sexta-feira, 3 de junho de 2016

Garota Interrompida – Psique & Liberdade Individual Reprimida.


                                                                                                             Ubiracy de Souza Braga*
 
A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos”. Sigmund Freud 
        

O termo grego psychein é uma palavra ambígua que significava originalmente “alento” e, posteriormente, “sopro”. Dado que o alento representa uma das características da vida, a expressão “psique” era utilizada como um sinônimo de vida e por fim, como sinônimo de alma, considerada o princípio da vida. A psique seria então a “alma das sombras” por oposição à “alma do corpo”. O termo adquiriu outros significados no âmbito da história clínica e social, a exemplo do apresentado na peça Psyché, de Molière. Pode-se destacar ainda a versão de Jean de La Fontaine (1621-1695), no romance Os Amores de Psique e Cupido, além das versões clássicas como de Apuleio (125-180), Eros e Psique (Metamorfose: livros IV, V e VI), entre outras. Relevante para a psicanálise é a versão mítica, utilizada por Freud, ao propor a utilização dos termos Eros e Tânato, em seu livro Além do princípio do prazer (1922). Segundo o autor, o ser humano possui duas pulsões inatas, a de vida (Eros) e a de morte (Tânato), que dinamizam a psique e são origens de desejos e fantasias.  Psyché representou uma bela mortal por quem Eros, deus do amor e filho de Afrodite, deusa da beleza, se apaixonou. Tão bela que despertou a fúria de Afrodite, pois os homens deixavam de frequentar seus templos para adorar uma simples mortal. A deusa mandou seu filho atingir Psiquê com suas flechas, fazendo-a se apaixonar pelo monstruoso ser. Ao contrário do esperado, Eros acaba se apaixonando pela moça – acredita-se que tenha sido espetado acidentalmente por uma de suas próprias setas.

Com o próprio deus do Amor apaixonado por Psyché, suas setas não foram lançadas para ninguém. Após muito pranto, mas sem ousar contrariar a vontade de Apolo, a jovem Psiquê foi levada ao alto de um rochedo e deixada à própria sorte, até adormecer e ser conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnifico, que daquele dia em diante seria seu. Lá chegando a linda princesa não encontrou ninguém, mas tudo era suntuoso e, quando sentiu fome, um lauto banquete estava servido. À noite, uma voz suave a chamava e, levada por ela, conheceu as delícias do Amor, nas mãos do próprio deus do amor (Eros). Os dias se passavam, e ela não se entediava, tantos prazeres tinha: acreditava estar casada com um monstro, pois Eros não lhe aparecia e, quando estavam juntos, usava sempre um capuz. Ele não podia revelar sua identidade pois, assim, sua mãe (Afrodite) descobriria que não cumprira suas ordens – e apesar disto Psiquê amava o esposo, que a fizera prometer-lhe jamais retirar seu capuz. Psiqué, julgando que os conselhos das irmãs (invejosas, diziam-lhe que Eros era na verdade um monstro e por isso não mostrava o rosto) eram ditados por amizade, pôs em execução o plano que elas lhe sugeriram: após perceber que seu marido se entregara ao sono, levantou-se tomando uma lâmpada e uma faca, e dirigiu a luz ao rosto de seu esposo, com intenção de matá-lo. Porém, espantada e admirada com a beleza de seu marido, a jovem desastradamente deixa pingar uma gota de azeite quente sobre o ombro dele. Eros acorda e, percebendo que fora traído, enlouquece e foge. Psiqué fica sozinha, desesperada com seu erro, no imenso palácio. 

Susanna Kaysen nasceu em Cambridge, Massachusetts, em 11 de novembro de 1948. O local para o que mais tarde se tornaria Cambridge foi escolhido em dezembro de 1630, porque era localizado com segurança rio acima da baía de Boston, o que tornava facilmente defensável contra ataques de navios inimigos. Além disso, a água da fonte local era tão boa que os nativos americanos locais acreditavam que ela tinha propriedades medicinais. As primeiras casas foram construídas na primavera de 1631. O assentamento foi inicialmente referido como "the newe towne". Os registros oficiais de Massachusetts mostram o nome era escrito como Newe Towne em 1632. Localizado num primeiro momento entre a passagem entre o Charles River e oeste de Boston, Newe Towne foi uma das cidades (incluindo Boston, Dorchester, Watertown, e Weymouth), fundada por cerca de 700 colonizadores puritanos originários da Colônia da Baía de Massachusetts sob o governo de John Winthrop. O local original da aldeia está no coração do que é hoje a Harvard Square. O mercado onde os agricultores traziam seus produtos de cidades vizinhas para vender sobrevive até hoje como o pequeno parque na esquina da John F. Kennedy (JFK) e Streets Winthrop, então à beira de um pântano de sal, que agora encontra-se aterrado. A cidade incluía uma área muito maior do que a atual cidade, com várias áreas periféricas tornando-se cidades independentes ao longo dos anos: Newton (originalmente Vilarejo Cambridge, em seguida, Newtown) em 1688, Lexington (Fazendas Cambridge) em 1712, e ambos Oeste Cambridge (originalmente Menotomy) e Brighton (Pequena Cambridge) em 1807. Uma parte de Oeste Cambridge juntou-se à nova cidade de Belmont, em 1859, e no resto de Oeste Cambridge foi renomeado Arlington em 1867; Brighton foi anexada por Boston em 1874. No final do século XIX, vários esquemas de Cambridge anexando-se à cidade de Boston prosseguiram e foram rejeitados.

É uma escritora norte-americana, melhor reconhecida por ser a autora do livro de memórias Girl, Interrupted. Nessa obra, Kaysen relata suas experiências em um hospital psiquiátrico, na década de 1960. É interessante observar que, nos hospitais, geralmente, a seção de psicologia é convocada a intervir justamente nos momentos em que o saber médico falha em oferecer uma explicação para determinada doença, a partir da qual um diagnóstico possa ser efetuado e um tratamento levado a termo. A adaptação feita para o cinema ocorreu em 1999, e foi interpretada pela atriz Winona Ryder. Susanna Kaysen nasceu e viveu em Cambridge, Massachusetts. Filha de Annette Neutra Kaysen e do economista Carl Kaysen, ex-professor de Harvard e Massachusetts Institute of Technology - MIT; e ex-assessor do presidente John F. Kennedy.Também viveu certo tempo em Ilhas Feroe, onde conta tais vivências no romance “Far Afield”. Kaysen frequentou a Commonwealth School em Boston, e a Cambridge School antes de ser mandada para Hospital McLean em 1967 para submeter-se ao tratamento para depressão.

                    

O arquipélago é formado por 18 ilhas maiores e outras menores desabitadas que acolhem, ao todo, 47 mil pessoas em uma área de 1 399 km². Na ilha maior (Streymoy), encontra-se a capital, Tórshavn, com 16 mil habitantes (1999). As terras mais próximas são as ilhas mais setentrionais da Escócia (Reino Unido), que ficam a Sul-sueste, e a Islândia, situada a Noroeste. São autônomas desde 1948, tendo decidido não aderir à União Europeia. Gradualmente têm alcançado maior autonomia e para o futuro tem-se descortinado a possibilidade de tornarem-se Independentes da Dinamarca. Como território autônomo da Dinamarca, as Ilhas contam com e presença de Alto Comissário, representante da Rainha da Dinamarca, parlamento unicameral formado por 32 membros (Løgtingið), um primeiro-ministro chefe de governo (løgmann). Foi diagnosticada com “transtorno de personalidade limítrofe” e liberada depois de 18 meses. Ela chama esta experiência de memórias da Girl, Interrupted (1993). A ocupação britânica durante a II Guerra Mundial (1939-1945) suspendeu os contatos históricos e sociais com a Dinamarca e modificou o cenário político. Uma consulta popular aos membros comunitários faroeses demonstrou uma pequena maioria da população a favor da separação da Dinamarca. No entanto, o governo dinamarquês interveio e dissolveu o Logting para a realização de eleições gerais. 

O Logting eleito alcançou um acordo com a Dinamarca onde foram negociadas áreas de responsabilidade conforme os interesses de ambas as partes, e as ilhas Faroé foram declaradas “comunidade autônoma dentro do reino da Dinamarca”. A língua faroesa foi reconhecida como língua oficial e a bandeira faroesa como bandeira das ilhas. As ilhas Faroé representam um arquipélago de 18 ilhas situadas junto à latitude 62 N e longitude 7 W. Estão localizadas a meio caminho entre a Escócia e a Islândia, e a 575 km da Noruega. Entre o extremo norte e sul do arquipélago medeiam 113 km e 75 de leste a oeste. As suas costas têm um perímetro total de 1 117 km. As ilhas têm uma morfologia muito acidentada, rochosa, com costas alcantiladas recortadas por profundos fiordes. Nenhum ponto das ilhas está a mais de 5 km do mar. O ponto mais alto é o Slættaratindur, na ilha Eysturoy, com 882 metros de altitude. O clima é oceânico de influência moderadora da Corrente do Golfo, tendo em conta que a elevada latitude, suaviza as temperaturas invernais. Em Tórshavn não se registam temperaturas médias negativas, oscilando estas entre os 0,3 °C em janeiro e os 11,1 °C em agosto. A média anual é de 6,7 °C. A amplitude térmica é reduzida, com verões frescos e invernos suaves. A precipitação do ponto de vista da observação climática aproxima-se dos 1 400 mm por ano, com um mínimo relativo na primavera e verão. O céu é em geral nublado, com frequentes nevoeiros e os ventos fortes. 

     Até meados do século XX, a maioria dos estudos sobre aprendizagem questionava que as funções da memória seriam localizadas em regiões cerebrais específicas, alguns chegando a duvidar de que a memória seria uma função distinta da atenção, da linguagem e da percepção. Acreditava-se que o armazenamento da memória seria distribuído por todo o cérebro. A partir de 1861, Broca evidencia que lesões restritas à parte posterior do lobo frontal, no lado esquerdo do cérebro, chamada de área de Broca, causavam um defeito específico na função da linguagem. Após essa localização da função da linguagem, os neurocientistas tornaram a voltar-se para a hipótese de se localizar a memória. Hoje é possível afirmar que a memória não possui um único locus. Diferentes estruturas cerebrais estão envolvidas na aquisição, armazenamento e evocação das diversas informações adquiridas por aprendizagem. Existem acontecimentos nas nossas vidas que não esquecemos jamais. Nem tudo que nos acontece fica gravado na memória para sempre. É  importante lembrar que a consolidação da memória ocorre no momento seguinte ao acontecimento. Qualquer fator que haja pode fortalecer ou enfraquecer a lembrança.  

Poucos dentre os resistentes não se tornam, mais cedo ou mais tarde durante a guerra, clandestinos. Largam atrás de si nomes, profissões, endereços, amigos, parentes. Aprendem até a exaustão a perder o passado, a memória e a si mesmos. A profissão, a família, os laços sociais não importam mais! Vivem exclusivamente em função dos seus fins ético-políticos. A Resistência foi uma ação relativamente voluntária de poucos homens, por isso só aparentemente tornados exemplares. Configura um modelo de comportamento singular e de atitude individual, festejado, celebrado e idealizado de cima a baixo por toda a sociedade, das elites sociais ao proletariado, próximo da abnegação heroica. A dedicação à causa coletiva desdobra-se nas medidas de um apaixonado e exaltado “esquecimento de si”. Um modo político de viver foi alcançado que serve de espelho moral. Mas que designa a dimensão bela, justa e verdadeira do dever cívico, ato simples, ao alcance de todos e próprio do sentimento de ser francês. Riscos existem, em termos de probabilidades estatísticas, e vale advertir, nestas formas-limites do agir. Recusar a existência na qual cada um se inscreve por filiação, por pertencimento social, pode equivaler a uma espécie de denegação do passado e de suas marcas. 

Filhos de ninguém, a quem não há diferença entre sexo, a nação, as idades, as aptidões, as circunstâncias individuais e coletivas. Negar elos de pertencimento incide no risco de desacreditar das raízes humanas e arrancá-las. Há perigos, bem se sabe, no gosto da utopia: considerar brancas as páginas humanas pode levar a políticas de terra arrasada. Há nas dimensões éticas e políticas, com certeza, uma prudência antropológica a adquirir (cf. Kolleritz, 1999). A 2ª guerra global (1941-1945) é também reconhecida pelas numerosas atrocidades contra civis cometidas pelos combatentes em plena era moderna. Calcula-se um total de 85 milhões de mortos, onde mais de 50 milhões foram civis. Um dos pilares da ideologia nazista era o antissemitismo, que culminou com o etnocídio de cerca de 6 milhões de judeus que anteriormente tiveram seus maiores bens confiscados e foram aprisionados para desempenhar trabalho escravo no âmbito dos Konzentrationslager. Além disso, eslavos prisioneiros de guerra, cidadãos poloneses, deficientes, homossexuais e ciganos também foram escravizados e executados. Estima-se que cerca de 11 milhões de civis, em sua maioria eslava, tenham sido intencionalmente assassinados pelos nazistas. O primeiro grande campo de extermínio comandado pela SS foi descoberto em 1944, por tropas soviéticas e foram sendo descobertos e tendo seus prisioneiros libertados por tropas norte-americanas, britânicas e soviéticas entre 1944 e 1945. 

Após a guerra, abriu-se um tribunal militar onde membros influentes do nazismo foram julgados por diversos crimes, inclusive aqueles contra a humanidade e de guerra, no evento reconhecido como Julgamento de Nuremberg. Uma série de tribunais militares, organizados pelos Aliados, depois da 2ª guerra global, e referentes aos processos contra 24 proeminentes membros da liderança política, militar e econômica da Alemanha nazista. Os julgamentos, a cargo do International Military Tribunal (IMT), ocorreram na cidade de Nuremberg, Alemanha, entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946. Esse tribunal serviu como base para a criação do Tribunal Penal Internacional, com sede na cidade de Haia, nos Países Baixos. Posteriormente, entre 1946 e 1949, foram julgados os Processos de Guerra de Nuremberg, em 12 outros tribunais militares. Esses processos referiam-se a 117 acusações por crimes de guerra contra outros membros da liderança nazista. Na Ásia, o Japão Imperial também foi responsável por uma série de crimes letais de Estado contra chineses, como o Massacre de Nanquim e experiências clínicas secretas com seres humanos vivos. O Massacre de Nanquim, também reconhecido como o Estupro de Nanquim, foi um episódio político etnogenocida de assassinato em massa e estupros em massa cometidos por tropas do Império do Japão contra a cidade de Nanquim, na China, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, na sequência belierante da Segunda Guerra Mundial.

 O massacre ocorreu durante um período de seis semanas a partir de 13 de dezembro de 1937, o dia em que os japoneses tomaram Nanquim, que na época era a capital chinesa. Durante este período, dezenas de milhares, se não centenas de milhares de civis chineses e combatentes desarmados foram mortos por soldados do Exército Imperial Japonês. Estupros e saques também ocorreram. Vários dos principais perpetradores das atrocidades, na altura rotulados como crime de guerra, mais tarde foram julgados e considerados culpados pelo Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente e pelo Tribunal de Crimes de Guerra de Nanquim, e executados. Outro autor chave, o príncipe Asaka, um membro da Família Imperial, escapou da acusação por ter imunidade, anteriormente concedida pelos Aliados. O número de mortos no massacre não pode ser estimado com precisão porque a maioria dos registros militares japoneses sobre os assassinatos foram deliberadamente destruídos ou mantidos em segredo logo após a rendição do Japão, em 1945. O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente estimou, em 1948, que mais de 200 mil chineses foram mortos no incidente. A estimativa oficial da China é de mais de 300 mil mortos, com base na avaliação do Tribunal de Crimes de Guerra de Nanquim em 1947. O número de mortos tem sido ativamente contestado entre os estudiosos desde a década de 1980, com estimativas que variam de 40 mil a mais de 300 mil seres humanos mortos. 

O filósofo Edgar Morin é um dos principais representantes contemporâneos da análise de estudos da complexidade, que inclui perspectivas anglo-saxônicas e de origem latinas. Sua abordagem é reconhecida dubiamente como pensamento complexo ou paradigma da complexidade. Mas o filósofo não se identifica como analista “teórico da complexidade”. Nem pretende limitar suas pesquisas às chamadas concepções de “ciências da complexidade”. Pois, menos se distingue entre perspectivas restritas, limitadas, e amplas ou mesmo generalizadas da reflexão sobre a complexidade. Em 1941, adere ao Partido Comunista, “num momento em que se sentia, pela primeira vez, que uma força poderia resistir à Alemanha nazista”. Entre 1942 e 1944, como tenente das forças combatentes francesas, adotou o codinome Morin, que conservaria em diante. Durante a Libération, é transferido para a Alemanha ocupada, como adido ao Estado Maior do Primeiro Exército Francês na Alemanha (1945), e como chefe do Departamento de Propaganda do governo militar francês (1946). Para a ideologia dominante, “tudo é opinião”, mas algumas opiniões são falsas e outras são corretas. O poder de persuadir os indivíduos das opiniões corretas está ligado à capacidade da ideologia apoiar em todo um vasto sistema educativo, em uma organização de formação cultural corrompida que é proporcionado ao amplo público consumidor. 

Mas eficazmente do que o conjunto das escolas, a chamada indústria cultural serve à multidão, por assim dizer, de produtos culturais simplificados, vulgarizados, amontoados acriticamente. Os professores se convencem de que estão ajudando seus alunos a avançar pouco a pouco na assimilação da cultura. Os alunos, massificados, lisonjeados com a semicultura, satisfazem-se com o que lhes está sendo dado, e são induzidos a preservar o que lhes parece ser o seu saber, e, portanto, o seu patrimônio cultural, reagindo contra quaisquer objeções dos eternos questionadores, sempre insatisfeitos, ou contra as investidas insensatas de uma crítica radical. A cultura nem sempre foi contraditória, por isso não devemos idealizá-la. No século XX, com a esmagadora predominância de critérios imediatistas e utilitários, esses valores críticos da cultura sofrem um brutal esvaziamento e as pessoas vão deixando de ter a capacidade de reconhecê-los, se por acaso com eles se defrontarem. O filme “Garota Interrompida” tem como representação histórica o ano de 1967. 

Mas trata-se de garotas marcadas pela sociedade, excluídas, consideradas insanas, doentes e descartadas logo no início da vida adulta. Polly, Georgina, Daisy e Lisa. Estão todas ali. O longa- metragem relata a história de uma jovem com “Transtorno de Personalidade Borderline”, que na década de 1960 havia tentado suicídio por estar deprimida. Por este motivo, sua família procura a ajuda de um psicanalista amigo da família e ambos decidem pela sua internação em hospital psiquiátrico. O que é insanidade? É a realidade é brutal para muitos jovens jogados numa instituição psiquiátrica. Mesmo assim poucas são consideradas loucas e trancadas por se recusarem a seguir padrões clínicos. Susanna Keysen era uma delas. Sua lucidez e percepção do mundo social e a cotidianidade à sua volta transgredia a tópica da consciência no âmbito familiar, contrariando seus pais, amigos e professores que não a entendiam. Sua vida transformou-se ao colocar os pés pela primeira vez no hospital psiquiátrico McLean, onde, nos dois anos seguintes, Susanna precisou encontrar novo escopo de sua “vontade de saber”, uma nova interpretação de mundo, um contato com ela mesma. Corpo e mente, em processo de busca, trancada com outras garotas de sua idade. - In April 1967, 18-year-old Susanna Kaysen is admitted to McLean Hospital, in Belmont, Massachusetts, after attempting suicide by overdosing on pills. She denies that it was a suicide attempt to a psychiatrist, who suggests she take time to regroup in McLean, a private mental hospital. Susanna is diagnosed with borderline personality disorder, and her stay extends to 18 months rather than the proposed couple of weeks. 
               O livro é narrado pela própria Susanna Kaysen, rememorando os 2 anos interrompidos de sua vida, onde ficou internada de forma voluntária no Hospital Psiquiátrico McLean, diagnosticada com “transtorno de personalidade limítrofe” cuja característica essencial é um padrão de comportamento marcado pela impulsividade e instabilidade de afetos, relacionamentos interpessoais e sobre a sua autoimagem. O padrão está presente no início da idade adulta e ocorre em uma variedade de situações e contextos sociais. Devido ao fato de um transtorno de personalidade ser um padrão mal adaptativo de experiências pessoais disseminado, contínuo, inflexível e com comportamentos patológicos, há uma relutância em diagnosticá-los antes da adolescência ou início da vida adulta. Entretanto, alguns enfatizam que, sem tratamento, os sintomas podem piorar. Outros sintomas incluem um intenso medo de abandono, crises de raiva e irritabilidade que outros têm dificuldade em compreender a razão.
          As pessoas com “transtorno de personalidade limítrofe” muitas vezes se envolvem na idealização e desvalorização de outros, alternando entre uma alta consideração positiva ou uma grande decepção. Automutilação e comportamento suicida são comuns, como ocorre no filme. Ela se recorda dos fatos e narra de forma crua, no sentido de ir direto ao ponto e sem muitos devaneios, o que viveu e o relacionamento que tinha com as outras garotas, com problemas até mais graves do que ela. Susanna parece ser a mais sã entre todas, apesar de ter várias crises sérias de identidade, com dificuldades de compreensão da sua autoimagem. O livro deu origem ao filme estrelado por Winona Ryder, Angelina Jolie, Brittany Murphy, Whoopi Godlberg, entre outros. Angelina Jolie garantiu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por interpretar Lisa, uma das meninas que faziam parte do grupo de Susanna, a mais afetada entre elas. No filme, é explorado muito mais as personagens do que no livro em si, onde temos muito mais aspectos de observação da autora estando na condição da sua doença.
Pintura de Jan Vermeer inspirou Susanna Kaysen.
       Os sintomas mais característicos são uma marcante sensibilidade a rejeição, pensar sobre e sentir medo de um possível abandono. Acima de tudo, as características incluem uma sensibilidade especialmente intensa nas relações com outras pessoas, dificuldades regulares em torno de emoções e impulsividade. Outros sintomas podem incluir sentimentos de insegurança quanto a identidade e valores pessoais, pensamentos paranoicos quando estressado e dissociação grave. Sentem emoções com mais facilidade, maior profundidade e por mais tempo. As emoções podem ressurgir repetidamente e persistir por longos períodos de tempo. 
         Consequentemente, pode demorar mais do que o normal para uma pessoa neste processo voltar a um estado emocional estável após uma experiência emocional intensa. Comportamento impulsivo é comum, incluindo: abuso de substâncias e alcoolismo, transtorno alimentar, sexo de risco ou indiscriminado com múltiplos parceiros, gastar dinheiro e dirigir imprudentemente. Comportamento impulsivo também pode incluir abandonar empregos e relacionamentos, fugir e se automutilar. Automutilação é comum e pode ocorrer com ou sem intenção suicida. As razões apresentadas para a automutilação não suicida diferem das razões para tentativas de suicídio. As razões para a automutilação não suicida incluem expressar raiva, autopunição, voltar ao normal (geralmente em resposta a dissociação) e distrair-se da dor emocional ou de circunstâncias difíceis. Em contraste com isso, as tentativas de suicídio tipicamente refletem uma crença de que as vidas das outras pessoas vão melhorar depois do suicídio. Ambas automutilações, suicidas e não suicidas, são uma resposta ao sentirem emoções negativas. Abuso sexual, em particular, pode ser um gatilho para comportamento suicida em adolescentes com tais sintomas. O que dizer sobre a questão tópica narrada na literatura e no filme Garota Interrompida? A sintetização viva dos anos 1960 dúvidas pessoais e como é a vida em um sanatório. O filme foi lançado no ano 1999/2000, com as participações principais de Winona Ryde, Angelina Jolie, Whoopi Goldberg, dirigido por James Mangold. 
           Vale lembrar que Johannes Vermeer nasceu em Delft, em 31 de outubro de 1632 e faleceu na mesma cidade em 15 de dezembro de 1675. Foi um brilhante pintor holandês, que também é conhecido como Vermeer de Delft ou Johannes van der Meer. Analogamente, como Rembrandt, Vermeer viveu toda a sua vida na sua terra natal, onde está sepultado na Igreja Velha (Oude Kerk) de Delft. Notadamente Rembrandt sempre foi fiel ao rosto que encontrava no espelho, tanto nos momentos felizes quanto nos de desespero, onde encarava as agruras da vida. Os retratos de grupos estavam em moda na Holanda de Remdrandt, onde grupos procuravam os pintores para terem seu retrato imortalizado em uma tela, e ainda podiam dividir os custos da produção entre si. É o segundo pintor holandês mais famoso e importante do século XVII, num período que é conhecido na história das artes pela chamada “Idade de Ouro Holandesa”, devido às espantosas conquistas culturais e artísticas do país nessa época, depois de Rembrandt, como vimos noutro lugar. Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes, vivas e brilhantes com o uso da luz. Rembrandt mudou-se para Amsterdã (1631), então em rápida expansão como  centro comercial dos Países Baixos. Começou a praticar como retratista profissional, obtendo grande êxito, permanecendo com o marchand, Hendrick van Uylenburg, e em 1634 casou-se com sua sobrinha, Saskia van Uylenburg, advinda de uma família respeitável: seu pai fora advogado e prefeito (“burgemeester”) de Leeuwarden. Quando Saskia, a filha caçula, ficou órfã, passou a morar com sua irmã mais velha em Het Bildt. Rembrandt e Saskia casaram-se na igreja local de Sint Annaparochie, sem a presença de seus parentes. 
             Assim, no mesmo ano, tornou-se cidadão de Amsterdã e membro da guilda local de pintores. Ele também conquistou diversos alunos, entre eles Ferdinand Bol e Govert Flinck.  Em 1639, passaram a viver em um casarão na Rua Jodenbreestraat. A hipoteca para financiar a aquisição da propriedade seria mais tarde a razão principal de graves dificuldades financeiras. Foi neste local que recorreu com frequência aos vizinhos judeus para pintar cenas do Velho Testamento. Embora abastado, o casal enfrentou diversos problemas pessoais; seu filho Rumbartus morreu com dois meses de idade em 1635, e sua filha Cornelia apenas três semanas após o parto em 1638. Em 1640 tiveram mais uma filha, também chamada Cornelia, que morreu com um mês de idade. Somente seu quarto filho, Titus, nascido em 1641, é que sobreviveu até a maioridade. Saskia morreu em 1642, pouco depois do nascimento de Titus, provavelmente em decorrência de uma tuberculose. Os desenhos de Rembrandt, dela em seu leito de morte, estão entre seus trabalhos mais intimistas e comoventes. Durante a enfermidade de Saskia, Geertje Dircx foi contratada como enfermeira e babá de Titus, tornando-se durante a mesma época amante de Rembrandt.   As gravuras consistiam de uma técnica aperfeiçoada e simplificada pelo próprio pintor, por volta de 1630, onde ele gravava placas de metal com um buril e depois, com a utilização de alguns ácidos, corava estas ranhuras feitas nas placas, marcando-as. Com o auxílio de uma prensa ele transpunha esta imagem gravada na placa de metal para o papel, resultando em lindas gravuras. 
              O nome desta técnica é “água-forte”. Rembrandt usava das mais variadas temáticas nas suas gravuras como cenas bíblicas, mitologia, paisagens, nus, retratos e outras mais, como também nas suas pinturas; embora os autorretratos sejam mais comuns neste tipo de arte. A fase onde realizou a maior quantidade de gravuras iniciou-se em 1636 e durou cerca de 20 anos. Muitas delas permanecem, algumas encontradas no Museu Rembrandt, em Amsterdã. Gravuras extraordinárias no mundo em exposições temporárias, a fim de que outros artistas e amantes da arte possam apreciar as obras do grande mestre. Entretanto, uma história do rosto será com efeito, antes de mais nada, uma história da emergência da expressão, dessa sensibilidade crescente, dessa atenção mais exigente que se dá a partir do século XVI à expressão do rosto como signo da identidade individual. A individualidade expressiva, será captada segundo Courtine & Haroche (2016: 17-18), nas formas de observação do homem natural, no deslocamento da relação entre o homem exterior e o homem interior, o homem físico e o homem psicológico. É a razão pela qual dá grande destaque à tradição fisiognomônica, apelando ainda aos escritos médicos e anatômicos, mas também aos textos usados pelos pintores, a certos escritos estéticos. Tal abordagem não se inscreve, entretanto, nas tradições estéticas antropológicas de uma história da mímica, da caricatura, da máscara que tais objetos possam figurar. Ela não se confunde com esse modo essencial de representação do rosto: o retrato.
          Embora o retrato social seja um indicador maior das novas estruturas mentais e sociais, da expressividade individual, os rostos de uma época não se esgotam no reflexo que deles dá o retrato. Uma história do rosto é, com efeito, ao mesmo tempo, a história do controle da expressão, das exigências religiosas, das normas sociais, políticas e éticas que contribuíram desde o Renascimento para o aparecimento de um tipo de comportamento social, emocional, sentimental, psicológico fundado no afastamento dos excessos, no silenciar do corpo. Elas deram nascimento a um homem sem paixões de comportamento moderado, medido, reservado, prudente, circunspecto, calculado - com frequência reticente, silencioso por vezes. O homem razoável das elites e, depois, das classes médias. O homem das paixões, o homem espontâneo e impulsivo progressivamente apagou-se por trás do homem sem paixão. Mas no mais profundo desse homem sem paixão se abriga o homem sensível e expressivo, como expressão de si e do elo entre os homens nas circunstâncias da vida.  
              A possibilidade da causalidade tipicamente humana, a do homo faber, repousa precisamente no fato de que o homem, o ser dotado de razão, é capaz de conter em si, por modo de representação, o ser de efeitos possíveis que sejam distintos deles. É também por isso que o que fazemos ou reproduzimos é nosso, porque se somos responsáveis pelos atos que consumamos e possuidores legítimos de nossa capacidade, é porque, como esses efeitos não eram inicialmente senão nós mesmos como causas, somos de novo nós que existimos neles em seu ser de efeitos. Os dramas de Shakespeare, as comédias de Molière e as sinfonias de Beethoven não são apenas de Shakespeare, Molière e Beethoven mesmos, a tal ponto que podemos nos perguntar senão são a melhor parte e como auge da personalidade deles. Contudo, institucionalizada, é obrigada a ingerir os medicamentos sem ao menos saber para quê servem, o que causa intensa angústia. Em sessão com os pais e o psiquiatra do hospital, conflitos familiares emergem, bem como o diagnóstico do transtorno, do qual a paciente não sabia e não lhe foi explicado, sendo este quadro mantenedor da angústia existente.
          Em certo momento, na narrativa um rapaz com o qual se relacionou afetivamente vai visitá-la e surge a oportunidade de fugir do hospital, a qual é refutada pela garota, consciente, que prefere ficar no local devido aos laços de amizade conquistados. A questão do tempo está bastante abalada na personagem, que verbaliza sentir que o tempo vai pra frente ao mesmo tempo em que volta para trás. Fazendo-a sentir-se totalmente sem controle do tempo, o que também contribui para que o quadro da doença se instale, uma vez que a temporalidade é a essência da cura e a questão do tempo para a paciente está totalmente distorcida da realidade. Em suma, pode-se compreender segundo a abordagem fenomenológico-existencial, que a jovem Suzanna, possui características de uma “estadia-limite”, categorizada assim por delinear a identidade de uma forma de ser, experimentar com significados e responder-no-mundo, profundamente transtornado e grave. Pois é um modo de ser que está sempre no limite das emoções, misturando-se às demais pessoas do mundo, ditas normais.
Bibliografia geral consultada.
DURKHEIM, Émile; MAUSS, Marcel, De Quelques Formes Primitives de Classification: Contribution à l`Etude des Representations Collectives. In: MAUSS, Marcel, Representations Collectives et Diversité des Civilisations. Paris: Les Éditions de Minuit, 1969;  LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand, Vocabulário da Psicanálise. Lisboa: Editora Martins Fontes, 1970; FREUD, Sigmund, Obras Completas. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1972; GOFFMANN, Erving, Manicômios, Conventos e Prisões. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974; HELLER, Agnes, Sociologia della Vita Quotidiana. Roma: Editore Riuniti, 1975; ADORNO, Theodor, La Ideologia como Lenguaje: La Jerga de la Autenticidad. 2ª edición. Madrid: Ediciones Taurus, 1982; GUILHON ALBUQUERQUE, José Augusto, Metáforas da Desordem. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1985; RAPPAPORT, Regina Clara, Temas Básicos de Psicologia. São Paulo: Editor E.P.U. Volume VII, 1984; DEJOURS, Christophe, O Corpo entre a Biologia e a Psicanálise. São Paulo: Editora Artes Médicas, 1988; SCHORSKE, Carl Emil, Viena Fin de Siècle. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990; ; KAYSEN, Susanna, Girl, Interrupted. United States: Turtle Bay Books Editor,1993; GILSON, Étienne, O Espírito da Filosofia Medieval. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2006; AGAMBEN, Giorgio, Stanze. La Parole e il Fantasma nella Cultura Occidentale. Torino: Edinaudi Editore, 2011; GOMES, Isadora Dias, A Gente Vive de Sonho: Sentidos de Futuro para Adolescentes Privados de Liberdade. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2014; COURTINE, Jean Jacques; HAROCHE, Claudine, História do Rosto. Exprimir e Calar as Emoções (Do Século 16 ao Começo do Século 19). Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2016; MARTINS, Lilian Cassia Bacich, Implicações da Organização da Atividade Didática com Uso de Tecnologias Digitais na Formação de Conceitos em Uma Proposta de Ensino Híbrido. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; SALES PINHEIRO, Laise Helena Barbosa Araújo, Desejo, Violência e Cristianismo: Gênese de uma História Apocalíptica em René Girard. Tese de Doutorado. Departamento de História. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Riode Janeiro, 2016;  entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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