Emílio Santiago - A Perfeição da Voz de Aquarela do Brasil
Ubiracy de Souza Braga
“Vem comigo
meu amado amigo nessa noite clara de verão!”. Emilio Santiago
Aquarela
do Brasil é uma das mais populares canções brasileiras de todos
os tempos, escrita pelo compositor mineiro Ary Barroso em 1939. O samba foi
gravado a primeira vez por seu parceiro Francisco Alves, e depois por diversos
artistas que vão de Carmen Miranda a Frank Sinatra, passando por João Gilberto,
Tom Jobim, Caetano Veloso, Tim Maia, Gal Costa, Erasmo Carlos e Elis Regina. Aquarela
do Brasil foi considerada a décima segunda música maior do Brasil segundo a
revista Rolling Stone Brasil e melhor canção do século XX de acordo com
eleição da Rede Globo. Conforme dados de 2021, “Aquarela do Brasil”, de Ary
Barroso, era a segunda canção brasileira mais regravada de todos os tempos, de
acordo com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), que é o
órgão responsável por captar e distribuir valores pagos pela execução de
canções em eventos e nos mais diversos tipos de mídia. A
canção Aquarela do Brasil recebeu esse título porque foi composta numa
noite de 1939 na qual Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte
tempestade. Naquela mesma noite, também compôs “Três Lágrimas” antes que a
chuva acabasse. Antes de ser gravada, Aquarela do Brasil, inicialmente
chamada de “Aquarela Brasileira”, foi apresentada pelo barítono Cândido Botelho
no musical Joujoux e balangandans, espetáculo beneficente
patrocinado por Darcy Sarmanho Vargas (1895-1968), sendo a primeira primeira-dama brasileira a desempenhar funções sociais em virtude da preocupação afetiva com as questões assistencialistas.
Estudos
recentes têm demonstrado cada vez com maior clareza do ponto de vista
técnico-metodológico (pesquisa empírica) e científico (a questão abstrata
da teoria) que, o avanço da idade não determina a deterioração da inteligência,
pois ela está associada à educação, ao padrão de vida, a vitalidade física,
mental e emocional. Também é preciso perder a inculcação ideológica de
preconceito sobre a idade cronológica das pessoas. Vale fazer um alerta
importante, talvez, só na América do Sul estima-se que no início deste novo
milênio mais de 30 milhões de pessoas estarão com idade acima de 60 anos. No
Brasil, apenas para fazermos menção ao Estado de São Paulo, representará quase
três milhões de pessoas ou cerca de 8% dessa população. O aumento desta
população tende a expandir ainda mais nas próximas décadas, o que justifica o
interesse e a preocupação da sociedade e do governo em criar políticas públicas
para tratar questões sociais ligadas à velhice. Trata-se de um processo
individual, simultaneamente social, cultural e de evolução natural,
indiscutível e inevitável sobre a morte, para qualquer ser humano, dando
sentido e forma à vida. Fase em que ocorrem mudanças biológicas, fisiológicas,
psicossociais, econômicas e políticas que compõe o cotidiano da vida das
pessoas.
Em
muitas culturas e civilizações, principalmente as orientais, o velho, o idoso é
visto com respeito e veneração, representando uma fonte de experiência, de seu
valioso saber acumulado ao longo dos anos, da prudência e da reflexão. Enquanto
em outras, o idoso tem como representação social estigmas em torno de noções
como: “o velho”, “o ultrapassado” e psicologicamente “a falência múltipla do
potencial do ser humano”. No dia 17 de agosto de 1986, o jornal O Estado de
São Paulo, por ocasião do falecimento de Mãe Menininha do Gantois e
da grande presença de pessoas em seu sepultamento, escreveu em seu Editorial:
“a importância exagerada dada a uma sacerdotisa de cultos afro-brasileiros é a
evidência mais chocante de que não basta ao Brasil ser catalogado como a oitava
economia do mundo, se o País ainda está preso a hábitos culturais
arraigadamente tribais”. Dois pesos e duas medidas: a) o preconceito étnico e
racial; b) o preconceito sobre a velhice; c) o preconceito contra o fato de ser
mulher, para lembrarmo-nos de John Lennon & Yoko Ono que advertiam: Woman
is the Nigger of the World, publicado em seu álbum Sometime in New York City
(1972).
A canção foi originalmente
gravada por Francisco Alves, com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali
e sua orquestra, e lançada pela Odeon Records naquele mesmo ano. Foi também
gravada por Aracy Cortes e, apesar da popularidade da cantora, a canção não fez
sucesso, talvez por não ter se adequado bem à voz dela. O
sucesso de Aquarela do Brasil demorou a se perpetuar. Em 1940, não
conseguiu ficar entre as três primeiras colocadas no concurso de sambas
carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos, com quem Barroso
cortou relações, que só foram retomadas quinze anos depois, quando ambos
receberam a Comenda Nacional do Mérito. O sucesso só veio após a inclusão no
filme de animação Saludos Amigos, lançado em 1942 pelos Estúdios Disney.
Foi a partir de então que a canção ganhou reconhecimento não só nacional como sendo internacional, tendo se tornado a primeira canção brasileira com mais de um
milhão de execuções nas rádios norte-americanas. Devido à enorme popularidade
conquistada nos Estados Unidos da América, a canção recebeu uma letra em inglês
do compositor Bob Russell, escrita para Frank Sinatra em 1957. Desde então, já
foi interpretada por cantores de praticamente todas as partes do mundo. Durante
a ditadura militar, a genial Elis Regina interpretou aquela versão mais sombria
da canção, acompanhada por um coral que reproduzia extraordinariamente os cantos dos povos
indígenas do Brasil.
Emílio Vitalino Santiago nasceu no
Rio de Janeiro em 6 de dezembro de 1946 e morreu na mesma cidade em 20 de março
de 2013, representando um singular cantor de música popular brasileira (MPB), em
particular o samba, como a voz mais perfeita do Brasil. Em um congresso de
otorrinos e cirurgiões, fonoaudiólogos comentaram que as análises técnicas do
timbre de voz de Emílio Santiago demonstravam “que o cantor tinha a voz mais
perfeita do Brasil”. Frequentou a Faculdade Nacional de Direito da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na década de 1970, inicialmente para se
tornar um advogado. Mas a música já falava mais alto na vida de Emílio Santiago.
Porém, concluiu o curso de Direito por insistência de seus pais. Ao decorrer do
curso, Emílio desejou ser diplomata, pois o incomodava o fato político de não
existirem negros nos quadros do Itamaraty. Emílio já cantava nos bares da
faculdade, em roda de amigos, apenas por diversão. Quando as inscrições do
festival de música da Faculdade foram abertas, seus amigos inscreveram-no sem
que ele soubesse. Emílio participou e venceu o concurso, chamando a atenção dos
jurados, entre eles, a cantora Beth Carvalho.
Um dos primeiros passos é reconhecer
a voz que temos e identificar seus pontos fortes e frágeis através de uma
autoanálise e da ajuda do fonoaudiólogo. Essa avaliação pode ser feita por meio
de uma gravação de preferência com imagem e som. A partir daí é extremamente
importante aperfeiçoá-la em sua expressividade, pois somos julgados e avaliados
a cada instante da nossa vida, também pelos sons que emitimos através da fala. Precisamos
buscar uma voz que agrade nossos ouvidos e os ouvidos alheios. O que falamos é
importante, mas o que dá credibilidade à mensagem são a harmonia e a coerência
entre o que se diz e a forma como a voz transmite a informação. A voz é
importante para que a mensagem seja compreendida. No ambiente profissional, a
voz pode nos ajudar em inúmeras situações. Em qualquer circunstância é possível
transmitir confiança, liderança, credibilidade, assertividade. Tecnicamente a
capacidade de persuasão aumenta consideravelmente quando a voz é clara e bem
definida, isso intensifica a compreensão da mensagem. Quando falamos em um tom
mais grave ou aveludado, utilizamos a região do tórax onde ressoam os tons
graves e médios, já os timbres mais altos, ressoam na região da face, onde os
tons agudos se amplificam, dando uma aparência jovial a fala. Caso sua
apresentação dure mais de 03 minutos é necessário modular o volume vocal, falar
mais alto e mais baixo, mais depressa e mais devagar. Emílio Santiago é um dos maiores cantores da música popular brasileira. Com a sua voz de barítono, de tom grave, aveludado, mavioso, o cantor impressiona pelas interpretações marcantes, demosntrando controle técnico de interpretação da voz e suingue.
Nesta
mesma década, Emílio Santiago participou do conceituado programa de auditório de Flávio Cavalcanti, na extinta TV
Tupi. Trabalhou como crooner da
orquestra de Ed Lincoln, além de ter participado trabalhando em muitas
apresentações em boates e casas noturnas. Em 1973, lançou o primeiro compacto
pela Polydor, que o levou a uma maior
participação em rádios e programas de televisão. Seu primeiro Long Play foi lançado
pela empresa CID em 1975, com as chamadas “canções esquecidas” de compositores
consagrados como Ivan Lins, Gilberto Gil, João Donato, Jorge Benjor, Nelson
Cavaquinho, Guilherme de Brito, Durval Ferreira, João Nogueira, Paulo César
Pinheiro, Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle, e outros. Transferiu-se no ano
seguinte para a Philips-Polygram, permanecendo neste selo até 1984, onde lançou
dez álbuns, todos com pouca repercussão. Além de ganhar o concurso Rede Globo
MPB Shell em 1982, com a canção “Pelo Amor de Deus”, foi escolhido três anos
depois como melhor intérprete no Festival dos Festivais (cf. Mello, 1976;
2003; Dolores, 2009), também pela concorrência da Rede Globo, com a canção “Elis
Elis”.
Flávio
Antônio Barbosa Nogueira Cavalcanti (1923-1986) foi um jornalista, apresentador
de rádio e televisão e compositor brasileiro. Trabalhou na estatal Banco do
Brasil aos 22 anos, e ao mesmo tempo como repórter do jornal carioca AManhã.
Flávio esteve nos Estados Unidos da América (EUA) e entrevistou o presidente
Kennedy, na Casa Branca. Entrou para a televisão e tinha estilo tão marcante
que registrou época, pois entre outras coisas “criou o primeiro júri da
televisão brasileira”. Chiquinho Scarpa, Jorge Kajuru e Conrado (casado com a
ex-paquita Andréia Sorvetão) já foram jurados dele. Começou também a compor e
influenciou muito nas tendências musicais. Artistas, que se tornaram
consagrados, começaram com Flávio Cavalcanti. Na década de 1970, todos os
domingos, às 20: 00 horas, uma voz em off
anunciava: - “Entra no ar via Embratel para todo o Brasil, pela Rede Tupi de
Televisão o programa Flávio Cavalcanti”. A chamada marcava o início de um dos
programas mais polêmicos da televisão brasileira e líder de audiência,
comandado pelo jornalista e apresentador. Foi o primeiro programa a ser exibido
para todo país, utilizando o canal da Embratel.
Nestas
décadas de 1960 e 1970 o Brasil vivia sob o regime político ditatorial militar,
que por meio de seu autoritarismo e repressão, mantinha o controle em vários
aspectos da vida social e política brasileira, principalmente na área da
cultura em termos de música, teatro, cinema e literatura. Apesar de toda
vigilância, repressão e perseguição dos agentes do DOPS em todas as áreas
ligadas à cultura, surgiram várias formas de protestos contra o regime militar.
Na música, em especial, surgiram canções de cunho social e de protestos, que
chegaram a uma grande parcela da população devida principalmente à participação
desses músicos e canções nos grandes festivais realizados pelas emissoras de
televisão. Esses festivais eram realizados principalmente na cidade de São
Paulo, sendo transmitidos a várias regiões do país, atingindo elevada
audiência. Devido a grande participação afetiva do público, que torcia de forma
apaixonada por suas canções e intérpretes favoritos, esses festivais, assim
como os compositores e intérpretes que deles participavam, passaram a ser
sistematicamente vigiados pelos agentes vigilantes do DOPS, “como passíveis de subversão
contra a moral e o sistema nacional”.
Vale
lembrar que o Departamento de Ordem Política e Social, criado em 30 de
dezembro de 1924, foi um Aparelho de Estado, da ditadura do
Estado Novo (1937-1945) com o golpe político-militar de 1º de abril de 1964 até
a abertura com o movimento Diretas Já em 1984. Horror e terror é o poder que
joga para fora de sua essência sempre vigente, tudo o que é e está sendo. Em
que consiste este poder de horror e terror? Ele se mostra e se esconde na
maneira como, hoje, tudo está em voga e se põe em vigor, a saber, no fato de,
apesar da superação de todo distanciamento e de qualquer afastamento, a
proximidade dos seres estar ausente. Isto é, o homem está superando as
longitudes mais afastadas no menor espaço de tempo. Está deixando para trás de
si as maiores distâncias e pondo tudo diante de si na menor distância. E, no
entanto, a supressão apressada de todo distanciamento não lhe traz proximidade.
Queremos dizer com isso que proximidade não é pouca distância. O que, na
perspectiva da metragem, está perto de nós, no menor afastamento, como na
imagem do filme, ou do cantor no som do rádio, pode estar longe de nós, numa
grande distância. E o que, do ponto de vista da compreensão metragem, se acha
longe, lembrava Heidegger, numa distância incomensurável, pode-nos estar
abstratamente bem próximo. Pequeno distanciamento ainda não é proximidade, como
grande afastamento ainda não é distância. Mas o que é, então proximidade se não
se dá nem mesmo quando o distanciamento mais longo se torna mesmo a supressão,
sem descanso, dos afastamentos nem a resguarda? Tudo está sendo recolhido à
monotonia e uniformidade do que não tem distância. O homem não percebe o que,
de há muito, já está acontecendo, num processo, cujo dejeto mais recente
espraia-se em um conjunto de práticas e saberes autoritários, em torno da
angústia desesperada que ainda está esperando, quando o terror se está dando e
o horror já vem acontecendo.
O
estilo de apresentação de Flávio Cavalcanti era contundente. Letras medíocres e
músicas fracas iam para o lixo. Literalmente, quebrava os discos e jogava fora.
Ele criou gestos marcantes, no âmbito do marketing,
como a mão direita estendida para o alto e a frase: - “Nossos comerciais, por
favor!”, ao pedir o intervalo para visualização da programação. O famoso “tira
bota” dos óculos também foi marcante, pois aproximava o telespectador de sua
imagem comunicacional. Em 1973, teve seu programa na Rede Tupi suspenso por 60
dias pela censura federal após apresentar a história social de um homem
inválido que teria “emprestado a mulher ao vizinho”, fato que culminou uma
história de vigilância sobre problemas anteriores referidos com o conteúdo do
programa. Flávio Cavalcanti trabalhou na TV Tupi até o fechamento da emissora,
em 1980, mas a partir de 1976, seu programa passa a ser transmitido também pela
TVS do empresário Silvio Santos, para o Rio de Janeiro. Em 1982, transferiu-se
para a televisão Rede Bandeirantes apresentar o programa “Boa Noite, Brasil”.
De 1983 a 1986, realizou no Sistema Brasileiro de Televisão o “Programa Flávio
Cavalcanti”. Por seus programas passaram nomes consagrados do meio artístico,
como: Oswaldo Sargentelli, Marisa Urban, Erlon Chaves, Márcia de Windsor, entre
outros. Inteligente, brilhante, inquieto, como demonstra sua biografia, o carioca
Flávio Cavalcanti, teve uma vida familiar tranquila. Casou-se com dona Belinha,
tiveram três filhos, sendo o que levava seu nome, Flávio Jr., tornou-se um
executivo de telecomunicações.
A
canção “Aquarela do Brasil” recebeu esse título porque foi composta numa noite
de 1939 na qual Ary Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte
tempestade. Naquela mesma noite, também compôs “Três Lágrimas” antes que a
chuva acabasse. Antes de ser gravada, “Aquarela do Brasil”, inicialmente
chamada de “Aquarela Brasileira”, foi apresentada pelo barítono Cândido Botelho
no musical Joujoux e balangandans,
espetáculo beneficente patrocinado por Darcy Vargas, a então primeira-dama. A
canção foi originalmente gravada por Francisco Alves, com arranjos e
acompanhamento de Radamés Gnattali e sua orquestra, e lançada pela Odeon
Records naquele mesmo ano. Foi também gravada por Aracy Cortes e, apesar da
popularidade da cantora, a canção não fez sucesso, talvez por não se adequar
tão bem à voz dela. “Aquarela do Brasil” é uma das mais populares canções
brasileiras de todos os tempos, escrita pelo compositor mineiro Ary Barroso em
1939. Samba-exaltação na pesquisa etnográfica é o nome de um gênero de samba
surgido em 1939. O samba foi gravado a primeira vez por seu parceiro musical Francisco
Alves, e por artistas que vão abrindo uma trilha extraordinária e vocacional
comparativamente de Carmen Miranda a Frank Sinatra, passando por Caetano
Veloso, Erasmo Carlos, Elis Regina e Emílio Santiago, talvez a última grande
voz por ter se tornado um símbolo da
cultura popular brasileira.
Historicamente
o sucesso de “Aquarela do Brasil” aparentemente demorou a se perpetuar. Em
1940, não conseguiu ficar, surpreendentemente, entre as três primeiras colocado
no concurso de sambas carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor
Villa-Lobos, com quem Ary Barroso cortou relações, que só foram retomadas
quinze anos depois, quando ambos receberam a Comenda Nacional do Mérito. O sucesso
só veio após a inclusão no filme de animação “Saludos Amigos”, lançado em 1942,
pelos Estúdios Disney. Foi a partir de então que a canção ganhou reconhecimento
não só nacional como internacional, tendo se tornado a primeira canção
brasileira com mais de um (01) milhão de execuções nas rádios estadunidenses.
Devido à enorme popularidade conquistada nos Estados Unidos, a canção recebeu
uma letra em inglês do compositor Bob Russell, escrita para Frank Sinatra em
1957. Desde então, já foi interpretada por cantores de quase todas as
partes do mundo. Durante a ditadura militar, Elis Regina interpretou aquela que
talvez seja a versão mais politizada da canção, acompanhada por um coral que
reproduzia os cantos dos povos indígenas do Brasil.
A
canção, por exaltar as qualidades e a grandiosidade do país, marcou o início do
movimento musical que ficaria reconhecido socialmente como “samba-exaltação”.
Este movimento, por ser de natureza ufanista, era visto por vários críticos
como sendo favorável à manutenção populista da ditadura de Getúlio Vargas, o
que gerou críticas a Barroso e à sua obra. No entanto, a família do compositor
nega que ele algum dia tenha sido favorável à política de Vargas, destacando o
fato político de que ele também compôs “Salada Mista”, gravada em outubro de
1938 por Carmen Miranda, uma canção contrária ao nazifascismo do qual Getúlio
Vargas era simpatizante. Vale notar também que antes de seu lançamento, o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) vetou o verso “terra do samba e do pandeiro”,
por entender que era depreciativo para o Brasil. Barroso teve de ir ao DIP para
“convencer os censores da preservação do verso”. Outra crítica feita à obra de
Ary Barroso, em tempos sombrios, foi que usava termos pouco usuais no cotidiano
linguístico, tais como “inzoneiro”, “merencória”, “trigueiro”, e que enfatizava
a redundância nos versos “meu Brasil brasileiro” e “esse coqueiro que dá coco”.
O autor se defendeu, dizendo que estas expressões são efeitos poéticos
indissolúveis da composição. Na gravação original, Francisco Alves erroneamente
canta “mulato risoneiro” no lugar de “inzoneiro”, tanto por ignorância
simbólica, como também por não ter compreendido praticamente a caligrafia quase
ilegível de Barroso.
Ipso facto
uma grande fase de sucesso do cantor Emílio Santiago iniciou-se em 1988, com o
lançamento do LP Aquarela Brasileira,
pela gravadora “Som Livre”, um projeto especial dedicado exclusivamente ao
repertório de música popular brasileira. Inicialmente, planejava-se lançar
apenas um long play (LP), mas devido
à grande repercussão de sua voz e ao sucesso, foram lançados sete (07) trabalhos
da série Aquarela Brasileira. O
projeto ultrapassou a marca de quatro (04) milhões de cópias vendidas. Gravou
músicas que se tornaram sucessos como “Saigon”, em “Aquarela Brasileira 2”
(1989), “Verdade Chinesa”, “Aquarela Brasileira 3” (1990). Lançou também outros
projetos como um tributo ao cantor Dick Farney (“Perdido de amor”, de 1995) e
regravando clássicos do bolero hispânico (“Dias de Luna”, de 1996). Emílio Santiago está fechando um ciclo em sua carreira. O cantor lança o sétimo disco do projeto Aquarela Brasileira em shows no Olympia, nos próximos dois finais de semana. “A apresentação é uma exaltação ao Brasil”. O repertório traz clássicos de Ary Barroso, Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso, entre outros. Santiago se mostra também influenciado pelas suas últimas viagens ao exterior. Apesar do repertório calcado no cancioneiro popular da MPB e nos grandes sucessos já gravados pelo cantor, ele não considera este um show nostálgico. - “O roteiro foi montado com as coisas de que mais gosto e que ajudaram a firmar minha carreira e minha visão musical, não é nostálgico porque é o meu presente. Amadureci meu trabalho nas apresentações na Espanha e nos Estados Unidos, durante a Copa”. Entre as canções do espetáculo estão algumas interpretações em espanhol e inglês. - “Divido minha carreira em antes e depois do projeto Aquarela Brasileira, de um público reduzido e fiel passei a atingir o povo mais diretamente”. Aquarela foi projetada musicalmente por Heleno de Oliveira e produzida pelo produtor de comunicação musical Roberto Menescal, com a intenção de resgatar a memória do cancioneiro popular brasileiro.
Assinou
contrato com a Sony Music em 2000. O disco que marca a estreia na nova
gravadora é Bossa Nova, que trouxe
muitos clássicos do gênero e também incluiu um DVD. Prosseguiu com “Um sorriso
nos lábios” (2001), um tributo ao cantor Gonzaguinha, e outro ao compositor acreano
João Donato em 2003. No álbum “O Melhor das Aquarelas Ao Vivo”, Emílio reviu o
repertório de música brasileira que gravou nas sete edições da série Aquarela Brasileira. Trata-se do
primeiro disco ao vivo do cantor e o segundo DVD de sua carreira, gravado ao
vivo no Canecão, tradicional casa de
shows do Rio de Janeiro, após “Bossa Nova”. Em 2009, lançou o CD “Só Danço
Samba”, o primeiro produzido de maneira independente, pelo seu selo Santiago Music. Em 31 de março de 2011,
gravou o CD/DVD “Só Danço Samba Ao Vivo”, em São Paulo, quando ganhou um Grammy Latino como melhor álbum de Samba-Pagode. Enfim, uma noite emocionante recheada de clássicos da MPB,
reverenciando a memória do intérprete Emílio Santiago, falecido em março de
2013. Assim foi o show “As Aquarelas de Emílio - 70 anos de um astro”, evento
que lotou o Teatro Municipal Trianon naquela noite da última terça-feira, 16,
reunindo no palco mais de 20 atrações, entre cantores e companhias de dança. Todos
numa grande homenagem.
O
show em benefício da Associação Amigos do
Rim (AAR) foi promovido pela própria associação com apoio de parceiros,
exemplo institucional do que vem ocorrendo nos últimos anos. Oferecendo
atendimentos multiprofissionais que envolvem psicologia, nutrição e enfermagem,
a AAR atende pessoas de Campos e região, objetivando uma melhor qualidade de
vida aos pacientes renais crônicos e seus familiares. Fãs de Emílio, parentes e
amigos próximos do cantor que estiveram no Teatro para matar saudade do astro,
que faria 70 anos em 2016, se deliciaram com clássicos imortalizados pelo
ídolo. Os cantores foram acompanhados por uma banda, ao vivo, sob a direção
musical de André Rangel. Como couvert,
uma exposição de objetos pessoais do cantor: discos de vinil, CDs autografados,
troféus, incluindo o Grammy,
microfone, peças do vestuário, documentos e outros objetos do acervo
gentilmente cedido pelo inventariante, Márcio Tadeu Ribeiro Francisco, que é
nascido em Campos dos Goytacazes e fez questão de acompanhar a homenagem.
Márcio Tadeu subiu ao palco, agradeceu e narrou passagens do cantor em Campos.
Falou também sobre projetos e o selo “Santiago
Music”. No final, há um dos momentos mais emocionantes da noite, quando todos os
participantes se confraternizaram no palco ao som da música “O que é, o que é?”,
na voz do próprio Emílio Santiago, cuja imagem irradiante podia ser vista em um
telão. Era como se o astro estivesse de volta, representado o palco através da
memória individual (o sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) e não
somente no coração de seus fãs per se que têm razões que a própria razão desconhece.
Bibliografia
geral consultada.
HOMEM
DE MELLO, José Eduardo, Música Popular
Brasileira Cantada e Contada. São Paulo: Editora Universidade de
São Paulo, 1976; Idem, A Era dos
Festivais: Uma Parábola. São Paulo: Editora 34, 2003; TÁRIK, de Souza, Tem Mais Samba – das raízes à eletrônica.
São Paulo: Editora 34, 2003; NAPOLITANO, Marcos, “A MPB sob Suspeita: A Censura
Musical visto pela Ótica dos Serviços de Vigilância Política (1968-1981)”. In: Revista Brasileira de História, vol.
24, nº 47; 2004; AUTRAN, Margarida, “O Estado e o Músico Popular: De Marginal a
Instrumento”. Disponível em: NOVAES, Adauto (Org.), Anos
70: Ainda sob a Tempestade. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editor Aeroplano/
Editora SENAC Rio, 2005; DOLORES,
Maria, “O Festival dos Festivais”. In: Revista
Bravo, julho de 2009; ROSA, Marli Aparecida, Aquarelas de um país tropical: Brasil, que país é este? Tese de Doutorado. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2011; MAFFESOLI, Michel, Homo Eroticus: Des Communions Émotionelles. Paris: Centre Nationale de Recherche Scientiphique Éditions, 2012; LAMARÃO, Luisa Quarti, A Crista é a Parte mais Superficial da Onda. Mediações Culturais da MPB (1968-1982). Tese de Doutorado. Departamento de História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012; MORAES, Sabrina Lobo de,
Soul Mais Samba: Movimento Black Rio e o
Samba nos Anos 1970. Dissertação de Mestrado em Música. Programa de
Pós-Graduação em Música. Centro de Letras e Artes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro, 2014; VELLOSO, Rafael Henrique Soares, Aquarelas Musicais das Américas. Projetos Identitários de Nação nas Performances Radiofônicas de Radamés Gnatalli e Alan Lomax (1939-1945). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Música. Instituto de Artes. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015; Artigo: “Tributo a Mais Perfeita Voz do
Brasil”. Disponível em: http://leopoldinense.com.br/08/07/2016;MAGALHÃES, Roberto,
A Arte da Oratória: Técnicas para Falar Bem em Público. Bauru, SP: Idea
Editora, 2017; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário