“Aquilo que não se elabora, repete-se em forma de destino”. Sigmund Freud
A Garota no Trem tem como representação social um
filme norte-americano de suspense psicológico de 2016 dirigido por Tate Taylor
e escrito por Erin Cressida Wilson, baseado no popular romance de estreia
homônimo de 2015 da autora britânica Paula Hawkins, nascida em Harare, em 26 de
agosto de 1972, é uma escritora britânica nascida no Zimbabwe, reconhecida pelo
seu romance best-seller de suspense: The Girl on the Train. O filme é
estrelado por Emily Blunt, Rebecca Ferguson, Haley Bennett, Justin Theroux,
Luke Evans, Allison Janney, Édgar Ramírez e Lisa Kudrow. A trama acompanha uma
divorciada alcoólatra que se envolve em uma investigação de pessoa desaparecida.
As filmagens principais começaram em 4 de novembro de 2015, na cidade de Nova
York. Produzido por Marc Platt e DreamWorks Pictures foi o primeiro filme
produzido pela DreamWorks Pictures para ser distribuído pela Universal Pictures
como parte do novo acordo de distribuição da DreamWorks através de sua nova
empresa controladora, a Amblin Partners, após o término do acordo de
distribuição com a Walt Disney Studios Motion Pictures no início daquele ano. O
filme A Garota no Trem estreou em Londres em 20 de setembro de 2016,
antes mesmo de ser lançado nos cinemas dos Estados Unidos em 7 de outubro de 2016. O
filme foi um sucesso exraordinário de bilheteria, arrecadando US$ 173 milhões em todo o
mundo globalizado. Recebeu críticas mistas, embora Blunt tenha recebido indicações de
melhor atriz no 23º Screen Actors Guild Awards e no 70º BAFTA. Um remake
em hindi foi lançado em 2021, com a atriz de Bollywood Parineeti Chopra no
papel principal.
A cidade de Nova Iorque se distingue de outras cidades dos Estados Unidos por sua baixa propriedade pessoal de automóveis e seu uso significativo de transporte público. A cidade de Nova Iorque tem a maior taxa de uso de transporte público entre todas as cidades americanas, com 54,2% dos trabalhadores fazendo esse uso em 2006. Cerca de um em cada três usuários de transporte coletivo nos Estados Unidos e dois terços dos ferroviários do país moram em Nova Iorque ou em seus subúrbios. Nova Iorque é a única cidade nos Estados Unidos onde mais da metade de todas as famílias não possuem um carro (a não propriedade em Manhattan é ainda maior, em torno de 75%; nacionalmente, a taxa é de 8%). A cidade de Nova Iorque também tem o maior tempo médio de viagem para os passageiros (39 minutos) entre as principais cidades dos Estados Unidos. A taxa excepcionalmente alta de uso de transporte público da cidade de Nova Iorque a torna uma das cidades mais eficientes em termos de energia nos Estados Unidos. O consumo de gasolina na cidade hoje é a taxa da média nacional nos anos 1920. A alta taxa de utilização de transporte público em Nova Iorque economizou 1,8 bilhões de galões (6.800.000 m³) de óleo em 2006 e US$ 4,6 bilhões em custos da gasolina.
De forma extraordinária Nova Iorque economiza metade de todo o petróleo economizado pelo trânsito em todo o país. Os trens têm suas raízes nos vagões que usavam trilhos e eram movidos por cavalos ou puxados por cabos. Após a invenção da locomotiva a vapor no Reino Unido em 1802, os comboios espalharam-se rapidamente por todo o mundo, permitindo que mercadorias e passageiros se deslocassem por terra de forma mais rápida e barata do que nunca. O metrô e os bondes foram construídos pela primeira vez no final de 1800 para transportar um grande número de pessoas dentro e ao redor das cidades. A partir da década de 1920 e acelerando após a Segunda Guerra Mundial, as locomotivas a diesel e elétricas substituíram o vapor como meio de força motriz. Após o desenvolvimento de carros, caminhões e extensas redes de rodovias que ofereciam maior mobilidade, bem como aviões mais rápidos, os trens diminuíram em importância e participação de mercado e muitas linhas ferroviárias foram abandonadas. A disseminação dos ônibus também levou ao fechamento de muitos sistemas de metrô e de bonde durante esse período. Desde a década de 1970, governos, ambientalistas e defensores dos trens têm promovido o aumento da sua utilização devido à sua maior eficiência de combustível e menores emissões de gases do efeito estufa em comparação com outros modos de transporte terrestre. A ferrovia de alta velocidade, construída pela primeira vez na década de 1960, provou ser competitiva com carros e aviões em distâncias curtas e médias.
O transporte
ferroviário suburbano cresceu em importância desde a década de 1970 como uma
alternativa às rodovias congestionadas e um meio de promover o desenvolvimento,
assim como o veículo leve sobre trilhos no século XXI. Os trens de carga
continuam a ser importantes para o transporte de mercadorias a granel, como
carvão e cereais, além de serem um meio de reduzir o congestionamento do
tráfego rodoviário causado por caminhões de carga. Embora os trens
convencionais operem em ferrovias relativamente planas com dois trilhos,
existem vários trens especializados que são significativamente diferentes em
seu modo de operação. Os monotrilhos operam em um único trilho, enquanto os
funiculares e os trilhos de cremalheira são projetados exclusivamente para
atravessar encostas íngremes. Trens experimentais, como maglevs de alta
velocidade, que usam levitação magnética para flutuar acima de uma ferrovia,
estão em desenvolvimento na década de 2020 e oferecem velocidades mais altas
até mesmo do que os trens convencionais mais rápidos. Os trens que utilizam
combustíveis alternativos, gás natural e hidrogênio, são outro
desenvolvimento do século XXI.
A redução no consumo de
petróleo significou que 11,8 milhões de toneladas métricas de dióxido de
carbono foram mantidas fora do ar. A área metropolitana de Nova Iorque foi
classificada pela Brookings Institution como a área metropolitana dos Estados
Unidos com a menor taxa per capita de carbono relacionada ao transporte e a
quarta menor taxa per capita de carbono em 2005 entre as 100 maiores áreas
metropolitanas dos Estados Unidos, superado apenas por Honolulu, Los Angeles e
Portland. O sistema de transporte da cidade e a densidade populacional que ele
possibilita também têm outros efeitos. Cientistas da Universidade de Columbia
examinaram dados de 13.102 adultos nos cinco bairros da cidade e identificaram
correlações entre o ambiente construído de Nova Iorque e a saúde pública. Os
nova-iorquinos que residem em áreas densamente povoadas e favoráveis a
pedestres têm níveis de “índice de massa corporal” (IMC) significativamente
menores em comparação com outros nova-iorquinos. Três características do
ambiente da cidade - vivendo em áreas com usos residenciais e comerciais
mistos, vivendo perto de paradas de ônibus e metrô e vivendo em áreas densas em
população - foram encontradas inversamente associadas aos níveis de “índice de
massa corporal” (IMC).
De todas as pessoas que
viajam para Nova Iorque, 41% usam o metrô, 24% dirigem sozinhos, 12% pegam o
ônibus, 2% viajam de trem, 5% de carona, 1% usam táxi, 0,6% andam de bicicleta
até o trabalho e 0,2% viajam de balsa. 54% dos lares da cidade de Nova Iorque
não possuem carro e dependem de transporte público. Enquanto a chamada “cultura
automobilística” domina a maioria das cidades americanas, o transporte de massa
tem na realidade uma influência decisiva na vida de Nova Iorque. O metrô é um
local popular para os políticos encontrarem eleitores durante as eleições e
também é um importante local para os músicos trabalharem e serem vistos com
seus instrumentos. A cada semana, mais de 100 músicos e conjuntos - variando
entre clássico, blues, africano, sul-americano e jazz - fazem mais de 150
apresentações sancionadas pelo New York City Transit, sob o programa
Music Under New York, em algumas dezenas locais em todo o sistema de metrô. Cerca
de 3,7 milhões de pessoas estavam empregadas na cidade de Nova Iorque;
Manhattan é o principal centro de emprego com 56% de todos os empregos.
Dos que trabalham em
Manhattan, 30% viajam de dentro de Manhattan, enquanto 17% vêm do Queens, 16%
do Brooklyn, 8% do Bronx e 2,5% de Staten Island. Outra viagem de 4,5% para
Manhattan do condado de Nassau e 2% do condado de Suffolk em Long Island, enquanto
4% viajam do condado de Westchester. Cerca de 5% de deslocamento dos condados
de Bergen e Hudson, em Nova Jérsei. Alguns viajantes vêm do condado de
Fairfield, em Connecticut. Alguns nova-iorquinos foram morar nos subúrbios: 3%
foram para Nassau County, 1,5% para Westchester County, 0,7% para Hudson
County, 0,6% para Bergen County, 0,5% para Suffolk County e menores
porcentagens para outros lugares na região metropolitana. Em média, os
nova-iorquinos gastam 1 hora e 27 minutos por dia útil com transporte público.
Destes, 31% viajam por mais de 2 horas todos os dias. A quantidade média de
tempo que as pessoas esperam em uma parada ou estação para transporte público é
de 15 minutos, mas 23% dos passageiros esperam por uma média real de mais de 20
minutos. A distância média que as pessoas normalmente andam em uma única viagem
com o transporte público é de 9,5 Km.
O filme fazia parte do acordo de distribuição da DreamWorks com a Walt Disney Studios, que começou em 2009. Em novembro de 2015, a Walt Disney Studios Motion Pictures agendou o lançamento do filme para 7 de outubro de 2016, através de sua marca Touchstone Pictures. No entanto, a Universal Pictures adquiriu os direitos de distribuição do filme, como parte de seu novo acordo de distribuição com a empresa controladora da DreamWorks, a Amblin Partners. A Universal manteve a data de lançamento original da Disney. A Entertainment One lançou o filme no Reino Unido em 5 de outubro de 2016. A Universal Pictures Home Entertainment lançou A Garota no Trem digital HD em 3 de janeiro de 2017 e em Ultra HD Blu-ray, Blu-ray e DVD em 17 de janeiro de 2017. A Garota no Trem arrecadou US$ 75,4 milhões nos Estados Unidos e Canadá e US$ 97,8 milhões em outros países e US$ 173,2 milhões em todo o mundo, contra um orçamento de produção de US$ 45 milhões. Nos Estados Unidos e no Canadá, o filme foi lançado juntamente com O Nascimento de uma Nação (2016) e Middle School: Os Piores Anos da Minha Vida (2016), e a previsão era que arrecadasse entre US$ 25 e US$ 30 milhões em fim de semana de estreia, com algumas estimativas para uma arrecadação de apenas US$ 18 milhões. Esperava-se que o filme tivesse um desempenho semelhante ao de Garota Exemplar (2014), com US$ 37,5 milhões em outubro de 2014, embora aquele filme contasse com um elenco de estrelas mais forte. Arrecadou US$ 24,5 milhões em seu fim de semana de estreia, ficando em primeiro lugar nas bilheterias. Em segundo fim de semana, arrecadou US$ 12 milhões em segundo lnas bilheterias.
Na
trama após perder o emprego e o fim do casamento, Rachel Watson, “uma
alcoólatra em recuperação, passa os dias viajando sem rumo de trem para Nova
York”. Ela se fixa na vida do ex-marido, Tom, da nova esposa dele, Anna, e dos
vizinhos, Scott e Megan Hipwell. Megan trabalhava para Tom e Anna como babá da
filha deles, Evie, mas havia se demitido recentemente. Durante seu casamento
com Tom, Rachel ficou deprimida com a infertilidade e desenvolveu um problema
com a bebida, o que a levou a constantes apagões e comportamento
destrutivo. O alcoolismo é uma das principais causas de disfunção familiar. Em
um churrasco oferecido pelo chefe de Tom, ela causou um escândalo em forte estado
de embriaguez, resultando na demissão dele. Agora, quando está bêbada, Rachel
costuma importunar inconscientemente Tom e Anna, ligando para eles
repetidamente, embora se lembre pouco disso quando fica sóbria. Certa tarde,
Rachel vê Megan beijando um estranho. Furiosa, ela vai confrontar Megan, mas
acorda horas depois em sua própria cama, coberta de sangue. Megan é dada como
desaparecida e o detetive Riley interroga Rachel vista naquele dia. Rachel
contata Scott, fingindo ser amiga de Megan, para contar sobre o caso. Ele
mostra a ela uma foto do psiquiatra de Megan, Dr. Kamal Abdic, que Rachel
identifica como o homem que a estava beijando.
Consequentemente, Abdic
é interrogado como suspeito, mas revela que Scott era emocionalmente
abusivo, e a suspeita recai exatamente sobre ele. Acreditando que Abdic está
envolvido no desaparecimento de Megan, Rachel marca uma consulta com ele, mas
acaba discutindo seus próprios problemas. Abdic relembra uma sessão com Megan
na qual ela revelou ter um bebê quando era muito jovem. O bebê se afogou
acidentalmente na banheira e Megan nunca se perdoou por isso. Megan é
encontrada morta e exames revelam que ela estava grávida, mas o pai não era
Scott nem Abdic. Scott entra na casa de Rachel e a confronta por mentir sobre
conhecer Megan, direcionando a polícia para Abdic e tornando-o o principal
suspeito. Rachel tenta denunciar a agressão à polícia, acreditando que a
violência de Scott sugere que ele possa ter assassinado Megan. No entanto, ela
descobre que Scott foi descartado como suspeito, pois há imagens de câmeras de
segurança dele em um bar na hora do crime. No trem, Rachel vê Martha, a esposa
do chefe de Tom. Rachel se desculpa por seu comportamento no churrasco, onde
(segundo ela mesma descobriu) quebrou uma travessa, jogou comida e insultou
Martha. No entanto, Martha revela que “Rachel apenas passou mal e tirou um
cochilo no quarto de hóspedes”.
Tom foi demitido por
assédio sexual contra colegas de trabalho. Rachel percebe que Tom implantou
memórias falsas em sua mente durante suas bebedeiras e também foi fisicamente
violento com ela durante seus apagões, o que explica os ferimentos que ela tinha
ao acordar. Enquanto isso, Anna suspeita que Tom a esteja traindo e encontra um
celular escondido em casa; a mensagem da secretária eletrônica revela que o
telefone pertencia a Megan. Agora sóbria, Rachel se lembra de que, no dia do
desaparecimento de Megan, flagrou Megan se encontrando com Tom, e ele a agrediu
quando ela os confrontou. Ao perceber que Tom matou Megan, Rachel avisa Anna.
Quando as duas confrontam Tom, ele fica furioso e nocauteia Rachel. Rachel
acorda com Tom tentando matá-la enquanto Anna observa do alto da escada,
protegendo Evie. Rachel corre para a cozinha e pega um saca-rolhas. Após uma
luta, ela o esfaqueia no pescoço com ele. Anna então o crava ainda mais fundo
no pescoço de Tom, matando-o. Entrevistadas por Riley, Rachel e Anna contam
histórias que se corroboram sobre terem matado Tom em legítima defesa, depois
que ele confessou ser o assassino de Megan. Anna admite que Rachel estava certa
sobre tudo. Mais tarde, Rachel visita o túmulo de Megan em um cemitério. Em
seguida, ela se senta do outro lado do trem, na esperança de seguir em frente.
Vale lembrar que o
interesse especial da paixão é, portanto, inseparavelmente da realização
do universal, pois o universal resulta do particular e definido e de sua
negação. É o particular que se esgota na luta, onde parte dele é destruída. Não
é a ideia geral que se envolve em oposição e luta expondo-se ao perigo, ela
permanece no segundo plano, intocada e incólume. Isto pode ser chamado astúcia
da razão, porque deixa as paixões trabalharem por si, enquanto aquilo através
do qual ela se desenvolve paga o preço e sofre a perda. O fenomenal é que em parte
é negativo e em parte, positivo. Em geral o particular é muito insignificante
em relação ao universal, os indivíduos são sacrificados e abandonados. Ela
contraria o tributo da existência e da transitoriedade, não de si mesmo, mas
das paixões dos indivíduos. Podemos achar tolerável a ideia de que os
indivíduos, seus objetivos e suas satisfações sejam assim sacrificados e sua
felicidade entregue ao domínio do acaso, a que ela pertence – e que em geral os
indivíduos sejam vistos sob a categoria social de seus recursos. Este é um
aspecto dinâmico de representação da individualidade humana que devemos recusar
a tomar exclusivamente a esta luz, mesmo em relação ao mais elevado, um
elemento que absolutamente não está subordinado, mas que existe nos indivíduos
como essencialmente eterno e divino. Estamos falando da moral, da ética e da
religião. Por prosperidade pode-se
entender analogicamente muitas coisas – a riqueza, a honra aparente e afins,
mas ao falar-se de objetivo em si e por si, o que chamamos de prosperidade ou
infelicidade, deste ou daquele indivíduo isolado, não pode ser visto como
elemento essencial na ordem racional do universo que vivemos.
A substância viva é o
ser, que na verdade é sujeito, ou que é na verdade efetivo, mas só na medida em
que é o movimento do pôr-se-a-si-mesmo, ou a mediação consigo mesmo do
tornar-se outro. Como sujeito, é a negatividade pura e simples, e justamente
por isso é o fracionamento do simples ou a duplicação oponente, que é de novo a
negação dessa diversidade indiferente e de seu oposto. Só essa igualdade se
reinstaurando, ou só a reflexão em si mesmo no seu ser-Outro, é que são o
verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou uma unidade imediata
enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que pressupõe
seu fim como sua meta, ipso facto sua antítese, que o tem como princípio, e que
só é efetivo mediante sua atualização e seu fim. Friedrich Hegel era crítico
das filosofias claras e distintas, uma vez que, para ele, o negativo era
constitutivo da ontologia. Neste sentido, a clareza não seria adequada para
conceituar o próprio objeto. Introduziu um sistema de pensamento para compreender
a história da filosofia e do mundo chamado geralmente dialética: uma progressão
no âmbito da história e sociedade na qual cada movimento sucessivo surge como
solução das contradições inerentes ao movimento anterior. Com mais razão do que
a felicidade ou as vezes afortunadas, requer-se do objetivo do mundo que os
objetivos bons, morais e corretos encontrem sua satisfação e segurança
realizadas de forma plena.
O que faz os homens
insatisfeitos moralmente – uma insatisfação de que eles se orgulham – é que não
acham o presente adequado à realização de objetivos que em sua opinião são
corretos e bons, especialmente os ideais das instituições políticas de nosso tempo.
Comparam as coisas como elas são, com seu ideal de como deveriam ser. Neste
caso, não é o interesse privado ou a paixão que deseja a satisfação, mas a
razão, a justiça, a liberdade. Em seu nome as pessoas pedem o que lhes é devido
e geralmente não estão apenas insatisfeitas, mas abertamente revoltadas contra
a condição de mundo. Para julgar esses pontos de vista e esses sentimentos,
ter-se-ia de examinar as exigências persistentes e as opiniões dogmáticas em
questão. Em nenhuma época tanto como na nossa vida privada esse tipo de
princípios e ideias gerais se apresentou com tamanha pretensão. Embora as
paixões não faltem, a história demonstra uma luta de ideias justificáveis e, em
parte, uma luta de paixões e interesses subjetivos sob as pretensões mais elevadas
como possíveis que são encaradas como legítimas em nome do suposto destino ou
conteúdo de sentido da Razão, têm assim validade como fins absolutos, da mesma
maneira que a religião, a moral, a ética. No amor, nunca é demais repetir, um
indivíduo tem a consciência de si na consciência do outro, se considerarmos que
ele vive de maneira altruísta.
Nesta renúncia cada um ganha a vida do outro e também a sua, que é uma só com o outro. Contra tal unilateralidade tem a efetividade uma força própria: alia-se à verdade contra à consciência, e lhe mostra enfim o que é a verdade. Mas a consciência ética bebeu, da taça da substância absoluta, o olvido de toda a unilateralidade do ser-para-si, de seus fins e conceitos peculiares; e por isso afogou, ao mesmo tempo, nessa água do Estige toda essencialidade própria e significação independente da efetividade objetiva. É, portanto, seu direito absoluto que, agindo conforme à lei ética, não encontre outra coisa nessa efetivação que o cumprimento dessa lei mesma, e o ato não mostre outra coisa senão o agir ético. O ético, enquanto essência absoluta e ao mesmo tempo potência absoluta, não pode sofrer perversão de seu conteúdo. Fosse apenas a essência absoluta sem a potência, poderia experimentar uma perversão por parte da individualidade, mas essa, como consciência ética, com o abandonar de seu ser-para-si unilateral, renunciou ao perverter. Inversamente, a simples potência seria pervertida pela essência, caso fosse ainda um tal ser-para-si. A individualidade é pura forma da substância, que é o conteúdo; e o agir comunicativo humanamente do pensamento à efetividade, somente como o movimento de uma oposição socialmente carente-de-essência, hic et nunc cujos momentos não possuem conteúdo e essencialidade distintos entre si. O direito absoluto da consciência ética consiste em que a figura de sua efetividade – não seja outro, senão o que ela sabe.
A virtude da política, “a audácia disciplinada”, segundo De Masi (2003: 151) e o equilíbrio das criações clássicas podem derivar tão-somente de uma condição de equilibrado bem-estar e de cultura sem alienação. Quando os grupos estão livres do poder da opressão; quando os cargos são independentes do berço e baseados na competência e no sorteio; quando todo cidadão tem direitos civis e deveres iguais ao participar das assembleias citadinas; quando o tempo dedicado à gestão da coisa pública é retribuído como qualquer outro emprego responsável; quando o welfare garante a redistribuição do excedente aos pobres; quando o Estado garante aos seus cidadãos teatros, templos, escolas, praças, chafarizes e obras de arte; quando a agricultura, a indústria e o comércio são colocados no mesmo plano e potencializam-se reciprocamente; quando os melhores talentos e os maiores investimentos são dedicados à beleza e à verdade, aí então pode-se concluir, justamente, que a democracia é completa e funcional. Atenas fez mais, seus frutos continuam como matriz ocidental sendo extraordinariamente surpreendentes. A filosofia, a matemática, a teoria musical, as ciências naturais e a medicina – é desvinculada da questão antropocêntrica da religião e da magia – a ética, a política, a história, a geografia, a psicologia, a anatomia, a botânica, a zoologia, a física e a biologia fizeram mais progressos teóricos, abstratos, nesses 100 anos que nos milhares de séculos precedentes. Quanto às artes, da arquitetura, à música, da escultura à pintura e à poesia, o tamanho da dívida que a humanidade conserva em relação à Grécia.
A supremacia do
trabalho não admite discussões. Caso se trabalhe, e só caso se trabalhe, tem-se
direito ao salário, ao respeito social e à segurança de uma assistência médica,
assim como de uma aposentadoria. O trabalho é uma categoria libertadora,
gratificante, honrosa e santificadora. Quem conhece um ofício e tem vontade de
trabalhar não ficará nunca sozinho, nem escravo, nem triste, nem ficará à mercê
de tentações ou dos usuários, ganhará o paraíso na terra e um lugar no paraíso
celeste. O trabalho é a realização de uma criação por meios da obra do homem, é
dever social, expiação, legítimo orgulho, autorrealização, fonte apreciável de
ganho. O trabalho nos faz humanos, cidadãos, sociáveis, produtores e
consumidores que de modo geral nos legitima a desejar e a obter alguma
admiração na vida. Quando falamos de trabalho entendemos toda a atividade
remunerada, seja ela manual, física, intelectual, autônoma ou dependente. Uma
atividade que, quanto mais onívora e veloz, mais é apreciada, se exercida pelo
homem, ela exige a precedência absoluta sobre qualquer outra atividade: o amor,
a família, a distração, o lazer, as práticas religiosas, a formação e a saúde.
Um bom trabalhador irá se vangloriar de não ter 1 minuto de trégua ou 1 só dia
de férias, de ficar no escritório horas, de levar trabalho para casa, e ser
localizável e disponível 24 horas, durante os santos dias do ano. Na sociedade
pós-industrial, uma instituição, um grupo ou um indivíduo é tão criativo quanto
mais ele consegue projetar na política, na economia, na ciência e na arte.
É preciso, portanto,
esclarecer como ocorre essa projeção. A descoberta é limitada por alguns
vínculos: o mundo material a ser descoberto é circunscrito pela sua própria
natureza; todo e cada problema natural admite uma única solução excelente e um
só procedimento eficiente para alcança-la. Pode haver assimetria entre os
homens e o tempo deles. Nem todos tiveram a sorte de Stendhal (1783-1842) ou de
Proust (1871-1922): espelhos fiéis da época que os produziu, sincronizados
emocional e racionalmente com os fatos acerca do que escreviam. Outros, como
Bacon (1561-1626) ou Beethoven (1770-1827), foram precursores de ideias e de
técnicas; às vezes uma infelicidade para si, mas uma fortuna para os seus
póstumos. Outros ainda, mesmo com sucesso e muitas vezes até com gênio,
prolongaram um estilo de vida, ou paradigmas intelectuais que já haviam
atingido a plenitude antes mesmo de seus nascimentos. Assimetrias desse gênero
podem se verificar sobretudo nas fases históricas de alternância entre
civilizações, quando não progride uma única ciência ou uma única forma de arte.
Mas desloca-se a própria interseção entre as artes ou as ciências, fazendo com
que o homem realize um salto dialético de qualidade. A palavra tutela tem
origem no Latim, do verbo tuere que significa proteger, vigiar, defender alguém.
Este instituto remonta à Roma na Antiguidade, que na história social nomeava
disciplinarmente um tutor ao menor impúbere, quando órfão.
A obra do sociólogo não
é a do homem público, assevera Émile Durkheim. O que a experiência do passado
demonstra, antes de mais nada, é que os marcos do grupo profissional devem
guardar sempre uma relação com os marcos da vida econômica; foi por ter faltado
com essa condição que o regime corporativo desapareceu. Portanto, já que o
mercado, de municipal que era, tornou-se nacional e internacional, a corporação
deve adquirir a mesma extensão. Em vez de ser limitada apenas aos artesãos de
uma cidade, ela deve ampliar-se, de maneira a compreender todo os membros da
profissão, dispersos em toda a extensão do território, porque, qualquer que
seja a região em que se encontram, quer no campo, todos são solidários uns com
os outros e participam da vida comum. Já que essa vida comum é, sob certos
aspectos essenciais, independentemente de qualquer determinação territorial,
tem que ser criado um órgão apropriado, que a exprima e regularize seu
funcionamento. Por causa de suas dimensões sociais, tal órgão estaria
necessariamente em contato relacional com o órgão central da vida coletiva,
pois os acontecimentos importantes o bastante para envolverem toda uma
categoria de empresas industriais num país tem necessariamente repercussões
bastante gerais, que o Estado não pode sentir, o que o leva a intervir. Não foi
sem fundamento que o poder real tendeu indistintamente a não deixar fora de sua
ação a grande indústria.
Era impossível que ele se desinteressasse por uma forma de atividade que por sua natureza, é capaz de afetar o conjunto da sociedade. Essa organização unitária para o conjunto de um mesmo país não exclui, de modo algum, a formação de órgãos secundários, que compreendam os trabalhadores similares de uma mesma região ou localidade, e cujo papel seria especializar ainda mais a regulamentação profissional segundo as necessidades locais ou regionais. A vida econômica poderia ser regulada e determinada, sem nada perder de sua diversidade. Por isso mesmo, o regime corporativo seria protegido contra essa propensão ao imobilismo, que lhe foi frequente e justamente criticada no passado, porque é um defeito que resultava do caráter estreitamente comunal da corporação. Na síntese durkheimiana representada sobre o lugar de análise das corporações deve-se até supor que esteja destinada a se tornar a base, ou uma das bases essenciais de nossa organização política. Ela começa por ser exterior ao sistema social, tenderá a se empenhar de forma cada vez mais profunda nele, à medida que a vida econômica se desenvolve. Ela foi outrora a divisão elementar comunal. Agora que a comuna, de organismo autônomo que era outrora, veio se perder no Estado, como o mercado municipal no nacional, acaso não é legítimo pensar que a corporação também deveria sofrer uma transformação social correspondente e tornar-se a divisão elementar do Estado, a unidade política fundamental?
A sociedade, em vez de
continuar sendo o que ainda é, um agregado de distritos territoriais
justapostos, tornar-se-ia um vasto sistema de corporações nacionais. Mas essas
divisões geográficas são, em sua maioria, artificiais e já não despertam em nós
sentimentos profundos. O espírito provinciano desapareceu irremediavelmente: o
patriotismo de paróquia tornou-se um arcaísmo que não se pode restaurar à
vontade. Para o sociólogo uma nação só se pode manter se, entre o Estado e os
particulares, se intercalar toda uma série de grupos secundários bastante
próximos dos indivíduos para atraí-los fortemente em sua esfera de ação e
arrastá-los, assim, na torrente geral da vida social. Isso não quer dizer,
porém, que a corporação seja uma espécie de panaceia capaz de servir a tudo.
Será necessário que, em cada profissão, um corpo de regras se constitua,
fixando a quantidade de trabalho, a justa remuneração dos diferentes
funcionários, seu dever para com os demais e para com a comunidade, etc. Estaremos não menos que agora, em presença de
uma tábula rasa. A vida social
deriva inexoravelmente de uma dupla fonte: a similitude das consciências e a
divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso, porque,
não tendo individualidade própria, confunde-se como seus semelhantes, no seio
de um tipo coletivo; no segundo, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade
pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se
distingue e, por conseguinte, da sociedade que resulta de sua união.
Esta divisão dá origem
às regras jurídicas que determinam as relações das funções divididas, mas cuja
violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. De todos
os elementos técnicos e sociais da civilização, a ciência nada mais é que a
consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Nunca é demais repetir que
para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhes são
dadas, é necessário que o campo da consciência se estenda e se esclareça.
Quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança social, porque
não vê depressa o que é necessário mudar. Nem em que sentido é preciso mudar.
Uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a
essa mudança risível. Eis porque é necessário que a inteligência guiada
disciplinarmente pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida
coletiva. Tais sentimentos são capazes de inspirar não apenas esses sacrifícios
cotidianos, mas também atos de renúncia completa e de abnegação exclusiva. A
sociedade aprende a ver os membros que a compõem como cooperadores que ela não
pode dispensar e para com os quais tem deveres. Na realidade, a cooperação
também tem sua moralidade intrínseca. Há apenas motivos para crer, que, em
nossas sociedades, essa moralidade ainda não tem todo o desenvolvimento que lhes
é necessário. Daí resulta duas grandes correntes da vida social, que
correspondem dois tipos de estrutura não menos diferentes. Dessas correntes, a
que tem sua origem nas similitudes sociais ocorre quando um grupo é capaz de
criar e reproduzir para si e para os outros a princípio só e sem rival.
Bibliografia Geral Consultada.
VAN GENNEP, Arnold, Os Ritos de Passagem. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1978; FOUCAULT, Michel, História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. 5ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984; MUSIL, Robert, O Homem Sem Qualidades. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1989; MARKS, Steven Gary, Road to Power: The Trans-Siberian Railroad and the Colonization of Asian Russia, 1850–1917. New York, 1991; CORSI, Giancarlo, “Inclusione: La Società Osserva l`Individuo”. In: Teoria Sociológica, I (1): 279-301, 1993; DELEUZE, Gilles, Crítica e Clínica. São Paulo: Editora 34, 1997; CERTEAU, Michel de, L`Invenzione del Quotidiano. Roma: Edizioni Lavoro, 2000; DURKHEIM, Émile, As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1999; Idem, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; WEISS, Raquel Andrade, Émile Durkheim e a Fundamentação Social da Moralidade. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; Idem, “Émile Durkheim: De Ideólogo da Laicidade a Precursor das Teorias Pós-seculares”. In: Revista Política e Sociedade, vol. 16, pp. 428-448, 2017; FREUD, Sigmund, O Mal-estar na Civilização. 1ª edição. São Paulo: Editor Penguin Classics Companhia das Letras, 2011; ARAÚJO, Edgilson Tavares de, (In)consistências da Gestão Social e seus Processos de Formação: Um Campo em Construção. Tese de Doutorado em Serviço Social. Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012; BAUMAN, Zygmunt, Cegueira Moral - A Perda Sensibilidade na Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2014; AUGÉ, Marc, O Antropólogo e o Mundo Global. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; SCHOR, Daniel, Heranças Invisíveis do Abandono Afetivo: Um Estudo Psicanalítico sobre as Dimensões da Experiência Traumática. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; entre outros.
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