Ubiracy de Souza Braga
“Grande parte do meu pensamento está absorvida
pela recordação de minha mulher”. Karl Marx
Na Alemanha e em outros países da
Europa o anel de noivado é tradicionalmente usado na mão esquerda até o casamento
quando ele é colocado na mão direita, e será usado juntamente com o anel de
casamento. Na República Federal da Alemanha, em princípio só um oficial de
registro civil está habilitado a realizar um casamento. O oficial com
jurisdição pelo local de residência na Alemanha é competente por receber o
requerimento de casamento. Caso os noivos tenham residências diferentes ou
várias residências na Alemanha, eles poderão escolher qualquer cartório de
registro civil alemão. Depois de verificar tecnicamente a capacidade matrimonial,
o cartório que realizará o casamento receberá os documentos para dar seguimento
aos trâmites legais da burocracia. O cartório de registro civil do município em que você pretende
casar-se com a mulher amada deverá prestar as informações técnicas sobre as condições legais para
a realização do casamento civil.
Caso
um dos noivos não seja cidadão alemão, ele necessita do chamado “certificado de
capacidade matrimonial” que é emitido pelo país de origem e comprova que,
segundo as leis daquele país, as condições sociais para o casamento estão
dadas, pois “o noivo não é casado”. Quem decide por uma união no religioso, vai
casar-se duas vezes com a mesma pessoa. Primeiro, assinando o termo de
compromisso no cartório e depois, seguindo determinado ritual litúrgico na
igreja. Durante a festa é tradição que os amigos e familiares façam surpresas
para os noivos. Quem se encarrega da organização do rito de passagem são os padrinhos de casamento, que na tradição da Alemanha são
somente duas pessoas de comum acordo. Casamento na Alemanha começa assegurando o pacto de
registro na sociedade civil através do procedimento legal da cerimônia no
cartório, que você está convidado para os parentes e amigos próximos. Em
seguida, um casamento religioso na igreja.
É melhor, se o casamento será realizado até meio-dia, é hora na Alemanha é considerado ideal para a criação de uma nova família. Anteriormente, se você entra em casamento até que o tempo não era possível, na seta relógio da igreja traduzido exatamente uma hora atrás. O noivo leva a noiva da casa de seus pais. Na igreja eles vão para uma bela carruagem, tradicional puxada por cavalos. Todo o caminho que uma menina não deve olhar para trás. Acredita-se que isso vai prometer seu segundo casamento. Seguindo o jovem enviou a carreata com os convidados e parentes. Enquanto os amantes tradicionais de casamento são próximos uns dos outros, e entrou na igreja, movendo-se com passos lentos para o altar. Noiva e noivo caminho repleto de pétalas cores. Esta antiga tradição alemã prevê que os aromas para atrair a localização da deusa da fertilidade recém-casada, o que dará as crianças adoram. Sobre a noiva colocar uma coroa de flores especial decorado com pérolas e joias, não será removido até a noite. Durante toda a cerimônia, etnograficamente a noiva e o noivo devem segurar velas para decorações que simbolizam o usa da fita de cetim, seguido de uma flor viva.
Marx
cresceu numa família de classe média alta, filho do advogado Heinrich Marx e de
Henriette Pressburg, “dona de casa” holandesa pertencente à família Phillips -
cujo sobrenome curiosamente é referência em aparelhos eletrônicos. Judeus, os
pais de Marx se converteram ao cristianismo por causa da repressão religiosa
que marcou a monarquia absolutista prussiana cuja legislação proibia “não
cristãos” de ocuparem cargos públicos. Os decretos foram ignorados nos tempos
em que Trier foi anexada à França por Napoleão, mas voltaram a ser cumpridos
depois da derrocada do imperador francês, em 1815. Até de nome o pai do futuro
filósofo materialista mudou: Herschel Mordechai virou Heinrich Marx, em 1818. A
conversão foi fundamental no destino de Marx. O primogênito assumia o cargo de
rabino de Trier, tradição que acabou com o irmão mais velho de Heinrich. A
ironia quase kierkegaardiana é que o jovem filósofo que poderia ter virado rabino, ficaria famoso
como o homem que compreendeu que a religião é fundamental à crítica analítica da
exploração do próprio homem, pois crê que as concepções metafísicas em geral e religiosas, em particular, tendem a desresponsabilizar os
homens pelas consequências de interpetar o mundo e seus atos da vida cotidiana.
A
mãe de Marx se chamava Henriette Pressburg (1787-1863) e era descendente de
rabinos. A influência dela no pensamento do filho parece ter sido “periférica”,
se considerada em relação à publicação de Marx do ensaio: “Zur Judenfrage”
(1844). O pai de Karl, Hirschel Marx (1777-1838) era advogado e conselheiro de
justiça, descendente de uma família de rabinos, tendo abandonado o judaísmo em
1824, quando se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições
ideológicas impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço publico
alemão, quando Marx tinha seis anos. Heinrich Marx e a mãe, Henriette Pressburg
de origem judia holandesa provavelmente abandonaram o judaísmo porque naquela
conjuntura ultraconservadora e racista os cargos públicos não eram permitidos a
quem era de origem hebraica, na Renânia. Em 1842, o jovem filósofo assumiu a
chefia da redação do jornal Renano em Colônia, onde seus artigos inscritos no
radicalismo democrata comparativamente como ocorria na sociedade norte-americana, irritaram as autoridades antiliberais censoras. Em 1843, Marx mudou-se
para Paris, editando em 1844 o primeiro volume dos “Anais Franco-Alemães”,
órgão principal dos hegelianos ditos de esquerda. Entretanto, Marx viria a
romper com os líderes deste movimento social, Bruno Bauer e Arnold Ruge.
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Cena do filme O Jovem Marx, 2017. |
Essa
“mentalidade” de Hirshel era condicionada pelo liberalismo político da própria
região em que vivia, isto é, em Trier, onde Karl Marx nasceu e viveu até ir
para a Universidade. Esta cidade situa-se na Renânia alemã, região que foi
anexada e governada pela França revolucionária durante em bom tempo, o que fez
dela um dos lugares da Alemanha mais impregnado dos princípios e do espírito
revolucionário. O próprio pai de Marx, que era um advogado reconhecido e
durante muito tempo foi presidente da associação dos advogados da cidade,
também estava intimamente ligado com o movimento liberal radical renano. Ele
era membro da sociedade literária, o “Trier Cassino Club”, fundado durante a
ocupação francesa e assim chamado por ser um lugar de encontro político. O pai
de Marx era um intelectual meticuloso, e passava seu tempo antes lendo que
recitando, enquanto a mãe falava mal alemão, com seu forte sotaque holandês.
Ela não participava da sociedade de Trier e parecia não ter intenção
de expandir seu mundo além das necessidades de sua família.
Eram
amorosos, mas não exatamente alegres, mas moderadamente prósperos - o trabalho
duro de Heinrich e a parcimônia da família lhes permitia comprar dois pequenos
vinhedos, mas sem fartura. Marx respeitava a integridade de seu pai, apesar de
frequentemente se rebelar contra seus conselhos. Ludwig von Westphalen e
Heinrich Marx estavam entre os duzentos protestantes da cidade e eram membros
seletos dos mesmos clubes sociais e profissionais. Karl Marx e Edgar von
Westphalen eram colegas de classe: na verdade Edgar seria o único amigo de Karl
desde a época da escola. E Sophie Marx, a irmã mais velha e mais íntima de Karl
era coincidentemente amiga de Jenny von Westphalen. As crianças estavam sempre
umas nas casas das outras, e talvez tenha sido a amizade de Karl com Edgar,
mais do que sua relação com o pai de Jenny que tenha primeiro chamado a atenção
dela. Edgar, que era apenas cinco anos mais novo que Jenny, era seu único irmão
de pai e mãe, e ela contariam a uma amiga, anos mais tarde que ele tinha sido o
“o ídolo da minha infância... meu único e amado companheiro”. Edgar era bonito
e atraente com seus cabelos desgrenhados que lhe davam ar de poeta, mas não era
um intelectual: era impulsivo como um menino, e, portanto, protegido (e mimado)
pelos pais e pela irmã mais velha.
Relativamente
estudioso Marx foi visto como uma boa influência para ele. Qualquer que fosse o
caso, Karl rapidamente foi absolvido pela família: por Edgar, que se tornaria o
primeiro discípulo de Marx; por Ludwig, encantado com o cérebro notável do
rapaz; e por Jenny, que não conseguiu ficar indiferente àquele adolescente que
impressionava tanto os dois homens que ela mais amava em meio a tudo isso, o
pai de Marx se manifestou contra o governo num discurso feito no clube a que
ele e Ludwig von Westphalen pertenciam. O Casino Club, a associação particular
mais exclusiva de Trier, de profissionais liberais, militares e homens de
negócios, reuniram-se em janeiro de 1834 para homenagear os membros mais
liberais da dieta renana (a assembleia da província). Heinrich Marx havia
ajudado a organizar o encontro e falou ao grupo, agradecendo ao rei por
permitir que a dieta se reunisse como corpo de representantes do povo e
aplaudindo a Coroa por dar ouvidos aos desejos de seus súditos. Mas apesar de
seu discurso ser sincero, aquilo foi interpretado como ironia e deixou
alarmados os oficiais do governo. Semanas mais tarde o clube voltou a se
reunir, e dessa vez os discursos deram lugar às proibidas “canções de liberdade”,
entre elas a Marselhesa da França, que as monarquias consideravam uma incitação
à revolta equivalente a hastear a bandeira vermelha. O que deixou os oficiais
preocupados não foi tanto quem estava cantando – os pilares da comunidade de
Trier -, mas o fato de saberem a letra de cor. O “frenesi do espírito revolucionário”
ecoado em torno de 1830, segundo um militar presente ao evento, não podia
passar por uma aberração eventual. O clube foi posto sob a vigilância e
Heinrich Marx passou a ser visto com suspeita
pelo governo.
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Marx
iniciou os estudos de Direito na Universidade de Bonn, em 1835 e depois de um
ano de vida boêmia e desregrada, transferiu-se para a Universidade de Berlim
com o consentimento de seu pai. As esperanças de Heinrich de que, a partir de
então o filho se concentrasse apenas nos estudos foram, entretanto, frustradas
por um importante acontecimento da vida afetiva de Marx, o início de sua paixão
por Joanna Bertha Julie Jenny von Westphalen, mais conhecida como Jenny. Uma
jovem bela e inteligente, proveniente de classe dominante prussiana, filha do
barão Ludwig von Westphalen, quatro anos mais velha do que ele, com quem
convivera desde a infância. A paixão transformou-se em compromisso de noivado,
nas férias de verão de 1836, que duraria em torno de sete anos, tendo a notícia
sido preservada da família da noiva durante quase um ano. Não é difícil inferir
as razões do sigilo quase absoluto. Tendo em vista que o próprio barão, depois
de um casamento convencional de elite, estava então casado com Caroline Heubel,
uma mulher simples e distinta da classe média alemã, que era a mãe de Jenny
Westphalen, a principal razão devia relacionar-se à visão de mundo que se tinha
à época do casamento como algo pelo qual se devia poupar e que só se podia
enfrentar a partir de certo ponto, isto é, de uma posição social que resultasse de emprego respeitável, capaz de
prover à contento a sobrevivência da família.
Em
1836, aos 18 anos de idade, Marx se apaixonou por Jenny Westphalen; pediu-a em
casamento, ela aceitou. Como Marx não tinha condições para se casar, os dois
foram obrigados a esperar oito anos. Jenny fazia muito sucesso na cidade de
Trier, era admirada nas festas, não teria dificuldades para desposar algum
pretendente rico; era a filha dileta do primeiro conselheiro do governo da
cidade, o barão Ludwig von Westphalen, da nobreza prussiana. Sua decisão de
casar-se com o jovem filho do cristão-novo Hirschel Marx parecia tão absurda
que, a pedido dela, o noivado permaneceu inicialmente secreto. Karl Marx, o
noivo, foi para Berlim, estudar; de lá, mandava para a noiva, Jenny, poemas
transbordantes de carinho, saudade e má literatura. Só quando voltou a Trier,
de férias, é que pode pedir ao barão a mão de sua filha; e o barão – que,
afinal, era um liberal – admitiu o noivado em 1837. O casamento, porém, ainda
demorou: Marx se preparou para o doutorado, pretendia lecionar filosofia na
universidade, mas o clima político da Prússia piorou e o filósofo acabou sendo
compelido a virar jornalista. Só conseguiu se casar em 1843; e foi viver com a
mulher em Paris. A vida do casal, como se sabe, foi atribuladíssima. Viveram
inicialmente na França e Bélgica, regressaram à Alemanha e viveram exilados em Londres, onde passaram as últimas três décadas de suas
respectivas existências.
O
filme: Le Jeune Karl Marx, dirigido
pelo haitiano Raoul Peck, narra o percurso das ideias revolucionárias que se
forma no jovem Marx, ao longo dos anos de 1843 a fevereiro de 1848, quando da
publicação do programa da Liga Comunista, conhecido como Manifesto do Partido
Comunista. Em fins de 1843, Marx casa-se com Jenny e ambos deixam a Alemanha
rumo à França, onde passam a residir em Paris até 1845, quando é expulso para
Bruxelas e, posteriormente, dirige-se a Londres onde irá residir até a sua
morte. O “clima de comunicação” intelectual do Liceu onde Marx estudou até
1835, como podemos imaginar, não era diferente. Aí também o espírito liberal da
Ilustração fora introduzido, de modo que Marx recebeu uma educação tipicamente
humanista do ponto de vista da sociedade liberal. O próprio reitor do Liceu, Johann
Hugo Wyttenbach, havia contribuído para que aí reinasse um espírito liberal e
racionalista. Wyttenbach havia participado da fundação do “Trier Cassino Club”,
era amigo íntimo da família Marx e professor de história de Karl. Nesse mesmo
Liceu do qual ele era reitor, o professor de matemática foi acusado de
materialismo e ateísmo, e o professor de hebraico de ter se juntado “às
cantorias revolucionárias” por influência francesa. Por tudo isso, e logo após
a polícia ter encontrado sátiras antigovernamentais em posse de alunos
envolvidos no debate sobre filosofia, Wyttenbach foi obrigado a receber Loehrs,
tido por reacionário, como co-Reitor. Marx expressou seu repúdio a Loehrs
despedindo-se de todos os professores menos dele ao sair do Liceu.
Marx
tornou-se reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença filosófica
que profere em um manuscrito intitulado: Crítica
da filosofia do direito de Hegel (1843): - “A religião é o suspiro da
criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito
de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo”. Em verdade, Marx se
ocupou muito pouco em criticar sistematicamente a atividade religiosa, mas o
fez de maneira singular, evidenciando sua formação ideológica no limite da consciência.
Nesse quesito ele basicamente seguiu as opiniões de Ludwig Feuerbach, para quem
a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico: é
criada pela fabulação dos homens. Ao integrar a Filosofia alemã, do socialismo
utópico e da economia política clássica, Marx elaborou, simultaneamente, o
método de análise e a interpretação do capitalismo como um modo
fundamentalmente antagônico de desenvolvimento histórico. Em essência, o
capitalismo é um modo de produção e de reconhecimento da produção-consumo e
extração de mais-valia.
Marx foi o terceiro de nove filhos,
de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na
época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788-1863), era judia
holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777-1838), um advogado e conselheiro de
Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao
cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros
de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos. Johanna
Bertha Julie von Westphalen, conhecida como Jenny von Westphalen ou Jenny Marx
(1814-1881), foi esposa de Karl Marx, filha de Johann Ludwig (1770-1842), Barão von
Westphalen, professor na Friedrich-Wilhelm-Universität de Berlim. Em 1830, Marx
iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que
eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde na
Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para
a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel,
cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor. Em
Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado pelo hegeliano
de esquerda Bruno Bauer. Ali perdeu interesse pelo Direito em seu
conservadorismo e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do
movimento dos chamados jovens hegelianos.
Seu
pai faleceu neste mesmo ano. Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia
com uma tese materialista sobre a Diferença
da Filosofia da Natureza em Demócrito e Epicuro. Impedido de seguir uma
carreira acadêmica tornou-se, em 1842, redator-chefe da Rheinische Zeitung (“Gazeta Renana”), um jornal da província de
Colônia, onde conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano, durante visita deste a
redação do jornal. Karl Marx é um nome fundamental para compreender o
desenvolvimento político do mundo moderno e a crítica ideológica desde a metade
do século XIX, tendo ecos até os dias de hoje. Marx nasceu em uma rica família
de classe média em Tréveris, na Renânia prussiana, e estudou nas universidades
de Bonn e Berlim, onde ficou interessado pelas ideias filosóficas dos jovens
hegelianos. Depois dos estudos, ele escreveu para Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e
começou a trabalhar na teoria da concepção materialista da história. Ele se
mudou para Paris em 1843, onde começou a escrever para outros jornais radicais
e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e
colaborador. É curioso como mesmo atestando sua importância, o que se vê é um distanciamento
em relação a seus pensamentos por parte de quem é a favor e por parte de quem é
contra, algo que obviamente deturpa o que o pensador escreveu há tempos atrás.
Talvez
seja esse o pensamento para a realização do longa-metragem “O Jovem Karl Marx”,
uma típica cinebiografia moderna da agonia à glória em 120 minutos,
individualizando pensamentos e fazendo da narrativa audiovisual um amontoado de
ações para reconstituir uma epopeia de um homem, no caso um teórico,
transformando-se em algo muito maior que sua própria individualidade, ou sem
ter a consciência de seu trabalho e de suas ideias. É o que mais parece
problemático em O Jovem Karl Marx, um filme que individualiza referências em
torno de glórias de um pensador que propunha coletivizações das relações
políticas em primeira instância. Dirigido por Raoul Peck, que também escreve o
roteiro junto com Pascal Bonitzer demonstra que sua principal dificuldade é a
representação digna do valor histórico daqueles personagens. Ao final, tudo que
a família tinha eram precisamente as ideias de Marx, que durante a maior parte da
vida deles só existiram como uma tempestade se preparando dentro do cérebro disciplinado,
turbulento, epigramático e conciso do pai, e que aparentemente quase ninguém
mais reconhecia ou mesmo compreendia em sua globalidade. Por improvável que fosse
Marx fez o que se havia proposto a fazer: ele
mudou o mundo.
Em 1843, a Gazeta Renana foi fechada após publicar uma série de críticas ao governo prussiano. Tendo perdido o seu emprego de
redator-chefe, Marx mudou-se para Paris. Lá assumiu a direção da publicação Deutsch-Französische Jahrbücher (“Anais
Franco-Alemães”) e foi apresentado a diversas sociedades secretas de socialistas.
Antes ainda da sua mudança para Paris, Marx casou-se, no dia 19 de junho de
1843, com Jenny von Westphalen, a filha de um barão da Prússia com a qual
mantinha noivado desde o início dos seus estudos universitários. Noivado que
foi mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não
concordavam com a união. De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de
pequena circulação chamada Vorwärts!,
que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi
expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para
Bruxelas, para onde Engels também viajou. Entre outros escritos, a dupla
redigiu na Bélgica o Manifesto do Partido Comunista.
Em 1848, Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo reacionário. Com Friedrich Engels,
mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova
Gazeta Renana. Após análises publicados no jornal, Marx foi
expulso de Colônia em 1849.
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Casa onde a
família de Marx viveu em Tréveris.
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Até meados de 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados
políticos, além da herança legada por seu pai. Entretanto, em 1849 Marx e sua
família enfrentaram grave crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram
chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu
território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida
por Ferdinand Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para
Londres, onde fixaram residência definitiva para trabalhar como correspondente
em Londres para o New York Tribune
onde declarou seu notório apoio público ao governo de Abraham Lincoln durante a
Guerra da Secessão. Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram
sete filhos, mas devido às más condições sanitárias e de subsistência que foram
forçados a viver no exílio em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta.
As crianças eram: Jenny Caroline (1844-1883), Jenny Laura (1845-1911), Edgar (1847-1855),
Henry Edward Guy (“Guido”; 1849-1850), Jenny Eveline Frances (“Franziska”;
1851-52), Jenny Julia Eleanor (1855-1898) e mais um que morreu antes de ter recebido
seu nome, ocorrido em julho de 1857.
Uma
carta de Marx a Jenny, escrita em 21 de junho de 1856, quando ele estava em Manchester é particularmente expressiva.
Nela afirma o filósofo Leandro Konder, vemos o viço do amor, sua impetuosidade,
20 anos depois de sua primeira aparição. Marx começa dizendo: - “Amadinha do
meu coração, torno a te escrever porque estou sozinho e porque me cansa ficar dialogando
contigo na minha cabeça o tempo todo, sem que tomes conhecimento disso, sem que
possas me ouvir e responder”. Conta em seguida que beija sempre o retrato dela
e que sonha com ela: - “Beijo dos pés à cabeça, caio de joelhos diante de ti e
gemo: ´Amo-a, minha senhora`. De fato, eu te amo. E te amo mais do que o mouro
de Veneza jamais amou” (a comparação com Otelo se devia ao fato de o apelido de
Marx em família ser ´mouro`). Adiante, Marx escreve: - “Quem, entre os meus
numerosos caluniadores, quem, entre os meus inimigos maledicentes, já me acusou
de ter vocação para desempenhar o papel de apaixonado num teatro de segunda
categoria? Nenhum. No entanto, essa acusação seria verdadeira”.
E
prossegue: - “Certamente sorris, meu bem, e perguntas por que de repente eu
venho com toda essa retórica. Se eu pudesse, contudo, apertar teu coração doce
contra o meu coração, então me calaria, não diria mais nada”. Enfim, a
existência de outras mulheres, inclusive bonitas, é reconhecida por Marx, porém
elas não lhe interessam. – “Na realidade, afirma Marx, existem muitas outras
mulheres e algumas delas são belas. Mas onde eu encontraria de novo um rosto no
qual cada traço – e mesmo cada ruga – seja capaz de evocar as lembranças mais fortes
e mais deliciosas de minha vida? Lembra ainda Konder (2009: 101) que Marx não
foi só um defensor do amor no plano teórico, foi, também, um praticante radical
do amor em sua relação com Jenny. Quando ela morreu, em 2 de dezembro de 1881,
Engels previu desanimado: o “mouro” não vai sobreviver. De fato, Marx ficou
arrasado. Numa carta ao amigo, em 1° de março de 1882, escreveu (em inglês): “Você
sabe que há poucas pessoas mais avessas ao patético-demonstrativo do que eu;
contudo, seria uma mentira não confessar que grande parte do meu pensamento
está absorvida pela recordação de minha mulher, boa parte da melhor parte da
minha vida”. Em seus manuscritos aumenta o número de lapsos. A saúde piora a
cada semana. Os genros - Lafargue e Longuet - despertaram-lhe crescente
irritação. Um ano e quatro meses após a morte da mulher, também ele, afinal, se
extingue.
Enfim, em termos da proporção de publicações póstumas em relação àquelas publicadas em vida, Marx, comparativamente ao escocês Adam Smith, revelou um recorde no plano da análise teórica. As Conferências sobre Jurisprudência, de Smith, só foram descobertas no século XX, e ele havia proibido a publicação das suas obras que só agora estão acessíveis, como Essays on Philosophical Subjects. Mas seus livros mais importantes The Theory of Moral Sentiments e The Wealth of Nations - foram publicados em vida, e o imortalizaram: ao morrer Adam Smith já era famoso. Quanto à Marx, ao morrer ele não era um desconhecido, e os governos em toda a Europa estavam cientes da sua notoriedade, embora os ingleses não compartilhassem as suspeitas dos alemães de que ele fosse um regicida potencial. Mas depois de sua morte, e ao longo do breve século XX, que sua reputação cresceu. Todas as suas obras foram recuperadas e editadas, embora por mero acaso seus novos censores, que o admiravam, não eram melhores do que os antigos prussianos. Algum tempo expurgada, mas depois restaurada, se não a coleção completa de seus escritos pelo menos 98% dela: são 49 volumes, dos quais talvez uma quinta parte, no máximo, foi publicada durante sua vida hic et nunc, mas decisivamente o fora.
Uma peculiar primeira edição da obra O Capital, de Karl Marx, que leva a assinatura do autor e foi dada para o amigo Johann Eccarius, foi vendida em Londres por 218,5 mil libras (cerca de 1,08 milhão) pela casa Bonhams, em Londres. Segundo indicou à agência EFE um porta-voz da casa de leilões, o arremate foi fechado por telefone e a obra, que partia com um preço estimado de saída de entre 80 mil e 120 mil libras (entre R$ 394 mil e R$ 591,2 mil), foi comprada por um colecionador europeu, do qual não foram revelados detalhes para não quebrar a confidencialidade. Marx e Eccarius foram figuras importantes durante o difícil nascimento do comunismo e desfrutaram de uma relação estreita pessoal durante muitos anos até que os ciúmes e as diferenças políticas os separaram, segundo o especialista em livros da casa de leilões Simon Roberts. A peça está datada em 18 de setembro de 1867, quatro dias depois da publicação do primeiro volume, e é uma das poucas cópias que sobreviveram, segundo a Bonhams. Eccarius (1818-1889) foi um alfaiate que se uniu à britânica da Liga dos Justos, organização revolucionária apoiada por alemães que tinham emigrado em 1839. Em 1846, Marx e Engels, que viviam então em Bruxelas, foram convidados a se unir à liga, e um ano depois assistiram ao segundo congresso da organização em Londres, onde conheceram Eccarius. Marx foi muito amigo de Eccarius, mas por volta de 1870 a relação tornou-se difícil depois que o autor de O capital lhe acusou de assumir o crédito de suas ideias em artigos jornalísticos.
Bibliografia geral consultada.
MITCHELL, Juliet,
“Mulheres: A Revolução mais Longa”. In: Revista Civilização Brasileira,
nº 14. Rio de Janeiro, 1967; DURAND, Pierre, La Vie Amoureuse de Karl Marx.
Paris: Editeur Julliard, 1970; KAPP, Ivone, Eleanor Marx: La Vida Familiar
de Carlos Marx (1855-1883). Tomo I. México: Ediciones Nuestro Tiempo, 1979;
KONDER, Leandro, “Marx e o Amor”. In: Por que Marx? Rio de Janeiro:
Graal Editor, 1983; Idem, A Derrota da Dialética: A Recepção das Ideias de
Marx no Brasil até o começo dos anos 30. Tese de Doutorado em Filosofia.
Rio de Janeiro: Editor Campus, 1988; Idem, “Marx e o Amor”. In: O Marxismo
na Batalha das Ideias. 2ª edição. São Paulo: Editora Expressão Popular,
2009; XENAKIS, Françoise, Zut! On a Encore Oublie Madame Freud. Paris:
Éditions Hachette, 1984; MACFARLANE, Alan, História do Casamento e do Amor.
São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; ARON, Raymond, Le Marxisme de
Marx. Paris: Le Livre de Poche, 2004; PINHEIRO, Anna Marina Madureira de
Pinho Barbará, “Marx e as Mulheres”. Disponível em: http://www.achegas.net/dezesseis/2004;
STALLYBRASS, Peter, O Casaco de Marx: Roupas, Memória, Dor. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2008; FREUD, Sigmund, Malaise dans la Civilisation.
Paris: Éditions Payot, 2010; MARX, Karl, O Capital. Crítica da Economia
Política. Livro I. O Processo de Produção Social. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2013; Idem, Cadernos
de Paris & Manuscritos Econômico-filosóficos de 1844. São Paulo:
Expressão Popular, 2015; GABRIEL, Mary, Amor & Capital. A Saga Familiar de Karl
Marx e a História de uma Revolução. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 2013; ARAÚJO, Inácio, “Longa [metragem]sobre Karl Marx Jovem é Conservador,
mas Informativo”. In: http://m.folha.uol.com.br/2017/12/28; BASTOS, Roberto Kennedy de Lemos, Marx e o Clinâmen: Gênese do Materialismo? Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2017; HEINRICH, Michael,
Karl Marx e o Nascimento da Sociedade Moderna. Biografia e Desenvolvimento
de sua Obra.Vol.1 (1818-1841). São Paulo: Boitempo Editorial, 2018; entre outros.
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