitila Barrios Chungara nasceu no dia 7 de maio de 1937 na comunidade Catavi, dentro da mina Siglo XX. Quando tinha dez anos, os rigores da vida do povo mineiro acabaram com a vida de sua mãe; teve então que cuidar das suas cinco irmãs menores, pois seu pai passava todo o dia trabalhando. Com o passar dos anos, deixou de ser uma mera vítima das circunstâncias convertendo-se em dona de seu próprio destino. Em 1952, como esposa de um trabalhador mineiro, fez parte do Comité de Amas de Casa del Distrito Minero Siglo XX, “um centro mineiro boliviano, produtor de estanho, pertencente ao Estado e administrado pela Corporación Minera de Bolívia (COMIBOL) desde 1952, quando as minas foram nacionalizadas. Anteriormente, pertencia aos assim chamados “barões do estanho”: Patiño, Hoscild e Aramayo. É um centro mineiro que se tem tornado famoso, não somente pela quantidade de mineral extraído da mina, senão por ser o maior do país, e pelo espírito de luta que tem caracterizado os trabalhadores, através da organização sindical e de vários líderes politicamente conscientes (cf. Viezzer, 1977). Sua liderança já era evidente, o que a levou a ser designada Secretária Geral dessa importante organização.
Em junho de 1967, o presidente René Barrientos Ortuño enviou um contingente militar às comunidades de Catavi e Llallagua, para reprimir as reivindicações dos mineiros contra a exploração e os abusos dos grandes empresários. Depois da matança, Domitila Bairros Bacia foi presa e torturada pelos militares. Em consequência destes abusos perdeu o bebê que levava dentro de seu ventre. Estes fatos conhecem-se como o Massacre de San Juan. No Natal de 1977, Barrios iniciou uma greve de fome junto com outras quatro mulheres mineiras contra a ditadura. Seguiram-lhes os sacerdotes Luís Espinal e Xavier Albó; e em pouco tempo, mais de 1.500 pessoas somaram-se à greve. Com o passar das horas, os grevistas multiplicaram-se por milhares, e ao regime militar não lhe ficou outra opção salvo senão a de recuar em favor da democracia. Conseguiu derrubar a ditadura militar do Gal. Hugo Banzer Suárez obrigando-lhe a iniciar uma verdadeira abertura democrática e não um simulacro, como era originalmente planejado.
Sua luta e determinação representou o início de uma nova era da história colonial. Mas é verdade que, mesmo durante o estágio da huayara, toda a prata produzida pelos índios voltava á circulação no sistema colonial. Ou seja, os que iam trabalhar em Potosi, a fim de pagar o tributo, enviaram-nos a seus encomenderos ou para a coroa. E à medida que, de seu lado, dominaram o restante do mercado (especialmente o da coca e do milho), os espanhóis recuperaram a prata que continuava na posse dos chamados “trabalhadores livres” (cf. Franco, 1997) através do comércio. Dessa forma, a introdução do dinheiro em última análise integrava os índios, no sistema econômico como “reserva de trabalho”. As mudanças no sistema econômico foram acompanhadas, tanto no Peru quanto no México, pelo desmantelamento da estrutura social, mas o processo assumiu diferentes formas em cada área. Não se sabe até onde ayllus e as calpulli foram afetadas pelas consequências da invasão europeia, mas ambas continuaram a ser as células básicas da sociedade indígena. A natureza da sublevação se manifesta mais claramente nos dois extremos da escala social: os índios, uma parcela cada vez maior da população, que não mais participavam do setor comunitário da economia, e aqueles senhores que haviam perdido muitos de seus poderes tradicionais.
Durante os dois vice-reinados desenvolveu-se um padrão de migração de que os coletivos de trabalho começaram a se queixar. No Peru, além de dos deslocamentos populacionais ocasionados pela própria conquista, as guerras civis entre os partidários de Pizarro e os de Almagro, que perduraram até 1548, ajudaram a desarraigar a população. Muitos índios, recrutados nos exércitos adversários e levados para longe de suas aldeias de origem, ou terminaram por um número de mendigos, ou permaneceram como yanaconas a serviço dos espanhóis. Deve-se lembrar de que em Tahuantinsuyo, o termo yana designava “os índios livres de vínculos familiares e pessoalmente dependentes do curaca ou do Inca”. Mas, enquanto antes da invasão dos espanhóis ainda constituíam uma pequena parcela da população, seu número começava agora a multiplicar. Seu status, no entanto, continuava a variar consideravelmente: se os yanaconas de Potosi, segundo pareceu, eram livres de dependência pessoal, não era o caso dos que foram trabalhar nas hacienda que surgiam, ou dos que eram empregados pelos espanhóis como servidores domésticos. Tirando essas diferenças, o grosso da população andina estava dividido em duas categorias: os hatunruna (ou índios das comunidades que eram sujeitos ao tributo e à mita); e os yanaconas, considerados de status social inferior, mas na prática livres das obrigações devidas pelos outros índios.
Fora dessa distinção desenvolveu-se uma diferença essencial entre os dois vice-reinados nos séculos posteriores. No Peru, o aumento do número dos yanaconas (e, depois, de forasteiro) criou um problema cuja seriedade, embora não fosse tão evidente no século XVI, se manifestou abertamente no século XVII e deveria persistir por todo o período colonial: continha o embrião do conflito entre, de um lado os haciendados que tinham controle sobre parte da força de trabalho e, de outro, os mineiros (privados de mitayos) e a coroa (privada de tributos): o problema de submeter os yanaconas e os forasteros às obrigações que presavam sobre o restante dos índios deveria dominar a história dos Andes entrais e meridionais. No ano de 1551, houve a permissão de utilização da mão de obra indígena voluntária sob o esquema de jornais. O Acordo de Hacienda, assinado em 1570, fez do encomendero de Huamanga, Garci Diez de San Miguel, o grande ator no processo de convencimento dos indígenas a aderirem ao trabalho nas minas. No entanto, os caciques de Huamanga se negaram a ceder a mão de obra indígena para o trabalho mineiro e, em decorrência deste ato, a Junta de Notables, estabelecida no mesmo ano, aprovou o trabalho indígena. O continente ameríndio produziu, durante o período colonial, mais prata que ouro, sendo que o Vice-Reino da Nova Espanha foi o maior usurpador destes minérios durante todo o período.

O termo índio provém do fato de que Cristóvão Colombo, quando chegou à América, estava convencido de que tinha chegado à Índia, haja vista que o gentílico espanhol para a pessoa nativa da Índia é índio (índio), e dessa maneira chamou os povos indígenas que ali encontrou. Por essa razão também, ainda hoje se refere às ilhas do Caribe como Índias Ocidentais. O termo “ameríndio” é usado para designar os nativos do continente colonizado, em substituição às palavras “índios”, “indígenas” e outras consideradas preconceituosas. Na era colonial, dois períodos são reconhecidos como o auge da produção mineira, sendo eles o os anos entre 1570 e 1630, no qual o Vice-reino do Peru foi o maior produtor e, em seguida, o período correspondente aos anos de 1770 e 1800, no qual a extração de minérios no México superou as áreas sul-americanas.
No que se refere à extração de prata em Potosí, pode-se dividir o período em quatro etapas, sendo eles o rápido crescimento da produção usando a técnica de mineração incaica (1545-1550), o declínio da produção em razão do esgotamento mineral (1551-1570), a era do ouro guiada pela introdução da amálgama com o mercúrio e o sistema de mita (1571-1614) e a era do declínio crônico de 1615 até o início do século XVIII. A mita potosina se firmou como prática em 1578, possuindo um número máximo de mitayos fixado em 13.382, apesar de seu início ter se dado cinco anos mais cedo. A região de Charcas, próximo ao Potosí, passou a ter maior aumento de densidade demográfica em função da concentração e aumento da população em razão desta prática de exploração humana, pois muitos dos quais sustentavam suas famílias com os ganhos desta forma trabalho, viviam arraigados nesta região ainda que no período pré-hispânico a migração para esta área fosse regularmente constante.
O sistema de trabalho aplicado por Toledo remete às medidas tomadas por Huayna Capac, na região de Cochabamba, na busca da mobilização de um contingente de trabalhadores masculinos em proporções equivalentes àquelas existentes durante o século XVI. Outra forma utilizada por Toledo que nos remete ao passado pré-hispânico é o da huayra, prática pré-hispânica que remete ao processo de fundição do mineral de ótima qualidade. Retornando ao período da década de quarenta do século XVI, temos as ações dos encomenderos, os quais enviavam contingentes de trabalhadores autóctones para o trabalho em Potosí, realizando atividades variadas, assim como no sistema da mita colonial. Tem-se em vista que um dos principais agentes na estruturação do sistema de trabalho mitayo foi Polo Ondegardo, jurista, encomendero, mineiro e conselheiro do Vice-Rei Toledo durante a vista deste aos Andes na década de 1570. No entanto, historicamente o trabalho de mineração subterrânea remete ao período romano, tendo sido esta forma aplicada nas minas de mercúrio em Almandén, Espanha, não se tratando, do ponto de vista da exploração, de inovação da prática espanhola.
A descoberta de Potosí em 1545 reorganizou a estrutura colonial espanhola. Em meados de 1570 o Cerro Rico foi fundamental para a dinâmica da lógica mercantil existente à época, pois a prata que brotava de Potosí marcou um novo estágio na era capitalista. O Novo Mundo foi responsável pela produção de 74% de toda a prata produzida no mundo durante o século XVI e, com isso, Potosí nascia como a maior cidade do mundo, ultrapassando cidades como Amsterdã, Londres, Sevilha e Veneza. No que se refere ao mundo do trabalho mitayo, faz-se vital apontar que não existia apenas um tipo de mita em todo o chamado Novo Mundo. No entanto, a mita potosina, aqui analisada, possuiu uma totalidade imensa de tributários, oriundos de 16 províncias, para trabalhar nas minas, assim como nos engenhos de moagem de metais. Os mitayos eram majoritariamente, responsáveis pela realização da retirada do mineral das minas e acabavam por carregar a sua produção em bolsas de couro em suas costas, podendo, realizar a atividade de incorporar o metal selecionado para moer nos engenhos. Os responsáveis por essas atividades laborais eram reconhecidos como apiris.
Melhor dizendo, a organização socioeconômica da região se apresentava, em conjunto articulada com as ordens política e institucional, sob o parâmetro religioso. Nesse sentido, naquele ano Toledo iniciou sua caminhada pela região que culminaria na instauração da mita. A utilização da mão de obra indígena no Cerro Rico de Potosí está intimamente ligada ao processo de recrutamento de índios minga, ou seja, indígenas alugados que cobravam de acordo com a atividade realizada. Dessa forma, muitos indígenas sobre o regime da mita optavam por trabalhar como mingas, pois com o salário que recebiam poderiam pagar sua substituição na mita, tendo em vista que outros assentamentos possuíam aparentemente maiores vantagens no processo em relação aos indígenas. O trabalho de mineração em Potosí dependeu da força de trabalho indígena.
Se compararmos com os trabalhos forçados de negros escravos ou libertos, perceberemos que a participação ativa deste contingente é muito inferior à dos povos autóctones durante o período de mineração de prata. Comparativamente o período de início da exploração colonial em Potosí (1545), a organização dos meios de trabalho e processo social da produção mineira mantiveram-se sob o controle indígena durante o período conhecido como huayra, a tradicional fundição nativa, geralmente situada nos morros para aproveitar o vento, como ocorrerá com a energia eólica posteriormente. Foi fundada em 1546. Em 1611, já era a maior produtora de prata do mundo e tinha à volta de 150 000 habitantes. Alcançou seu apogeu durante o século XVII, tornando-se a segunda cidade mais populosa (atrás de Paris) e a mais rica do mundo, devido à exploração de prata enviada à Espanha. No entanto, em 1825, a maior parte da prata já se tinha esgotado e a sua população desceu até os 8 000 habitantes. No começo do século XX, a exploração de estanho se incrementou pela demanda mundial e, como consequência, Potosí voltou à experimentar um crescimento importante. Durante o período em que fora utilizada a huayra os espanhóis fizeram inúmeras tentativas de libertar-se do monopólio tecnológico indígena resultado da apropriação do minério; mas como descreve Garcilaso de la Vega, todas essas tentativas fracassaram.




         A Cidade de Potosí é a capital da Província de Tomás Frías e do Departamento de Potosí, na Bolívia. Sua população, no censo de 2009, era de 194.298 habitantes. Somente quando foi introduzido o processo de trabalho em torno da amalgamação, no governo do vice-rei Fernando Álvarez de Toledo y Pimentel, em 1574, é que os espanhóis puderam romper o controle indígena sobre a produção da prata. Com a queda da qualidade da prata existente em Potosí e, consequentemente, a queda na produção do minério, Toledo decide manter praticamente a huayra em casos pontuais, além de incentivar o desenvolvimento da prática de amálgama entre o mercúrio e prata (“azogue”). Com isso, prescreveu que o pagamento dos mitayos deveria ser feito em minério, não percebendo que a demanda técnica não poderia ser suprida pelos indígenas. Potosí, passa a ser construída a partir de moinhos movidos por energia humana, que foram rapidamente substituídos por máquinas de tração animal e, finalmente, por um maquinário movido por energia hidráulica. Durante os primeiros decênios da exploração das minas de Potosí, os métodos e técnicas de trabalho utilizado eram os mesmos da era pré-hispânica e, com isso, os primeiros trabalhadores eram oriundos das regiões mais antigas do Porco. No entanto, até o último terço do século XVII, a introdução de equipamentos de bronze ou cobre e a escavação no formato de galerias horizontais permitia desta forma a extração, drenagem e ventilação.
A mita potosina implicava a migração forçada, na prática, por um período de um ano de indígenas tributários de homens entre 18 e 50 anos, provenientes de diversas províncias das terras altas - localizadas entre o sul do Peru e da Bolívia. Os indígenas das terras baixas não entravam neste sistema para evitar doenças e mortes em decorrência do clima frio e seco das altas terras potosinas. Estabeleceu-se que, em tese, cada indígena deveria cumprir seu turno de mita a cada 6 ou 7 anos, acompanhados de suas mulheres, filhos e recursos. Em 1575, houve a reestruturação do sistema total do trabalho mitayo (“mita gruesa”). Um terço, correspondente à mita ordinária, cumpriria seu turno semanal enquanto os outros estariam descansando. Há que se notar que este aspecto foi mais teórico que real. É importante notar que em torno de 3% dos homens adultos eram cotados para trabalhar no regime mitayo durante o século XVI, sendo essa estimativa considerada alta em decorrência da realização periódica deste trabalho. Durante o tempo livre que os mitayos possuíam, eles possivelmente trabalhavam como mingados. Outras questões étnicas e políticas que podem ser levantadas quanto a prática, é a transformação destes indígenas no seu ambiente. Com a migração forçada desta mão de obra, os indígenas passam a ser considerados “forasteros” naquela região, deixando de ser reconhecido como originário, além de ter que reestruturar sua formação institucional e cultural em razão da nova forma de organização socioeconômica.

A população boliviana tem a face marcada geralmente por traços de ascendência indígena, com pele morena e cabelos e olhos escuros. É reconhecida pelo seu vasto patrimônio arquitetônico. A Catedral Gótica de São Lourenço, a Casa da Moeda e a Universidade Tomás Frias são admirados mundialmente entre outros, e a cidade, em 1987, passou a integrar a lista do Patrimônio Mundial da Unesco. A Universidad Autónoma Tomás Frías ou UATF, é uma instituição pública localizada em Potosí, Bolívia. Foi oficialmente criada pelo Decreto Supremo de 15 de outubro de 1892, que no artigo primeiro afirma. São erguidos os Distritos Universitários de Potosí e Oruro. – “Erguem-se os bairros universitários de Potosí e Oruro”.  Começou a funcionar a partir da Faculdade Livre de Direito em 1876, subordinada ao Cancelariato de Chuquisaca.

Em 30 de novembro de 1892, é emitido um decreto regulamentar pelo qual estabelece que os departamentos de Potosí e Oruro são independentes dos cancelamentos de Chuquisaca e La Paz respectivamente, e enquanto a lei não dá mais espaço aos conselhos universitários, ficam restritos às suas faculdades da lei. Em 3 de fevereiro de 1893, foi instalado o Conselho Universitário de Potosí, sob a liderança do chanceler e presidente Dr. Nicanor Careaga. Oficialmente em outubro de 1937, reconhece a autonomia ao distrito universitário de Potosí, o primeiro Reitor Autonomista foi o Dr. Alberto Saavedra Nogales. Por ato de 29 de novembro de 1924 (promulgado em 2 de dezembro de 1924) pelo Presidente da República da Bolívia Dr. Bautista Saavedra Mallea, a Universidade de Potosí leva o nome do eminente intelectual nascido em Potosí, Dr. Tomás Frías Ametller , reconhecendo sua contribuição à organização da Universidade Boliviana. Atualmente a Universidade Autônoma Tomás Frías é uma das 15 universidades reconhecidas pelo Comitê Executivo de Universidades Bolivianas, a autoridade máxima da Universidade Boliviana. Tem doze Faculdades com 42 Escolas.

O governo da Bolívia requisitou junto à instituição que esta contribuísse para a criação de um museu local, além de preservação e restauro de alguns monumentos de Potosí. Após aprovação junto ao comitê executivo, entre janeiro de 2001 e dezembro de 2002 foi proporcionada ajuda técnica e financeira para os projetos apresentados.  Foi fundada em 1546. Em 1611, já era a maior produtora de prata do mundo e tinha à volta de 150 000 habitantes. Alcançou seu apogeu durante o século XVII, tornando-se a segunda cidade mais populosa atrás apenas de Paris e a mais rica do mundo, devido à exploração de prata enviada à Espanha. No entanto, em 1825, a maior parte da prata já se tinha esgotado e a sua população desceu até os 8 000 habitantes. No começo do século XX, a exploração de estanho se incrementou pela demanda mundial e, como consequência, Potosí voltou a experimentar um crescimento importante.

A história inicial da cidade é uma mescla intrincada de fatos fantásticos e verídicos, pelo que é difícil distinguir a história da lenda. Diz-se que as minas de prata foram descobertas casualmente em uma noite de 1545, por um pastor quíchua chamado Diego Huallpa, que se perdeu quando regressava com seu rebanho de lhamas. Decidiu, então, acampar no pé do Cerro Rico e fez uma grande fogueira para abrigar-se do frio. Quando acordou pela manhã, notou que entre as brasas brilhavam pedaços de prata, fundidos e derretidos pelo calor do fogo. O local era aparentemente tão rico em prata que ela se encontrava à mostra no terreno. Em 1º de abril de 1545, um grupo de espanhóis liderado pelo capitão Juan de Villarroel tomou posse de Cerro Rico, tentando confirmar os relatos do pastor. Imediatamente estabeleceu-se um povoado.

Segundo outra versão, os incas já conheciam a existência de prata no local, mas quando o imperador inca tentou começar sua exploração, o monte o teria expulsado mediante uma estrondosa explosão, de onde deriva o nome do lugar, ¡P`utuqsi!, proibindo-lhe de extrair a prata, que estava reservada "para os que viriam depois". Os historiadores veem, nesta variante, uma deliberada influência dos espanhóis na lenda para legitimar seus trabalhos no local. Após a invasão e colonização dos espanhóis à América e a dominação do povo inca, com a descoberta de Potosí e sua riqueza em prata, começou sua extração, utilizando-se, para isso, trabalho indígena, chegando cada extrator a levar 29 quilogramas de prata por dia, subindo pelas minas com este peso em uma bolsa atada ao pescoço. Em razão das más condições de trabalho, muitos índios acabavam morrendo, por fome ou doenças, como pneumonia, acidentes, como soterramentos e quedas de grandes alturas. Frei Domingo de Santo Tomas, um padre que viveu à época, escreveu: - “Não é prata o que se envia à Espanha, é o suor e sangue dos índios”.

Bibliografia geral consultada.

ZAPATA, Roger, Guaman Poma, Indigenismo y Estética de la Depedencia en la Cultura Peruana. Minneapolis: Minn. Institute for the Study of Ideologies and Literature, 1989; GREBE, María Ester, “El Kutrún Mapuche: Un Microsmo Simbólico”. In: Revista Chilena de Antropología, 123-124: 45-46, 1993-1994; KLIPPEL, Altair Flamarion, O Sistema Toyota de Produção e a Indústria de Mineração: Uma Experiência de Gestão da produtividade e da Qualidade nas Minas de Fluorita do Estado de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Escola de Engenharia. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1999; BOCCARA, Guillaume; GALINDO, Godoy Sylvia, Lógicas Mestizas en América. Temuco, Chile: Instituto de Estudios Indégenas, 1999;  AVELLANEDA, Rino, History, Self-Construction and Oppositional Discourse in the Testimónios of Domitila Barros Chungara. Tese de Doutorado. Madison: University of Wisconsin, 2001; BETHELL, Leslie (org.), História da América Latina. Vol.1-América Latina Colonial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004; ABSI, Pascale, Los Ministros Del Diablo: El Trabajo y sus Representaciones en las Minas de Potosí. La Paz: Instituto de Investigación para El Desarrollo; IFEA - Instituto Francés de Estudios Andinos; PIEB - Fundación para  la Investigación Estratégica en Bolívia, 2005; WIERVORCKA, Annette, l` ere du témoin. Paris: Éditions de l`Atelier, 2009; CARVALHO, Carlos Eduardo Marconi de, Recursos Naturais e Conflito Social na Bolívia Contemporânea (1970-2003). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Niterói: Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Universidade Federal Fluminense, 2010; AZCUI, Mabel, “Domitila Chungara, la Minera que se enfrentó a las Dictaduras”. Disponível em: https://elpais.com/2012/03/13/; AMORIM, Lídia, “Domitila Chungara, a Coragem da Mulher Boliviana”. In: Revista Fórum. São Paulo, 7 de março de 2012; PADILHA, Amanda Carvalho, Trabalho e Imaginário em Potosí - Bolívia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Educação. Belo Horizonte: Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais, 2012; DELGADO, Ana Carolina Teixeira, Guerreiros do Arco-Íris: Os Caminhos e Descaminhos da Descolonização na Bolívia no Início do Século XXI. Tese de Doutorado. Instituto de Relações Internacionais. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2014; CORREIA, Elayne Castro, Uma Leitura de Los Ríos Profundos, de José María Arguedas, a partir da Heterogeneidade e da Melancolia no Narrador. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2018; entre outros.  

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