sábado, 14 de maio de 2016

Academia de Tênis (Brasília) - Cinema & Política na Capital do Brasil.

                          Ubiracy de Souza Braga*

Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito”. Oscar Niemeyer 

                                    
                                       

Em 1964 Oscar Niemeyer viaja para Israel a trabalho e volta para um Brasil completamente diferente. Em março o presidente João Goulart (Jango), que assumira após o presidente eleito Jânio Quadros renunciar, havia sido deposto por um golpe dos militares, que assumem o controle do país e instauram um regime de ditadura que durariam 21 anos. O comunismo de Niemeyer lhe custou caro. No período da ditadura militar do Brasil, o regime instaurado em 1 de março de 1964 e que durou até 15 de março de 1985, a revista Módulo que dirigia tem a sede parcialmente destruída, o escritório de Niemeyer é saqueado, seus projetos passam a ser recusados e a clientela desaparece. Em 1965, 223 professores, entre eles Niemeyer, se demitem da Universidade de Brasília, em protesto contra a política universitária e retaliações do governo militar. No mesmo ano viaja para França, para uma exposição sobre sua obra no Museu do Louvre. No ano seguinte, impedido de trabalhar no Brasil, muda-se para Paris. Começa aí uma nova fase de sua vida e obra. Abre um escritório na Avenue des Champs-Élysées, nº 90, recebendo comissões de países, em especial da Argélia, onde desenha a Universidade de Constantine e, em 1970, a mesquita de Argel. Na França, projeta a sede do Partido Comunista Francês (doação), a Bolsa de Trabalho de Bobigny, o Centro Cultural Le Havre e na Itália a Editora Mondadori. O edifício foi solicitado por Arnoldo Mondadori, que se impressionara com o Palácio do Itamaraty em visita a Brasília.

Nascido no Rio de Janeiro, Niemeyer estudou na Escola Nacional de Belas Artes, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro e durante seu terceiro ano estagiou com seu futuro colega na construção de Brasília Lúcio Costa, com quem acabou colaborando no projeto para o Ministério de Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Contando com a presença de Le Corbusier, Niemeyer teve a chance de trabalhar junto com o mestre suíço, sendo ele uma grande influência em sua arquitetura. O primeiro grande trabalho de arquitetura individual de Niemeyer foram os projetos de uma série de edifícios na Pampulha, um subúrbio planejado no Norte de Belo Horizonte (MG), tendo como parceiro o engenheiro Joaquim Cardozo - que viria a ser o autor dos cálculos de suas principais obras em Brasília. Esse trabalho, especialmente a Igreja São Francisco de Assis, recebeu elogios da crítica nacional e estrangeira, chamando a atenção internacional para Niemeyer. Ao longo dos anos 1940 e 1950, Niemeyer se tornou um dos arquitetos mais prolíficos do Brasil, projetando uma série de edifícios, tanto no país como no exterior. Isso incluiu o projeto de diversas residências e edifícios públicos, e ainda a colaboração com Le Corbusier (e outros) no projeto da sede das Nações Unidas em Nova Iorque, o que provocou convites para ensinar na Universidade Yale e na Escola de Design da Universidade Harvard.

Em 1956, Oscar Niemeyer foi convidado pelo novo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, para projetar os prédios públicos da nova capital do Brasil, que seria construída no centro do país. Seus projetos para o Congresso Nacional do Brasil, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e a Catedral de Brasília, todos concluídos anteriormente a 1960, foram em grande parte de natureza experimental e foram ligados por elementos de design comuns. Esse trabalho levou à sua nomeação como diretor do departamento de arquitetura da Universidade de Brasília, bem como membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos. Devido à sua ideologia de esquerda e sua militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), Niemeyer deixou o país após o golpe militar de 1964 e, posteriormente, abriu um escritório em Paris. Ele retornou ao Brasil em 1985 e foi premiado com o prêmio Pritzker de arquitetura, em 1988. Entre seus projetos mais recentes se destacam o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (1996), o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (2002), a Cidade Administrativa de Minas Gerais (2010), o Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer, na Espanha (2011) e o Memorial Luiz Carlos Prestes (projeto de 2012). Niemeyer continuou a trabalhar até dias antes de sua morte, em 5 de dezembro de 2012, aos 104 anos. Seu último projeto foi idealizado pouco antes de morrer: a “cidade das artes e da cultura”, em Essaouira, antigamente chamada Mogador, é uma cidade da costa sudoeste de Marrocos, capital da província homônima, que faz parte de Marraquexe-Safim, região litorânea do Marrocos. O rei Mohammed VI esperou oito anos para dar aval ao projeto. 

A origem do tênis ocorreu no século XII, quando monges franceses começaram a arremessar com as mãos uma bola contra os muros de seus mosteiros. Alguns historiadores se referem aos povos egípcios e gregos da Antiguidade que praticavam esportes que seriam precursores do tênis. Como não há desenhos ou descrições que confirmem tal hipótese, estes pesquisadores usam como exemplo expressões árabes do antigo Egito como a “rahat”, que significa “palma da mão e seria a base da palavra raquete”. Mormente que a origem do nome do esporte fosse oriunda da cidade egípcia Tinnis. Outros pesquisadores dizem que a palavra surgiu muitos séculos depois, derivada da expressão francesa “tenez”, que era dita sempre quando um jogador se preparava para sacar a bola para o adversário. Bem antes do esporte ser reconhecido como tênis, havia uma brincadeira inventada pelos monges franceses que ganhou o nome de “jeu de paume”, que significava “jogo da palma (da mão)”, já que ainda não se usavam raquetes. Se por um lado, o tênis chegou ao Brasil pelos engenheiros ingleses que vieram no final do século XIX, por outro lado, o berço do tênis pode ser considerado o Rio Cricket, em Niterói (RJ), e o Wahallah, em Porto Alegre (RS).

Toda cultura per se opera uma divisão nela mesma, que se afirma como representação  par excellence do humano, e os outros, que participam da humanidade apenas em grau menor. O discurso que as sociedades fazem sobre si mesmas, discurso condensado nos nomes que elas se dão, é, portanto etnocêntrico de uma ponta à outra: afirmação da superioridade de sua existência cultural, recusa de reconhecer os outros iguais. O etnocentrismo aparece como a coisa do mundo mais bem distribuída e, desse ponto de vista pelo menos, a cultura do Ocidente não se distingue das outras. Ipso facto, aprofundando o nível de análise estrutural, devemos pensar o etnocentrismo como uma propriedade formal de toda formação cultural, como imanente à própria cultura. Em outras palavras, a alteridade cultural nunca é apreendida como diferença positiva, mas sempre como inferioridade segundo um eixo hierárquico. No entanto, se toda cultura é etnocêntrica, etnologicamente somente a ocidental é etnocida, o que reitera analogamente a abordagem estruturalista para a compreensão da diacronia, da história concreta hic et nunc sobre Brasília, Distrito Federal. Se Umberto Eco (1976) penetrou em profundidade sobre a minudência dos detalhes sem perder de vista a arquitetura em sua totalidade distribuída entre a forma e conteúdo, exemplificado no sentido  magistral de Oscar Niemeyer, posto que é considerado “um arquiteto de curvas e convicções”, é porque a ideia de que a Arquitetura seja uma forma de “comunicação de massa” está bastante difundida.
Uma operação que se dirige a grupos humanos para satisfazer algumas de suas exigências e convencê-los a viver de determinado modo pode ser definida como comunicação de massa. De acordo com Eco (1976: 224 e ss.), no ensaio: “A Arquitetura: Comunicação de Massa?”, também em relação a essa problemática a Arquitetura parece ter as mesmas características das “mensagens-massa”. Basta inferirmos sobre a tópica da individuação de algumas relações sociais: 1) O discurso arquitetônico é persuasivo: parte de premissas adquiridas, coliga-as em argumentos conhecidos e aceitos, e induz a determinado tipo de consenso; 2) O discurso arquitetônico é psicacógico: com suave violência, somos levados a seguir as instruções do arquiteto, o qual não apenas significa a representação técnico-metodológica das funções, mas promove e induz, no mesmo sentido em que falamos de persuasão oculta, indução psicológica, estimulação erótica; 3) O discurso arquitetônico é fruído na desatenção, como o discurso fílmico e televisivo, as estórias em quadrinhos, os romances policiais, ao contrário de como se frui a arte, que requer absorção, atenção, devoção à obra que se vai interpretar, respeito pelas supostas intenções do remetente); 4) a mensagem arquitetônica pode carregar-se de significados aberrantes sem que o destinatário perceba estar com eles interpretando uma traição.
 
                                                      
           
Quem usa a Vênus de Milo para obter uma excitação erótica sabe que está traindo a primitiva função comunicacional (estética) do objeto; mas quem usa o Palácio Ducal de Veneza para abrigar-se da chuva, ou aboleta tropas numa igreja abandonada, não percebe que está perpetrando um tipo especial de traição; 5) A mensagem arquitetônica move-se em um máximo de coerção (“você terá que morar assim”) e um máximo de irresponsabilidade (“você poderá usar essa forma como quiser”); 6) A arquitetura, compreende Umberto Eco, está sujeita a rápida obsolescência e sucessão de significados se não postular um recurso filológico. Ao contrário do que ocorre com o quadro, o poema, à semelhança do que acontece com as canções e trajes da moda; 7) A Arquitetura move-se numa sociedade de mercadorias sujeita a determinações de mercado, mais do que as outras atividades artísticas, tanto quanto os produtos da cultura de massa. Os morros cariocas representam sua antítese.
Com a vinda dos ingleses para o Brasil no fim do século XIX para atuarem no processo de urbanização da cidade de São Paulo e Rio de Janeiro, eles não trouxeram apenas uma bola de futebol em suas bagagens. Junto, vieram algumas raquetes e bolinhas para jogarem tênis, ou seja, o esporte desembarcou por aqui no mesmo período em que o futebol. No dia 19 de novembro de 1955, com a criação da Confederação Brasileira de Tênis, o Brasil começava a acompanhar a evolução do tênis no mundo e teve grande desenvolvimento. Novas quadras eram construídas e tenistas campeões começavam a surgir no Sul e Sudeste do país. Os gaúchos começavam a se destacar e entrar no cenário que até então pertencia somente aos paulistas e cariocas que já eram consagrados na época. De todos os talentos que tinham naquela época, Maria Esther Bueno (1939-2018), a maior tenista brasileira de todos os tempos, conseguiu um feito inédito em ser a número um do mundo nos anos de 1959, 1960, 1964 e 1966. Entre  títulos conquistados, o destaque fica para os oito campeonatos vencidos em Wimbledon e o tetra campeonato no chamado US open, o Aberto dos Estados Unidos da América.

A história da Academia de Tênis começou em 1972, nesse ano o empresário e médico José Farani fundou a Academia e se mudou para o local com toda a família. Farani chegou a Brasília em 1960, vindos do Espírito Santo. Antes de fundar a Academia exerceu a medicina no Senado e no Itamaraty. Também foi Secretário de Saúde do Distrito Federal. Localizado numa área de 62.000m2, a Academia de Tênis Resort contava com 150 apartamentos tipo chalet, 3 restaurantes de nível internacional, salão para 1.200 pessoas, ginásio com capacidade para abrigar 3.000 pessoas, centro de convenções com 3 auditórios e 21 quadras de tênis, sendo 7 de saibro e 14 de lisonda. A Academia de Tênis Resort, mais conhecida em Brasília simplesmente por Academia de Tênis, representou um espaço cultural, de hotelaria e turismo, com sede em Brasília, no Distrito Federal. Ficou reconhecida por abrigar integrantes do primeiro escalão do governo, como nos mandatos de Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. A então ministra Zélia Cardoso de Mello hospedou-se lá quando da elaboração do Plano Collor, com assessores que ficaram ali por doze meses, pagos por Paulo César Farias. Em maio de 1994, Zélia foi denunciada pelo Procurador Geral da República, Aristides Junqueira, por corrupção passiva, por ter aceitado que PC Farias pagasse essas despesas, solicitando posteriormente favores do Ministério da Economia. PC Farias e seu sócio, Jorge Bandeira, também foram denunciados, por corrupção ativa. Também moraram no local, enquanto ocuparam cargos públicos em Brasília, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e os ex-ministros Celso Lafer, Luiz Carlos Bresser Pereira, José Carlos Dias, Raul Jungmann e Alcides Tápias. Mesmo com a mudança de governo, em 2003, o local continuou sendo prestigiado pelos políticos do partido no governo.  O Aberto de Tênis de Brasília, torneio profissional da categoria challenger, também ocorria no local. Também hospedava anualmente o Campeonato Brasileiro Infantojuvenil de Tênis e a Copa das Federações. 

Em 1995 o Tribunal de Contas da União acionou a Receita Federal para verificar as atividades filantrópicas da Academia. O estatuto da academia citava vinte e nove áreas de atuação da academia no atendimento gratuito aos necessitados, entre as quais: creche e pré-escola, prestação de serviços médicos ambulatoriais, programa de combate às drogas. Mas não foi isso que os fiscais da Receita verificaram na contabilidade da Academia.  No Relatório sobre as atividades da Academia enviado ao Ministério Público constava o pagamento de despesas pessoais de Farani com dinheiro da Academia. Em 1998 Farani foi processado por sonegação de impostos e o título de entidade filantrópica foi cassado pela justiça. Ainda em 1998 a Academia foi dividida em duas empresas: uma administra o hotel e a outra o clube. A dívida de 7 milhões, por sonegação de impostos, referentes ao período de 1992 a 1995 foi renegociada com a Receita. Em 2005 o empresário foi condenado a pagar quatro anos e um mês de prisão. O andamento do processo por sonegação de impostos culminou na sua prisão em 2007. Em 2010 a Academia foi vendida para duas empresas do setor de construção de Brasília. Como exigência para o fechamento do negócio os cinco herdeiros de Farani exigiram que o novo empreendimento leve o nome do patriarca da família. Nesse mesmo ano um incêndio consumiu três salas do Cine Academia e fechou de vez o cinema que se dedicava à exibição de produção independente. Em 2004 as salas do cinema da Academia de Tênis exibiram os filmes que concorriam no Festival de Cinema de que foi sediado.

Maria Esther Andion Bueno reconhecida no exterior como Maria Bueno, foi uma tenista brasileira, que atuou nas décadas de 1950, 1960 e 1970, sendo uma das raras tenistas a conquistar títulos em três décadas diferentes.  Segundo o jornalista esportivo José Nilton Dalcim: “Maria Esther Bueno é a maior atleta feminina brasileira de todos os tempos. Seus feitos são incríveis e seu reconhecimento internacional, imenso. Sem falar que foi um exemplo de como superar dificuldades para obter sucesso”. Maior nome do tênis brasileiro, incluindo homens e mulheres, eleita a melhor tenista do século XX da América Latina, e incluída em 2012 na posição 38 entre os 100 Melhores Tenistas da história, incluindo homens e mulheres pelo canal Tennis Channel, em seus 20 anos de carreira, colecionou 589 títulos internacionais, entre os quais se destacam feitos importantes, como a conquista dos torneios individuais de Forest Hills (atual US Open), em 1959, 1963, 1964 e 1966, e os de duplas de 1960 e 1962 (com Darlene Hard), e 1968 com Margaret Smith Court. Ao todo, Bueno venceu 19 torneios do Grand Slam, sete na categoria simples; onze em duplas femininas; um em duplas mistas.  

Segundo a Federação Internacional de Tênis, foi a representante do nº 1 do mundo globalizado em 1959, na categoria individual feminina. O International Tennis Hall of Fame também a incluiu como a melhor tenista do mundo, em 1964, depois de perder a final no Torneio de Roland-Garros e ganhar Wimbledon e o U.S. Open e 1966. Em 1960, ela entrou para a história como a primeira mulher a ganhar o chamado Grand Slam de tênis, ou seja, a conquistar os quatro Grand Slams jogando em duplas num mesmo ano: três com Darlene Hard e um com Christine Truman Janes. Seu nome está no Livro dos Recordes: na final do US Open de 1964, contra a norte-americana Carole Caldwell Graebner, Maria Esther venceu a partida em apenas dezenove minutos. Além disso, sua vitória sobre Margaret Court na final individual de Wimbledon, em 1964, é considerada por muitos “um dos dez jogos mais emocionantes da história do tênis”. Ganhou a alcunha de A Bailarina do Tênis por conta do estilo de jogo. Uma outra marca registrada era a sua potência no saque. Uma de suas grandes tristezas foi não ter podido representar o Brasil nos Jogos Olímpicos, já que o tênis havia deixado de concorrer no âmbito do esporte olímpico na década de 1930 e voltando apenas em 1996.

A Academia de Tênis Resort, conhecida em Brasília simplesmente por  Academia de Tênis, representou um espaço cultural, de hotelaria e turismo, com sede na cidade de Brasília, no Distrito Federal. Reconhecida por abrigar integrantes do primeiro escalão do governo, como nos mandatos de Fernando Collor de Mello (1990-1992), seu afastamento foi consequência da instauração de seu processo de “impeachment”; Fernando Henrique Cardoso, com o 1º mandato (1994-1997) e 2º mandato (1998-2002), marcado pela efetiva implantação da política neoliberal no Brasil e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011)  hospedou políticos influentes. A então ministra Zélia Cardoso de Mello hospedou-se lá com a elaboração do Plano Collor, de estabilidade econômica, com assessores que ficaram ali por doze meses, pagos por Paulo César Farias. Em maio de 1994, Zélia Cardoso foi acusada de corrupção ativa. Também moraram enquanto ocuparam cargos políticos em Brasília, Mello foi denunciada pelo Procurador Geral da República, Aristides Junqueira, por corrupção passiva, por ter aceitado que PC Farias pagasse essas despesas, solicitando uma sequência de favores do Ministério da Economia. 
        O Festival Internacional de Cinema de Brasília (DF) acontece anualmente na capital desde 1999. Sempre oferecendo ao público brasiliense um diversificado repertório de filmes produzidos em diversas partes do mundo, tornou-se referência nacional para os cinéfilos. “O festival seleciona da lista de filmes dos grandes festivais, como o de Cannes e Berlim, os melhores e os convida formalmente para fazerem parte da nossa seleção”, explica o coordenador de filmes do festival, Ruan Canniza. Só este ano, 86 filmes, estrangeiros e nacionais, entraram na programação. Nas mostras competitivas, alguns prêmios foram entregues, entre eles: “Prêmio Buriti – Melhor Filme”, “Prêmio Especial do Juri” e “Prêmio TV Brasil” – neste último, “Insolação”, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas, filmados em Brasília, foi premiado como melhor filme. A programação ocorreu nas salas do Centro Cultural Banco do Brasil e da Academia de Tênis José Farani – onde também aconteceu a Abertura do evento, no dia 4 de novembro, com um coquetel para cerca de duas mil pessoas.  Paulo Cesar Farias e seu sócio, Jorge Bandeira, também foram denunciados, neste caso peloo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e os ex-ministros Celso Lafer, Luiz Carlos Bresser Pereira, José Carlos Dias, Raul Jungmann e Alcides Tápias. 
Mesmo com a mudança política de governo, em 2003, o local continuou sendo prestigiado pelos políticos do partido mantido no governo. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT) chegaram a morar ali, a última antes de assumir o mais alto posto da política brasileira. Ministros, secretários e presidentes de autarquias viveram ali enquanto não tinham residências definitivas no Distrito Federal. O presidente da Federação Brasiliense de Tênis, Carlos Mamede lembra dos anos gloriosos do complexo. A empresária Márcia Lima, 50 anos, diz lembrar com carinho e saudade do complexo. “Frequentava desde menina e passei por várias etapas da minha vida dentro da Academia de Tênis. Era um lugar muito glamoroso e de excelência, não só para jogar tênis”. Festas, restaurantes, casamentos, leilões de antiguidade: as funções do espaço que é abandonado quase não tinha limite. - “Era o point de lazer da classe A”.  O Festival de Cinema na Academia de Tênis em 2004  recebeu  Fernanda Montenegro, Claudio Torres, Fernando Torres e Fernanda Torres e, em 2006, a atriz Malu Mader e o velejador Robert Scheidt, campeão olímpico. Sebastião Carvalho Neto, proprietário de parte do complexo, afirma que são gastos cerca de R$ 10 mil por mês para arcar com a vigilância.
           Localizado numa área de 62.000m2, a Academia de Tênis-Resort tem tradição em receber personalidades de todos os setores, tanto pelo conforto, estrutura e segurança, como pela discrição e individualidade que oferece. São 150 apartamentos tipo chalés, todos equipados com frigobar, TV a cabo, ar condicionado e varanda privativa. Dispõe de portaria e recepção 24 horas, café da manhã no Restaurante “Be Happy”, transporte interno, sauna, academia completa de ginástica, pista de cooper interna, 3 restaurantes de nível internacional, boite e o Boulangerie Café. O Salão de Festas Bianco tem capacidade para 1.200 pessoas confortáveis sentadas e com a estrutura para recepcionar festas, casamentos e comemorações da cidade. Para casamentos, desfiles e exposições, no Salão Bugatti, para 250 pessoas. Na área de shows, um ginásio capaz de abrigar 3.000 pessoas com teto retrátil.  
O Centro de Convenções possuía 3 confortáveis auditórios com capacidade para 350, 95 ou 60 lugares, com 6 salas de apoio e área específica para stands. O esporte e a malhação na Academia de Tênis de Brasília-Resort mereceram destaque pela estrutura que oferecera aos seus frequentadores e hóspedes. Contou com 21 quadras de tênis, sendo 7 de saibro e 14 de lisonda, todas obedecendo os mais altos padrões do esporte. A natação esportiva ou recreativa contava com 9 piscinas. Na musculação, a Health Gym Almyr, como é conhecida a Academia de Ginástica da ATB, foi considerada das mais bem equipadas do país. Para a ginástica aeróbica contou com 10 esteiras com sistema de amortecedores e monitoramento cardíaco. Logo após o encerramento do Festival Internacional de Cinema de Brasília, foi a vez do 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro celebrar o cinema contemporâneo. O festival, que teve 366 produções nacionais inscritas – dentre elas 52 brasilienses – aconteceu entre os dias 17 e 24 de novembro no Teatro Nacional Claudio Santoro e no Cine Brasília. 
O Festival de Brasília, como é popularmente reconhecido, é o mais antigo do país, além de ser considerado de suma importância para estimular a produção cinematográfica brasileira. O evento surgiu no período da ditadura militar e chegou a ser proibido entre os anos 1972 e 1974. Este ano o filme de abertura foi Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto. O longa-metragem é baseado na história da vida do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Os ingressos para assistir aos filmes tiveram preço acessível: três reais a meia entrada. Ainda assim, assistir aos principais longas e curtas da Mostra Competitiva não foi tarefa fácil: era preciso chegar cedo à bilheteria para comprar um dos disputados ingressos. Conseguir um lugar para sentar era outro problema: com mais pessoas dentro da sala do que assentos, devido a novidade da casa e do cinema contemporâneo, a alternativa para alguns foi sentar no chão, espaço último muito disputado. Abertura do 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com a apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, sob a regência do maestro Cláudio Cohen e o violinista Benjamin Schmid. A Academia de Tênis José Farani manteve cenário luxuoso em tempo e surgiu a promessa de uma completa revitalização da propriedade de 60 mil m².
           Mas passados quase quatro anos da venda da área para dois grupos empresariais, pouco mudou na paisagem que hoje mostra sinais de claro abandono. No lugar que outrora recebeu figuras importantes da política e da arte foi reduto de cinéfilos, músicos e tenistas (leia Memória), sobram entulhos, mato alto e construções destruídas. O projeto arquitetônico para a reforma do espaço, apresentado no fim de 2013, esteve em análise na Casa Civil do Distrito Federal. A Diretoria de Análise e Aprovação de Projetos da Casa Civil informou que o grupo responsável pelo novo empreendimento ainda não cumpriu todas as exigências legais para obter a liberação das obras. Um dos pontos a serem resolvidos é a comprovação da propriedade da área. Durante décadas, havia uma suspeita de que parte das edificações da Academia de Tênis ocupava área pública. Falta ainda, segundo os técnicos da Casa Civil, o Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) e o número de vagas para carros. Os últimos suspiros da Academia de Tênis vieram logo depois do anúncio da venda da propriedade, em novembro de 2010. O cinema, interditado devido a um incêndio em maio do mesmo ano, fechou de vez as portas. O restaurante Dom Francisco foi um dos últimos a encerrar as atividades ao lado da academia. Os 226 apartamentos também já haviam sido deixados e os objetos, leiloados. As famosas quadras de tênis, sede de importantes campeonatos nacionais e internacionais, deixaram de ser usadas. As piscinas, abandonadas e sem valor de uso, acabaram sendo desativadas.
Bibliografia geral consultada.

ECO, Umberto, Estrutura Ausente. Introdução à Pesquisa Semiológica. 3ª edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 1976; ABRAHAM, Luís Alberto, Modernidade e Arquitetura e Teoria do Poder de Estado em Brasília: Tradição e Ruptura no Domínio da Plástica. Dissertação de Mestrado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Campinas: Universidade de Campinas, 1989; ANDERSON, Perry, Zona de Compromisso. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996; CARPINTERO, Antônio Carlos Cabral, Brasília - Prática e Teoria Urbanística no Brasil, 1956-1998. Tese de Doutorado em Arquitetura. Faculdade de Arquiterura. Brasília: Universidade de Brasília, 1998; KAY, Tess, “Sporting Excellence: A Family Affair? In: European Physical Education Review, vol. 6, nº 2, pp. 151-169, 2000; PERES, Marta Simões, Corpos em Obras: Um Olhar sobre as Práticas Corporais em Brasília. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Departamento de Sociologia. Brasília: Universidade de Brasília, 2005; ESCUDERO, Regina Celia, A Comunicação Pública como Práxis no Processo de Mediação e Mobilização da Sociedade Civil na Esfera Pública. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012; BARRAL, Gilberto Luiz Lima, Nos Bares da Cidade: Lazer e Sociabilidade em Brasília. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Departamento de Sociologia. Instituto de Ciências Sociais. Brasília: Universidade de Brasília, 2012; CARNEIRO, Fernando Henrique Silva, A Política de Esporte no Distrito Federal: Centros Olímpicos, Terceiro Setor e Focalização. Dissertação de Mestrado em Educação Física. Brasília: Universidade de Brasília, 2013; RODRIGUES, Maria Alexandrina de Souza, A Brasília dos Pioneiros. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Brasília: Universidade de Brasília, 2013; CARVALHO, Mariana Martins, Comunicação Pública: Função e Legitimação das Tevês Legislativas Federais. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Brasília: Universidade de Brasília, 2014; GOMES, Denise, Tecnologia do Imaginário: O Jornalismo como Promotor das Doenças Mentais. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Faculdade de Comunicação Social. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2016; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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