segunda-feira, 20 de junho de 2016

Questão de Tempo – Tensão do Amor & Enamoramento Metafísico.

                                                                                                   Ubiracy de Souza Braga*

 “l`amore è come il fuoco, se soffi si riaccende” . Francesco Alberoni 

A organização do mundo é necessariamente essa com que deparamos, ou seriam possíveis outros mundos? Existe algum deus? Se existe, como podemos conhecê-lo? Existe algo como um espírito? Há uma diferença fundamental entre mente e matéria? Os seres humanos são dotados de almas imortais? São dotados de livre-arbítrio? Tudo está em permanente mudança, ou há coisas e relações que, a despeito de todas as mudanças aparentes, permanecem sempre idênticas? O que diferencia a metafísica das ciências particulares é que a metafísica, área da filosofia que estuda os fundamentos da realidade e do conhecimento, e que busca interpretar o mundo, considera o inteiro do ser enquanto as ciências particulares estudam apenas algumas partes específicas do ser. A metafísica distingue-se das ciências particulares por conta do objeto a respeito do qual está preocupada, o ser total, e por ser uma investigação a priori. Por isso, a diferença entre os métodos da metafísica e das ciências particulares decorre da diferença entre os objetos estudados. Assim, as categorias abstratas são expressas nas formas adequadas da subjetividade  que valem para as partes não podem ser estendidas ao inteiro.

Uma característica da compreensão moderna do mundo é a secularização. É um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da vida social. Essa perda de influência repercute-se na diminuição do número de membros das religiões e de suas práticas. Na perda do prestígio das igrejas e organizações religiosas. Na influência na sociedade, na cultura, na diminuição das riquezas das instituições religiosas, e, last but not least, na desvalorização das crenças e dos valores a elas associados. A partir do século XIX, houve um progressivo declínio da influência das instituições religiosas tradicionais. Este declínio verificou-se tanto na prática dos fiéis, como na dificuldade crescente em recrutar clero para o desenvolvimento e manutenção da instituição. A maior parte dos estudos acadêmicos versou a tentativa de compreensão deste âmbito. A investigação já não se centra tanto nas causas e nas razões da secularização, mas nas possibilidades da relação social da modernidade com o religioso. Vale lembrar historicamente que, os movimentos sociais de corte religiosos que culminaram na grande reforma religiosa do século XVI tiveram início desde a Idade Média, através dos teólogos John Wycliffe (1328-1384) e Jan Huss (1369-1415). Esses movimentos sociais foram reprimidos, mas, na Inglaterra e Boêmia, Alemanha, os ideais reformistas preservaram em circunstâncias tanto históricas e sociais mormente em relação às tendências que romperam a revolta religiosa na Alemanha.

Metafísica é uma disciplina fundamental da filosofia que examina a natureza essencial da realidade, incluindo a relação existente entre mente e matéria, entre substância e atributo e entre potencialidade e atualidade. Os sistemas metafísicos, na sua forma clássica, tratam de problemas centrais da filosofia teórica: são tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou princípios, bem como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em geral. Um ramo central da metafísica é a ontologia, a investigação sobre as categorias básicas do ser e como elas se relacionam umas com as outras. Outro ramo central da metafísica é a cosmologia, o estudo da totalidade de todos os fenômenos no universo. Concretamente, isso significa que a metafísica clássica tem como representação a questão tópica do ser e se ocupa das “questões últimas” da filosofia, situando a seguinte questão: há um sentido último para a existência do mundo?


 No começo do século XVI, a Igreja passava por um período delicado. A venda de cargos eclesiásticos e de indulgências, assim como o enfraquecimento das influências papais pelo prestígio crescente dos soberanos europeus, que muitas vezes influenciavam diretamente nas decisões da Igreja, proporcionaram um ambiente social religioso e muito oportuno a um movimento reformista. A hipótese da viagem no tempo se refere ao conceito de mover-se para trás e/ou para frente através de pontos diferentes no tempo, em um modo análogo à mobilidade pelo espaço. Algumas interpretações de viagem no tempo sugerem a possibilidade de viajar através de realidades paralelas. A possibilidade real de uma viagem no tempo é, hoje em dia, praticamente nula do ponto de vista prático, devido ao fato de que as partes responsáveis pela descoberta de meios para se efetuar uma viagem temporal não terem conseguido ainda produzir a suposta tecnologia capaz de possibilitar (ou resistir) a viagem. No entanto a viagem no tempo é teoricamente possível, embora ainda não exista a tecnologia necessária para tal. 
O conceito é constantemente abordado na ficção-científica, sendo que o mais famoso autor de obras sobre o tema é Herbert George Wells, reconhecido como H. G. Wells (1866-1946), um escritor britânico e membro da Sociedade Fabiana. Nascido no distrito Borough da Grande Londres, na juventude foi aprendiz de negociante de panos, a sua experiência nesta ocupação, veio mais tarde a ser usada como material para o romance Kipps. Em 1883, tornou-se professor na Midhurst Grammar School, até ganhar uma bolsa na Escola Normal de Ciências em Londres, para estudar biologia com T. H. Huxley. Nos seus primeiros romances, descritos ao mesmo tempo como “romance científico”, inventou uma série de temas que foram posteriormente aprofundados por outros escritores de ficção científica, e que entraram na cultura popular em trabalhos como seu primeiro livro: A Máquina do Tempo (1895), publicada originalmente em capítulos na revista semanal Pearson`s MagazineO Homem Invisível (1897) e A Guerra dos Mundos (1897). Outros romances, de natureza realista, não fantástica, ou mágica, foram bem recebidos, sendo exemplos a sátira à publicidade edwardiana Tono-Bungay e Kipps. Visionário, chegou a discutir em obras do início do século XX questões sempre atuais, como a ameaça de guerra nuclear, o advento de Estado mundial e a ética na manipulação de animais. 
Desde muito cedo na sua carreira, Wells sentiu que devia haver uma maneira melhor de organizar a sociedade, e escreveu alguns romances utópicos. Começavam, em geral, com o mundo a caminhar inexoravelmente em direção a uma catástrofe, até que as pessoas se apercebiam da existência de uma maneira melhor para viver, ou através dos gases misteriosos de um cometa, que fariam com que as pessoas começassem subitamente a comportar-se racionalmente (Os Dias do Cometa), ou pela tomada do poder por um conselho mundial de cientistas, como em The Shape of Things to Come (1933), livro que Wells adaptou mais tarde para o filme de Alexander Korda, Daqui a Cem Anos (1936), onde descrevia, com demasiada exatidão, a guerra anunciada, com cidades a serem destruídas por bombardeamentos aéreos. Viagens no tempo geralmente são o que estamos acostumados de assistir nos filmes, hic et nunc, ainda mais quando está relacionado a questão do amor e enamoramento a um amor perdido. O que “Questão de Tempo” (“About Time”, 2013) nos apresenta não é necessariamente a noção de tempo pragmática como prega o “carpe diem”. Mas Richard Curtis contempla uma história surpreendente, viva que é mais do que a  representação do amor como base da família ou amizade. 
A relação sexual converte-se então num desejo de estar no corpo do outro, um viver e um ser vivido por ele numa fusão de corpos que se prolonga como ternura por suas fraquezas, suas ingenuidades, seus defeitos e imperfeições. Não importa mesmo quem seja essa pessoa, pois na paixão nasce uma força terrível que nos leva à fusão e nos torna insubstituíveis, únicos um para o outro. O ente amado se converte naquele que não pode ser senão ele - o absolutamente especial. E isso acontece mesmo contra a nossa vontade, e apesar de acreditarmos por algum tempo que podemos viver sem ele, e que podemos encontrar essa mesma felicidade em outra pessoa qualquer. Mas não ocorre bem assim. Basta uma breve separação para termos a certeza de que este amado é portador de algo inconfundível, algo que sempre nos faltou, que se revelou através dele e que sem ele não podemos encontrar de novo, enfim, que represente simbolicamente a diversidade e a unicidade de quem amamos. Os fatos sociais por si mesmos, só aparentemente nos demonstram que nossa sexualidade de manifesta de maneira comum, quotidiana e de maneira extraordinariamente, afetiva, descontínua. A sexualidade se transforma no meio pelo qual a vida explora as fronteiras do impossível, os horizontes do imaginário individual (sonho) e da natureza, mas o que é revelador, acidental ou não, é que estamos diante do estado nascente.
  Questão de Tempo é um filme tem como representação uma história oral e de vida, como as nossas intensificadas no dia a dia. Aos 21 anos, Tim Lake descobre que ele pode viajar no tempo. Após uma terrível noite de Ano Novo, seu pai narra que todos os homens de sua família sempre tiveram a possibilidade de viajar no tempo. Tim não pode mudar a história do mundo, mas pode mudar a sua história, tornando sua vida um lugar melhor para se viver. Como? Arranjando uma namorada. Parece fácil, mas aparentemente não é. Ao se mudar para Londres, Tim conhece Mary. Eles se apaixonam, mas um pequeno incidente de percurso em sua viagem ao tempo faz com que Tim não tenha conhecido Mary. Então eles se encontram pela primeira vez ciclicamente e, finalmente, após muitas viagens ao tempo, ele consegue conquistar seu coração. Tim usa seus poderes para criar o mais romântico pedido de casamento. Para salvar seu casamento dos piores discursos dos padrinhos. Para ajudar seu melhor amigo de um desastre profissional, e para conseguir levar sua mulher ao hospital para o nascimento de sua filha. Mas, o próprio tempo revela que o “retorno do reprimido” não pode salvá-lo das perdas que afeta toda sua família.  Portanto, não é mais a vontade na concepção de Arthur Schopenhauer atribuída aos deuses ou entidades como propósito e sentido das ações humanas. Ele acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse algo a ver com a felicidade. Era apenas a vontade cega e irracional que todos os seres têm de se reproduzirem, dando assim continuidade à vida e, por conseguinte, ao sofrimento. A sensação de felicidade que o amor traz é apenas o interrompimento temporário do querer, a fuga de uma dor imposta pela vontade. Somente o sofrimento é positivo, pois se faz sentir com facilidade, enquanto que aquilo ao qual chamamos felicidade é negativo, pois é a mera interrupção momentânea da dor ou tédio, sendo estes últimos a condição inerente à existência.

Deste ponto de vista, não estamos longe de admitir que o lugar de análise em que o raciocínio sociológico constrói suas pressuposições é diferente do espaço lógico do raciocínio experimental. O espírito, dizia o magnífico filósofo Friedrich Hegel (1770-1831), não pode conhecer-se diretamente. É preciso que negue previamente, de certo modo, que saia de si e se torne “estranho a si mesmo”, exteriorizando-se e produzindo sucessivamente todas as formas do real – quadros do pensamento, natureza, história; e depois que reverta à origem, alcançando assim o conhecimento verdadeiro, a filosofia do espírito absoluto. Afastando-se de si, exteriorizando-se, para voltar depois a si mesma, a Ideia triunfa do que a limitava, afirmando-se na negação das suas negações sucessivas. Hegel definiu o princípio da realidade como uma Ideia lógica, fazendo do ser das coisas um ser puramente lógico e chegando assim a um panlogismo consequente que apresenta ainda, um elemento dinâmico-irracional, existente no domínio do que é próprio ao método dialético. O idealismo apresenta-se, para sermos breves, em duas formas: como idealismo subjetivo ou idealismo psicológico e como idealismo objetivo e lógico. Estas subjetividades culturais movimentam-se no âmbito de uma visão fundamental.

Essa diferença da essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o essente simples e imediato, ou como a essência: o objeto na sua humanidade. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser, assim da singularidade de apreensão do objeto. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, na démarche da consciência, mas por meio de Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não é. O objeto, portanto, deve ser examinado, para vermos se é de fato, na certeza sensível mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e se esse seu conceito - de ser uma essência - corresponde de imediato como se encontra na certeza sensível.  

Quer dizer, não temos de refletir sobre o objeto, nem indagar o que possa ser em verdade; mas apenas através da ideia de formação em “considerá-lo como a certeza sensível o tem nela”. O tempo, como a unidade negativa do ser-fora-de-si, é igualmente um, sem mais nem menos, abstrato, ideal. O tempo é como o espaço uma pura forma de sensibilidade ou do intuir, é o sensível, mas, assim como a este espaço, também ao tempo não diz respeito a diferença de objetividade e de uma consciência subjetiva contra ela. Quando se aplicam estas determinações de espaço e tempo, então seria aquele a objetividade abstrata, do tempo, porém a subjetividade abstrata. O tempo é o mesmo princípio que o Eu=Eu da autoconsciência pura; mas é o mesmo princípio ou o simples conceito ainda em sua total exterioridade e abstração – como o mero vir-a-ser intuído, o puro ser-em-si como simplesmente um vir-fora-de-si. O tempo é contínuo como o espaço, pois ele é a negatividade abstrata e nela ainda não há nenhuma diferença real.

No tempo, diz-se, tudo surge e tudo passa e perece, se se abstrai de tudo, do recheio do tempo e do recheio do espaço, fica de resto o tempo vazio comparativamente como o espaço vazio – isto é, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem existentes por si. Mas não é o que no tempo surja e pereça tudo, porém o próprio tempo é este vir-a-ser, surgir e perecer, o abstrair essente. O real de análise é bem diverso do tempo, mas também essencialmente idêntico a ele. O real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. O finito é transitório e temporário, porque ele não é, como ocorre na representação do conceito nele mesmo, a negatividade total, mas em si, como sua essência universal, entretanto, diferentemente da mesma essência, é unilateral, e se relaciona à mesma essência como à sua potência. Mas tais conceitos na sua identidade conseguem livremente existente para si, Eu=Eu, é “em si” e “para si” a absoluta negatividade e liberdade. Por isso o tempo não é potência dele, nem ele está no tempo nem é algo temporal. Mas ele é muito mais a potência do tempo, como sendo este apenas esta negatividade como exterioridade. Só o natural, é, enquanto é finito, sujeito ao tempo; na constituição da ideia, o espírito que é eterno.  

 Quase sempre estamos em busca de satisfazer os nossos desejos, a essência da vida tinha como representação essencial a dor, pois a satisfação constante do que queremos esta atrelada a nossa concepção de felicidade, o que acaba por se tornar insustentável, nos fadando a frustrações. No filme o pai de Tim tem uma revelação para fazer, um segredo sobre os homens da família: eles são capazes de viajar no tempo. Há algumas regras, como não poder voltar a um passado que não se viveu nem avançar ao futuro. De resto, a coisa é simples; basta entrar num lugar fechado, um armário, por exemplo, fechar os olhos, cerrar os punhos e pensar no momento que se quer reviver. Tim, claro, não acredita no pai. Este tampouco achava que ele fosse crer nessa história de viagem no tempo. Todo o diálogo entre os dois é levado num tom de deboche da situação, sacada astuta de Curtis que sabe que é exatamente o que o espectador está pensando no momento. Achando-se ridículo, Tim entra em seu guarda-roupa, memoriza um momento metafisicamente no ato de pensar – a festa de réveillon ocorrida  dias antes em casa – e voilá, em segundos está revivendo o tempo. A cena, já vista anteriormente pelo espectador, é historicizada no sentido anterior à Marx, no plano abstrato da concepção de teoria e Tim aproveita a repetição para corrigir erros, que vão desde trivialidades como não derrubar uma mesa de bebidas a coisas mais sérias, como não ferir os puros sentimentos de uma garota.     
Essa sexualidade, segundo Alberoni (1986) está vinculada à inteligência e à fantasia, ao ardor, à paixão propriamente dita; enfim, está em estado de fusão com tudo isso ao nosso redor. Mas a sua natureza é de subverter, transformar, romper os laços exteriores. E Eros é uma força revolucionária, ainda restrita a duas pessoas. Por isso mesmo, não se pode direcionar a sexualidade extraordinária de acordo com o nosso desejo, visto que ela determina nossos ciclos vitais ou tentativas de mudança, e por essa razão é perigosa. Apesar de a sexualidade ser para nós uma aspiração permanente e uma fonte constante de nostalgia, temo medo dela. Para nos defendermos do medo de amar, usamos a mesma palavra para indicar o Eros e a sexualidade quotidiana, ou seja, o comer e o beber do sexo sobre o qual fazemos pesquisas demoscópicas para descobrirmos sempre as mesmas coisas que já sabemos, mas que nos tranquilizamos porque nos revelam que também os outros vivem os mesmos sofrimentos humanos diante de nosso quotidiano. No enamoramento, a pessoa mais simples e limitada vê-se obrigada, para se exprimir, a usar a linguagem da poesia, da sacralidade e do mito.  É assim, porque na sacralidade do mito também nasceram da experiência extraordinária que é o comum de diversos movimentos. O enamoramento desafia as instituições de seus fundamentos de valor. Sua natureza reside em não ser um simples desejo ou capricho pessoal, mas um portador de projetos e criador de instituições.     
Questão de Tempo é um drama de fantasia britânico escrito e dirigido por Richard Curtis com Domhnall Gleeson, Rachel McAdams e Bill Nighy nos papéis principais. Devido a habilidade do diretor/atores, logo de início já embarcamos em sua aprazível trama. No dia em que completa 21 anos de idade, Tim Lake (Domhnall Gleeson) descobre que consegue viajar no tempo. O seu pai (Bill Nighy), conta-lhe que todos os homens da família sempre tiveram essa capacidade. Ao saber disto, Tim decide regressar à noite de Passagem de Ano na qual a timidez o tinha impedido de beijar uma amiga e corrige essa situação. No verão seguinte, Charlotte (Margot Robbie), prima do namorado da irmã de Tim, vai passar o verão com a família. Tim sente-se imediatamente atraído por ela e, quando a sua estadia está prestes a terminar, decide confessar a sua paixão. A jovem diz-lhe que ele tomou essa decisão tarde demais e, por isso, Tim volta a viajar no tempo para um momento anterior. Desta vez, Charlotte diz-lhe que ele devia esperar até ao último dia e voltar a tentar. Tim apercebe-se de que ela não se sente atraída por ele e que não serão as viagens do tempo que o irão ajudar. Assim, vê-la partir com o coração partido. Mais tarde, Tim decide mudar-se para Londres para ser advogado. Muda-se para a casa de um conhecido, Harry, um dramaturgo em dificuldades financeiras. Meses depois de se mudar para Londres, um dos amigos de Tim vai visitá-lo e os dois vão jantar ao restaurante Dans le Noir, onde casualmente Tim conhece Mary (Rachel McAdams). Ambos parecem sentir-se atraídos um pelo outro e, deliciosamente quando saem do restaurante, Tim apaixona-se!                      
 Empregado e levando bem sua vida, Tim é convidado por um amigo a um inusitado barzinho curiosamente onde homens e mulheres se encontram no escuro. Sonhar com escuridão pode ser motivo de apreensão para muitos sonhadores que ainda não sabem o significado deste sonho, isso porque desde sempre ouvimos histórias míticas e lendas e casos fantásticos de coisas que ocorreram em meio a escuridão. Eles conversam com duas jovens, se divertem, mas ocorre que eles só as veem na saída do lugar. A presentificação, melhor dizendo decorrente de um ato pelo qual um objeto se torna presente sob a forma de imagem, como no caso do encontro com a bela  mulher que encantou Tim somente com as palavras o conquista também pela beleza, graça e harmonia. Ela se chama Mary e, aparentemente, achou Tim suficientemente interessante para deixar seu telefone com ele. O problema é que Tim se vê obrigado a voltar no tempo para ajudar Harry, que teve problemas com a estreia de sua peça. Tendo ido ao espetáculo não poderia estar no encontro, que ocorreram no mesmo horário. Quando volta ao presente, ocorrem desencontros, pois o papelzinho com o número de telefone sumiu. O que segue é a romântica tentativa de Tim reencontrar Mary, que agora não faz a menor ideia de quem ele seja na vida.

 
A nossa sexualidade urbana, cristã, pequeno-burguesa é composta de sentimentos e emoções. Através da linguagem corporal se comunicam socialmente sentimentos de afeto, carinho e ternura. O contato corporal não só ajuda a preparar o organismo para a relação coital, mas tem sentido em si mesmo, enquanto expressa cuidado, atenção e desejo de agradar a outra pessoa amada. Esses momentos de comunicação íntima precisam ser preparados na vida cotidiana através de relações sociais em que predominam a atenção, a disponibilidade, a compreensão e o serviço. Daí em diante muito acontecimentos envolvem o casal e as pessoas do entorno vão nos conquistando cada vez mais. É bem verdade que podemos pensar nas diversas coisas que o protagonista poderia fazer com tais poderes. Mas não é a consciência do próprio sujeito que neste sentido passa a atribuir significado ao espaço/tempo no qual está inserido. A vida ganha uma dimensão de responsabilidade para com a condução do destino da espécie humana, bem como com relação ao domínio da natureza em suas várias formas de manifestação.  O tempo que as separa equivale a várias gerações e ultrapassa a capacidade da memória individual (o sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos). As unidades de geração desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo dado problema. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações de percepção dos sujeitos. Outra característica é a adoção de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo âmbito social. Em outras palavras: a unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional.
 O ser humano cria instituições como a escola, a igreja e o Estado a partir das quais vai gerenciar a vida em sociedade e tais instituições passam a ter a legitimidade de sua atuação amparada em argumentos e motivos típicos racionalmente válidos. Paternidade é um conceito que vem do latim paternĭtas e que diz respeito à condição de ser pai. Isto significa que o homem que tenha tido um ou mais filhos acede à paternidade. É importante destacar que a paternidade transcende o biológico. A filiação pode acontecer através da adopção, convertendo a pessoa em pai do seu filho mesmo que este não seja seu descendente de sangue. Num sentido semelhante, o homem que doa sémen para que uma mulher se insemine não se transforma não se transforma no pai da futura criança. A paternidade, por outro lado, pode ser espiritual ou simbólica. No âmbito da religião, é considerado líder o guia de uma congregação como o “pai” dos fiéis. Neste sentido, o papa da Igreja católica apostólica romana tende a designar-se como Santo Pai. É na paternidade que se revela a profundidade do ser, é participando da criação que o homem se realiza por aderir à alegria do saber diante da realização.
 Mediante a paternidade, o homem tem a chance de preencher aquele anseio que, desde a infância, o incita a ter grandeza na vida. Contudo, desde Mannheim, sabemos que a paternidade não ocorre somente no processo geracional, mas em toda formação desse ser. A cada fase da criança, há uma nova oportunidade do pai se reinventar, na medida do possível para melhor a si próprio na condução da vida em sociedade. Oswald Spengler inscreve-se no historicismo alemão, como um dos integrantes destacados desta geração extraordinária de intelectuais alemães, ao lado de um Max Weber, Georg Simmel e Friedrich Meinecke. E Spengler é historicista em quase todos os pontos relevantes de sua obra. É refratário à ideia em sua época de utilizar os modelos oriundos das concepções ciências naturais para as concepções filosóficas das humanidades. Ressalta a necessidade do historiador, sociólogo, ou crítico de arte, compreender o objeto de pensamento, atitude fundamentalmente diferente do característico método dos cientistas. Portanto, entende que as consciências são produto do contexto histórico e social em que vivem e têm seus horizontes da imaginação social por eles limitados.
          O historicismo assume uma posição decididamente relativista. Neste sentido, todos os valores de uma cultura estão inexoravelmente ligados a esta cultura, não sendo necessariamente válidos para outra. Oswald Spengler, como elide com tudo em “L´Déclin de L´Occident” (1976), leva-o às últimas consequências e o faz de maneira explícita. Nada escapa à passagem do tempo e a mudança do espaço, vinculado a instituições como a moral, o Direito, a arte, e mesmo a física e as matemáticas e suas pretensões de validez universal. O filósofo sistemático, diz ele “comete um erro muito grave ao considerar seus resultados como duradouros. Esquece o fato de que todos os pensamentos vivem num mundo histórico e, por isso, partilham do destino geral da efemeridade”. E vaticina: “Não há verdades eternas. Cada filosofia é expressão de seu tempo, e só dele”. O que quer dizer o seguinte: não se aceita a legitimidade de uma decisão ou ação social com justificativas extrassensoriais que apelem para divindades ditas superiores, isto é, nas formas de hierarquia, entendidas tanto para alcançar o bem ou para alcançar o mal. A angústia e a esfera da política como sentimento primário do homem, e mesmo a conjuração do numinoso, de onde resulta que a religião é a primeira forma de saber e a ciência e a política, enquanto houver homens, a última.
 O filme expressa uma beleza contagiante, tratando de temas tão profundos quanto a beleza da vida, a necessidade de vermos cada instante como único e especial, o amor entre pai e filho, o amor romântico como alimento para a alma. A oposição entre sujeição e liberdade, cosmos e microcosmos ou existência e vigília. As superstições não mais como objetos, e sim como na representação de símbolos, como expressão de um temperamento ou índole interna de uma alma. A ciência mesma como um símbolo a mais e a não subordinação de uns a outros; a oposição entre verdades e fatos sociais; a história universal que não se converte em história da humanidade etc. Enfim, para Splenger o indivíduo histórico relevante é a cultura ocidental ou fáustica que emerge cerca do ano 900 depois de Cristo e que implica uma grande quebra de continuidade com as fases anteriores do pensamento sistemático, da matemática, da metafísica, da técnica, incluindo mudanças drásticas nas instituições de tempo, de espaço, de número etc. A importância desta tese apenas pode ser apreciada se tivermos em conta que essa morfologia da cultura que se transforma quase em um “templo”, e que por sua vez é o próprio céu que parecerá como inclinar-se sobre nós. Na representação do amor e da vida que temos uma das expressões vívidas da dicotomia em oposição assimétrica e complementaridade entre cultura e civilização. Ipso facto que nos impregna o pensamento durante décadas estabelecendo os termos de referência das mais importantes discussões da história da filosofia.  

Bibliografia geral consultada.

SPENGLER, Oswald, O Homem e a Técnica. Lisboa: Guimarães Editores, 1983; DUNHAM, Katherine, Vodu. Le Danze di Haiti. Milano: Editora Ubulibri, 1991; BACHOFEN, Johann Jakob, El Matriarcado: Una Investigación sobre la Ginecocracia en el Mundo Antiguo según su Naturaleza Religiosa y Jurídica. Madrid: Akal Ediciones, 1992; COLLIOT-THÉLÈNE, Catherine, Le Désenchantement de l`État: de Hegel à Max Weber. Paris: Minuit, 1992; AUJAC, Germaine, Claude Ptolémée: Astronome, Astrologue, Géographe: Connaissance et Représentation du Monde Habité. Paris: Comité des Travaux Historiques et Scientifiques, 1993; DOBBELAERE, Karel e DERSI, Chiara, “Tradizione, Secularizzazione e Individualizzazione: Un riesame di dati e modelli”. In: Religioni e Società,1994: pp. 4-28; THOMPSON, Edward Palmer, Tradición, Revuelta y Consciencia de Clase: Estudios sobre la Crisis de la Sociedad Preindustrial. Barcelona: Editorial Crítica, 1979; Idem, Costumes em Comum. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1998; BACHELARD, Gaston, A Água e os Sonhos. Ensaio sobre a Imaginação da Matéria. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998; JUNG, Carl, Sincronicidade. 5ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1991; Idem, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 2ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2000; ENGELS, Friedrich, El Origen de la Familia, la Propriedad Privada y el Estado. Moscú: Editorial Progreso, 2000; LAGO, Gustavo de Carvalho Pinheiro, Conectividade: Um Estudo sobre o Amor Pós-Moderno. Dissertação de Mestrado. Instituto de Psicologia. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2009; ALBERONI, Francesco, Innamoramento e Amore. Roma: Garzanti Editore, 1979; Idem,  Lições de Amor: Duzentas Respostas sobre Amor, Sexo e Paixão. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010; BUÑEL, Luís, Mi Último Suspiro. Barcelona: Edicíon Debolsillo, 2012; ORTIZ, Ana Cristina Vidal de Castro, Narrativas do Céu. A Presença da Astrologia nos Meios de Comunicação. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Comunicação na Contemporaneidade. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2015; MONTEIRO, Daniel Lago, William Hazlitt, um Ensaísta ao Rés-do-chão: Ensaio e Crítica. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada. Departamento de Letras. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; entre outros.

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