domingo, 18 de junho de 2017

Maracatu - Cultura, Linguagem & Aspectos de Devoção Territorial.

                                                                                    Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

           “Compreender uma linguagem é dominar uma técnica”. Ludwig Wittgenstein

                       
O Maracatu historicamente está relacionado ao mercado dos escravos africanos em Portugal no fim da Idade Média. Ao entrarem em contato com a religião católica, os africanos fizeram associações entre os santos católicos e as divindades africanas. Uma delas foi a de Nossa Senhora do Rosário. A imagem da Santa tem, ao redor do pescoço, um colar de rosas (rosário), similar ao colar de Ifá, orixá que previa o futuro. Assim, os escravos que chegaram à Europa no século XV passaram a ser devotos de Nossa Senhora do Rosário. Com isso foi criada a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Oriundo das coroações de Reis do Congo, ocorridas a partir do século XVIII nas igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos espalhadas por Fortaleza e cidades interioranas como Sobral, Icó, Aracati e Crato. Em primeiro lugar devemos considerar que a sociologia nascida da colonização européia é cultus e culturus. Esta ilusão secularizada que cria a dependência em relação ao outro ensinou-nos a descentrar nosso olhar. Portanto, pouco importa que sejamos de certo beneficiários, dentro ou fora da Academia, pois estamos longe, cada qual a seu modo, de dominar todos os aspectos dessas novas civilizações e culturas.
Pois os registros dos Autos dos Reis de Congos na cidade datam do final do século XIX e já em 1730 os negros fundaram a Igreja do Rosário em Fortaleza, com a presença da irmandade do rosário, e consequentemente a coroação dos reis.  Esse ritual de coroação teria dado origem a vários autos e danças, incorporados ao folclore brasileiro originalmente desde o século XVII. Entre eles, o “Auto dos Reis de Congo”, o Congado e o Maracatu. De fato, o maracatu assemelha-se com o ritual, pois desenvolve um cortejo etnográfico com música para a coroação da rainha negra. O ritmo do maracatu cearense é apresentado por um grupo de percussão no qual se incluem caixas, utilizadas sem esteira para acentuar a batida grave, surdos, bumbos, ganzás, chocalhos e triângulos, também chamados de ferros, artesanalmente confeccionados com molas de transporte pesado, o que lhes confere um timbre característico e sonoridade acentuada, destacando-se dos demais instrumentos. O “macumbeiro” ou tirador de loas é quem canta as toadas, nas quais são geralmente enfocados temas ligados à cultura, à religião e à história comparativa da África e do Brasil. O Maracatu é a mais tradicional dança dramática de origem afrodescendente presente na cultura do povo cearense, etnograficamente configurando-se essencialmente através de um cortejo formado por baliza, porta-estandarte, índios brasileiros e nativos africanos, negras e baianas, negra da calunga, negra do incenso, balaieiro, casal de pretos velhos, pajens, tiradores de loas e batuqueiros, em reverência à rainha negra e sua corte real.




O Maracatu Rural, folguedo também conhecido por maracatu de baque solto, maracatu de orquestra, maracatu de trombone ou maracatu de baque singelo, ocorre durante as comemorações do Carnaval e da Páscoa. É composto por dança, música, poesia e está associado ao ciclo canavieiro, especialmente da Zona da Mata Norte de Pernambuco. A manifestação é revelada em gestos, performances, nos pantins de caboclos e dos arreiamás, na dança das baianas, nas loas dos mestres, nas indumentárias vestidas pelos folgazões. Diferente da Nação, o Maracatu Rural representa um resultado da fusão de expressões populares, como cambindas, bumba-meu-boi e cavalo marinho e coroação dos reis negros. O Cavalo-Marinho é uma brincadeira popular que envolve performances dramáticas, musicais e coreográficas apresentadas durante o ciclo natalino. Seus “brincadores” são, em geral, trabalhadores da zona rural, mas também ecoa no Grande Recife e em João Pessoa (PB), além de vários outros territórios do País. Durante a encenação ocorrem danças com personagens mascarados e bichos, como o boi e o cavalo, que dá nome à brincadeira. Contém ainda louvação ao Divino santo Rei do Oriente e possui momentos em que há culto à Jurema Sagrada. O Cavalo-Marinho se realiza num terreiro de chão plano e, geralmente, no ar livre e reúne ainda um grande número de elementos artísticos e culturais historicamente constitutivos na memória individual e coletiva, como mestres e os elementos da vivência do trabalho rural.
Os cortejos de maracatu são uma tentativa de refletir e preservar no âmbito da memória as antigas cortes africanas, que ao serem conquistados e vendidos como escravos trouxeram suas raízes e mantiveram seus títulos de nobreza, para o Brasil. O cortejo é composto por uma bandeira ou estandarte abrindo as alas. Logo atrás, segue a dama do paço, que carrega a mística calunga, representando todas as entidades espirituais do grupo. Atrás dela, seguem as Yabás, popularmente chamadas de baianas e, pouco depois, a corte e o rei e a rainha dos maracatus. Os títulos de rei e rainha são passados de forma hereditária. Essa ala representa a nobreza da Nação. De cada lado seguem as escravas ou “catirinas”, normalmente jovens, que usam vestimentas de chitão. Mantendo o ritmo do desfile, seguem os batuqueiros. Os instrumentos são: alfaias, que são tambores, caixas ou taróis, ganzás e abês, esses conduzidos por mulheres que vão à frente desse grupo e que fazem do seu toque, um show a parte.        
  A têmpera é a mistura usada em pintura, constituída de gema e clara de ovo, água e pigmentos em pó. Também é obtida misturando-se ingredientes oleosos com uma solução de água e cola como ocorre no carnaval. O artista pinta sobre um painel revestido de cola e gesso. Quando a têmpera é corretamente aplicada (fortuna), distribuída em finas camadas, não fica transparente, nem completamente opaca (virtù). A têmpera foi aperfeiçoada na Idade Média e utilizada nos quadros de cavalete, do séc. XIII até o séc. XV. O que tem a dizer sobre ele é verdadeiro, ainda que descreva dialeticamente apenas um aspecto do fenômeno da personalidade histórica mundial. Na política em sua representação demoníaca aparece analiticamente como sinônimo de têmpera tem-se: a austeridade, o caráter, a consistência, o feitio, a índole, a rijeza e o temperamento, o que reitera na Itália a figuração de Maquiavel. Há pouca documentação sobre a história do maracatu antes da década de 1950. 

Os primeiros registros de maracatu em Fortaleza datam do início do século XX, quando Gustavo Barroso descreve, em “Coração de menino”, os desfiles que ocorriam na Praça do Carmo, então Praça do Livramento. Segundo Calé Alencar, fundador do Maracatu Nação Fortaleza e pesquisador do Maracatu no Ceará, a origem do Maracatu em Fortaleza provavelmente seja mais antiga. O legado do maracatu para a música cearense se estabelece com o surgimento do Ceará como unidade administrativa com 14 municípios, após separação de Pernambuco, quando ocorre a aparente visibilidade da existência de inúmeras comunidades negras e quilombolas urbanos e rurais espalhados por boa parte do território cearense. Bernardo Manuel de Vasconcelos foi nomeado o primeiro governador pelo início da urbanização de Fortaleza quando existiam os quilombolas de Goiabeiras, Lagoa do Ramo, Catolé dos Pereira, Pereiral e Cinzenta. Em Tauá, Tururu, Crateús, Itapipoca, Tamboril, Umari, Parambu, Iracema entre outros, é notado a grande presença negra nessas vilas. Segundo alguns historiadores e antropólogos, cerca de 10 milhões de escravos entraram na América no período de 1502 a 1870. Ao longo desses séculos se formou uma grande miscigenação entre europeus, principalmente portugueses, negros e índios. Poucos países do mundo contemporâneo passaram por uma miscigenação tão intensa e violenta quanto o Brasil.               
O continente africano tornou-se durante mais de três séculos, o grande celeiro de mão de obra escrava para a acumulação capitalista europeia e para os proprietários rurais e de minas na América do Norte. Milhões de negros africanos foram trazidos para a América ao longo de séculos de migrações forçadas, eram embarcados geralmente em Angola, Moçambique e Guiné e desembarcados no Recife, Salvador e Rio de Janeiro. As pessoas de ascendência africana são reconhecidas na Declaração e no Programa de Ação de Durban como “um grupo de vítimas específicas que continuam sofrendo discriminação, como legado histórico do comércio transatlântico de escravos”. Mesmo afrodescendentes que não são descendentes diretos dos escravos enfrentam o racismo e a discriminação que ainda hoje persistem. Em dezembro de 2013 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adotou, por consenso, uma resolução que cria a chamada década internacional de afrodescendentes, denominada politicamente: “Pessoas Afrodescendentes: Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento”. A década está sendo celebrada de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2024, com o objetivo de reforçar o combate ideológico ao preconceito, intolerância, a xenofobia e ao racismo.
O antropólogo Darcy Ribeiro considerava o contingente negro e mulato “o mais brasileiro dos componentes do nosso povo” uma vez que, desafricanizado pela escravidão e não sendo indígena nem branco reinol, só restava a ele assumir uma identidade plenamente brasileira. Isto não quer dizer que negros e mulatos tenham se integrado à sociedade brasileira sem serem estigmatizados. Muito pelo contrário, muitos brasileiros desenvolveram vergonha das suas origens negras, seja pelo fato de que descender de escravos remete a um passado de humilhações e sofrimentos que deveria ser esquecido ou pelos estereótipos negativos que foram construídos em torno da negritude, associando-a a mazelas sociais como a pobreza e a criminalidade. Portanto, assumir-se negro no Brasil sempre foi muito difícil, por todo o conteúdo ideológico anti-negro que historicamente se desenvolveu no país, onde ainda hoje impera a “ideologia do branqueamento” e um padrão branco-europeu estético e cultural. Portanto, no Brasil, apenas as pessoas de pele preta retinta são consideradas negras, sendo que o mulato já é pardo e, portanto “meio-branco”, uma vez que, diante da massa de negros afundados na miséria, mediante o preconceito urbano, com eles não queria se confundir.
            Antropologicamente escrevi estas “Confissões” (1997), urgido por duas lanças. Meu “medo-pânico” de morrer antes de dizer a que vim. Meu medo ainda maior de que sobreviessem as dores terminais e as drogas heroicas trazendo com elas as bobeiras do barato. Bobo não sabe de nada. Não se lembra de nada. Tinha que escrever ligeiro, ao correr da pena. Hoje, o medo é menor, e a aflição também. Melhorei. Vou durar mais do que pensava. Se nada de irremediável suceder, terei tempo para revisões. Não ouso pensar que me reste vida para escrever mais um livro. Nem preciso, já escrevi livros demais. Mas admito que tirar mais suco de mim nesta porta terminal é o que quisera. Impossível? Este livro meu, ao contrário dos outros todos, cheios de datas e precisões, é um mero reconto espontâneo, “como me vem à cabeça, o que me sucedeu pela vida afora, desde o começo, sob o olhar de Fininha, até agora, sozinho neste mundo”. - “Muito relato será, talvez, equivocado em alguma coisa”. Acho melhor que seja assim, para que meu retrato do que fui e sou saia tal como me lembro. Neguei-me, por isso, a castigar o texto com revisões críticas e pesquisas. Isso é tarefa de biógrafo. Se eu tiver algum, ele que se vire, sem me querer mal por isso. Quero muito que estas minhas Confissões comovam. Para isso as escrevi, dia a dia, recordando meus dias. Sem que minhas “Confissões” comovam (...). Sem nada tirar por vexame ou mesquinhez nem nada acrescentar por tolo orgulho. Termino esta minha vida exausta de viver, mas querendo mais vida, mais amor, mais saber, mais travessuras. A você que fica aí, inútil, vivendo vida insossa, só digo: Coragem! Mais vale errar, se arrebentando, do que poupar-se para nada (...). Depois, seremos matéria cósmica, sem memórias de virtudes ou de gozos. Apagados, minerais. Para sempre mortos”.                 
Nos registros mais antigos, os desfiles de maracatu em Fortaleza ocorriam nas festas do ciclo natalino, nas festas da Nossa Senhora do Rosário e de Corpus Christi, onde não eram bem aceitos. Á partir de 1937, com o desfile de estreia do maracatu “Az de Ouro”, criado por Raimundo Alves Feitosa, conhecido como Raimundo Boca-aberta, em 1936, o maracatu cearense passou a assumir a formação de um bloco carnavalesco e a desfilar durante os carnavais, como ocorre até hoje. Além de ter criado o maracatu “Az de Ouro”, e ter adaptado o maracatu para os desfiles carnavalescos, Raimundo Boca-aberta foi um dos maiores compositores de loas de que se tem notícia e um compositor dos mais notáveis. O ritmo do maracatu cearense nas primeiras décadas do século XX, como se pode escutar nos registros de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo (incluindo gravações de Raimundo boca-aberta), é semelhante ao coco, com influência da umbanda (cf. Pordeus Jr., 1997). Os instrumentos utilizados eram: caixa (sem esteira), ganzá, gonguê, tambor-onça e ferro. Na década de 1950, por influência do Maracatu Az de Espada, o maracatu cearense toma um novo estilo, inspirado no Auto dos Congos. O novo ritmo, cadenciado e dolente, com um gingado majestoso e solene.         
O maracatu Vozes da África surgiu em 20 de novembro de 1980, por ocasião das comemorações do dia da Consciência Negra. Entraram na cena do Carnaval de rua, em 1981. O nome é uma alusão ao poema de Castro Alves, poeta baiano de meados do século XIX (1847-1871), que se celebrizou pelos poemas: O Navio Negreiro e Vozes da África, em defesa do povo africano, afetado pelo tráfico escravo. A sua primeira diretoria teve uma composição heterogênea, na perspectiva de expressar o compromisso com as questões do movimento negro organizado no Ceará, quanto em “inovar” na estética visual e rítmica, através da junção de vários artistas. Compunha a diretoria, além do jornalista e professor Paulo Tadeu, José Maria de Paula Almeida, que se tornou a rainha, o figurinista Isidoro dos Santos, Afrânio Rangel e Haroldo Rangel, compositores de loas, Luiz Alencar Rangel filho, José Nilton, músico; o aderecista Valmir Balaio, o artista plástico e ator Ivany Gomes, além de vários outros artistas e educadores. Desde a sua fundação/criação, o grupo teve as seguintes denominações: Maracatu Vozes D´África, Grupo Afro- Brasileiro Maracatu Vozes D´África, assumindo hoje, por razões jurídicas Associação Cultural Maracatu Vozes da África. A caminho de vivência de seus 30 anos de atividades, o maracatu Vozes da África realizou em torno de (01) mil apresentações públicas, procurando demonstrar, prática e notadamente, os aspectos pluralistas e didáticos da cultura Afro-Brasileira.  
Sociologicamente, a partir da década de 1950 surgiram outros grupos étnicos como os reconhecidos grupos “Estrela Brilhante”, “Az de Espada” e “Leão Coroado”, agremiações de grande destaque nos desfiles carnavalescos, contribuindo com a riqueza de seus cortejos para a consolidação etnohistórica do maracatu como uma das mais importantes expressões artísticas e culturais de representação da memória do povo cearense contemporâneo. A história social do carnaval em Fortaleza registra um expressivo número destes grupos étnicos, muitos deles já extintos, talvez pela falta de patrocínio estatal, como é o caso dos maracatus: “Rancho Alegre”, “Nação Africana”, “Rei de Espada”, “Rei dos Palmares”, “Nação Uirapuru”, “Nação Gengibre”, “Nação Verdes Mares” e “Rancho de Iracema”. Atualmente participam do carnaval de rua os seguintes maracatus: “Az de Ouro”, “Rei de Paus”, fundado originalmente em 1960, como “Ás de Paus”, “Vozes da África”, fundado em 1980, “Nação Baobab”, fundado em 1995, “Rei Zumbi”, fundado em 2001, “Nação Solar”, fundado em 2001, “Nação Iracema”, fundado em 2002, “Kizomba, fundado em 2003, “Nação Fortaleza”, fundado em 2004, “Axé de Oxóssi”, fundado em 2007 e “Girassol”, fundado em 2008.
O maracatu é uma manifestação cultural presente, principalmente, na cultura pernambucana. No Brasil, há três tipos de maracatu: o maracatu de baque virado, ou maracatu nação, o maracatu de baque solto, ou maracatu rural, e o maracatu cearense. Eles se diferem basicamente em relação à estrutura, história, música e personagens recorrentes. No presente trabalho, trataremos do maracatu de baque virado, o qual, no Brasil, teve seu início em Recife (PE) e possui maior significância na cultura brasileira. No Ceará, “o povo caboclo usa uma mistura de fuligem, talco, óleo infantil e vaselina em pasta para tingir o rosto de negro”. É um ritmo musical, dança e ritual de sincretismo religioso com origem no estado brasileiro de Pernambuco. Conforme o “baque” ou batida, existem dois tipos: “baque virado” (Maracatu Nação) e “baque solto” (Maracatu Rural). O primeiro, bastante comum na área metropolitana do Recife, é o mais antigo ritmo afro-brasileiro; e o segundo é característica da cidade de Nazaré da Mata referida à Zona da Mata do Norte de Pernambuco. É caracterizado pelo uso predominante de instrumentos de percussão de origem africana. Com ritmo intenso e frenético, teve origem nas congadas, cerimônias de coroação dos reis e rainhas da Nação negra. Na percussão chama-se a atenção os grandes tambores, chamados alfaias que são tocados com talabartes, as baquetas especiais para o instrumento. Estes dão o ritmo ou o baque da música e são acompanhados pelos caixas ou taróis, ganzás e um gonguê ou agogô.

Há poucos anos houve um movimento musical de reação sociocultural em Recife que fundiu o ritmo maracatu com a influência da música eletrônica. Assim surgiu o movimento Manguebeat, analisado noutro lugar, criado pelo músico Chico Science, representando musicalmente um “maracatu atômico”.  Conforme registrado no livro “Idéias e Palavras”, existiam os maracatus do Morro do Moinho (Arraial Moura Brasil, por trás da Estação Central), do Beco da Apertada Hora (atual rua Governador Sampaio), da rua de São Cosme (atual rua Padre Mororó), do Outeiro (Aldeota antiga, atual região do Colégio Militar) e o do Manoel Furtado. O maracatu penetrou no carnaval, desfilando oficialmente com o reconhecimento de agremiação carnavalesca, em 1937, através de um convite feito pelo então Rei Momo Ponce de Leon ao Maracatu “Az de Ouro”, fundado em 1936 por Raimundo Alves Feitosa, compositor e tirador de loas também conhecido como Raimundo Boca Aberta.
A palavra “maracatu” designou um instrumento de percussão e o aprimoramento da dança em torno da coreografia ao som deste instrumento. Os cronistas portugueses chamavam aos infiéis de nação, nome que acabou sendo assumido pelo colonizado no processo civilizatório. Os próprios negros passaram a autodenominar de nações a seus agrupamentos tribais. As nações sobreviventes descendem de organizações de negros deste tipo e nos seus estandartes escrevem: Clube Carnavalesco Misto Maracatu (CCMM). Mário de Andrade, no capítulo “Maracatu” de seu livro: Danças Dramáticas Brasileiras (II) apresenta diversas possibilidades de origem e significado da palavra maracatu, entre elas uma provável origem americana: maracá = instrumento ameríndio de percussão; catu = bom, bonito em tupi; marã = guerra, confusão; marãcàtú, e depois marãcàtú descrevendo “guerra bonita”, entre nações isto é, reunindo o sentido etnográfico festivo e o conteúdo guerreiro no mesmo termo. Mario de Andrade deixa claro que enumerava os vários significados da palavra “sem a mínima pretensão a ter resolvido o problema. Simples divagação etimológica pros sabedores... divagarem mais”. Sua origem e história é incerta, mas autores ressaltam que o maracatu nasceu nos terreiros de candomblé, quando os escravos reconstituíam a coroação do reis do Congo. Com a Abolição tardia, ganhou as ruas, tornando-se um folguedo carnavalesco.
Bibliografia geral consultada.
PORDEUS JÚNIOR, Ismael de Andrade, Promethé mal encheinée, ou Exu de roi des carrefour. Tese de Doutorado em Sociologia e Ciências Sociais - Etnologia. Lyon: UNiversite Lumière Lyon 2, 1988;  ALENCAR, Calé, Origem e Evolução do Maracatu no Ceará. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2007; CARVALHO, Ernesto Ignácio, Diálogo de Negros, Monólogo de Brancos: Transformações e Apropriações Musicais do Maracatu Baque Virado. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2007; CUNHA, Maximiliano Wanderley Carneiro da, O Som dos Tambores Silenciosos: Performance e Diáspora Africana nos Maracatus Nação de Pernambuco. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2009; LIMA, Ivaldo Marciano de França, Entre Pernambuco e a África. História dos Maracatus-nação do Recife e a Espetacularização da Cultura Popular (1960-2000). Tese de Doutorado em História. Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, 2010; KOSLINSKI, Ana Beatriz Zaine, A Minha Nação é Nagô, a Vocês eu Vou Apresentar: Mito, Simbolismo e Identidade Nação do Maracatu Porto Rico. Dissertação de Mestrado.  Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2011; GARCEZ, Luiz dos Santos, Os Movimentos de Maracatu Estrela Brilhante, de Recife: Os Trabalhos de uma Nação Diferente. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2013; LIMA, Ivaldo Marciano França, Maracatu Nação e Grupos Percussivos. Diferenças, Conceitos e Histórias. In: História. Questões de Debates. Curitiba, n 61, pp. 303-328, jul./dez., 2014; Artigo: “Maracatus e Cavalo-Marinho Recebem Título de Patrimônio Cultural Imaterial”. In: http://g1.globo.com/2014/12/03; SILVA, Gilian Evaristo França, Poder e Devoção: As Irmandades Religiosas da Fronteira Oeste da América Portuguesa. Tese de Doutorado em História. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná, 2015; FERREIRA, Cleison Leite, A Geografia do Maracatu-Nação de Pernambuco: Representações Espaciais e Deslocamento de Elementos no Brasil e no Mundo. Tese de Doutorado.  Programa de Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Ciências Humanas. Departamento de Geografia. Brasília: Universidade de Brasília, Brasília, 2016; OLIVEIRA, Edivaldo Alves de, Os Territórios dos Maracatus do Povoado do Brejão Brejo Grande/SE. Dissertação de Mestrado. Curso de Geografia. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2017; entre outros. 

2 comentários:

  1. Que confusão!!
    São 3 tipos de fenômeno musical diferentes, apesar do nome.
    Muito diferentes.
    O texto confundi os 3, e maracatu NUNCA, nunca e nunca foi um instrumento!

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  2. Gloria Cunha,
    Basta você entender o significado do sincretismo religioso, para admitir que, ao entrarem em contato com a religião católica, os africanos fizeram associações entre os santos católicos e as divindades africanas.

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