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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Amor Invisível – Resistência, Pós-psicologia & Viés de Percepção Seletiva.

Ao quebrar o silêncio a linguagem realiza o que o silêncio pretendia”. Maurice Merleau-Ponty

           A psicologia representa uma disciplina acadêmica de imenso escopo, cruzando as fronteiras entre as ciências naturais e as ciências sociais. Os “psicólogos biológicos” buscam uma compreensão das propriedades emergentes dos cérebros humanos, ligando a disciplina à neurociência. Sendo considerados cientistas sociais, também os psicólogos visam entender o comportamento de indivíduos e grupos. Um profissional ou pesquisador envolvido na disciplina é chamado de psicólogo. Alguns psicólogos também podem ser classificados como “cientistas comportamentais ou cognitivos”. Alguns psicólogos tentam entender o papel das funções mentais no comportamento individual e social. Outros exploram os processos fisiológicos e neurobiológicos subjacentes às funções e comportamentos cognitivos. Os psicólogos estão envolvidos em pesquisas sobre percepção, cognição, atenção, emoção, inteligência, experiências subjetivas, culturais, motivação, funcionamento do cérebro e personalidade. Os interesses dos psicólogos se estendem às relações interpessoais, resiliência psicológica, resiliência familiar e outras áreas da psicologia social. Eles também consideram a mente inconsciente. Os psicólogos pesquisadores empregam métodos abstratos e empíricos para inferir relações causais e correlacionais entre variáveis psicossociais. Alguns psicólogos clínicos e de aconselhamento confiam na interpretação simbólica. Talvez o melhor tenha sido o antropólogo Gilbert Durand (1921-2012).

A palavra psicologia significa literalmente “estudo da alma”. A palavra foi usada pela primeira vez no Renascimento. Em sua forma em latim psychiologia, foi empregada pela primeira vez pelo humanista e latinista croata Marko Marulić (1450-1524) na década de 1510-1520. Embora o reconhecimento psicológico seja frequentemente aplicado à avaliação e tratamento de problemas de saúde mental, ele também é direcionado para a compreensão e resolução de problemas em várias esferas da atividade psicológica humana. Segundo muitos relatos, a psicologia visa, em última análise, beneficiar a sociedade. Muitos psicólogos estão envolvidos em algum tipo de papel terapêutico, praticando psicoterapia em ambientes clínicos, de aconselhamento ou escolares. Outros psicólogos realizam pesquisas científicas sobre uma ampla gama de tópicos especiais relacionados a processos mentais e comportamento. Normalmente, o último grupo de psicólogos trabalha em ambientes acadêmicos como por exemplo, universidades, escolas de medicina ou hospitais. Outro grupo de psicólogos é empregado em ambientes industriais e organizacionais. Outros ainda estão envolvidos essencialmente em trabalhos relativos sobre desenvolvimento humano, a questão do envelhecimento, esportes, saúde, ciência forense, educação e mídia em geral.

         Em Amor Invisível (2019), Bess (Shannon Tarbet) sofre de síndrome de percepção seletiva e não consegue ver sua própria mãe (cf. Gorki, 2019). Em busca de uma solução, uma psiquiatra pede para Bess passar um tempo com um “homem suicida”, entretanto, ela também não pode vê-lo, nem compreendê-lo. E apesar de não enxergar o que está em sua frente, a jovem precisará tomar as rédeas de sua vida. A percepção seletiva pode se referir a qualquer número de vieses cognitivos na psicologia relacionados à maneira como as expectativas afetam a percepção visualmente. O julgamento humano e a tomada de decisão são distorcidos por uma série de preconceitos cognitivos, perceptivos e motivacionais. Pessoas tendem a não reconhecer seu próprio preconceito, embora elas tendam a reconhecer facilmente, e até superestimar, a operação do preconceito no julgamento humano por outros. Uma das razões pelas quais isso pode ocorrer é o que tem sido chamado de “bombardeio de estímulos” em que as pessoas recebem no âmbito cotidiano, deixando difícil de se prestar atenção igualmente a tudo como ocorre na vida social; portanto, elas escolhem, e escolhem de acordo com suas próprias necessidades. Percepção seletiva é o nome dado a um fenômeno psicológico segundo o qual, diante de um evento ou elemento social, escolhemos concentrar nossa atenção cotidiana quanto ao fato social que ver, ouvir e prestar atenção de acordo com nossas crenças pessoais.          

      A concentração mental tem como representação um processo psíquico que consiste em concentrar voluntariamente toda a atenção possível da mente sobre um objetivo prático, objeto ou atividade humana que se está fazendo no momento, deixando de lado todos os fatos sociais ou objetos que possam ser capazes de interferir na atenção. Vontade é a capacidade através da qual tomamos posição frente ao que nos aparece. Diante de um fato, podemos desejá-lo ou rejeitá-lo. Ante um pensamento, podemos afirmá-lo, negá-lo ou suspender o juízo sobre ele. Para os filósofos Santo Agostinho e René Descartes, vontade e liberdade são a mesma coisa: a faculdade através da qual somos dignos de louvor, quando escolhemos o bom, e dignos de reprovação, quando escolhemos o mau. Agostinho e Descartes concordam em que o fato de nós humanos termos vontade nos torna responsáveis pelas nossas decisões e ações. A dimensão moral do homem decorre do fato dele ter vontade. Em Agostinho, a escolha digna de reprovação é pecado. Em Descartes é erro. O “pecado” é uma falta religiosa oriunda da vontade. O erro é uma falta moral ou epistêmica. Moral quando a falta oriunda da vontade é prática. Epistêmica quando a falta oriunda da vontade é teórica. Agostinho de Hipona (354-430) e René Descartes (1596-1650) também concordam em afirmar que o fato sociológico de termos vontade não só nos torna responsáveis por nossos atos e decisões como também livra Deus de qualquer responsabilidade sobre a mesma, tal como explica a teodiceia.

A percepção seletiva, para o que nos interessa, é a característica que o indivíduo faz com que uma pessoa, um objeto ou um evento se sobressaia visualmente. Em outras palavras, é uma forma de viés, porque interpreta as informações de uma maneira que é congruente com os valores e crenças existentes do indivíduo. Por exemplo, um professor pode ter um aluno favorito porque é influenciado pelo favoritismo intragrupo. O professor ignora a baixa realização do aluno. Por outro lado, eles podem não perceber o progresso social de seu aluno menos favorito. Percepção seletiva é o processo pelo qual os indivíduos percebem “o que querem nas mensagens da mídia enquanto ignoram pontos de vista opostos”. É um termo amplo para identificar o comportamento que todas as pessoas exibem tendem a “ver as coisas” com base em seu quadro de referência específico. Também descreve como categorizamos e interpretamos as informações sensoriais de uma maneira que favorece uma categoria ou interpretação sobre outra. Em outras palavras, ela representa uma forma de viés, porque interpretamos as informações de uma maneira que é congruente com nossos valores e crenças existentes. Os psicólogos acreditam que esse processo ocorre automaticamente.

A percepção seletiva pode se referir a qualquer número de vieses cognitivos na psicologia relacionados à maneira como as expectativas humanas afetam a percepção. O julgamento humano e a tomada de decisão são distorcidos por uma série do que em psicologia se chama “preconceitos cognitivos”, perceptivos e motivacionais, e as pessoas tendem a não reconhecer seu preconceito, embora elas tendam a reconhecer facilmente e até superestimar “a operação de preconceito no julgamento humano por outros”. Uma das razões pelas quais isso pode ocorrer pode ser factualmente porque as pessoas são simplesmente bombardeadas com muitos estímulos todos os dias para prestar igual atenção a tudo; portanto, escolhem e escolhem de acordo com suas próprias necessidades. Para entender quando e por que uma região específica de uma cena é selecionada, os estudos observaram e descreveram os movimentos oculares dos indivíduos enquanto realizavam tarefas específicas. Nesse caso, a visão era um processo ativo que integrava as propriedades da cena ao comportamento oculomotor específico e orientado a objetivos. Em um estudo clássico sobre esse assunto relacionado ao “efeito hostil da mídia”, que é um bom exemplo de configuração socialmente dapercepção seletiva, os espectadores assistiram a uma tira de filme de um jogo de futebol norte-americano considerado particularmente violento em Princeton-Dartmouth.

Os telespectadores de Princeton relataram ter visto quase o dobro de infrações às regras cometidas pela equipe de Dartmouth do que os telespectadores de Dartmouth. Um aluno de Dartmouth não viu nenhuma infração cometida pelo lado de Dartmouth e erroneamente assumiu que ele havia recebido apenas parte do filme, enviando uma mensagem solicitando o resto. A percepção seletiva também é um problema para os anunciantes, pois os consumidores podem interagir com alguns anúncios e não com base em suas crenças preexistentes sobre a marca. Seymour Smith, um destacado “pesquisador de publicidade”, encontrou evidências de percepção seletiva na pesquisa de publicidade no início dos anos 1960, e definiu que era “um procedimento pelo qual as pessoas deixam entrar ou filtrar o material publicitário que têm a oportunidade de ver ou ouvir. Eles fazem isso por causa de suas atitudes, crenças, preferências e hábitos de uso, condicionamento, etc.”. As pessoas que gostam, compram ou estão pensando em comprar uma marca têm mais probabilidade de notar publicidade do que aquelas que são neutras em relação à marca. Esse fato tem repercussões no campo da pesquisa em publicidade, porque qualquer análise pós-publicidade que examine as diferenças de atitudes ou comportamento de compra entre os que estão cientes e os que desconhecem a publicidade é falha, a menos que diferenças preexistentes sejam controladas. Do ponto de vista da comunicação social os métodos de interpretação de pesquisa em publicidade utilizam um design longitudinal que estão indiscutivelmente melhor equipados para controlar a percepção seletiva.

O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty exercitou em sua teoria reflexões sobre a fenomenologia, movimento filosófico segundo o qual, assim que algo se revela frente à consciência humana, o Homem inicialmente o observa e o percebe em completa conformidade com sua forma, do ponto de vista da sua capacidade perceptiva. Na conclusão deste processo, a matéria externa é inserida em seu campo consciencial, convertendo-se, assim, em um fenômeno. O filósofo tem consciência de que as teorias sociais convencionalmente conhecidas sobre a percepção e a psicologia, contrariando Jean-Paul Sartre, percebe em que instante a consciência é integrada no mundo.  As críticas analíticas de Merleau-Ponty ao modelo representacional da percepção e da consciência se constituem ao longo de sua démarche no âmbito filosófico. Todavia em O Visível e o Invisível (1996; 2007), praticamente abandona a preocupação com a crítica a estas questões. Aprofunda cada vez mais suas concepções sobre o corpo, sobre o Ser, inaugurando a concepção de “carne”. Escreve que a carne (“Chair”) não é matéria, não é espírito, não é substância. Seria preciso para designá-la, o termo “elemento” (“élément”) “em que era empregado para falar-se da água, do ar, da terra e do fogo. Isto é, no sentido de uma coisa geral, meio caminho entre o indivíduo espaço-temporal e a ideia”.  

 Essa teoria circunscreve três impulsos filosóficos que serão afastados pelo trabalho merleau-pontyano: o teológico, que coloca o Absoluto como ponto de partida; o humanista, presente tanto nas filosofias da consciência quanto nas antropologias filosóficas, que faz da subjetividade o ponto de partida. Enfim, o naturalismo cientificista e o de um certo materialismo que, desejoso de corrigir as tendências anteriores, toma o homem e o mundo como processos objetivos impessoais. Esta é a tônica, por exemplo no caso exemplar do filme Misery (1990) em que a miséria humana não é determinista, pois acaso, do latim: “a casu”, significa “sem causa”. Acaso é uma palavra que pode ser usada em três sentidos diferentes, dependendo do significado que se dê originalmente à palavra causa. A base do conhecimento está, portanto, na capacidade de perceber o que nos cerca. Implica também o processo de dar significado ao que foi captado pelos sentidos, para que se possam realizar as necessárias conexões entre os objetos perceptíveis, o que torna possível vê-los como um todo expresso na dinâmica socialmente de seu movimento.

Leitora ardente e fã número 1 dos livros dele, Annie o prende na própria casa e o submete a uma série de torturas inimagináveis. Uma adaptação elegante, fiel e recheada de humor mórbido. Escritor de best-sellers, Paul Sheldon (James Caan) é salvo de um acidente por uma fã que resolve “guardá-lo para ela”. Ela se chama Annie Wilkes (Kathy Bates), enfermeira fanática pela personagem Misery Chastain. Paul, com as duas pernas quebradas e preso à cama, sente o alívio de não ter morrido tornar-se horror quando Annie descobre que a personagem Misery morre no último romance da série. Ele é obrigado a queimar o manuscrito com que esperava conquistar respeitabilidade literária. Annie exige que ele resgate Misery dentre os mortos e, diante do trágico e o inusitado, escrever essa história dramática, pois será sua única garantia de vida. Vale lembrar que num curso sobre o conceito de Natureza, ministrado em 1956/57, no Collège de France, Merleau-Ponty afirma que o problema ontológico é aquele ao qual se subordinam todos os outros e por isso mesmo a ontologia não pode ser um teísmo, um naturalismo ou um humanismo, não pode identificar o Ser com um dos seres - Deus, o homem ou a Natureza, é reafirmada na última nota do ensaio: O Visível e o Invisível (2007), quando apresenta o plano de seu escrito, escrevendo:  - “Trata-se precisamente de mostrar que a filosofia não pode mais pensar segundo esta clivagem: Deus, o homem, as criaturas”.

Neste aspecto filosófico e metodológico, Marx, depois de Hegel, é quem melhor precisa, a ideia segundo a qual “não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência”. Assim como não se julga um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio, não se poderá julgar uma tal época de transformação pela mesma consciência de si; é preciso, pelo contrário, explicar esta consciência pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver e, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as condições materiais e espirituais para o resolver existiam ou estavam, ao menos em via de aparecer. Narra que existe a “carne do mundo” e a “carne do corpo” e se imbricam na relação de percepção mútua. - “A carne é fenômeno de espelho e o espelho é extensão da minha relação com meu corpo”. É a possibilidade de corpo e mundo terem carne que os faz reconhecíveis para o outro, que nos faz capazes de, percebendo o mundo, refletirmos sobre este e sobre nós mesmos.

Merleau-Ponty foi, comparativamente ao lado de Jean-Paul Sartre (1905-1980), a figura mais representativa do pensamento filosófico francês após a 2ª guerra mundial (1939-1945), e que se celebrizou por uma de suas manifestações reconhecidas: o existencialismo. Ele procura persuadir o leitor de que os conceitos fundamentais da filosofia - sujeito e objeto, fato e essência, ser e nada, consciência, imagem, coisa, palavra - já representam determinada interpretação singular do mundo. Sua obra foi profundamente inspirada pelos trabalhos de Edmund Husserl (1859-1938), “pai da fenomenologia”, apesar de negar sua doutrina do conhecimento intencional, preferindo basear sua construção teórica na maneira de se portar do corpo e na captação de impressões dos sentidos.  No exame minucioso da percepção, Merleau-Ponty converte o processo fenomenológico em uma modalidade existencial, resumindo no logos a estrutura do mundo. Segundo sua concepção, a filosofia permite um novo aprendizado do olhar sobre o universo que o envolve, um retorno ao âmago do objeto. A base do conhecimento está na capacidade de perceber o que nos cerca, o que implica também o processo de dar significado ao que foi captado pelos sentidos, para que se possam realizar as conexões entre os objetos perceptíveis, o que torna possível vê-los.  

O trabalho parece ser uma categoria muito simples. A ideia de trabalho nesta universalidade, como trabalho em geral, é também das mais antigas. No entanto, concebido do ponto de vista econômico nesta forma simples, o trabalho é uma categoria tão moderna como as relações que esta abstração simples engendra. Assim, apesar de historicamente a categoria mais simples poder ter existido antes da mais concreta, pode pertencer, no seu completo desenvolvimento - em compreensão e em extensão -, precisamente a uma forma de sociedade complexa, enquanto a categoria mais concreta se achava já completamente desenvolvida numa forma de sociedade mais atrasada. Assim, a abstração mais simples, que a economia política moderna coloca em primeiro lugar e que exprime uma relação muito antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece, no entanto, sob esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da sociedade mais moderna. Isto é importante, na medida em que para Marx, o todo, na forma em que aparece no espírito como todo-de-pensamento, ou seja, analiticamente, é um produto do cérebro pensante, que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, de um modo que difere da apropriação desse mundo pela arte, pela religião, pelo espírito prático, antes como depois, o objeto real conserva a sua independência fora do espírito; e isso na duração estabelecida em que tiver uma atividade meramente especulativa, meramente teórica. No emprego do método teórico é necessário que o objeto, a sociedade, esteja constante no espírito como dado primeiro. 

No filme Misery, a máquina de escrever de Paul tem como representação uma tecla “N” defeituosa, o que alude assim como uma das primeiras máquinas históricas de escrever de Stephen King. Antes de James Caan assumir o papel de Paul Sheldon, ele foi oferecido para o genial Jack Nicholson. O ator recusou porque tinha feito O Iluminado em 1980, e não queria fazer outra adaptação de um livro de King. Curiosamente James Caan apareceu uma vez no set de ressaca, e todas as cenas que ele filmou naquele dia obviamente não ficaram boas para exibição. O diretor Rob Reiner disse a James Caan que ele teria que fazer as cenas novamente porque havia “um problema no laboratório”. Quando Caan descobriu que não tinha nada de errado com o laboratório, ele se ofereceu para cobrir o dinheiro que o estúdio perdeu com a gravação extra. Annie Wilkes é a personagem favorita na literatura ficcionista de King, porque ela sempre foi surpreendente para escrever, com profundidade e simpatia inesperadas. Segundo Merleau-Ponty, a esfera humana é uma espécie abstrata de “intermundo”, o qual pode ser explicado como o contexto histórico, a simbologia, ou a verdade a ser construída.

 Algo que acena com a possibilidade de uma significação das coisas, apesar de todos os paradoxos existenciais. Neste sentido, ser é visto pelo outro como uma fração de mundo, a interação social entre as consciências e a ligação dialética entre o senhor e o escravo no sentido hegeliano. Contudo, as obras mais significativas de Merleau-Ponty são as de natureza psicológica, para o que nos interessa, estão entre elas: A Estrutura do Comportamento, de 1942, e Fenomenologia da Percepção, de 1945. Na sua fase de inferência política elaborou uma série de outros ensaios de teor metodológico marxista como: Humanismo e Terror, de 1947, uma apologia do “comunismo soviético” de fins da década de 1940. Em 1955 ele passa por uma modificação sensível na sua weltanschauung sobre este regime, no ensaio: As Aventuras da Dialética, de 1955, no qual o marxismo é visto no plano abstrato da teoria, mais como um método de análise do que representando uma práxis revolucionária para se avançar politicamente sobre o debate da questão tópica da verdade no âmbito histórico da fenomenologia. Ao distanciar-se de suas primeiras obras e buscar a ontologia, Merleau-Ponty busca o Espírito Selvagem e o Ser Bruto. Sua interrogação vem exprimir-se na nota de O Visível e o Invisível, na medida em que para ele: “O Ser é o que exige de nós criação para que dele tenhamos experiência”.

Frase cujo prosseguimento reúne emblematicamente arte e filosofia, pois a nota continua: “filosofia e arte, juntas, não são fabricações arbitrárias no universo da cultura, mas contato com o Ser justamente enquanto criações”. Por que criação? Porque entre a realidade dada como um fato, instituída, e a essência secreta que a sustenta por dentro há o momento instituinte, no qual o Ser vem a ser: para que o ser do visível venha à visibilidade, solicita o trabalho do pintor; para que o ser da linguagem venha à expressão, pede o trabalho do escritor; para que o ser do pensamento venha à inteligibilidade, exige o trabalho do pensador. Se esses trabalhos são criadores é justamente porque tateiam ao redor de uma intenção de exprimir alguma coisa para a qual não possuem modelo que lhes garanta o acesso ao Ser, pois é sua ação que abre a via de acesso para o contato socialmente humano pelo qual pode haver experiência do Ser. Que laço amarra num tecido único experiência, criação, origem e Ser? Aquele que prende Espírito Selvagem e Ser Bruto. Que é Espírito Selvagem? É o espírito de práxis, que quer e pode alguma coisa, o sujeito que não diz “eu penso”, e sim “eu quero”, “eu posso”, mas que “não saberia como concretizar isto que ele quer e pode senão querendo e podendo”. Realizando uma experiência e sendo essa própria experiência na existência.

O que torna possível a experiência criadora é a existência de uma falta ou de uma lacuna a serem preenchidas, sentidas pelo sujeito da ação como intenção de significar alguma coisa muito precisa e determinada no campo da ação social. Em A Estrutura do Comportamento, obra dedicada ao tema da relação entre corpo e espírito, Merleau-Ponty confronta as posições behavioristas e gestaltistas em psicologia, e afirma que o interesse pela noção de comportamento advém de suas possibilidades para uma compreensão do mundo humano que escape tanto da redução mecanicista dos acontecimentos psíquicos quanto da assimilação do psiquismo à consciência pura. Graças a essa noção, pensada como estrutura, o filósofo pode distinguir entre a ordem física, a biológica e a humana, ordens que não podem ser reduzidas umas às outras, por nenhum tipo de mentalidade, mas dotadas de especificidade e diferença intrínseca. A elaboração da ideia abstrata de ordem humana como instituição da ordem simbólica efetuada pela mediação complexa da percepção, pela linguagem e pelo trabalho, ou como relação com o possível e com o ausente, assegura a irredutibilidade dessa ordem à ordem física e à biológica, mas nem por isso o pensador a concebe como uma construção intelectual específica posta pela consciência reflexiva: o comportamento não é uma coisa nem é uma ideia.

O referencial teórico de Merleau-Ponty ainda conserva ressonâncias da tradição esquecida da antropologia filosófica, pois o papel central é conferido à consciência perceptiva e não à percepção. Diante das operações da ciência e da filosofia cabe indagar: por que nossa existência é convertida em objeto de conhecimento, nosso corpo, em coisa qualquer, a percepção, em pensamento de perceber, a palavra, em pura significação, instrumento a serviço do mutismo do intelecto? Por que nossa inerência ao mundo, à história e à linguagem são dissimuladas? Recusa do imprevisível, o pensamento de sobrevoo tem como representação social no plano da teoria um “projeto de posse intelectual do mundo domesticado pelas representações construídas pelo sujeito do conhecimento”. A crítica analítica do possessivo é, simultaneamente, afirmação de que a filosofia e a ciência não são a fonte do sentido e que não há um ponto de partida absoluto, Deus, o homem, a Natureza, mas um solo originário e uma inerência ao mundo que merecem ser interrogados: o que está ligado de forma inseparável ao ser. É aquilo que está intimamente unido e que diz respeito ao próprio ser. A miséria humana é inerente da pessoa ou coisa e que lhe é inseparável por natureza. É o que é intrínseco, específico e que pode servir para caracterizar algo ou alguém para o bem ou o mal.

        No contexto alemão Jürgen Habermas no ensaio: “Desobediência Civil – a pedra de toque do estado democrático de direito” (2015), lembra o duo bávaro que tem dado o tom do governo alemão, os senhores Zimmermann e Spranger, canta o refrão em verso cuja melodia o Frankfurter Allgemeine Zeitung não para de tocar para eles há meses: “resistência sem violência é violência”. Em contrapartida, o ministro da Justiça se encontra a tal ponto sob a sombra do ministro do Interior – e o liberalismo dos outrora democratas liberais já está a tal ponto com as costas junto à parede – que nessa curva só restam tautologias a serem ouvidas: mesmo a “desobediência civil sem violência” seria ilegal. Na discussão dos últimos dois meses, os advogados de uma intensificação do direito penal contra manifestações seguiram a tendência de estender o conceito jurídico de violência até as formas não convencionais da formação da vontade política, indo além da tipicidade do ato violento. Conhece-se pela psicologia a compulsão de pensar segundo alternativas: como tantas vezes antes, também agora o pensamento compulsivo se entrincheira atrás de fórmulas jurídicas. Como alternativa única ao perturbador e ao desordeiro, ao perpetrador de ato violento criminoso, aparece o manifestante pacífico – um cidadão que vai à urna eleitoral por dever e costume, frequenta talvez as assembleias do próprio partido e participa eventualmente de um ato coletivo, seja no Primeiro de Maio ou em 20 de julho. Da autoridade que tem de cuidar da paz e da ordem, a formação democrática da vontade do presuntivo soberano mostra um semblante pálido, intimidado, sem garras. Por razões policiais, seria melhor que as manifestações ocorressem em salões, em todo caso, que não se desviassem da imagem normal do cortejo ordeiro de cidadãos adultos e asseadamente vestidos, com alocuções conclusivas diante da Câmara Municipal.

O pensamento do “ou-ou”, é uma mentalidade dualista que seleciona a realidade, ou seja, que vê as coisas de forma binária e busca segurança na falsa univocidade de dicotomias violentamente produzidas na realidade. Manifestando-se pacificamente, o “perturbador da paz pública” que não se dirige para casa a toda pressa depois da primeira solicitação policial e, contudo, não pode demonstrar ter satisfeito a tipicidade original do “apaziguamento” é um produto desse pensamento. De fato, modificou-se a cena dos protestos na Alemanha desde as marchas de Páscoa no começo dos anos 1960. Temos na memória, lembra Habermas, os protestos estudantis, cuja fagulha saltou de Berlim para as universidades da Alemanha Ocidental, quando Benno Ohnesorg foi assinado a tiros por um policial, sem motivo aparente. As novas formas desse movimento de protesto, frequentemente criativas, às vezes violentas, inspiraram-se nos modelos norte-americanos, a começar por aquele caso exemplar de desobediência civil em Ann Arbor, onde, em 15 de outubro de 1965, 39 estudantes da Universidade de Michigan, como protesto contra a intervenção militar dos Estados Unidos no Vietnã, mantiveram ocupado o escritório das autoridades locais para a convocação militar, e precisaram ser arrancados duas horas depois do final do expediente. O processo subsequente desencadeou um debate vivaz, recebendo por conta disso uma publicidade mundial. Ainda mais nítida – e ainda mais fortemente investida de emoções – é a nossa lembrança das ações terroristas clandestinas da Rote Armee Fraktion (RAF), que muito rapidamente tornaram claramente a diferença entre as ações criminosas da fração do Exército Vermelho e desobediência civil – por fim, até mesmo nas cabeças humanas em que esses conceitos continuaram peculiarmente difusos depois de anos de discussões duras, conduzidas internamente. 

            Desde a segunda metade dos anos 1970, foi se formando um novo movimento de protesto, com outra composição, com novos objetivos e com uma paleta de cores de novas formas, diferenciadas, de manifestação da vontade. Certamente, fala-se de resistência isenta de violência, ainda que pelo menos os porta-vozes do movimento saibam que hoje não são satisfeitas visivelmente de resistência, definidas na Lei Fundamental, artigo 20. Inciso 4. Mas cabe obrigar um movimento social e uma linguagem juridicamente fundamentada? Cabe per se “desapropriá-lo terminologicamente”, como diz Günter Frankenberg, o sociólogo da Universidade Técnica de Munique? O uso popular da linguagem quer expressar, com o termo “resistência”, apenas a urgência do motivo do protesto. A palavra não é empregada nem sequer de maneira metafórica quando designa as manifestações de desobediência civil – ou seja, atos que são ilegais segundo sua forma, embora sejam executados em apelo aos fundamentos legitimadores da ordem do Estado democrático de direito, reconhecidos em comum. Quem recorre ao protesto dessa maneira se vê em uma situação na qual só lhe restam, tratando-se de uma questão de consciência moral, os meios drásticos, carregados de riscos pessoais, para despertar a disposição de novamente deliberar formar vontade a respeito de uma norma vigente ou de uma política decidida com força de lei, dando impulso à revisão de uma opinião da maioria. Quem decide pela desobediência civil não quer se dar por satisfeito com que estejam esgotadas as possibilidades de revisão institucionalmente previstas, dado o alcance de uma regulamentação considerada ilegítima. Por que a ação do que aceita o risco de uma persecução penal por essas razões não iria poder se chamar “resistência”?

       A persistência nas instituições da democracia ligada ao Estado de direito se incorpora a desconfiança contra a razão falível e contra a natureza corruptível dos seres humanos. Para Habermas essa desconfiança estende-se para além dos controles e dos contrapesos que podem se institucionalizar. Pois nem a observância da via jurídica nem a autoridade da jurisprudência científica oferecem uma proteção automática em face do desenraizamento moral de uma ordem jurídica e de uma jurisprudência intactas na forma.  No ano do quinquagésimo aniversário do 30 de janeiro de 1933, isso não carece de maiores explicações. O Estado de direito que pretende permanecer idêntico a si mesmo se encontra diante de uma tarefa paradoxal. Ele precisa proteger e vigiar a desconfiança contra uma injustiça que apareça sob as formas legais, embora ela não possa assumir uma forma institucionalmente garantida. Com essa ideia em torno de uma desconfiança não institucionalizável contra si mesmo, o Estado de direito sobreleva o conjunto de suas ordens positivadas. O paradoxo encontra a sua solução em uma cultura política que dota as cidadãs e os cidadãos da sensibilidade, da medida do juízo e da disposição ao risco que são necessárias em situações transitórias e excepcionais a fim de reconhecer as violações legais à legitimidade e a fim de agir também ilegalmente por discernimento moral, em caso de necessidade. O caso da desobediência civil só pode ocorrer sob a condições de um Estado de direito intacto em seu todo. Diferentemente do combatente da resistência, ele reconhece a legalidade democrática da ordem realmente existente na realidade. 

Bibliografia Geral Consultada.

CHAUÍ, Marilena de Souza, Repressão Sexual: Essa Nossa (Des)conhecida. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987; MERLEAU-PONTY, Maurice, Ciências do Homem e Fenomenologia. São Paulo: Editor Saraiva, 1973; Idem, “Textos Selecionados”. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980; Idem, Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1996; Idem, Le Visible et le Invisible. Paris: Éditions Gallimard, 1996; Idem, O Visível e o Invisível. 4ª edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007; MOUTINHO, Luiz Damon Santos, “O Invisível como Negativo do Visível: A Grandeza Negativa em Merleau-Ponty”. In: Trans/Form/Ação. Vol.27 n° 1 Marília (SP), 2004; GOLDENBERG, Mirian, Ser Homem, Ser Mulher: Dentro e Fora do Casamento. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1991; Idem, O Corpo como Capital. São Paulo: Editora Estação das Letras e Cores, 2007; ABBOTTI, Elizabeth, Storia della Castitá. Delle Vestali a Elisabetta I, da Leonardo da Vinci a Magic Jonhson. Milano: Mondadori Editore, 2008; GRESS, Thibaut, “Maurice Merleau-Ponty: Oeuvres”. In: Actu-Philosophia, 6 février 2011; KING, Stephen, Misery: Louca Obsessão. São Paulo: Editora Suma de Letras, 2014; CAVALCANTI, Ana Paula Rodrigues, Relações entre Preconceitos Religioso, Preconceito Racial e Autoritarismo de Direita: Uma Análise Psicossocial. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2016; DIAS, João Carlos Neves de Souza e Nunes, O Corpo como Expressão e Carne: Texturas do Corpo na Filosofia de Maurice Merleau-Ponty. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017; GORKI, Maxime, La Mère. Paris: Editeur Prodinnova, 2019; CALEGARI, Gabriel Braga, Imagem, Dano e Cura: Cenas Dissensuais em Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação e Psicologia. Departamento de Psicologia. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2023; BITENCOURT, Fabrício Rezende, Narrativas Distópicas Brasileiras: Um Estudo Comparado De Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão, de Luisa Geisler Marcelo Ferroni, Natália Borges Polesso e Samir Machado de Machado. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2024; entre outros.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Minha Culpa – Cultura, Liberdade & Questão Técnica da Civilização.

                                    É a culpa, e não a fé, que remove montanhas”. Sigmund Freud 

Mercedes Ron López, nascida em Buenos Aires, em 3 de junho de 1993, é uma escritora e comunicadora audiovisual argentina-espanhola. Ela é reconhecida pela Saga Culpables, trilogia que ficou famosa através do Wattpad, uma plataforma que permite compartilhar histórias com as de outras pessoas. Ela foi best-seller do The New York Times e do USA Today. Pode ser usado por meio do site, por computador ou aplicativo no celular. O Wattpad foi criado em 2006, como resultado de uma colaboração entre Allen Lau e Ivan Yuen. A empresa está sediada em Toronto, Ontário. Em março de 2009 foi lançada a versão para iPhone, em abril do mesmo ano para o App World do Blackberry e em junho para Android. Em junho de 2009 o Aplicativo superava os cinco milhões de downloads. Em 2011, Wattpad anunciou que recebeu 3,5 milhões de dólares em financiamento de investidores, bem como por parte de W Média Ventures, Golden Venture Partners e de Union Square Ventures, um dos primeiros investidores em Twitter, Tumblr e outras histórias de sucesso de meios sociais. Em dezembro de 2011, Wattpad abre uma sede em Toronto, que seria selecionada como a empresa mais popular de meios digitais no país no Intercâmbio de Inovações canadiana desse mesmo ano. O cofundador e Chief Strategy Officer Ivan Yuen foi um empresário canadense na parte superior dos Impact Infused Awards, patrocinados por Deloitte, tem sede global em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. Fundada em 1845, em Londres, conta 700 escritórios em mais de 150 países, e de 457 mil profissionais em todo o mundo ocidental. O primeiro livro da trilogia Culpa Mía foi adaptado como filme em 2023.

Oficialmente Cidade Autônoma de Buenos Aires, é a capital e maior cidade da Argentina, além de ser a segunda maior área metropolitana da América do Sul, atrás apenas da Grande São Paulo. Ela está localizada na costa ocidental do estuário do Rio da Prata, na costa sudeste do continente. A conurbação da Grande Buenos Aires, que também inclui vários distritos da província de Buenos Aires, constitui a terceira maior aglomeração urbana da América Latina, com uma população de cerca de 13 milhões de pessoas. A cidade de Buenos Aires não é parte da província de Buenos Aires e nem é a sua capital, mas um distrito autônomo. Em 1880, depois de décadas de luta política, Buenos Aires foi federalizada e separada da província de Buenos Aires. Os limites da cidade foram ampliados para incluir as cidades de Belgrano e Flores, agora bairros da cidade. A emenda constitucional de 1994 concedeu a autonomia política, daí o seu nome formal: Ciudad Autónoma de Buenos. Seus cidadãos elegeram pela primeira vez um chefe de governo, ou seja, o prefeito em 1996. Antes, o prefeito era diretamente nomeado pelo Presidente da República. Por algumas formas de comparação, Buenos Aires é uma das 20 maiores cidades do mundo.  Analogamente ao lado de São Paulo e Cidade do México, Buenos Aires, vale lembrar, é economicamente uma das três únicas cidades latino-americanas consideradas cidade global alfa.

A Argentina tem a terceira melhor qualidade de vida na América Latina. A qualidade de vida na cidade de Buenos Aires é classificada como sendo a 62ª melhor do mundo. Em seu sentido mais geral, o termo “mundo” se refere à totalidade das entidades, ao conjunto da realidade ou a tudo o que existe. A natureza do mundo foi conceitualizada de diferentes maneiras em distintos campos. Algumas concepções veem o mundo como único, enquanto outras falam de uma “pluralidade de mundos”. Neste aspecto em termos demográficos, a população mundial é o total de humanos vivendo no planeta Terra. Estima-se que a população mundial chegou aos 8 bilhões em 15 de novembro de 2022. As Nações Unidas estimam que a população humana chegue até 11,2 bilhões em 2100. A capital argentina é uma das mais importantes e mais populosas entre as capitais sul-americanas, muitas vezes referida como a Paris da América do Sul. Buenos Aires do ponto de vista do processo de trabalho e da comunicação social global, é um dos mais importantes destinos turísticos do mundo, é reconhecida por sua arquitetura de estilo europeu e por sua rica vida cultural, com a maior concentração de teatros do mundo. Na primeira metade do século XX, Buenos Aires era considerada o “meridiano de Greenwich literário” da região platina, título conquistado pela modernização da cidade não só nos âmbitos econômico e estético, como também pela sua modernização como estilo cultural. A cidade foi a sede da primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, ocorridos em 1951, além de ter recebido partidas, incluindo a Final, da Copa do Mundo FIFA de 1978. Ipso facto, Buenos Aires também sediou os Jogos Olímpicos de Verão da Juventude de 2018. As pessoas nascidas em Buenos Aires são portenhos. É a terra natal do papa, Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires, e de Máxima dos Países Baixos, a atual rainha-consorte da realeza neerlandesa.    

A Argentina tem a terceira melhor qualidade de vida na América Latina. A qualidade de vida na cidade de Buenos Aires é classificada como sendo a 62ª melhor do mundo. A capital argentina é uma das mais importantes e mais populosas entre as capitais sul-americanas, muitas vezes referida “como a Paris da América do Sul”. Buenos Aires é um dos mais importantes destinos turísticos do mundo, é reconhecida por sua arquitetura de “estilo europeu” e por sua rica vida cultural, com a maior concentração de teatros do mundo. Na primeira metade do século XX, Buenos Aires era considerada o “meridiano de Greenwich literário” da região platina, título conquistado pela modernização da cidade não só nos âmbitos econômico e estético, como também pela sua modernização como estilo cultural. Não por acaso, a cidade foi a sede da primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, ocorridos em 1951, além de ter recebido partidas, incluindo a Final, da Copa do Mundo FIFA de 1978. Ipso facto, Buenos Aires também sediou os Jogos Olímpicos de Verão da Juventude de 2018. As pessoas nascidas em Buenos Aires são referidas como portenhos. A cidade é a terra natal do atual papa, Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires, e de Máxima dos Países Baixos, a atual rainha-consorte da realeza neerlandesa.

Francisco S.J., nascido Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, é um sacerdote católico que serve como o 266º Papa e soberano do Estado da Cidade do Vaticano, além de ser o primeiro Bispo de Roma a ser membro da Companhia de Jesus (Jesuítas), o primeiro das Américas, o primeiro do Hemisfério Sul, e o primeiro nascido ou criado fora da Europa desde o papado do século VIII do Papa Gregório III. É o primeiro papa nascido na América Latina, o primeiro pontífice do hemisfério Sul, o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1 200 anos, o último havia sido o sírio Gregório III, morto em 741, e também o primeiro papa jesuíta da história. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 28 de fevereiro de 1998 e foi elevado ao cardinalato em 21 de fevereiro de 2001, véspera da festa da Cátedra de São Pedro, com o título de Cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino, pelo Santo Padre São João Paulo II. Foi eleito papa em 13 de março de 2013.

Na história religiosa de sua vida pública, o Papa Francisco se destacou por sua humildade, ênfase na misericórdia de Deus, visibilidade internacional como papa, preocupação com os pobres e compromisso com o diálogo inter-religioso. Ele é creditado por ter uma abordagem menos formalista ao papado do que seus próceres antecessores, escolhendo residir na casa de hóspedes Domus Sanctae Marthae, em vez de residir, como ocorre na démarche papal, nos aposentos papais do Palácio Apostólico usados por papas anteriores. Ele sustenta que a Igreja católica deve ser “mais aberta e acolhedora”. Ele não apoia o “capitalismo desenfreado, o marxismo ou as versões marxistas da teologia da libertação”. Francisco mantém as visões tradicionais da Igreja em relação ao aborto, casamento, ordenação de mulheres e celibato clerical. Ele se opõe ao consumismo e apoia a ação sobre as mudanças climáticas, escopo de seu papado com a promulgação de Laudato si. Na diplomacia internacional, ajudou a restaurar as relações diplomáticas entre os Estados Unidos da América e a República de Cuba e apoiou a “causa dos refugiados durante as crises migratórias da Europa e da América Central”. Desde 2018, é um oponente vocal do neonacionalismo. Seu papado deu ênfase ao combate de abusos sexuais por membros do clero, tornando “obrigatórias as denúncias e responsabilizando quem as omite”.

Nascido e criado no bairro de Flores, atual sede do San Lorenzo, o Papa Francisco é o mais velho de cinco filhos, tendo como irmãos: Oscar Adrian Bergoglio, nascido em 30 de janeiro de 1938 e já falecido, Marta Regina Bergoglio, nascida em 24 de agosto de 1940 e falecida em 11 de julho de 2007, Alberto Horacio Bergoglio, nascido em 17 de julho de 1942 e falecido em 15 de junho de 2010 e Maria Elena Bergoglio, nascida em 7 de fevereiro de 1948. Inicialmente, alguns órgãos de mídia teriam afirmado que Jorge Bergoglio fez graduação e mestrado em química, na Universidade de Buenos Aires, a maior universidade da Argentina, tendo sido fundada em 12 de agosto de 1821 na cidade de Buenos Aires. Assemelha-se às demais universidades públicas do país por ser financeiramente dependente do Estado, como no caso brasileiro, porém é autônoma, gratuita e laica. Ela possui seu próprio governo decorrente de uma reforma universitária levada à cabo por professores, alunos e egressos em 1918 na Reforma Universitária de Córdova. Porém mais tarde se verificou que esta informação era incorreta, ele tendo apenas um diploma técnico em química pela Escuela Técnica Industrial n° 27 Hipólito Yrigoyen. Na juventude, teve uma doença respiratória que numa operação de remoção lhe fez perder um pulmão. Durante a sua adolescência, teve uma namorada, Amalia.  

Segundo ela, Bergoglio chegou a pedi-la em casamento, tendo inclusive afirmado que, do contrário, se tornaria padre. Jorge Mario Bergoglio nasceu numa família de imigrantes italianos. Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio Vasallo, nascido em Portacomaro em 2 de abril de 1908 e falecido em 1959, era um ferroviário e sua mãe, Regina Maria Sivori Gogna, nascida em Buenos Aires, de pais genoveses, em 28 de novembro de 1911 e falecida em 8 de janeiro de 1981, era dona de casa. Os dois se casaram em Buenos Aires no dia 12 de dezembro de 1935. Mario Giuseppe também jogava basquetebol no San Lorenzo, um dos cinco grandes times do futebol argentino e cujas origens haviam sido impulsionadas por um padre. Jorge tornar-se-ia torcedor sanlorencista, tendo afirmado que não perdeu nenhum jogo do título argentino de 1946, quando tinha dez anos. Em carta aos dirigentes que o visitaram após tornar-se Papa, relembrou: - “Tem vindo à minha memória belas recordações, começando desde a minha infância. Segui, aos dez anos, a gloriosa campanha de 1946. Aquele gol de Pontoni!”.

Em 1845, William Welch Deloitte (1818-1898) abriu um escritório em Basinghall Street, em Londres. Foi a primeira pessoa a ser nomeado um Auditor independente de uma empresa pública, ou seja, o Great Western Railway. Em 1896, Charles Waldo Haskins e Elias Watt Sells formado Haskins & Sells em Nova York.  Foi descrito como “a primeira grande auditoria empresa a ser estabelecida no país por um americano, em vez de contadores britânicos”. Em 1° de março de 1933, o coronel Arthur Hazelton Carter (1884-1965) ajudou a convencer o Congresso que as auditorias independentes deveriam ser obrigatórias para as empresas públicas. Em 1989, a Deloitte Haskins & Sells fundiu com Touche Ross nos EUA para formar Deloitte & Touche. Desastres financeiros no setor de administração de recursos de terceiros, ainda incipiente, mas em franca expansão, foram a oportunidade de expansão de seus negócios. O talento, a integridade e a perícia de Touche lhe renderam um enorme volume de trabalhos que consistiam em regularizar a administração desses recursos para que a lei fosse cumprida. Seu sucesso em salvar e reestruturar empresas fadadas ao fracasso abriu caminho para a formação da George A. Touche & Co., em 1899. Em 1900, com John Niven, filho de seu primeiro professor de contabilidade, abriu a organização Touche, Niven & Co., em New York. A Deloitte possui globalmente o propósito de gerar impactos positivos a partir dos projetos e ações de cada um de seus profissionais. Sob o lema: “Making an impact that matters”, a organização conduz sua atuação em três dimensões: clientes, seus próprios profissionais e sociedade.

Por mais simples que seja a linguagem e clara a sua exposição, sempre apresenta dificuldades específicas inevitáveis, porque dizem respeito à natureza própria da teoria, mais precisamente da produção do discurso teórico, e por isto produção. A dificuldade própria da terminologia teórica consiste pois em que, por detrás do significado usual da palavra, é sempre preciso discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual. Um bom exemplo, ocorre quando o leitor pensa compreender imediatamente o que Marx quer dizer quando emprega uma palavra tão corrente como a palavra trabalho. No entanto, é preciso um grande esforço para discernir, por detrás da evidência familiar (ideológica) desta palavra, o conceito marxista de trabalho, e mais, para ver que a palavra trabalho pode designar vários conceitos distintos: os conceitos de processo de trabalho, de trabalho concreto, de trabalho abstrato, etc. Quando uma terminologia teórica é boa, lembra Louis Althusser, no ensaio: Sobre o Trabalho Teórico (1978), isto é, bem determinada e bem referenciável, ela assume a função precisa de impedir as confusões entre o significado usual das palavras e o significado teórico (conceptual) das mesmas palavras. E a sua conjunção particular que produz significado novo, definido que é o conceito teórico. Não pode haver discurso teórico sem a produção destas expressões específicas, que designam conceitos de determinada prática da teoria.

 Isto quer dizer que a noção de cultura, a sociedade e a comunicação vêm articular-se a uma estrutura de relações sociais. No escravagismo antigo, por exemplo, nada distingue, do ponto de vista do modo de produção, o escravo do agricultor independente, proprietário privado individual. O que os distingue é a relação com o trabalho. Se um se conduz como proprietário das condições materiais da reprodução de sua existência, no outro caso é o mestre que se conduz como proprietário das condições naturais da reprodução de sua existência material do escravo. Pode-se fazer a mesma comparação e distinção entre o escravo moderno, do século XIX, e o trabalhador agrícola no sistema técnico de trabalho, ao qual se articulam relações sociais diferentes. A interligação dos processos de trabalho é primeiramente de ordem técnica, na medida em que está contida nos meios de trabalho e envolve imediatamente trabalhadores em situações específicas de trabalho. Em seguida é de ordem social, basicamente quanto à escala e quanto ao sentido de conjunto para satisfazer necessidades sociais. É, finalmente, de ordem tecnológica, na medida em que a produção, circulação, uso, dos produtos resultantes do processo de trabalho interligados, representam o próprio sistema social no âmbito de determinada cultura e/ou sociedade. Produzindo e consumindo determinados produtos/mercadoria os homens primeiro tecnologicamente produzem a sociedade e as relações existentes. Um sistema de trabalho é uma estrutura onde o que está em jogo é o trabalho e a reprodução da vida.

Do ponto de vista teórico-metodológico notou Norbert Elias (2011) que o conceito de civilização se refere a uma grande variedade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciário ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito de forma “civilizada” ou “incivilizada”. Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização. Mas também não significa a mesma coisa para diferentes nações ocidentais. Acima de tudo, é grande a diferença entre a forma como ingleses e franceses empregam a palavra, culturalmente, por um lado, e os alemães, por outro. O conceito resume em uma única palavra seu orgulho pela importância de suas nações para o progresso do Ocidente e da humanidade propriamente dita.

Quando no emprego que lhe é dado pelos alemães Zivilisation, significa algo de fato útil, mas, apesar disso, apenas um valor de segunda classe, compreendendo apenas a aparência externa dos seres humanos, a superfície da existência humana. A palavra pela qual os alemães se interpretam, que mais do que a qualquer outra expressa-lhes o sentimento de orgulho em suas próprias realizações e no próprio ser, é Kultur, pois são inteiramente claras no emprego interno da sociedade a que pertencem. O conceito francês e inglês de civilização pode ser referir a fatos políticos ou econômicos, religiosos ou técnicos, morais ou sociais. O conceito alemão Kultur alude basicamente a fatos intelectuais, sociais, artísticos e religiosos e apresenta a tendência de uma nítida linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais, por outro lado. Os conceitos comumente apropriados em francês e inglês de civilização pode se referir a realizações, mas também a atitudes ou “comportamento”, pouco importando se realizaram alguma coisa. No conceito alemão de Kultur, em contraste, a referência a comportamento, o valor que a pessoa tem em virtude de sua mera existência e conduta, sem absolutamente qualquer realização, é de fato considerado muito secundário.

O sentido alemão de Kultur encontra sua expressão mais clara derivado no adjetivo Kulturell, que descreve o caráter e valor de determinados produtos humanos, e não o valor intrínseco. O conceito inerente a Kulturell, porém não pode ser traduzido exatamente para o francês e o inglês. A palavra kultiviert (cultivado) aproxima-se muito do conceito ocidental de civilização. Até certo ponto, representa a forma mais alta de ser civilizado: até mesmo pessoas e famílias que nada realizaram de kulturell pode ser kultiviert. Tal como a palavra “civilizado”, kultiviert refere-se primariamente à forma da conduta ou comportamento da pessoa. Descreve a qualidade social das pessoas, suas habitações, suas maneiras, sua fala, suas roupas, ao contrário de kulturell, que não alude diretamente às próprias pessoas, mas exclusivamente a realizações humanas peculiares. Há outra diferença entre os dois conceitos estreitamente vinculada a isto. “Civilização” descreve um processo ou, pelo menos, seu resultado. Diz respeito a algo que está em movimento constante, movendo-se incessantemente “para a frente”. O conceito alemão de Kultur, no emprego corrente, implica uma relação diferente, com movimento. Reporta-se a produtos humanos que são semelhantes a “flores do campo”, a obras de arte, livros, sistemas religiosos ou filosóficos, nos quais se expressa a individualidade de um povo. O conceito Kultur delimita. Até certo ponto, o conceito de civilização minimiza as diferenças nacionais entre os povos: enfatiza o que é comum a todos os seres humanos ou – na opinião dos que o possuem – deveria sê-lo. Manifesta a autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e identidade nacional foram plenamente estabelecidas, desde séculos, que deixaram de ser tema de qualquer discussão, pública ou privada, de povos que há muito se expandiram fora de suas fronteiras e colonizaram terras muito além delas.

A questão da trivialização do conhecimento não faz produto do conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas, na medida em que sua estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais. Sua produção integra-se entre os outros processos de produção e a cultura torna-se cognoscível a partir das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem a informação, nem a concepção de teoria, nem o pensamento abstrato, nem a cultura são produtos triviais, ainda que mais não seja pelo fato de serem, ao mesmo tempo, produtos/produtores e, mesmo comportando a questão urbana hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não poderiam ser reduzidas a isso. A redução trivializante não teme exercer-se como sujeito sobre o conhecimento científico. Este nível abstrato como qualquer outro é apropriado pelo pensamento, como a religião e através da ciência, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e suas estratégias, seus interesses e seus prováveis ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos laboratórios, estes que parecem ter dinamismo, demonstram-nos como se estabelecem essas mediações complexas dos pesquisadores, em função de posições, ou status, as lutas e a utilização de alguns truques diabólicos pelo reconhecimento per se, pelo prestígio ou pela glória, com as negociações necessárias ao estabelecimento de uma prova, os ritos de passagem na pesquisa e na universidade. A motivação primeira do cientista é a notoriedade.

Mas não se pode reduzir o interesse científico ao interesse econômico, a vontade de pesquisar ao desejo de prestígio, a sede de conhecimento à sede de poder, em alguns casos terrenos sim. A sociologia não pode ser considerada uma concepção que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o tolera. É uma concepção humanista, mas que deve implicá-lo e explicitá-lo. Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo encouraçado de coerção. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue muralhas e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de determinações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, e per se da menor teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior sobre o conhecimento. É necessário considerar os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem visão de mundo e das coisas que se governam/controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias sociais.

Com maior razão, o mesmo vale para a arte, que é absolutamente refratária a tudo o que parece uma obrigação, porque é o domínio da liberdade. É um luxo e um adorno que talvez seja bonito ter, mas que não se pode ser obrigado a adquirir: o que é supérfluo não se impõe. Ao contrário, amoral é o mínimo indispensável, o estritamente necessário, o pão cotidiano sem o qual as sociedades civis não podem viver. A arte corresponde à necessidade de que temos de difundir nossa atividade social sem objetivo, pelo prazer de difundi-la, enquanto a moral nos obriga a seguir um caminho determinado em direção a um objetivo definido – e quem diz obrigação diz, com isso, coerção. Conquanto possa estar animada por essas ideias morais ou ver-se envolvida na evolução moral própria, a arte não é moral por si mesma. A observação estabelecida nos indivíduos, como nas sociedades, de um tal desenvolvimento intemperante das faculdades estéticas é um grave sintoma do ponto de vista da moralidade. Vale lembrar, segundo Durkheim (2010) que de todos os elementos da civilização, a ciência é o único que, em certas condições, apresenta um caráter moral. De fato, as sociedades tendem cada vez mais a considerar um dever para o indivíduo desenvolver sua inteligência, assimilando as verdades científicas que são estabelecidas. Há número de conhecimentos que devemos possuir.

Ninguém é obrigado a se lançar no grande turbilhão industrial; ninguém é obrigado a ser artista; mas todo o mundo é obrigado a não ser ignorante. Essa obrigação é, inclusive, sentida com tamanha força que, em certas sociedades, não é apenas sancionada pela opinião pública, mas pela lei. Aliás, não é impossível entrever de onde vem esse privilégio especial da ciência. É que a ciência nada mais é do que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Ora, para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhe são dadas, é necessário que o campo da consciência, tanto individual como social, se estenda e se esclareça. Os meios em que elas vivem se torna cada vez mais complexos e, por conseguinte, cada vez mais móveis, para durar é preciso que elas mudem com frequência. Por outro lado, sabemos o quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança, porque não vê depressa o bastante que é necessário mudar, nem em que sentido é preciso mudar; ao contrário, uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança social. Eis porque é necessário que a inteligência guiada pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva. Mas a ciência que todo o mundo é assim chamado a possuir não merece ser designada por esse nome. Não é a ciência, é no máximo sua parte comum a mais geral. Ela se reduz a um pequeno número de conhecimentos indispensáveis, que só são exigidos de todos por estarem disponíveis ao alcance de todos. A ciência supera infinitamente nesse nivelamento vulgar. Ela compreende o que é vergonhoso ignorar, como um navio na praia, que é possível saber.

Ela não supõe apenas, nos que a cultivam, essas faculdades médias que todos possuem, mas disposições especiais. Senão a uma elite, não é obrigatória; mas não é necessária a ponto de a sociedade reclamá-la imperativamente. É vantajoso estar munido dela; nada há de imoral em não a adquirir.  Paris, a capital de D’Amour, foi palco de um extraordinário e concreto romance. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem também da força imperativa e coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos desalmados. A partir deste fundamento etnográfico, compreendemos que ordem, desordem e organização são elementos essenciais para o entendimento da questão da complexidade, pois se desintegram e se desorganizam ao mesmo tempo na história singular da vida. Constata-se que o sentido da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e vice e versa em uma análise integradora em que não é pertinente examinar como tal a partir de uma única matriz de racionalidade.

 Em contraste, o conceito alemão de Kultur dá ênfase especialmente a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos. Em virtude disto, o conceito adquiriu em pesquisa etnológica e antropológica uma significação muito além da área linguística alemã e da situação em que se originou o conceito.  Todavia, a necessidade de comunicar-se sempre foi o motor de todo tipo de codificações expressivas, sendo a linguagem e a escrita instrumentos de comunicação oral e escrita sujeitos as limitações de espaço e lugar e a sua transmissão através da distância entre o emissor e o receptor. Simplificadamente, pode-se dividir em quatro fases a história da codificação de signos e fonemas ao serviço da relação inter-humana: mnemônica, pictórica, ideográfica e fonética. A primeira, mnemônica, historicamente se caracterizou pelo emprego de objetos reais como dados ou mensagens entre pessoas que viviam alheios e não pertenciam ao mesmo sistema convencionalmente de comunicação social. Aos antigos peruanos, escreve Albert A. Sutton (1866-1923), os chineses, e inclusive tribos mais recentes, utilizaram com muita frequência o quipo, representando cada um dos cordões usados do ponto de vista comunicativo pelos peruanos, no tempo social da monarquia Inca, na literastura comparada que formavam um método mnemônico, fundado nas cores e ordem dos cordões, número e disposição de nós, etc., ou série de cordas atadas para comemorar acontecimentos felizes, para servir como instrumentos de cálculo ou resguardar na memória as recordações dos mortos das tribos. 

Na segunda, pictórica, a comunicação tem como representação a imagem e se transmite mediante a pintura, a comunicando a relação dos objetos. Estas gravuras aparecem não só na pintura rupestre, e também sobre objetos variados: utensílios, armas ou artigos de valor empregados para o intercâmbio comercial. Na terceira, ideográfica, resulta de uma associação de símbolos pictográficos com objetos e ideias. Nesta fase os signos se empregam cada vez mais na representação de ideias, numa progressiva separação da estrutura do objeto que tenciona comunicar e a modelação cada vez mais simbólica que aproximará no signo alfabético, na escritura. A expressão ideográfica serviu para as formas primitivas de relatos, tal como podemos valorar na escritura ideográfica das culturas pré-colombianas ou mesopotâmicas, ainda que o máximo tipo cultural deste sistema de comunicação foi a escrita hieroglífica dos egípcios. A última, fonética, se estabelece quando o signo representa um som, fora das palavras inteiras, de sílabas ou do que depois chamamos letras, como unidade fonética menor.

A invenção do alfabeto foi o ponto máximo da codificação da comunicação e foi propiciada precisamente por aqueles povos de maior desenvolvimento social e de maior inter-relação comercial com outros povos. O alfabeto representou uma chave de intercomunicação e ao mesmo tempo um aríete de penetração cultural em mãos dos povos da antiguidade criadores das primeiras rotas de comércio marítimo e terrestre. O sistema social condiciona o sistema de comunicação. A comunicação sempre vem unida à existência da mudança de mercadoria e à busca incessantemente de matérias-primas que já mobilizou aos antigos. As rotas comerciais e de expansão imperial depredatória da Antiguidade foram autênticos canais informativos, lentos e precários, que abasteceram aos homens de um conhecimento aproximado dos limites do mundo e das tentações dos outros considerados desde cada particular forma etnocêntrica do indivíduo na sociedade. A rota do Cabo, contornando África, viria a ser explorada pelos Holandeses, e outras potências europeias. As rotas das especiarias passavam por intermediários antes de serem revendidos na Europa medieval. Era um tempo de medo. Há mil anos, na mesma Europa que agora se prepara para ingressar, próspera e unida como nunca, no terceiro milênio do calendário cristão, os homens viviam socialmente o pior dos mundos.

O irreversível desmoronamento, século após século, do que ainda restava da civilização greco-romana, depois sucedeu-se do fim do Império Romano do Ocidente, no século V, transformara o território europeu em campo de batalha onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente - visigodos e vikings, bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e eslavos, um sem-fim de povos que não por acaso entraram para a História sob a denominação coletiva de “bárbaros”. Além da violência simbólica e física das religiões, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca do ano 1000. Os proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades autônomas, com fortificações feitas de árvores e espinheiros e habitações cercadas de paliçadas. Registrou um observador do ano 888: - “Cada qual quer se fazer rei a partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e da administração, centro do comércio e do conhecimento, à maneira de Roma, e comparativamente, Atenas ou Alexandria na Antiguidade clássica, inexistia na paisagem ocidental desse período.

Havia historicamente burgos descendentes dos centros logo fundada pelos conquistadores romanos, como também ajuntamentos de um punhado de milhares de almas, nascidos da presença, nas proximidades, de um mosteiro ou de um vale fértil, ou do fato de se situarem no centro de uma região dominada por um príncipe. Nada, porém, que se comparasse a Constantinopla (Istambul), capital do Império Romano do Oriente, com suas centenas de milhares de habitantes, abastado comércio e porto movimentado. Há cerca de mil anos, amplas extensões do continente europeu eram constituídas de florestas um mundo sombrio, estranho e ameaçador aos homens que construíam povoados, cultivavam cereais e criavam gado em grandes clareiras nas suas cercanias, numa economia de pura subsistência, da mão para a boca. A construção de castelos, abadias e mosteiros ocupava igualmente muitos braços. Mas o principal motor da atividade econômica era a guerra: a necessidade de produzir armas, acumular provisões para a tropa e pagar os mercenários em metal sonante estimulava o comércio. Perigos reais, como os animais selvagens, e terrores imaginários historicamente constituídos na Europa, como monstros e demônios, espreitavam os aldeões que adentravam a mata em busca de carne de caça e de mel, a única fonte de açúcar dos europeus de então. Comparativamente, vista pelos olhos de hoje, a vida cotidiana tinha tons de pesadelo.

Culpa, por outro lado, se refere à responsabilidade dada à pessoa por um ato que provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesma ou a outrem. O processo de identificação e atribuição de culpa refere-se à descoberta de quem determinou o primeiro ato ilícito ou prejudicial, e pode se dar em três planos da atividade analítica: subjetivo, intersubjetivo e objetivo. No sentido subjetivo, a culpa é um sentimento que se apresenta à consciência quando o sujeito avalia seus atos de forma negativa, sentindo-se responsável por falhas, erros e imperfeições. O processo pelo qual se dá essa avaliação é estudado pela Ética, a disciplina filosófica que estuda os fundamentos da ação moral, procurando justificar a moralidade de uma ação e distinguir as ações morais das ações imorais e amorais e pela formação em Psicologia, que trata, estuda e analisa os processos mentais e comportamentos de indivíduos e grupos humanos em diferentes situações. A psicologia, do ponto de vista técnico-metodológico, tem como objetivo a compreensão de grupos e indivíduos tanto pelo estabelecimento de princípios universais, como pelo case study específico, e tem, segundo alguns analistas, objetivo final o benefício geral da sociedade. Um pesquisador ou profissional desse campo de atividade é reconhecido como psicólogo, podendo ser classificado como cientista social, comportamental ou cognitivo. A função dos psicólogos é tentar compreender o papel das funções mentais no comportamento individual e socialmente, estudando também, simultaneamente, os processos fisiológicos e biológicos que acompanham os comportamentos e funções cognitivas.

            Entretanto, o sentido religioso de culpa, pelo qual um ato da pessoa recebe uma avaliação negativa da divindade, por consistir na transgressão de um tabu ou de uma norma religiosa. A sanção religiosa é um ato social, e pode corresponder a repreensão e pena objetivas. De outra parte, a culpa religiosa pode compreender também um estado psicológico, existencial e subjetivo, que propõe a busca de expiação de faltas ante o sagrado como parte da própria experiência religiosa. O termo pecado, por exemplo, está geralmente ligado à culpa, no sentido religioso, sendo a culpa consequência do pecado cometido e arrependido por quem o cometeu. Por outro lado, a religião, principalmente neste caso o cristianismo, trata solenemente a culpa como um sentimento necessário ao arrependimento e a melhoria pessoal do infrator pois o mesmo alcança a mudança apenas se reconhecer como inadequado o ato cometido. Conforme II Coríntios, capítulo 7, verso 10, a culpa ou tristeza leva ao arrependimento para a salvação daquele que está amparado por Deus ao contrário do indivíduo, que sem este amparo, tem a culpa ou tristeza proveniente do mundo que o leva para a morte. A consequência da culpa poderá ser a mudança pessoal amparada por Deus que nos livra do pecado e das dores ou a autopunição consciente ou inconsciente daquele que carrega consigo toda a sua culpa.

O sentimento de culpa tem como representação o sofrimento humano obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo. A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido. Há também outra definição para “sentimento de culpa”, quando se viola a consciência moral pessoal, ou seja, quando pecamos e erramos, surge o sentimento de culpa. Para a psicologia humanista-existencial, especialmente a da linha de pesquisa rogeriana, a culpa é um sentimento como outro qualquer e que pode ser “trabalhado” terapeuticamente ao se abordar este sentimento com aquele que sofre. Para esta linha de raciocínio de Psicologia, um sentimento como esse, quando chega a ser considerado um obstáculo por aquele que o sente, é resultado de um inadequado crescimento pessoal, mas não é considerado uma psicopatologia. Para os teóricos rogerianos, todas as pessoas têm uma tendência a atualização que se dirige para a plena auto realização; o sentimento de culpa pode ser apenas limitação momentânea no processo de auto realização. 

É bastante concebível que tampouco o sentimento de culpa produzido pela civilização seja percebido como tal, mas que em grande parte permaneça inconsciente, ou apareça como uma espécie de mal-estar, uma insatisfação, para a qual as pessoas buscam outras motivações. As religiões nunca desprezaram o papel desempenhado na civilização pelo sentimento de culpa. O sentimento de culpa, a severidade do superego, é, portanto, o mesmo que a severidade da consciência. É a percepção que o ego tem de estar sendo vigiado dessa maneira, a avaliação da tensão entre os seus próprios esforços e as exigências do superego. É o ponto-chave do ensaio “Mal-estar na Civilização” de Sigmund Freud, um médico neurologista criador da psicanálise. Freud, como se tornara reconhecido, nasceu em uma família judaica, em Freiberg in Mähren, pertencente ao Império Austríaco, atualmente, a localidade é denominada Příbor, e pertence à República Tcheca. Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose no tratamento de pacientes com histeria, como forma de acesso aos seus conteúdos mentais.

Ao observar a melhora dos pacientes tratados pelo médico francês Charcot (1825-1893), elaborou a hipótese de que a causa da histeria era psicológica, e não orgânica, distanciando-se das correntes positivistas que associavam a determinação biológica da espécie. Essa hipótese serviu de base para outros conceitos desenvolvidos posteriormente por Freud, como o do inconsciente. Fatos como a descrição de pacientes curados através do diálogo por Josef Breuer e a morte do colega Ernst von Fleischl-Marxow (1846-1891) por dose excessiva do antidepressivo da época, a cocaína, levaram-no ao abandono das técnicas de hipnose e de drogas para criar um novo método chamado: a cura pela fala, ou seja, a psicanálise, que utilizava a interpretação de sonhos e a livre associação como vias de acesso ao inconsciente. Suas teorias sociais e seus tratamentos terapêuticos foram controversos na aparentemente conservadora Viena do fim do século XIX, e continuam a ser debatidos. Sua concepção de teoria é de grande influência na psicologia e, além do contínuo sobre a aplicação terapêutica no tratamento, também é discutida e analisada como obra de literatura e cultura geral nas humanidades.

Bibliografia Geral Consultada.

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