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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Dialética da Traição ou Negativismo da Delação Premiada?

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

      “Página infeliz da nossa história. Passagem desbotada na memória. Das nossas novas gerações”. Chico Buarque

                         
       Se ainda nos importa saber, quem somos em termos de individualização das referências, para isso Sócrates recorria a duas idéias, uma contida na frase do Apolo délfico, “conhece-te a ti mesmo” (“gnōthi sauton”), outra relatada por Platão e repetidas vezes por Aristóteles: - “É melhor estar em desacordo com o mundo inteiro do que, sendo um, estar em desacordo comigo mesmo”. Esta frase é a chave da convicção socrática de que a virtude pode ser ensinada e apreendida, ipso facto tem como fundamento em sua progênie, a aporética em cuja afirmação: “hē rhētorikē estin antistrophos tē dialektikē” [isto é, a arte política do discurso] é o correlato da arte da dialética [a arte do discurso filosófico]. Na modernidade ocidental foi posta em foco pela descoberta em que a dialética hegeliana representa a passagem da Consciência (“Bewusstsein”) para Autoconsciência (“Selbsbewusstsein”), passagem que é realizada pelo desejo na interpretação freudiana (“Begierde”) que é irradiado na e através consciência do homem.    
      Em primeiro lugar, numa aproximação conceitual e metodológica não devemos perder de vista que a Phänomenologie des Geistes, de Hegel (1807) representa a elaboração inicial de um julgamento filosófico a respeito da história, e isto é importante na medida em que a noção de consciência (“Bewusstsein”), formulada assim, sugere ser tema central de nossa pesquisa. O espírito, não pode conhecer-se diretamente. É preciso que negue previamente, que saia de si e se torne “estranho a si mesmo”, exteriorizando-se e produzindo sucessivamente todas as formas do real – quadros do pensamento, natureza, história; e depois que reverta à origem, alcançando assim o conhecimento verdadeiro, a filosofia do espírito absoluto. Afastando-se de si, exteriorizando-se, para voltar depois a si mesma, a Ideia triunfa do que a limitava, afirmando-se na negação das suas negações sucessivas. A Fenomenologia demonstra como a consciência se eleva desde as formas elementares da sensação até à formação processual da ciência, identificada por Hegel, aliás, com a racionalidade da religião – tal como o valor absoluto da religião cristã se integra na verdade do saber na esteira da vida.                 
        Somente Hegel, insistimos neste aspecto, definiu o princípio da realidade como uma Ideia lógica, fazendo, portanto, do ser das coisas um ser puramente lógico e chegando assim a um panlogismo consequente que apresenta ainda, um elemento dinâmico-irracional, existente no método dialético. Nisto se distingue o panlogismo hegeliano do neokantismo, que eliminou este elemento e instituiu assim um puro panlogismo. O idealismo apresenta-se, para sermos breves, em duas formas principais: como idealismo subjetivo ou psicológico e como idealismo objetivo e lógico. Mas estas diversidades no plano analítico movimentam-se no âmbito de uma concepção fundamental. Esta é justamente a tese idealista de que o objeto do conhecimento não é “menos que nada”, mas algo ideal, para concordarmos com Slavoj Žižek (2013). A ideia de um objeto independente da consciência é contraditória, pois, no momento em que pensamos num objeto, como no amor, um exemplo universal faz dele um conteúdo de nossa consciência: se afirmamos simultaneamente que o objeto existe fora da nossa consciência, contradizemo-nos com isso a nós próprios; não há objetos reais extra-conscientes, tendo em vista que a realidade acha-se contida na consciência.
Em segundo lugar, vale lembrar que a nação é um produto cultural, político e social que surge na Europa a partir do fim do século XVIII e que se constitui efetivamente em uma “comunidade política imaginada”. Nesse processo de construção histórica, a relação entre o velho e o novo, o passado e o presente, a tradição e a modernidade é uma constante e se reveste de importância fundamental, pois, a nação é uma comunidade de sentimento que normalmente tende a produzir um Estado próprio, é preciso invocar antigas tradições (reais ou inventadas) como fundamento “natural” da identidade nacional que está sendo criada. Isso tende a obscurecer o caráter histórico e relativamente recente dos estados nacionais. Assim como Estado-nação procura delimitar e zelar por suas fronteiras geopolíticas, ele também se empenha em demarcar suas fronteiras culturais, estabelecendo o que faz e o que não faz parte da nação. Através desse processo se constrói uma identidade nacional que procura dar uma imagem à comunidade abrangida por ela. Nesse sentido o processo de consolidação dos Estados-nações é extremamente recente. Mesmo em sociedades que atualmente parecem ser bem integradas. Mas há casos em que uma sociedade é representada como se fosse dividido em duas grandes regiões antagônicas o que é recorrente para o Brasil.
                            
             Três casos têm exemplaridade teórica, histórica e ideológica na representação política brasileira. As ideologias são determinadas pela época em dois sentidos. Primeiro, enquanto a orientação conflituosa das várias formas de consciência social prática permanecer a característica mais proeminente dessas formas de consciência, na medida em que as sociedades forem divididas em classes. Em outras palavras, a consciência social prática de tais sociedades não podem deixar de ser ideológica - isto é, idêntica à ideologia - em virtude do caráter insuperavelmente antagônico de suas estruturas sociais. Segundo, na medida em que o caráter específico do conflito social fundamental, que deixa sua marca indelével nas ideologias conflitantes em diferentes períodos históricos, surge do caráter historicamente mutável - e não em curto prazo - das práticas produtivas e distributivas da sociedade e da necessidade correspondente de se questionar radicalmente a continuidade da imposição das relações socioeconômicas e políticas que, anteriormente viáveis, tornam-se cada vez menos eficazes no curso do desenvolvimento histórico. Os limites de questionamento são determinados, colocando em primeiro plano as novas formas de desafio ideológico em íntima ligação com o surgimento de meios mais avançados de satisfação das exigências fundamentais sociais. O lugar mais seguro para ser religioso, com liberdade de crença é justamente em sociedades democráticas, laicas e livres.
 As análises teóricas do legado de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), desencadeadas no centenário de seu nascimento, tiveram o dom de resgatar um capítulo esquecido em sua obra que dedicou a carreira acadêmica a compreender a alma nacional.   Em Raízes do Brasil (1936), a análise histórica parte do critério da ausência: à nossa cultura faltou uma ética do trabalho, o estado racional se ausentou ante o predomínio do patriarcalismo e do paternalismo. E, em virtude disso, vicejou o caráter cordial do brasileiro – que privilegia as relações pessoais e busca a intimidade no convívio social, conceito cunhado por Sergio Buarque e confundido com benevolência. Essa exploração humana dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e enérgica: fez antes com desleixo e certo abandono. Dir-se-ia mesmo que se fez apesar de seus autores. E o reconhecimento desse fato não constitui, para Sérgio Buarque, menoscabo à grandeza do esforço português. Isto porque existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. O indivíduo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo. Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.
            Essa exploração humana dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e enérgica: fez antes com desleixo e certo abandono. Dir-se-ia mesmo que se fez apesar de seus autores. E o reconhecimento desse fato não constitui, para Sérgio Buarque, menoscabo à grandeza do esforço português. Isto porque existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo. As energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.
 A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por onde se hão de calcar, na vida política, as relações entre governantes e governados, entre monarcas e súditos. Uma lei moral inflexível, superior a todos os cálculos e vontades dos homens, pode regular a boa harmonia do corpo social, e, portanto deve ser rigorosamente respeitada e cumprida. Esse rígido paternalismo é tudo quanto se poderia esperar de mais oposto, não já as ideias da França revolucionária. Mas tradicionalistas e iconoclastas que se movem, em realidade, na mesma órbita de ideias. Estes, não menos do que aqueles, mostram-se fiéis preservadores do legado colonial, e as diferenças que os separam entre si são unicamente de forma e superfície. O caráter puramente exterior, epidérmico, de numerosas agitações sociais e políticas ocorridas entre nós durante os anos que antecederam e sucederam à Independência, demonstra o quanto era difícil ultrapassarem-se os limites que à nossa vida política tinham traçado certas condições específicas geradas pela colonização.
        É neste sentido que devemos comparativamente diferenciar, entretanto, três posições ideológicas fundamentalmente distintas, com sérias consequências para os tipos de conhecimento compatíveis com cada uma delas. A primeira apoia a ordem estabelecida com uma atitude acrítica, adotando e exaltando a forma vigente do sistema dominante, por mais que seja problemático e repleto de contradições, tendo como o horizonte absoluto da própria vida social. A segunda, exemplificada pelo pensador de perspectiva radical como J.-J. Rousseau, revela acertadamente as irracionalidades da forma específica de uma anacrônica sociedade de classes que ela rejeita a partir de um ponto de vista. Mas sua crítica é viciada pelas próprias contradições de sua própria posição social, igualmente determinada pela classe social, ainda que seja historicamente evoluída. E a terceira, contrapondo-se às duas posições sociais anteriores, questiona a viabilidade histórica da própria sociedade de classe, propondo, como objetivo central de sua intervenção prática consciente, a superação de todas as formas de antagonismo de classe. Apenas o terceiro tipo social de ideologia pode tentar superar as restrições associadas com a produção do conhecimento prático dentro do horizonte da consciência social dividida, sob as condições da sociedade dividida em classes sociais.
   Ipso facto é que o herói de Memórias não deve ser entendido como uma figura pícara, como na experiência literária espanhola: ele é malandro. A determinação de suas características faz mais que mostrar especificamente quem é Leonardo Filho, mas o insere em uma tradição. Uma tradição brasileira que segue desde a Colônia, manifestada pela figura de Pedro Malasartes, e percorre a história literária brasileira até o modernismo no século XX, com Macunaíma e Serafim Ponte-Grande, por exemplo - a malandragem. O malandro é o aventureiro astucioso, gosta do “jogo em si”, está sempre no limite da política entre o lícito e o ilícito e será a figura chave para a compreensão do ensaio de Antonio Candido. Isso porque o malandro é figura do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) que existe efetivamente tanto no campo da ficção literária quanto no campo da realidade propriamente dita.
As Memórias, como aponta Antonio Candido, são únicas no panorama de nossa ficção oitocentista porque não expressam a visão de nossa classe dominante. O autor das Memórias suprime os escravos e as classes dirigentes, sobrando-lhe um setor intermediário e anômico da sociedade, cujas características, entretanto, serão decisivas para a medida das relações ideológicas entre as classes sociais. Tratava-se de caracterizar os homens livres na ordem escravocrata e sua lei. Estes homens viviam num espaço social intermediário e anômico, em que não integravam a ordem, mas também não podiam dela prescindir. É aí que reside a contradição dialética de Antonio Candido tenha sido o de perceber que as Memórias operam através da lógica da dialética entre ordem e desordem. Ordem e desordem seria a própria forma de expressão do romance, a “lei de sua intriga”, seria o princípio que organizaria a realidade e a ficção. A figura do malandro é a mais adequada a este tipo de organização de mundo em que forças da ordem, como a polícia, por exemplo, concorrem com as forças da desordem. Ele é o tipo que transita entre os dois mundos. Está sempre atuando no limiar, no cinzento, entre o que se pode e o que não se deve fazer. A alternativa decantada entre lícito/ilícito é perfeitamente relativizada pelo malandro. O malandro encarna a esperteza popular, sabedoria genérica da sobrevivência em um mundo repleto de obstáculos e iniquidades.
Não por acaso quando se insere caricaturalmente o romance de Chico Buarque, Leite Derramado (2010). Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história social de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador das oligarquias até o descendente visto como um “garotão”, um tipo social da cidade do Rio de Janeiro. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A weltanschauung que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência. A saga familiar especificamente da decadência (cf. Pimentel, 2013) é um gênero consagrado no romance ocidental moderno.
A representação da imagem do “leite derramado” (cf. Dusilek, 2011), além da leitura sociológica de queda de uma casta, racista casta, mas cujos descendentes vão se misturando até a negritude do tataraneto, é retirada textualmente do episódio no qual Eulálio vê sua esposa Matilde, às escondidas, “despejando leite de seu peito na pia do banheiro”. Eulálio não cansa de recontar sua história, como quando conheceu sua esposa na missa de sétimo dia de seu pai. Sabendo-se repetitivo, justifica-se da seguinte forma: - “Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero. É para si próprio que um velho repete sempre a mesma história, como se assim tirasse cópias dela, para a hipótese de a história se extraviar”. Mesmo “sem o menor desejo consciente” de falsificar o passado, com tantas construções e reconstruções muitas vezes confusas, o resultado é, de fato, “um quadro total, novo”. Note-se ainda a fala sobre a solidão dos velhos, relevando a importante questão da memória de velhos que não têm com quem conversar, e que por isso “há tantos velhos embatucados por aí”. Eulálio, a despeito de poder estar “falando às paredes”, fala sem parar, conta sua história a todos que encontra. Talvez como uma forma dialética através da repetição da memória de evitar a solidão, age como se todos estivessem interessados em seu colóquio, embora perceba que isso é ilusão, e que na realidade sente-se como tantos velhos, “numa espécie de país estrangeiro”.
Após a sucessão presidencial de 1894 e um governo de transição dos militares para os civis, executado pelo governo Prudente de Morais (1894-1896), a oligarquia rural brasileira conseguiu consolidar definitivamente seu poder político no Estado brasileiro com o governo de Campos Salles (1896-1902). Em seu mandato, foi solucionado o litígio sobre a delimitação da fronteira entre o Brasil e a França. Tal litígio era sobre a demarcação da fronteira entre e estado do Amapá e a Guiana Francesa, que havia invadido o território brasileiro, anexando cerca de 260 mil km² do estado. Depois de quase dois séculos de disputas, o litígio foi vencido pelo Brasil em 1900, através do acordo que ficou conhecido como Questão do Amapá, determinando que a fronteira entre os dois territórios fosse o rio Oiapoque e retornando ao Brasil a área que havia sido tomada. Foi durante o governo Campos Salles que os mecanismos de poder político das oligarquias rurais foram criados. Para isso foram instituídos três mecanismos de poder: a política do café com leite, a política dos governadores e a Comissão Verificadora dos Poderes. Foi durante o governo Campos Salles que os mecanismos de poder político das oligarquias rurais foram criados.
A oligarquia cafeeira paulista detinha o poder econômico do país e havia conseguido também se fortalecer politicamente com o apoio a Floriano Peixoto contra seus opositores. A República necessitava de apoio mais amplo nos outros estados, para garantir votos para os cargos eletivos e não causar instabilidade política com possíveis disputas regionais. A chamada “política do café-com-leite” foi a forma encontrada para garantir o controle na ocupação da presidência da República. Aliando seu poder econômico, proveniente do café, com a força política dos mineiros, estado com o maior número de eleitores, os paulistas conseguiram manter a alternância entre os políticos dos dois estados até 1930, com pouquíssimas exceções. Essa aliança garantiu a alternância do poder sem que houvesse disputas que colocassem em jogo a estabilidade política, necessária para o melhor andamento dos negócios. Porém, era necessário que as oligarquias dos demais estados concordassem com esse acordo. As condições para esse acordo foram articuladas durante o governo do presidente Campo Salles, que ficaram conhecidas como “política dos governadores”. Nela, eles apoiariam as medidas propostas pelo presidente da República no Congresso através dos deputados e senadores, principalmente os acordos com o capitalismo internacional.
        Em troca, o presidente manteria a autonomia dos estados, sem interferir nas disputas políticas internas de cada um deles. Para que isso se tornasse possível, foi criada a “Comissão Verificadora de Poderes”, instância responsável pela diplomação dos candidatos eleitos nos estados para os cargos de deputados e senadores. Na prática, funcionava como “uma barreira para os opositores dos oligarcas regionais aliados à política do café com leite”. Caso esses opositores vencessem as eleições estaduais, a Comissão impediria sua diplomação e posse, afirmando haver fraude eleitoral determinando o toma lá da cá na da politicagem brasileira. Com essa “degola” de opositores, termo usado naquela conjuntura de corte autoritário, senadores e deputados coniventes com a política hegemônica e dominante eram eleitos, mantendo a estabilidade política do regime. Com essa forma de governar, as oligarquias brasileiras mantinham as estruturas políticas necessárias para manter o desenvolvimento social e o fortalecimento de suas práticas econômicas. Delação premiada refere-se sociologicamente à expressão coloquial na reprodução do discurso político para a chamada “colaboração premiada” na legislação brasileira, constituindo-se “um benefício legal concedido a um réu em uma ação penal que aceite colaborar na investigação criminal ou entregar seus companheiros”.
Essa prática de favor dialeticamente é prevista em diversas leis brasileiras que, para aquele que contribuir efetiva e voluntariamente com a investigação ou processo, o juiz poderá “conceder perdão judicial, reduzir a pena de prisão em até dois terços (2/3) ou substituir por pena restritiva de direitos”.  Assim, para que um réu se torne um delator e gozar dos benefícios que a lei lhe oferece, o primeiro passo é manifestar oficialmente o interesse em fazer o acordo. Depois, na presença de advogados e procuradores, o réu revela o que tem para delatar. Se avançar, as partes assinam um termo de “confidencialidade” para evitar vazamentos. Só depois que a delação for homologada pela Justiça é que as informações poderão ser usadas nas investigações. Junto com os depoimentos, o delator tem que apresentar provas e documentos. Em troca, recebe uma pena mais leve. Especialistas no assunto defendem que a decisão de tornar-se um delator precisa ser voluntária do investigado. Na legislação, a “colaboração”  deve resultar esses aspectos: identificação de outros autores do crime ou membros da organização criminosa; revelação da estrutura hierárquica da organização criminosa; prevenção de infrações penais decorrentes da atividade criminosa; recuperação parcial ou total dos produtos das infrações; localização de vítima com integridade física preservada.
Historicamente a Inglaterra foi um dos primeiros países a adotar a delação premiada, uma vez que existem registros de sua utilização no ano de 1775. Com o tempo, as leis do país foram aperfeiçoadas e atualmente o promotor pode ofertar a imunidade de acusação em todos os tipos de infração penal em troca de informações úteis. A lei de delação premiada nos Estados Unidos data de 1977 e é amplamente utilizada. O instrumento da justiça penal negociada, que lá é chamado de “plea bargain”, é utilizado em 95% dos processos do país e pode ser adotado em qualquer crime, independentemente de sua natureza, incluindo os mais graves, e os colaboradores se transformam em testemunhas que podem receber como benefício redução de pena, regime diferenciado na cadeia e preservação do patrimônio. A Itália adotou a delação premiada há muitos anos e foi justamente utilizando o instituto que obteve grandes resultados no combate à máfia italiana. Os que colaboram com a justiça no país podem ter a sua pena diminuída de um terço a dois terços. No ano de 2015, a lei foi expandida e passou a abranger também os casos de corrupção. No Japão, o sistema de delação premiada passou a vigorar presentemente em 2017 e permite até mesmo a retirada das acusações ou a anulação do indiciamento do suspeito que colaborar com a investigação e apresentar evidências que levem à prisão de outras pessoas, desde que o Acordo seja realizado na presença de um advogado.

Bibliografia geral consultada.
HEGEL, Friedrich, Fenomenologia dello Spirito. Florença: La Nuova Itália, 1973; MORSE, Richard McGee, O Espelho de Próspero. Cultura e Idéias nas Américas. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1988; RAEDERS, George, O Inimigo Cordial do Brasil (O Conde de Gobineau no Brasil: com documentos inéditos). Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1988; GINZBURG, Carlo, Miti, Emblemi, Spie - Morfologia e Storia. Torino: Einaudi Editore, 1992; BUARQUE, Chico, Leche Derramada. Tradução espanhola de Ana Rita da Costa García. Barcelona: Ediciones Salamandra, 2010; DUSILEK, Adriana, “As Camadas da Memória de Leite Derramado”. In: Miscelânea – Revista de Pós-Graduação em Letras – Universidade Estadual Paulista, Campus Assis, vol. 9, jan./jun. 2011; PIMENTEL, Vanuccio Medeiros, A Primazia dos Clãs: A Família na Política Nordestina. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência PolíticaCentro de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de Ciência Política. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2013; ŽIŽEK, Slavoj, Menos que Nada: Hegel e a Sombra do Materialismo Dialético. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013; AVELINO, Pedro Buck, Fidelidade, Álibi ou Traição: Ressignificação e Perspectivas sobre o Comportamento Decisório do STF. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional. Faculdade de Direito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; FREITAS, Vladimir Passos de, A delação premiada entrou definitivamente no processo penal brasileiro. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016/04/03/; SILVA, Fábio Machado da, Colaboração Premiada: Possibilidade e Limites Discursivos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Justiça Administrativa. Faculdade de Direito. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017; ESPICH, Sandra, A Delação Premiada quando do Cárcere Prematuro: Uma Negociação entre Díspares e Manifesta Coação Estatal. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2017; BOUZA, Thiago Brugger da, Da Teoria à Prática: Prisões Cautelare, Liberdades provisórias e Delação Premiada: O Caso Paulo Roberto Costa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Brasília: Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, 2017; entre outros.  

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Sérgio Buarque de Holanda - Antiliberalismo & Vivência na História.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga

       “Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, o contrário da polidez”. Sergio Buarque de Holanda


No âmbito da historiografia Carlos Guilherme Mota observou que depois de 1967, “tornou-se possível o balanço da produção, a avaliação dos trabalhos de Gilberto Freyre – o que não devia ser nada fácil antes dessa época, pelo que se pode verificar no livro comemorativo dos vinte e cinco anos da Casa-Grande & Senzala” (cf. Mota, 1975), tendo em vista o ecletismo entre ensaístas tais como: Astrojildo Pereira, Fernando de Azevedo, Jorge Amado, Antônio Cândido, Miguel Reale, Anísio Teixeira, Luís Viana Filho, Cavalcanti Proença, o que demonstra, sociologicamente, por um lado, o estudo da trajetória e dos vários impactos sociais e políticos na apreensão da obra de Gilberto Freyre sobre os meios intelectuais representando a cristalização de uma ideologia com base no editorialismo, caracterizado do ponto de vista merceológico com “grande poder de difusão”, e por outro, contém ambiguidades daquilo que se poderia denominar uma “geração de explicadores” da cultura brasileira, representando por assim dizer, “uma espécie de caso-limite”.     
Na concepção de Max Weber é um instrumento de análise sociológica para o entendimento da sociedade por parte do cientista social com o objetivo de criar tipologias puras, destituídas de tom avaliativo, de forma a oferecer um recurso analítico baseado em conceitos, como o que é religião, burocracia, economia, capitalismo, dentre outros. Metodologicamente Gilberto Freyre pode ser interpretado como historicista no sentido do approach de Wilhelm Dilthey quando propõe uma abordagem empática da realidade social, que lhe permitiu desenvolver uma interpretação pari passu histórica e sociológica. Seu objetivo é alcançar a subjetividade, é apreender a vida em seu interior. Trata-se em verdade de uma interpretação de uma história política, psicológica, vitalista, dionisíaca e não intelectualista o que não é pouco. A interpretação de seus “tipos inconciliáveis” se faz como é sabido, pelo “accountability” contido nos símbolos &: das obras: “Casa Grande & Senzala”, “Sobrados & Mocambos”, “Ordem & progresso”. Ao formular tipos ideais ele se aproxima de Max Weber; ao interpretá-los, aproxima-se de Georg Simmel. Para compreender a interconexão dos tipos, ele estudou o cotidiano, um campo de pesquisa social efetivamente original e inovador para tempos sombrios.


Vale lembrar que a nação é um produto cultural, político e social que surge na Europa a partir do fim do século XVIII e que se constitui efetivamente em uma “comunidade política imaginada”. Nesse processo de construção histórica, a relação entre o velho e o novo, o passado e o presente, a tradição e a modernidade é uma constante e se reveste de importância fundamental, pois, a nação é uma comunidade de sentimento que normalmente tende a produzir um Estado próprio, é preciso invocar antigas tradições (reais ou inventadas) como fundamento “natural” da identidade nacional que está sendo criada. Isso tende a obscurecer o caráter histórico e relativamente recente dos estados nacionais. Assim como o Estado-nação procura delimitar e zelar por suas fronteiras geopolíticas, ele também se empenha em demarcar suas fronteiras culturais, estabelecendo o que faz e o que não faz parte da nação. Através desse processo se constrói uma identidade nacional que procura dar uma imagem à comunidade abrangida por ela. A consolidação dos Estados-nações é recente. Mesmo em sociedades que parecem ser bem integradas. Mas há casos em que  é representada como se fosse dividido em  duas regiões antagônicas o que é recorrente para o Brasil.                                                
Germanófilo de espírito e coração, Capistrano de Abreu foi, ao lado de Tobias Barreto, dos maiores divulgadores da cultura alemã, e, sem dúvida no campo da história, temos como dívida a introdução de métodos críticos que hoje alguns historiadores procuram seguir. Admirador de Goethe de quem sempre repete ou as palavras do Wilhelm Meister “obrar é fácil, pensar é difícil, obrar segundo seu pensamento ainda mais difícil”, ou as de Fausto “de que não teria o livro lido por aqueles que mais quisera”, Capistrano representa na história das idéias no Brasil uma das mais autênticas imaginações e uma das mais lúcidas consciências. Ele estava convicto – afirma Rodrigues - de que era preciso, pelo menos, “equilibrar a decisiva influência francesa no Brasil com a divulgação do pensamento anglo-germânico”. E nesse sentido seu papel foi plenamente cumprido. Mas para entendermos melhor sua démarche, vale a pena fazermos uma digressão. O motivo da vinda de Capistrano de Abreu para o Rio de Janeiro, “constitui episódio ainda não totalmente esclarecido em sua biografia”. Preparando o ambiente favorável à sua admissão no jornalismo carioca, já em dezembro de 1874, escrevera Alencar uma carta a Bruno Seabra, em que há outra alusão que está sendo formulada a seguir: - “Esse moço que já é fácil e elegante escritor, aspira ao estágio da imprensa desta Corte. Creio eu que, além de granjear nele um prestante colaborador, teria o jornalismo fluminense a fortuna de franquear a um homem de futuro, o caminho da glória, que lhe está obstruindo uns acidentes mínimos”.
Sérgio Buarque de Holanda concluiu o curso de Direito em 1925, pela Universidade do Brasil, depois transformada em Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sem deixar o jornalismo e chegou a ser correspondente internacional dos Diários Associados, na Europa. Entrou em contato com o movimento modernista europeu, através da leitura do sociólogo Max Weber quando presenciou a ascensão do nazismo na Alemanha. De volta ao Brasil passou a ensinar a disciplina História Moderna e Contemporânea na Universidade do Distrito Federal, depois Universidade de Brasília quando publicou Raízes do Brasil (1936; 1995). Distraído, emotivo, irônico, mas disciplinado, lia em seis línguas, cantava tango em alemão e samba em latim. Em suas conversas não sabia onde parar: Roma, Estados Unidos, Idade Média ou Brasil Colônia. Foi diretor do Museu Paulista, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, das Universidades de Roma, Harvard, Columbia, Yale e outras. Prestigiado internacionalmente, foi para a Itália (1952) e fez parte da cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Roma, durante dois anos. Tornou-se catedrático de História da Civilização Brasileira, USP (1958), onde permaneceu até sua aposentaria como professor (1969), em solidariedade aos colegas afastados pela ditadura. Foi casado com Maria Amélia Alvim Buarque de Holanda, a Memélia, com quem teve sete filhos: Heloísa Maria (Miucha), Sérgio Filho (Sergito), Álvaro Augusto, Francisco (Chico), Maria do Carmo, Ana Maria e Maria Cristina, e faleceu na cidade de São Paulo.


           
  
            As análises teóricas sobre o legado de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), desencadeadas no centenário de seu nascimento, tiveram o dom de resgatar um capítulo esquecido em sua obra que dedicou a carreira acadêmica a compreender a alma nacional. Trata-se de uma dissertação de mestrado, defendida por Sérgio Buarque em 1958 na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, intitulada: “Elementos Formadores da Sociedade Portuguesa na Época dos Descobrimentos”. O ensaio adormecia no acervo do historiador, confiado à Unicamp depois de sua morte. Edgar de Decca ficou surpreso e intrigado com o que encontrou. - “Há uma impressionante linha de continuidade entre essa dissertação e o clássico: Raízes do Brasil, publicado em 1936”. Alguma coisa foi alterada na percepção de Sérgio Buarque. Perde força no trabalho de mestrado aquilo que se transformou no traço mais marcante da obra Raízes do Brasil, que representa um ensaio histórico e ideológico sobre o que faltou e o que foi negado na constituição da nossa identidade. Em Raízes, a análise histórica parte do critério da ausência: à nossa cultura faltou uma ética do trabalho disciplinar, o estado racional se ausentou ante o predomínio do patriarcalismo e do paternalismo.
             E, em virtude disso, vicejou o caráter cordial do brasileiro – que privilegia as relações pessoais e busca a intimidade no convívio social, conceito cunhado por Sergio Buarque e confundido com benevolência. Essa exploração humana dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e enérgica: fez antes com desleixo e certo abandono. Dir-se-ia mesmo que se fez apesar de seus autores. E o reconhecimento desse fato não constitui, para Sérgio Buarque, menoscabo à grandeza do esforço português. Isto porque existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo. As energias e esforços que se dirigem a uma recompensa são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.
Essa exploração humana dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e enérgica: fez antes com desleixo e certo abandono. Dir-se-ia mesmo que se fez apesar de seus autores. E o reconhecimento desse fato não constitui, para Sérgio Buarque, menoscabo à grandeza do esforço português. Isto porque existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo. Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.
Na obra da conquista e colonização dos novos mundos coube ao “trabalhador”, papel muito limitado, quase nulo. A época predispunha aos gestos e façanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grandes voos. E não foi fortuita a circunstância de se terem encontrado neste continente, empenhados nessa obra, principalmente as nações onde o tipo do trabalhador, encontrou ambiente menos propício. Essa pouca disposição para o trabalho, ao menos para o trabalho sem compensação próxima, essa indolência, como diz o deão Inge, não sendo evidentemente um estímulo às ações aventurosas, não deixa de constituir, com notável frequência, o aspecto negativo do ânimo quer gera as grandes empresas. Como explicar, sem isso, que os povos ibéricos mostrassem tanta aptidão para a caça aos bens materiais em fins do século XVIII? “Um português” comentava certo viajante em fins do século XVIII, “pode fretar um navio para o Brasil com menos dificuldade do que lhe é preciso para ir de cavalo de Lisboa ao Porto”. E essa ânsia de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis, tão notoriamente característica da gente de nossa terra, não é bem uma das manifestações mais cruas do espírito de aventura?
Nesse ponto, precisamente, os portugueses e seus descendentes imediatos foram inexcedíveis. Procurando recriar aqui o meio de sua origem, fizeram-no com uma facilidade que ainda não encontrou, talvez, segundo exemplo na história. Aos portugueses e, em menor grau, aos castelhanos, coube, sem dúvida, a primazia no emprego do regime que iria servir de modelo à exploração latifundiária e monocultora adotada depois por outros povos. E a boa qualidade das terras do Nordeste brasileiro para a lavoura altamente lucrativa de cana-de-açúcar fez com que essas terras se tornassem o cenário onde, por muito tempo, se elaboraria em seus traços mais nítidos o tipo de organização agrária mais tarde característico das colônias europeias situadas na zona tórrida. E verificou-se, frustradas as primeiras tentativas de emprego do braço indígena, que o recurso mais fácil estaria na introdução de escravos africanos.
O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. Não foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os portugueses no Brasil com a lavoura açucareira. Não o foi, em primeiro lugar, porque a tanto não conduzia o o gênio aventureiro que os trouxe á América; em seguida, por causa da escassez da população do reino, que permitisse emigração em larga escala de trabalhadores rurais, e finalmente pela circunstância de a atividade agrícola não ocupar então, em Portugal, posição de primeira grandeza. Poucos indivíduos sabiam dedicar-se a vida inteira a um só mister sem se deixaram atrair por outro negócio aparentemente lucrativo. Mais raros seriam os casos em que um mesmo ofício perdurava na mesma família por mais de uma geração, como acontecia em terras onde a estratificação social alcançara maior grau de estabilidade. Da tradição portuguesa, pouca coisa se conservou entre nós que não tivesse sido modificada ou relaxada pelas condições adversas do meio.
Sérgio Buarque de Holanda, Toquinho e Vinicius de Moraes. Arquivo UNICAMP.  
A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por onde se hão de calcar, na vida política, as relações entre governantes e governados, entre monarcas e súditos. Uma lei moral inflexível, superior a todos os cálculos e vontades dos homens, pode regular a boa harmonia do corpo social, e, portanto deve ser rigorosamente respeitada e cumprida. Esse rígido paternalismo é tudo quanto se poderia esperar de mais oposto, não já as ideias da França revolucionária. Mas tradicionalistas e iconoclastas que se movem, em realidade, na mesma órbita de ideias. Estes, não menos do que aqueles, mostram-se fiéis preservadores do legado colonial, e as diferenças que os separam entre si são unicamente de forma e superfície. O caráter puramente exterior, epidérmico, de numerosas agitações sociais ocorridas entre nós durante os anos que antecederam e sucederam à Independência de 1822 (ou emancipação), demonstra o quanto era difícil ultrapassarem-se os limites que à nossa vida política tinham traçado certas condições específicas geradas pela colonização.
É neste sentido que se insere o romance de Chico Buarque, Leite Derramado (2010; 2013). Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história social de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador das Oligarquias até o descendente “garotão”, um tipo social da cidade do Rio de Janeiro. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A weltanschauung que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência. A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno.
Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse “endereço de gente desclassificada”, está o antigo cemitério onde jaz seu avô.
Vale lembrar que mesmo em seus melhores momentos, a obra realizada pelos portugueses, segundo Sérgio Buarque, teve um caráter mais acentuado de “feitorização do que de colonização”. Não convinha que se fizessem grandes obras, ao menos quando não produzissem imediatos benefícios. Nada que acarretasse maiores despesas ou resultasse em prejuízo para a metrópole. Na realidade o exclusivismo dos castelhanos, em contraste com a relativa liberalidade dos portugueses, constitui parte obrigatória, inalienável de seu sistema. Compreende-se que, para a legislação castelhana, deva ter parecido indesejável, como prejudicial à boa disciplina dos súditos, o trato e convívio de estrangeiros em terras de tão recente conquista e de domínio tão mal assente. Essa liberalidade dos portugueses pode parecer, em comparação, uma atitude negativa, mal definida, e que porviria, em parte, de sua moral interessada, moral de negociantes, embora de negociantes ainda sujeitos, por muitos e poderosos laços, à tradição medieval. Pouco importa que seja frouxa e insegura a disciplina fora daquilo que os freios podem melhor aproveitar, e imediatamente, aos seus interesses terrenos. A rotina e não a razão abstrata foi o princípio que norteou os portugueses, nesta como em tantas outras formas de colonização. Preferiam agir por experiências sucessivas, nem sempre coordenadas umas às outras, a traçar de antemão um plano para segui-lo até ao fim.
No Brasil, onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo da família patriarcal, o desenvolvimento da urbanização – que resulta unicamente no crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influências das cidades – ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos até hoje. Já se disse, numa expressão feliz, afirma Sérgio Buarque, “que a contribuição brasileira para a civilização será a de cordialidade – daremos ao mundo o homem cordial. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar ´boas maneiras`, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um lado emotivo extremamente rico e transbordante. Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida d que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no “homem  cordial”: é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar inatas sua sensibilidade e suas emoções.   
Em 1936, obteve o cargo de professor assistente da Universidade do Distrito Federal, incorporada depois na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual UFRJ, não se confundindo com a Universidade do Distrito Federal criada posteriormente e que deu origem a Universidade do Estado da Guanabara e depois a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em 1939, extinta a Universidade do Distrito Federal, passou a trabalhar na burocracia federal. Em 1941, passou uma longa temporada trabalhando como Visiting Scholar em diversas universidades dos Estados Unidos da América (EUA). Reuniu, no volume intitulado “Cobra de Vidro”, em 1944, uma série de artigos e ensaios que anteriormente publicara nos meios de imprensa. Publicou, em 1945 e 1957, respectivamente, “Monções” e “Caminhos e Fronteiras”, que consistem em coletâneas de análises historiográficas sobre a expansão oeste da colonização da América Portuguesa entre os séculos XVII e XVIII. No contexto da “História Geral da Civilização Brasileira”, publicou, em 1972, “Do Império à República”, texto que, a princípio, fora concebido como um simples artigo para a coletânea, mas que, com o decurso da pesquisa, acabou por ser ampliado num volume independente. Trata-se de um trabalho analítico, interpretativo de história social e política que aborda a crise do império brasileiro no final do século XIX, explicando-a como resultante da corrosão do mecanismo fundamental de sustentação deste regime: o poder pessoal do imperador.

                       
Em 1946, voltou a residir em São Paulo, para assumir a direção do Museu Paulista, que ocuparia até 1956, sucedendo então ao seu antigo professor escolar Afonso Taunay. Em 1948, passou a lecionar na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na cátedra de História Econômica do Brasil, em substituição a Roberto Simonsen. Viveu na Itália entre 1953 e 1955, onde esteve a cargo da cátedra de Estudos Brasileiros da Universidade de Roma. Esse processo ganhou maior estrutura quando a Divisão Cultural do Itamaraty, ligada ao Ministério das Relações Exteriores e responsável pela política cultural externa do país, deu ênfase ao projeto de fundação de cátedras de Estudos Brasileiros em cerca de 15 universidades no exterior, entre 1952 e 1955. Em 1958, Sérgio Buarque de Holanda assumiu a cadeira de História da Civilização Brasileira, agora na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. O concurso para esta vaga motivou-o a escrever “Visão do Paraíso”, livro que publicou em 1959, no qual analisa aspectos do imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) europeu à época da conquista.
       Ainda em 1958, ingressou na Academia Paulista de Letras e recebeu o “Prêmio Edgar Cavalheiro”, do Instituto Nacional do Livro, pelo ensaio: “Caminhos e Fronteiras”. Permaneceu intelectualmente ativo até 1982, tendo ainda, neste último decênio, publicado diversos textos. De 1975 é o volume “Vale do Paraíba - Velhas Fazendas” e de 1979, a coletânea “Tentativas de Mitologia”. Nestes últimos anos, trabalhou também na reelaboração do texto de “Do Império à República” - que não chegou a concluir. Recebeu em 1980 tanto o Prêmio Juca Pato, da União Brasileira de Escritores, quanto o Prêmio Jabuti de Literatura, da Câmara Brasileira do Livro. Também em 1980, participou da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores, recebendo a terceira carteira de filiação do partido, após Mário Pedrosa e Antonio Candido. Por conta de sua participação no PT e na condição de intelectual destacado é que o centro de documentação e memória da Fundação Perseu Abramo, fundação de apoio partidária instituída pelo Partido dos Trabalhadores em 1996, recebe seu nome: Centro Sérgio Buarque de Holanda: Documentação e Memória Política. Morreu em São Paulo em 24 de abril de 1982. Existe um navio batizado em seu nome, que foi construído em 2012.
Bibliografia geral consultada.

HOLANDA, Sérgio Buarque de, Raízes do Brasil. 1ª edição. São Paulo: Livraria José Olympio Editores, 1936; Idem, Visão do Paraíso. 2ª edição revista e ampliada. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional/Edusp, 1969; DILTHEY, Wilhelm, El Mundo Histórico. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1947; CLARA, Fernando, “Experiência-Vivência. Dilthey e as Humanidades: Um Olhar Retrospectivo”. Disponível em: Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, n° 19. Lisboa: Edições Colibri, 2007, pp. 35-48; WAIZBORT, Leopoldo, O mal-entendido da democracia: Sérgio Buarque de Hollanda, Raízes do Brasil, 1936. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, vol. 26, n° 76, 2011, pp. 39-62; BUARQUE, Chico, Leche Derramada. Tradução espanhola de Ana Rita da Costa García. Barcelona: Ediciones Salamandra, 2010; Idem, Vergossene Milch. Tradução alemã de Karin von Schweder-Schreiner. Frankfurt am Main: Samuel Fischer, 2013; PIMENTEL, Vanuccio Medeiros, A Primazia dos Clãs: A Família na Política Nordestina. Tese de Doutorado em Ciência Política. Universidade Federal de Pernambuco: Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, 2013;  HIDALGO, Yaremis da Trinidade; CRUZ, Yenisey López, “La Hermenéutica en el Pensamiento de Wilhelm Dilthey”. Disponível em: Griot - Revista de Filosofia. Santiago de Cuba,  volume11, n°1, junho/2015; Revista do Brasil. Número Especial: Ano 3, n° 6/87, dedicado a Sérgio Buarque de Holanda, 1935; SILVA, Rafael Pereira da, A Morte do Homem Cordial: Trajetória e Memória na Invenção de um Personagem (Sérgio Buarque de Holanda 1902-1982). Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2015; RIBEIRO, Douglas Carvalho, As Raízes antiliberais de Sérgio Buarque de Holanda: Carl Schmitt em Raízes do Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Faculdade de Direito. Belo Horizonte: Universidade Federald e Minas Gerais, 2017; ASSIS, Gabriela Lima de, Raízes do Paraíso: Uma Análise Whiteana de Sérgio Buarque de Holanda. Tese de Doutorado em História. Instituto de Geografia, História e Documentação. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2017; entre outros. 

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Mario Lago - Paratopia Criadora, Cordialidade & Vida de Amélia.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga

“Amélia não tinha a menor vaidade/Amélia que era a mulher de verdade”. Ataulfo Alves e Mário Lago

                  
Mário Lago ficou reconhecido do grande público graças a seu trabalho como ator. Um dos temas ressaltados pela biógrafa de Mario Lago refere-se ao seu parti pris com relação aos embates sobre a chamada “cultura erudita” e a “cultura popular”, um conflito vivenciado pelo artista no próprio ambiente familiar. Assim, sabe-se que Mário, desde os sete anos, não só era frequentador assíduo dos concertos do Teatro Municipal como também, a partir desta idade, inicia seus estudos de piano com Lucília Villa-Lobos. A entrada na adolescência, entretanto, o faz vislumbrar a possibilidade de uma vida menos disciplinada do que a do virtuose, resignado a um estilo ascético, com o tempo totalmente devotado aos estudos e o espaço praticado na sala de música. São vários os apelos vindos de fora, como a pelada com os amigos, a sociabilidade de praia, e, sobretudo o samba que começa a se desenvolver na cidade. Mário reage, portanto, às intenções civilizatórias da família, comprometendo-se radicalmente com o popular. Esta tomada de posição reaparece hic et nunc de diversos momentos de sua biografia. Mário assume uma atitude inusitada nos anos 1940, ao tentar conciliar a defesa da linguagem coloquial na radionovela com um didatismo nacionalista, que defendia o uso do rádio para a educação das massas. Os ideólogos do rádio, nos seus primórdios da comunicação radiofônica de início dos anos 1920, imbuídos de um projeto construtivo, buscaram uma linguagem elevada, mas terrena, para este novo veículo de comunicação.
Mário Lago ingressou no Partido Comunista Brasileiro, em 1934. No ano de 1948, quando Prestes completou 50 anos de idade, organizou uma festa para homenagear o seu líder, juntamente com o jornalista Pedro Motta Lima e Diógenes Arruda Câmara e escreveu um artigo sobre o seu líder, “Do cavaleiro ao camarada, em tempos de legalidade". Esse período ele relembra à autora: "ainda não existiam os programas eleitorais gratuitos no rádio e na televisão, os candidatos iam buscar votos na rua, ombro a ombro cara a cara com o povo”. E romanticamente acrescenta: - “Oscar Niemeyer estava soberbo num alto de uma escada, armado de uma broxa e de uma lata de cola de farinha de trigo, participando de uma colagem de um grupo de intelectuais artistas plásticos, fez um dia de semana. As ruas cheias de gente, o céu transbordando de sol”. Em 1947 casa com Zeli, filha do dirigente comunista, Henrique Cordeiro, sua companheira, também, de luta, nos 40 anos seguintes que o PCB amargou na clandestinidade somente voltando à retomada da legalidade, em 1985. Em 1950, foi candidato à deputado estadual, em São Paulo, pela legenda do PST - Partido Social Trabalhista e apesar de ter realizado uma campanha bem planejada e movimentada, não obteve êxito. Em 1964 foi preso novamente. Esteve na Ilha das Flores, depois no presídio da Frei Caneca. Permaneceu quase 60 dias isolado, trancafiado. Libertado, começou a viver a fase mais difícil de sua vida, por momentos cruciais, desempregado, já com cinco filhos, na rua das amarguras. Os amigos solidariamente o ajudaram a recompor sua vida profissional, aos poucos.


Desse modo, a programação, no início, consistia de palestras de teor instrutivo ou moralizante e de músicas da tradição que se aproximavam de uma concepção erudita. Quando, na década seguinte, o rádio passou a ser usado como veículo de entretenimento, divulgando principalmente a música popular tocada no Rio de Janeiro, sofreu críticas acirradas de músicos e musicólogos modernistas. A importância crescente do jovem Mário, intelectual e politizado, no ambiente do teatro brasileiro de revista pode ser medida pelo episódio em que seu parceiro, na marcha “Aurora”, Roberto Martins o procurou na saída do teatro para lhe pedir um favor. Mário já estava acostumado a ser procurado pelo amigo quando Martins tinha algum pedaço de música a espera de uma tirada poética ou complemento melódico. – “Não trago música nenhuma Mário, é que tem um cantor aí precisando trabalhar e eu queria pedir para você ajudá-lo, que ele é muito bom...”. Assim começava a carreira de Carlos Galhardo, um dos mais notáveis cantores populares da chamada “era do rádio”, pela influência de Mário, que fazia sucesso com “Nada Além”, são composições que contribuíram para o cancioneiro de Lago se tornar obrigatório em qualquer antologia da música brasileira, na voz de estrelas como Ataulfo Alves, Orlando Silva e Carmen Miranda. Durante sua vida, eventualmente fazia shows em que cantava suas músicas, contava casos da boemia e da militância política, gravado por Orlando Silva, e deu a Galhardo a oportunidade de gravar “Será?” e “Devolve”.
De certa forma, ao adotar este procedimento, Mário Lago se antecipa aos intelectuais dos anos 1950 que, reunidos em torno do Centro Popular de Cultura (CPC), propõem uma arte radicalmente comprometida com o povo. A ideia básica é a de se adotar uma linguagem clara e sedutora, que não apenas seja entendida pelo público, mas que também eleve sua consciência para as causas políticas. Nesta conjuntura Mário Lago se vê às voltas com o início da televisão. A primeira experiência se dá num programa de teledramaturgia seriada da TV Tupi, denominado “Câmera 1”. Em seguida ele passa a trabalhar no Teatro Moinho de Ouro, da TV Rio. Mas uma e outra experiência na televisão, o levavam a lançar mão da importante técnica teatral do improviso. E apesar de todas as restrições que passou a fazer à televisão mais industrializada e menos artesanal dos anos 1970, em que se teria substituído, segundo ele, o espírito de equipe por uma postura mais individualista, Mário assumiu a sua defesa nos debates conjunturais. Questionava-se a participação dos intelectuais nas novelas, gênero aparentemente alienado por excelência. Mário atualiza a sua proposta de fazer arte para o povo em função da nova realidade engendrada pela televisão.
     Tratava-se, agora, de um veículo que atingia milhões de pessoas, e este fenômeno não poderia ser ignorado pelos intelectuais progressistas. Os artistas deveriam ocupar o espaço televisivo para modificá-lo e exercer a atividade crítica. Ao adotar essa postura, Mário mostra-se coerente com um projeto pluralista do final dos anos 1970, em que se previa a participação dos intelectuais nas instituições estatais e nos meios de comunicação. É desse modo que se explica, a absorção pela TV Globo, no início dos anos 1980, de vários artistas oriundos do Centro Popular de Cultura da UNE e evidentemente dos teatros de Arena e Opinião, dos anos 1960, com Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri, Ferreira Gullar, Vianinha, Paulo Pontes e o próprio Mário Lago, entre tantos outros. O Show Opinião foi um espetáculo musical, dirigido por Augusto Boal, produzido pelo Teatro de Arena e por integrantes do CPC da UNE - instituição que, a esta altura, havia sido colocada na ilegalidade pelo regime militar recentemente instaurado no Brasil.


       O teatro conheceu um esplendor que não resistiria à asfixia causada pela censura e pela repressão. Resultava do trabalho realizado, em especial, por dois grupos, o Oficina, em torno de seu diretor José Celso Martinez Corrêa (no exílio de 1974 a 78), e  Arena, em torno de Augusto Boal no exílio a partir de 1969, que se dedicaram a criar uma dramaturgia brasileira e uma nova formação do ator. Escreveram e encenaram com muito sucesso, durante vários anos, originando vocações, peças, espetáculos e revelações de ator. Extremamente engajados, e invocando Bertolt Brecht como nomes tutelares vincariam a história do teatro no país. Ambos os grupos seriam dizimados pelo AI - 5, famigerado Ato Institucional, que deflagrou o terror de Estado e exterminou aquilo que fora um dos mais importantes ensaios de socialização da cultura jamais havido no país.
    Houve experiências concretas como o Centro Popular de Cultura (CPC) do movimento estudantil. A União Nacional dos Estudantes, através do CPC, que procurava levar a arte ao povo, sem temor da mão-de-ferro e a vontade do governo golpista militar de dificultar esse contato politizado a seus objetivos. Além do mais, Brecht transformara o teatro em arma política no século XX, sabendo se apoderar da sua grande força de comunicação política e a capacidade de mobilizar as pessoas. Atores e diretores não podiam dar as costas a essa influência arrebatadora, principalmente na década de 1970, quando o mundo ocidental assistia a uma reviravolta dos costumes e, no Brasil, cresciam os infames mecanismos de repressão e censura. Para bloquear o avanço desse teatro, estagnar o elo estreito entre o palco e a política, os militares estendem um “cordon sanitaire” entre o público e os artistas. A censura e a perseguição acirram-se. Quem não se lembra do ator Klaus Maria Brandauer no papel do ator devorado pela ambição em Mephisto? Cai sobre todos aqueles que convivem com a arte, o dilema cruel que consumiu o protagonista, do diretor húngaro István Szabó. No cinema brasileiro marcado pelas atuações brilhantes de Gianfrancesco Guarnieri & Fernanda Montenegro, o filme Ele não usam black-tie representa uma metáfora do cotidiano das frações das classes subalternas.
     Revelando demandas sociais tão contemporâneas quanto urgentes, o roteiro constrói, na figura de cada personagem, um ator social. A luta pelos direitos civis num cenário marxista do mundo contemporâneo é revelada a partir da luta de classes, tendo como background os conflitos pessoais, o início dos movimentos sindicalistas e grevistas do ABC Paulista, nos anos 1980. Em São Paulo, o Tião (Carlos Alberto Riccelli) acaba de saber que sua namorada (Bete Mendes) está grávida do primeiro filho. Tião vive sociologicamente, um “paradoxo de consequências não intencionais”: a) ainda mora com os pais e o irmão caçula, b) além de trabalhar explorado na mesma fábrica em que o pai ganha um salário  modesto. Mas a situação fica mais delicada, c) quando a empresa entra em constante clima de “indicativo de greve”. Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), pai de Tião, é um dos líderes do movimento sindical. Pensando na família que está prestes a se formar, Tião assume posição conservadora, se colocando contra os ideais no berço do sindicalismo brasileiro. Sua atitude leva-o a furar a greve quando ela se dissemina fora da fábrica.  “Eles não usam black-tie” celebra a democracia e a liberdade de expressar tudo o que se pensa e tudo o que se almeja, sem o receio da conservadora e atuante censura brasileira.                                     
Jerônimo – O Herói do Sertão.
 Antropologicamente falando o samba “Ai Que Saudades da Amélia”, de Mário Lago e Ataulfo, é um primoroso poema popular, coloquial espontâneo. Escrito por Mário Lago, recebeu de Ataulfo Alves uma de suas melhores melodias, que expressa musicalmente o espírito da letra. Da sensibilidade da letra de Mário Lago, compositor inspirado é baseado numa história real. Aníbal Alves de Almeida, conhecido como Almeidinha, irmão da cantora Araci de Almeida, é o pai não-intelectual de “Amélia”. Os historiadores da música sustentam que Amélia realmente “existiu e, possivelmente, ainda vivia à época da canção. Era uma antiga lavadeira que serviu à sua família [de Almeidinha]. Morava no subúrbio do Encantado (Zona Norte do Rio de Janeiro) e trabalhava para sustentar uma prole de nove ou dez crianças”. Mário Lago narra que, em 1941, enquanto conversava com Ataulfo, Frazão e Orlando Silva, no Café Nice, “o Almeidinha começou a cantarolar a história de uma mulher que era solidária ao seu homem, que passava fome ao seu lado e achava bonito não ter o que comer. Eu e Ataulfo pensamos: isso dá um samba”. O baterista Almeidinha admirava o desprendimento de Amélia dos Santos Ferreira, empregada de Araci (ou Aracy) de Almeida. A versão de Ataulfo, transmitida por Luizito: - “Tínhamos combinado fazer o samba juntos. Eu já tinha a música e pedi os versos ao Mário Lago.
   Ele escreveu o poema e me deu. Em casa, meti os peitos no samba. Mudei então alguns versos. Não o sentido. Uma ou outra palavra, trocando de lugar uma frase para melhor adaptar minha música”. Alguns disseram para Ataulfo: “O samba é bonito, mas não é carnavalesco”. Outros ficaram com receio: “A música é boa, mas, não sei, é diferente e acho que o povo não gosta disso”. Nem Orlando Silva, o “Sinatra” da casa grande e da senzala, ousou gravar “Amélia”. Na falta de um grande cantor, para concordarmos com o mimetismo sociológico, Ataulfo decidiu gravar o samba, no fim de novembro de 1941, com o grupo Academia do Samba e, tocando cavaquinho, Jacob do Bandolim. Lançada em janeiro de 1942, a música fez sucesso, não desagradando homens e mulheres, que entenderam aquilo que Ataulfo disse numa entrevista: - “Amélia é compreensão, é ternura, é vida”. Não é um hino à submissão. - “Ela simboliza a companheira ideal, que luta ao lado do marido, vivendo de acordo com suas possibilidades, sem exigir o que ele não pode dar”, acrescentou o compositor-cantor. “Amélia” pontificou Mário, era o “símbolo da mulher brasileira”, um exagero, pois as troianas, e outras, eram tão solidárias quanto. Indicada para a disputa do melhor samba do carnaval de 1942, “Amélia” enfrentou “Praça Onze”, sucesso de Herivelto Martins e Grande Otelo. As duas músicas empataram, por decisão do público, e levaram a grana do prêmio.
Inicialmente, o estilo musical que seria conhecido como MPB era denominado como Música Popular Moderna (MPM), terminologia utilizada pela primeira vez em 1965, para identificar: a) canções que já se diferenciavam da bossa nova, b) que não eram samba, nem moda ou marchinha, c) mas, que aproveitavam simultaneamente a suavidade do repertório da bossa nova, d) o carisma das tradições regionais e o cosmopolitismo de canções norte-americanas, que se tornaram conhecidas do público brasileiro por meio do cinema. Um dos primeiros exemplos de canção rotulada como MPM foi “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, que em 1965, interpretada por Elis Regina, venceu o 1º Festival de Música Popular da TV Excelsior. Em 1966, o samba “Pedro Pedreiro”, de Chico Buarque, também foi classificado como MPM, pois não era bossa nova, nem jovem guarda e nem música de protesto. Também em 1966, um conjunto vocal de Niterói, até então conhecido como “Quarteto do CPC”, sigla do Centro Popular de Cultura, adotou o nome “MPB 4”. Na virada da década de 1960 para a de 1970, deixou-se de adotar a sigla MPM que foi substituída pela sigla MPB. 
  O conceito de “homem cordial” foi desenvolvido pela weltanschauung de Sérgio Buarque de Holanda em seu livro Raízes do Brasil (1936), cujas virtudes tão elogiadas por estrangeiros como “hospitalidade” e “generosidade” representam “um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece viva e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano”. Logo, historicamente as raízes do caráter brasileiro se encontram no meio rural e patriarcal do período colonial. O “homem cordial” é, segundo essa definição, “a forma natural e viva que se converteu em fórmula”. Mas essas virtudes não são sinônimas de bons modos. Muito menos de bondade ou amizade. No fundo, a dialética de nossa forma de convívio social representa “justamente o contrário da polidez”. Afetivamente a atitude polida equivale a um disfarce hierárquico que permite preservar sua sensibilidade e suas emoções e com essa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o nível social.
A cordialidade descrita por Sérgio Buarque de Holanda faz com que o brasileiro sinta, ao mesmo tempo, o desejo de estabelecer intimidade e o horror a qualquer convencionalismo ou formalismo social. Na prática, isto faz com que as relações sociais e particularmente familiares continuem a ser o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. Por isso, em geral, os indivíduos não conseguem compreender a distinção patrimonial entre as instâncias públicas e privadas, principalmente entre o Estado e a família. Fundada nas relações familiares de que derivava, a cordialidade se estendia até a área do público, cuja lógica que contraria o interesse público, era com isso sufocada. A a distinção se tornará clara na 3ª edição do Raízes do Brasil (1956), quando ao texto revisto corresponderá o esclarecimento decisivo sobre a questão da cordialidade.
É verdade que foi o historiador paulista quem, como se referiu Antônio Candido, concedeu o fundamento sociológico à expressão criada pelo poeta santista Ribeiro Couto. Encontrara a expressão no escritor e amigo Ribeiro Couto que explicava a expressão nos caracterizava, como “um dos efeitos decisivos da supremacia incontestável, absorvente do ninho familiar”, pois “as relações que se criam na vida doméstica, sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós”. Contudo, a origem da expressão “homem cordial” está intimamente relacionada a Alfonso Reyes, embaixador mexicano no Brasil e um poeta notável que “se juntou ao grupo de escritores e boêmios frequentadores do lendário Restaurante Reis, no centro da cidade”.  Para estimular o intercâmbio entre os artistas de seu tempo, ele decidiu editar, na capital da República, onde permaneceria entre 1930-36, a revista Monterrey: Correo Literario, de Alfonso Reyes. Manuel Bandeira ficou entusiasmado com essa ideia que logo enviou os primeiros três números para o seu querido amigo Ribeiro Couto, então funcionário do Consulado do Brasil em Marselha, França. 
Mario Lago começou sua carreira precocemente pela poesia, e teve seu primeiro poema publicado aos 15 anos. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na década de 1930, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, depois Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde iniciou sua militância política no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, fortemente influenciado pelo Partido Comunista Brasileiro, PCB. Na década de 1930, a principal Faculdade de Direito da capital da República era um celeiro de arte aliada à política, onde estudaram Mario Lago e seus contemporâneos Carlos Lacerda, Jorge Amado, Lamartine Babo entre outros. Depois de formado, exerceu a profissão de advogado brevemente. Envolveu-se com o teatro de revista, escrevendo, compondo e atuando. Sua estreia como letrista de música popular ocorreu com “Menina, eu sei de uma coisa”, parceria com Custódio Mesquita, gravada em 1935 por Mário Reis. Três anos depois, Orlando Silva realizou a famosa gravação de “Nada além”, da mesma dupla de autores.  Suas composições mais famosas são: “Ai que saudades da Amélia”, “Atire a primeira pedra”, ambas em parceria com Ataulfo Alves; “É tão gostoso, seu moço”, com Chocolate, “Número um”, com Benedito Lacerda, o samba “Fracasso” e a marcha carnavalesca “Aurora”, em parceria com Roberto Roberti, que ficou consagrada na interpretação da fabulosa Carmen Miranda.
     Mas é com “Amélia”, no âmbito da cordialidade brasileira, é um conceito desenvolvido pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em seu livro Raízes do Brasil, cuja primeira edição foi publicada no ano de 1936. De acordo com esse conceito, virtudes tão elogiadas por estrangeiros como hospitalidade e generosidade representam “um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece viva e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano”. Logo, as raízes do caráter brasileiro se encontram no meio rural e patriarcal do período colonial. O “homem cordial” é, segundo essa definição, “a forma natural e viva que se converteu em fórmula”. Mas essas virtudes não são sinônimos de bons modos, muito menos de bondade ou amizade. No fundo, a nossa forma de convívio social é justamente o contrário da polidez, mas que paradoxalmente na cultura popular, decorreu dessa forma em que a descrição daquela mulher idealizada, ficou tão popular que “Amélia” tornou-se sinônimo de mulher resignada e dedicada aos trabalhos domésticos. Mancha Verde faz homenagem a Mário Lago, que morreu em 2002 aos 90 anos.


Filho do maestro Antônio Lago e de Francisca Maria Vicencia Croccia Lago, e neto do anarquista e flautista italiano Giuseppe Croccia, formou-se em Direito pela Universidade do Brasil, em 1933, tendo nesta época se tornado marxista. A opção pelas ideias comunistas fez com que fosse preso em sete ocasiões: 1932, 1941, 1946, 1949, 1952, 1964 e 1969. Mário Lago esteve na União Soviética, em 1957, a convite da Radio Moscow, para participar da reestruturação do programa “Conversando com o Brasil”, do qual participavam artistas e intelectuais brasileiros. Mas os programas radiofônicos produzidos no Brasil, que Mário demonstrou aos soviéticos, foram por eles qualificados, naturalmente de burgueses e decadentes. A avaliação que Mário Lago fez da União Soviética também não foi das melhores. Ali, segundo ele, a produção cultural sofria pelo excesso de gravidade e autoritarismo. Apesar da leve decepção com a experiência da revolução nas Repúblicas Socialistas Soviéticas, Mário Lago felizmente jamais abandonou a militância política. Durante a segunda metade da década de 1960, Mário Lago passou a aparecer com frequência no cinema, com atuações marcantes em filmes importantes como O Padre e a Moça, Os Herdeiros e Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite. Em 1964, foi um dos nomes a encabeçar a lista dos que tiveram seus direitos políticos cassados pelo regime golpista, perdendo suas funções na Rádio Nacional.
    Na década de 1970, iniciou uma carreira de sucesso como ator de telenovelas, com destaque para Cavalo de Aço e O Casarão. Em 1989, ligou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e atuou nos programas eleitorais do candidato vitorioso do partido dos trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva, à presidência da República, em 1998. Autor dos livros: Chico Nunes das Alagoas (1975), Na Rolança do Tempo (1976), Bagaço de Beira-Estrada (1977) e Meia Porção de Sarapatel (1986), foi biografado em 1998 por Mônica Velloso na obra: Mário Lago: Boêmia e Política. Foi casado com Zeli, filha do militante comunista Henrique Cordeiro, que conhecera numa manifestação política, até a morte dela em 1997. O casal teve cinco filhos: Antônio Henrique, Graça Maria, Mário Lago Filho, Luís Carlos, em homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes e Vanda. No carnaval de 2001, Mário Lago foi tema do desfile da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz. Em dezembro recebeu uma homenagem especial por sua carreira durante a entrega do Melhores do Ano do Domingão do Faustão, que, no ano seguinte, ganharia o nome de Troféu Mário Lago, sendo anualmente concedido aos grandes nomes da teledramaturgia. Em janeiro de 2002, o presidente da Câmara, Aécio Neves, foi à sua residência no Rio para lhe entregar, solenemente, a Ordem do Mérito Parlamentar. Na sua última entrevista ao singular Jornal do Brasil, Mário Lago revelou que estava escrevendo sua própria biografia. Estava certo de que chegaria aos 100 anos, dizia Mário, “Fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele”.
Bibliografia geral consultada.
COUTO, Rui Ribeiro, “Carta a Alfonso Reyes, Arquivos Pessoais de Autores Brasileiros”. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1931; ANDRADE, Oswald, “Um Aspecto Antropofágico da Cultura Brasileira: O Homem Cordial”. In: Obras Completas de Oswald de Andrade: Do Pau-Brasil à Antropofagia e às Utopias. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970; AVELINO FILHO, George, “Cordialidade e Civilidade em Raízes do Brasil”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, nº 12. São Paulo, 1990; ASLAN, Odete, O Ator no Século XX. São Paulo: Editora Perspectiva, 1994; MONTEIRO, Pedro Meira, A Queda do Aventureiro: Aventura, Cordialidade e os Novos Tempos em Raízes do Brasil. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Dissertação de Mestrado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1996; VELLOSO, Mônica Pimenta, Imaginário Humorístico e Modernidade Carioca. Tese de Doutorado em História Social. Departamento de História. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1995; Idem, Mário Lago: Boemia e Política. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1997; SODRÉ, Muniz, Samba, o Dono do Corpo. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 1998; NAVE, Santuza Cambraia, “Entre Biografia e História”. In: Rev. bras. Cien. Soc. vol. 13 n° 38. São Paulo Oct. 1998; CANDIDO, Antônio (org.), Sérgio Buarque e o Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1998; FARIA, Amanda Beraldo, De Amélias e Barracões: A Noção de Saudade na Obra de Ataulfo Alves. Dissertação de Mestrado em Filosofia. Programa de Pós-Graduação em Culturas e Identidades Brasileiras. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; ASSUNÇÃO, Érica Patrícia Barros de; MOURA, João Benvindo de, O Paradoxo do Autor: A Paratopia Criadora de Mário de Andrade no Discurso Literário de Macunaíma. In: Revista Desenredo, 13 (1) 2017; entre outros.