Ubiracy de Souza Braga
“E
ela não passava de uma mulher... inconstante e borboleta”. Clarice
Lispector
Adaptado
a partir da peça teatral Butterflies are free de Leonard Gershe, “Liberdade
para as borboletas” (1972) é um filme que retrata o surgimento de um romance pós-moderno entre Don Baker, um rapaz que
tenta ser independente, se afastando da mãe superprotetora e Jill, sua vizinha liberal, que não sabe ao certo que
nenhum vento ajuda a quem não sabe a que porto quer chegar. Trata-se de um jovem
músico cego que decide morar sozinho. Aluga um apartamento em São Francisco e
envolve-se com uma bela vizinha, atriz. Não é a mãe do rapaz que cria um puzzle na relação que se constrói passo
a passo, mas as exigências da profissão como obstáculo para o relacionamento de
ambos. São Francisco tornou-se o centro da contracultura, ao longo da década de
1950, e na década de 1960, o centro da chamada cultura hippie. Além disso, a cidade encontra-se no contexto das sociedades
ocidentais em que a autonomia e a liberdade estão associadas ao período de
transição para a idade adulta. A contracultura pode influenciar o modo como os
jovens representam e antecipam o que é ser adulto, na vida individual e
coletiva, claramente quando a literatura sugere que as representações do papel
de adulto adquirem na modernidade uma
configuração própria.
A
pós-modernidade é um conceito da sociologia histórica que designa a condição
sociocultural e estética dominante no capitalismo após a queda do Muro de
Berlim (1989), a “revolução retificada” (cf. Habermas, 1990) da União Soviética
e a crise das ideologias nas sociedades ocidentais no final do século XX, com a
dissolução da referência à razão como uma garantia de possibilidade de
compreensão do mundo através de esquemas totalizantes. O uso do termo se tornou
corrente embora haja controvérsias quanto ao seu significado e a sua
pertinência. Algumas escolas de pensamento situam sua origem no alegado
esgotamento do projeto moderno, que dominou a estética e a cultura até final do
século XX. Em A Condição Pós-Moderna, François Lyotard caracteriza a
pós-modernidade como uma decorrência da morte das “grandes narrativas”
totalizantes, fundadas na crença no progresso e nos ideais iluministas de
igualdade, liberdade e fraternidade. Outros, porém, afirmam que a pós-modernidade
seria apenas uma extensão da modernidade, período em que, segundo Walter Benjamin,
ocorre a perda da aura do objeto artístico em razão do que ele nomeou “a obra
de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, em múltiplas formas: cinema,
fotografia, vídeo, etc.
Para
o crítico marxista norte-americano Frederic Jameson, a pós-modernidade
representa a “lógica cultural do capitalismo tardio”, correspondente à chamada terceira
fase do capitalismo, conforme o esquema proposto por Ernest Mandel. Outros
autores preferem evitar o termo. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos
principais popularizadores do termo pós-modernidade no sentido de forma póstuma
da modernidade, prefere usar a expressão “modernidade líquida” - uma realidade
ambígua, multiforme, na qual, como na clássica expressão do manifesto
comunista, de Marx & Engels “tudo o
que é sólido se desmancha no ar”. O filósofo francês Gilles Lipovetsky prefere
o termo “hipermodernidade”, por considerar não ter havido de fato uma ruptura
com os tempos modernos chaplinianos - como o prefixo “pós” dá a entender. Segundo
Lipovetsky, os tempos atuais são modernos, com uma exacerbação de certas
características das sociedades modernas, tais como o individualismo, o
consumismo, a ética hedonista, a fragmentação do tempo e do espaço. Já o
filósofo alemão Jürgen Habermas relaciona o conceito de pós-modernidade a
tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a combater os
ideais iluministas. A perspectiva individualista do “Flower Power” contraria as
transformações estruturais dos sistemas de ensino e de formação que no processo
civilizatório induzem também a períodos mais longos de coabitação entre pais e
filhos adultos, facilitados por mudanças culturais, que permitem aos jovens pela
via geracional optar pela “coabitação entre gerações”.
O
final da década de 1970 trouxe também uma nova onda de homossexuais à cidade.
Em 1972, o Edifício Transamérica foi construído no centro da cidade, planejado
para resistir a fortes abalos sísmicos. Outros “arranha-céus” foram construídos
na cidade na década de 1970 e do começo da década de 1980, o que causou uma
discussão na cidade: Muitos da população eram contra a construção de “arranha-céus”,
achando que grandes edifícios arruinavam as vistas e destruíam o caráter único
de São Francisco. Outras pessoas eram a favor, dizendo que a construção de
arranha-céus criam empregos e fortalecem a economia da cidade. Um novo plano
diretor, apoiada pela lei municipal “Downtown Plan”, limitou a altura máxima dos
edifícios construídos na maior parte da cidade, e incentivava a criação de
parques e outros espaços públicos abertos. Tal tipo de plano diretor tornou-se
comum em muitas das cidades globais do mundo ocidental. Altos arranha-céus são
permitidos apenas em uma pequena área ao sul da cidade.
Goldie
Hawn é filha de um músico presbiteriano, descendente de um dos signatários da Declaração de Independência dos Estados Unidos e de
mãe judia, filha de imigrantes húngaros. Apesar de crescer no judaísmo, Goldie
ia à igreja com a família e comemorava o Natal. Aos três anos começou a
aprender balé e sapateado e aos quinze estreou-se nos palcos como Julieta numa
produção de Romeu e Julieta de William Shakespeare. Em 1964, após deixar a
faculdade para se tornar professora de balé, participou num musical como
dançarina na Feira Mundial de Nova Iorque e no ano seguinte estabeleceu-se
como dançarina “go-go” profissional na cidade. Na segunda metade de década de
1960, Goldie Hawn estreou em televisão, personificando diversas vezes o
estereótipo cômico e machista da “loira burra e meiga”, que a tornaria famosa e
em cima do qual faria três comédias românticas de sucesso nos anos seguintes na
tela: “Liberdade Para as Borboletas”, “Caiu uma Moça na Minha Sopa” e “Flor de
Cacto”, um trabalho de estreia no cinema, com Walter Matthau e Ingrid Bergman
nos papéis principais que lhe garantiu o Óscar de melhor atriz secundária de
1969.
No
cinema a década começa com a originalidade de Robert Altman em M.A.S.H., tendo
como background a “Guerra da Coréia”. Liza Minnelli ganha mais um Oscar para
sua família com “Cabaret”. Francis Ford Coppola entrega o filme que mudaria a
história da Sétima Arte, “The Godfather”, um dos melhores filme dos anos 1970 e
um dos melhores já feitos, com Marlon Brando e Al Pacino. Vencedor de 3 Óscar
nas categorias de melhor filme, melhor ator (Brando) e melhor roteiro adaptado.
A primeira parte da saga da família Corleone. O aclamado diretor russo Andrei
Tarkovski lança a aclamada ficção científica: “Solyaris”. O famoso cineasta
Ingmar Bergman lança um dos melhores filmes da década de 1970 com “Viskningar
och rop” (“Gritos e Sussurros”), filme historicamente determinado e se tornando
um dos únicos filmes estrangeiros a ser indicado na categoria de Melhor Filme
no Óscar, mas paradoxalmente, como se sabe, apenas ganhando na categoria de
Melhor Fotografia.
Nos
anos 1970 e 1980 Goldie Hawn consagrar-se-ia como atriz e produtora, primeiro com o papel principal do thriller de estreia de Steven Spielberg
no cinema, “The Sugarland Express” e depois, principalmente, em comédias
dramáticas como “Shampoo”, “Golpe Sujo”, “Bird on a Wire” e “Private Benjamin”,
também produzido por ela e que lhe deu uma indicação ao Óscar de melhor atriz
de 1980. Nos anos 1990 a sua carreira entrou num compasso mais lento com
sucessos de bilheteira menores, o maior deles em “The First Wives Club” com
Bette Midler e Diane Keaton, em que ela também demonstra seus dotes de cantora
com a banda sonora do filme. Apesar de judia por parte de mãe, Hawn
converteu-se ao budismo nos anos 1970 e pratica a religião, tendo criado os
seus filhos dentro das filosofias judaica e budista. Do ângulo da diversidade cultural
não abre mão das suas raízes etnológicas judaicas e descreve-se como “meio
judia e meio budista”, visitando a Índia anualmente e viajando a Israel, como
demonstração de identificação com seu povo e com as duas religiões.
Dom
foi criado como um “bibelô” (adorno) pela mãe, possessiva e dominadora, mas na
idade adulta, resolve ir morar sozinho, num apartamento, quando sua vida
totalmente organizada vai bem até a chegada da nova vizinha, o que transforma radicalmente
sua vida e seus sentimentos. Don e Jill logo criam uma intensa “conexão de
sentido” um com o outro, porém, com a chegada da mãe de Don, a relação pela
presença materna se complica. Obviamente ela não vê com seus olhos a relação do
filho com Jill, que tinha um histórico de relacionamentos curtos, pouco
afetivos e complicados. O longa-metragem, de 1972, aborda com um olhar inocente
temas atemporais e sentimentos inerentes aos jovens na transição para idade
adulta. O diretor consegue identificar a intimidade do apartamento de Don com
precisão. A câmera de move no interior do apartamento, levando o telespectador
a interagir com os personagens, aliando-se ao som e a excelente direção de
atores, criando um ambiente perfeitamente crível. Vale destacar a trilha sonora
com fator de integração.
O
nome grego para borboleta é psyque, e a mesma palavra significa alma. Psiquê,
na mitologia grega, é uma divindade que representa a personificação da alma.
Seu mito foi narrado nos últimos tempos da Antiguidade na história latina. Sua
história é uma alegoria a alma humana, que é purificada por paixões e desgraças,
e é, portanto, preparada para desfrutar da verdadeira e pura felicidade. Em
obras de arte Psiquê é representada como uma donzela com asas de borboleta, uma
simbologia que significa que Psiquê, como a borboleta, depois de uma vida
rastejante como lagarta, flutua na brisa do dia e torna-se um belo aspecto da
primavera. Não há ilustração da imortalidade da alma tão impressionante e bela
como na representação social da borboleta.
Depois
de uma vida rastejante e mesquinha como lagarta, passa pela fase de pupa,
somente depois de estender as asas brilhantes do túmulo no qual tinha ficado,
flutua na brisa do dia e torna-se um dos mais belos e delicados aspectos da
primavera. Psique, é a alma humana purificada pelos sofrimentos e infortúnios,
está preparada, assim, para o desfrute da verdadeira felicidade. O termo grego
psyque, originalmente, tinha dois significados, como já mencionados, a alma e a
borboleta, sendo que esse último simbolizava o espírito imortal. Segundo as
crenças nativistas gregas populares, quando alguém morria, o espírito saía do
corpo em forma de borboleta. Importante destacar que a simbologia da borboleta
pode variar de lugar para lugar, de povo para povo, uma vez que sua
representação está associada às diversas formas de vida, de culturas, religiões
e crenças. Pela etimologia, a palavra borboleta é uma designação comum referida
aos insetos lepidópteros diurnos, cujas antenas são clavadas.
Provavelmente,
a palavra borboleta tem origem do latim belbellita, calcado em bellus “bom,
bonito”. Mariposa, de outra parte, é uma designação geral dos lepidópteros
heteróceos e apresenta hábitos noturnos. Do castelhano deriva de María e
“posa”, imperativo de posar, que significa em língua portuguesa “pousar”. Os
antigos gregos converteram as borboletas em símbolos da alma difundindo no
Ocidente, em especial as de cor branca. Em analogia, a borboleta é a alma
humana purificada pelos sofrimentos terrenos, pronta para gozar da felicidade
após o túmulo da pupa. A borboleta também é considerada um símbolo de ligeireza
e de inconstância. O voo da borboleta em direção ao fogo comparativamente nos
remete “ao voo de Ícaro em direção ao sol”. Em algumas tradições, a chama
(“flama”) também tem como significado antropológico um símbolo de purificação,
de iluminação e de amor espirituais, representando a imagem do espírito e da
transcendência, e, portanto, a alma do fogo (cf. Bulfinch, 1981).
Teatro
experimental é um termo genérico que se refere a diversos movimentos estéticos do teatro
ocidental, iniciados no século XX, como forma de reação às convenções que até
então dominavam a criação e produção de obras dramáticas e, mais
especificamente, o naturalismo. O termo mudou, com o tempo, à medida que o
teatro dito mainstream adotou diversas destas formas que eram então consideradas
radicais. Costuma ser usado de maneira mais ou menos equivalente ao termo
teatro de vanguarda. Historicamente sob intensa expectativa, a 8 de maio de
1945, uma noite fabulosa para o teatro brasileiro, o Teatro Experimental do Negro
(TEM) apresentou seu espetáculo fundador. O estreante Aguinaldo Camargo entrou
no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde antes nunca pisara um
negro como intérprete ou como público, e, numa interpretação inesquecível,
viveu o trágico Brutus Jones, de O` Neill. Na sua unanimidade, a crítica saudou
entusiasticamente o aparecimento do TEM e do grande ator negro Aguinaldo
Camargo, iguala-o em estrutura dramática a Paul Robeson, que também desempenhou
o mesmo personagem nos Estados Unidos da América. Henrique Pongetti, cronista
do jornal O Globo, registrou comparativamente o evento: - “Os negros do Brasil
- e os brancos também - possuem agora um grande astro dramático: Aguinaldo de
Oliveira Camargo. Um anti-escolar, rústico, instintivo grande ator”.
Desde
os anos 1960 e de anos anteriores, quando era ligado à cultura beat,
Haight-Ashbury era procurado como moradia de pessoas fora de casa que não
tinham condições de morar em locais mais nobres do norte da cidade, e ali
encontravam imóveis e aluguéis mais baratos numa área menos densamente povoada.
Desde esta época, o lugar e a cidade de São Francisco tornaram-se a referência
física do movimento hippie e da chamada contracultura. São Francisco e The
Haight ganharam reputação como centro de uma cultura de drogas ilegais, notadamente
maconha e LSD, além de outras drogas alucinógenas. Em 1967, a área ganhou fama
internacional como o paraíso de drogados e habitat natural de diversos músicos
e grupos de rock`n`roll psicodélico da época, como Janis Joplin, Jefferson
Airplane e Grateful Dead, cujos integrantes viviam há pouca distância da famosa
interseção e que eternizaram a cena local urbana em diversas canções. Grupos
performáticos de teatro de rua e todo tipo de cultura underground também faziam
parte do clima de comunicação efervescente da área.
Bibliografia
geral consultada.
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Almeida Rodrigues, Da Bond Girl à Comédia
Romântica: Identidades Femininas no Cinema de Hollywood. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Universidade Federal de
Pernambuco, 2010; Artigo: “O Barata Ribeiro 200 com pós-escrito de Yvonne
Maggie e comentários de Anthony Leeds”. In: https://aa.revues.org/2012; CARNEIRO, Cesar Felipe Pereira, Recriações de Otelo nos Palcos Brasileiros: Do Globe Theatre ao Barracão Encena. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Setor de Ciências Humanas. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2015; entre outros.
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