Ubiracy de Souza Braga*
“Devem vestir a camisa de força do materialismo, caso contrário, não é possível fazer ciência”. Richard Feynman
Na
história social do Reino Unido, a era vitoriana foi o período do reinado da
rainha Vitória, de junho de 1837 até sua morte em janeiro de 1901. Localiza-se
entre o período georgiano e o eduardiano, e a sua segunda metade coincide com o
começo da Belle Époque na Europa continental. Alguns estudiosos poderiam
estender o início do período à aprovação do Ato de Reforma de 1832, como a
marca do verdadeiro início de uma nova era cultural. Representou um longo
período de paz e relativa prosperidade para o povo britânico, também conhecido
como Pax Britannica, com os lucros adquiridos a partir da expansão e
domínio do Império Britânico no exterior, bem como o auge e consolidação da
Revolução Industrial e o surgimento de novas invenções. Tudo isso permitiu que
uma grande e instruída classe média se desenvolvesse. Dos grandes nomes do
pensamento moderno foram forjados na época: Charles Darwin e Sigmund Freud.
Apesar dos seus impulsos de modernização na ciência, no mergulho do indivíduo e
na dinâmica econômica, esta Era foi marcada também por rígidos costumes, moralismo
social e sexual, fundamentalismo religioso e exploração capitalista. Ao final
do século, as políticas do novo imperialismo levaram ao aumento de conflitos
coloniais e posteriormente, à Guerra Anglo-Zanzibari e a Guerra dos
Bôeres na África. Internamente, a política se tornou cada vez mais liberal,
com uma série de mudanças graduais na direção de reformas políticas e ao
alargamento dos direitos do voto.
Durante a Era vitoriana, a população da
Inglaterra quase duplicou, passando de 16,8 milhões em 1851 para 30,5 milhões
em 1901. A população da Irlanda diminuiu rapidamente, de 8,2 milhões em 1841
para menos de 4,5 milhões em 1901. No início da era vitoriana, a Câmara dos
Comuns foi dominada por dois partidos, os whigs e os tories. Do ponto de vista histórico, teórico
e pontual o conceito de “carreira” deriva da palavra latina “carraria” e passou
por diversas transformações no decorrer de sua aplicabilidade teórica e
historicamente determinada. Por volta de 1530, no período renascentista,
simplificadamente, “carreira” identificava um caminho, ou o “curso do sol
através dos céus”. Nas disputas de Justa, em 1590, a palavra “carreira” estava
inserida no seguinte contexto: o cavalo que, durante o combate, passava uma
“carreira” em seu oponente. A partir de 1803, o significado contemporâneo da
palavra “carreira” passou a se relacionar ao mundo perigoso dos negócios, e das instituições quando associado à “caminho na vida profissional”.
Nos dias atuais, comumente entende-se “carreira” como a soma de “todos os
cargos” ou “posições” ocupadas por uma pessoa durante a sua vida profissional.
Este entendimento contraria a raiz etimológica do termo e impede que o conceito
real da palavra seja plenamente assimilado no mercado da ciência, inclusive por
alguns profissionais de renome em nível globalizado. Não está associado a
restrições temporais, mas espaciais. Não revela um histórico profissional,
propriamente dito, mas um caminho particular rumo a um objetivo institucional.
No
sentido pontual é um termo disciplinar que designa um determinado campo do
conhecimento. Como campos específicos de
saber, as disciplinas se referem aos mais diversos âmbitos de produção de
conhecimento técnico e científico. Tem como representação
a produção social através de instâncias (instare)
ou níveis de análises sobre a realidade social, a constituição de uma linguagem
aparentemente comum entre os seus praticantes, a definição e constante
redefinição de seus objetos de estudo, uma singularidade que as diferencia de
outros saberes, uma complexidade interna que termina por gerar novas
modalidades no interior da disciplina. Enfim, a rede de conexão humana de
conhecimentos que constitui determinado campo de saber, com a formação
progressiva da chamada “comunidade científica”, na falta de melhor expressão,
compartilhada no campo disciplinar. É um processo de trabalho, com a fundação e
manutenção de revistas científicas especializadas, a ocorrência constante de
congressos frequentados pelos praticantes do campo disciplinar, a criação de
instituições científicas que representam os profissionais do campo de saber
vinculando seu nome, seu cargo no âmbito do processo de trabalho
e de pesquisa nas instituições (cf.
Albuquerque, 1980).
No final do século XIX, Jean-Martin
Charcot, um eminente neurologista francês, que empregava a hipnose para estudar
a histeria, demonstrou que ideias mórbidas podiam produzir manifestações
físicas. Seu aluno, o psicólogo Pierre Janet, considerou como prioritárias,
para o desencadeamento do quadro histérico, muito mais as causas psicológicas
do que as físicas. Sigmund Freud, em colaboração com Josef Breuer, começou a
pesquisar os mecanismos psíquicos da histeria e postulou em sua teoria que essa
neurose era causada por lembranças reprimidas, de grande intensidade emocional.
A sintomatologia, que ao mesmo tempo frustrou e estimulou os médicos do século
XIX, foi o grande desafio para Freud, que, a partir desse quadro clínico,
desenvolveu técnicas específicas para
conduzir o tratamento de suas pacientes: nascia a Psicanálise, como resposta a
esse extraordinário desafio. Teorizou-se, outra segmentação da estrutura
neurótica: estava-se diante dos obsessivos que, com sintomas diferentes, também
apresentavam grande sofrimento psíquico. Para Freud: - O nome “histeria” tem
origem nos primórdios da prática média e resulta, portanto, do preconceito, superado
somente nos dias de hoje, que vincula as neuroses às doenças do aparelho sexual
feminino.
Agora Nietzsche contamina a reflexão
crítica na Sétima Arte. O trágico
sempre será afirmativo e não reativo. O reativo, dialético, é simplesmente
conservação de força frente ao inesperado. Que precisa do controle e da
submissão daquele que é atingido pelo inusitado. O trágico afirma-se na
consciência plena do acaso como constituinte da própria realidade e o “cosmiza”
ativamente e não reativamente. O trágico não só afirma a necessidade a partir
do acaso, como afirma o próprio acaso. Não só afirma a ordem a partir da
desordem, como afirma a própria desordem. Não só afirma o cosmos a partir do
caos, como afirma o caos. Reitera, sobretudo, o próprio devir. Essa é a grande
inversão de Nietzsche. Que tira do pensamento qualquer pressuposição de sentido
e valor, para construí-los a partir do “jogo de forças” visando expansão de
potência. A tese de Nietzsche em relação ao pensamento ocidental pressupõe que
o sentido e valor já uma é “vontade de potência”, se afirmando como força e
moldando os agentes a reagirem contra aquilo que constitui a realidade: a falta
de valor em si e sentido próprio.
O mundo, para Nietzsche, não é ordem
e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não
era, portanto, Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso,
e, por isso, se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A
única e verdadeira realidade “sem máscaras”, para Nietzsche, é a vida humana
tomada e corroborada pela vivência do instante. Nietzsche formula uma concepção
histórico-filológica de um ponto de vista crítico: a) das “ideias modernas”, b)
da vida e da cultura moderna, c) do neonacionalismo alemão, e, para sermos
breves, d) os ideais modernos como democracia, socialismo, igualitarismo,
emancipação feminina não eram senão expressões da decadência de determinado
“tipo homem”. Por estas razões, é, por vezes, apontado como um precursor da
concepção de pós-modernidade. A
figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha autoritária, num
processo político mediante o qual você opta, mas não decide, tendo sua irmã,
simpatizante daquele regime, fomentado nesta associação. Como dizia Heidegger,
ele próprio nietzschiano, “na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche”.
A ideia em torno de “anjos e
demônios”, apocalíptica por certo vem sendo fomentada com absoluto sucesso na
ficção pelo escritor Dan Brown escrito em estilo irresistível e acessível. Ela
se insere em questões universais sobre a existência de Deus, a possibilidade de
se ter fé em um Universo que parece ter profunda indiferença por nós, a
reconciliação entre o científico e o espiritual. Só que o livro leva o conflito
entre razão é fé a uma concepção apocalíptica. Antes de decifrar O Código Da Vinci, Robert Langdon, o
famoso professor de simbologia de Harvard, vive sua primeira aventura em Anjos e Demônios (2004), quando tenta
impedir que uma antiga sociedade secreta destrua a cidade do Vaticano. Às
vésperas do conclave que vai eleger o novo Papa, Langdon é chamado para
analisar um misterioso símbolo marcado a fogo no peito de um físico assassinado
em um grande centro de pesquisa na Suíça. Ele descobre indícios de algo
inimaginável: a assinatura macabra no corpo da vítima – um ambigrama, uma
palavra que pode ser lida tanto de cabeça prá cima quanto de cabeça prá baixo –
é dos Illuminati, uma poderosa
fraternidade considerada extinta há 400 anos. Dan Brown demonstra novamente sua
extraordinária habilidade de entremear suspense com fascinantes reflexões sobre
ciência, religião e história da arte, despertando a curiosidade dos leitores
atentos para os significados ocultos deixados em monumentos e documentos
históricos. Só que o livro leva o conflito entre a razão e fé a situação
limite.
Umberto Eco frequentou a escola
salesiana, um instituto religioso católico romano fundado no século XIX por
Saint Don Bosco. Curiosamente o sobrenome Eco, vem do acrônimo latino “ex
caelis oblaus” que fora dado ao seu avô, que era um órfão abandonado por um
oficial da cidade e que tem como representação religiosa “um presente dos
céus”. Entre o final da década de 1950 e 1960, passou a se interessar pela
semiótica. Em 1961, escreveu o ensaio: “Fenomenologia di Mike Bongiorno” sobre
o fenômeno popular do anfitrião de um “Quiz Show” chamado Mike Bongiorno e
também Apocalitiici e Integrati
(1964), onde analise a comunicação de massa a partir de uma perspectiva
sociológica. Precisa uma nova orientação nos estudos de cultura de massa. Nesse período publicou o seu primeiro livro
como uma extensão de sua tese de doutorado. Sua démarche filosófica obteve impulso com a influência positiva de
Luigi Pareyson, na Itália. Ele se concentrou nos estudos sobre estética do
período medieval, principalmente aos trabalhos de São Tomás de Aquino, e
defendia ardorosamente a dedicação deste membro da Igreja Católica referente às
questões do belo.
Logo
surge seu segundo livro: “Sviluppo dell´estetica medievale” (1959), em que se
posicionou como um pensador da filosofia medieval. Nesse mesmo ano passou a ser
um editor sênior na editora Bompiani (Milão), onde permaneceu até 1975. Eco
criou na Universidade de Bolonha um programa incomum chamado “Antropologia do
Ocidente” a partir da perspectiva dos africanos e estudiosos chineses, onde foi
desenvolvida uma rede transcultural na África Ocidental, que resultou na
primeira conferência em Guangzhou na China (1991), intitulada: “Fronteiras do
Conhecimento”. Sob o olhar semiótico de Umberto Eco, descoberto no filósofo
John Locke, aderiu assim à concepção anglo-saxônica desta antiga disciplina,
deixando de lado a visão semiológica adotada por Ferdinand Saussure. Ele busca
também sua visão renovada da semiótica nos conceitos de Immanuel Kant e Charles
Pierce, o que se pode verificar nas obras “As Formas do conteúdo” (1971) e
“Tratado Geral de Semiótica” (1975).
Umberto Eco critica o uso esotérico
da interpretação, fazendo ver que um texto não pode ser aprisionado em seu
conjunto por uma única verdade, pois demonstra que a vontade de uma
interpretação única é, afinal, “a vontade de manutenção de um segredo, que diz
respeito à manutenção de poder”. Essa crítica não desfaz a impressão de que a
interpretação não pode ser meramente uma impressão subjetiva do texto. Cabe a
nós sermos “servos respeitosos” da semiótica. Se nós, leitores, podemos achar
no texto um significado, cabe a nós ter claro que esse significado é uma
referência nossa, que evidentemente nem sempre irá respeitar o texto original.
Portanto, que existe a “intentio lectoris e a intentio operis”, isto é a
intenção do leitor e a do texto. Enquanto a intenção do leitor pode ser
reconhecida, a intenção do texto parece para sempre perdida, mas deve ser
conjecturada pela interpretação desse leitor, pelo menos através de coerência:
qualquer interpretação feita de parte de um texto poderá ser aceita se for
confirmada por outra parte processual do mesmo texto, e deverá ser rejeitada se
a contradisser.
Daí a sua importância em
distinguir, no modelo comunicacional, e, portanto, no universo retórico, o
termo ideologia que se presta a numerosas codificações. Deixando de lado a
noção de ideologia como “falsa consciência”, Umberto Eco, reitera o papel da
ideologia como tomada de posição filosófica, política, estética, etc. em face
da realidade. Nosso intuito, afirma, é conferir ao termo ideologia, e a par dele ao de retórica,
uma acepção muito mais ampla vinculada ao universo do saber do destinatário e
do grupo a que pertence, os seus sistemas de expectativas psicológicas, os seus
princípios morais, isto é, quando o que pensa e quer é socializado, passível de
ser compartilhado pelos seus semelhantes. Para consegui-lo, porém, é mister que o sistema de saber se torne
sistema de signos: a ideologia é reconhecível quando, socializada, se torna
código. Nasce, assim, uma estreita relação entre o mundo dos códigos e o mundo
do saber preexistente. Esse saber torna-se visível, controlável, comerciável, quando
se faz código, convenção comunicativa. O aparato sígnico remete ao aparato
ideológico e vice-versa e a Semiologia, como ciência da relação entre códigos e
mensagens, transforma-se na atividade de identificação
contínua das ideologias que se ocultam sob as retóricas. Do ponto de
vista teórico e metodológico, a Semiologia mostra-nos no universo dos signos,
sistematizado em códigos e léxicos, o universo das ideologias, que se refletem
nos modos pré-constituídos da linguagem.
Fundado em 15 de janeiro de 1951
pela Lei nº 1.310, o Conselho Nacional de Pesquisas e posteriormente Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, cuja sigla se
manteve, é um órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI) governamental para incentivo ao ideário da pesquisa científica e
tecnológica no Brasil. É considerada uma das instituições mais sólidas na área
de pesquisa entre os chamados “países em desenvolvimento”, seu objetivo
principal. O período de perplexidade internacional do pós-guerra (1949-1954),
também marcado por contradições do nacionalismo desenvolvimentista, ampliou o
interesse do CNPq em sua iniciativa de capacitar pesquisadores (cf. Cardoso,
1978; Paiva, 1978; 1982). Porém, seu papel institucional intensificou-se
historicamente em termos de espaço/tempo para o financiamento de pesquisas
científicas e tecnológicas nas diversas áreas do conhecimento, com subvenção de
bolsas e auxílios. Com sede em Brasília, o CNPq centralizava a coordenação da
política nacional de C & T até a criação do ministério em 1985, com órgãos
federais e agências de fomento estrangeiras como parceiros. O CNPq é presidido
pelo engenheiro eletricista Mário
Neto Borges.
Atualmente,
a gestão administrativa do CNPq é de responsabilidade de uma diretoria
executiva, enquanto o conselho deliberativo é responsável pela política
institucional. Por meio de “comitês de assessoramento”, a comunidade científica
e tecnológica contribui na gestão e na política do CNPq que oferece “bolsas” e
auxilio à pesquisa em diferentes modalidades. As “bolsas” são destinadas a
pesquisadores experientes, a indivíduos recém-doutorados, a alunos de
pós-graduação, graduação e ensino médio. Os valores das bolsas são variados.
Existem duas categorias de bolsas: bolsas individuais no Brasil ou no exterior,
ou bolsa por “quotas”. As bolsas individuais, tanto no país, como no exterior,
são de fomento científico ou tecnológico. O auxilio oferecido pelo CNPq pode
ser destinado a instituições, a cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado),
a pesquisadores e a Fundações de apoio à pesquisa. São várias modalidades de
auxílio, como financiamento para publicação científica, promoção de congressos,
intercâmbios científicos para capacitação de pesquisadores e projetos de
pesquisa. O relatório de “prestação de contas” é obrigatório para bolsistas.
A base do conceito de carreira é expressa no curriculum Lattes, elaborado nos padrões
da “plataforma” gerida pelo CNPq, tendo como resultado a experiência individual
cumulativa na integração de bases de dados de currículos, de grupos de pesquisa
e de instituições em um único sistema de informação, “tornando-se um padrão
nacional no registro do percurso acadêmico de estudantes e pesquisadores do
Brasil”. Atualmente é adotado pela maioria das instituições de fomento,
universidades e institutos de pesquisa do país. A “riqueza” do controle de
informações, a abrangência e confiabilidade são elementos indispensáveis aos
pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia. O curriculum Lattes é mais abrangente que
o curriculum vitae, sendo esta a
principal diferença entre os dois. Além disso, é mais longo, pois deve mencionar
detalhadamente tudo o que está relacionado com a carreira do profissional.
Pode-se entender carreira como uma
série de estágios que variam conforme forças de trabalho exercido sobre o
indivíduo. Tem-se a relação entre a organização e o profissional, como fator de
conciliação das expectativas entre ambas a partes. A carreira é um dos termos
das ciências sociais que não é ambígua e está relacionada a uma gama ampla de
definições. Pode significar, ao mesmo tempo, emprego assalariado ou atividade
não remunerada, profissão, vocação, ocupação, estágio, posição em uma
organização, trajetória de um indivíduo que trabalha, uma fonte de informação
para as empresas alocarem recursos humanos, ou até “um roteiro pessoal para a
realização dos próprios desejos”. Carreira inclui os estudos ou a preparação
acadêmica e integram as capacidades laborais, as novas aprendizagens, as
mudanças pessoais sobre a própria imagem, as metas e os valores, assim como a
resposta para as novas oportunidades e mudanças tanto sociais como políticas. A
carreira é um caminho de maturação, de crescimento em conhecimentos,
habilidades e responsabilidades sobre a própria vida.
Marilena Chauí, Aula Magna: “Contra a Universidade Operacional”, em 8/8/2015. |
É neste sentido que a carreira
profissional está indissociavelmente ligada ao
positivismo, corrente filosófica que Auguste Comte fundou com o objetivo
de reorganizar o conhecimento humano, seu caráter e que tem grande influência
no Brasil e de resto no mundo ocidental. O positivismo é, enquanto sistema,
simultaneamente, uma doutrina filosófica, sociológica e política. Surgiu como
desenvolvimento do Iluminismo. Das crises sociais e moral do fim da Idade Média
e do nascimento da sociedade industrial - processos que tiveram como marco a
revolução clássica francesa. Em linhas gerais, ele propõe à existência humana
valores completamente humanos, afastando radicalmente a teologia e a
metafísica. O positivismo comtiano associa uma interpretação positiva das
ciências; uma classificação do conhecimento a uma ética humana radical. Defende
a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento
verdadeiro. Com os positivistas somente pode-se afirmar que uma teoria é
correta se ela foi comprovada empiricamente através de métodos científicos
válidos. O progresso da humanidade depende exclusivamente dos avanços
científicos.
Uma organização, observa Marilena
Chauí (2003), difere de uma instituição por definir-se por uma prática social
determinada de acordo com sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de
meios (administrativos) particulares para obtenção de um objetivo particular.
Não está referida a ações articuladas às ideias de reconhecimento externo e
interno, de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como
estratégias balizadas pelas ideias de eficácia e de sucesso no emprego de
determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define. Por ser
uma administração, é regida pelas ideias de gestão, planejamento, previsão,
controle e êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua própria
existência, sua função, seu lugar no interior da luta de classes, pois isso,
que para a instituição social universitária é crucial, é, para a organização,
um dado de fato. Ela sabe (ou julga saber) por que, para que e onde existe.
A instituição social aspira à
universalidade. A organização sabe que sua eficácia e seu sucesso dependem de
sua particularidade. Isso significa que a instituição tem a sociedade como seu
princípio e sua referência normativa e valorativa, enquanto a organização tem
apenas a si mesma como referência, num processo de competição com outras que
fixaram os mesmos objetivos particulares. Em outras palavras, a instituição se
percebe inserida na divisão social e política e pretende definir uma
universalidade (imaginária ou desejável) que lhe permita responder às
contradições, impostas pela divisão. Ao contrário, a organização busca gerir
seu espaço e tempo particulares aceitando como dado bruto sua inserção num dos
polos da divisão social, e seu alvo não é responder às contradições, e sim
vencer a competição com seus supostos iguais. A questão nevrálgica refere-se à
pergunta: Como foi possível passar da ideia da universidade como instituição à
definição como organização prestadora de serviços?
Em primeiro lugar através da
passagem da produção de massa e da economia de mercado para as sociedades de
conhecimento baseadas na informação e comunicação. Na esfera de ação política é
regulação da existência coletiva, poder decisório, luta entre interesses
contraditórios, disputa por posições de mundo, confrontos mil entre forças
sociais, violência em última análise. Só que a produção dos processos
políticos, baseados em instituições sociais como esfera de poder, em segundo
lugar, se diferencia radicalmente da produção econômica porque usam
eventualmente suportes materiais, como armas, livros, processos, papéis onde se
inscrevem as ordens, os atos de gestão, as sentenças ou as leis, mas não é uma
produção material no sentido marxista do termo.
Porque consiste em decisões imperativas, decisões que podem mudar o
plano de vida individual (os sonhos) e da coletividade (os mitos, os ritos, os
símbolos). É também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o
interesse dos agentes sociais, quando não sobre os próprios tabus do corpo. Corresponde a atos de
vontade que regulam atividades coletivas; disciplina práticas sociais. Não
produzem mensagens, discursos; produzem isto sim: obediências, obrigações,
submissões, direitos, deveres, controles. Poder, para sermos breves, é uma
relação social de mando e obediência. As decisões tomadas politicamente se
impõem a todos num dado território ou numa dada unidade social. Convertem-se em
atividades coercitivas (esfera da segurança), administrativas (esfera da
administração), jurídico-judiciárias (esfera da justiça) e legislativas (esfera
da deliberação). Simplificadamente, processo político diz respeito à pergunta:
Quem pode o quê sobre quem? Eis a grande questão do processo político, do
confronto entre forças sociais, da sujeição de vontades a outras vontades.
O sistema de currículos Lattes surgiu da necessidade de controle político e
ideológico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) para gerenciar uma base de dados sobre pesquisadores em C&T para
credenciamento de orientadores no país. Leva o nome do físico paranaense César
Lattes. De 1993 a 1999, utilizaram-se formulários “em papel”, um sistema em
ambiente DOS (BCURR) e um sistema de currículos específico para credenciamento
de orientadores. Nesse período, a Agência acumulou aproximadamente de 35 mil
registros curriculares da atividade de pesquisa em C&T no país. Embora
esses instrumentos tenham viabilizado a operação de fomento da Agência, a
natureza das informações dificultava uma plena utilização dessa base de dados
em outros processos de gestão em C&T. Por exemplo, não era possível separar
coautores ou mesmo contabilizar índices puros de coautoria nos currículos
vitae. O sistema de C&T, no Brasil, é gerido pelo Ministério de Ciência e
Tecnologia (MCT). Com um orçamento anual da ordem de R$ 2 bilhões, durante o
governo Dilma Rousseff (PT), com mandato presidencial de 1° de janeiro de 2011,
interrompido com o golpe de Estado de 17 de abril de 2016, chamado por ela de
“interrupção ilegal e usurpadora” do seu mandato e disse que vai lutar com
“todos os instrumentos”, o MCT possuía em sua estrutura 20 Instituições de
grande porte no desenvolvimento de pesquisas. No que diz respeito à gerência de
recursos e formulação de políticas de Ciência &Tecnologia, o Ministério de Ciência
e Tecnologia é auxiliado pelo velho CNPq e pela elitista FINEP.
Entre 1998 e 1999, o CNPq realizou
um levantamento junto à comunidade de consultores ad hoc visando
estabelecer um modelo de currículo que atendesse tanto às suas necessidades de operação de fomento como
às de planejamento e gestão em C&T. Além disso, o grupo de desenvolvimento
CESAR - Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife - da Universidade
Federal de Pernambuco, e o grupo Stela - atual Instituto Stela - da
Universidade Federal de Santa Catarina incluiu no formulário eletrônico as
diversas “funcionalidades” técnicas há muito solicitadas pela comunidade
científica, tais como relatórios configuráveis, saída para outras fontes,
indicadores de produção, dicionários individualizados, importação dos dados
preenchidos em outros sistemas de currículos, etc. Entre março e abril de 1999,
140 dos 400 consultores Ad hoc que
responderam à pesquisa avaliaram as respostas do primeiro protótipo. Em maio de
1999, CNPq e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) acordaram a completa compatibilização do novo currículo do CNPq com os
dados de pós-graduação, sob a ótica dos indivíduos de um Programa (pesquisadores,
docentes ou discentes). Deste encontro resultou na modificação do protótipo,
que se transformou no “Sistema de Currículos Lattes”, em 16 de agosto de 1999.
Fábrica de Crenças: C & T, CNPq, CAPES. |
Nos
dois primeiros anos de operação do Sistema de Currículos Lattes, a cobertura de
currículos ligados a C&T aumentou em mais de 300%, com a base anterior de
cerca de 35.000 registros sendo incrementada para mais de 100 mil currículos.
Em julho de 2000, a Coordenação Geral de Informática do CNPq iniciou um
trabalho de intercâmbio com outras instituições ligadas à C&T no País. O
resultado foi a ligação dinâmica em termos de processo de trabalho dos
currículos Lattes do CNPq com referência ao mesmo pesquisador em outras bases
de dados. Ao mesmo tempo em que construiu o formulário “off-line”, a
Coordenação Geral de Informática do CNPq trabalhou na ferramenta on-line, que funciona sobre uma
plataforma Web e permite que pesquisadores atualizem os seus currículos
diretamente na base do CNPq. Nesse trabalho de intercâmbio, o CNPq vinculou os
currículos Lattes com o INPI, para apresentação dinâmica das patentes de
registro dos pesquisadores; o Scielo, LILACS, MEDLINE, fruto de acordo com BIREME,
para leitura dos textos completos publicados pelos pesquisadores e para vínculo
com os currículos de parceria dos coautores; e as universidades, para vínculo
com bases institucionais de trabalho desses pesquisadores. A universidade
brasileira submeteu-se à ideologia neoliberal da sociedade de mercado, que transforma direitos sociais, inclusive
educação, em serviços; concebe a universidade como prestadora de serviços; e
confere à autonomia universitária o sentido de gerenciamento empresarial da
instituição como mero Aparelho Ideológico de Estado.
Enfim,
de acordo com os dados estatísticos do Censo
da Educação Superior,
8.033.574 alunos estão matriculados em instituições de ensino superior (IES) no
Brasil. Logicamente o número supera a estatística de 2014 em 2,5%, quando havia
7.839.765 matriculados. São ofertados 33 mil cursos de graduação em 2.364 instituições
de ensino superior. Além disso, dos 8 milhões de vagas disponíveis, somente
42,1% estão preenchidas e 13,5% das vagas remanescentes foram ocupadas. - “A
falta de interesse em ocupar as vagas amplamente oferecidas, tanto na rede
pública quanto na particular, deve-se ao fato de o jovem não identificar, na sua
vontade, uma perspectiva deste ou daquele curso. É preciso haver uma conexão
entre a educação básica e a de nível médio para ampliar as oportunidades de
acesso à educação superior”, defende a presidente do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira - Inep, Maria Inês Fini.
Em
repetidas manifestações, o reitor da Universidade de São Paulo revela seu
“lugar de fala”, sua afinação com esse ideário, ao recorrer ao discurso
neoliberal utilizado para pensar o trabalho universitário, que inclui
expressões como “qualidade universitária”, definida como competência e
excelência e medida pela “produtividade” e “avaliação universitária”. Foi o que
sustentou a professora e filósofa Marilena Chauí ao proferir sua Aula Magna
sobre o tema: “Contra a Universidade Operacional”, em 8/8/2015. A conferencista
lotou com aproximadamente 470 pessoas o auditório da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). É sobre esta “universidade
operacional” que a ignorância simbólica da lei, “mutatis
mutandis”, faz com que no estado do Ceará, em análise comparada, um professor e
pesquisador com doutorado na reconhecida Universidade de São Paulo (USP) desperdice
10 (dez) anos de trabalho em sua vida produtiva aguardando a ordem do establishment
burocrático e coronelista, para a defesa pública de provas e títulos de Tese de
Livre Docência (Ciência Política) e Tese de Titular (Sociologia). É crível! É
insensato, é extraordinário! Esquecer o paradoxo de Pierre Bourdieu!
Bibliografia
geral consultada:
ECO, Umberto, Apocalittici e Integrati. Milano: Bompiani Editore, 1964; NIETZSCHE, Friedrich, Così parlò Zarathustra. A cura di
Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Milano: Adelphi Editore, 1968; CÂMARA, Dom
Hélder Pessoa, Terzo Mondo Defraudado.
Milão: Editora Missionária Italiana, 1968; CARDOSO, Miriam Limoeiro, Ideologia do Desenvolvimento no Brasil:
JK-JQ. Tese de Doutorado em Sociologia. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1978; PAIVA, Vanilda, Bewusstseinsbildung
im Brasilien. These Ph. D. Universität Frankfurt am Main, 1978; Idem, Paulo Freire y el nacionalismo desarrollista.
1ª edición. México: Ediciones Extemporáneos, 1982; ALBUQUERQUE, J. A. Guilhon, Instituição e Poder. A Análise Concreta das
Relações de Poder nas Instituições. Tese de Livre Docência em Ciência
Política. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1980; ALBAGLI, Sarita, Ciência e Estado no Brasil Moderno: Um
estudo sobre o CNPq. Dissertação de Mestrado em Ciências. Rio de Janeiro:
COPPE/UFRJ, 1988; CHAUI, Marilena, “A Universidade Pública sob Nova Perspectiva”.
In: Revista Brasileira de Educação,
n° 24, 2003; BROWN, Dan, Anjos e Demônios.
Rio de Janeiro: Editor Sextante, 2004; FIORUCI, Wellington Ricardo, Leitor-Modelo e Leitor-Detetive: crítica e
ficção nas poéticas de Umberto Eco e Ricardo Paglia. Tese de Doutorado.
Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade Estadual Paulista -
UNESP, 2007; DINIZ, Márcia Ramalho, A
Outra Face do Narciso: Cultura do Consumo e Beleza do Corpo na Sociedade Contemporânea.
Dissertação de Mestrado em Sociologia. Centro de Ciências Humanas e Letras da
Universidade Federal da Paraíba, 2014; Artigo: “Capes retira exigência de
artigo científico para Prêmio de Tese”. In: http://www.diretodaciencia.com/2016/08/25/; KUSSUDA, Sérgio Rykio, Um
Estudo sobre a Evasão em um Curso de Licenciatura em Física: Discursos de Ex-alunos
e Professores. Tese de Doutorado. Faculdade
de Ciências. Bauru: Universidade Estadual Paulista, 2017; MENDES, Katiuscia
Aparecida Moreira de Oliveira, Educação Especial Inclusiva nos Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia Brasileiros. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Educação. Faculdade
de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017; LIMA,
Betina Stefanello, Políticas de Equidade de Gênero e Ciências no Brasil:
Avanços e Desafios. Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2017; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário