A Chapa Quente - Estado, Golpe, Casuísmo e Formação Humana.
Ubiracy de Souza Braga
“Gilmar somou-se aos
ministros pró-Temer desde sempre, Napoleão, Tarcísio e Admar”. Chico Alencar
No
âmbito da globalização vivida, modificam-se mais ou menos radicalmente as
condições sob as quais se desenvolvem a teoria e a prática da política. Alteram-se
as formas de sociabilidade e os jogos das forças sociais, no âmbito de uma
vasta, complexa e contraditória sociedade civil mundial em formação. Desde Maquiavel,
o príncipe é representado por uma pessoa, uma figura política, o líder ou condottiere, capaz de articular
inteligentemente as suas qualidades de atuação e liderança (virtú) e as condições sociopolíticas (fortuna) nas quais deve atuar
soberanamente. A virtú é essencial,
mas defronta-se todo o tempo com a fortuna, que pode ser ou não favorável,
podendo ser tão adversa que a virtú
não encontra possibilidades de realizar-se. Mas a fortuna pode ser influenciada
pelo descortino, a atividade e a diligência do príncipe. Ocorre pari passu a todos os desenvolvimentos, nexos,
contradições e transformações em curso, desenvolvem-se uma nova configuração
histórico-social de vida, trabalho e cultura, desenhando uma totalidade geo-histórica
de alcance global, compreendendo indivíduos e coletividades, povos, nações e
nacionalidades, culturais e civilizações. Esse é o novo e imenso palco da
história, no qual se alteram mais ou menos radicalmente os quadros sociais e
mentais de referência de uns e outros, em todo o mundo. Esse é o novo, imenso,
complexo e difícil palco e teatro da política, como teoria e prática.
A
noção de desenvolvimento passa a ser
central depois dessa concepção e, para o bem ou para o mal até os dias de hoje.
Mesmo a ideia de progresso, que
implicava que o depois pudesse ser explicado em função do antes, encalhou, de
certo modo nos recifes do século XX, ao sair das esperanças ou das ilusões que
acompanharam a travessia do mar aberto pelo século XIX. Esse questionamento
refere-se a várias ocorrências distintas entre si que não atestam um progresso
moral da humanidade, e sim, uma dúvida sobre a história como portadora de
sentido, dúvida renovada, essencialmente no que se refere ao seu método, objeto
e fundamentalmente nas grandes dificuldades não só em fazer do tempo um
princípio de inteligibilidade, como ainda em inserir aí um princípio de
identidade. A história: isto é, uma série de acontecimentos reconhecidos como
acontecimentos por muitos, acontecimentos que podemos pensar que importarão aos
olhos dos historiadores de amanhã e, ao qual cada um de nós, por mais
consciente que seja de nada representar nesse caso pode vincular algumas
circunstâncias ou imagens particulares, como se fosse a cada dia menos
verdadeiro que os homens, que fazem a história (pois, senão, quem mais?), não
sabem que a fazem. Um discurso político, tem uma estrutura e finalidade diferente do
discurso econômico, mas politicamente pode expressar na análise, a
dimensão econômica produzindo efeitos sociais de poder específicos em termos de
persuasão.
Pensando
bem, não é verdade que a mídia tenha
ajudado a esclarecer-nos sobre o processo em curso que deflagrou pari passu uma
das maiores manobras de fisiologismo e casuísmo político da história
republicana no Brasil envolvido com atos ilícitos de corrupção que dizem
respeito ao próprio processo de reeleição presidencial. A mídia em sua relação
com o poder foi nomeada por Octávio Ianni de “O Príncipe eletrônico”; outros
preferem a expressão “O Quarto Poder”. Não temos essa opinião, mas admitimos
que se produzem “valores de consumo”, no sentido que emprega Walter Benjamin,
ou, valores-de-informação, como já
referi-me noutro lugar. Mas para o que nos interessa, vale lembrar que a
consciência é uma propriedade alienável. Esse suposto de análise é recorrente
no “corredor de cargos”, com a possibilidade de eleições presidenciais. Daí os
aventureiros, para lembrarmo-nos de Marx. O que gostaríamos de lembrar é que a
noção de violência pressupõe sempre a ruptura de uma ordem social que, por sua
vez, pressupõe uma teoria da legitimidade. No Brasil não é crime na esfera da
política o ato de um político mentir, e pode tornar-se um recurso de defesa
legalmente aceito. Para o white-collar
a questão é ambígua e heteróclita na medida em que só serão punidos aqueles que
desafiarem as relações pessoais de poder conjunturalmente.
Para
que serve a política? As respostas podem ser muito variadas, assim como são
inúmeras as sensações e percepções dolorosas. Para encher a paciência, tirar o
sono, quebrar a rotina, produzir uma desordem na sociedade civil. Para punir, disciplinar,
conhecermos os limites da ganância, superar desafios e saber onde começam as
desigualdades sociais. E, ainda, para lembrar que estamos vivos, ou que é
preciso parar, descansar, ir ao médico, ouvir o grito silencioso dessa
desagradável sensação. Para a maioria dos médicos, biólogos e enfermeiros,
entretanto, a dor é um sinal de alerta para um perigo iminente. A principal
função da dor seria a proteção do organismo. Mostrar os limites que não podem
ser transgredidos. O exemplo mais clássico citado é o da mão que encosta na “chapa
quente” e, rapidamente, é retirada devido a eficácia da via sensorial específica
para a dor: a via “nociceptiva”; “noceo” quer dizer nocivo. A dor é sempre
associada a fenômenos neurofisiológicos, que são considerados iguais para todos
os seres humanos. Já as diferenças nas experiências e descrições dolorosas
seriam explicadas por indícios psicológicos, sociais e culturais, para não
falarmos ideológicos, cantada por Marisa Monte e Arnaldo Antunes - “A dor, é minha
só, não é de mais ninguém” - presentes nas formas como se percebe e se vivencia
a trapaça na política.
Francisco
Rodrigues de Alencar Filho, reconhecido como Chico Alencar, nascido na cidade do
Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1949, é um historiador, professor e
político brasileiro, filiado ao Partido Socialismo e Liberdade. Graduado em
História na Universidade Federal Fluminense, foi professor da disciplina no
ensino fundamental e médio do Rio de Janeiro, nas redes pública e privada. É
mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas, tendo apresentado uma
dissertação sobre o movimento das Associações de Moradores do Rio de Janeiro do
qual foi um dos principais líderes no início dos anos 1980, tendo presidido a
Federação das Associações de Moradores do Estado. É membro da Comissão de
Direitos Humanos e do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, e vice-líder
do seu partido na câmara. Desde 2006, tem sido incluído na lista dos “100
parlamentares mais influentes do Congresso”, divulgada anualmente pelo Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). Em 2009, ficou em primeiro
lugar no Prêmio Congresso em Foco, como o deputado mais atuante da
Câmara. Em 2015, foi, pela sexta vez
consecutiva, eleito pelos jornalistas que cobrem o Congresso Nacional o melhor
deputado do país, obtendo os votos de 110 dos 186 profissionais de imprensa que
participaram da votação do Prêmio Congresso em Foco.
Em
17 de abril de 2016, Chico Alencar votou contra a abertura do processo de
impeachment de Dilma Rousseff. Na Câmara dos Deputados, tem atuação nas áreas
da educação, da saúde, da reforma agrária, do combate à corrupção, da gestão
ambiental, da dívida pública, da habitação popular, entre outras. É um dos
deputados de maior expressão, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de
Assessoria Parlamentar. A história social deste político teve início nos
anos 1960, quando se tornou líder comunitário, estudantil e militante do
movimento sindical. Foi criado na Tijuca, Zona Norte do Rio. Hoje mora em Santa
Teresa, centro do Rio. Começou atuando nas pastorais da Igreja Católica, um
celeiro de quadros políticos do Partido dos Trabalhadores. Iniciou sua
militância política no movimento estudantil secundarista e na Juventude
Estudantil Católica e, posteriormente, em associações de bairro do Rio de
Janeiro. Ligado à Teologia da Libertação e à esquerda católica, foi fundador e
presidente da Associação de Moradores do bairro da Praça Sáenz Peña e
também da Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janeiro.
Extinto o pluripartidarismo, optou pelo Movimento Democrático Brasileiro, e
filiado ao Partido dos Trabalhadores, foi vereador no Rio de Janeiro por dois
mandatos, de 1989-1992, e de 1993-1996.
Na
Câmara de Vereadores, foi um dos líderes na luta pela moralização da casa.
Participou da elaboração da Lei Orgânica e da discussão do Plano Diretor da
Cidade, quando apresentou sugestões e emendas reivindicadas pelos movimentos
populares. Foi presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Municipal
do Rio de Janeiro. Teve aprovados mais de 30 projetos de lei, sempre voltados
para a melhoria dos serviços públicos e da qualidade de vida dos cidadãos. Em
1996, candidatou-se à prefeitura, ficando em 3º lugar, resultado considerado
surpreendente à época. Mesmo boicotado pela direção nacional petista, Chico
teve 642 mil votos, e não passou ao segundo turno por apenas 1,5%. Concorreu
nas Eleições 1998 ao cargo de Deputado Estadual, sendo 3° mais votado no estado
e eleito para a 7ª legislatura do Rio de Janeiro. Na Alerj, foi presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Cidadania e vice-presidente da Comissão de
Educação. Em 2003, assumiu o primeiro
mandato como deputado federal pelo PT, tendo sido o mais votado dentre os
candidatos do partido com 169.131 votos, representando estatisticamente 2,09%
do total de votos válidos. Chico de Alencar é eleito para a Câmara dos
deputados federais em 2002 e vê seu candidato a presidente, Lula, vencer o
tucanato nas urnas e assumir o governo do país. A eleição de Lula, é marcada na história brasileira de um ex-operário ao posto mais
importante do país.
Chico de alencar se destacou durante o Governo Lula no enfrentamento à política econômica
herdada de Fernando Henrique Cardoso e aprofundada pelo Partido dos Trabalhadores.
Com a continuidade das políticas econômicas do Governo do Fernando Henrique
Cardoso e com as denúncias de corrupção, adveio uma crise política que
ocasionou a cisão do Partido dos Trabalhadores em Partido Socialismo e
Liberdade (PSOL) em 2004. Por não concordarem com o rumo político do Partido
dos Trabalhadores, petistas históricos desligaram-se individual ou
coletivamente do partido, ou mesmo foram expulsos, como Heloísa Helena, Babá,
João Fontes e Luciana Genro. Naquele primeiro momento, Chico optou por disputar
o comando do partido a romper com ele e juntamente com o veterano Plínio de
Arruda Sampaio disputou o 1º turno do Processo de Eleições Diretas (PED) que
elegeu um novo Diretório Nacional. Na ocasião Plínio foi candidato a presidente
nacional do Partido dos Trabalhadores encabeçando a chapa “Esperança Militante”,
quando conquistou 13,4% dos votos dos filiados e alcançou a 4ª colocação.
Porém, Plínio perdeu a eleição para Ricardo Berzoini. Chico e outros ativistas,
sindicais, estudantis, populares e católicos militantes da Teologia da
Libertação romperam com o PT e migraram para o PSOL. Segundo Chico, não era ele
quem saíra do PT, mas “o PT que saíra de si mesmo”.
No
ano transcorrer do ano de 2005, Chico Alencar, juntamente com alguns outros coletivos
e militantes, opta por romper com o PT e filiar-se ao PSOL. Sua saída do
partido se deu também em virtude da crise política causada pelas denúncias de
um esquema de pagamento a congressistas para votarem de acordo com os
interesses do executivo, o chamado escândalo do mensalão. Foi causado também
pelas mudanças ideológicas do PT que abandonou o socialismo como meta
estratégica. Sua saída se deu em conjunto com outros dirigentes como o veterano
Plínio de Arruda Sampaio, os deputados federais Chico Alencar e Maninha, e a
dirigente sindical Lujan Miranda. Nesta eleição ele apoia e conta com o apoio
de Heloisa Helena, à presidência da República. Sua reeleição como deputado
federal, em 2006, já foi objetivamente por seu novo partido, o PSOL. Chico Alencar
integra a Comissão de Direitos Humanos e o Conselho de Ética da Câmara dos
Deputados. Nas Eleições para prefeito de 2008, Chico novamente foi candidato à
prefeitura do Rio. Desta vez por seu novo partido, o PSOL. Dispôs de 54
segundos no rádio e TV e obteve 59.362 votos, (1,81% do total) e ajudou a
eleger o vereador Eliomar Coelho, com 15.703 votos. Ficou em sétimo lugar na
disputa pela prefeitura do Rio.
Em
2010, foi eleito para exercer o seu terceiro mandato como deputado federal. O
segundo mais votado do Estado do Rio de Janeiro. Jean Wyllys também foi eleito
deputado pelo Rio, ajudado pelos 240 mil votos de Chico Alencar. O partido de
Chico Alencar, o PSOL, teve um bom desempenho nas eleições municipais do Rio de
Janeiro de 2012, com a candidatura do deputado Marcelo Freixo. Chico estava em
campanha por seu candidato, mas em meio ao pleito municipal, teve que se
submeter a uma cirurgia cardíaca, o que não lhe impediu de estar em um comício
da chamada “Primavera carioca”, em dia de chuva nos Arcos da Lapa. Freixo teve
o melhor desempenho eleitoral de seu partido em todo o Brasil e quase foi ao
segundo turno contra o reeleito prefeito Eduardo Paes, do PMDB. No mesmo ano,
em Itaocara, município do Noroeste Fluminense, o PSOL conseguiu eleger o
primeiro prefeito da história da legenda: Gelsimar Gonzaga, um ex-cortador de
cana de 48 anos que virou dirigente sindical nos anos 1980 e ajudou na fundação
tanto do PT quanto de seu dissidente PSOL em 2005. Ele recebeu 6,7 mil votos, o
equivalente a 44,26% do eleitorado itaocarense. Tanto como deputado estadual,
na Alerj, quanto federal, na Câmara, Chico integrou as Comissões de Direitos
Humanos dessas instituições. Em 2013, uma indicação do governo federal em
acordo com sua base aliada, levou a presidência da Comissão o pastor reacionário
Marco Feliciano (PSC-SP), declaradamente homofóbico. Chico de Alencar e demais membros
psolistas reagem à escolha e passam a pressionar o governo articulando-se para
desfazer a indicação. Após protestos dos deputados do Partido dos Trabalhadores e PSOL integrantes da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o indicado pelo PSC Pastor Marco Feliciano (SP), acusado de homofobia e racismo, foi eleito com 11 dos 12 votos dos deputados presentes, um a mais do que o mínimo necessário para ser eleito. Um dos votos foi em branco. A eleição do pastor foi possível porque, durante as negociações do Congresso, o PMDB, PSDB e PT cederam suas vagas na comissão para o PSC.
Além disso, a maioria dos deputados
titulares da comissão são evangélicos que apoiam o pastor. Chico também
protestou, numa eleição de Feliciano que ocorreu em meio a debates acalorados
entre deputados evangélicos e os defensores dos direitos dos homossexuais e
negros. Ainda no ano de 2013, participou do protesto contra o aumento da
passagem de ônibus no centro do Rio de Janeiro, as chamadas Manifestações no
Brasil em 2013. Em 2014, foi o deputado mais votado com 195 mil votos entre os
que menos gastaram dinheiro público na campanha política, com R$ 144 mil,
exclusivamente doações de pessoas físicas, quando comparado por exemplo com o
então presidente da câmara, deputado Eduardo Cunha, que gastou R$ 3,6 milhões de
doações de empresas e teve 230 mil votos. Chico discursa em campanha de Marcelo
Freixo à prefeitura do Rio de Janeiro em 2016 e se consolida mais uma vez em
torno da candidatura de Freixo. Em votação simbólica, o candidato do PSOL
oficializou sua candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro em 15 de dezembro de
2015, em convenção da qual participaram vários simpatizantes. O PSOL quis
evitar as primárias fazendo a decisão da escolha por um consenso. As
movimentações pré-campanha também se viam num contexto de crise política
envolvendo atrasos nos pagamentos de servidores estaduais do Rio de janeiro e
sobre um pedido de impeachment do segundo mandato da presidente Dilma
Rousseff.
Em 2016, foi um dos 167 deputados que votaram: Não, pelo impeachment
da presidenta eleita Dilma Roussef. Toda bancada do PSOL fechou questão democraticamente contra
o processo de impedimento. Dos 46 deputados fluminenses, 11 votaram como Chico de Alencar, ou seja,
contra o impeachment. Os
que escreveram sobre as relações entre a psicanálise e a política limitaram-se
geralmente às formulações isoladas de Freud ou às suas incursões nas áreas da
filosofia da história, da sociedade e da
antropologia, como “Mal-estar na Civilização”, “O Futuro de uma Ilusão”,
“Moises e o Monoteísmo”. Os psicanalistas têm demonstrado certa descontinuidade
em refletir a respeito. Uma exceção refere-se ao greco-francês Cornelius
Castoriadis, filósofo e psicanalista, ao examinar essas relações entre a
política e a psicanálise sem nenhum preconceito e com muita liberdade. Ele não
ignorou obras importantes como “Totem e Tabu” nem as inúmeras formulações de
Freud sobre a co-presença do individual e do social na análise, sem que uma
face se subordine à outra. Enfim, Castoriadis admite que é impossível fazer
filosofia sem uma ontologia, isto é, sem
uma interrogação sobre o ser, mas, ao contrário do que possa pensar aquele para
quem ontologia soa como “palavra proibida”, sua reflexão é inteiramente
articulada à questão política. Não sendo, pois, uma idealização, mas um
pensamento radical sobre a possibilidade de uma sociedade na qual os homens
tenham consciência de seu poder. Por sua vez, o “imaginário radical” enquanto imaginário social aparece como corrente
do coletivo anônimo, traduzindo-se na sociedade e no que para o
social-histórico é “posição, criação e fazer ser”. Duas dimensões não
incomunicáveis nem estáticas, embora a dimensão psíquica, a todo tempo, tenha a
sua participação oculta na criação.
O
atual sistema eleitoral brasileiro é definido pela Constituição de 1988 e pelo
Código Eleitoral (lei 4.737 de 1965), além de ser regulado pelo TribunalSuperiorEleitoral no que
lhe for delegado pela lei. Na própria Constituição já são definidos três
sistemas eleitorais distintos, que são detalhados no Código Eleitoral: eleições
proporcionais para a Câmara dos Deputados, espelhado nos legislativos das
esferas estadual e municipal, eleições majoritárias com um ou dois eleitos para
o Senado Federal e eleições majoritárias em dois turnos para presidente e
demais chefes do executivo nas outras esferas. A Constituição define ainda no
artigo XIV o “sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos”, princípio que pauta os três sistemas eleitorais presentes no país.
Esse sistema serve de incentivo para outras formas eleitorais e se propaga em
vários segmentos. As chapas eleitorais são combinações realizadas entre
candidatos de dois ou mais partidos que se afinam em suas ideias. É comum que
as chapas contenham candidatos que comungam dos mesmos ideais, mas raras às
vezes, chapas são compostas por inimigos políticos de longas datas, que deixam
de lado seus ideais, para formar alianças na intenção de derrotar opositores.
O
vice-presidente é eleito junto do Presidente, para um mandato de 4 anos com
direito a apenas uma reeleição. A sua posse ocorre no dia 1º de janeiro do ano
subsequente à sua eleição, como ocorreu nas últimas eleições com a chapa Dilma
(PT)-Temer (PMDB). O cargo foi oficialmente criado pela Constituição de 1891,
tendo sido extinto nas Constituições de 1934 e 1937, restabelecidos pela
Constituição de 1946 e mantido nas Constituições de 1967 e 1988. Dois
vice-presidentes, Delfim Moreira e José Sarney, assumiram os cargos já na
condição de presidentes em exercício (ou interinos), em virtude de enfermidade
dos titulares, Rodrigues Alves e Tancredo Neves, respectivamente, mas acabaram
por se tornar presidentes por sucessão devido ao falecimento dos titulares. No
caso de Delfim Moreira, como ainda não haviam decorridos dois anos do mandato
presidencial iniciado em 15 de novembro de 1918, a Constituição de 1891 “pregava
que nova eleição para presidente deveria ser realizada”. Assim, após a eleição
e posse de Epitácio Pessoa, Delfim Moreira voltou a ocupar a Vice-Presidência
até sua morte, em 1 de julho de 1920. Somente Delfim Moreira e João Goulart
foram vice-presidentes de dois presidentes diferentes, mas apenas João Goulart exerceu
o cargo ambas as vezes. Oito dos 37 presidentes que o Brasil teve ao longo de
sua história republicana foram vice-presidentes que assumiram o cargo: Floriano Peixoto,
Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart, José Sarney, Itamar Franco
e Michel Temer, este, através do golpe de Estado de 17 de abril de 2016.
Em
dezembro de 2014, as contas de campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer foram
aprovadas com ressalvas, por unanimidade, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, o processo foi
reaberto após o PSDB apontar irregularidades nas prestações de contas
apresentadas por Dilma, que teria recebido recursos do esquema de corrupção investigado
na Operação Lava Jato. O processo é resultado da unificação de quatro ações
movidas pelo PSDB contra a eleição da chapa formada por Dilma Rousseff e seu
vice, Michel Temer. Os tucanos acusam a campanha vencedora de ilegalidades e
pedem a anulação do pleito de 2014. Tanto Dilma Rousseff quanto M. Temer
apresentaram defesa ao TSE. A campanha de Dilma Rousseff nega qualquer
irregularidade e sustenta que todo o processo de contratação das empresas e de
distribuição dos produtos foi documentado e monitorado. A defesa do vice-presidente
afirma que a campanha eleitoral do PMDB “não tem relação com os pagamentos
suspeitos”. Conforme os advogados, não há irregularidade no pagamento dos
serviços. Na ação, apresentada à Justiça Eleitoral em dezembro de 2014, o Partido da Social Democracia Brasileira pede que, caso a chapa seja cassada, o Tribunal Superior Eleitoral emposse como presidente e vice os
senadores tucanos Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), ministro das
Relações Exteriores, derrotados na eleição.
O
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julga o processo de cassação da chapa
Dilma-Temer que elegeram Dilma Rousseff (PT) e Michel Miguel Elias Temer Lulia (PMDB)
nas eleições presidenciais de 2014, é formado por sete ministros: são três
magistrados do SupremoTribunalFederal (STF): Gilmar Mendes, Rosa Weber e Luiz Fux; dois do STJ (Superior Tribunal de Justiça): Herman
Benjamin e Napoleão Nunes; e dois membros da classe dos advogados: Admar
Gonzaga e Tarcísio Neto, recentemente indicados pelo Planalto. A ordem de
votação: 1° votante: ministro relator (mais antigo do STJ) - Herman Benjamin; 2°
votante: ministro mais novo do STJ - Napoleão Maia; 3° votante: ministro mais
antigo dos advogados - Admar Gonzaga; 4° votante: ministro mais novo dos
advogados - Tarcísio Vieira; 5° votante: ministro mais antigo do STF - Rosa
Weber; 6° votante: ministro mais novo do STF - Luiz Fux; 7° votante: presidente
do TSE - Gilmar Mendes. Relator do processo. Ocupa uma das vagas destinadas ao
STJ, para o qual foi indicado ministro em 2006, pelo ex-presidente Lula, que o
escolheu em uma lista feita por seus pares. O voto: “A verdade é que a
consideração das provas em conjunto torna incontestável a ocorrência de tais
ilícitos”, diz Benjamin. – “Meu voto é, no sentido, da cassação da chapa
presidencial eleita em 2014 pelos abusos que foram apurados nestes processos”.
E conclui que a chapa é única. Portanto, Dilma Rousseff e Michel Temer não podem ser
punidos separadamente.
O
Tribunal Superior Eleitoral absolveu nesta sexta-feira (9/06/2017), por 4
votos a 3, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice-presidente Michel Temer
(PMDB)da acusação de abuso de poder político e econômico na campanha de 2014. A
maioria dos ministros considerou que não houve lesão ao equilíbrio da disputa
e, com isso, livrou Michel Temer da perda do atual mandato e Dilma Rousseff da
inegibilidade por 8 anos. O voto de curinga
que desempatou o julgamento foi o do ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE,
o último a se manifestar. A ação julgada pelo TSE foi apresentada pelo PSDB
após a eleição de 2014 e apontava mais de 20 infrações supostamente cometidas
pela coligação “Com a Força do Povo”, encabeçada por PT e PMDB. A principal era
a suspeita de que empreiteiras fizeram doações oficiais com o pagamento de
propina por contratos obtidos na Petrobras, além de desvio de dinheiro pago a
gráficas pela não prestação dos serviços contratados. Além da perda do mandato
e da inegibilidade de Dilma e Temer, o PSDB reivindicava na ação que os
candidatos derrotados Aécio Neves e Aloysio Nunes fossem empossados presidente
e vice. O julgamento da chapa, que começou em abril deste ano, foi retomado
nesta semana com os votos do relator, Herman Benjamin, e dos demais ministros
da Corte.
Também
se manifestaram os advogados das partes (defesa e acusação) e o Ministério
Público Eleitoral. Durante o voto, que durou quase 14 horas ao longo de quatro
dias, o ministro insistiu que limitou a investigação às suspeitas levantadas
pelo PSDB na ação inicial, inclusive ao tomar depoimentos de executivos da
Odebrecht que fizeram delação premiada. Argumentou ainda que, como juiz
eleitoral, tinha poderes para ir além, mas não usou dessa prerrogativa. O
placar favorável a Temer e Dilma só foi confirmado no voto do presidente do Tribunal
Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, a quem coube “desempatar” o julgamento. No
voto, o ministro disse que cassação de mandato só deve ocorrer em “situações
inequívocas” e que o tribunal não existe para resolver crise política,
argumentando em favor da “estabilidade”. - “Não se substitui um presidente da
República a toda hora. A Constituição valoriza a soberania popular, a despeito
dos valores das nossas decisões. Mas é muito relevante. A cassação de mandato
deve ocorrer em situações inequívocas”, afirmou. O ministro disse que os fatos
apurados no processo poderiam contaminar disputas realizadas desde 2006, que
elegeram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e depois deu a Dilma seu
primeiro mandato. O ministro disse que defendeu para isso uma reforma no
sistema político.
Durante
toda a sessão, o Relator respondeu aos questionamentos das defesas apresentados
na noite anterior. O principal deles estava relacionado aos depoimentos de
delatores da Odebrecht e dos “marqueteiros” do Partido dos Trabalhadores – PT,
João Santana e Mônica Moura. As defesas de Dilma Rousseff e Michel Temer haviam
alegado que esses depoimentos não podem ser considerados pelo tribunal porque,
segundo eles, não fariam parte do pedido inicial feito pelo PSDB – Partido da
Social Democracia Brasileira, ou seja, por serem informações obtidas após a apresentação
da ação. Seriam fatos novos, como a defesa classificou, e isso seria vedado
pela legislação. Herman Benjamin usou dois argumentos principais para rejeitar
estes questionamentos. Primeiro, destacou que o artigo 23 da Lei das
Inelegibilidades autoriza a avaliação de quaisquer fatos que tenham relação com
o processo e que isso está previsto também no Código de Processo Civil, além de
ter sido garantido em decisão do STF.
O
ministro Benjamin ainda analisou a compra do apoio de partidos da base aliada
com o objetivo de aumentar o tempo de horário eleitoral gratuito na TV. Ele
afirma que “não é possível apontar incongruências” nos depoimentos que constam
nos autos sobre o assunto. O relator também abordou valores ilícitos nos gastos
da chapa vitoriosa. O conjunto de provas quanto aos gastos da chapa é extenso,
afirma Benjamin, e apontam despesas irregulares, sem comprovantes idôneos. Ele
afirmou que a terceirização de serviços de campanha é normal, mas que, no caso,
as terceirizadas não tinham condição de entregar o serviço terceirizado, e que
empresas usaram “laranjas”. Ele citou as empresas Focal, VTPB e Rede Seg. Benjamin
cita três “limitadores” da sua análise e do seu voto: o desvio do rol dos
gastos permitidos, a responsabilidade do comitê de campanha dos desvios
ocorridos e a relevância do montante desviado. Segundo ele, “a prova dos autos
é vasta no sentido de que muitos dos recursos recebidos da campanha foram
desviados para pessoas físicas e jurídicas sem qualquer causa jurídica para
tanto”. Por isso, afirma que há provas de desvios de finalidade de recursos.
O
Relator, ministro Herman Benjamin, afirma que, mesmo sem nenhum ilícito
individualmente muito grave, a multiplicidade dos crimes menores, pelo
“conjunto da obra”, justificaria a cassação de mandato. Benjamin afirma que os
crimes, em conjunto, tornam incontestável a ocorrência de “tais vícios”.
Contudo, o ministro votou pela absolvição da chapa formada em 2014 por Dilma
Rousseff e Michel Temer. Ele não considerou provada a imputação de abuso de
poder político e econômico na disputa presidencial. Ele criticou a inclusão de
depoimentos de ex-executivos da Odebrecht fizeram em delação premiada. Citando
várias decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também integra, o
ministro disse que o juiz eleitoral não pode ampliar a causa do que foi pedido
na ação. - “Esse princípio é uma das garantias processuais mais relevantes, é
uma garantia da pessoa processada que a decisão do juiz fica dentro que foi
pedido contra ele, porque é contra o que foi pedido [em] que a pessoa se
defende”.
O presidente do TribunalSuperiorEleitoral (TSE) votou pela absolvição da chapa. Gilmar Mendes
defendeu o respeito à soberania popular. - “Não se substitui um presidente da
República a toda hora. A Constituição valoriza a soberania popular, a despeito
dos valores das nossas decisões. Mas é muito relevante. A cassação de mandato
deve ocorrer em situações inequívocas”, afirmou. Segundo Mendes, pelos fatos
descritos pelo relator Herman Benjamin, seria preciso analisar as contas de
políticos desde 2006. - “Talvez devemos voltar, pelo menos, até 2006. Isso
contaminaria todos os fatos do governo Lula, do governo Dilma 1 e do governo
Dilma 2, enquanto ele durou. É disso que estamos falando, é esse o objeto da discussão,
não estamos falando aqui de uma reintegração de posse”. Para ele, é preferível
“pagar o preço de um governo ruim e mal escolhido do que uma instabilidade no
sistema”. A ruptura com o passado consubstancia-se através do permanente
diálogo do passado com os seres humanos, numa relação de simbolização - no
sentido de ressignificação de determinado(s) ato(s) do ser humano no âmbito da
consciência coletiva, através da compreensão da complexidade da natureza
humana, a fim de dotá-lo(s) de novo significado para o futuro –, afastando-se,
assim, de um maniqueísmo ingênuo.
A
partir do momento que se compreende os motivos pelo qual determinado fato político
traumatizante aconteceu, deixa-se de imputá-los a uma suposta falta de
humanidade de seus executores ou qualquer outro fator social que os distingam ontologicamente de si próprio, ou seja,
há um aprendizado da natureza humana em toda sua complexidade inerente e
agravada pela existência de determinados tempos sombrios, marcadamente o dia 17
de abril na história política nacional. Esse processo político-ideológico exige uma suficiente
reiteração de procedimentos que estabeleçam o diálogo com o passado e seus
erros; outrossim, um sentido mais profundo do que a mera punição de um
indivíduo: a compreensão do passado para, finalmente, aceitar o presente e
realizar uma ruptura de suas premissas para o futuro. Não é esta a ideia
refletida pelo prócer que, não deveria como juiz externar um preconceito
perverso contra a classe trabalhadora neste teatro de operações representado
pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Bibliografia
geral consultada.
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Ocupação Quilombo das Guerreiras. Dissertação de Mestrado. Programa de
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Faculdade de Educação da Baixada Fluminense. Duque de Caxias: Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, 2017; entre outros.
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