terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Dilema do Noivado de Marx: - Amor, para Onde Vamos?

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

Grande parte do meu pensamento está absorvida pela recordação de minha mulher”. Karl Marx

         
            Na Alemanha e em outros países da Europa o anel de noivado é tradicionalmente usado na mão esquerda até o casamento quando ele é colocado na mão direita, e será usado juntamente com o anel de casamento. Na República Federal da Alemanha, em princípio só um oficial de registro civil está habilitado a realizar um casamento. O oficial com jurisdição pelo local de residência na Alemanha é competente por receber o requerimento de casamento. Caso os noivos tenham residências diferentes ou várias residências na Alemanha, eles poderão escolher qualquer cartório de registro civil alemão. Depois de verificar tecnicamente a capacidade matrimonial, o cartório que realizará o casamento receberá os documentos para dar seguimento aos trâmites legais da burocracia. O cartório de registro civil do município em que você pretende casar-se com a mulher amada deverá prestar as informações técnicas sobre as condições legais para a realização do casamento civil.
Caso um dos noivos não seja cidadão alemão, ele necessita do chamado “certificado de capacidade matrimonial” que é emitido pelo país de origem e comprova que, segundo as leis daquele país, as condições sociais para o casamento estão dadas, pois “o noivo não é casado”. Quem decide por uma união no religioso, vai casar-se duas vezes com a mesma pessoa. Primeiro, assinando o termo de compromisso no cartório e depois, seguindo determinado ritual litúrgico na igreja. Durante a festa é tradição que os amigos e familiares façam surpresas para os noivos. Quem se encarrega da organização do rito de passagem são os padrinhos de casamento, que na tradição da Alemanha são somente duas pessoas de comum acordo. Casamento na Alemanha começa assegurando o pacto de registro na sociedade civil através do procedimento legal da cerimônia no cartório, que você está convidado para os parentes e amigos próximos. Em seguida, um casamento religioso na igreja.
É melhor, se o casamento será realizado até meio-dia, é hora na Alemanha é considerado ideal para a criação de uma nova família. Anteriormente, se você entra em casamento até que o tempo não era possível, na seta relógio da igreja traduzido exatamente uma hora atrás. O noivo leva a noiva da casa de seus pais. Na igreja eles vão para uma bela carruagem, tradicional puxada por cavalos. Todo o caminho que uma menina não deve olhar para trás. Acredita-se que isso vai prometer seu segundo casamento. Seguindo o jovem enviou a carreata com os convidados e parentes. Enquanto os amantes tradicionais de casamento são próximos uns dos outros, e entrou na igreja, movendo-se com passos lentos para o altar.  Noiva e noivo caminho repleto de pétalas cores. Esta antiga tradição alemã prevê que os aromas para atrair a localização da deusa da fertilidade recém-casada, o que dará as crianças adoram. Sobre a noiva colocar uma coroa de flores especial decorado com pérolas e joias, não será removido até a noite. Durante toda a cerimônia, etnograficamente a noiva e o noivo devem segurar velas para decorações que simbolizam o usa da fita de cetim, seguido de uma flor viva.


Marx cresceu numa família de classe média alta, filho do advogado Heinrich Marx e de Henriette Pressburg, “dona de casa” holandesa pertencente à família Phillips - cujo sobrenome curiosamente é referência em aparelhos eletrônicos. Judeus, os pais de Marx se converteram ao cristianismo por causa da repressão religiosa que marcou a monarquia absolutista prussiana cuja legislação proibia “não cristãos” de ocuparem cargos públicos. Os decretos foram ignorados nos tempos em que Trier foi anexada à França por Napoleão, mas voltaram a ser cumpridos depois da derrocada do imperador francês, em 1815. Até de nome o pai do futuro filósofo materialista mudou: Herschel Mordechai virou Heinrich Marx, em 1818. A conversão foi fundamental no destino de Marx. O primogênito assumia o cargo de rabino de Trier, tradição que acabou com o irmão mais velho de Heinrich. A ironia quase kierkegaardiana é que o jovem filósofo que poderia ter virado rabino, ficaria famoso como o homem que compreendeu que a religião é fundamental à crítica analítica da exploração do próprio homem, pois crê que as concepções metafísicas em geral e religiosas, em particular, tendem a desresponsabilizar os homens pelas consequências de interpetar o mundo e seus atos da vida cotidiana.
A mãe de Marx se chamava Henriette Pressburg (1787-1863) e era descendente de rabinos. A influência dela no pensamento do filho parece ter sido “periférica”, se considerada em relação à publicação de Marx do ensaio: “Zur Judenfrage” (1844). O pai de Karl, Hirschel Marx (1777-1838) era advogado e conselheiro de justiça, descendente de uma família de rabinos, tendo abandonado o judaísmo em 1824, quando se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições ideológicas impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço publico alemão, quando Marx tinha seis anos. Heinrich Marx e a mãe, Henriette Pressburg de origem judia holandesa provavelmente abandonaram o judaísmo porque naquela conjuntura ultraconservadora e racista os cargos públicos não eram permitidos a quem era de origem hebraica, na Renânia. Em 1842, o jovem filósofo assumiu a chefia da redação do jornal Renano em Colônia, onde seus artigos inscritos no radicalismo democrata comparativamente como ocorria na sociedade norte-americana, irritaram as autoridades antiliberais censoras. Em 1843, Marx mudou-se para Paris, editando em 1844 o primeiro volume dos “Anais Franco-Alemães”, órgão principal dos hegelianos ditos de esquerda. Entretanto, Marx viria a romper com os líderes deste movimento social, Bruno Bauer e Arnold Ruge. 
Cena do filme O Jovem Marx, 2017.
Essa “mentalidade” de Hirshel era condicionada pelo liberalismo político da própria região em que vivia, isto é, em Trier, onde Karl Marx nasceu e viveu até ir para a Universidade. Esta cidade situa-se na Renânia alemã, região que foi anexada e governada pela França revolucionária durante em bom tempo, o que fez dela um dos lugares da Alemanha mais impregnado dos princípios e do espírito revolucionário. O próprio pai de Marx, que era um advogado reconhecido e durante muito tempo foi presidente da associação dos advogados da cidade, também estava intimamente ligado com o movimento liberal radical renano. Ele era membro da sociedade literária, o “Trier Cassino Club”, fundado durante a ocupação francesa e assim chamado por ser um lugar de encontro político. O pai de Marx era um intelectual meticuloso, e passava seu tempo antes lendo que recitando, enquanto a mãe falava mal alemão, com seu forte sotaque holandês. Ela não participava da sociedade de Trier e parecia não ter intenção de expandir seu mundo além das necessidades de sua família.                      
Eram amorosos, mas não exatamente alegres, mas moderadamente prósperos - o trabalho duro de Heinrich e a parcimônia da família lhes permitia comprar dois pequenos vinhedos, mas sem fartura. Marx respeitava a integridade de seu pai, apesar de frequentemente se rebelar contra seus conselhos. Ludwig von Westphalen e Heinrich Marx estavam entre os duzentos protestantes da cidade e eram membros seletos dos mesmos clubes sociais e profissionais. Karl Marx e Edgar von Westphalen eram colegas de classe: na verdade Edgar seria o único amigo de Karl desde a época da escola. E Sophie Marx, a irmã mais velha e mais íntima de Karl era coincidentemente amiga de Jenny von Westphalen. As crianças estavam sempre umas nas casas das outras, e talvez tenha sido a amizade de Karl com Edgar, mais do que sua relação com o pai de Jenny que tenha primeiro chamado a atenção dela. Edgar, que era apenas cinco anos mais novo que Jenny, era seu único irmão de pai e mãe, e ela contariam a uma amiga, anos mais tarde que ele tinha sido o “o ídolo da minha infância... meu único e amado companheiro”. Edgar era bonito e atraente com seus cabelos desgrenhados que lhe davam ar de poeta, mas não era um intelectual: era impulsivo como um menino, e, portanto, protegido (e mimado) pelos pais e pela irmã mais velha.
Relativamente estudioso Marx foi visto como uma boa influência para ele. Qualquer que fosse o caso, Karl rapidamente foi absolvido pela família: por Edgar, que se tornaria o primeiro discípulo de Marx; por Ludwig, encantado com o cérebro notável do rapaz; e por Jenny, que não conseguiu ficar indiferente àquele adolescente que impressionava tanto os dois homens que ela mais amava em meio a tudo isso, o pai de Marx se manifestou contra o governo num discurso feito no clube a que ele e Ludwig von Westphalen pertenciam. O Casino Club, a associação particular mais exclusiva de Trier, de profissionais liberais, militares e homens de negócios, reuniram-se em janeiro de 1834 para homenagear os membros mais liberais da dieta renana (a assembleia da província). Heinrich Marx havia ajudado a organizar o encontro e falou ao grupo, agradecendo ao rei por permitir que a dieta se reunisse como corpo de representantes do povo e aplaudindo a Coroa por dar ouvidos aos desejos de seus súditos. Mas apesar de seu discurso ser sincero, aquilo foi interpretado como ironia e deixou alarmados os oficiais do governo. Semanas mais tarde o clube voltou a se reunir, e dessa vez os discursos deram lugar às proibidas “canções de liberdade”, entre elas a Marselhesa da França, que as monarquias consideravam uma incitação à revolta equivalente a hastear a bandeira vermelha. O que deixou os oficiais preocupados não foi tanto quem estava cantando – os pilares da comunidade de Trier -, mas o fato de saberem a letra de cor. O “frenesi do espírito revolucionário” ecoado em torno de 1830, segundo um militar presente ao evento, não podia passar por uma aberração eventual. O clube foi posto sob a vigilância e Heinrich Marx passou a ser visto com suspeita pelo governo.  
     
                         
        Marx iniciou os estudos de Direito na Universidade de Bonn, em 1835 e depois de um ano de vida boêmia e desregrada, transferiu-se para a Universidade de Berlim com o consentimento de seu pai. As esperanças de Heinrich de que, a partir de então o filho se concentrasse apenas nos estudos foram, entretanto, frustradas por um importante acontecimento da vida afetiva de Marx, o início de sua paixão por Joanna Bertha Julie Jenny von Westphalen, mais conhecida como Jenny. Uma jovem bela e inteligente, proveniente de classe dominante prussiana, filha do barão Ludwig von Westphalen, quatro anos mais velha do que ele, com quem convivera desde a infância. A paixão transformou-se em compromisso de noivado, nas férias de verão de 1836, que duraria em torno de sete anos, tendo a notícia sido preservada da família da noiva durante quase um ano. Não é difícil inferir as razões do sigilo quase absoluto. Tendo em vista que o próprio barão, depois de um casamento convencional de elite, estava então casado com Caroline Heubel, uma mulher simples e distinta da classe média alemã, que era a mãe de Jenny Westphalen, a principal razão devia relacionar-se à visão de mundo que se tinha à época do casamento como algo pelo qual se devia poupar e que só se podia enfrentar a partir de certo ponto, isto é, de uma posição social que resultasse de emprego respeitável, capaz de prover à contento a sobrevivência da família.
Em 1836, aos 18 anos de idade, Marx se apaixonou por Jenny Westphalen; pediu-a em casamento, ela aceitou. Como Marx não tinha condições para se casar, os dois foram obrigados a esperar oito anos. Jenny fazia muito sucesso na cidade de Trier, era admirada nas festas, não teria dificuldades para desposar algum pretendente rico; era a filha dileta do primeiro conselheiro do governo da cidade, o barão Ludwig von Westphalen, da nobreza prussiana. Sua decisão de casar-se com o jovem filho do cristão-novo Hirschel Marx parecia tão absurda que, a pedido dela, o noivado permaneceu inicialmente secreto. Karl Marx, o noivo, foi para Berlim, estudar; de lá, mandava para a noiva, Jenny, poemas transbordantes de carinho, saudade e má literatura. Só quando voltou a Trier, de férias, é que pode pedir ao barão a mão de sua filha; e o barão – que, afinal, era um liberal – admitiu o noivado em 1837. O casamento, porém, ainda demorou: Marx se preparou para o doutorado, pretendia lecionar filosofia na universidade, mas o clima político da Prússia piorou e o filósofo acabou sendo compelido a virar jornalista. Só conseguiu se casar em 1843; e foi viver com a mulher em Paris. A vida do casal, como se sabe, foi atribuladíssima. Viveram inicialmente na França e Bélgica, regressaram à Alemanha e viveram exilados em Londres, onde passaram as últimas três décadas de suas respectivas existências.   
O filme: Le Jeune Karl Marx, dirigido pelo haitiano Raoul Peck, narra o percurso das ideias revolucionárias que se forma no jovem Marx, ao longo dos anos de 1843 a fevereiro de 1848, quando da publicação do programa da Liga Comunista, conhecido como Manifesto do Partido Comunista. Em fins de 1843, Marx casa-se com Jenny e ambos deixam a Alemanha rumo à França, onde passam a residir em Paris até 1845, quando é expulso para Bruxelas e, posteriormente, dirige-se a Londres onde irá residir até a sua morte. O “clima de comunicação” intelectual do Liceu onde Marx estudou até 1835, como podemos imaginar, não era diferente. Aí também o espírito liberal da Ilustração fora introduzido, de modo que Marx recebeu uma educação tipicamente humanista do ponto de vista da sociedade liberal. O próprio reitor do Liceu, Johann Hugo Wyttenbach, havia contribuído para que aí reinasse um espírito liberal e racionalista. Wyttenbach havia participado da fundação do “Trier Cassino Club”, era amigo íntimo da família Marx e professor de história de Karl. Nesse mesmo Liceu do qual ele era reitor, o professor de matemática foi acusado de materialismo e ateísmo, e o professor de hebraico de ter se juntado “às cantorias revolucionárias” por influência francesa. Por tudo isso, e logo após a polícia ter encontrado sátiras antigovernamentais em posse de alunos envolvidos no debate sobre filosofia, Wyttenbach foi obrigado a receber Loehrs, tido por reacionário, como co-Reitor. Marx expressou seu repúdio a Loehrs despedindo-se de todos os professores menos dele ao sair do Liceu. 
Marx tornou-se reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença filosófica que profere em um manuscrito intitulado: Crítica da filosofia do direito de Hegel (1843): - “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo”. Em verdade, Marx se ocupou muito pouco em criticar sistematicamente a atividade religiosa, mas o fez de maneira singular, evidenciando sua formação ideológica no limite da consciência. Nesse quesito ele basicamente seguiu as opiniões de Ludwig Feuerbach, para quem a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico: é criada pela fabulação dos homens. Ao integrar a Filosofia alemã, do socialismo utópico e da economia política clássica, Marx elaborou, simultaneamente, o método de análise e a interpretação do capitalismo como um modo fundamentalmente antagônico de desenvolvimento histórico. Em essência, o capitalismo é um modo de produção e de reconhecimento da produção-consumo e extração de mais-valia.
            Marx foi o terceiro de nove filhos, de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788-1863), era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777-1838), um advogado e conselheiro de Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos. Johanna Bertha Julie von Westphalen, conhecida como Jenny von Westphalen ou Jenny Marx (1814-1881), foi esposa de Karl Marx, filha de Johann Ludwig (1770-1842), Barão von Westphalen, professor na Friedrich-Wilhelm-Universität de Berlim. Em 1830, Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde na Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor. Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado pelo hegeliano de esquerda Bruno Bauer. Ali perdeu interesse pelo Direito em seu conservadorismo e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos chamados jovens hegelianos.  
Seu pai faleceu neste mesmo ano. Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia com uma tese materialista sobre a Diferença da Filosofia da Natureza em Demócrito e Epicuro. Impedido de seguir uma carreira acadêmica tornou-se, em 1842, redator-chefe da Rheinische Zeitung (“Gazeta Renana”), um jornal da província de Colônia, onde conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano, durante visita deste a redação do jornal. Karl Marx é um nome fundamental para compreender o desenvolvimento político do mundo moderno e a crítica ideológica desde a metade do século XIX, tendo ecos até os dias de hoje. Marx nasceu em uma rica família de classe média em Tréveris, na Renânia prussiana, e estudou nas universidades de Bonn e Berlim, onde ficou interessado pelas ideias filosóficas dos jovens hegelianos. Depois dos estudos, ele escreveu para Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e começou a trabalhar na teoria da concepção materialista da história. Ele se mudou para Paris em 1843, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. É curioso como mesmo atestando sua importância, o que se vê é um distanciamento em relação a seus pensamentos por parte de quem é a favor e por parte de quem é contra, algo que obviamente deturpa o que o pensador escreveu há tempos atrás.
Talvez seja esse o pensamento para a realização do longa-metragem “O Jovem Karl Marx”, uma típica cinebiografia moderna da agonia à glória em 120 minutos, individualizando pensamentos e fazendo da narrativa audiovisual um amontoado de ações para reconstituir uma epopeia de um homem, no caso um teórico, transformando-se em algo muito maior que sua própria individualidade, ou sem ter a consciência de seu trabalho e de suas ideias. É o que mais parece problemático em O Jovem Karl Marx, um filme que individualiza referências em torno de glórias de um pensador que propunha coletivizações das relações políticas em primeira instância. Dirigido por Raoul Peck, que também escreve o roteiro junto com Pascal Bonitzer demonstra que sua principal dificuldade é a representação digna do valor histórico daqueles personagens. Ao final, tudo que a família tinha eram precisamente as ideias de Marx, que durante a maior parte da vida deles só existiram como uma tempestade se preparando dentro do cérebro disciplinado, turbulento, epigramático e conciso do pai, e que aparentemente quase ninguém mais reconhecia ou mesmo compreendia em sua globalidade. Por improvável que fosse Marx fez o que se havia proposto a fazer: ele mudou o mundo.
           Em 1843, a Gazeta Renana foi fechada após publicar uma série de críticas ao governo prussiano. Tendo perdido o seu emprego de redator-chefe, Marx mudou-se para Paris. Lá assumiu a direção da publicação Deutsch-Französische Jahrbücher (“Anais Franco-Alemães”) e foi apresentado a diversas sociedades secretas de socialistas. Antes ainda da sua mudança para Paris, Marx casou-se, no dia 19 de junho de 1843, com Jenny von Westphalen, a filha de um barão da Prússia com a qual mantinha noivado desde o início dos seus estudos universitários. Noivado que foi mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não concordavam com a união. De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação chamada Vorwärts!, que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas, para onde Engels também viajou. Entre outros escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto do Partido Comunista. Em 1848, Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo reacionário. Com Friedrich Engels, mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova Gazeta Renana. Após análises publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia em 1849.

Casa onde a família de Marx viveu em Tréveris.

Até meados de 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos,  seu salário e presentes de amigos e aliados políticos, além da herança legada por seu pai. Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para Londres, onde fixaram residência definitiva para trabalhar como correspondente em Londres para o New York Tribune onde declarou seu notório apoio público ao governo de Abraham Lincoln durante a Guerra da Secessão. Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições sanitárias e de subsistência que foram forçados a viver no exílio em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta. As crianças eram: Jenny Caroline (1844-1883), Jenny Laura (1845-1911), Edgar (1847-1855), Henry Edward Guy (“Guido”; 1849-1850), Jenny Eveline Frances (“Franziska”; 1851-52), Jenny Julia Eleanor (1855-1898) e mais um que morreu antes de ter recebido seu nome, ocorrido em julho de 1857.
Uma carta de Marx a Jenny, escrita em 21 de junho de 1856, quando ele estava  em Manchester é particularmente expressiva. Nela afirma o filósofo Leandro Konder, vemos o viço do amor, sua impetuosidade, 20 anos depois de sua primeira aparição. Marx começa dizendo: - “Amadinha do meu coração, torno a te escrever porque estou sozinho e porque me cansa ficar dialogando contigo na minha cabeça o tempo todo, sem que tomes conhecimento disso, sem que possas me ouvir e responder”. Conta em seguida que beija sempre o retrato dela e que sonha com ela: - “Beijo dos pés à cabeça, caio de joelhos diante de ti e gemo: ´Amo-a, minha senhora`. De fato, eu te amo. E te amo mais do que o mouro de Veneza jamais amou” (a comparação com Otelo se devia ao fato de o apelido de Marx em família ser ´mouro`). Adiante, Marx escreve: - “Quem, entre os meus numerosos caluniadores, quem, entre os meus inimigos maledicentes, já me acusou de ter vocação para desempenhar o papel de apaixonado num teatro de segunda categoria? Nenhum. No entanto, essa acusação seria verdadeira”.
E prossegue: - “Certamente sorris, meu bem, e perguntas por que de repente eu venho com toda essa retórica. Se eu pudesse, contudo, apertar teu coração doce contra o meu coração, então me calaria, não diria mais nada”. Enfim, a existência de outras mulheres, inclusive bonitas, é reconhecida por Marx, porém elas não lhe interessam. – “Na realidade, afirma Marx, existem muitas outras mulheres e algumas delas são belas. Mas onde eu encontraria de novo um rosto no qual cada traço – e mesmo cada ruga – seja capaz de evocar as lembranças mais fortes e mais deliciosas de minha vida? Lembra ainda Konder (2009: 101) que Marx não foi só um defensor do amor no plano teórico, foi, também, um praticante radical do amor em sua relação com Jenny. Quando ela morreu, em 2 de dezembro de 1881, Engels previu desanimado: o “mouro” não vai sobreviver. De fato, Marx ficou arrasado. Numa carta ao amigo, em 1° de março de 1882, escreveu (em inglês): “Você sabe que há poucas pessoas mais avessas ao patético-demonstrativo do que eu; contudo, seria uma mentira não confessar que grande parte do meu pensamento está absorvida pela recordação de minha mulher, boa parte da melhor parte da minha vida”. Em seus manuscritos aumenta o número de lapsos. A saúde piora a cada semana. Os genros - Lafargue e Longuet - despertaram-lhe crescente irritação. Um ano e quatro meses após a morte da mulher, também ele, afinal, se extingue.     
         Enfim, em termos da proporção de publicações póstumas em relação àquelas publicadas em vida, Marx, comparativamente ao escocês Adam Smith, revelou um recorde no plano da análise teórica. As Conferências sobre Jurisprudência, de Smith, só foram descobertas no século XX, e ele havia proibido a publicação das suas obras que só agora estão acessíveis, como Essays on Philosophical Subjects. Mas seus livros mais importantes The Theory of Moral Sentiments e The Wealth of Nations - foram publicados em vida, e o imortalizaram: ao morrer Adam Smith já era famoso. Quanto à Marx, ao morrer ele não era um desconhecido, e os governos em toda a Europa estavam cientes da sua notoriedade, embora os ingleses não compartilhassem as suspeitas dos alemães de que ele fosse um regicida potencial. Mas depois de sua morte, e ao longo do breve século XX, que sua reputação cresceu. Todas as suas obras foram recuperadas e editadas, embora por mero acaso seus novos censores, que o admiravam, não eram melhores do que os antigos prussianos. Algum tempo expurgada, mas depois restaurada, se não a coleção completa de seus escritos pelo menos 98% dela: são 49 volumes, dos quais talvez uma quinta parte, no máximo, foi publicada durante sua vida hic et nunc, mas decisivamente o fora.  
         Uma peculiar primeira edição da obra O Capital, de Karl Marx, que leva a assinatura do autor e foi dada para o amigo Johann Eccarius, foi vendida em Londres por 218,5 mil libras (cerca de 1,08 milhão) pela casa Bonhams, em Londres. Segundo indicou à agência EFE um porta-voz da casa de leilões, o arremate foi fechado por telefone e a obra, que partia com um preço estimado de saída de entre 80 mil e 120 mil libras (entre R$ 394 mil e R$ 591,2 mil), foi comprada por um colecionador europeu, do qual não foram revelados detalhes para não quebrar a confidencialidade. Marx e Eccarius foram figuras importantes durante o difícil nascimento do comunismo e desfrutaram de uma relação estreita pessoal durante muitos anos até que os ciúmes e as diferenças políticas os separaram, segundo o especialista em livros da casa de leilões Simon Roberts. A peça está datada em 18 de setembro de 1867, quatro dias depois da publicação do primeiro volume, e é uma das poucas cópias que sobreviveram, segundo a Bonhams. Eccarius (1818-1889) foi um alfaiate que se uniu à britânica da Liga dos Justos, organização revolucionária apoiada por alemães que tinham emigrado em 1839. Em 1846, Marx e Engels, que viviam então em Bruxelas, foram convidados a se unir à liga, e um ano depois assistiram ao segundo congresso da organização em Londres, onde conheceram Eccarius. Marx foi muito amigo de Eccarius, mas por volta de 1870 a relação tornou-se difícil depois que o autor de O capital lhe acusou de assumir o crédito de suas ideias em artigos jornalísticos.
Bibliografia geral consultada.

MITCHELL, Juliet, “Mulheres: A Revolução mais Longa”. In: Revista Civilização Brasileira, nº 14. Rio de Janeiro, 1967; DURAND, Pierre, La Vie Amoureuse de Karl Marx. Paris: Editeur Julliard, 1970; KAPP, Ivone, Eleanor Marx: La Vida Familiar de Carlos Marx (1855-1883). Tomo I. México: Ediciones Nuestro Tiempo, 1979; KONDER, Leandro, “Marx e o Amor”. In: Por que Marx? Rio de Janeiro: Graal Editor, 1983; Idem, A Derrota da Dialética: A Recepção das Ideias de Marx no Brasil até o começo dos anos 30. Tese de Doutorado em Filosofia. Rio de Janeiro: Editor Campus, 1988; Idem, “Marx e o Amor”. In: O Marxismo na Batalha das Ideias. 2ª edição. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2009; XENAKIS, Françoise, Zut! On a Encore Oublie Madame Freud. Paris: Éditions Hachette, 1984; MACFARLANE, Alan, História do Casamento e do Amor. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; ARON, Raymond, Le Marxisme de Marx. Paris: Le Livre de Poche, 2004; PINHEIRO, Anna Marina Madureira de Pinho Barbará, “Marx e as Mulheres”. Disponível em: http://www.achegas.net/dezesseis/2004; STALLYBRASS, Peter, O Casaco de Marx: Roupas, Memória, Dor. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008; FREUD, Sigmund, Malaise dans la Civilisation. Paris: Éditions Payot, 2010; MARX, Karl, O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I. O Processo de Produção Social. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013; Idem, Cadernos de Paris & Manuscritos Econômico-filosóficos de 1844. São Paulo: Expressão Popular, 2015; GABRIEL, Mary, Amor & Capital. A Saga Familiar de Karl Marx e a História de uma Revolução. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2013; ARAÚJO, Inácio, “Longa [metragem]sobre Karl Marx Jovem é Conservador, mas Informativo”. In: http://m.folha.uol.com.br/2017/12/28; BASTOS, Roberto Kennedy de Lemos, Marx e o Clinâmen: Gênese do Materialismo? Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2017; HEINRICH, Michael, Karl Marx e o Nascimento da Sociedade Moderna. Biografia e Desenvolvimento de sua Obra.Vol.1 (1818-1841). São Paulo: Boitempo Editorial, 2018; entre outros.

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