Reitores Universitários - Direito & Avesso na Eficácia da Pesquisa Científica.
Ubiracy de Souza Braga
“Quem fala em vencer? Suportar é tudo”.
Rainer Maria Rilke
Escrever não é certamente impor uma
forma de expressão a uma matéria vivida. Escrever é um caso de devir, sempre
inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível
ou vivida. É um processo, ou seja, uma passagem de vida que atravessa o vivível
e o vivido. A escrita é inseparável
do devir: ao escrever, estamos num
devir-mulher, num devir-animal ou vegetal, num devir-molécula, até num
devir-imperceptível. O devir não vai
ao sentido inverso, e não entramos num devir-Homem, uma vez que o homem se
apresenta como uma forma de expressão dominante que pretende impor-se a toda
matéria, ao passo que mulher, animal ou molécula têm sempre um componente de
fuga que se furta à sua própria formalização. A vergonha de ser um homem,
indaga Gilles Deleuze (1997), haverá razão melhor para escrever?
Mesmo
quando é uma mulher que devém, ela tem de devir-mulher,
e esse devir nada tem a ver com o estado que ela poderia reivindicar. Devir não
é atingir uma forma, mas encontrar uma forma de vizinhança, de
indiscernibilidade ou de indiferença tal que já não seja possível distinguir-se
de uma mulher, de um animal, de uma molécula: não imprecisos nem gerais, mas
imprevistos, tanto menos determinados numa forma quando se singularizam numa
população. Pode-se instaurar uma zona de vizinhança com não importa o quê, sob
a condição de criar os meios literários para tanto. O devir está sempre “entre”
ou “no meio”: mulher entre as mulheres, ou animal no meio dos outros. Escrever
não é contar as próprias lembranças, suas viagens, seus amores e lutos, sonhos
e fantasmas. Pecar por excesso de realidade ou de imaginação é a mesma coisa:
em ambos os casos é o eterno “papai-mamãe”, que se projeta
no real ou se introjeta no imaginário. É um pai que se vai buscar no final da
viagem, como no seio do sonho, numa concepção infantil de literatura. Ipsofacto
escreve-se para pai-mãe.
Memorial em homenagem ao 1° reitor da Universidade de Brasília - UnB.
Mas
não se escreve com as próprias neuroses. A neurose, a psicose não são passagens
de vida, mas estados em que se cai quando o processo é interrompido, impedido,
colmatado. A doença não é processo, mas parada do processo, como no “caso
Nietzsche”. Por isso o escritor, enquanto tal, não é doente, mas antes médico,
médico de si próprio e do mundo. A literatura aparece, então, como um
empreendimento de saúde: não que o escritor tenha forçosamente uma saúde de
ferro, mas ele goza de uma frágil saúde irresistível, que provém do fato de ter
visto e ouvido coisas demasiado grandes para ele, fortes demais, irrespiráveis,
cuja passagem o esgota, dando-lhe, contudo devires que uma gorda saúde
dominante tornaria impossíveis. Do que viu e ouviu, o escritor regressa com os
olhos vermelhos, com os tímpanos perfurados. Qual saúde bastaria para libertar
a vida em toda parte onde esteja aprisionada pelo homem e no homem, pelos
organismos e gêneros e no interior deles? A frágil saúde da universidade,
enquanto dura, dá até o fim testemunho de uma nova visão á passagem da qual ela
se abre. A saúde como literatura, como escrita, inventa o que falar. Compete á
função fabuladora inventar um povo por vir ainda enterrado em suas traições e
renegações.
O
reitor é o diretor principal de certos tipos de instituições de ensino, em
especial as universidades, nas quais cada faculdade possui o seu próprio
diretor e o reitor dirige a todos. Da mesma forma, a reitoria é normalmente
considerada o órgão executivo máximo em uma universidade. O pronome de
tratamento para reitor é Vossa Magnificência (V. M.). Atualmente, dada a grande
dimensão que muitas universidades possuem, existe abaixo do reitor a figura do
pró-reitor, assim como das pró-reitorias, um acadêmico responsável pela direção
de uma determinada área de atuação da instituição em questão, como a pesquisa,
extensão ou a graduação. O reitor é o diretor principal de certos tipos de
instituições de ensino, em especial as universidades, nas quais cada faculdade
possui o seu próprio diretor e o reitor dirige a todos. Da mesma forma, a
reitoria é normalmente considerada o órgão executivo máximo em uma
universidade. O reitor é coadjuvado diretamente por pró-reitores, sendo designados
estatutariamente.
Nas
universidades, e como forma de tratamento cerimonioso, é frequente designar o
reitor como Magnífico Reitor. Esta denominação já foi adotada para designar o
dirigente máximo dos Liceus, nomeado pelo governo para esse cargo. Em Portugal,
a Autonomia das Universidades, se estabelece através da Lei n° 108/88, de 24
de setembro, nos temos dos artigos:
164°, alínea d), 167°, alínea e) e 169°, n° 2, da Constituição, particularmente
em seu Artigo 4°: 1- As universidades devem colaborar na formulação, pelo
Estado, das políticas nacionais de educação, ciência e cultura pronunciando-se,
designadamente através do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas,
sobre os projetos legislativos que lhes digam diretamente respeito. 2 - O conselho
de Reitores das Universidades Portuguesas, sobre os projetos legislativos que
lhes digam diretamente respeito; 3 - As universidades ou as unidades orgânicas
podem associar-se para uma melhor prossecução das suas atividades, 4 – As
universidades são ouvida no processo de criação pelo Estado das novas
universidades. Art. 5° - Reserva de estatuto: 1 - Os estatutos da universidade
devem conter as normas fundamentais da sua organização interna nos planos
científico, pedagógico, financeiro e administrativo, bem como o regime da
autonomia das respectivas unidades orgânicas.
Primeiro reitor indígena do Brasil, Jefferson Fernandes do Nascimento disse: “Sempre estudei em escola pública, pública indígena, inclusive, e só cheguei à universidade como docente porque casualmente tive a oportunidade de fazer o ensino público”. À
luz dessa discussão, duas coisas são patentes. De um lado, os modelos
institucionais portugueses não puderam ser transplantados em bloco e absorvidos
em toda a sua plenitude. Historicamente nem como parte da política seguida pela
Coroa portuguesa, nem como efeito dos processos histórico-sociais espontâneos
chegou a concretizar-se qualquer tentativa de transferir para o Brasil o
autêntico padrão metropolitano de universidade. Ele transcendia de tal modo às
exigências e às possiblidades da situação, que ficou à margem dos processos de
modernização desencadeados pela Corte e pela reconstrução decorrente da ordem
política. De outro lado, a absorção cultural segmentada e parcial dos modelos institucionais
portugueses desenrolou-se com perdas de caráter estrutural-funcional. Não que
aqueles modelos passassem por qualquer processo de desnivelamento ou de
redefinição social.
Eles
continuaram presos aos mesmos níveis sociais e aos mesmos valores que na
sociedade metropolitana. Mas as faculdades ou escolas superiores, absorvidas
segmentariamente, é que foram reduzidas às proporções da situação
histórico-social brasileira. Esse processo de “senilização institucional
precoce” tinha, portanto, dupla origem. Em parte ele procedia do atraso
cultural relativo dos modelos institucionais portugueses. Em parte, ele
provinha do condicionamento sociocultural do ambiente e das necessidades educacionais
que ele alimentava no nível de ensino superior. A sociedade brasileira
empobreceu aqueles modelos, converteu a sobra residual no chamado “padrão
brasileiro de escola superior” e submeteu esta última utilização
sistematicamente precária. Precisamos entender as razões que explicam ex post facto, como e porque o tipo de
escola superior, que se constituiu durante as três primeiras décadas do século
19, converteu-se em padrão cultural dessa instituição educacional.
Primeiro,
o número reduzido de escolas e sua relação com a sociedade brasileira. Dada às
condições de estabilidade estrutural dessa sociedade, a composição dos corpos
docente e discente e as consequências dinâmicas do isolamento cultural dos
estabelecimentos de ensino superior, um número limitado de unidades
institucionais análogas, operando de forma similar em largos períodos de tempo,
tinha de criar, forçosamente, um padrão cultural bem definido e de alto poder
coercitivo. Segundo, o nível em que se procedeu à avaliação societária da
escola superior. Ela não foi posta em causa através da qualidade do seu
rendimento ou de sua utilidade. Mas como fonte de reconhecimento social do
talento de jovens já incorporados e classificados no âmbito da sociedade civil.
A sociedade não valorizou o ensino superior como e enquanto tal; porém, o que
entenderia ser o seu produto final, nas realizações pessoais. Daí o fato do diploma
e do grau de doutor acabar atuando
como fatores dinâmicos de inércia cultural. A ambos se prendem tanto a
preservação de avaliações societárias que projetavam o ensino superior numa
esfera conspícua, de um bem em si, quanto o apego intelectual, emocional e
moral que se criou em torno do tipo de instituição que os tornava possíveis.
Terceiro, a relação dos processos sociais de comunicação, transplantação,
invenção e utilização do conhecimento com a organização e a transformação da
sociedade.
Essas
três razões, para Fernandes (2004), se não explicam tudo, rendem conta do que é
essencial tradicionalmente nas universidades brasileiras. Elas demonstram, em
particular, que a evolução ocorrida não permite entender o drama do ensino
superior brasileiro como um fenômeno especificamente educacional. A escola, no
nível de ensino superior, não absorveu, como instituição, as funções que deve
preencher na civilização ocidental moderna. Teve de dividir essas funções com
outras instituições e, por isso, acabou adquirindo uma feição única e realizando
um destino singular. Existe, como resíduo, um problema educacional. Apesar de
ele se originar no coração da escola superior e de se manifestar através dela,
o seu fulcro estrutural e dinâmico localiza-se no modo pelo qual a sociedade
brasileira participa da civilização ocidental moderna. Isso quer dizer que,
para se corrigir o problema educacional, seria preciso ir muito mais longe, até
se atingirem os ritmos históricos de uma sociedade nacional dependente e os
fatores que determinam suas inconsistências em face de determinado padrão de
civilização. Duas premissas devem nortear suas relações com as instituições
governamentais.
Numa
universidade, a formação de um doutorando era realizada de uma forma
equivalente ao treino que um membro de corporação de ofícios tinha que realizar
para obter o grau profissional de mestre (latim: “magister”, significando
professor) no seu ofício. O termo “mestre” passou assim também a ser usado na
universidade como equivalente ao de “doutor”. O uso do grau de mestre
consolidou-se numa matéria de usos e costumes em algumas universidades, não
sendo usado em outras. Contudo, nas universidades que o usavam, o grau de
mestre acabou por se tornar normalmente num grau de qualificação inferior ao de
doutor. A Universidade de Paris utilizava o termo “mestre” para designar os
seus graduados. Esta prática foi seguida pelas universidades de Oxford,
Cambridge e Saint Andrews, tornando-se depois a norma no mundo anglo-saxónico.
Outras universidades preferiam o termo “doutor”. A designação dos graus acabou,
posteriormente, por ficar ligada às matérias estudadas. Os letrados das
faculdades de artes liberais ficaram conhecidos como “mestres em artes”; os das
faculdades de teologia, medicina e direito ficaram conhecidos como “doutores”.
É
necessário que a sociedade mude o trabalho e suas relações sociais fazendo
pressão, simultaneamente, na diferenciação estrutural-funcional das
instituições consideradas isoladamente, na articulação das instituições
governamentais convergentes ou interdependentes (CNPq e/ou CAPES) e na
intensificação do seu rendimento específico. Semelhante processo, no contexto
histórico-social brasileiro, dependia da desagregação da sociedade estamental e
de castas e da formação de uma sociedade de classes capaz de dinamizar padrões,
valores e ideais sociais competitivos no plano da transplantação, produção e
transmissão dos conhecimentos. Devido à continuidade da dependência cultural em
relação ao exterior, manteve-se a conexão básica da escola superior como a
transplantação de conhecimentos. De outro lado, embora os papéis intelectuais
dos profissionais liberais diminuíssem de importância dinâmica como fator
sociocultural do pensamento inventivo e criador, eles sofreram os efeitos
diretos da concentração urbana. Não só se diferenciaram e pulverizaram em
diferentes direções; aumentaram rapidamente, numa escala ascendente. Além
disso, a desagregação dos sistemas escravista e senhorial não interferiu na
alta concentração de renda, do prestígio social e do poder. Aparentemente os
velhos privilégios se desnivelaram socialmente, aos poucos, intensificando a
gradual ascensão das classes médias em formação ás profissões liberais e aos
papéis intelectuais, burocráticos ou técnicos que elas abriam.
Assim,
as transformações estruturais da sociedade global, associadas à transição para
o século 20 e á expansão do regime de classes, não repercutiam no antigo padrão
de escola superior. A rápida multiplicação e a disseminação da escola superior
processavam-se em conformidade com o antigo padrão cultural. Primeiro, de
maneira direta. Em seguida, quando a ideia de universidade passou a prevalecer,
mantidas e fortalecidas sua estrutura tradicional e suas tendências autárquicas
pela conglomeração. No plano especificamente institucional, o rápido crescimento
quantitativo provocou consequências de duas ordens. Pôs em evidência a
incapacidade do velho padrão de escola superior em desenvolvimento,
diferenciar-se e adaptar-se à situação nova. O congestionamento quantitativo e
estrutural-funcional serviu para demonstrar a rigidez da instituição e sua
inexequibilidade nos tempos presentes. Além disso, revelou as fontes congênitas
de sua impotência cultural: adaptada ao ensino magistral e dogmático, a escola
superior tradicional não possuía condições internas para evoluir no sentido
pluridimensionado, nos moldes de concepções científicas, democráticas e
utilitárias de educação “desescolarizada”. O seu teor arcaico, autoritário na
direção reitoral e os seus dinamismos arcaizantes chocam-se com as exigências
da situação histórica emergente.
Um
processo social da chamada “modernização sistêmica”, contudo, só tem lugar no
início da década dos anos 1990, quando, então, os empresários e o governo
brasileiros voltam sua atenção para a educação, em todos seus níveis. Em sua
historicidade a universidade passou por quatro momentos: até 1950, a
universidade era praticamente inexistente ou incipiente, na próxima década,
cresceu em todos os sentidos: número de instituições, de alunos, de
professores, mas durante os anos 1970, a universidade assumiu o papel
definitivo de instituição de pesquisa, principalmente as universidades
públicas, professores passaram a ter carreira acadêmica, pós-graduação com
cursos de Mestrado e Doutorado, salários melhores que no período anterior, de
acordo com os planos de estabilidade econômica, quando neste período foram
construídos prédios, surgiram laboratórios e bibliotecas e instalações
modernas.
Historicamente
de 1980 em diante iniciou-se o processo de degradação nas universidades
brasileiras: cursos reduzidos, energia dos professores canalizada para obter
recursos e evitar as perdas salariais, através de greves ininterruptas, que nem
sempre levaram ao resultado desejado com a implantação do PCCV - Plano de Cargos, Carreira e Valorização.
Queremos dizer com isto que o PCCV não se refere à contratação de professores
efetivos para as universidades públicas ameaçadas de colapso por causa da
carência de pessoal docente, mercê do abandono a que foram submetidas pelos
governos estaduais nos últimos 30 anos. O princípio ético-político é que a
universidade deve estar comprometida com a qualidade de ensino e de formação
intelectual de seus alunos, com a produção científica, artística, estética,
filosófica e de base tecnológica e com o atendimento às necessidades, aos
anseios e às expectativas da sociedade global, em sua “complexidade humana”, de
acordo com a filosofia de Edgar Morin, formando exemplarmente profissionais
“policompetentes”, desenvolvendo soluções conspícuas para problemas locais,
regionais e nacionais de forma integrada.
Nos órgãos públicos o padrão de funcionalidade
burocrática tem identidade própria. O sujeito da ação funcional, individual ou
coletivamente, é um agente do poder público, tanto na atividade meio como na
atividade fim. O poder público é uma instituição representativa da sociedade,
em nome da qual exerce uma administração regida por leis, normas, regulamentos
e códigos de conduta que devem ser cumpridos. Não raras vezes, no âmbito
comportamental, a noção de poder público assume uma indefinição conceitual,
carregada de subjetividades à medida de atribuições e responsabilidades. A
forma de comportamento dos pró-reitores envolvidos na dinâmica burocrática,
administrativa e acadêmica, das universidades se reporta, em grande parte, às
competências distribuídas e amparadas no sistema normativo instituído. Os
conflitos de competência e desempenho resultam do confronto da autoridade com
uma forma de comportamento não desejada, fora de dúvida desamparada das normas,
regras e leis. Assim, meritocracia também indica claramente “posições” ou
“colocações” conseguidas por disciplina e “mérito pessoal”. Um modelo de meritocracia
é dado por um método no qual o que é considerado como sendo verdade é justamente
definido pelo mérito.
Horácio Macedo, 1°reitor comunista UFRJ.
Na
universidade não são os indivíduos, mas as pessoas
que se veem diminuídas na sua dignidade quando são avaliadas em suas ações como
professores/pesquisadores no mundo do trabalho. Uma das consequências disto é
que a responsabilidade social pelos resultados de cada um é sempre neutralizada
ou desculpada a partir do contexto em que cada um de nós atuou. O objetivo é
minorar pela justificação de desempenho, qualquer mácula ao sentimento de
dignidade pessoal. Consequentemente muito pouca responsabilidade individual é
atribuída a cada um de nós, do ponto de vista institucional no caso das
universidades. A sociedade brasileira, culturalmente, rejeita a avaliação. Ela
é vista como algo negativo, como uma ruptura de um universo amigável, homogêneo
e saudável, no qual a competição, vista como um mecanismo social profundamente
negativo encontra-se ausente. Tendo em vista que, na universidade não há
“premiação” para o bom professor em nenhum aspecto, mas aqueles que fazem
pesquisa e orientam alunos, fazem porque “querem” fazer, não porque a
universidade lhes gratifica.
Nada no Brasil pode implicar em cobrança e em
hierarquia, porque estes são fatores associados com autoritarismo, por isto é muito difícil administrar do ponto de
vista público. – “Eu acho o Brasil um fenômeno em termos de administração
pública”, afirma a antropóloga Lívia Barbosa (1992), em sua tese de doutorado, pois
com toda essa estrutura lógica de organização do universo do trabalho, de como
deve ser uma gestão pública, do que significa o público “versus” privado, as
coisas andam em muitas áreas de forma eficiente, baseado principalmente na
disposição das pessoas e não do
sistema e/ou das instituições. - “Eficiência, eficácia, competição, resultados
são categorias e discursos que se aplicam à empresa privada e não à esfera
pública”. Porque o governo juntou “vários cacos”, na expressão de Leonardo
Boff, institutos isolados, numa soma mecânica e não integrativa, e sobre todo o
conjunto colocou uma Reitoria, como órgão de comando. A universidade poderia
ser pública (federal, estadual ou municipal) ou livre (particular), deveria
incluir três dos seguintes cursos Direito, Medicina, Engenharia, Educação,
Ciências e Letras que seriam ligadas, por meio de uma reitoria, por vínculos administrativos, mantendo a
autonomia jurídica. - “Lei da equivalência”, equiparou os cursos médios
técnicos aos acadêmicos, possibilitando aos alunos, os mesmos direitos de
prestarem vestibular para qualquer curso universitário, um privilégio, que
antes, era exclusivo dos portadores de diplomas dos cursos médios acadêmicos. -
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira - LDB (1961) reforçou o modelo tradicional de instituições de
ensino superior ainda vigente.
A
generalidade e a “flexibilidade” que caracterizam a nova LDB possibilitam as
reformas pontuais apontadas. É o caso do Decreto 2.306 de 1997, que regulamenta
a existência de uma tipologia inédita para o sistema de ensino superior
brasileiro: Instituições de Ensino Superior (IES) públicas, IES privadas sem
fins lucrativos e IES privadas com fins lucrativos. Quanto à sua organização
acadêmica, as instituições de ensino superior do sistema federal de ensino
passaram a ser classificadas em: a) universidades; b) centros universitários;
c) faculdades integradas; d) faculdades; e) institutos superiores ou escolas
superiores. Instaurou-se com essa legislação a distinção entre universidades de
pesquisa e universidades de ensino e normatizou-se uma hierarquia no interior
do ensino superior que, certamente, demandará cada vez mais em reivindicações diferenciadas
para cada setor. O significado dessa reformulação e evidente abertura de
diálogo, entendemos, é o de que um sistema unificado para a formação de
professores no país não implica necessariamente um modelo único.
José
Jackson Coelho Sampaio, Magnífico Reitor da Universidade Estadual do Ceará. Apesar do modelo de organização variar
de instituição para instituição, quase todas as universidades dispõem de alguns
órgãos centrais comuns, como um reitor, chanceler ou presidente, um conselho de
curadores, um senado universitário e decanos das várias unidades orgânicas. O
provimento destes órgãos varia conforme o estatuto da instituição, indo desde a
nomeação por uma autoridade superior à eleição pelos próprios membros da universidade. Decano é um termo latino que, em latim
tardio, significou “chefe de dez”. Originou-se no exército romano tardio e
passou a ser usado para os funcionários subalternos no Império Bizantino, bem
como para diversos cargos na Igreja, de onde deriva o título “deão”, “decano”.
É, por definição, um dignitário capitular que preside ao cabido, em razão da
sua precedência por idade. Costumamos chamar Deão ou Decano ao cônego mais
idoso da Diocese. Além de ser um posto acadêmico e uma posição canonical, o
deão é um dos cônegos escolhido pelo seu bispo, a quem é confiada “uma
autoridade determinada e especial nas atividades pastorais específicas da sua
Diocese”.
Os
Cânones estabelecem que o deão deve desempenhar o papel de conselheiro do clero
da zona da sua Diocese, especialmente no desempenho da sagrada Liturgia e
assistir-lhes espiritualmente nas suas doenças. Decano, em diplomacia, é o
título que se dá ao chefe de uma missão estrangeira num país que maior
antiguidade tenha e, por isso, tem precedência sobre os seus demais colegas ali
creditados. Em muitos dos países que mantém relações com a Santa Sé é comum
caber ao núncio apostólico este papel pelo só fato de representar ao Papa, e
noutros como, por exemplo, Costa do Marfim e Senegal, se outorga o título ao
representante de suas antigas metrópoles. Na atualidade as funções do decano
são limitadas e reduzidas a “atuar como porta-voz do corpo diplomático nalgumas
cerimônias”. Alguns países não aceitam esta função, ao argumento de que não há
necessidade de intermediário entre o chefe de uma delegação legalmente
constituída e sua entidade ministerial de relações exteriores. Em muitos casos
o decano também intermedia assuntos conflituosos entre os membros de uma
representação diplomática e o país de acolhida, como ocorre em impasses
internacionais, por exemplo, ou entre as diversas representações políticas e
diplomáticas. Em sua gestão na Universidade Estadual do Ceará o prof. Jacson
Sampaio, priorizou um extenso programa de pesquisa tema em pós-doutoramento
para professores já habilitados e disponíveis para pesquisa.
O
Embaixador da Nicarágua nos Estados Unidos da América (EUA) Guillermo Sevilla
Sacasa, que ocupou ali este posto diplomático por 36 anos, era chamado de
Decano “do corpo diplomático naquele país”. O decano pode ser considerado a
pessoa mais velha de certo grupo ou turma de pessoas, classe instituição ou
corporação; em alguns casos comparados ao sub-reitor de uma universidade. Os
decanatos são unidades administrativas ligadas à Reitoria que coordenam e
fiscalizam as atividades de ensino & pesquisa universitárias. A função de
cada decanato é fazer com que os departamentos e/ou coordenações que compõem e
formam a Universidade funcionem de forma eficaz, segundo um grau acadêmico, sob
a forma de um título conferido normalmente por uma instituição de ensino
superior em reconhecimento oficial pela conclusão com sucesso de todos os
requisitos de um curso, de um ciclo ou de uma etapa de estudos superiores. O
moderno sistema de graus acadêmicos desenvolveu-se a partir da universidade
medieval europeia, acompanhando posteriormente, a expansão globalizada deste
tipo de instituição no ensino e pesquisa. Os graus de bacharel, licenciado,
mestre e doutor, das universidades da Europa - acabaram por ser adotados nas
diversas sociedades no mundo globalizado.
As
suas raízes podem ser comparadas à Igreja primitiva, na qual o termo “doutor”
se referia aos apóstolos, aos padres da Igreja e a outras autoridades
eclesiásticas que interpretavam e ensinavam a Bíblia. O direito para conceder
uma “licentia docendi” estava originalmente reservado à Igreja, que requeria
que o candidato passasse num exame, fizesse um juramento e pagasse uma taxa. No
“Terceiro Concílio de Latrão” (1179) foi concedido o acesso, agora praticamente
gratuito, a todos os candidatos aptos, que, no entanto ainda tinham que ser
examinados na aptidão para a escolástica eclesiástica. O direito da concessão
do grau de doutor tornou-se num motivo de contenda entre as autoridades da
Igreja e as cada vez mais emancipadas universidades, mas foi concedido pelo
Papa à Universidade de Paris em 1213, sob a forma de licenciatura geral para o
ensino (“licentia ubique docendi”). No entanto, a licenciatura acabou por se
tornar numa etapa intermédia para o acesso ao doutoramento, o qual passou a
constituir a qualificação exclusiva para ensinar numa universidade. O poder é
habitualmente legitimado através da autoridade. Enquanto legitimidade pressupõe
consenso mais ou menos generalizado, a legitimação refere-se ao modo de
obtenção desse consenso entre os membros de uma coletividade. Da legitimação
derivam os tipos de obediência, como o caráter e os efeitos sociais do seu
exercício.
Enfim, Klaus Capelle (45), é um
físico alemão respeitado internacionalmente. Ele se formou na Universidade de
Würzburg, no norte da Baviera, tinha tudo para desenvolver uma brilhante
carreira de cientista nas melhores instituições do mundo e optou pelo Brasil.
Veio primeiro como pesquisador, depois se tornou professor. Em 2010 recebeu o
convite para a Pró-Reitoria de Pesquisa da UFABC – Universidade Federal do ABC e
agora, como diz, “está” reitor. - “Tive vários convites na minha carreira para
voltar para a Europa, mas neguei todos. Queria ficar aqui e estou firme nessa
decisão”. Quando chegou ao País, em 1997, ele tinha acabado de ganhar o prêmio
de melhor trabalho do ano na Faculdade de Física e Astronomia da Würzburg com
sua tese de doutorado. Quatro anos antes levara o prêmio com o mestrado. Optou
por fazer o pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), sob a supervisão
do professor Luiz Nunes de Oliveira. A ideia inicial era ficar apenas um ano,
no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, mas depois
estendeu o prazo para dois anos.
De
1999 a 2003 foi bolsista na categoria Jovem
Pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
no Instituto de Química da São Carlos. No
entanto, em 2003, prestou um concurso público de provas e títulos para
professor da Universidade de São Paulo (USP), marco, que para ele, firmou seu compromisso com o Brasil. - “Naquele
momento passei a ser um servidor público do País”. Depois de tanto tempo no
Brasil, hoje já domina completamente o idioma e tem o sotaque bem suave.
Segundo os alunos, é ele quem corrige, nas dissertações, erros de concordância
ou equívocos com A ortografia do português. - “Klaus nos ajuda no nosso
crescimento pessoal também. Está preocupado em termos um bom português e um bom
inglês, por exemplo”, diz a ex-aluna Vivian Vanessa França Henn, hoje
professora da Universidade Estadual Paulista (UNESP) Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. “Tem uma
liderança natural, que não impõe, mas convence”.
A
chegada à Universidade Federal do ABC (UFBAC) aconteceu em 2009, quando prestou um novo concurso para
professor titular. Há quatro anos foi convidado pelo ex-reitor Helio Waldman
para ser pró-reitor de Pesquisa e, desde então, se envolveu com as atividades
de gestão. Ao mesmo tempo em que permanece nos cargos administrativos, diz que
não quer se afastar de suas pesquisas e das aulas. “Descobri nesses quatro anos
que eu gosto também da gestão acadêmica. Quando você é professor e consegue uma
bolsa para um aluno, consegue ver o brilho no olho e a felicidade do estudante.
Como gestor, você está mais afastado, mas consegue ajudar centenas ou talvez
milhares”. Para os planos em larga
escala na Universidade Federal do ABC, Klaus promete priorizar a internacionalização. Desde que
assumiu, naquele ano, triplicou os recursos humanos da Assessoria de Relações
Internacionais para “dar conta da demanda com a internacionalização”. - “Minha
experiência mostrou que quanto mais visões de mundo diferentes você tem, mais
fácil fica se adaptar ao próximo desafio. Por isso quero facilitar essa
experiência para os alunos”.
Bibliografia
geral consultada.
DUMONT, Louis, Homo Hierarchicus. O Sistema de Castas e Suas Implicações. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992; JALÓN, Maurício, El Laboratório de Foucault: Descifrar y
Ordenar. Barcelona: Ediciones Anthropos, 1994; BARBOSA, Lívia, O Jeitinho Brasileiro e a Arte de ser Mais
Legal que os Outros. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Editor Campus,
1992; Idem, Igualdade e Meritocracia. A
Ética do Desempenho nas Sociedades Modernas. Rio de Janeiro: Editora Fundação
Getúlio Vargas, 1999; COHN, Gabriel, Crítica
e Resignação: Max Weber e a Teoria Social. 2ª edição atualizada. Tese de Titular em Sociologia. São Paulo: Editora
Martins Fontes, 2003; particularmente, “Caráter, Destino e História”, pp.
187-203; FERNANDES, Florestan: Sociologia
Crítica e Militante. Octávio Ianni (Organizador). São Paulo: Editora Expressão
Popular, 2004; LOPES, Marileia Gastaldi Machado, O Papel do Reitor em Universidades Comunitárias. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em engenharia de Produção. Florianópolis: Universidade Federal de Viçosa, 2007; CASTRO, Claudio de Moura, “Liberdade de Cátedra, Herança e Ambiguidades”. In: “Opinião”. Jornal
Estadão. São Paulo, 29 de outubro de 2011; SILVA JÚNIOR, Edelson de Albuquerque, O Reitorado de João Alfredo na Universidade de Recife - UR - (1959-1964): Patrimonialismo Populista e Modernização Científica. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Educação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2012; SANTOS, Bárbara Ferreira,
“Físico Alemão Vira Reitor da Universidade Federal do ABC”. In: http://educacao.estadao.com.br/23/06/2014; SANTOS, Patrícia Francisca de Matos, José Aloísio de Campos: Trajetória e Representações sobre o seu Reitorado na Universidade Federal de Sergipe (1976-1980). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2014; SANTOS, Letícia Leite dos, Administração Complexa: Uma Análise Técnico-empírica a partir de Práticas Empreendidas pelos Pró-Reitores da Universidade Federal de Rondônia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Administração. Porto Velho: Fundação Universidade Federal de Rondônia, 2016; entre
outros.
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