sexta-feira, 2 de junho de 2017

Emílio Santiago - A Perfeição da Voz de Aquarela do Brasil

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga

Vem comigo meu amado amigo nessa noite clara de verão!”. Emilio Santiago
  
                      
        Aquarela do Brasil é uma das mais populares canções brasileiras de todos os tempos, escrita pelo compositor mineiro Ary Barroso em 1939. O samba foi gravado a primeira vez por seu parceiro Francisco Alves, e depois por diversos artistas que vão de Carmen Miranda a Frank Sinatra, passando por João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso, Tim Maia, Gal Costa, Erasmo Carlos e Elis Regina. Aquarela do Brasil foi considerada a décima segunda música maior do Brasil segundo a revista Rolling Stone Brasil e melhor canção do século XX de acordo com eleição da Rede Globo. Conforme dados de 2021, “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, era a segunda canção brasileira mais regravada de todos os tempos, de acordo com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), que é o órgão responsável por captar e distribuir valores pagos pela execução de canções em eventos e nos mais diversos tipos de mídia. A canção Aquarela do Brasil recebeu esse título porque foi composta numa noite de 1939 na qual Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte tempestade. Naquela mesma noite, também compôs “Três Lágrimas” antes que a chuva acabasse. Antes de ser gravada, Aquarela do Brasil, inicialmente chamada de “Aquarela Brasileira”, foi apresentada pelo barítono Cândido Botelho no musical Joujoux e balangandans, espetáculo beneficente patrocinado por Darcy Sarmanho Vargas (1895-1968), sendo a primeira primeira-dama brasileira a desempenhar funções sociais em virtude da preocupação afetiva com as questões assistencialistas. 
       Estudos recentes têm demonstrado cada vez com maior clareza do ponto de vista técnico-metodológico (pesquisa empírica) e científico (a questão abstrata da teoria) que, o avanço da idade não determina a deterioração da inteligência, pois ela está associada à educação, ao padrão de vida, a vitalidade física, mental e emocional. Também é preciso perder a inculcação ideológica de preconceito sobre a idade cronológica das pessoas. Vale fazer um alerta importante, talvez, só na América do Sul estima-se que no início deste novo milênio mais de 30 milhões de pessoas estarão com idade acima de 60 anos. No Brasil, apenas para fazermos menção ao Estado de São Paulo, representará quase três milhões de pessoas ou cerca de 8% dessa população. O aumento desta população tende a expandir ainda mais nas próximas décadas, o que justifica o interesse e a preocupação da sociedade e do governo em criar políticas públicas para tratar questões sociais ligadas à velhice. Trata-se de um processo individual, simultaneamente social, cultural e de evolução natural, indiscutível e inevitável sobre a morte, para qualquer ser humano, dando sentido e forma à vida. Fase em que ocorrem mudanças biológicas, fisiológicas, psicossociais, econômicas e políticas que compõe o cotidiano da vida das pessoas.

Em muitas culturas e civilizações, principalmente as orientais, o velho, o idoso é visto com respeito e veneração, representando uma fonte de experiência, de seu valioso saber acumulado ao longo dos anos, da prudência e da reflexão. Enquanto em outras, o idoso tem como representação social estigmas em torno de noções como: “o velho”, “o ultrapassado” e psicologicamente “a falência múltipla do potencial do ser humano”. No dia 17 de agosto de 1986, o jornal O Estado de São Paulo, por ocasião do falecimento de Mãe Menininha do Gantois e da grande presença de pessoas em seu sepultamento, escreveu em seu Editorial: “a importância exagerada dada a uma sacerdotisa de cultos afro-brasileiros é a evidência mais chocante de que não basta ao Brasil ser catalogado como a oitava economia do mundo, se o País ainda está preso a hábitos culturais arraigadamente tribais”. Dois pesos e duas medidas: a) o preconceito étnico e racial; b) o preconceito sobre a velhice; c) o preconceito contra o fato de ser mulher, para lembrarmo-nos de John Lennon & Yoko Ono que advertiam: Woman is the Nigger of the World, publicado em seu álbum Sometime in New York City (1972).

A canção foi originalmente gravada por Francisco Alves, com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali e sua orquestra, e lançada pela Odeon Records naquele mesmo ano. Foi também gravada por Aracy Cortes e, apesar da popularidade da cantora, a canção não fez sucesso, talvez por não ter se adequado bem à voz dela. O sucesso de Aquarela do Brasil demorou a se perpetuar. Em 1940, não conseguiu ficar entre as três primeiras colocadas no concurso de sambas carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos, com quem Barroso cortou relações, que só foram retomadas quinze anos depois, quando ambos receberam a Comenda Nacional do Mérito. O sucesso só veio após a inclusão no filme de animação Saludos Amigos, lançado em 1942 pelos Estúdios Disney. Foi a partir de então que a canção ganhou reconhecimento não só nacional como sendo internacional, tendo se tornado a primeira canção brasileira com mais de um milhão de execuções nas rádios norte-americanas. Devido à enorme popularidade conquistada nos Estados Unidos da América, a canção recebeu uma letra em inglês do compositor Bob Russell, escrita para Frank Sinatra em 1957. Desde então, já foi interpretada por cantores de praticamente todas as partes do mundo. Durante a ditadura militar, a genial Elis Regina interpretou aquela versão mais sombria da canção, acompanhada por um coral que reproduzia extraordinariamente os cantos dos povos indígenas do Brasil.

          Emílio Vitalino Santiago nasceu no Rio de Janeiro em 6 de dezembro de 1946 e morreu na mesma cidade em 20 de março de 2013, representando um singular cantor de música popular brasileira (MPB), em particular o samba, como a voz mais perfeita do Brasil. Em um congresso de otorrinos e cirurgiões, fonoaudiólogos comentaram que as análises técnicas do timbre de voz de Emílio Santiago demonstravam “que o cantor tinha a voz mais perfeita do Brasil”. Frequentou a Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na década de 1970, inicialmente para se tornar um advogado. Mas a música já falava mais alto na vida de Emílio Santiago. Porém, concluiu o curso de Direito por insistência de seus pais. Ao decorrer do curso, Emílio desejou ser diplomata, pois o incomodava o fato político de não existirem negros nos quadros do Itamaraty. Emílio já cantava nos bares da faculdade, em roda de amigos, apenas por diversão. Quando as inscrições do festival de música da Faculdade foram abertas, seus amigos inscreveram-no sem que ele soubesse. Emílio participou e venceu o concurso, chamando a atenção dos jurados, entre eles, a cantora Beth Carvalho.
            Um dos primeiros passos é reconhecer a voz que temos e identificar seus pontos fortes e frágeis através de uma autoanálise e da ajuda do fonoaudiólogo. Essa avaliação pode ser feita por meio de uma gravação de preferência com imagem e som. A partir daí é extremamente importante aperfeiçoá-la em sua expressividade, pois somos julgados e avaliados a cada instante da nossa vida, também pelos sons que emitimos através da fala. Precisamos buscar uma voz que agrade nossos ouvidos e os ouvidos alheios. O que falamos é importante, mas o que dá credibilidade à mensagem são a harmonia e a coerência entre o que se diz e a forma como a voz transmite a informação. A voz é importante para que a mensagem seja compreendida. No ambiente profissional, a voz pode nos ajudar em inúmeras situações. Em qualquer circunstância é possível transmitir confiança, liderança, credibilidade, assertividade. Tecnicamente a capacidade de persuasão aumenta consideravelmente quando a voz é clara e bem definida, isso intensifica a compreensão da mensagem. Quando falamos em um tom mais grave ou aveludado, utilizamos a região do tórax onde ressoam os tons graves e médios, já os timbres mais altos, ressoam na região da face, onde os tons agudos se amplificam, dando uma aparência jovial a fala. Caso sua apresentação dure mais de 03 minutos é necessário modular o volume vocal, falar mais alto e mais baixo, mais depressa e mais devagar. Emílio Santiago é um dos maiores cantores da música popular brasileira. Com a sua voz de barítono, de tom grave, aveludado, mavioso, o cantor impressiona pelas interpretações marcantes, demosntrando controle técnico de interpretação da voz e suingue. 


Nesta mesma década, Emílio Santiago participou do conceituado programa de  auditório de Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi. Trabalhou como crooner da orquestra de Ed Lincoln, além de ter participado trabalhando em muitas apresentações em boates e casas noturnas. Em 1973, lançou o primeiro compacto pela Polydor, que o levou a uma maior participação em rádios e programas de televisão. Seu primeiro Long Play foi lançado pela empresa CID em 1975, com as chamadas “canções esquecidas” de compositores consagrados como Ivan Lins, Gilberto Gil, João Donato, Jorge Benjor, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Durval Ferreira, João Nogueira, Paulo César Pinheiro, Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle, e outros. Transferiu-se no ano seguinte para a Philips-Polygram, permanecendo neste selo até 1984, onde lançou dez álbuns, todos com pouca repercussão. Além de ganhar o concurso Rede Globo MPB Shell em 1982, com a canção “Pelo Amor de Deus”, foi escolhido três anos depois como melhor  intérprete no Festival dos Festivais (cf. Mello, 1976; 2003; Dolores, 2009), também pela concorrência da Rede Globo, com a canção “Elis Elis”. 
Flávio Antônio Barbosa Nogueira Cavalcanti (1923-1986) foi um jornalista, apresentador de rádio e televisão e compositor brasileiro. Trabalhou na estatal Banco do Brasil aos 22 anos, e ao mesmo tempo como repórter do jornal carioca A Manhã. Flávio esteve nos Estados Unidos da América (EUA) e entrevistou o presidente Kennedy, na Casa Branca. Entrou para a televisão e tinha estilo tão marcante que registrou época, pois entre outras coisas “criou o primeiro júri da televisão brasileira”. Chiquinho Scarpa, Jorge Kajuru e Conrado (casado com a ex-paquita Andréia Sorvetão) já foram jurados dele. Começou também a compor e influenciou muito nas tendências musicais. Artistas, que se tornaram consagrados, começaram com Flávio Cavalcanti. Na década de 1970, todos os domingos, às 20: 00 horas, uma voz em off anunciava: - “Entra no ar via Embratel para todo o Brasil, pela Rede Tupi de Televisão o programa Flávio Cavalcanti”. A chamada marcava o início de um dos programas mais polêmicos da televisão brasileira e líder de audiência, comandado pelo jornalista e apresentador. Foi o primeiro programa a ser exibido para todo país, utilizando o canal da Embratel.
Nestas décadas de 1960 e 1970 o Brasil vivia sob o regime político ditatorial militar, que por meio de seu autoritarismo e repressão, mantinha o controle em vários aspectos da vida social e política brasileira, principalmente na área da cultura em termos de música, teatro, cinema e literatura. Apesar de toda vigilância, repressão e perseguição dos agentes do DOPS em todas as áreas ligadas à cultura, surgiram várias formas de protestos contra o regime militar. Na música, em especial, surgiram canções de cunho social e de protestos, que chegaram a uma grande parcela da população devida principalmente à participação desses músicos e canções nos grandes festivais realizados pelas emissoras de televisão. Esses festivais eram realizados principalmente na cidade de São Paulo, sendo transmitidos a várias regiões do país, atingindo elevada audiência. Devido a grande participação afetiva do público, que torcia de forma apaixonada por suas canções e intérpretes favoritos, esses festivais, assim como os compositores e intérpretes que deles participavam, passaram a ser sistematicamente vigiados pelos agentes vigilantes do DOPS, “como passíveis de subversão contra a moral e o sistema nacional”.  
Vale lembrar que o Departamento de Ordem Política e Social, criado em 30 de dezembro de 1924, foi um Aparelho de Estado,  da ditadura do Estado Novo (1937-1945) com o golpe político-militar de 1º de abril de 1964 até a abertura com o movimento Diretas Já em 1984. Horror e terror é o poder que joga para fora de sua essência sempre vigente, tudo o que é e está sendo. Em que consiste este poder de horror e terror? Ele se mostra e se esconde na maneira como, hoje, tudo está em voga e se põe em vigor, a saber, no fato de, apesar da superação de todo distanciamento e de qualquer afastamento, a proximidade dos seres estar ausente. Isto é, o homem está superando as longitudes mais afastadas no menor espaço de tempo. Está deixando para trás de si as maiores distâncias e pondo tudo diante de si na menor distância. E, no entanto, a supressão apressada de todo distanciamento não lhe traz proximidade. Queremos dizer com isso que proximidade não é pouca distância. O que, na perspectiva da metragem, está perto de nós, no menor afastamento, como na imagem do filme, ou do cantor no som do rádio, pode estar longe de nós, numa grande distância. E o que, do ponto de vista da compreensão metragem, se acha longe, lembrava Heidegger, numa distância incomensurável, pode-nos estar abstratamente bem próximo. Pequeno distanciamento ainda não é proximidade, como grande afastamento ainda não é distância. Mas o que é, então proximidade se não se dá nem mesmo quando o distanciamento mais longo se torna mesmo a supressão, sem descanso, dos afastamentos nem a resguarda? Tudo está sendo recolhido à monotonia e uniformidade do que não tem distância. O homem não percebe o que, de há muito, já está acontecendo, num processo, cujo dejeto mais recente espraia-se em um conjunto de práticas e saberes autoritários, em torno da angústia desesperada que ainda está esperando, quando o terror se está dando e o horror já vem acontecendo.

O estilo de apresentação de Flávio Cavalcanti era contundente. Letras medíocres e músicas fracas iam para o lixo. Literalmente, quebrava os discos e jogava fora. Ele criou gestos marcantes, no âmbito do marketing, como a mão direita estendida para o alto e a frase: - “Nossos comerciais, por favor!”, ao pedir o intervalo para visualização da programação. O famoso “tira bota” dos óculos também foi marcante, pois aproximava o telespectador de sua imagem comunicacional. Em 1973, teve seu programa na Rede Tupi suspenso por 60 dias pela censura federal após apresentar a história social de um homem inválido que teria “emprestado a mulher ao vizinho”, fato que culminou uma história de vigilância sobre problemas anteriores referidos com o conteúdo do programa. Flávio Cavalcanti trabalhou na TV Tupi até o fechamento da emissora, em 1980, mas a partir de 1976, seu programa passa a ser transmitido também pela TVS do empresário Silvio Santos, para o Rio de Janeiro. Em 1982, transferiu-se para a televisão Rede Bandeirantes apresentar o programa “Boa Noite, Brasil”. De 1983 a 1986, realizou no Sistema Brasileiro de Televisão o “Programa Flávio Cavalcanti”. Por seus programas passaram nomes consagrados do meio artístico, como: Oswaldo Sargentelli, Marisa Urban, Erlon Chaves, Márcia de Windsor, entre outros. Inteligente, brilhante, inquieto, como demonstra sua biografia, o carioca Flávio Cavalcanti, teve uma vida familiar tranquila. Casou-se com dona Belinha, tiveram três filhos, sendo o que levava seu nome, Flávio Jr., tornou-se um executivo de telecomunicações.                 
A canção “Aquarela do Brasil” recebeu esse título porque foi composta numa noite de 1939 na qual Ary Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte tempestade. Naquela mesma noite, também compôs “Três Lágrimas” antes que a chuva acabasse. Antes de ser gravada, “Aquarela do Brasil”, inicialmente chamada de “Aquarela Brasileira”, foi apresentada pelo barítono Cândido Botelho no musical Joujoux e balangandans, espetáculo beneficente patrocinado por Darcy Vargas, a então primeira-dama. A canção foi originalmente gravada por Francisco Alves, com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali e sua orquestra, e lançada pela Odeon Records naquele mesmo ano. Foi também gravada por Aracy Cortes e, apesar da popularidade da cantora, a canção não fez sucesso, talvez por não se adequar tão bem à voz dela. “Aquarela do Brasil” é uma das mais populares canções brasileiras de todos os tempos, escrita pelo compositor mineiro Ary Barroso em 1939. Samba-exaltação na pesquisa etnográfica é o nome de um gênero de samba surgido em 1939. O samba foi gravado a primeira vez por seu parceiro musical Francisco Alves, e por artistas que vão abrindo uma trilha extraordinária e vocacional comparativamente de Carmen Miranda a Frank Sinatra, passando por Caetano Veloso, Erasmo Carlos, Elis Regina e Emílio Santiago, talvez a última grande voz por ter se tornado um símbolo da cultura popular brasileira.
Historicamente o sucesso de “Aquarela do Brasil” aparentemente demorou a se perpetuar. Em 1940, não conseguiu ficar, surpreendentemente, entre as três primeiras colocado no concurso de sambas carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos, com quem Ary Barroso cortou relações, que só foram retomadas quinze anos depois, quando ambos receberam a Comenda Nacional do Mérito. O sucesso só veio após a inclusão no filme de animação “Saludos Amigos”, lançado em 1942, pelos Estúdios Disney. Foi a partir de então que a canção ganhou reconhecimento não só nacional como internacional, tendo se tornado a primeira canção brasileira com mais de um (01) milhão de execuções nas rádios estadunidenses. Devido à enorme popularidade conquistada nos Estados Unidos, a canção recebeu uma letra em inglês do compositor Bob Russell, escrita para Frank Sinatra em 1957. Desde então, já foi interpretada por cantores de quase todas as partes do mundo. Durante a ditadura militar, Elis Regina interpretou aquela que talvez seja a versão mais politizada da canção, acompanhada por um coral que reproduzia os cantos dos povos indígenas do Brasil.
A canção, por exaltar as qualidades e a grandiosidade do país, marcou o início do movimento musical que ficaria reconhecido socialmente como “samba-exaltação”. Este movimento, por ser de natureza ufanista, era visto por vários críticos como sendo favorável à manutenção populista da ditadura de Getúlio Vargas, o que gerou críticas a Barroso e à sua obra. No entanto, a família do compositor nega que ele algum dia tenha sido favorável à política de Vargas, destacando o fato político de que ele também compôs “Salada Mista”, gravada em outubro de 1938 por Carmen Miranda, uma canção contrária ao nazifascismo do qual Getúlio Vargas era simpatizante. Vale notar também que antes de seu lançamento, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) vetou o verso “terra do samba e do pandeiro”, por entender que era depreciativo para o Brasil. Barroso teve de ir ao DIP para “convencer os censores da preservação do verso”. Outra crítica feita à obra de Ary Barroso, em tempos sombrios, foi que usava termos pouco usuais no cotidiano linguístico, tais como “inzoneiro”, “merencória”, “trigueiro”, e que enfatizava a redundância nos versos “meu Brasil brasileiro” e “esse coqueiro que dá coco”. O autor se defendeu, dizendo que estas expressões são efeitos poéticos indissolúveis da composição. Na gravação original, Francisco Alves erroneamente canta “mulato risoneiro” no lugar de “inzoneiro”, tanto por ignorância simbólica, como também por não ter compreendido praticamente a caligrafia quase ilegível de Barroso. 
Ipso facto uma grande fase de sucesso do cantor Emílio Santiago iniciou-se em 1988, com o lançamento do LP Aquarela Brasileira, pela gravadora “Som Livre”, um projeto especial dedicado exclusivamente ao repertório de música popular brasileira. Inicialmente, planejava-se lançar apenas um long play (LP), mas devido à grande repercussão de sua voz e ao sucesso, foram lançados sete (07) trabalhos da série Aquarela Brasileira. O projeto ultrapassou a marca de quatro (04) milhões de cópias vendidas. Gravou músicas que se tornaram sucessos como “Saigon”, em “Aquarela Brasileira 2” (1989), “Verdade Chinesa”, “Aquarela Brasileira 3” (1990). Lançou também outros projetos como um tributo ao cantor Dick Farney (“Perdido de amor”, de 1995) e regravando clássicos do bolero hispânico (“Dias de Luna”, de 1996). Emílio Santiago está fechando um ciclo em sua carreira. O cantor lança o sétimo disco do projeto Aquarela Brasileira em shows no Olympia, nos próximos dois finais de semana. “A apresentação é uma exaltação ao Brasil”. O repertório traz clássicos de Ary Barroso, Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso, entre outros. Santiago se mostra também influenciado pelas suas últimas viagens ao exterior. Apesar do repertório calcado no cancioneiro popular da MPB e nos grandes sucessos já gravados pelo cantor, ele não considera este um show nostálgico. - “O roteiro foi montado com as coisas de que mais gosto e que ajudaram a firmar minha carreira e minha visão musical, não é nostálgico porque é o meu presente. Amadureci meu trabalho nas apresentações na Espanha e nos Estados Unidos, durante a Copa”. Entre as canções do espetáculo estão algumas interpretações em espanhol e inglês. - “Divido minha carreira em antes e depois do projeto Aquarela Brasileira, de um público reduzido e fiel passei a atingir o povo mais diretamente”. Aquarela foi projetada musicalmente por Heleno de Oliveira e produzida pelo produtor de comunicação musical Roberto Menescal, com a intenção de resgatar a memória do cancioneiro popular brasileiro.  

Assinou contrato com a Sony Music em 2000. O disco que marca a estreia na nova gravadora é Bossa Nova, que trouxe muitos clássicos do gênero e também incluiu um DVD. Prosseguiu com “Um sorriso nos lábios” (2001), um tributo ao cantor Gonzaguinha, e outro ao compositor acreano João Donato em 2003. No álbum “O Melhor das Aquarelas Ao Vivo”, Emílio reviu o repertório de música brasileira que gravou nas sete edições da série Aquarela Brasileira. Trata-se do primeiro disco ao vivo do cantor e o segundo DVD de sua carreira, gravado ao vivo no Canecão, tradicional casa de shows do Rio de Janeiro, após “Bossa Nova”. Em 2009, lançou o CD “Só Danço Samba”, o primeiro produzido de maneira independente, pelo seu selo Santiago Music. Em 31 de março de 2011, gravou o CD/DVD “Só Danço Samba Ao Vivo”, em São Paulo, quando ganhou um Grammy Latino como melhor álbum de Samba-Pagode. Enfim, uma noite emocionante recheada de clássicos da MPB, reverenciando a memória do intérprete Emílio Santiago, falecido em março de 2013. Assim foi o show “As Aquarelas de Emílio - 70 anos de um astro”, evento que lotou o Teatro Municipal Trianon naquela noite da última terça-feira, 16, reunindo no palco mais de 20 atrações, entre cantores e companhias de dança. Todos numa grande homenagem.
O show em benefício da Associação Amigos do Rim (AAR) foi promovido pela própria associação com apoio de parceiros, exemplo institucional do que vem ocorrendo nos últimos anos. Oferecendo atendimentos multiprofissionais que envolvem psicologia, nutrição e enfermagem, a AAR atende pessoas de Campos e região, objetivando uma melhor qualidade de vida aos pacientes renais crônicos e seus familiares. Fãs de Emílio, parentes e amigos próximos do cantor que estiveram no Teatro para matar saudade do astro, que faria 70 anos em 2016, se deliciaram com clássicos imortalizados pelo ídolo. Os cantores foram acompanhados por uma banda, ao vivo, sob a direção musical de André Rangel. Como couvert, uma exposição de objetos pessoais do cantor: discos de vinil, CDs autografados, troféus, incluindo o Grammy, microfone, peças do vestuário, documentos e outros objetos do acervo gentilmente cedido pelo inventariante, Márcio Tadeu Ribeiro Francisco, que é nascido em Campos dos Goytacazes e fez questão de acompanhar a homenagem. Márcio Tadeu subiu ao palco, agradeceu e narrou passagens do cantor em Campos. Falou também sobre projetos e o selo “Santiago Music”. No final, há um dos momentos mais emocionantes da noite, quando todos os participantes se confraternizaram no palco ao som da música “O que é, o que é?”, na voz do próprio Emílio Santiago, cuja imagem irradiante podia ser vista em um telão. Era como se o astro estivesse de volta, representado o palco através da memória individual (o sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) e não somente no coração de seus fãs per se que têm razões que a própria razão desconhece.
 Bibliografia geral consultada.
 
HOMEM DE MELLO, José Eduardo, Música Popular Brasileira Cantada e Contada. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1976; Idem, A Era dos Festivais: Uma Parábola. São Paulo: Editora 34, 2003; TÁRIK, de Souza, Tem Mais Samba – das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003; NAPOLITANO, Marcos, “A MPB sob Suspeita: A Censura Musical visto pela Ótica dos Serviços de Vigilância Política (1968-1981)”. In: Revista Brasileira de História, vol. 24, nº 47; 2004; AUTRAN, Margarida, “O Estado e o Músico Popular: De Marginal a Instrumento”. Disponível em: NOVAES, Adauto (Org.), Anos 70: Ainda sob a Tempestade. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editor Aeroplano/ Editora SENAC Rio, 2005; DOLORES, Maria, “O Festival dos Festivais”. In: Revista Bravo, julho de 2009; ROSA, Marli Aparecida, Aquarelas de um país tropical: Brasil, que país é este? Tese de Doutorado. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2011; MAFFESOLI, Michel, Homo Eroticus: Des Communions Émotionelles. Paris: Centre Nationale de Recherche Scientiphique Éditions, 2012; LAMARÃO, Luisa Quarti, A Crista é a Parte mais Superficial da Onda. Mediações Culturais da MPB (1968-1982). Tese de Doutorado. Departamento de História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012; MORAES, Sabrina Lobo de, Soul Mais Samba: Movimento Black Rio e o Samba nos Anos 1970. Dissertação de Mestrado em Música. Programa de Pós-Graduação em Música. Centro de Letras e Artes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2014; VELLOSO, Rafael Henrique Soares, Aquarelas Musicais das Américas. Projetos Identitários de Nação nas Performances Radiofônicas de Radamés Gnatalli e Alan Lomax (1939-1945). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Música. Instituto de Artes. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015; Artigo: “Tributo a Mais Perfeita Voz do Brasil”. Disponível em: http://leopoldinense.com.br/08/07/2016; MAGALHÃES, Roberto, A Arte da Oratória: Técnicas para Falar Bem em Público. Bauru, SP: Idea Editora, 2017; entre outros. 

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