Domitila Chungara - Trabalho & Consciência de Classe Boliviana.
Ubiracy de Souza Braga
“La burguesía siempre ha sido brutal,
mentirosa y ladrona”. Domitila Barrios de Chungara
A Bolívia foi palco de grandes
civilizações, a mais importante das quais foi a civilização Tiahuanaco. Estudiosos das culturas
andinas classificam esta civilização como os mais importantes precursores do
império Inca, florescendo como a capital administrativa e ritualística de um
grande poder regional por mais de cinco séculos. O primeiro europeu a registrar
a existência do sítio foi o conquistador espanhol Pedro Cieza de León quando se
deparou com indícios de Tiwanaku em
1549 enquanto buscava Collasuyo. Alguns estudiosos especulam que o nome moderno
“Tiwanaku” está relacionado ao termo aimará “taypiqala”, que significa “pedra
no meio”, em alusão à crença de que ficaria no centro do mundo. Entretanto, o
nome pelo qual Tiwanaku era conhecida pelos seus habitantes se perdeu, uma vez
que esse povo não deixou linguagem escrita. Tornou-se parte do império Inca no
século XV. As cordilheiras bolivianas eram parte da cultura dos Andes muito
antes da invasão dos espanhóis. Dados estatísticos parcialmente conclusivos
sugerem que a agricultura lá teve início em aproximadamente 3.000 a. C. e a
produção de metal, especialmente cobre, começou 1.500 anos depois. A região dos
Andes já era provavelmente habitada há 20 mil anos.
A cidade e seus habitantes não
deixaram história escrita, e a
população local atual pouco conhece da cidade e de sua história. Uma teoria
baseada na arqueologia propõe que, por volta do ano 400, Tiwanaku, de uma força
dominante local, passou a ser a um Estado predatório. A cidade teria expandido
seus domínios até a região dos Andes orientais, disseminando sua cultura e
estilo de vida pelas regiões atualmente ocupadas pelo Peru, Bolívia e Chile.
Tiwanaku, entretanto, não foi exclusivamente uma cultura violenta. A cidade
também usou a política para se expandir, criando colônias, negociando tratados
comerciais que tornaram as outras culturas adjacentes dependentes de Tiwanaku e
estabelecendo cultos estatais. Muitas cidades foram atraídas para Tiwanaku por
motivos religiosos, pois a cidade nunca deixou de ser um centro religioso. A
força raramente era necessária para a expansão do império, mas, no extremo
norte da bacia hidrográfica, houve resistência a este estilo tradicional de dominação. Existem
evidências de que as bases de algumas estátuas foram trazidas de outras culturas
até Tiwanaku e colocadas em posição de subordinação perante os deuses de
Tiwanaku, de modo a demonstrar os efeitos simbólicos
de poder de Tiwanaku sobre essas cidades.
No
começo do século II a. C., a civilização Tiwanaku se desenvolveu ao sul do lago
Titicaca, centrada ao redor da grande cidade de Tiwanaku, desenvolvendo
avançadas técnicas agrícolas e arquitetura, descritas etnograficamente por
Darcy Ribeiro antes de desaparecer por volta de 1.200 d. C., talvez em
consequência de longa seca. Contemporâneas
aos Tiwanaku existiram também a civilização Troxo,
nas planícies do leste, e a civilização Mollo,
ao norte da atual cidade de La Paz. Ambas desenvolveram técnicas agrícolas
avançadas e se dissiparam no mesmo período. Quando os espanhóis conquistaram no
século XVI, a Bolívia, rica em depósitos de prata, foi incorporada no
vice-reino do Pelo, e mais tarde no de Rio Da Prata. Simon Bolívar reconhecido
como libertador nasceu em Caracas, na Venezuela, no ano de 1783. A luta pela Independência
das colônias começou em 1809, mas permaneceu parte da Espanha até 1825, quando
foi libertada por Simon Bolívar, a quem o país deve o seu nome. Após uma breve
união com o Peru, a Bolívia tornou-se totalmente independente. Nos anos
seguintes, a Bolívia perdeu parte do seu território “devido a vendas e à guerra”.
As Minas de Potosí localizam-se no cerro de Potosí, na região do Alto Peru,
Departamento de Potosí. Constituíram-se no principal produtor de prata na América,
durante o período colonial.
As
jazidas foram descobertas em 1545 por um indígena chamado Hualpa
ou Gualca. Neste mesmo ano foi registrada uma primeira mina, que o espanhol
Juan de Villarroel denominou “Descoberta”. Ao final do século XVIII contavam-se
cerca de 5 mil “bocas de mina”, produzindo anualmente 250 a 300 mil marcos de
prata. Etnograficamente a boca da mina é sustentada por concreto e antigas
pedras cobertas por sangue de lhama. Já nas minas mais recentes, as entradas
são feitas com eucalipto. Na entrada existe uma lista, feita à mão, com a
escala dos mineiros que trabalharão em cada dia da semana. Os mineiros vestem-se
com calças, blusas, sandálias e capacetes com uma lâmpada sustentada por
querosene. Existem também os tubos que conduzem ar comprimido para a perfuração
e ventilação. Ao entrar-se pela galeria principal, percebe-se muita água,
poeira e lama, que aumenta à medida que se caminha. Dentro da mina, existem
várias galerias nas quais só se pode entrar arrastando-se e onde a temperatura
varia de muito quente a muito fria. A sua exploração em grande escala foi
possibilitada pela descoberta, em 1563, de jazidas de mercúrio em Huancavelica.
O sistema de exploração mineira era baseado no trabalho indígena, por meio da mita,
um sistema de trabalho existente na região conquistada pelo Império Espanhol na
América do Sul. Sua aplicação data do ano de 1573, sob o governo do Vice-Rei
Francisco Toledo, tendo sido aplicado como um regime de trabalho assalariado
forçado. Estima-se que 1/3 da produção tenha circulado às margens dos controles
fiscais. Ainda existem pessoas trabalhando nas minas devotas á “el tio” (diabo)
mesmo pertencendo a religião cristã, essas pessoas continuam lá porque querem obter
dignidade para sua família.
O
papel das mulheres indígenas nas sociedades andinas era caracterizado como uma
relação colaborativa no âmbito do publico e privado. Para entendermos o papel
da mulher andina naquela sociedade, é importante notar que o governo espanhol
buscou substituir o Império Inca sem desafiar abertamente as ordens morais e a
hierarquia nativa. A partir do momento no qual a família do mitayo o acompanha
na sua jornada, faz-se vital que a mulher exerça atividades em razão da lógica
da complementariedade de gênero que guiava o pensamento social andino. Nesse
sentido, enquanto os parceiros trabalhavam nas minas, as mulheres andinas
realizavam uma série de atividades como empregadas dos espanhóis e mestiços,
além de vender seus produtos nos mercados locais. Algumas mulheres que não
conseguiam acompanhar seus maridos na viagem até a mina ficavam responsáveis
pelo pagamento do sistema tributário, tendo em vista que o governo colonial
buscou compensar a queda nos rendimentos da coroa a partir do retorno ao
sistema tributário incaico, no qual os tributos eram cobrados apenas a partir
de um homem adulto, casado, com uma residência. É importante notar que as
mulheres não exerciam trabalho nas minas em razão da lógica social espanhola,
na qual as atividades produtivas eram ligadas ao homem ao passo que as mulheres
exerciam atividades com pouco reconhecimento social para a sociedade em seu tempo.
Domitila
Barrios de Chungara foi uma líder operária. De família humilde deu numerosos
depoimentos a respeito do sofrimento que tinham os mineiros de seu país. Tornou-se
famosa por sua luta “pela via pacífica” contra as ditaduras de René Barrientos
Ortuño e de Hugo Banzer Suárez. Domitila Barrios Chungara nasceu no dia 7 de
maio de 1937 na comunidade Catavi, dentro da mina Siglo XX. Quando tinha dez anos, os rigores da vida do povo mineiro
acabaram com a vida de sua mãe; teve então que cuidar das suas cinco irmãs
menores, pois seu pai passava todo o dia trabalhando. Com o passar dos anos,
deixou de ser uma mera vítima das circunstâncias convertendo-se em dona de seu próprio
destino. Em 1952, como esposa de um trabalhador mineiro, fez parte do Comité de Amas de Casa del Distrito Minero
Siglo XX, “um centro mineiro boliviano, produtor de estanho, pertencente ao
Estado e administrado pela Corporación
Minera de Bolívia (COMIBOL) desde 1952, quando as minas foram
nacionalizadas. Anteriormente, pertencia aos assim chamados “barões do
estanho”: Patiño, Hoscild e Aramayo. É um centro mineiro que se tem tornado
famoso, não somente pela quantidade de mineral extraído da mina, senão por ser
o maior do país, e pelo espírito de luta que tem caracterizado os
trabalhadores, através da organização sindical e de vários líderes politicamente
conscientes (cf. Viezzer, 1977). Sua liderança já era evidente, o que a levou a
ser designada Secretária Geral dessa importante organização.
Em
junho de 1967, o presidente René Barrientos Ortuño enviou um contingente
militar às comunidades de Catavi e Llallagua, para reprimir as reivindicações
dos mineiros contra a exploração e os abusos dos grandes empresários. Depois da
matança, Domitila Bairros Bacia foi presa e torturada pelos militares. Em
consequência destes abusos perdeu o bebê que levava dentro de seu ventre. Estes
fatos conhecem-se como o Massacre de San
Juan. No Natal de 1977, Barrios iniciou uma greve de fome junto com outras
quatro mulheres mineiras contra a ditadura. Seguiram-lhes os sacerdotes Luís
Espinal e Xavier Albó; e em pouco tempo, mais de 1.500 pessoas somaram-se à
greve. Com o passar das horas, os grevistas multiplicaram-se por milhares, e ao
regime militar não lhe ficou outra opção salvo senão a de recuar em favor da
democracia. Conseguiu derrubar a ditadura militar do Gal. Hugo Banzer Suárez
obrigando-lhe a iniciar uma verdadeira abertura democrática e não um simulacro,
como era originalmente planejado.
Sua
luta e determinação representou o início de uma nova era da história colonial.
Mas é verdade que, mesmo durante o estágio da huayara, toda a prata produzida pelos índios voltava á circulação
no sistema colonial. Ou seja, os que iam trabalhar em Potosi, a fim de pagar o
tributo, enviaram-nos a seus encomenderos
ou para a coroa. E à medida que, de seu lado, dominaram o restante do mercado
(especialmente o da coca e do milho), os espanhóis recuperaram a prata que
continuava na posse dos chamados “trabalhadores livres” (cf. Franco, 1997)
através do comércio. Dessa forma, a introdução do dinheiro em última análise
integrava os índios, no sistema econômico como “reserva de trabalho”. As
mudanças no sistema econômico foram acompanhadas, tanto no Peru quanto no
México, pelo desmantelamento da estrutura social, mas o processo assumiu
diferentes formas em cada área. Não se sabe até onde ayllus e as calpulli
foram afetadas pelas consequências da invasão europeia, mas ambas continuaram a
ser as células básicas da sociedade indígena. A natureza da sublevação se
manifesta mais claramente nos dois extremos da escala social: os índios, uma
parcela cada vez maior da população, que não mais participavam do setor
comunitário da economia, e aqueles senhores que haviam perdido muitos de seus
poderes tradicionais.
Durante
os dois vice-reinados desenvolveu-se um padrão de migração de que os coletivos
de trabalho começaram a se queixar. No Peru, além de dos deslocamentos
populacionais ocasionados pela própria conquista, as guerras civis entre os
partidários de Pizarro e os de Almagro, que perduraram até 1548, ajudaram a
desarraigar a população. Muitos índios, recrutados nos exércitos adversários e
levados para longe de suas aldeias de origem, ou terminaram por um número de
mendigos, ou permaneceram como yanaconas
a serviço dos espanhóis. Deve-se lembrar de que em Tahuantinsuyo, o termo yana designava “os índios livres de
vínculos familiares e pessoalmente dependentes do curaca ou do Inca”. Mas,
enquanto antes da invasão dos espanhóis ainda constituíam uma pequena parcela
da população, seu número começava agora a multiplicar. Seu status, no entanto, continuava a variar consideravelmente: se os yanaconas de Potosi, segundo pareceu,
eram livres de dependência pessoal, não era o caso dos que foram trabalhar nas
hacienda que surgiam, ou dos que eram empregados pelos espanhóis como
servidores domésticos. Tirando essas diferenças, o grosso da população andina
estava dividido em duas categorias: os hatunruna
(ou índios das comunidades que eram sujeitos ao tributo e à mita); e os yanaconas, considerados de status social inferior, mas na prática
livres das obrigações devidas pelos outros índios.
Fora
dessa distinção desenvolveu-se uma diferença essencial entre os dois
vice-reinados nos séculos posteriores. No Peru, o aumento do número dos yanaconas (e, depois, de forasteiro)
criou um problema cuja seriedade, embora não fosse tão evidente no século XVI,
se manifestou abertamente no século XVII e deveria persistir por todo o período
colonial: continha o embrião do conflito entre, de um lado os haciendados que tinham controle sobre
parte da força de trabalho e, de outro, os mineiros (privados de mitayos) e a
coroa (privada de tributos): o problema de submeter os yanaconas e os forasteros às obrigações que presavam sobre o
restante dos índios deveria dominar a história dos Andes entrais e meridionais.
No ano de 1551, houve a permissão de utilização da mão de obra indígena voluntária
sob o esquema de jornais. O Acordo de Hacienda, assinado em 1570, fez do encomendero de Huamanga, Garci Diez de
San Miguel, o grande ator no processo de convencimento dos indígenas a aderirem
ao trabalho nas minas. No entanto, os caciques de Huamanga se negaram a ceder a
mão de obra indígena para o trabalho mineiro e, em decorrência deste ato, a
Junta de Notables, estabelecida no mesmo ano, aprovou o trabalho indígena. O
continente ameríndio produziu, durante o período colonial, mais prata que ouro,
sendo que o Vice-Reino da Nova Espanha foi o maior usurpador destes minérios
durante todo o período.
O
termo índio provém do fato de que Cristóvão Colombo, quando chegou à América,
estava convencido de que tinha chegado à Índia, haja vista que o gentílico
espanhol para a pessoa nativa da Índia é índio
(índio), e dessa maneira chamou os povos indígenas que ali encontrou. Por essa
razão também, ainda hoje se refere às ilhas do Caribe como Índias Ocidentais. O
termo “ameríndio” é usado para designar os nativos do continente colonizado, em
substituição às palavras “índios”, “indígenas” e outras consideradas
preconceituosas. Na era colonial, dois períodos são reconhecidos como o auge da
produção mineira, sendo eles o os anos entre 1570 e 1630, no qual o Vice-reino
do Peru foi o maior produtor e, em seguida, o período correspondente aos anos
de 1770 e 1800, no qual a extração de minérios no México superou as áreas
sul-americanas.
No
que se refere à extração de prata em Potosí, pode-se dividir o período em
quatro etapas, sendo eles o rápido crescimento da produção usando a técnica de
mineração incaica (1545-1550), o declínio da produção em razão do esgotamento
mineral (1551-1570), a era do ouro guiada pela introdução da amálgama com o
mercúrio e o sistema de mita (1571-1614) e a era do declínio crônico de 1615 até
o início do século XVIII. A mita potosina se firmou como prática em 1578,
possuindo um número máximo de mitayos
fixado em 13.382, apesar de seu início ter se dado cinco anos mais cedo. A
região de Charcas, próximo ao Potosí, passou a ter maior aumento de densidade
demográfica em função da concentração e aumento da população em razão desta
prática de exploração humana, pois muitos dos quais sustentavam suas famílias
com os ganhos desta forma trabalho, viviam arraigados nesta região ainda que no
período pré-hispânico a migração para esta área fosse regularmente constante.
O
sistema de trabalho aplicado por
Toledo remete às medidas tomadas por Huayna Capac, na região de Cochabamba, na
busca da mobilização de um contingente de trabalhadores masculinos em
proporções equivalentes àquelas existentes durante o século XVI. Outra forma
utilizada por Toledo que nos remete ao passado pré-hispânico é o da huayra, prática pré-hispânica que remete
ao processo de fundição do mineral de ótima qualidade. Retornando ao período da
década de quarenta do século XVI, temos as ações dos encomenderos, os quais enviavam contingentes de trabalhadores
autóctones para o trabalho em Potosí, realizando atividades variadas, assim
como no sistema da mita colonial. Tem-se em vista que um dos principais agentes
na estruturação do sistema de trabalho mitayo foi Polo Ondegardo, jurista, encomendero, mineiro e conselheiro do
Vice-Rei Toledo durante a vista deste aos Andes na década de 1570. No entanto,
historicamente o trabalho de mineração subterrânea remete ao período romano,
tendo sido esta forma aplicada nas minas de mercúrio em Almandén, Espanha, não
se tratando, do ponto de vista da exploração, de inovação da prática
espanhola.
A
descoberta de Potosí em 1545 reorganizou a estrutura colonial espanhola. Em
meados de 1570 o Cerro Rico foi fundamental para a dinâmica da lógica mercantil
existente à época, pois a prata que brotava de Potosí marcou um novo estágio na
era capitalista. O Novo Mundo foi responsável pela produção de 74% de toda a
prata produzida no mundo durante o século XVI e, com isso, Potosí nascia como a
maior cidade do mundo, ultrapassando cidades como Amsterdã, Londres, Sevilha e
Veneza. No que se refere ao mundo do trabalho mitayo, faz-se vital apontar que
não existia apenas um tipo de mita em todo o chamado Novo Mundo. No entanto, a
mita potosina, aqui analisada, possuiu uma totalidade imensa de tributários,
oriundos de 16 províncias, para trabalhar nas minas, assim como nos engenhos de
moagem de metais. Os mitayos eram majoritariamente, responsáveis pela
realização da retirada do mineral das minas e acabavam por carregar a sua
produção em bolsas de couro em suas costas, podendo, realizar a
atividade de incorporar o metal selecionado para moer nos engenhos. Os
responsáveis por essas atividades laborais eram reconhecidos como apiris.
Melhor
dizendo, a organização socioeconômica da região se apresentava, em conjunto articulada
com as ordens política e institucional, sob o parâmetro religioso. Nesse
sentido, naquele ano Toledo iniciou sua caminhada pela região que culminaria na
instauração da mita. A utilização da mão de obra indígena no Cerro Rico de
Potosí está intimamente ligada ao processo de recrutamento de índios minga, ou
seja, indígenas alugados que cobravam de acordo com a atividade realizada.
Dessa forma, muitos indígenas sobre o regime da mita optavam por trabalhar como
mingas, pois com o salário que recebiam poderiam pagar sua substituição na
mita, tendo em vista que outros assentamentos possuíam aparentemente maiores
vantagens no processo em relação aos indígenas. O trabalho de mineração em
Potosí dependeu da força de trabalho indígena.
Se
compararmos com os trabalhos forçados de negros escravos ou libertos,
perceberemos que a participação ativa deste contingente é muito inferior à dos
povos autóctones durante o período de mineração de prata. Comparativamente o
período de início da exploração colonial em Potosí (1545), a organização dos
meios de trabalho e processo social da produção mineira mantiveram-se sob o controle
indígena durante o período conhecido como huayra,
a tradicional fundição nativa, geralmente situada nos morros para aproveitar o
vento, como ocorrerá com a energia eólica posteriormente. Foi fundada em 1546.
Em 1611, já era a maior produtora de prata do mundo e tinha à volta de 150 000
habitantes. Alcançou seu apogeu durante o século XVII, tornando-se a segunda
cidade mais populosa (atrás de Paris) e a mais rica do mundo, devido à
exploração de prata enviada à Espanha. No entanto, em 1825, a maior parte da
prata já se tinha esgotado e a sua população desceu até os 8 000 habitantes. No
começo do século XX, a exploração de estanho se incrementou pela demanda
mundial e, como consequência, Potosí voltou à experimentar um crescimento
importante. Durante o período em que fora utilizada a huayra os espanhóis fizeram inúmeras tentativas de libertar-se do
monopólio tecnológico indígena resultado da apropriação do minério; mas como
descreve Garcilaso de la Vega, todas essas tentativas fracassaram.
A Cidade de Potosí é a capital da Província de Tomás Frías e do Departamento de Potosí, na Bolívia. Sua população, no censo de 2009, era de 194.298 habitantes. Somente
quando foi introduzido o processo de trabalho em torno da amalgamação, no governo do vice-rei Fernando Álvarez de Toledo y
Pimentel, em 1574, é que os espanhóis puderam romper o controle indígena sobre
a produção da prata. Com a queda da qualidade da prata existente em Potosí e,
consequentemente, a queda na produção do minério, Toledo decide manter
praticamente a huayra em casos
pontuais, além de incentivar o desenvolvimento da prática de amálgama entre o
mercúrio e prata (“azogue”). Com isso, prescreveu que o pagamento dos mitayos
deveria ser feito em minério, não percebendo que a demanda técnica não poderia ser suprida pelos indígenas. Potosí, passa a
ser construída a partir de moinhos movidos por energia humana, que foram
rapidamente substituídos por máquinas de tração animal e, finalmente, por um
maquinário movido por energia hidráulica. Durante os primeiros decênios da
exploração das minas de Potosí, os métodos e técnicas de trabalho utilizado
eram os mesmos da era pré-hispânica e, com isso, os primeiros trabalhadores
eram oriundos das regiões mais antigas do Porco. No entanto, até o último terço
do século XVII, a introdução de equipamentos de bronze ou cobre e a escavação
no formato de galerias horizontais permitia desta forma a extração, drenagem e
ventilação.
A
mita potosina implicava a migração forçada, na prática, por um período de um
ano de indígenas tributários de homens entre 18 e 50 anos, provenientes de
diversas províncias das terras altas - localizadas entre o sul do Peru e da
Bolívia. Os indígenas das terras baixas não entravam neste sistema para evitar
doenças e mortes em decorrência do clima frio e seco das altas terras
potosinas. Estabeleceu-se que, em tese, cada indígena deveria cumprir seu turno
de mita a cada 6 ou 7 anos, acompanhados de suas mulheres, filhos e recursos. Em
1575, houve a reestruturação do sistema total do trabalho mitayo (“mita gruesa”). Um terço, correspondente à mita ordinária,
cumpriria seu turno semanal enquanto os outros estariam descansando. Há que se
notar que este aspecto foi mais teórico que real. É importante notar que em
torno de 3% dos homens adultos eram cotados para trabalhar no regime mitayo durante o século XVI, sendo essa
estimativa considerada alta em decorrência da realização periódica deste
trabalho. Durante o tempo livre que os mitayos possuíam, eles possivelmente
trabalhavam como mingados. Outras questões étnicas e políticas que podem ser
levantadas quanto a prática, é a transformação destes indígenas no seu ambiente.
Com a migração forçada desta mão de obra, os indígenas passam a ser considerados
“forasteros” naquela região, deixando de ser reconhecido como originário, além de ter que reestruturar
sua formação institucional e cultural em razão da nova forma de organização
socioeconômica.
A
população boliviana tem a face marcada geralmente por traços de ascendência
indígena, com pele morena e cabelos e olhos escuros. É reconhecida pelo seu
vasto patrimônio arquitetônico. A Catedral Gótica de São Lourenço, a Casa da
Moeda e a Universidade Tomás Frias são admirados mundialmente entre outros, e a
cidade, em 1987, passou a integrar a lista do Patrimônio Mundial da Unesco. A Universidad
Autónoma Tomás Frías ou UATF, é uma instituição pública localizada em Potosí,
Bolívia. Foi oficialmente criada pelo Decreto Supremo de 15 de outubro de 1892,
que no artigo primeiro afirma. São erguidos os Distritos Universitários de
Potosí e Oruro. – “Erguem-se os bairros universitários de Potosí e Oruro”. Começou a funcionar a partir da Faculdade Livre
de Direito em 1876, subordinada ao Cancelariato de Chuquisaca.
Em
30 de novembro de 1892, é emitido um decreto regulamentar pelo qual estabelece
que os departamentos de Potosí e Oruro são independentes dos cancelamentos de
Chuquisaca e La Paz respectivamente, e enquanto a lei não dá mais espaço aos
conselhos universitários, ficam restritos às suas faculdades da lei. Em 3 de
fevereiro de 1893, foi instalado o Conselho Universitário de Potosí, sob a
liderança do chanceler e presidente Dr. Nicanor Careaga. Oficialmente em
outubro de 1937, reconhece a autonomia ao distrito universitário de Potosí, o
primeiro Reitor Autonomista foi o Dr. Alberto Saavedra Nogales. Por ato de 29
de novembro de 1924 (promulgado em 2 de dezembro de 1924) pelo Presidente da
República da Bolívia Dr. Bautista Saavedra Mallea, a Universidade de Potosí
leva o nome do eminente intelectual nascido em Potosí, Dr. Tomás Frías Ametller
, reconhecendo sua contribuição à organização da Universidade Boliviana. Atualmente
a Universidade Autônoma Tomás Frías é uma das 15 universidades reconhecidas
pelo Comitê Executivo de Universidades Bolivianas, a autoridade máxima da
Universidade Boliviana. Tem doze Faculdades com 42 Escolas.
O
governo da Bolívia requisitou junto à instituição que esta contribuísse para a
criação de um museu local, além de preservação e restauro de alguns monumentos
de Potosí. Após aprovação junto ao comitê executivo, entre janeiro de 2001 e
dezembro de 2002 foi proporcionada ajuda técnica e financeira para os projetos
apresentados. Foi fundada em 1546. Em
1611, já era a maior produtora de prata do mundo e tinha à volta de 150 000
habitantes. Alcançou seu apogeu durante o século XVII, tornando-se a segunda
cidade mais populosa atrás apenas de Paris e a mais rica do mundo, devido à
exploração de prata enviada à Espanha. No entanto, em 1825, a maior parte da
prata já se tinha esgotado e a sua população desceu até os 8 000 habitantes. No
começo do século XX, a exploração de estanho se incrementou pela demanda mundial
e, como consequência, Potosí voltou a experimentar um crescimento importante.
A
história inicial da cidade é uma mescla intrincada de fatos fantásticos e
verídicos, pelo que é difícil distinguir a história da lenda. Diz-se que as
minas de prata foram descobertas casualmente em uma noite de 1545, por um
pastor quíchua chamado Diego Huallpa, que se perdeu quando regressava com seu
rebanho de lhamas. Decidiu, então, acampar no pé do Cerro Rico e fez uma grande
fogueira para abrigar-se do frio. Quando acordou pela manhã, notou que entre as
brasas brilhavam pedaços de prata, fundidos e derretidos pelo calor do fogo. O
local era aparentemente tão rico em prata que ela se encontrava à mostra no
terreno. Em 1º de abril de 1545, um grupo de espanhóis liderado pelo capitão
Juan de Villarroel tomou posse de Cerro Rico, tentando confirmar os relatos do
pastor. Imediatamente estabeleceu-se um povoado.
Segundo
outra versão, os incas já conheciam a existência de prata no local, mas quando
o imperador inca tentou começar sua exploração, o monte o teria expulsado
mediante uma estrondosa explosão, de onde deriva o nome do lugar, ¡P`utuqsi!,
proibindo-lhe de extrair a prata, que estava reservada "para os que viriam
depois". Os historiadores veem, nesta variante, uma deliberada influência
dos espanhóis na lenda para legitimar seus trabalhos no local. Após a invasão e
colonização dos espanhóis à América e a dominação do povo inca, com a
descoberta de Potosí e sua riqueza em prata, começou sua extração,
utilizando-se, para isso, trabalho indígena, chegando cada extrator a levar 29
quilogramas de prata por dia, subindo pelas minas com este peso em uma bolsa
atada ao pescoço. Em razão das más condições de trabalho, muitos índios
acabavam morrendo, por fome ou doenças, como pneumonia, acidentes, como
soterramentos e quedas de grandes alturas. Frei Domingo de Santo Tomas, um
padre que viveu à época, escreveu: - “Não é prata o que se envia à Espanha, é o
suor e sangue dos índios”.
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em Educação. Belo Horizonte: Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais,
2012; DELGADO, Ana Carolina Teixeira, Guerreiros do Arco-Íris: Os Caminhos e Descaminhos da Descolonização na Bolívia no Início do Século XXI. Tese de Doutorado. Instituto de Relações Internacionais. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2014; CORREIA, Elayne Castro, Uma Leitura de Los Ríos Profundos, de
José María Arguedas, a partir da Heterogeneidade e da Melancolia no Narrador.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Fortaleza:
Universidade Federal do Ceará, 2018; entre outros.
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