quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Farmácia Popular - Utilidade de Uso & Credibilidade Industrial.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga*
Morreu de quatro médicos e dois farmacêuticos”. Jean-Baptiste Poquelin (1622-1673)


              A epígrafe é de Jean-Baptiste Poquelin, reconhecido como Molière, foi um dramaturgo francês, além de ator e encenador, considerado um dos mestres da comédia satírica. Teve um papel social de destaque na dramaturgia francesa, então muito dependente da temática da mitologia grega. Molière usou as suas obras para criticar os costumes. É considerado o fundador indireto da Comédie-Française. Dele, afirmou Boileau: - “Na bolsa ridícula onde Scapin se envolve, não reconheço mais o autor do Misantropo”. Como reconhecimento de sua praticidade é meticulosa a ação. A primeira faculdade de medicina da Europa foi fundada em Salerno, no sul da Itália. Diz a lenda que a faculdade foi fundada por um italiano, um árabe, um judeu e um grego, que trouxe consigo os escritos de Hipócrates. Mas a história designa a natureza cosmopolita da região, onde as influências gregas e do Oriente Médio eram relevantes. A faculdade na verdade começou no século IX como um local para os monges aviarem medicamentos. No século XI, contudo, os estudiosos da faculdade começaram a traduzir textos médicos gregos e, mais tarde, árabes para o latim. Eles reintroduziram os ensinamentos de Hipócrates, já afunilado pela sabedoria de Galen e islâmica. Nos séculos XVII e XVIII, o conhecimento médico avançou a passos extraordinários. Muitas das concepções equivocadas de Galen foram derrubadas. 
             O inglês William Harvey descreveu com precisão a circulação do sangue no corpo, confirmando os achados de estudiosos anteriores (como Ibn Nafis e europeus mais recentes). Ele acrescentou o achado experimental crítico de que o sangue é “bombeado” para todo o corpo pelo coração. No século XIX a prática médica finalmente começou a mudar. Nessa mesma época, cientistas e médicos fizeram as descobertas que verdadeiramente revolucionaram a medicina. Os aprimoramentos no microscópio possibilitaram estudos mais detalhados dos tecidos, uma área denominada histologia. Isso levou à nova ciência das células, a citologia. Esses estudos abriram caminho para os importantes avanços teóricos e práticos que formaram a base da medicina na modernidade. Antes do golpe de Estado de 2016 no Brasil, conforme a Caixa Econômica Federal (CEF) o Programa Farmácia Popular ambicionava favorecer a população que possui problemas financeiros em manter tratamento de saúde adequado com relação à problemática de saúde. Desde 2010 a CEF representa órgão que recepciona e confere todos os tipos de documentações necessárias para a realização do credenciamento e renovação do “Programa Farmácia Popular do Brasil” via redes de agências distribuídas em todo território nacional.
             Trabalhadores que contribuem com o INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, independente se trabalham ou não com carteira regularmente assinada, possuem direitos trabalhistas em receber o auxílio-doença, programa do governo federal que ambiciona conceder bolsa-salário ao mês até o trabalhador estar apto para o trabalho. Podem obter os benefícios trabalhadores que contribuem à previdência social por pelo menos doze meses. O prazo não é exigido em casos de acidentes de qualquer natureza. Doenças profissionais ou adquiridas no trabalho têm isenção na data de colaborativa. Após a solicitação do auxílio os governantes enviam médicos aos solicitantes para realizar a perícia médica. A Organização Mundial da Saúde recomenda o uso do termo “produto farmacêutico intercambiável” ao invés do popularizado “medicamento genérico”, segundo suas novas diretrizes. A lei 9787 foi identificada como uma alternativa viável para o mercado farmacêutico de países ditos erroneamente do ponto de vista econômico “em desenvolvimento”, a fim de reduzir a dependência externa e os preços e custos dos medicamentos. Os preços reduzidos dos medicamentos ditos genéricos são justificados pelo menor investimento em marketing e pela ausência de despesas com o “desenvolvimento de princípios ativos e ensaios clínicos requeridos para um produto inovador”. Além disso, a presença de um medicamento genérico no mercado global fomenta a concorrência com os produtos de marca e inovadores, do mercado em contínua expansão e um maior número de opções ao consumidor, contribui  em tese indubitavelmente para a diminuição dos custos com terapêutica.
                        

            Trabalhadores que se filiaram à Previdência Social com doenças ou lesões contraídas de forma prévia. Funcionários incapacitados de exercerem atividades físicas ou mentais recebem visitas periódicas dos médicos da previdência social. Caso seja constatada condição para retornar as atividades profissionais, existe o plano de assistência profissional que consiste no encaminhamento dos cidadãos aos programas de reabilitação na profissão. Quem não participa corre risco de perder o benefício. Quando os trabalhadores recuperam a capacidade de trabalhar, o auxílio-desemprego deixa de ser pago. Empresas que entram com pedido de auxílio aos funcionários possuem vantagens de acompanhar todas as decisões do caso via rede mundial de computadores - internet. Os quinze primeiros dias de afastamento por doença são arcados sem o trabalhador exercer o itinerário. A partir do 16° dia o INSS tem responsabilidade trabalhista de pagar quantias asseguradas na  Consolidação das Leis Trabalhistas para auxiliar os trabalhadores enquanto não ocorre seu restabelecimento. Assegurados que exercem trabalhos domésticos recebem após o 30° dia do começo da incapacidade.
Existem casos nos quais os contribuintes precisam de novo auxílio por causa dos sintomas da mesma doença. Caso o novo afastamento dure mais de sessenta dias, o benefício é pago partindo da contabilização do novo afastamento. Existem enfermidades que estão na lista do benefício independente do tempo de colaboração: Tuberculose ativa, Hanseníase, Alienação Mental, Neoplasia Maligna, Cegueira, Paralisia irreversível, Cardiopatia Grave, Doença de Parkinson, Espondiloartrose, Anquilosante, Neuropatia grave, Doença de Paget Avançada, Osteíte Deformante, aids, Radiação, Hepatopatia grave. O crescimento da indústria farmacêutica no Brasil, observado principalmente na década de 1990, não foi acompanhado pelo aumento de produção da indústria farmoquímica, responsável pela fabricação dos princípios ativos e matérias-primas intermediárias, cujo desenvolvimento foi incipiente. Segundo dados da Associação Brasileira de Química Fina, aproximadamente 82 % dos farmoquímicos consumidos na indústria farmacêutica são importados, o que acentua a dependência externa de comercialização do mercado global de produtos químicos.

O investimento em pesquisa & desenvolvimento de farmoquímicos permanece muito aquém da demanda. Os recursos aplicados em pesquisas & desenvolvimento são oriundos majoritariamente das agências federal e estaduais de fomento e em menor escala por intermédio de parcerias entre laboratórios e universidades. Estatísticas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, indicam que o investimento total em farmacologia no espaço de tempo entre 1998 a 2000, subiu de R$4,6 milhões para R$5,6 milhões. Dados da ABIQUIFI indicam que no faturamento das indústrias de química fina - responsável pela produção dos princípios ativos e intermediários, os fármacos correspondem a aproximadamente 67% do total. O Vice-presidente da Abiquifi e CEO da Blanver, Sérgio Frangioni relatou que a cada ano que passa, os associados têm obtido melhora continua na qualidade de contatos e negócios. “No início de nosso projeto de internacionalização foi bastante desafiador perante os mercados mais tradicionais, contudo hoje com o mundo mais globalizado o mercado brasileiro é bastante reconhecido e disputado, oferecendo muitas oportunidades tanto na importação quanto na exportação”. Entidades congêneres como Abifina, Alanac, Alfob, Anbiotec, Sindusfarma, Interfarma, PróGenéricos e Grupo FarmaBrasil também apoiam ativamente do Projeto Setorial Brazilian Pharma Solutions e das ações do mesmo.
A 28ª edição da CPhI Worldwide ocorreu entre os dias 24 a 26 de outubro de  2017,  em Frankfurt na Alemanha. O pavilhão brasileiro marcará presença novamente neste tão importante evento para o setor farmacêutico, com a participação de mais 5 (cinco) empresas e com uma área maior do que esse ano. Estatisticamente o faturamento com farmoquímicos no curto período entre 1998 era de US$ 598 milhões e caiu para US$ 551 milhões em 2000. Já o faturamento de produtos farmacêuticos, caiu de US$ 10,31 bilhões em 1998 para US$ 7,48 bilhões em 2000. Boa parte dos custos para produção de farmacêuticos está concentrada na importação de matérias-primas. Segundo Ciro Mortella, presidente da Federação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas.  - “O problema do suprimento de matérias-primas é a variação cambial, que eleva seus preços. A indústria paga mais cara pelas importações, que pesam 30 % no custo final do produto”. O setor industrial é constituído por 369 empresas, sendo 17% delas de capital estrangeiro e 83 % de capital nacional. Concentram-se em sua grande maioria na região sudeste, onde a economia é a maior do país, com desenvolvimento maior desde a época colonial gerando 50.000 empregos diretos e 250.000 indiretos, segundo dados da Abifarma (2000).
É um setor caracterizado pela pulverização de mercado onde nenhuma empresa detém mais do que 8% de participação do mercado.  O número de apresentações comercializadas gira em torno de 11 mil. Segundo o grupo de executivos do mercado farmacêutico (GRUPEMEF), as vendas realizadas no período de 1997 até o primeiro semestre de 2003. Com o advento do controle de preços estabelecido pelo governo nos anos de 2002 e 2003, a indústria farmacêutica não tem conseguido repassar a seus clientes parte da elevação de custos de insumos que, em boa parte, são atrelados ao mercado financeiro do dólar, decorrentes da elevação cambial do último semestre de 2002. Os elementos mais importantes na comercialização dos produtos da indústria farmacêutica são os atacadistas/distribuidores que operam com aproximadamente 87% do volume total do mercado. O restante é preenchido por setores varejistas, drogarias, farmácias e os segmentos institucionais públicos e privados como hospitais e centros de saúde. O acesso a medicamentos é reconhecido pela Organização das Nações Unidas como um dos cinco indicadores sociais relacionados a avanços na garantia do direito à saúde. Estima-se que, no início do século XXI, uma em cada três pessoas no mundo não dispõe de acesso a esses insumos, sendo a pior situação verificada nos países de baixa e média renda, onde essa proporção pode chegar a 50%.
Nestes países, em apenas um terço das vezes, as instituições públicas têm os medicamentos essenciais disponíveis quando são procuradas pela população. O acesso aos medicamentos se dá mediante a disponibilidade destes, a capacidade aquisitiva das pessoas, sua acessibilidade geográfica e aceitabilidade, levando ao uso racional do produto. Estudos epidemiológicos demonstram que o acesso aos fármacos está associado com sexo feminino 5,6, maior idade 5,6,7, cor da pele parda e preta 5,8, nível socioeconômico mais elevado 5,7,8, presença de doença crônicas 6,7,8 e número de consultas médicas realizadas 6,8. No Brasil, a disponibilização de medicamentos de forma contínua e em quantidade adequada às necessidades da população ainda é um problema crônico. Apesar da regulamentação de políticas públicas a partir da década de 1990, formulada através da Política Nacional de Medicamentos (PNM), da Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF), e da chamada Política de Medicamentos Genéricos e o Programa Farmácia Popular.
              Além disso, o gasto privado na aquisição de remédios é expressivo no país, ao considerarmos a existência de um sistema de saúde público, com cobertura universal e sem pagamento direto dos usuários. O acesso insuficiente aos medicamentos está diretamente associado com piora do estado de saúde, maior uso de terapias adicionais, aumento no número de retornos aos serviços de saúde e gastos adicionais nos tratamentos. A existência entre posição socioeconômica e subutilização de medicamentos evidencia que expressiva parcela estatística da população tem o sistema público de saúde como única alternativa inviabilizada na terapêutica necessária. Portanto, uma grande parcela da população não goza de acesso à aquisição de medicamentos. Estudos e pesquisas realizados concretamente indicam que: a) 15 % da população consomem 48 % dos medicamentos reproduzidos; b) 34 % consomem 36 % dos medicamentos reproduzidos; c) 51 % consomem em torno de 16 % dos medicamentos produzidos industrialmente. Os produtos  farmacêuticos caracterizam-se pelo grau de exigência quanto ao preenchimento dos requisitos de fiscalização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, começando no âmbito do processo de trabalho de aquisição das matérias-primas, em seguida passando pelo processo produtivo, controle e garantia da qualidade, finalizado através do armazenamento e distribuição ao consumidor final. As relações de produção representam as formas como os seres humanos desenvolvem suas relações de trabalho e distribuição no processo de produção e reprodução da vida material. 
Nas sociedades de classes as relações de propriedade são expressões jurídicas das relações materiais de produção. Assim, nas sociedades de classes, as relações de produção são relações entre classes sociais, proprietários e não proprietários. As relações de produção, conjuntamente com as forças produtivas são os componentes básicos do modo de produção material da sociedade. As relações de produção mais importantes são aquelas que se estabelecem entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores apartados politicamente do controle social dos meios de produção. Isso porque todo processo produtivo, desde Marx, conta sempre com pelo menos dois agentes sociais básicos: trabalhadores e proprietários dos meios materiais de produção. A origem histórica das empresas multinacionais remonta ao processo de colonização e de expansão imperialista dos países da Europa Ocidental, iniciado no começo do século XVI, com Inglaterra e Holanda. Durante este período, diversas empresas, como a famosa Companhia Holandesa das Índias Orientais, foram criadas para realizar a comercialização de bens oriundos do Extremo Oriente, da África e das Américas. 
Todavia, a estruturação das empresas transnacionais como conhecemos hoje surgiu apenas no século XIX, com o advento do capitalismo industrial e o desenvolvimento no sistema fabril, baseado na mecanização intensiva da produção, no desenvolvimento de melhores técnicas de estocagem e na criação de meios de transporte mais rápidos. Nas duas primeiras décadas após a 2ª guerra mundial, as empresas internacionais norte-americanas dominaram o investimento estrangeiro, enquanto as corporações europeias e japonesas passaram a desempenhar um papel maior nesse cenário. Na década de 1950, os bancos americanos, europeus e japoneses começaram a investir enormes somas de dinheiro na indústria, encorajando fusões corporativas e promovendo a concentração do capital. Os grandes avanços tecnológicos no transporte marítimo e aéreo, bem como a informatização e a facilitação dos meios de comunicação propiciaram que as empresas internacionais investissem em  países e mercado de comércio internacional, resultando na rápida internacionalização. Enquanto isso, os novos recursos publicitários ajudaram a garantir uma parcela maior do mercado consumidor às empresas internacionais, ultrapassando os limites territoriais dos países de origem das empresas com a instalação de filiais em países em busca de mercado consumidor de energia, matéria-prima e mão de obra. 
Dentro do contexto da globalização, é muito comum que essas empresas produzam cada parte de um produto em países diferentes, com o objetivo de reduzir custos de produção. Portanto, essas empresas possuem influência que transcende a economia, pois elas interferem em governos e nas relações internacionais. Atualmente, estima-se que existam em funcionamento cerca de 50 mil empresas transnacionais, muitas originadas de países desenvolvidos, porém existem ainda corporações oriundas de países emergentes como Brasil, Coréia do Sul, Índia e México. Estas tendências foram determinantes para a consolidação do sistema oligopolista das empresas transnacionais e na assunção do papel central destas empresas no comércio global, de uma forma nunca antes vista. Nesse sentido, se em 1906, havia duas ou três empresas líderes, com ativos que giravam na cada dos 500 milhões de dólares estadunidenses, em 1971 havia 333 empresas deste tipo, sendo que um terço destas apresentava ativos na casa de pelo menos 1 bilhão de dólares estadunidenses. Aliás, neste período, cerca de 70 a 80% do comércio mundial era controlado e realizado por empresas transnacionais. Durante o último quarto do século XX, evidenciamos uma maciça proliferação de transnacionais. Se em 1970, havia cerca de 7 000 empresas transnacionais com controle acionário, esse número saltou para 38 000, sendo que 90% delas possuem sede nos países ricos e industrializados e controlam mais de 207 mil filiais estrangeiras.
Desde o início da década de 1990, as vendas globais destas filiais têm superando as exportações comerciais como principal veículo de fornecimento de bens e serviços aos mercados estrangeiros. A aparente prosperidade das empresas transnacionais é impressionante, pois a maior parcela dentre as 100 maiores empresas do mundo é composta exatamente por estas empresas. Em 1992, as 100 maiores companhias detinham ativos que giravam por volta dos 3,4 trilhões de dólares estadunidenses, dos quais cerca de 1,3 trilhões eram mantidos fora dos seus países de origem. Além disso, as 100 maiores empresas transnacionais representam cerca de um terço do investimento estrangeiro direto (IED) de seus países de origem. Desde meados da década de 1980, tem havido um grande aumento no investimento direto estrangeiro das empresas transnacionais. Ademais, entre 1988 e 1993, o estoque de IED – que é uma medida da capacidade produtiva das empresas transnacionais fora dos seus países de origem - cresceu de 1,1 para 2,1 trilhões de dólares estadunidenses em valor estimado.
Em relação aos países pouco industrializados, também nota-se um grande aumento no investimento estrangeiro realizado pelas empresas transnacionais, desde meados da década de 1980. Tal investimento, em conjunto com empréstimos bancários privados, cresceu de forma muito mais acentuada do que as ações estatais para o desenvolvimento nacional ou do que os empréstimos bancários multilaterais – aqueles realizados por instituições internacionais como o FMI, o Banco Mundial ou os bancos de desenvolvimento regionais. Os governos dos países em desenvolvimento, sobrecarregados pelas dívidas, pela baixa no preço das comodites, pelo ajustamento estrutural e pelo desemprego, têm visto as empresas transnacionais, nas palavras da revista britânica The Economist, como personificação da modernidade e de riqueza, cheias de tecnologia, ricas em capitais e postos de trabalho qualificados. Como resultado, observa-se, a tendência dos governos dos países em desenvolvimento de capitalizar cada vez mais o investimento econômico das empresas transnacionais inicialmente por meio da liberação das restrições ao investimento e pela privatização das empresas estatais. 
Em compensação, as empresas transnacionais veem os países menos industrializados não apenas sob o aspecto de potencial aumento de seu mercado consumidor, mas também como alternativa produtiva em razão dos custos operacionais mais baixos, menores salários e menor regulação ambiental e de saúde que estes países apresentam. Na segunda metade do século XX, ficou clara a relação conflituosa entre empresas multinacionais e o Estado. De um lado, existe o interesse estatal de gerar crescimento econômico, trazer investimento internacional, avanços tecnológicos, empregos e benefícios da atuação de empresas mundiais. Por outro lado, existe a questão da exploração de recursos naturais nacionais, da remessa de lucros para a matriz e de minar o desenvolvimento de empresas nacionais nascentes. Por serem mundiais, essas empresas conseguem comparar as características de cada país e analisar a relação de custo-benefício de cada localidade, podendo até barganhar com os governos a instalação de unidades, obtendo condições especiais para atuar. 
Esse fato gera uma contradição em que existe um favorecimento das maiores empresas em detrimento de pequenos negócios, levando-os a uma concorrência. A regulamentação das empresas multinacionais no plano internacional é tema de crescente interesse. A lógica de mercado das empresas multinacionais é a da maximização do lucro, orientando seus investimentos pela busca de oportunidades de expansão comercial, aliada à “segurança jurídica” propiciada pela existência de regras contratuais claras e respeitadas por um sistema jurídico eficaz. O Estado tem de competir no mercado internacional para atrair os investimentos estrangeiros para seu território e vice-versa, mesmo que isso implique em fazer concessões passíveis de atingir o consumo do mercado interno, o qual o Estado também deve em tese proteger. Os chamados “países desenvolvidos” buscam a moralização de determinadas condutas das empresas transnacionais, o estabelecimento de condições de igualdade de concorrência e uma legislação simplificada e fundada no direito internacional, em substituição das diversas legislações, os chamados “países em desenvolvimento” buscam reequilibrar as desigualdades existentes entre as empresas multinacionais e locais, além de também possuírem interesse na moralização das condutas dessas empresas.
Na década de 1970, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a definir, entre suas prioridades, o desenvolvimento de um código de conduta internacional para grandes corporações, bem como lançou a Comissão e o Centro de Empresas Transnacionais. Mas a oposição das grandes potências corporações levou a que, anos depois, ambos os casos fossem desmantelados e que a legislação nunca chegasse a ser concretizada. Em seu lugar, no final dos anos 1990, surgiram a responsabilidade social corporativa e o Pacto Global, símbolos do discurso oficial da Organização das Nações Unidas de lógica da obrigatoriedade para a filosofia da voluntariedade. Em 1976, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) emitiu a Declaração da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacionais, da qual fazem parte as Diretrizes para Empresas Multinacionais. Tais diretrizes descrevem o comportamento esperado pelas multinacionais e recomendações para uma conduta empresarial responsável em diversas questões sociais e ambientais. O documento foi aderido pelo Brasil em 1997, sendo reafirmado em junho de 2000 ao final da revisão do documento. As decisões da OCDE têm sido bastante prestigiadas, tanto por contar com um mecanismo de reexame periódico, que permite avaliar a eficácia da regulamentação, quanto por possuir um sistema de esclarecimento, que fornece as explicações necessárias para uma correta interpretação desses textos. 
Desde a década de 1970 quando surgiram diversas revelações políticas acerca de propinas, comissões e pagamentos ilícitos e depois que os tribunais começaram impor a legislação antitruste em vigor, como no caso Lockheed, por exemplo, alguns Estados têm exigido, das empresas transnacionais, maior transparência (disclosure). A prática do disclosure obedece aos princípios da “boa governança corporativa”. A prática de transparência não se relaciona somente à pretensão punitiva do Estado em relação aos potenciais casos de corrupção. Vale lembrar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária é uma agência reguladora, sob a forma de autarquia de regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde. A agência exerce o controle sanitário de todos os produtos e serviços nacionais ou importados submetidos à vigilância sanitária, tais como medicamentos, alimentos, cosméticos, saneantes, derivados do tabaco, produtos médicos, sangue, hemoderivados e serviços de saúde.  A autarquia foi criada no governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso pela lei nº 9.782, de 26 de Janeiro de 1999. Seu objetivo como política pública é promover e proteger a saúde da população, intervindo nos riscos decorrentes da produção e do uso de produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária, em ação coordenada com os Estados, municípios e Distrito Federal, de acordo com os princípios técnicos e administrativos do Sistema Único de Saúde (SUS), para melhoria da qualidade de vida e condições sociais da população. O mercado brasileiro também conta com medicamentos de referência e similares. Os medicamentos de referência, também reconhecidos como inovadores ou de marca de produto comercial, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente. 
O trabalho junto ao órgão federal competente no momento do registro, são os produtos que se encontram há bastante tempo no mercado global e têm uma marca comercial reconhecida. Os similares são medicamentos que possuem o mesmo fármaco.A mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência, contudo não apresentam o teste de bioequivalência comprovado. Por gerar polêmicas em torno da qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos, a Lei nº 9.787/99, depois de iniciada sua regulamentação, passou a ser combatidas pelas indústrias fabricantes multinacionais de produtos de marca que são céticas e fizeram críticas e restrições ao decreto dos genéricos. Em verdade objetivavam manter o monopólio através de uma espécie de “reserva de mercado” e, portanto, tendo como objetivo político  a hegemonia das marcas comerciais. No entanto, é clara eticamente a necessidade de um controle de qualidade dos produtos liberados no mercado, para que a política de regulamentação dos genéricos seja segura e atinja seus objetivos comerciais. 
Um medicamento genérico é uma droga definida como um medicamento que é comparável ao medicamento de marca/referência na forma de dosagem, a força mercadológica de ação, via de administração, características de qualidade, desempenho e uso pretendido. Também tem sido definido erroneamente como termo que se refere “a qualquer medicamento comercializado sob o seu nome químico”. Embora não possa ser associado a uma empresa particular, os medicamentos genéricos são sujeitos aos mesmos regulamentos dos governos dos países em que são dispensados​​. Os medicamentos genéricos são identificados com o nome do fabricante (empresa comercial) e o nome adotado (nome não proprietário) da droga. Na embalagem dos genéricos, há a frase “Medicamento genérico - Lei 9.787/99” e uma grande letra “G” azul impressa sobre uma tarja amarela, situada na parte inferior das embalagens do produto. Os similares e os medicamentos ditos “de marca” não contêm estas referências, sendo que o usuário deve buscá-la no tipo de medicamento através do nome e indicação de seu médico. Ao contrário dos remédios similares, que não tem eficiência igual comprovada aos medicamentos, o produto genérico só é aprovado quando sua efetividade clínica concreta puder ser considerada igual ou equivalente ao produto industrial. 
Bibliografia geral consultada.
FUNCIA, Francisco Róża, Os Condicionamentos Político Institucionais do Processo de Implantação e Operação do Sistema Único de Saúde sob a Ótica Municipal: A Experiência de São Bernardo do Campo. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Administração. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998;  MELO, Enirtes Caetano Prates, Infarto Agudo do Miocardio no Município do Rio de Janeiro: Qualidade dos Dados, Sobrevida e Distribuição Espacial. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro. Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz, 2004; MESSENDER, Ana Márcia, Avaliação de Estrutura e Processos de Serviços de Farmácia Hospitalar Segundo Nível de Complexidade do Hospital. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2005; ANGELL, Marcia, A Verdade sobre os Laboratórios de Farmácia. Rio de Janeiro: Editor Record, 2007; CYTRYNOWICZ, Monica Musatti, Origens e Trajetórias da Indústria Farmacêutica no Brasil. São Paulo: Editora Narrativa Um, 2007; JUNGES, Fernanda, Avaliação do Programa Farmácia Popular do Brasil: Aspectos Referentes a Estrutura e a Processos. Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; CARRIJO, Alessandra Rosa, Ensino de História da Enfermagem: Formação Inicial e Identidade Profissional. Tese de Doutorado. Escola de Enfermagem. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012; PEREIRA, Marco Aurélio, Programa Farmácia Popular no Brasil: Uma Análise sobre sua Relação com o Complexo Econômico-Industrial da Saúde e os Programas Estratégicos do Governo Federal. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; Fundação Oswaldo Cruz, 2013; BATISTA, Natalia Bousquet, Avaliação do Impacto do Programa Farmácia Popular em uma Rede Independente. Dissertação de Mestrado. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2015; ALMEIDA, Silvia Rebouças Pereira de, Políticas Públicas para o Acesso aos Medicamentos no Brasil: O Caso da Farmácia Popular. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016; entre outros.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O Segundo Aparente Estigma na Vida de Fidel Castro.

                                                                                     Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

           “A história da Revolução Cubana é a história de Fidel”. Claudia Furiatti

                       
O primeiro estigma de Fidel Castro é descrito pelo diário espanhol El País quando narra que sua biografia começa no dia 13 de agosto de 1926 no pequeno povoado de Birán, perto de Holguín, na antiga província cubana do Oriente. Foi o terceiro dos sete filhos nascidos “fora do casamento por Angel Castro, um rude fazendeiro galego que chegou a Cuba como soldado de reposição no final da guerra de Independência, e a cubana Lina Ruz, que trabalhava como empregada na propriedade familiar”. Até se divorciar da sua primeira esposa e se casar com Lina, no início dos anos 1940, Angel “não deu aos filhos o sobrenome Castro, razão pela qual até o final da adolescência Fidel carregou o estigma de ser filho bastardo”. Mas este nexo ideológico não o impediu de se destacar como um aluno arrojado e brilhante nos internatos jesuítas os quais passou. Primeiro em Santiago de Cuba, depois em Havana, mas que se incrustou no núcleo do seu caráter. Vale lembrar que a sociologia de Erving Goffman fez avanços substanciais no estudo da interação “face-a-face”, elaborou a “abordagem dramatúrgica”, a interação humana, e desenvolveu inúmeros conceitos que tiveram uma grande influência, particularmente no campo da microssociologia da vida cotidiana, representado pelo “estigma”. Goffman foi o pioneiro em pensar o conceito de estigma numa perspectiva social. Estigma é uma relação entre atributo e estereótipo, e tem sua origem ligada à construção social dos significados através da interação. Muitas de suas obras tratam da organização do comportamento cotidiano, um conceito que ele chamou de “ordem da interação”. 
Ele contribuiu para o conceito sociológico de “enquadramento” (“frame analysis”). Nesta relação argumentou que a atividade de falar deve ser vista como um bem social, em vez de uma construção linguística. A partir da perspectiva metodológica, muitas vezes emprega abordagens qualitativas. A mais famosa revela-se em seu estudo sobre os aspectos sociais da doença mental, em particular no funcionamento das “instituições totais”. Analogamente no filme “O Estranho no Ninho” (1965) que se torna um clássico na interpretação de Jack Nicholson. Se a psiquiatria não existisse, talvez o cinema a teria inventado. As duas áreas tratam, fundamentalmente, do comportamento humano e do período de aceitação e popularidade, se tornaram importantes influências culturais que interagem num espaço da modernidade em constante modificação. Seu nome era Fidel Alejandro. Mas quem teve acesso às suas certidões de nascimento, devido à condição original de filho ilegítimo, posteriormente regularizado assegura que ele teve outros nomes. A historiadora brasileira Cláudia Furiati foi a primeira a documentar o assunto. No livro: “Fidel Castro: A História me Absolverá” (2003), ela diz que, em sua certidão de batismo de 1935, Fidel está registrado como Fidel Hipólito Ruz González. 
Em 1938, consta outro nome: Fidel Casiano Ruz González. E, finalmente, em 1941, quando foi reconhecido, o líder cubano passa a se chamar Fidel Alejandro Castro Ruz, nome pelo qual ficou conhecido até hoje. Sobre o assunto, Fidel Castro disse apenas que “em 13 de agosto, de fato o dia de seu aniversário, coincide com o dia de São Hipólito Casiano”, mas afirma ainda que: “me deram o nome de Fidel por causa do homem que ia ser meu padrinho”. O jornal El País publicou um longo texto sobre Fidel castro, falecido aos 90 anos na sexta-feira (25/9) em Havana. O editorial afirma que “é considerado um líder autoritário ou simplesmente um tirano para meia humanidade”, lenda revolucionária e flagelo do “imperialismo ianque” para os mais despossuídos e para a esquerda militante. O jornal liberal-conservador Folha de SPaulo considera “Fidel Castro, líder da Revolução Cubana e da única ditadura remanescente nas Américas”. Fidel Castro era o último sobrevivente da chamada “Guerra Fria” e certamente o ator político do século XX que mais manchetes de jornal acumularam ao longo de seus 47 anos sob o estigma absoluto de ditador cubano. Um poder caudilhista que começou no dia 1º de janeiro de 1959, após derrotar pelas armas o regime de Fulgêncio Batista que inicialmente subiu ao poder como parte da “Revolta dos Sargentos” que derrubou o regime autoritário de Gerardo Machado (1933), em seguida, nomeou a si mesmo chefe das forças armadas, com a patente de coronel, controlou os membros da Presidência.



Ele manteve esse controle através de uma série de presidentes fantoches até 1940, quando ele próprio era eleito Presidente de Cuba em uma plataforma populista. Ele então instalou a Constituição de Cuba de 1940, considerado progressista e serviu até 1944. Depois de terminar seu mandato ele viveu nos Estados Unidos, retornando à Cuba para concorrer à presidência em 1952. Enfrentando a derrota eleitoral, ele liderou um golpe militar que antecipou a eleição. No primeiro período de seu governo entre 1933 e 1944, exerceu um governo forte. Consolidou o seu poder concentrando em si todas as nomeações para os cargos públicos. Durante seu primeiro mandato, Cuba cooperou na 2ª guerra mundial com os aliados e declarou guerra ao Japão, Alemanha e Itália. De volta ao poder, suspendeu a Constituição de 1940 e revogou a maioria das liberdades políticas, incluindo o direito à greve. Alinhado com os latifundiários ricos que possuíam as maiores plantações de açúcar, presidiu uma economia estagnada que aumentou o fosso entre os cubanos ricos e pobres. Com o governo cada vez mais corrupto e repressivo de Batista, começou a lucrar de forma sistemática a partir da exploração de comercial de interesses em Cuba, através da negociação de relações lucrativas com a máfia americana, com drogas, jogos de azar. 
Empresas de prostituição em Havana e multinacionais com sede nos Estados Unidos da América que foram adjudicados contratos lucrativos. Com o descontentamento com a via institucional e o fracasso de seus passos, a década de 1950 foi marcada pelo surgimento e desenvolvimento de novos grupos dispostos à luta armada contra Batista, tais como o Movimento 26 de Julho, liderado por Fidel Castro, o Directorio Revolucionario, cuja maior liderança era José Antonio Echevarria, algumas facções do Partido Autêntico, o MNR (“Movimento Nacional Revolucionário”), fundada por García Bárcena, a AL (“Ação Libertária”), organizada pelo político Justo Carrillo, etc. A oposição radical contra o governo possuía em comum o desprezo pela via institucional como solução para o fim da ditadura de Fulgêncio Batista. Acreditavam que eleições organizadas pelo próprio governo seriam meras formas de reprodução da elite política vinculada a Batista no poder. Pleiteavam a via insurrecional que eliminasse a ditadura e instaurar a libertação cubana, com transformações econômicas, políticas e sociais em conjunto.
Para acalmar o descontentamento crescente da sociedade civil, a qual foi posteriormente exibida através de frequentes revoltas estudantis e manifestações - Batista, que estabeleceu a mais apertada censura dos meios sociais de comunicação, ao mesmo tempo, utilizando o seu “Bureau de Repressão de Atividades Comunistas” para levar a cabo em larga escala a violência, tortura e execuções públicas; em uma última análise, matando aproximadamente entre 1.000 a 20.000 pessoas. Durante vários anos até 1959, seu governo recebeu apoio financeiro, militar e logístico dos Estados Unidos. Instaurou um regime autoritário, mandando prender os seus opositores e restringindo as liberdades através do controle da imprensa, da universidade e do congresso, utilizando-se para isso métodos terroristas e fazendo fortuna para si e para seus aliados. O regime de Batista foi derrubado em 1959 pelas forças rebeldes comandadas por Fidel Castro, Che Guevara e Raul Castro. Abandonou Cuba em 31 de dezembro de 1958, exilando-se primeiro na República Dominicana, posteriormente na Ilha da Madeira, em Portugal, e depois na Espanha, onde faleceu em Marbella, em decorrência de um infarto. O apoio do governo dos Estados Unidos ao governo ditatorial de Fulgêncio Batista (1952-59) foi um episódio emblemático da Guerra Fria, graças às suas posições favoráveis aos negócios norte-americanos na ilha. Earl E. T. Smith era o embaixador norte-americano em Cuba nos dois anos que precederam a queda do ditador Batista. 
No caso de Fidel Castro o periódico El País descreve que nem mesmo no ocaso de sua existência, depois que uma doença o afastou do governo (2006), “sua influência desapareceu da ilha que sempre foi pequena demais para ele”. Como marxista a concebia o âmbito da revolução universal, seu objetivo na vida. Somente uma imprensa demagógica e acanalhada como a brasileira seria capaz de publicar manchetes tão estarrecedoras sobre a morte de Fidel Castro como fez a Folha de S. Paulo. Os grandes jornais do mundo publicaram manchetes reforçando a liderança de Fidel. Ainda que o jornal quisesse por seu ultraconservadorismo levar a palavra ditador para a manchete, podia ao menos fazer eticamente como inúmeros jornais que deram uma dualidade estrutural, em oposição assimétrica de quem o considerava ditador e de quem o considerava uma liderança legítima.  A palavra ditador vem de um jornal que apoiou a ditadura militar no Brasil. Que fornecia seus carros para servir aos torturadores do golpe de Estado de 1° de abril de 1964. Que jamais chamou os generais brasileiros de ditadores, ainda que eles tenham torturado/assassinado, jornalistas como Vlado Herzog. 

Vlado Herzog nasceu na cidade de Osijek, na então Iugoslávia, em 1937, filho de um casal de origem judaica. Durante a 2ª guerra mundial, para escaparem do antissemitismo praticado pelo Estado fantoche da então Croácia, controlada pela contrarrevolucionária Alemanha nazista, a família Herzog imigrou primeiramente para a Itália, onde viveram clandestinamente até imigrarem para o Brasil. Naturalizado brasileiro, Vladimir Herzog tinha paixão pela fotografia, atividade que exercia por conta de seus projetos coletivos com o cinema. Passou a assinar “Vladimir” por considerar que seu nome soasse exótico para os brasileiros. Herzog se formou em Filosofia pela Universidade de São Paulo, em 1959. Na década de 1970, assumiu a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura (SP) e também de professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo. É uma instituição pública de ensino superior localizada na cidade de São Paulo. Como parte da Universidade de São Paulo, é considerada uma unidade de ensino, pesquisa e extensão. A ECA foi fundada em 15 de junho de 1966, e hoje é formada por oito departamentos e pela Escola de Arte Dramática (EAD). Oferece 21 cursos em nível de graduação, 13 desses cursos de formação na área de Artes e 8 cursos voltados às comunicações. Seus alunos e ex-alunos são reconhecidos como Ecanos.

  O Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC) é responsável pela representação dos alunos perante os professores e a Universidade. Foi fundado em 1968, em homenagem a uma professora e poeta da ECA, Maria José Lupe Cotrim Garaude Gianotti. O Centro Acadêmico organiza discussões e debates sobre as questões relativas aos cursos, às formações em Comunicações e Artes e á universidade e organiza os estudantes em torno dessas questões. O CALC também organiza as eleições para representação discente (RDs), além de eventos culturais, como a QuintaiBreja, e festivais de arte e música. A gestão é eleita anualmente. A atlética da Escola de Comunicações e Artes surgiu em 1971, mas somente em 1990 ela se separou do Centro Acadêmico e se tornou independente, constituindo a Associação Atlética Acadêmica Lupe Cotrim, ou simplesmente Ecatlética, como é reconhecida. As cores da Ecatlética representam o amarelo e o roxo, e a principal competição de que a faculdade participa são os Jogos Universitários de Comunicação e Artes (JUCA), reunindo as principais instituições de ensino de comunicações e artes de São Paulo. Em 2007, a Escola de Comunicações e Artes conquistou o primeiro título geral do campeonato e em 2010 veio o bicampeonato. E também participa do BIFE, jogos universitários que atualmente contam com 12 faculdades da Universidade de São Paulo.

    Em 1974, o general Ernesto Geisel tomou posse da presidência da República com um discurso de abertura política chamado de “distensão”, o que na prática significaria a diminuição da censura, investigar as denúncias de torturas e dar maior participação aos civis no governo. Todavia, o governo enfrentava dois infortúnios: na política a derrota nas eleições parlamentares e na economia crise mundial do petróleo. Além disso, o general Ednardo D`Ávila Mello, comandante do II Exército, afirmava  que os comunistas estariam infiltrados no governo de São Paulo, na época chefiado por Paulo Egydio Martins, o que criou uma certa contradição entre estes. Nesta conjuntura, a linha dura sentiu-se ameaçada, e em 1975 a repressão continuava forte. O Centro de Informações do Exército (CIE) se voltou essencialmente contra o Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual Herzog era militante, mas não desenvolvia atividades clandestinas. Através do jornalista Paulo Markun, Herzog chegou a ser informado que seria preso, mas não fugiu.  Agentes do II Exército convocaram Vladimir para prestar depoimento sobre as ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), partido político na ilegalidade durante o regime civil-militar que teve início com o golpe de Estado de 1° de abril de 1964. No dia seguinte, Herzog compareceu espontaneamente ao DOI-CODI, um órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo durante a ditadura que se seguiu ao golpe militar de 1964.

 A estabilidade política alcançada no governo Médici de 1969 a 1974, possibilitou ao presidente indicar o nome do seu sucessor. As eleições indiretas para presidente da República, realizadas no Congresso Nacional, não passavam de fachada com objetivo de encobrir o processo eleitoral de natureza antidemocrática. O governo dispunha de folgada maioria no Congresso Nacional. O partido governista, a Aliança Renovadora Nacional, controlava o Senado e Câmara Federal. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que fazia o papel da oposição consentida no período da ditadura, lançou uma candidatura de protesto com Ulysses Guimarães, candidato à presidência; e Barbosa Lima Sobrinho, como vice-presidente. Conforme o esperado, o Congresso Nacional referendou o nome de Ernesto Geisel como presidente da República. O tecnoburocrata E. Geisel assumiu o governo prometendo retorno à democracia por meio de um processo gradual e seguro.  Em 25 de outubro de 1975, Rua Tutóia, cidade de São Paulo. Nas dependências do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna – um homem é torturado com pancadas e choques elétricos. Seus companheiros, na sala ao lado ouvem seus gritos. O homem recusa-se a assinar um suposto depoimento por não admitir que as informações constantes naquele pedaço de papel sejam verdadeiras. Ele não escrevera nenhuma palavra daquilo. Em um ato de indignação, rasga o papel. E num ato de maior, mesclado a ira, seu torturador o esbofeteia. Os amigos, na outra sala, não ouvem mais seus gritos. Algumas horas mais tarde, dentro de uma cela no mesmo departamento, uma foto do homem morto, amarrado por uma tira de pano em um pequeno pedaço de ferro no alto da cela. 

O Inquérito Policial Militar, IPM apresenta como causa da morte “suicídio por enforcamento”. Esta era a versão oficial sustentada pelos militares no poder e ignorada pela família. Vladimir Herzog havia sido assassinado e seus torturadores haviam montado uma farsa grotesca para encobrir a barbaridade que haviam cometido. Chegou à sede DOI-CODI, às 8 horas, levado àquele endereço pelo jornalista Paulo Nunes, que cobria a área militar na redação da Cultura e dormira na casa do diretor da TV naquela noite para assegurar que ele se apresentaria na instalação militar logo cedo. Nunes foi dispensado na recepção e Vlado encaminhado para interrogatório. Foi então encapuzado, amarrado a uma cadeira, sufocado com amoníaco, submetido a espancamento e choques elétricos, conforme o manual ali praticado e seguindo a rotina a que foram submetidos centenas de outros presos políticos nos centros de tortura criados pela ditadura e financiados em boa parte por empresários que patrocinavam ações repressivas e de violação dos Direitos Humanos, como a Operação Bandeirante. - “Naquela cela solitária, com o ouvido na janelinha, eu podia ouvir os gritos: ‘Quem são os jornalistas? Quem são os jornalistas?’ Pelo tipo de grito, pelo tipo de porrada, sabia que estava sendo feito com alguém exatamente aquilo pelo que eu tinha passado, recordou, em 1992, em depoimento ao jornal Unidade, do sindicato da categoria, o jornalista Sérgio Gomes, que estava preso no mesmo DOI-CODI em que Vlado se encontrava naquele dia. - “Lá pela hora do almoço há uma azáfama, uma correria”.

  Ele foi torturado durante toda a manhã e se dá o tal silêncio. A pessoa para de ser torturada e em seguida há uma azáfama, uma correria…A gente percebe que tem alguma coisa estranha acontecendo. Tinham acabado de matar o Vlado”. Mas o assassinato brutal, por espancamento, não era o limite a que podiam chegar os feitores do regime ditatorial. Esquivar-se da responsabilidade pelo crime forjando uma inverossímil cena de suicídio seria o próximo passo dos torturadores. Com uma tira de pano, amarraram o corpo pelo pescoço à grade de uma janela e convocaram um perito do Instituto Médico Legal para fotografar a “prova” de que o preso dera fim à própria vida, em um surto de enlouquecido arrependimento por ter escrito uma confissão que aparecia rasgada, no chão, na imagem divulgada pelos órgãos de repressão. A cena da morte de Vlado, fotografada pelo perito do IML, foi representada pelo artista Elifas Andreato no quadro “25 de Outubro”.

Etnograficamente na pressa para montar esse “circo macabro”, os torturadores ignoraram detalhes como o fato de Vlado Herzog ser mais alto do que a janela com grade onde supostamente enforcou-se e a rotina de encarceramento que tira dos presos qualquer instrumento com o qual se possam enforcar, cintos e cadarços entre eles. Criaram, assim, uma mentira tão flagrante que a Sociedade Cemitério Israelita nem considerou a hipótese de enterrar o corpo na área reservada aos suicidas, como determina a prática e ética religiosa. Mas, no Inquérito Policial Militar que viria a ser instaurado em razão da morte ocorrida em instalação oficial, o promotor Durval de Araújo – um defensor e protegido do regime – ainda sustentaria que o sepultamento aconteceu no setor de suicidas, recorrendo a depoimentos contraditórios e, mais que isso, se esforçaria para distorcer o que diziam vários depoentes. A mãe de Vlado disse que sentiu que queria morrer ao receber a notícia da perda do filho. O promotor tentou registrar que ela “sentiu vontade de suicidar-se também”. 

O segundo estigma de Fidel Castro advém da origem da palavra ditador, que no âmbito da linguagem refere-se ao Latim dictare, “dizer repetidamente”, de dicere, “dizer, falar, contar”. Mesmo longe dos holofotes, ele ainda é lembrado pela força da sua oratória. O líder cubano fez história pelos longos discursos que costumava proferir. A duração dos seus discursos representou um aspecto marcante em sua comunicação. Dificilmente as pessoas analisam as técnicas metodológicas que utilizou para falar em público, mas, sim, “como conseguia falar por tanto tempo”. Ou melhor, como o público conseguia enredar-se em sua produção discursiva. Fidel podia ser prolixo, é verdade, entretanto, ninguém pode negar que foi muito habilidoso nos palanques. Ao contrário do que alguns imaginam o público não ouvia seus discursos por obrigação. A plateia não se cansava e tinha prazer em permanecer horas apreciando suas apresentações. Ele sempre será lembrado como um dos maiores oradores de todos os tempos. 
Seu primeiro grande discurso ocorreu em 1956 quando falou durante cinco horas, para dizer que a “História o absolveria”. Superou essa marca em 1959, em que manteve a atenção do público durante sete horas, após ter derrubado o ditador Fulgêncio Batista. E bateu seu próprio recorde em 1998, em que falou em durante 7h15. Isso mesmo - sete horas e quinze minutos de discurso. Um fato curioso sobre os longos discursos de Fidel Castro ocorreu em setembro de 2000, na “Cúpula do Milênio”, em Nova York. Ao se dirigir à Tribuna da Assembleia da Organização das Nações Unidas, havia na plateia uma enorme expectativa para saber como o orador, que gostava de falar tanto, poderia restringir seu discurso ao tempo máximo determinado de 5 minutos. Prevaleceu a genialidade de Fidel que, ao chegar diante do público e deparar-se com a lâmpada amarela localizada sobre a tribuna, indicando que o tempo do discurso estava se esgotando, retirou um lenço branco do bolso e a cobriu ostensivamente, de maneira irônica, posto que a questão do tempo para ele não seria considerada. Sua competência oratória e sua habilidade para liderar as plateias jamais deixarão de ser admiradas.
Em seus últimos meses de vida, o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro (1926-2016), ficou distante de atividades públicas. Pouco antes de completar 90 anos de idade, realizou seu último discurso, em abril deste ano, durante o encerramento do VII Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC). Na ocasião, ele falou do futuro do comunismo e da sua própria morte. Com o falecimento de Fidel Castro na noite desta sexta-feira (25/11/2016), o governo de Cuba decretou nove dias de luto nacional, contados a partir deste sábado (26). Havana também anunciou que o funeral de Fidel será no dia 4 de dezembro, no cemitério Santa Efigência, na cidade de Santiago de Cuba. Mas o corpo do ex-comandante-em-chefe deve ser cremado, conforme a vontade do Fidel informou seu irmão e sucessor político, Raúl Castro. Em seu último discurso político para o povo cubano afirmou Fidel Castro: - “Devo, em breve, cumprir 90 anos, eu nunca teria pensado em tal ideia e isso nunca foi o resultado de um esforço, foi capricho da sorte. Logo serei, já como todos os demais. A todos nós chegará nossa vez, mas ficaram as ideias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se você trabalha com fervor e dignidade, é possível produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos necessitam, e nós devemos lutar incansavelmente para obtê-los. Para nossos irmãos da América Latina e do mundo, devemos transmitir que o povo cubano vencerá. 
Talvez seja a última vez fale nesta sala. Eu votei em todos os candidatos apresentados para consulta pelo Congresso e agradeço ao convite e a honra de que me escutem. Felicito a todos, e, em primeiro lugar, ao companheiro Raul Castro por seu magnífico esforço. Empreenderemos a marcha e aperfeiçoaremos o que devemos melhorar, com a máxima lealdade e força unida, como Martí, Maceo e Gómez em marcha imparável. Fidel Castro Ruz”. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, expressou neste sábado sua tristeza pela morte do líder da Revolução cubana Fidel Castro, de Antananarivo, onde participa da 16º cúpula de Francofonia. Trudeau lamentou a morte de um velho amigo de seu país e de sua família, recordando a relação que seu pai, o falecido primeiro-ministro canadense Pierre-Elliott Trudeau (1919-2000). – “Hoje me inteirei com profunda tristeza da morte do presidente cubano que mais tempo exerceu essa função”, declarou Trudeau em um comunicado divulgado da capital de Madagascar. O dirigente canadense classificou Fidel Castro politicamente como uma “figura controversa”, mas defendeu parte do legado de suas conquistas enquanto esteve à frente do país. O presidente do México, Enrique Peña Nieto, lamentou a morte do “pai da revolução cubana”, destacando que o líder revolucionário “Fidel Castro foi um amigo do México, promotor de uma relação bilateral baseada no respeito, no diálogo e na solidariedade”.


O presidente do Equador, Rafael Correa, destacou que “se foi um grande. Morreu Fidel. Viva Cuba! Viva América Latina!”. O presidente salvadorenho, o ex-comandante guerrilheiro Salvador Sánchez Cerén, declarou-se muito triste com a morte de Fidel.- “Com profunda dor, recebemos a notícias do falecimento de um querido amigo e eterno companheiro, comandante Fidel Castro”, escreveu Sánchez Cerén. O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev prestou sua homenagem neste sábado ao falecido pai da revolução cubana Fidel Castro, que fortaleceu seu país e resistiu ao bloqueio norte-americano. – “Fidel resistiu e fortaleceu seu país durante o bloqueio americano mais duro, quando havia uma pressão colossal sobre ele e ainda assim tirou seu país desse bloqueio para um caminho para um desenvolvimento independente”, declarou Gorbachev, citado pela agência de notícias russa Interfax.
A imprensa internacional repercute com destaque a morte do líder cubano Fidel Castro, aos 90 anos. A rede de televisão ABC News disse que Fidel colocou Cuba no cenário mundial e se tornou um ator de grande destaque mundial. Mas a emissora lembrou também que o líder cubano tinha inimigos e foi adversário de 11 presidentes norte-americanos durante o período em que eles ocuparam a Casa Branca. A rede de televisão CBS News transmitiu a reação de uma multidão de exilados cubanos, que vivem há décadas nos Estados Unidos. Os cubanos reunidos em frente ao restaurante Versailles, em Little Havana, um bairro de exilados cubanos que fica em Miami, na Flórida, entoam cânticos de “Viva Cuba” e acenando com bandeiras cubanas. De acordo com a emissora MSNBC News, Fidel Castro desafiou os esforços dos Estados Unidos para derrubá-lo por cinco décadas. Segundo a emissora de televisão, Fidel costumava afirmar que sobrevivera a 634 tentativas e/ou conspirações para assassiná-lo, principalmente comandadas pela CIA e por organizações de exilados que vivem nos Estados Unidos. Segundo a emissora, os relatos de Fidel Castro afirmavam que “as tentativas para matá-lo incluíam pílulas de veneno, charuto tóxico, explosões e uma roupa de mergulho quimicamente contaminada”.
Bibliografia geral consultada.
FERNANDES, Florestan, Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1979; CASTRO, Fidel, Nada Podra Detener la Marcha de la História. Entrevista concedida a Jeffrey Elliot y Mervin Dymally. La Habana: Editora Política, 1985; SZULC, Tad., Fidel: um retrato crítico. São Paulo: Editora Best Seller, 1986; LAZO PÉREZ, Mario, Recuerdos de Moncada. La Habana: Editora Politica, 1987; BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz, De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a América Latina. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1998; BORDIEU, Pierre, Otros pasos del Gobierno Revolucionario Cubano. La Habana: Editorial de Ciencias Sociales, 2002; TEIXEIRA, Rafael Saddi, A Dominação Carismática de Fidel Castro (1952-1960). Dissertação de Mestrado em História. Universidade Federal de Goiás: Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia, 2004; AYERBE, Luís Fernando, A Revolução Cubana. São Paulo: Editora UNESP, 2004; SALES, Jean Rodrigues, O Impacto da Revolução Cubana sobre as Organizações Comunistas Brasileiras (1959-1974). Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Departamernto de História. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2005;  PRADO, Giliard da Silva, Guerrilhas da Memória: Estrate´gias de Legitimação da Revolução Cubana (1959-2009). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas. Departamernto de História. Brasília: Universidade de Brasília, 2013; PRATES, Thiago Henrique Oliveira, “O Mundo não Acaba no Malecón”: Exílio, Intelectuais e Dissidência Política nas Revistas Encuentro de la Cultura Cubana e Revista Hispano-Cubana (1996-2002). Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; FURIATI, Claudia Maria Thiebaut, Fidel Castro - Uma Biografia Consentida. 5ª edição. Revista, ampliada e atualizada. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2016; PASQUALINO, Beatriz Buschel, A Rádio Rebelde como Arma da Guerrilha na Revolução Cubana. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estaduald e Campinas, 2016;   entre outros.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Londres Operária - Nascimento da Teoria e do Pensamento de Marx.

                                                                                    Giuliane de Alencar & Ubiracy de Souza Braga

 Sou uma máquina condenada a devorar livros”. Carta de Marx a Engels, de 11 de abril de 1868.

    

   Karl Marx escreveu seu famoso livro: O Capital - Crítica da Economia Política, na sala de leitura da Biblioteca Britânica. A British Library é a Biblioteca Nacional do Reino Unido, uma das maiores do mundo. Atualmente, o seu acervo possui aproximadamente 150 milhões de itenscatalogados e a cada ano incorporam-se à coleção cerca de três milhões de itens novos. A Biblioteca Britânica contém, além de livros, mapas, jornais, partituras, patentes, manuscritos, selos, dentre outros materiais. Todos estão dispostos sobre 625 km de prateleiras que crescem 12 km a cada ano. O espaço físico para a leitura possui capacidade para mil e duzentos leitores. Entre as coleções especiais da Biblioteca Britânica, consta o caderno de anotações de Leonardo da Vinci, material de 300 a. C. aos jornais atuais, a Carta Magna, a gravação do discurso experimental do líder negro Nelson Mandela, cerca de 50 milhões de patentes, 310 mil volumes de manuscritos, de Jane Austen a James Joyce, de Händel aos Beatles, e aproximadamente mais de 260 mil títulos de jornais e mais de quatro milhões de mapas. A biblioteca disponibiliza informações para estudantes, pesquisadores de ciências específicas e para executivos no Reino Unido e ao redor do mundo. A cada ano seis milhões de buscas são geradas pelo catálogo online e mais de 100 milhões de itens são fornecidos aos leitores de todo o mundo.
        A palavra laboratório origina-se do latim através da junção das palavras labor (trabalho) e orare (orar) misturando aspectos da “oralidade” e experimentação. A importância do laboratório na pesquisa social baseia-se no exercício de suas atividades repetitivas em condições ambientais controladas e normatizadas, de modo a assegurar que não ocorram influências ideológico-culturais que alterem o resultado da pesquisa, de modo a garantir que o experimento seja repetível em outro laboratório e obtenha o mesmo resultado. Um exemplo paradigmático de laboratório surge com a biblioteca do Museu Britânico, nos tempos de Marx, ao contrário de um centro de ideias e artes criativas como Paris ou mesmo Berlim era em Londres a capital da ciência. Sua rotunda, sala de leitura circular nos dias de hoje, uma sala de exposição na qual os turistas conhecem a cadeira preferida de Marx, logo viria a se tornar o “lar de Marx” fora de sua casa. A Dean Street, onde a família de Marx morou, juntamente com a empregada, Lenchen, de 1850 a 1856, ficava no coração do Soho. Numa Londres que se tornara a capital política e administrativa do mais importante império colonialista de além-mar que existiu no mundo ocidental durante os três primeiros quartos do século XIX, Londres era também o centro nevrálgico do capitalismo transnacional globalizado. 
            Numa Londres que se tornara a grande cidade de refúgio para exilados de todos os países, o Soho era o centro preferido pelos alemães, particularmente os democratas, republicanos e socialistas. Enquanto os alemães sem qualificação profissional que trabalhavam em padarias moravam no East End, e os mais sofisticados frequentavam os salões de St. John`s Wood, para os radicais - especialmente artesãos - o Soho, com sua Associação Educacional dos Trabalhadores Alemães na Great Windmill Street, era um óbvio ponto de atração. Era mais fácil encontrar esses alemães nas vizinhanças de Oxford Street, perto de Leicester Square, ou no centro daquele labirinto de ruelas tortas entre Saint Martin`s Lane e a igreja de Santa Ana, no Soho. Nos anos 1850 era uma região superlotada, com uma média de catorze pessoas por casa, e particularmente insalubre, uma vez que o abastecimento de água em algumas partes era contaminado. Como disse Marx, era “um distrito excelente para a cólera” e foco de um surto isolado em Londres em 1854. Marx e Jenny não tinham planejado morar no Soho. Depois de penhorar sua prataria em Frankfurt, vender a mobília em Colônia e ser obrigada a deixar Paris, Jenny tinha chegado a Londres com três crianças e esperando uma quarta dentro de um mês. Ao desembarcar, foi recebida por um dos amigos do grupo do Newe Rheinische Zeitung, Georg Weerth, que a instalou numa pensão em Leicester Square.  A descrição de Friedrich Engels assenta ao mesmo tempo em observações concretas e nas obras que ele tinha a sua disposição. Ele reconhece Lancashire industrial e sobretudo a região de Manchester, e que visitou as principais cidades industriais do Yorkshire: Leeds, Bradford, Sheffield, assim como passou várias semanas em Londres, Inglaterra.

              

             Representou o maior império em extensão de terras descontínuas do mundo contemporâneo. Um império composto por relações de domínios, representação de colônias, protetorados, mandatos e territórios governados ou administrados exatamente pelo Reino Unido. Originou-se com as conquistas das colônias ultramarinas e entrepostas estabelecidas pela Inglaterra durante o final do século XVI e início do século XVII. No seu auge, foi o maior império da história política e, por mais de um século, foi a principal potência mundial. Em 1920 o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas, ¼ da população do mundo ocidental e oriental e abrangeu mais de 35 500 000 km², quase 24% da área geográfica total da Terra. Como resultado, seu legado político, cultural e linguístico é generalizado, globalizado. No auge do seu poder, foi dito muitas vezes que “o sol nunca se põe no Império Britânico” devido à sua extensão de poder geopolítico ao redor do mundo garantir que o Sol sempre estivesse brilhando em pelo menos um de seus numerosos territórios invadidos e colonizados. Representou um período histórico de colapso dos impérios mediante o processo civilizatório da Espanha, China, França, Sacro Império Romano-Germânico e Mongol. Testemunhou o crescimento dos impérios britânico, russo, Alemão, Japonês e Americano, estimulando conflitos militares e avanços técnico-científicos.

          A rota comercial do Volga foi estabelecida pelos varegues (víquingues) que se fixaram no noroeste da Rússia no início do século IX. A Rota da Seda era a principal rota de comércio que iniciava no planalto iraniano e seguia até alcançar a parte ocidental da China, indo de oásis a oásis e margeando os desertos da Ásia Central, sendo muito utilizada mesmo antes de ser oficialmente autorizada. Cerca de 10 km ao sul da entrada do rio Volkhov no lago Ladoga, eles estabeleceram um assentamento chamado Velha Ladoga. Esta, ligou o norte da Europa e o noroeste da Rússia com o mar Cáspio, através do rio Volga. Os Rus` usaram esta rota para negociar com países muçulmanos na costa sul do mar Cáspio, às vezes penetrando até Bagdá. A rota funcionou concomitantemente com a rota comercial do rio Dniepre, reconhecida como a rota comercial entre os vareques e os gregos, e perdeu sua importância no século XI. Sacaliba (cf. Tchékhov, 2018) refere-se a escravos eslavos, sequestrados das costas da Europa, ou em guerras no mundo muçulmano medieval, no Oriente Médio, Norte da África, Sicília e Alandalus. Eles serviam, ou eram forçados a servir, os muitos servos, concubinas de harém, eunucos, artesãos, escravos militares e como guardas do califa. Almutaz foi o califa abássida entre 866 e 869 durante o período que ficou reconhecido como “anarquia em Samarra”.
             Alçado ao trono pelos turcos (os gulans), ele se demonstrou hábil demais para os seus tutores. Ele tinha apenas 19 anos e foi o califa mais jovem a reinar e à sua volta estavam diversos partidos em conflito. Em Samarra, os turcos estavam tendo problemas com os “ocidentais” (berberes e mouros). Em Bagdá, árabes e persas consideravam os dois grupos com igual desprezo. Almutaz estava “rodeado de grupos que constantemente conspiravam uns contra os outros e contra o próprio califa”. E ele escolheu o mesmo caminho de traição e derramamento de sangue que eles. Na Península Ibérica, Marrocos, Damasco e Sicília, seu papel militar pode ser comparado ao dos mamelucos no Império Otomano. Na Espanha, os eunucos eslavos eram tão populares e amplamente distribuídos que se tornaram sinônimo de Sacaliba. O imposto pençik, ou pençyek, que significa “um quinto”, era uma tributação baseada em um verso do Alcorão pelo qual um quinto dos despojos de guerra pertencia a Deus, a Maomé e sua família, aos órfãos, aos necessitados e aos viajantes. Isso incluiu “escravos e prisioneiros de guerra que eram dados aos soldados e oficiais para ajudar a motivar sua participação nas guerras”. Cristãos e Judeus, reconhecidos como Povos do Livro no Islã, eram considerados dhimmis em territórios sob domínio muçulmano, um status de cidadãos de segunda classe que tinham liberdade limitada, proteção legal, segurança pessoal e permissão para “praticar sua religião, sujeita a certas condições, e desfrutar de uma medida de autonomia comunal”.
             Para manter essas proteções e direitos, os dhimmis eram obrigados a pagar os impostos de Jizia e Caraje como um reconhecimento do domínio muçulmano. De acordo com Abu Yusuf, a falta de pagamento destes impostos deveria tornar a vida e propriedade do dhimmis nulas e submete-los à conversão forçada, escravidão, prisão ou morte. Se alguém tivesse concordado em pagar a Jizia, deixar o território muçulmano para a terra inimiga seria punível com escravidão se fosse capturado. A falta de pagamento da Jizia era comumente punida com prisão domiciliar e algumas autoridades permitiram a escravização de dhimmis por falta de pagamento de impostos. No sul da Ásia, por exemplo, a captura de famílias dhimmis por não pagar a jizia anual foi uma das duas fontes significativas de escravos vendidos nos mercados de escravos do Sultanato de Déli, as cinco dinastias de curta duração, atualmente a capital da Índia, compostas por turcos e pastós na Índia medieval. Governaram do Sultanato de Déli entre 1206 e 1526, quando a última dinastia foi derrotada pelo Império Mongol. Os mongóis constituíram uma tribo de nômades da Ásia Central ou Norte da Ásia. Eles viviam nas estepes, contando com um estilo de vida de movimento constante, como um modus operandi.
              Eles sempre foram dependentes e anexados aos seus cavalos, que representava o principal meio de transporte. Religiosamente, eram “animistas politeístas”. Isabelle Stengers vai além da analogia entre fatos (“fatiches”) e fetiches para buscar na história das ciências modernas a tensão constitutiva com as práticas ditas mágicas. Segundo ela, as ciências modernas se estabelecem a partir da desqualificação de outras práticas, acusadas de equívoco ou charlatanismo. Ela acompanha, por exemplo, como a química se divorciou da alquimia, e a psicanálise, do magnetismo e da hipnose. Em suma, as ciências modernas desqualificam aquilo que está na sua origem. Eles nunca estabeleceram um grande império, organizado, e em vez disso ficaram como uma coalizão de tribos no norte da China. Historicamente eles entravam geralmente em guerra com seus vizinhos. A China ao sul de fato construiu a Grande Muralha da China durante o reinado do Imperador Shi Huang (247-221 a. C.) como um meio para manter os mongóis e outros para longe de suas aldeias. Os mongóis também rivalizaram com outros grupos tribais na Ásia Central, como tribos turcas e os tártaros. A história social Mongol mudou para sempre durante o reinado de Genghis Khan. Ele transformou-se em chefe tribal dos mongóis entre 1206 e 1227. Em seu reinado, ele conseguiu unificar as diversas tribos mongóis, juntamente com inúmeras tribos turcas existentes.
            Com um grupo grande, unificado, começou a conquistar toda e qualquer terra onde os cavaleiros mongóis poderiam alcançar.  Genghis Khan conquistou a maior parte do norte da China em 1210. Ao fazê-lo, ele destruiu as dinastias Xia, também reconhecida como dinastia Hsia, a primeira dinastia descrita pela historiografia tradicional chinesa. Reinou cerca século XXI a. C. – século XVI a. C. A historiografia lista os nomes de 9 (nove) reis por 14 (catorze) gerações e Jin, também reconhecida como a dinastia Jurchen, fundado pelos Waynan, clã dos Jurchen, antepassados dos manchus que estabeleceram a dinastia Qing, 500 anos mais tarde. O nome é algumas vezes escrito como Jinn para ser diferenciado da primeira dinastia Jin, cujo nome é igual ao desta dinastia no alfabeto latino. Fundada em 1115, no norte da Manchúria, aniquila a dinastia Liao no ano 1125. Esta última tinha existido entre a Manchúria e a fronteira norte da China durante vários séculos. Em 9 de janeiro de 1127, as forças Jin saquearam Kaifeng, a capital da dinastia Song do norte, capturando o novo imperador Qinzong (1100-1161), que havia subido ao trono após a abdicação do pai, o imperador Huizong (1082-1135), ao ver a necessidade de organização social e política com o objetivo claro de enfrentar o exército Jin.  

             Depois da queda da capital de Kaifeng, os Song (960-1279), sob a liderança da herdeira dinastia Song do sul, continuaram a luta por conquista de territórios durante mais de uma década contra os Jin, assinando por fim um Tratado de Paz em 1141, e cedendo todo o norte da China aos Jin em 1142, a fim de obter a paz. Ele também conseguiu conquistar a maioria das tribos turcas da Ásia Central, abrindo todo o território para a geopolítica da Pérsia. Isso o levou a enviar exércitos para o Leste da Europa, bem como, a atacar terras russas, inclusive as fronteiras de Estados alemães da Europa Central. Mais importante do que o processo civilizatório é entender como Genghis Khan o conquistou. Na esfera política ele usou deliberadamente o “terror como arma de guerra”. Se uma cidade que ele estava sitiando desistisse sem lutar, o povo normalmente seria poupado, mas teria que ficar sob controle Mongol. Se a cidade lutou contra os mongóis, todos, incluindo civis, seriam massacrados. Este reinado de terror é uma grande parte da razão pela qual ele irá se tornar um “conquistador consagrado”. Os povoados estavam mais dispostos a desistirem do que sofrerem massacres em suas mãos. Por exemplo, quando ele sitiou a cidade de Herat, no atual Afeganistão, matou mais de 1,6 milhões de pessoas.
  No Norte da África e no Oriente Próximo, algumas dinastias principais, como os Fatímida (909-1171), surgiram e governaram uma área que inclui as regiões atuais do Egito, Sicília, Argélia, Tunísia e partes da Síria.  Foi também neste período que algumas das principais dinastias turcas e povos da Ásia central tomaram a vanguarda da política e da criatividade artística do mundo islâmico. Os seljúcidas eram nômades da Ásia central que governaram terras do oriente islâmico e eventualmente controlaram o Irã, o Iraque e grande parte da Anatólia, embora tenha sido um império de curta duração. O ramo principal dos seljúcidas, o Império Seljúcida, manteve o controle sobre o Irã. Esse foi também o período das cruzadas cristãs europeias, que tinham por objetivo reconquistar a Terra Santa dos muçulmanos. Uma série de pequenos reinos cristãos surgiram no século XII, bem como dinastias muçulmanas, como o Império Aiúbida (1179-1260), cujo líder mais famoso, Salah al-Din (r.1169-93), conhecido no ocidente como Saladino, terminou a dinastia Fatímida. Por fim, os soldados escravizados, responsáveis pela proteção militar da dinastia Aiúbida, derrubaram o último sultão Aiúbida em 1249-1250. Esses escravos, denominados em árabe mamluk, que significa “possuídos”, ficaram reconhecidos como mamelucos e controlaram a Síria e o Egito até 1517.
Representavam soldados de uma milícia egípcia constituída por escravos turcos. Formaram uma casta militar, vindo a conquistar o poder no Egito. Giocangga (1526-1583) era filho de Fuman e avô paterno de Nurhaci, o homem que unificou os povos Jurchen e fundou a dinastia Jin posterior da China. Tanto ele quanto seu filho Taksi atacaram o forte de Atai, que estava sendo sitiado por um chefe rival de Jurchen, Nikan Wailan, que prometeu o governo da cidade a quem matasse Atai. Um dos subordinados de Atai se rebelou e o assassinou. Ambos Giocangga e Taksi foram mortos por Nikan Wailan em circunstâncias pouco claras. Giocangga, Taksi e Nikan estavam todos sob o comando de Li Chengliang. Giocangga recebeu o nome de templo Jǐngzǔ e o nome póstumo Imperador Yi pela dinastia Qing. Em 2005, um estudo liderado por um pesquisador do Instituto britânico Wellcome Trust Sanger sugeriu que Giocangga pode ser um ancestral direto de gênero de mais de 1,5 milhão de homens, principalmente no nordeste da China.  Isso foi atribuído às muitas esposas e concubinas de Giocangga e seus descendentes. Os descendentes de Giocangga na linha patrilinear estão concentrados entre várias minorias étnicas que faziam parte do sistema Manchu Eight Banners, e não são encontrados na população Han. Giocangga pode ter deixado cerca de 1,5 milhão de descendentes homens na China e na Mongólia, de acordo com uma pesquisa baseada na análise do cromossomo Y, exclusivo dos homens.
A análise é similar a um estudo de 2003, segundo o qual cerca de 16 milhões de homens descendiam do conquistador mongol Genghis Khan. Giocangga viveu em meados do século 16 e seu neto fundou a dinastia Qing, que reinou na China de 1644 a 1912. Seus descendentes homens, tal qual os filhos e netos de Genghis Khan, espalharam-se e levavam uma vida extravagante, com muitas mulheres e concubinas. A pesquisa, publicada no American Journal of Human Genetics, sugere que essa seja uma boa estratégia de sucesso reprodutivo. Esse tipo de vantagem reprodutiva dos homens é talvez o traço mais importante da genética humana, segundo Chris Tyler-Smith, do Instituto Sanger, do Reino Unido, que coordenou os dois estudos. Geneticistas britânicos e chineses examinaram o cromossomo Y de cerca de mil homens e encontraram 3,3% de similaridade de que compartilhavam o mesmo ancestral masculino Giocangga. Uma classe de nobres, descendentes diretos de Giocangga, reinou até 1912 – o menos nobre deles tinha muitas concubinas e “era presumivelmente um especialista em disseminar o cromossomo Y herdado de Giocangga”. O Y de Gengis Khan é o que mais se aproxima dessa prevalência: é encontrado em cerca de 2,5% dos homens do leste da Ásia.

Historicamente em 1798, foram derrotados por Napoleão na batalha das Pirâmides. A Batalha das Pirâmides teve lugar a 21 de julho de 1798 entre o exército francês no Egito comandado por Napoleão Bonaparte e as forças locais mamelucas e foi a batalha onde Napoleão usou a formação em quadrados. Em julho de 1798, Napoleão ia na direção do Cairo, depois de invadir e capturar Alexandria. Pelo caminho encontrou as forças dos mamelucos a 15 km das pirâmides, e a apenas 6 km do Cairo. Os mamelucos eram comandados por Murade Bei e Ibraim Bei e tinham uma poderosa cavalaria. Apesar de serem superiores em número, estavam equipados com uma tecnologia antiga, possuíam espadas, arcos e flechas; ainda por cima as suas forças militares ficaram divididas pelo Nilo, com Murade entrincheirado em Embebeh e Ibrahim em campo aberto. Napoleão deu conta de que a única tropa egípcia de grande valor era a cavalaria. Ele possuía pouca cavalaria a seu mando e era superado em número pelos mamelucos. Viu-se, pois, estrategicamente forçado a ir na defensiva militar das tropas, e formou o seu exército em quadrados com o suporte da artilharia, cavalaria e equipes no centro de cada uma, dispersando assim o ataque da cavalaria mameluca com fogo de artilharia de apoio simulado.  O povo nômade mongol tem uma relação profunda com os cavalos, tanto na paz, quanto na guerra para a construção da sociedade. Símbolo de força, resistência, velocidade, liberdade e espiritualidade, é um animal que tem conexão com o sagrado.
De outra parte, historicamente, Napoleão (1769-1821) foi um estadista e líder militar francês que ganhou destaque durante a Revolução Francesa e liderou várias campanhas militares de sucesso durante as Guerras Revolucionárias Francesas. Foi imperador dos franceses como Napoleão I de 1804 a 1814 e brevemente em 1815 durante os Cem Dias. Napoleão dominou os assuntos europeus e globais por mais de uma década, enquanto liderava a França contra uma série de coalizões nas guerras napoleônicas. Ele venceu a maioria desses conflitos e a grande maioria de suas batalhas, construindo um grande império que governava grande parte da Europa continental antes de seu colapso final em 1815. Ele é considerado um dos maiores comandantes da história e suas guerras e campanhas são estudadas em escolas militares em todo o mundo globalizado. O legado político e cultural de Napoleão perdurou como um dos líderes mais célebres e controversos da história da humanidade. Ele nasceu na Córsega de uma família italiana relativamente modesta, da nobreza menor. Ele estava servindo como oficial de artilharia no exército francês quando a Revolução Francesa eclodiu em 1789. 

Ele rapidamente subiu nas fileiras dos militares, aproveitando as novas oportunidades apresentadas pela Revolução e tornando-se general aos 24 anos. O Diretório Francês acabou por lhe dar o comando do Exército da Itália depois que ele suprimiu a revolta dos 13 Vendémiaire contra o governo dos insurgentes realistas. Aos 26 anos, ele iniciou sua primeira campanha militar contra os austríacos e os monarcas italianos alinhados com os Habsburgos, sendo que venceu praticamente todas as batalhas e conquistou a Península Italiana em um ano, enquanto estabelecia “Repúblicas irmãs” com apoio local e regional se tornando um herói de guerra na França. Em 1798, ele liderou uma expedição militar ao Egito que serviu de trampolim para o poder político. Ele orquestrou um golpe em novembro de 1799 e se tornou o primeiro cônsul da República. Na primeira década do século XIX, o império francês sob comando de Napoleão se envolveu em uma série de conflitos com todas as grandes potências europeias, as Guerras Napoleônicas. Após uma sequência de vitórias garantiu posição dominante na Europa continental, e manteve a esfera de influência da França, através da formação de amplas alianças e a nomeação de amigos e familiares para governar os outros países europeus como dependentes da França.
As campanhas de Napoleão são até hoje estudadas nas academias militares de quase todo o mundo. A Campanha da Rússia em 1812 marcou uma virada na sorte de Napoleão. Seu Grande Armée foi seriamente danificado na campanha e nunca se recuperou totalmente. Em 1813, a Sexta Coligação derrotou suas forças em Leipzig. No ano seguinte, a coligação invadiu a França, forçou Napoleão a abdicar e o exilou na ilha de Elba. Napoleão escapou de Elba em fevereiro de 1815 e assumiu o controle da França mais uma vez. Os Aliados responderam formando uma Sétima Coalizão que o derrotou na Batalha de Waterloo, em junho. Os britânicos o exilaram para a remota ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu seis anos depois, aos 51 anos. A influência de Napoleão no mundo moderno trouxe reformas liberais para os vários territórios que ele conquistou e controlou, como os Países Baixos, a Suíça e grandes partes da Itália e da Alemanha modernas. Ele implementou políticas liberais fundamentais na França e em toda a Europa Ocidental. Seu Código Napoleônico influenciou os sistemas legais de mais de 70 nações em todo o mundo globalizado.
O Império Britânico representou o maior império na história da humanidade, chegando a dominar quase 1/4 do planeta. Era tanto território que foi apelidado de “o império no qual o Sol nunca se põe”. A atividade imperial na Grã-Bretanha começou no fim do século XVI, muito motivada pela explorações portuguesas e espanholas pelas Américas e pelo Sudeste Asiático. Outras potências europeias, entre elas França e Holanda, também se interessaram pelo prestígio e riqueza que tais explorações traziam, com a extração de metais preciosos e especiarias asiáticas. No período, a rainha Elizabeth I adotou uma política de exploração das Américas e chegou a se envolver em conflitos navais com a Espanha. O Império Britânico é geralmente dividido em duas fases. Na primeira, o escopo foi em estabelecer colônias na América do Norte e no Caribe. A Inglaterra chegou a assinar um acordo com a Espanha para colonizar a região, mas a adoção de uma política protecionista, impedindo o comércio com outras nações, gerou conflitos com países como a Holanda. A colonização prosperou até o fim do século 18, com a Independência dos Estados Unidos. da América (EUA). Os britânicos então mudaram seu escopo militarista, apostando no Pacífico e na África, conquistando a Índia, ipso facto, sua colônia mais importante, Austrália e Nova Zelândia. O período entre 1815 e 1914, pós-Independência dos Estados Unidos, foi o mais próspero para o império, muitas vezes chamado de “o século britânico”. 

O império também foi fortalecido pela revolução industrial: ele usava recursos das colônias para fabricar produtos que eram então vendidos no mundo todo. O processo era facilitado pelo controle britânico sobre as rotas do processo civilizatório de navegação, muitas colônias, foram estabelecidas pelas posições estratégicas. A administração do Império Britânico nem sempre era bem recebida, seja pelos colonos que se mudaram para as novas províncias ou pelas populações que foram dominadas, quando não dizimadas ou escravizadas. O império começou a declinar após as duas guerras mundiais, quando a Grã-Bretanha saiu enfraquecida e endividada, ainda que vitoriosa. Houve também uma série de movimentos por Independência, entre elas a da Índia, em rebelião massiva e pacífica liderada por Mahatma Gandhi (1869-1948). A Índia finalmente obteve Independência em 1947, dando início a uma onda de movimentos por Independência. O fim formal do Império Britânico ocorreu em 1997, com a devolução de Hong Kong à China. Vale lembrar que Marx passou os últimos 34 anos de sua vida com sua família em Londres. Mudou-se da Prússia em 1849, para Londres, lá morrendo em 1883.
         As ideias revolucionárias no plano de análise teórico, prático e afetivo o fizeram indesejado primeiro na sua Prússia e depois em Paris, onde se asilou. Londres era para ser uma passagem temporária, mas se tornaria sua cidade definitiva. Sem Londres Marx não se tornaria um notável filósofo social e pesquisador. Foi na opulência literária incomparável do British Museum, que ele pôde ler avidamente os livros de Filosofia, Arte e Economia Política que o habilitariam com um estilo literário a escrever sua obra máxima: O Capital. Jenny Marx, sua mulher companheira solícita e culta “passava a limpo” os manuscritos que o marido trazia da lendária “Reading Room” do museu (e biblioteca) de Londres, a mesma que o russo Vladimir Lênin frequentaria sob o codinome de Jacob Richter. Nesse período áureo também Charles Darwin conviveu com suas agruras na fantástica cidade de Londres. Quando o navio chegou na Cornualha, Inglaterra, em 2 de outubro de 1836, Darwin já tinha prestígio entre os círculos acadêmicos e científicos; em 1835 o mentor Henslow já tinha oferecido cartas de seu ex-pupilo para vários naturalistas renomados, melhorando ainda mais a sua reputação sobre conhecimento geológico. Assim que chegou na Inglaterra, Darwin visitou sua casa em Shrewbury, uma cidade localizada no condado de Shopshire, na região das Midlands Ocidentais, Inglaterra e reencontrou parentes. Dali partiu apressadamente para Cambridge para ver Henslow, que o aconselhou a encontrar naturalistas dispostos a catalogar as coleções e concordou em catalogar os espécimes botânicos ele mesmo. O pai de Darwin organizou investimentos que permitiram que o seu filho fosse autossuficiente em sua pesquisa científica e Darwin não perdeu tempo para divulgar e estudar os materiais coletados através de especialistas de Londres.
          Morreu em 1882 tendo sido sepultado com todas as honrarias na abadia de Westminster como um dos grandes filhos da Inglaterra. Mas não foi apenas no tempo e no espaço que os caminhos de Marx e Darwin se cruzaram. Marx quis dedicar a edição inglesa de sua obra, “O Capital” a Darwin, mas este recusou, sendo dedicado: - “A mi inovidable amigo, al pioneiro intrépido, fiel y noble del proletariado, Wilhelm Wolff, nascido en Tarnau el 21 de junio de 1809, muerto en el exílio, en Manchester, el 9 de mayo de 1864” (cf. Marx, 1973: 19). Quando Marx morreu, um ano após Charles Darwin, o seu amigo Friedrich Engels escreveu: - “Tal como Darwin descobriu a lei da evolução da natureza orgânica, também Marx descobriu a lei da evolução da história humana”. Contudo, Darwin adota basicamente com sua descoberta no âmbito da evolução o conceito de “descent with modification”, restringindo a aplicação de desenvolvimento ao indivíduo na história da natureza biológica, circunscrevendo o universo de sua análise científica exclusivamente à natureza. Na mesma época, Charles Darwin apresentou seus espécimes de pássaros e mamíferos para a Sociedade Zoológica de Londres e o ornitologista John Gould não tardou em anunciar que os pássaros de Galápagos, os quais Darwin pensou se tratarem da mistura de melro-pretos com fringilídeos, eram, de fato, nada menos que doze espécies separadas de fringilídeos.
       Em 17 de fevereiro, Darwin foi eleito para o Conselho da Geological Society e a posição de Lyell como presidente permitiu uma maior divulgação dos estudos de Owen sobre os fósseis de Darwin, ao apontar como as delimitações geográficas de cada espécie provavam as ideias uniformitaristas dele próprio. No início de março, Darwin se mudou para Londres para ficar mais perto do seu trabalho, juntando-se ao grupo acadêmico de Lyell, que continham especialistas tais como Charles Babbage que, por sua vez, descrevia Deus “como o programador das leis naturais”. Darwin se aproximou novamente do seu irmão e livre pensador Erasmus juntamente com uma de suas amigas próximas, a escritora Harriet Martineau, uma das promotoras do malthusianismo na controversa questão social sobre como melhorar o bem-estar social ao reduzir a superpopulação e a questão social da pobreza. Como uma unitarista, ela recebeu com agrado a ideia da transmutação de espécies, conceito de Robert Edmond Grant (1793-1874) e outros jovens cirurgiões influenciados por Étienne Geoffroy. A transmutação era anátema para os anglicanos defensores da ordem social, contudo chegou a ser bastante discutida entre cientistas de renome e despertou grande interesse nas cartas de John Herschel, que defendeu a metodologia de Lyell em desvendar os processos na origem de novas espécies.             
            Marx inventou muita coisa com utilidade de uso para o mundo contemporâneo. Inventou um estilo literário associado à imagem do “esquerdista barbudo”, uma imagem que resistiu ao tempo. Marx inventou também a descrença num sistema econômico sanguinário que não responderia de forma simples as questões do valor da economia no âmbito do processo de valorização em torno do trabalho que a humanidade pudesse reinventar. O Manifesto do Partido Comunista, de 1848, foi determinante para que, poucos anos depois, a Alemanha de Bismarck e de Marx, criasse leis inovadoras no âmbito trabalhista. O Manifesto Comunista conclamava os proletários a se insurgir porque nada tinham a perder exceto os grilhões e tinham o mundo massificado a ganhar. O Welfare State, se não ofereceu realizações econômicas aos proletários, livrou-os aparentemente das correntes o bastante para que tivessem o que perder no mundo das mercadorias. Marx combinou brilhantes esboços do desenvolvimento do capitalismo moderno com uma descrição do conflito contemporâneo entre as classes como seu necessário desfecho. A palavra burguesia, por exemplo, foi tirada do debate político na França durante os anos da Monarquia de julho, e mais especificamente do vocabulário dos jornalistas de oposição, em especial Louis Blanc que caracterizava a história social da burguesia como o interesse bancário enfeitiçando a indústria e o comércio; o crédito individual dando lucro ao forte. De 1815 a 1830 a burguesia tratou apenas de administrar e completar a sua combinada estratégia de dominação. O Manifesto Comunista acabaria sendo traduzido  do pondo de vista de sua irradiação social para mais de duzentas línguas, mas quando foi publicado passou praticamente despercebido na esfera da ideologia.
Vale lembrar que uma peculiar primeira edição da obra O Capital, de Marx, que leva a assinatura do autor ofertada para seu amigo Johann Eccarius, foi leiloada pela casa Bonham de Londres em 15 de junho de 2016. Segundo Bonham, a peça tem um preço estimado entre 80 mil e 120 mil libras (US$ 115 mil e US$ 173 mil) e seria vendida em uma jornada dedicada a livros e manuscritos. – “Esta é uma sensacional e importante cópia de um livro que mudou o mundo. Tanto Marx como Eccarius foram figuras importantes durante o difícil nascimento do comunismo e desfrutaram de uma relação pessoal estreita durante muitos anos até que os ciúmes e as diferenças políticas os separaram”, afirmou o especialista em livros da casa de leilões Simon Roberts.  A peça leva data de 18 de setembro de 1867, quatro dias depois da publicação do primeiro volume, e é uma das poucas cópias que sobreviveram, segundo indicou Bonham. É um tratado de crítica da economia, é formado por três volumes, dos quais o primeiro foi revisado e publicado em vida por Marx. Na sua obra principal, O Capital, Marx construiu analiticamente um gigantesco complexo filosófico com seus conhecimentos de Economia, História e Sociologia. Disciplinado no trabalho intelectual retoma os estudos de economia política, permanecendo no Museu Britânico das nove da manhã às sete horas da noite e trabalhando em casa disciplinarmente em todas as madrugadas. Inicia-se um período afetivo de grande dedicação intelectual. A conquista da supremacia social pela burguesia capitalista no século XIX não significou o fim da nobreza, e de fato muitos críticos entendem alguns aspectos do período, pelo menos em algumas regiões europeias, como uma reação conservadora, onde uma alta burguesia composta maciçamente de novos-ricos absorve princípios e um estilo de vida da nobreza e esta se aferra em altos postos de comando e infunde o aparato estatal com seus valores.
Os outros dois volumes elaborados por seu amigo e colaborador Friedrich Engels a partir das notas do autor, apareceram em 1885 e 1894. Eccarius (1818-1889) foi um alfaiate que se uniu ao grupo exilado britânico da Liga dos Justos, organização revolucionária apoiada por alemães que tinham emigrado em 1839. Em 1846, Marx e Engels, que viviam em Bruxelas, foram convidados a se unir à Liga, no segundo congresso da organização política em Londres, onde conheceram Eccarius. A dedicatória é feita a Johann Georg Eccarius, líder operário alemão que foi secretário-geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). O aprendiz de alfaiate emigrou a Londres para se juntar à Liga dos Comunistas e teve uma relação contraditória de amizade com Marx. A Associação Internacional dos Trabalhadores ou simplesmente Internacional, foi a primeira organização de trabalhadores que pretendeu reunir diversas correntes do movimento operário do mundo industrializado, na segunda metade do século XIX. A AIT existiu entre 1864 e 1876, sendo dissolvida após as disputas ocorridas ao fim da Comuna de Paris, em 1871.
          O escritor chegou a enviar Eccarius em seu lugar para discursar no primeiro encontro da Primeira Internacional. Mais tarde, porém, o filósofo materialista alemão acusou Eccarius de tomar suas ideias para si. O líder operário também teria, segundo Marx, se tornado informante da polícia. A primeira edição autografada de O Capital sobreviveu aos conflitos pessoais e ao declínio histórico de regimes aparentemente comunistas pelo mundo ocidental. O livro contém pequenas correções a lápis, provavelmente feitas por Eccarius. O site Bonhams, organizador do referido leilão, dizem que há ao menos outras duas cópias autografadas por Marx no mesmo dia. Uma delas, endereçada à Associação de Trabalhadores da Educação da Alemanha, pertence ao Trinity College da Universidade de Cambridge. A outra foi vendida num leilão realizado em 2010 por 115 mil libras. Nas recepções públicas e nas reuniões privadas dos comitês políticos de exilados em Londres, ou em suas exaltadas discussões nos bares, havia sempre a vigilância através da presença de espiões do serviço secreto dos governos prussiano e austríaco. Os contatos clandestinos dos exilados com seus correligionários na Europa continental não eram de todos incógnitos para a polícia política dos Estados alemães. Esses agentes não eram apenas meros observadores.
         Eles certamente se engajavam ativamente na ação de moldar as posições políticas dos exilados, promovendo disputas políticas internas nos grupos formados entre eles, incentivando-os a assumir uma posição favorável aos parâmetros dos governos contrarrevolucionários. Os refugiados políticos residentes em Londres tinham naquele período histórico uma vaga noção da presença de espiões da polícia; o próprio Marx foi advertido diversas vezes. A prática comum entre os exilados de denunciar seus rivais partidários como espiões da polícia tornava-os insensíveis a real presença de tais indivíduos em seu meio. A habilidade política de tais agentes para se infiltrar nos grupos de refugiados, exercer influência sobre eles e manipular seus conflitos sociais acabou se revelando muito maior do que os exilados imaginavam. Em seu mais famoso estudo, Marx retoma o pensamento econômico desde o final do século XVIII para explicar como se forma o capitalismo. Pensa na produção de mercadoria como estrutura desse sistema e analisa como seus processos de produção mudaram. As inerentes ao capitalismo gerariam seu próprio fim. Após sua derrocada, o comunismo seria a evolução dos processos históricos. Marx envia exemplares do primeiro livro de O Capital a Charles Darwin e a Herbert Spencer. Recebe ordens médicas de evitar qualquer tipo de trabalho devido ao agravamento das condições de saúde. Durante os anos seguintes, Marx trabalha na redação de O Capital, estuda Matemática, Geologia e Física, além da situação das condições históricas, sociais e políticas da Rússia.     
Bibliografia geral consultada.      
BLUMERBER, Werner, Portrait of Marx. New York: Herder and Herder, 1972; MARX. Carlos, El Capital. Crítica de la Economía Política. Libro Primero. Buenos Aires: Editorial Cartago, 1973; SILVA, Ludovico, El Estilo Literario de Marx. México: Siglo Veintiuno Editores, 1975; KAPP, Ivone, Eleanor Marx: La Vida Familiar de Carlos Marx (1855-1883): Tomo I. México: Ediciones Nuestro Tiempo, 1979; ANDERSON, Perry, Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Porto: Edições Afrontamento, 1984; ENGELS, Friedrich, “Chartist Agitation”. In: Marx-Engels Collected Works. Vol. 6. London: Lawrence & Wishart, 1987; DUSSEL, Enrique, El Último Marx (1863-1882) y la Liberación Latinoamericana, un Comentario a la Tercera y a la Cuarta Redacción de El Capital. México: Siglo Veintiuno Editores, 1990; NICOLLE, David, The Mongol Warlords: Genghis Khan, Kublai Khan, Hulegu, Tamerlane. London: Editor Firebrand Books, 1990; BIZZO, Nélio Marco Vincenzo, O que é Darwinismo. 2ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989 (Coleção Primeiros Passos, 192); Idem, Ensino de Evolução e História do Darwinismo. Tese de Doutorado em Educação. Faculdade de Educação. São Paulo:  Universidade de São Paulo, 1991; WILSON, David Mackenzie, The British Museum - A History. Londres: The British Museum Press, 2002; DESAI, Meghnad, A Vingança de Marx. A Ressurgência do Capitalismo e a Morte do Socialismo Estatal. São Paulo: Editora Codex, 2003; MÉSZÁROS, István, O Poder da Ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004; Idem, A Educação para Além do Capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008; MARX, Karl & ENGELS, Friedrich, La Condizione Postcoloniale: Storia e Politica nel Presente Globale. Verona: Ombre Corte Edizioni, 2008; MAGALHÃES, Fernanda Cândido, A Teoria da Evolução de Charles Darwin e sua Representação Social Contemporânea. Tese de Doutorado em Psicologia.  Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. Centro de Educação e Humanidades. Instituto de Psicologia. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2013; TIBLE, Jean, “Marx e os outros”. In: Lua Nova, n° 91. São Paulo, janeiro-abril de 2014; KLOTZ-SILVA, Juliana, Hábitos Alimentares e Comportamento: do que estamos falando? Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Alimenrtação, Nutrição e Saúde. Cetro Biomédico. Instituto de Nutrição. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015; Artigo: “Primeira edição de O Capital vai a leilão por 200 mil euros”. Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/;   entre outros.