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terça-feira, 8 de outubro de 2024

As Confissões de Schmidt – Infelicidade, Narrativa & Mudança Radical.

 “Não há angústia nem fantasia por trás da felicidade, é esta que não toleramos mais”. Michel Foucault                                       

As Confissões de Schmidt (About Schmidt) é um filme de comédia dramática norte-americano de 2002, escrito e dirigido por Alexander Payne, produzido por Michael Besman, Harry Gittes e Rachael Horovitz, coescrito por Jim Taylor com música de Rolfe Kent e estrelado por Jack Nicholson no papel-título. É muito vagamente baseado no romance de 1996 de Louis Begley, com o mesmo título: As Confissões de Schmidt. Foi lançado nos cinemas em 13 de dezembro de 2002 pela New Line Cinema. O filme foi um sucesso comercial e crítico e ganhou em torno de US$105,834,556 em um orçamento de US$30 milhões.  Warren Schmidt é um homem de aproximadamente 60 anos que vive um casamento rotineiro, e acaba de se aposentar. Ele também tem uma filha adulta, que mora longe, e que está se preparando para “casar com um homem que Schmidt não considera à altura dela”. Procurando sair da passividade, Schmidt resolve entrar numa campanha de ajuda a crianças africanas e passa a se corresponder e mandar dinheiro para uma delas, que conhece apenas em fotos. Nas cartas ele narra sua vida e fala da família e também fica sabendo o mesmo do garoto que ajuda. Schmidt fica viúvo repentinamente, e resolve partir em viagem num trailer motorizado, tentando encontrar um sentido na sua vida e fazer alguma coisa útil, ao menos na concepção: impedir que a filha se case.

O filme também é estrelado por Hope Davis, Dermot Mulroney e Kathy Bates. O roteiro de Payne para About Schmidt foi inicialmente um roteiro original escrito anos antes da publicação do romance de Begley. Segundo Payne, seu roteiro era sobre “um velho que se aposenta e percebe o quanto desperdiçou sua vida e quer, de alguma forma, começar de novo — The Graduate aos 65 anos”. Payne completou o roteiro em 1991 e o ofereceu à Universal Pictures, mas o estúdio o rejeitou. Após a publicação do romance de Begley em 1996, Payne decidiu combinar seu roteiro com o enredo do romance, tornando-o uma adaptação. As filmagens ocorreram por dois meses em várias cidades de Nebraska, incluindo Omaha, Nebraska City, Minden, Kearney e Lincoln. Omaha foi escolhido, porque foi onde Alexander Payne cresceu. Filmagem concluída em maio de 2001. O filme About Schmidt recebeu elogios de vários analistas críticos de cinema, que destacaram as performances de Jack Nicholson e Kathy Bates. O site de filmes Rotten Tomatoes registrou uma base estatística de aprovação de 85% com base em 203 críticas e uma média de 7,71/10. O consenso crítico diz: “Neste engraçado e emocionante estudo de personagem, Nicholson oferece uma das melhores performances de sua carreira”.

Do ponto de vista técnico-metodológico reviravolta (Plot twist) é uma mudança radical inesperada na direção do enredo de uma história social ou política. Quando acontece perto do final, é reconhecida como um final surpresa. A reviravolta é uma técnica literária usada para criar uma conclusão imprevista que faz com que o público pare para reavaliar toda a narrativa e os personagens, usada para manter o interesse do público na obra e obter uma revelação surpresa. A reviravolta é um artifício de alto risco e alta recompensa, e que nem sempre funciona. Pode mudar a percepção do público sobre os eventos anteriores ou introduzir um novo conflito que o coloque em um contexto diferente. Uma reviravolta na trama pode ser prenunciada, para preparar o público para aceitá-la, mas geralmente vem com algum elemento surpresa. Existem vários métodos usados para executar uma reviravolta na trama, como ocultar informações do público ou enganá-lo com informações ambíguas ou falsas. Mas, nem toda trama tem uma reviravolta, mas algumas têm várias reviravoltas menores, e algumas são definidas por uma única reviravolta importante. Revelar uma reviravolta para leitores ou espectadores com antecedência é comumente considerado carateristicamente um spoiler, uma vez que a maior parte das obras relacionadas a este elemento social desenvolvem-se no intuito eficaz de alcançar a surpresa.                          

Um exemplo inicial de romance com múltiplas reviravoltas foi o conto “As Três Maçãs”, de Mil e Uma Noites. Começa com um pescador descobrindo um baú trancado. A primeira reviravolta ocorre quando o baú é arrombado e um cadáver é encontrado dentro. A busca inicial pelo assassino falha, e uma reviravolta ocorre quando dois homens aparecem, alegando separadamente ser o assassino. Uma complexa cadeia de eventos finalmente revela que o assassino é o escravo do investigador.  Entretanto, anagnórise, ou descoberta, é o reconhecimento súbito do protagonista (ou de outro personagem) de sua própria identidade e natureza. Através desta técnica, as informações anteriormente inexplicadas do personagem são reveladas. Um exemplo notável de anagnórise acontece em Édipo Rei. Onde Édipo mata seu pai e se casa com sua mãe na ignorância, aprendendo a verdade apenas no clímax da peça. O primeiro uso deste dispositivo discursivo como o final surpresa de um mistério de assassinato ocorreu literariamene em “As Três Maçãs”, que tem como rerpesentação socal um conto medieval das Mil e Uma Noites, onde o protagonista Jafar ibne Iáia “descobre por acaso um item-chave no final da história que revela o culpado por trás do assassinato”.

Quando se trata da utilidade de uso do tempo sua representação ocorre com o flashback ou analepse que é uma prática de interrupção súbita da sequência cronológica narrativa da história pela interpolação através da memória de eventos ocorridos anteriormente. É comumente utilizado para surpreender o leitor/espectador com informações previamente desconhecidas que fornecem a resposta para um determinado mistério, colocando certo personagem em uma visão diferente ou revelando a razão para uma ação anteriormente inexplicável. Um narrador não confiável distorce o final revelando, quase sempre no final da narrativa, que o mesmo havia manipulado ou inventado a história contada até então, forçando o leitor a questionar suas suposições prévias sobre o texto. Um falso protagonista é um personagem apresentado no início da história como o personagem principal, mas depois descartado, geralmente morto para enfatizar que não retornará. Um exemplo clássico é Marion Crane, de Psicose, que é brutalmente assassinada no início do filme. É uma personagem fictícia do romance de suspense de Robert Bloch (1817-1994), Psycho, de 1959, e interpretada por Janet Leigh na adaptação cinematográfica de Alfred Hitchcock de 1960. Ela foi interpretada por Anne Heche no remake de 1998 e Rihanna na série de televisão Bates Motel.

O suspense de Alfred Hitchcock trouxe “inovações técnicas” nas posições e movimentos das câmeras (cf. Deleuze, 1974; 1983), nas elaboradas edições e nas surpreendentes trilhas sonoras que realçam os efeitos de suspense e aparente terror. O clima de suspense é acentuado pelo uso de música forte e dos efeitos de luz. Em Psycho, “somente o espectador vê a porta se entreabrir, esperando algo acontecer enquanto o detetive sobe a escada”. Um dos recursos de suspenses mais utilizados por Hitchcock é o do “vilão inocente”, através dele um inocente é erroneamente acusado ou condenado por um crime e que, para se ver livre, acaba assumindo a missão de perseguir e encontrar o real culpado.  Em alguns filmes, o personagem age como se soubesse que o telespectador está observando sua vida. No filme “Rear Window” (1954), o personagem Lars Thorwald (interpretado por Raymond Burr) confronta Jeffries (interpretado por James Stewart) dizendo: - “O que você quer de mim?” endereçando a pergunta ao telespectador com um close em seu rosto. Hitchcock usou em vários de seus filmes o que é conhecido como cameo, literalmente “camafeu”, significando uma “participação especial”, onde uma pessoa famosa aparece em um filme. De forma extraordinária nos filmes de Alfred Hitchcock, quem aparecia era ele próprio, em brevíssimos instantes, geralmente na abertura de seus filmes. Isto é, para não distrair o público do enredo principal, no decorrer de sua obra o diretor passou a aparecer no início dos filmes.

Embora inúmeros cinéfilos reconheçam o clássico filme: Psicose, de Alfred Hitchcock, nem todos sabem como o filme foi realizado. Hitchcock é uma ficção que pretende revelar o complicado contexto desta produção: o cineasta já não tinha a mesma notoriedade do início da sua carreira, aparentemente nenhum produtor queria investir em um “pequeno filme de suspense onde a protagonista morre logo no começo, e as cenas de nudez no chuveiro não facilitavam para encontrar a atriz principal”. No primeiro trailer divulgado, Anthony Hopkins incorpora o humor sarcástico do cineasta, enquanto Helen Mirren, no papel de sua esposa, trata de limitar as ambições do diretor. Scarlett Johansson interpreta Janet Leigh (foto), e vários outros nomes prestigiosos completam o elenco, tais como Jessica Biel, Toni Collette e James d`Arcy. O filme dirigido por Sacha Gervasi retrata de um “particular ponto de vista” os bastidores das gravações de Psicose. A imagem destaca Anthony Hopkins na pele de Alfred Hitchcock. Um detalhe interessante, que deve chamar a atenção dos cinéfilos, é a faca ensanguentada, numa referência clara à lendária cena do chuveiro. Scarlett Johansson interpreta Janet Leigh, a protagonista de Psicose, e personifica todas as loiras que obcecavam o cineasta - de Tippi Hedren a Grace Kelly, passando por Kim Novak. Do ponto de vista técnico-metodológico o “MacGuffin” é um conceito original nos filmes de Hitchcock, passando a ser usado pelo cineasta “para inserir um objeto que serve de pretexto para avançar na história sem que ele tenha muita importância no conteúdo da mesma”. O MacGuffin de Psycho “é o dinheiro roubado do patrão”. O dinheiro só serve para conduzir a personagem Marion Crane até o Motel Bates, mas ao chegar o dinheiro perde a importância no desenrolar da história.

O MacGuffin de Torn Courtain é a fórmula que possibilitaria a construção de um antimíssil. É para conseguir a fórmula que o personagem principal parece desertar para Berlim (Oriental), é seguido pela noiva e daí desenvolve-se o enredo. E a exemplaridade do filme: Vertigo (“Um Corpo Que Cai/A Mulher que Viveu Duas Vezes”) lançado no auge da fama do diretor e, porém, não foi muito bem recebido pela crítica. Contudo, Vertigo é reconhecido por ter influenciado vários diretores e roteiristas nas décadas seguintes. O filme foi eleito “entre os 100 melhores filmes de todos os tempos pelo Instituto Americano do Cinema em 1998”. O filme Psicose representa um “quadro psicopatológico” (cf. Freud, 1971: 229 e ss.) clássico, reconhecido pela psiquiatria, pela psicologia clínica e pela psicanálise como um estado psíquico no qual se verifica com o emprego da técnica de investigação uma certa “perda de contato com a realidade”. Nos períodos de crises mais intensas podem ocorrer (variando de caso a caso) alucinações ou delírios, desorganização psíquica que inclua pensamento desorganizado e/ou paranoia (“dementia paranoides”), com acentuada inquietude psicomotora, sensações de angústia intensa e opressão, e insônia severa. Tal é frequentemente acompanhado por uma falta de crítica ou de insight que se traduz numa incapacidade de reconhecer o carácter estranho ou bizarro do comportamento. Desta forma surgem também, nos momentos de crise, dificuldades de interação social e em cumprir normalmente as atividades de vida diária. Na psicanálise, a psicose causou dificuldades teóricas para Freud, mas não para Jacques Lacan. Se o primeiro se demonstrou hesitante em enquadrá-la do ponto de vista analítico, concentrando-se na neurose, Jacques Lacan, tomando-a constantemente em suas conferências, associou-a a “foraclusão” (ou “forclusão”) do nome-do-pai.

Outro exemplo é a personagem Casey Becker em Pânico, que apesar de estampar o cartaz e todo o material promocional do filme, é morta nos primeiros quinze minutos. Peripeteia representa uma inversão súbita da fortuna do protagonista, seja para o bem ou para o mal, que surge a partir das circunstâncias do personagem de maneira natural. Ao contrário da mecânica de Deus ex Machina, a Peripeteia deve ser lógica dentro do quadro de pensamento da história. Deus ex Machina é um termo latino que significa “deus vindo da máquina”. Refere-se a um dilema inesperado, artificial ou improvável dispositivo, personagem ou evento introduzido repentinamente em uma obra de ficcionalização do real, na antropologia de Marc Augé, para resolver uma determinada situação ou desemaranhar a trama. Nos teatros da Grécia Antiga, o “Deus ex Machina” ('ἀπὸ μηχανῆς θεός') era o personagem de um deus grego, literalmente trazido ao palco em meio a um guindaste (μηχανῆς-mechanes), logo após a resolução de um problema aparentemente insolúvel pela “vontade do deus”. Em seu sentido moderno e figurativo, traz o final da narrativa através da resolução inesperada (geralmente de maneira feliz) para o que aparentava na superfície, talvez um problema insuperável. Este mecanismo é usado para terminar uma história sombria sobre uma nota mais positiva.   

Warren Schmidt (Jack Nicholson) é um homem que 60 anos que precisa lidar com a recente aposentadoria e também com a morte repentina de sua esposa. Incerto sobre seu futuro e também sobre seu passado, ele parte em uma jornada rumo ao Nebraska para ajudar no casamento de sua filha Jeannie (Hope Davis) com Randall (Dermot Mulroney), um vendedor de camas d`água. Entretanto, cada novo passo que Warren dá parece ser sempre errado, fazendo com que ele acredite que o fim de sua vida será igual ao seu passado: um grande fracasso. Até que Warren decide dividir sua jornada com um inesperado amigo: um jovem garoto da Tanzânia o qual ele patrocina pagando 73 centavos por dia. Em suas longas cartas ao garoto Warren expõe sua história e passa a ver com outros olhos sua própria vida. O estudo dedicado ao “cuidado de si”, mutatis mutandis, teve como referência Alcibíades, retratado pelo pintor Pedro Américo em 1865. Nele, as questões dizem respeito ao “cuidado de si” com a política, com a pedagogia e com o conhecimento de si. Sócrates recomendava a Alcibíades que aproveitasse a sua juventude para ocupar-se de si mesmo, pois, “com 50 anos, seria tarde demais”. Entretanto, numa relação que diz respeito ao amor e enamoramento, na acepção de Francesco Alberoni e que não pode “ocupar-se de si” sem a ajuda do outro. O exercício da morte, como evocado na Antiguidade por Sêneca, consiste em viver a duração da vida como se fosse tão curta quanto um dia e viver cada dia como se a vida inteira coubesse nele; todas as manhãs, dialeticamente, deve-se estar na infância da vida, mas deve-se viver toda a duração do dia como se a noite fosse o momento da morte. Na hora de dormir, afirma na Carta 12, com um sorriso: “eu vivi”.

Mas há uma advertência, importantíssima na existência humana: “é preciso tempo para isso”. E é um dos grandes problemas dessa cultura de si, fixar, no decorrer do dia ou da vida, a parte que convém consagrar-lhe. Recorre-se a muitas fórmulas diversas. Podem-se reservar, à noite ou de manhã, alguns momentos de recolhimento para o exame daquilo que se fez para a memorização de certos princípios úteis, para o exame do dia transcorrido; o exame matinal e vesperal dos pitagóricos se encontra, sem dúvida com conteúdos diferentes, nos estoicos; Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio, fazem referência a esses momentos revigorados na plenitude da vida que se deve consagrar a voltar-se para si mesmo.  Pode-se também interromper de tempos em tempos as próprias atividades ordinárias e fazer um desses retiros que Musonius, dentre outros, recomendava vivamente: eles permitem ficar face a face consigo mesmo, recolher o próprio passado, colocar diante de si o conjunto da vida transcorrida, familiarizar-se, através da leitura, com os preceitos e os exemplos nos quais se quer inspirar e encontrar, graças a uma vida examinada, os princípios essenciais de uma conduta racional. É possível ainda, no meio ou no fim da própria carreira, livrar-se de suas diversas atividades e, aproveitando esse declínio da idade onde os desejos ficam aparentemente apaziguados, consagrar-se inteiramente, como Sêneca, no trabalho filosófico ou, como Spurrima, na calma de uma existência agradável, “à posse de si próprio” no espaço e tempo sociais habituais. Esse tempo não é vazio: ele é povoado por exercícios, por tarefas práticas, atividades diversas que são ocupadas pelas reflexões de nosso dia a dia. Ocupar-se de si não é uma sinecura. Existem os cuidados com o corpo, os regimes de saúde, os exercícios físicos sem excesso, a satisfação, tão medida quanto possível, as necessidades. Existem as meditações, as leituras, as anotações que se toma sobre livros ou conversações ouvidas, e que mais tarde serão relidas, a rememoração das verdades que já se sabe, mas de que convém apropriar-se ainda melhor. Marco Aurélio fornece, assim, um exemplo de “anacorese em si próprio”: trata-se de um longo trabalho de reativação dos princípios gerais e de argumentos racionais que persuadem a não se deixar irritar com os outros nem com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo. Ela não constitui simplesmente um mero exercício da solidão; mas sim uma verdadeira prática sociológica. E isso, em vários e amplos sentidos.

Mas toda essa aplicação a si não possuía como único suporte social a existência das escolas, do ensino e dos profissionais da direção da alma; ela encontrava, facilmente, seu apoio em todo o feixe de relações habituais de parentesco, de amizade ou de obrigação. Quando, no exercício do cuidado de si, faz-se apelo a outro, o qual se advinha que possui aptidão para dirigir e para aconselhar, faz-se uso de um direito; e é um dever que se realiza quando se proporciona ajuda a outro ou quando se recebe com gratidão as lições que ele pode dar na duração da vida. Acontece também do jogo entre os cuidados de si e a ajuda do outro inserir-se em relações sociais preexistentes às quais ele dá uma nova coloração e um sentido de calor expresso em intensidade maior. O cuidado de si – ou os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos – aparece então como uma intensificação mais do que necessária das relações sociais. É sobretudo neste sentido que Sêneca dedica um consolo à sua mãe. Justamente no momento em que ele próprio está no exílio, para ajudá-la a suportar essa infelicidade atual e, talvez, mais tarde, infortúnios maiores sobre a solidão. O “cuidado de si” aparece, portanto, intrinsecamente ligado a uma espécie de “serviço da alma” que comporta a possibilidade de um jogo de trocas com o outro e de um sistema de obrigações recíprocas. Neste aspecto sem temor a erro abriu caminho para o eterno.

Portanto é a partir dela que, se tomarmos como analogia a reflexão realizada por Michel Foucault para identificar as condições e possibilidades sociais nas “formações discursivas” entre arqueologia e história das ideias, pode-se agora inverter o procedimento. Pode-se descer no sentido da corrente e, uma vez percorrido o domínio das formações discursivas e dos enunciados, uma vez esboçada sua teoria geral, correr para os domínios possíveis de sua aplicação. Recorrer sobre a utilidade dessa análise que ele batizou de “arqueologia” recoloca o problema da escansão do discurso segundo grandes unidades que não eram as das obras, dos autores, dos livros ou dos temas. Sua singularidade refere-se ao fato social de que em sua épistème “já existem muitos métodos capazes de descrever e analisar a linguagem, para que não seja presunção querer acrescentar-lhes outro”. Ele já havia mantido “sob suspeita”, expressão que Foucault utiliza repetidas vezes hic et nunc, unidades de discurso como no que se refere ao livro ou a obra porque desconfiava que não fossem imediatas e evidentes quanto pareciam ser no âmbito da pesquisa hermenêutica e propriamente de corte filosófico.

Portanto, será razoável opor-lhes unidades estabelecidas à custa de tal esforço, depois de tantas hesitações e segundo princípios tão obscuros que foram necessárias centenas de páginas para elucidá-los? E o que todos esses instrumentos acabam por delimitar, esses famosos “discursos” cuja identidade eles demarcam, coincide com as figuras chamadas “psiquiatria” ou “economia política” ou “história natural” de que ele tinha empiricamente partido, e que serviu de pretexto para remanejar esse estranho arsenal. Forçosamente, ele precisa agora medir a eficácia descritiva das noções que tentou definir. Precisa saber se a máquina funciona e o que ela pode produzir. O que pode, então, oferecer essa “arqueologia”, que outras descrições não seriam capazes de dar? Qual é a recompensa de tão árdua empresa, indagava o bravo filósofo. Hoje, em vista dos acontecimentos inusitados a di-visão entre ironia e absurdismo. Poder-se-á dizer em sua complementariedade que a originalidade da filosofia de Michel Foucault reside justamente na forma como desfaz a oposição entre história e analítica, entre argumentação descritiva e argumentação propositiva, porque justamente o seu desígnio é fazer uma genealogia. Ou seja, um estudo da proveniência que identifica o lugar em que se deu um conflito e ruptura que exerce efeitos sociais específicos no nosso presente.      

A “justiça poética” é compreendida per se um mecanismo literário em que a virtude é recompensada e o vício é punido, de tal forma que a recompensa ou punição tem conexão lógica com o ato. Na literatura moderna, este mecanismo é muitas vezes usado para criar reviravoltas irônicas do destino em que o vilão é pego em sua própria armadilha. A arma de Chekhov refere-se a uma situação em que um personagem ou elemento da trama é introduzido no início da narrativa e, muitas vezes, a utilidade do item não é imediatamente aparente até chegar o momento em que este alcança importância fundamental na história. Um mecanismo semelhante a arma de Chekhov é a “planta”, o qual prepara determinado elemento para ser repetido inúmeras vezes ao longo da história. Durante a resolução, o verdadeiro significado da planta é revelado. Ambos os mecanismos são usados para criar uma antecipação do que irá acontecer. Um “arenque vermelho” é uma pista falsa, criada com a intenção de direcionar os investigadores a uma solução incorreta. Este mecanismo em geral aparece em romances policiais e ficções de mistério.

A pista falsa é usada como um tipo de desorientador, um mecanismo destinado a distrair o protagonista e por extensão, o leitor, afastando-o da resposta correta ou das pistas verdadeiras. Um arenque vermelho também pode ser usado como um tipo de falso antecipador. In medias res (em latim para “no meio das coisas”) é uma técnica literária onde a narrativa começa no meio da história, ao invés do início. Os personagens, cenários e conflitos são frequentemente introduzidos através de uma série de flashbacks ou através de personagens que discutem entre si sobre eventos passados. Esta técnica cria uma reviravolta quando a causa não explicada anteriormente do incidente é revelada, culminando no clímax de comunicação social. Narrativa não-linear, por outro lado, é um mecanismo de narração técnica que revela a trama e o personagem em uma ordem não-cronológica. Esta técnica requer a atenção do leitor em tentar organizar a linha do tempo da trama, a fim de compreender a história. Um final surpresa pode ocorrer como resultado de todas as informações reunidas, sendo direcionada até o clímax que coloca os personagens ou os eventos em uma perspectiva diferente. A cronologia reversa, last but not least, tem como função técnica de método de interpretação, revelar o enredo em ordem inversa, ou seja, a partir do evento final para chegar no inicial. Ao contrário de histórias cronológicas, evolucionistas positivistas, decerto, onde as causas vão progredindo antes de chegar a um efeito de poder final, mas não cronológicas revelam o efeito final antes de explicar e desenvolver as causas que levaram a ela, portanto. A causa inicial seria nada mais do que o final surpresa da trama.

Em Metacritic, que atribui uma classificação social a críticas, o filme tem uma pontuação média de valor ponderada de 85 em 100, com base em 40 críticos, indicando “aclamação universal”. As audiências consultadas pelo CinemaScore deram ao filme uma nota média de “B” na escala A+ a F. Roger Ebert escreveu para o Chicago Sun-Times que About Schmidt “é essencialmente um retrato de um homem sem qualidades, perplexo com as emoções e necessidades dos outros. O fato de Jack Nicholson tornar esse homem tão assistível é um tributo não apenas ao seu ofício, mas também à sua lenda: “Jack é tão diferente de Schmidt que seu desempenho gera certa admiração”. John Joseph Nicholson mais reconhecido como Jack Nicholson é um ator surpreendente, cineasta, produtor de cinema e roteirista norte-americano, considerado como um dos maiores atores da história. Um dos dois únicos atores que foi nomeado para um Oscar pela sua atuação em cada década desde os anos 1960 a 2000, o outro é Michael Caine. Ele ganhou sete Globos de Ouro, e recebeu uma honra Kennedy Center, em 2001. Em 1994, ele se tornou um dos mais jovens atores a receber o Prêmio do American Film Institute Life Achievement

Outro ator social pode ter tornado o personagem muito trágico, passivo ou vazio, mas Nicholson de alguma forma encontra em Schmidt uma fome que se desenvolve lentamente, um desejo de começar a viver agora que o tempo está quase no fim”. Michael Rechtshaffen do The Hollywood Reporter escreveu: “É um desempenho de liderança imponente de Jack Nicholson que o coloca em uma liga sublime por si só”. Paul Clinton da CNN.com escreveu: “About Schmidt é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano. Se você não se sente profundamente tocado por este filme, verifique seu pulso”. No Oscar 2003, Nicholson e Bates foram indicados por suas atuações como Melhor Ator e Melhor Atriz em um Papel Coadjuvante. O filme encontrou mais sucesso no 60º Globo de Ouro, ganhando os prêmios de Melhor Roteiro - Filme e Melhor Performance de um Ator em Filme - Drama. Ao aceitar seu prêmio, Nicholson declarou: “Estou um pouco surpreso. Pensei que fizemos uma comédia”. Também da seleção oficial no Festival de Cannes de 2002. About Schmidt foi lançado em DVD e VHS em 3 de junho de 2003. E lançado em Blu-ray a primeira vez em 3 de fevereiro de 2015.

Na modernidade contemporânea, em sua introdução à tradução inglesa da correspondência entre René Descartes e Elisabeth Simmern van Pallandt, princesa da Boêmia, nasceu em 26 de dezembro de 1618 em Heidelberg, em uma família protestante. Em 1628, Elisabeth passa a viver com seus pais em Haia. A Holanda compartilhava uma variedade de artistas, filósofos, cientistas e demais intelectuais, além de indivíduos das mais diversas formas de orientações religiosas, incluindo católicos, calvinistas e judeus, funcionando como uma espécie de refúgio para aqueles que temiam perseguições políticas em outras localidades da Europa. Embora Elisabeth tenha recebido em 1633 uma proposta do rei Wladislav da Polônia, jamais se casou. Recusou tão logo descobriu que os estados poloneses, mas não o rei em si, somente a aceitariam caso ela concordasse em se converter ao catolicismo. De todo modo, ainda que disposta a casar desde que pudesse resguardar sua fé, os assuntos teóricos e políticos parecem ter ocupado seu tempo social e seu interesse. Em 1634, com dezesseis anos, Elisabeth organizou uma discussão na história social da filosofia entre Descartes e John Dury, ministro protestante escocês, a respeito do tema da verdade. Os dois possuíam orientações teóricas e religiosas opostas: o primeiro, um católico que pretendia encontrar a verdade na Matemática e o segundo, um protestante que defendia ser possível encontrá-la nas Escrituras. Elisabeth está interessada em sanar algumas dúvidas a respeito da questão sobre interação mente-corpo. Ela havia lido suas Meditações de Descartes, e conseguiu contato epistolar com ele através de Pollot. Os temas saíram da consideração de um problema matemático, ainda em 1644, para sua saúde debilitada. Em 8 de julho de 1644, segundo a classificação da edição de Shapiro, faz referência a carta perdida de Elisabeth, na qual o informa indisposição no estômago.

Elisabeth da Bohemia é uma filósofa do início do Período Moderno. Nascida em família real e calvinista, afetada pelos conflitos religiosos e políticos que conflagram na Europa nesse período, Elisabeth compartilhou cartas com o círculo intelectual vinculado à sua família e ao ambiente social de Haia, uma das cidades em que habitou. O traço filosófico de seu pensamento aparece na correspondência que manteve com René Descartes. Ela passou a ser reconhecida como filósofa há poucos anos, devido ao trabalho intenso de algumas filósofas e historiadoras contemporâneas da filosofia, especialmente Lisa Shapiro, Sabrina Ebbersmeyer e Lilli Alanen, que se dedicaram ao legado de Elisabeth, bem como à tarefa de resgate das mulheres na história da filosofia. Elisabeth da Bohemia manteve com René Descartes uma correspondência entre 1643 e 1649, que foi chamada por Antônia Lolordo de Oitavas Objeções e Respostas. Descartes dedica a Elisabeth sua obra de maturidade metafísica, Princípios da Filosofia Primeira (1644), e redige o Tratado das Paixões da Alma (1649) como resultado inconteste da busca por respostas consistentes às questões oferecidas por ela, no plano abstrato das emoções após sua leitura das Meditações Metafísicas (1641). Embora pudesse parecer, esta não é uma informação secundária, posto que justo o ensaio Paixões da Alma não “existiria sem a interlocução com Elisabeth” e quanto a isso, há discussão ainda precária na literatura.

A dedicatória ocupa a troca epistolar e marca a virada prática, de ordem conceitual, que lhe é constitutiva. Elisabeth da Bohemia é a única expressão filosófica que realmente influencia Descartes na troca epistolar. Após a resposta de Elisabeth em agosto de 1644, Descartes só volta a entrar em contato com ela no ano seguinte, em maio de 1645, alegando ter se perdido em sua solidão e não ter obtido notícias de que Elisabeth havia passado um longo tempo doente. A partir deste evento, considerado nesta mesma carta, Descartes passará a fornecer conselhos médicos para Elisabeth, inaugurando toda uma patologia e uma terapêutica muito próxima daquela que ele parece ter aplicado a si mesmo. Não nos deteremos, ainda, no conteúdo destas ciências; pois nos interessa pontuar exatamente qual a doença de Elisabeth e quais suas causas do ponto de vista de sua biografia. Descartes demonstra-se inicialmente perplexo com o fato de um espírito tão virtuoso – no sentido materialista da expressão, quer dizer, virtude entendida como potência e não como categoria moral – esteja alojado num corpo tão frágil. Ao tentar detectar as possíveis causas de sua indisposição, Descartes usa a expressão “inimigos domésticos” para classificá-las. Ao contrário dos médicos com os quais Elisabeth se consultou, sua família vivia na condição de exilada em Haia, recebendo dinheiro através de outro parente, a saber, Charles I, rei do território que compreendia à Inglaterra, Escócia e Irlanda de 1625 até sua decapitação ocorrida em 1649. Este enfrentava, à época da correspondência, a sanguinolenta Guerra Civil Inglesa (1642-1649), o que contribuiu para instaurar uma espécie de terror, primus inter pares, mas, sobretudo de crise financeira entre os familiares mais próximos de Elisabeth.

A campanha que liderava dependia diretamente de taxação da população. Como estas taxas eram feitas através de atos parlamentares e como o parlamento foi dissolvido e logo depois se voltou contra ele, Charles I tentou em vão impor ele mesmo estas taxas. Assim, se viu sem recursos para continuar sua campanha e para manter financeiramente seus familiares. Este conflito se estendeu para seu descendente, Charles II, que em 1649, já na Escócia, perdeu uma batalha para Cromwell. Somente dois anos depois da morte de Cromwell 68 Carta a Elisabeth de 18 de maio de 1645, em 1658, isto é, em 1660, Charles II pôde restaurar a monarquia na Inglaterra e assumir o trono de rei. Cabe acrescentar que dois dos irmãos de Elisabeth, Rupert e Maurice, lutaram na guerra ao lado de seu tio, o que era mais um motivo para endossar suas preocupações, não só familiares, mas política. Além da crise econômica e de sua posição política insegura, Elisabeth desempenhava uma série de funções políticas, as quais ocupavam seu tempo, que são provavelmente as atividades “irritantes” de que reclamava em 24 de maio de 1645. Assim, por exemplo, em 1640 ela se correspondia com Thomas Roe, que negociava a soltura da prisão de seus dois irmãos, exilados, nesta condição devido ao término trágico da guerra. Todas estas circunstâncias externas contribuíam para gerar o quadro de melancolia de Elisabeth. Existem pelo menos dois momentos, no bloco das cartas médicas, em que a melancolia surge como tema: nos dois casos por Elisabeth. Em 22 de junho de 1645, ela confessa ainda que as cartas de René Descartes servem “sempre como remédio para a melancolia”; e, na mesma, um pouco mais adiante, confessa ser necessário empregar sua mente com cuidado durante a ingestão das águas de Spa sob pena de tornar seu estado ainda mais melancólico.

A melancolia aparece, historicamente na correspondência integral, em mais dois momentos, desta vez da parte de Descartes. Em sua carta de novembro de 1646, já no segundo bloco das cartas médicas, Descartes, ao comentar rapidamente o poder de alguns remédios corporais, afirma que tanto o ácido quanto o ferro das águas de Spa servem para contrair o baço e dissipar a melancolia. Em todas estas menções, a melancolia parece se referir ao mesmo estado espiritual: trata-se de uma espécie de tristeza prolongada. Lisa Shapiro contrapõe o caráter privado destas epístolas ao intento público das cartas trocadas entre Descartes e outros interlocutores, de algumas poucas filósofas de seu tempo e, por último, do próprio cânone da correspondência filosófica. Basta lembrarmos das Objeções & Respostas e dos inúmeros prefácios de obras cartesianas que são também cartas públicas: Carta-dedicatória e Carta-Prefácio dos Princípios da Filosofia, Carta aos senhores Deão e Doutores da Sagrada faculdade de teologia de Paris que antecedem as Meditações e até mesmo as cartas enviadas por um anônimo, como as respostas cartesianas subsequentes, que prefaciam as Paixões da Alma. Shapiro remonta a Mary Astell e a Margareth Cavendish: a publica, em 1695, sua carta a John Norris sobre o amor de Deus; ao passo que a segunda, em 1664, lança suas Cartas Filosóficas – que, embora fictícias, se apropriam do gênero de modo a dissipar as fronteiras do ponto de vista social entre o que se entende por correspondência pública e privada. Isto quer dizer que As Cartas de Platão, Sêneca e Cícero, de aspecto mais amplo, também de registro histórico foram documentos socialmente públicos.  É o espírito da coisa.

Em contrapartida, as cartas de Elisabeth a Descartes só se tornaram disponíveis tardiamente, em 1879, por iniciativa de Foucher de Careil. Mesmo Clerselier, primeiro Editor póstumo de Descartes, ao publicar, entre os anos de 1657 e 1667, o volume integral de suas cartas, não pôde oferecer também as respectivas respostas de Elisabeth. Isto parece ter se dado por opção da própria: logo após a morte de Descartes, Chanut envia uma carta a Elisabeth na qual menciona ter encontrado suas cartas em seu conjunto de papéis. Não temos a resposta de Elisabeth, mas sabemos, pela carta seguinte de Chanut, que seu desejo era de que as cartas lhe fossem reenviadas tal como foram encontradas. Chanut a obedece, mas não deixa de insistir no fato de que seria de extremo interesse público conhecer as discussões de ambos, pois acreditava que, no futuro, a filosofia cartesiana seria aceita como verdadeira por todos. Ele também demonstra certa curiosidade no conteúdo específico das cartas; pois, embora já conhecesse algumas, a saber, aquelas que Descartes enviou, sem pedir autorização prévia a Elisabeth, a ele e a Rainha Cristina, gostaria de poder conhecer melhor aquela que foi classificada por Descartes “como a única que compreendeu a totalidade de sua filosofia”. As razões para este cuidado com sua correspondência, da parte de Elisabeth, parecem ser o fato de que continham informações muito particulares sobre sua vida e sua conduta: desde sua insatisfação com a conversão do irmão ao catolicismo à suas frequentes indisposições físicas e mentais. Estas últimas motivam as discussões médicas das cartas; e será preciso esboçar, alguns dados biográficos de Elisabeth que auxiliarão a traçar seu quadro clínico.

Alguns argutos estudiosos conservadores argumentam que pode ter sido escrita em 45 d. C., conquanto outros acreditam que fora escrita em 62 d. C. Há ainda datas mais recentes baseadas no fato social de que na epístola o autor não faz nenhuma menção do problema da admissão de gentios na Igreja. Posto que é reconhecido que Tiago estava profundamente preocupado com esta questão em uma época posterior. Esses que propõem uma data posterior ressaltam as doutrinas evangélicas contidas nessa carta como sendo para uma Igreja que está dando seus primeiros passos na fé. O que favorece a tese de uma datação posterior às cartas de gálatas aos Romanos, nas quais se tratou de assuntos doutrinários fundamentais. Entretanto, o aspecto-chave não é a exatidão histórica, mas o período. Se, como indicam os relatos históricos extrabíblicos, Tiago foi martirizado em 63 d. C., a epístola claramente foi escrita antes dessa data. A aplicação simbólica do autor se refere provavelmente aos judeus que aceitaram Jesus como Messias e Salvador através da pregação do Evangelho. Tiago dirige sua epístola “às doze tribos dispersas entre as nações” (1:1). No contexto judaico, o termo “doze tribos” designa Israel em sua história social. O termo dispersão usado pode fazer alusão etnográfica às primeiras perseguições sofridas pela Igreja que levaram os convertidos a Jesus Cristo a se espalharem por diversas regiões palestinas, e extra-palestinas, em alusão “entre as nações”. Tiago, ao usar tal construção, poderia ter em mente todo “Israel Espiritual” que abrange os diversos fiéis a Jesus Cristo em diversas etnias, culturas, e regiões circunvizinhas. O “Israel espiritual” existe e refere-se aos Judeus que confiaram em Jesus como o seu Messias.                            

A gestão real de cargos está registrada no Latim sobre as formas gestio, gestiōnis. A classificação de cargos é o elemento social básico da administração de pessoal. Dela depende o sistema de remuneração, a seleção inicial, a orientação a imprimir ao treinamento dos funcionários, o regime de promoções e transferências. Fornece uma terminologia universal que facilita o tratamento de todos os assuntos referentes ao funcionalismo, inclusive a elaboração orçamentária, e constitui auxílio poderoso às funções de organização e direção. Associa-se a um gesto, identificado no latim gestus. Neste contexto social vinculado ao que foi realizado. Mas pode ser uma simples expressão emocional de comando. E com a raiz no verbo gerere, sobre a ideia de fazer ou empreender algo que ocorre de forma relacional. Vale lembrar que gestação ou gesta são termos com a mesma raiz lexical. Não é no campo empresarial que esta palavra é usada com mais frequência. Eles sabem o que fazem. Na vida social distribuímos nosso tempo em três dimensões para o trabalho, para reposição de energia e lazer fora do trabalho. Este esquema individual e coletivo pode ter muitas variantes e aspectos, consequentemente, é determinante a necessidade de gestão do tempo. Inseparáveis do processo de civilização humana, mas distintos no plano abstrato das ideias e do pensamento social, são os processos especiais de conformação originários da civilização que concorrem de tribo para tribo, de nação para nação, de unidade de subsistência para unidade de subsistência, diferem em função das particularidades históricas de seu destino social.

Na retórica, parrésia é descrita como franqueza, confiança ou ousadia para falar em público. A palavra grega (παρρησία) é frequentemente usada para descrever certos diálogos atribuídos a Jesus Cristo no Novo Testamento. Assumindo o preceito de que a atividade intelectual passa pela problematização das verdades como desdobramento e instituição das políticas de identidade, o que afirmamos é a necessidade imediata de pensarmos uma linha de fuga contra os processos de assujeitamento presentes na sociedade. No sistema cultural é básica a distinção entre indivíduo e pessoa como duas formas de conceber o universo social e nele agir. Um dos denominadores comuns de espaço e lugar praticado, porém, é a separação ou diferenciação social, quando se estabelecem as posições das pessoas no sistema social. As noções de indivíduo e de pessoa são fundamentais na análise socioantropológica. A noção de pessoa surgiu claramente com a antropologia de Marcel Mauss (2003), sendo progressivamente individualizada até abstrairmos à ideia concreta da pessoa como “ser psicológico” e altamente individualizado. A ideia de Mauss de que a pessoa era de fato um ponto de encontro entre a noção de indivíduo psicológico e uma unidade social. Mas é importante observar que, para ele, a noção de pessoa desembocava na ideia de indivíduo. A noção de indivíduo é também social. Em seguida, deseja revelar que a noção de indivíduo pode ser posta em contraste com a ideia de pessoa que exprime outro aspecto individual da realidade. As duas noções permitem introduzir na análise sociológica o dinamismo necessário para poder revelar a relação dialética no âmbito do universo social.                 

É aquilo que é tomado em sua reflexividade e, decerto, empiricamente elaborado por alguma entidade, de modo que ela possa tomar uma posição lógica ou criar uma perspectiva de interpretação. Mas no plano global, é variado o desenvolvimento dos processos de civilização, assim como de cada figuração dos modelos de civilização. O conceito de caráter nacional pode ter valia como instrumento de pesquisa social para a constituição de uma análise crítica no âmbito da teoria da civilização. Analogamente, é variado o desenvolvimento dos processos especiais de civilização, assim como de cada figuração, como veremos en passant, sobre dois modelos pragmáticos de civilização. Estes últimos encontram uma de suas expressões mais prementes no habitus social comum dos indivíduos que formam uma tribo ou Estado. Eles são herdeiros não só de uma linguagem específica, mas também de um modelo crível específico de civilização e, portanto, de formas específicas de autorregularão, que eles absorvem mediante o aprendizado de uma linguagem comum e nas quais, então, se encontram: no caráter comum do habitus social, da sensibilidade e do comportamento dos membros de uma tribo ou de um Estado nacional. O conceito de caráter nacional refere-se precisamente a isso. Ipso facto, ele pode ter valia como instrumento abstrato de pesquisa no âmbito da teoria da civilização. Dentre os elementos espirituais comuns aos processos de civilização, assim como contrariamente a todos os processos sociais de descivilização, destaca-se sua direção contumaz na vida existencial como produto da realidade humana.

Neste caso, basta uma seleção de critérios para o direcionamento de processos de civilização. Em uma investigação de longo alcance, descobre-se que o equilíbrio entre ambas, e também o equilíbrio entre autocoações e coações das pulsões e o tipo de assentamento individual das autocoações no curso do processo da civilização humana, transforma-se no sentido de uma direção específica. As sociedades urbanas do Ancien Régime referem-se originalmente ao sistema social e político aristocrático que foi estabelecido na França. Trata-se principalmente de um regime centralizado e absolutista, em que o poder era concentrado nas mãos fabulosas do rei. Também se atribui o termo ao modo de viver característico dos gentios europeus entre os séculos XV e XVIII, isto é, amparados desde acumulação de riquezas com as invasões marítimas até às revoluções liberais. Coincidiu politicamente com as monarquias absolutas, economicamente com o capitalismo social, e socialmente com a sociedade de ordens. As estruturas sociais e administrativas do Antigo Regime foram resultado de anos de imaginação política liberal, atos públicos legislativos, conflitos e guerras internas, quando tais circunstâncias permaneceram como uma espécie de mistura difusa de privilégios e disparidades históricas. Embora sua utilização seja coetânea à Revolução Francesa, o maior responsável pela fixação da expressão Ancien Régime na literatura foi Alexis de Tocqueville, autor do ensaio L`Ancien Régime et la Révolution (1856), que indica precisamente que “a Revolução Francesa batizou aquilo que aboliu”. Desde o ponto de vista abstrato do conservantismo, o termo Antigo Regime carregava uma certa nostalgia de “paraíso perdido”. Talleyrand-Périgord que ocupou o cargo político de Ministro dos Negócios Estrangeiros em quatro gestões e de primeiro Primeiro-Ministro em 1815, sob Luís XVIII depois da restauração francesa, chegou a dizer que “os que não conheceram o Antigo Regime nunca poderão saber o que era a doçura de viver”.

Bibliografia Geral Consultada.

GAY, Peter, A Experiência Burguesa da Rainha Vitória a Freud: A Educação dos Sentidos. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1988; FEUERBACH, Anselm von, Kaspar Hauser. Un Delitto Esemplare Contro l`Anima. 2ª edizione. Milão: Editore Adelphi, 1996; SILVA, Marcos Paulo do Nascimento, A Problemática do Mal em O Mal-Estar na Civilização. Dissertação de Mestrado. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2004; BECKER, Howard, Falando da Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2009; CONSTANTINO, Maria Julia Évora, Trailer do Filme Psicose, para Além do Marketing Cinematográfico. Dissertação de Mestrado em Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2014; ELIOT, Marc, Nicholson, A Biografia. Barueri, São Paulo: Novo Século Editora, 2015; OLIVEIRA JÚNIOR, Luiz Carlos Gonçalves, Vertigo, a Teoria Artística de Alfred Hitchcock e seus Desdobramentos no Cinema Moderno. Tese de Doutorado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; MERENCIANO, Levi Henrique, Cinema Hollywoodiano no século XXI: O Ritmo em Abordagem Semiótica e os Filmes mais vistos em 2001 a 2010. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2015; RIBEIRO, Marcelo Rodrigues Souza, Do Inimaginável: Cinema, Direitos Humanos, Cosmopoéticas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual - Doutorado. Faculdade de Artes Visuais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2016; BERGSTEIN, Laís Gomes, O Tempo do Consumidor nas Relações de Consumo: Pela Superação do Menosprezo Planejado nos Mercados. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Faculdade de Direito. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2018; DJIKOLDIGAM, Mbaidiguim, A Problemática da Representação Política na Filosofia Política de Thomas Hobbes. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2023; WOLTON, Dominique, Comunicar é Negociar. Porto Alegre: Editora Sulina, 2023; MACÊDO, Marcelle Maciel da Veiga, Facetas Paradoxais do Consumo: Mal-estar e Felicidade. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicanálise. Instituto de Psicologia. Centro de Educação e Humanidades. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2024; entre outros. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

José Alberto Mujica - Política, Montesquieu & Leis Libertárias.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga
 
                                                                   “No soy el presidente pobre; pobres son los que quieren más”. José Mujica

                                    
      José Alberto Mujica Cordano, reconhecido popularmente como Pepe Mujica, nascido em Montevidéu, em 20 de maio de 1935, é um agricultor e político uruguaio tendo sido presidente da República Oriental do Uruguai entre 2010 e 2015. Desde que deixou a presidência, em março de 2015, ocupa o cargo de senador da República. Mujica é descendente de bascos, cuja origem é a cidade de Múgica, que chegaram ao Uruguai em 1840, filho de Demétrio Mujica Terra e Lucy Cordano, nasceu no bairro Paso de la Arena, em Montevidéu A família de sua mãe era composta por imigrantes italianos. Seu sobrenome Cordano, de seu avô Antonio, é originário da província de Gênova, a mesma região de onde veio a família Giorello, de sua avó Paula. Seu pai era um pequeno agricultor que foi à falência pouco antes de sua morte, em 1940. Mujica estudou na escola pública do bairro onde nasceu.  Mujica é um nobre ateu. É casado desde 1970 com a ex-militante Lucía Topolansky. Seu tio materno, Ángel Cordano, era nacionalista e teve uma grande influência sobre a formação política de Mujica. Em 1956, conhece o deputado nacionalista Enrique Erro por meio de sua mãe. Então começou a militar para o Partido Nacional aonde chegou a ser secretário geral da juventude.  
        Nas eleições de 1958, triunfa o populismo herrerista (cf. Laclau, 2005; Chavez, 2005) e Erro foi designado ministro do Trabalho, sendo acompanhado por Mujica nessa conjuntura. Em 1962, Erro e Mujica abandonam o Partido Nacional para criar a Unión Popular, junto ao Partido Socialista do Uruguai e um pequeno grupo chamado Nuevas Bases. Nessas eleições, coloca Emilio Frugoni como candidato a presidente da República, que chega apenas aos 2,3 % dos votos válidos. Nos anos 1960 integrou-se ao Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (cf. Aldrighi, 2001; Cabrera, 2006; Pernas, 2013), participando de operações de treinamento da guerra de guerrilha, enquanto trabalhava em sua chácara, até refugiar-se num período de quinze anos clandestinidade. Durante o governo de Jorge Pacheco Areco, a violência aumentou progressivamente. O Poder Executivo utilizou-se do princípio constitucional das “Medidas Prontas de Seguridad” para fazer frente às guerrilhas, com a crescente oposição de sindicatos e grêmios frente a suas políticas econômicas. 
     Existem em Montesquieu, implícita ou explicitamente, duas ideias de síntese possíveis. Uma seria a influência predominante do regime político, e a outra, o espírito geral de uma nação. Em relação à primeira questão – a influência predominante das instituições políticas – pode-se hesitar entre duas interpretações. Trata-se de uma influência predominante no sentido causal do termo ou de uma influência predominante com relação ao que interessa ao analista, com relação aos nossos valores, isto é, com relação à hierarquia da importância que estabelecemos entre diferentes aspectos da vida coletiva. O espírito geral de uma nação é o que mais contribui para manter esse sentimento ou princípio, indispensável à continuidade do regime. O espírito geral de uma nação  não pode ser comparado à vontade criadora de uma pessoa ou coletividade. Para analisar esses problemas, será melhor tomar como ponto de partida uma noção central de L`Esprit des Lois, a saber, a própria noção de lei. Afinal, a grande obra de Montesquieu se chama L´ Esprit des Lois, e é na análise da noção, ou das noções de Lei que encontramos a resposta para os problemas que formulamos da política à sociologia.
                                    

        Montesquieu introduz o conceito de Lei no início de sua obra fundamental, L´ Esprit des Lois, para escapar a uma discussão viciada que dentro da tradição jurídica de seu período, ficaria limitada a discutir as instituições e as leis quanto à legitimidade de sua origem, sua adequabilidade à ordem natural e a perfeição de seus fins. Uma discussão fadada a confundir, nas leis, concepções de natureza política, moral e religiosa. Definindo lei como “relações necessárias que derivam da natureza das coisas”, ele estabelece uma mediação com as ciências empíricas rompendo com a tradicional submissão da política à teologia. Montesquieu está formulando, em termos de análise comparativa, que é possível encontrar uniformidade, constâncias na variação dos comportamentos e formas de organizar os homens, assim como é possível encontra-las nas relações entre os corpos físicos. Também as leis que regem os costumes e as instituições são relações que derivam da natureza das coisas e sustentam as bases conceituais na interpretação do fato à política e sociologia
         Durante a ditadura de 1973-1985, Luís Alberto Lacalle inicia uma ação opositora a mesma. Vai convocando a nascentes figuras da política, cria o Conselho Nacional Herrerista, que comparece nas eleições internas de 1982. Logo, nas eleições de 1984, conquista duas cadeiras no Senado sendo o próprio Lacalle y Francisco Mario Ubillos. En 1987, o também senador Dardo Ortiz se une a Lacalle, e entre ambos refundam o setor com o nome de herrerismo. Nas eleições de 1989, vencidas por Lacalle, o setor conquista os primeiros lugares en las preferencias eleitorais brancas, obtendo 6 assentos no Senado e 24 deputados. É de destacar que dois dos mais importantes senadores del herrerismo nessa instancia, haviam sido também os principais senadores de Por la Patria en 1971: Dardo Ortiz y Walter Santoro. No curso dos anos 1990, se afirma uma nova época política o herrerismo, com ideias de livre mercado e privatização. De cara aos comícios de 1994, houve um desgaste importante, a “Confluencia Herrero-Wilsonista”, liderado por Alberto Volonté e Walter Santoro; coligados com Proposta Nacional, compareceram sob o nome de “Manos a la Obra”.
Por sua parte, o herrerismo apresentou como candidato presidencial Juan Andrés Ramírez e teve duas listas ao senado, uma encabeçada por Luís Alberto Heber e a outra por Ignácio de Posadas. O Partido Nacional teve 29,8% de los votos, dos que 12,5 % foram ao herrerismo, e perdeu em um virtual triplo empate com o Partido Colorado. Em 1999, Lacalle volta a comparecer como candidato presidencial; nas eleições de outubro, o Partido Nacional teve uma má votação, mas por sua vez o herrerismo recuperou posições. Obteve cinco dos senadores: Lacalle, Luís Alberto Heber, Julia Pou, Juan Chiruchi y Guillermo García Costa. Alberto de Herrera foi continuado por seu neto, Luís Alberto Lacalle. Tanto Herrera como Lacalle foram defensores de um conjunto de ideias políticas e filosóficas. Pelo caminho do nacionalismo curiosamente Herrera chegou ao anti-imperialismo. Neste campo não reduziu seu ideário a mera formulação de uma visão crítica teórica ao imperialismo, senão que assumiu politicamente, com todos os riscos que isso implicava uma atividade de militância assim como de investigação profunda do processo, encontrando as raízes econômicas do mesmo.
A bendita militância foi posta de relevo em sua ação diplomática, em sua produção histográfica, em suas intervenções parlamentarias e em sua ação política cotidiana. Sua particular vocação acerca deste tema lhe provocou vários atritos com seus políticos contemporâneos. Em 2004, como Lacalle perdeu a postulação à candidatura única do partido, não se postulou a cargos eletivos; y e nas eleições de outubro o herrerismo obteve três assentos no Senado para Heber, Penadés y Chiruchi. Durante os primeiros anos da administração de Tabaré Vázquez, Lacalle se manteve relativamente afastado dos quadros de direção do herrerismo, se bem que sua presencia mediática foi constante. Se falou muito da eventual postulação presidencial de Luís Alberto Heber, Juan Chiruchi y Carmelo Vidalín, sendo que este incluso abandonou o herrerismo para explorar um caminho eleitoral proprio. Hasta que, graças a uma boa figuração nas enquetes, Lacalle voltou a encabeçar a coluna eleitoral herrerista de cara nas eleições internas de 2009; sendo assim, em julho de 2008 anunciou o lançamento do movimento Unidad Nacional, integrado também com o setor da Correntada Wilsonista.           
            Quanto à administração Pacheco Areco as primeiras medidas foram a dissolução de partidos políticos e organizações vinculados à esquerda, tais como o Partido Socialista, a Federación Anarquista Uruguaya, o Movimiento Revolucionario Oriental, o Movimiento de Acción Popular Uruguaya e o Movimiento de Izquierda Revolucionario, e o fechamento dos jornais Época e El Sol, acusados de serem subversivos. O uso do poder discricionário contra os setores populares, os trabalhadores e os estudantes foi a principal ação política do governo. O presidente, a fim de conter o processo inflacionário no Uruguai, começou a seguir cada vez mais as diretrizes impostas pelo Fundo Monetário Internacional, pois o país estava filiado ao FMI desde 1949. Para tanto, era necessário restringir os direitos dos trabalhadores e seus benefícios salariais, situação essa rejeitada pela população. Os trabalhadores uruguaios já haviam alcançado um alto nível de consciência de classe, e não estavam dispostos a permitir a perda de seus direitos. O uso generalizado e intensivo de medidas de exceção, chamadas “Medidas Prontas de Seguridad”, que restringiam as liberdades individuais durante, no máximo, 30 dias, foi um dos traços mais retrógrados dessa administração; com seu uso constante e ilegal, começou intensa criminalização das manifestações pacíficas de contestação ao regime. Previstas na constituição uruguaia, tais medidas de exceção já haviam sido utilizadas, mas foi neste governo que houve a banalização do seu uso.
Nas lutas armadas, há evidências de que foi ferido por seis tiros e preso quatro vezes, mas em duas oportunidades, fugiu da prisão de Punta Carretas. No total, Mujica passou quase 15 anos de sua vida na prisão. Seu último período de detenção durou 13 anos (1972 e 1985). Foi um dos dirigentes Tupamaros que a ditadura militar tomou como refém. Os reféns seriam executados caso sua organização retornasse às ações armadas. Nessa condição, pautada pelo isolamento e por duras condições de detenção, Mujica permaneceu onze anos. Entre os reféns também se encontravam Eleuterio Fernández Huidobro, ex-ministro de Defesa Nacional, e o líder e fundador do MLN-Tupamaros, Raúl Sendic, cujo filho Raúl Fernando Sendic foi vice-presidente da República no segundo mandato de Tabaré Vásquez, mas renunciou e quem assumiu a vice-presidência foi a esposa de Mujica, Lúcia Topolansky. Após o retorno a democracia, foi libertado, beneficiado pela Lei n.º 15.737 de 8 de março de 1985, que decretou anistia aos delitos políticos cometidos a partir de 1 de janeiro de 1962.
Alguns anos após a abertura democrática criou, junto a outras lideranças do MLN e outros partidos de esquerda, o Movimiento de Participación Popular (MPP), dentro da reconhecida Frente Ampla. Nas eleições de 1994, foi eleito deputado por Montevidéu. Sua presença na arena política foi chamando a atenção das pessoas e, nas eleições de 1999, foi eleito senador. Nesse ano, foi publicado o livro: Mujica, de Miguel Ángel Campodónico. Em 1° de março de 2005, o presidente da República Tabaré Vázquez, o designou ministro da Agricultura. Seu vice-ministro foi Ernesto Agazzi, que assumiu o cargo em 3 de março de 2008, quando Mujica o deixou para ser pré-candidato à presidência da República.  Em 28 de junho de 2009, houve eleições internas para escolher o candidato a presidência da República Oriental del Uruguay nas Eleições, pela Frente Ampla, onde José Mujica venceu com 52,02% dos votos totais. Antes das eleições, Mujica recebeu o apoio ideológico do Kirchnerismo, sociologicamente um termo usado para se referir à filosofia política e aos simpatizantes do falecido Néstor Kirchner, presidente da Argentina de 2003 a 2007, e de sua esposa, Cristina Fernández de Kirchner, presidente do país no período de 2007 a 2015. Embora os Kirchners sejam membros do Partido Justicialista, o original, maior e oficial partido peronista, fundado por Juan Perón em 1947, o movimento social peronista em si é amplo e muitos de seus membros se opõem assimetricamente aos kirchneristas. Contudo, após as eleições, Danilo Astori aceitou completar a chapa como candidato a vice-presidente da República.
Em setembro de 2009, foi publicado o livro: “Colóquios de Pepe”, do jornalista Alfredo García, com várias entrevistas gravadas de José Mujica, com seu pensamento libertário, ideias e frases de efeito. Na narrativa emerge e dimensão simbólica de um ex-guerrilheiro, desalinhado, ignorante, contraditório, perigoso, herói, genial, coerente, sábio, simples, confiável.  Essas definições e muitas outras são dadas continuamente a José Mujica, popularmente conhecido como “El Pepe”. Sem dúvida, ele é o político com maior representação nos meios massivos de comunicação nos últimos anos. Homem de respostas rápidas e frases explosivas, que instigam os repórteres. Mas como se articula seu pensamento político?  Em busca de respostas a essa pergunta, o autor manteve, durante quatro meses, longas conversas, frente a frente, com o homem por trás do personagem político. Não houve temas proibidos, não existiram limites nem exigências, mas liberdade e pura franqueza. A conversação reflete as preocupações e o raciocínio crítico de um homem que conserva intacta a curiosidade da criança, a sabedoria do camponês e o senso comum do veterano que viveu tantas transformações na modernidade. Este livro representa uma jornada ao interior do pensamento social e político do ex-presidente uruguaio, quando revela seus sonhos, suas obsessões, suas angústias, seus projetos políticos e seus ideais como um homem público libertário.
Em 25 de outubro de 2009, José Mujica venceu as eleições com metade do total de votos válidos, o que o validou disputar o segundo turno contra Luís Alberto Lacalle em 29 de novembro. Nesse dia foi eleito presidente da República do Uruguai com porcentagem superior aos 52% dos votos válidos. A primeira lei que chamou a atenção do mundo foi a “descriminalização do aborto”. A segunda lei progressista aprovada foi a do “matrimônio igualitário”, de abril de 2013. A terceira lei que fez voltar à modernidade contemporânea os olhos severos do mundo, tendo como escopo o Uruguai, foi a “legalização da maconha”, cujas características da legislação a fazem única no mundo.  A única fronteira terrestre do Uruguai é com o Estado brasileiro do Rio Grande do Sul, no norte, sendo a segunda menor fronteira do Brasil com outro país latino-americano. A Colônia do Sacramento, o mais antigo assentamento europeu no Uruguai, foi fundada pelos portugueses em janeiro de 1680. Em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso, a colônia tornou-se uma possessão espanhola. A cidade de Montevidéu foi fundada pelos espanhóis no século XVIII “como uma fortaleza militar”. O Uruguai conquistou sua Independência do Império do Brasil entre 1810 e 1828, após guerras que envolveram Espanha, Portugal, Argentina, além do próprio Brasil. O Uruguai é reembolsado pela Organização das Nações Unidas (ONU) pela maioria dos seus gastos militares, visto que a maior parte desses gastos é implantada nas forças de paz da ONU. O país é uma democracia constitucional, onde o presidente cumpre o papel de chefe de Estado e chefe de governo. O país é reconhecido internacionalmente por ser pioneiro em medidas de foro político relacionadas com direitos civis e democratização da sociedade.
    Quando nos referimos à positividade das leis e particularmente nesta formação espacial, um status social de condição básica para a viabilização da reprodução. As diferenciações entre os lugares tomam-se expressão de diferentes formações econômicas e sociais representativas de modos de produção específicos. Queremos dizer com isso que a passagem da idade teológica para a idade metafísica, e depois para a idade positiva, não se opera simultaneamente. A lei dos três estados só tem um sentido rigoroso quando combinada com a classificação das ciências. A ordem segundo a qual são ordenadas as diversas ciências nos revela que a inteligência se torna positivas nos vários domínios como na matemática, na física, na química, e consequentemente na biologia. A combinação da lei dos três estados, no sentido comtiano, com a classificação das ciências tem por objetivo comprovar que a maneira de pensar triunfou na matemática, na astronomia, na física, na química e na biologia deve se impor á política, levando á constituição de uma ciência positiva da sociedade, a sociologia em sua progênie. Mas essa combinação não tem unicamente por objeto demonstrar a necessidade de criar a sociologia. A partir de certa concepção de ciência, a biologia, intervém uma reviravolta decisiva em termos de metodologia: as ciências deixam de ser analíticas para serem necessárias e essencialmente, sintéticas. Essa inversão, segundo  Aron (1967), irá dar fundamento à concepção sociológica da unidade histórica.        
        A modernidade é inerentemente globalizante. Ela tanto germina a integração como a fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades como também as disparidades. A dinâmica das forças produtivas e das relações de produção, em escala local, nacional, regional e mundial, produz interdependências e descontinuidades, evoluções e retrocessos, integrações e distorções, afluências e carências, tensões e contradições. É altíssimo o custo social, econômico, político e cultural da globalização do capitalismo, para muitos indivíduos e coletividades ou grupos e classes sociais subalternos. Em todo o mundo, ainda que em diferentes gradações, a grande maioria é atingida pelas mais diversas formas de fragmentação. A realidade é que a globalização do capitalismo implica na globalização de tensões e contradições sociais, nas quais se envolvem grupos e classes sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e correntes de opinião pública, em todo o mundo. Além disso, enquanto totalidade histórico-social em movimento, o globalismo tende a subsumir histórica e logicamente não só o nacionalismo e o tribalismo, mas também o imperialismo e o colonialismo, através das relações entre eventos locais e distantes correspondentemente alongadas.  
Do ponto de vista da memória e da história foi em 1907, o primeiro país a legalizar o divórcio e, em 1932, o segundo país das Américas a conceder às mulheres o direito ao voto. O Uruguai tem uma tradição de mais de um século como um país de leis de vanguarda na América Latina, como pioneiro a aprovar o divórcio décadas antes de toda a região. Oito anos mais tarde, antecipando o sindicalismo corporativista concedeu a jornada de trabalho de oito horas. Em 1932, tornou-se o segundo país das Américas a conceder o direito de voto às mulheres, sendo que o primeiro foi os Estados Unidos da América (EUA). Exatamente um século depois da aprovação do divórcio, o Uruguai se tornou, em 2007, o primeiro Estado latino-americano a conceder a união civil entre pessoas do mesmo sexo e também a permitir a adoção homoparental de criança por homossexuais e bissexuais é a sigla referente às Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros (LGBT). Em uso desde os anos 1990, o termo é uma adaptação de que era utilizado para substituir o termo “gay” para se referir à comunidade no fim da década de 1980. Isto pode ocorrer na forma de uma adoção conjunta por um casal gay de ambas pessoas do mesmo sexo, assim como coadoção por um dos parceiros de um casal de pessoas do mesmo sexo do filho biológico ou adotivo do cônjuge e ainda a adoção por uma única pessoa do grupo social LGBT.
A adoção homoparental é legal atualmente em 24 países: África do Sul, Andorra, Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Espanha, EUA, França, Holanda, Irlanda, Islândia, Israel, Luxemburgo, Malta, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido, Suécia e Uruguai. A adoção homoparental é, contudo, proibida pela maioria dos países, embora muitos debates nas diversas jurisdições ocorram para o permitir. Como o assunto muitas vezes não é especificado por lei (ou julgado inconstitucional), a legalização, muitas vezes é feita através de pareceres judiciais. Uma das preocupações ideológicas manifestadas por aqueles que se lhe opõem é saber se casais de pessoas do mesmo sexo “têm a capacidade de ser pais adequados”. Outra posição contrária, de fundo religioso católico “defende que mesmo que o direito dos adultos a adotar exista, ele não se pode sobrepor ao direito das crianças a ter um pai e uma mãe”. Desenvolveu-se um consenso entre as comunidades de bem-estar médico, psicológico, político e social de que as crianças criadas em núcleos homoparentais provavelmente serão tão bem ajustadas ou desajustadas como aquelas criadas por pais heterossexuais. A pesquisa empírica de apoio a esta conclusão é aceita sociologicamente além do forte debate científico no campo da psicologia do desenvolvimento.
Em abril, o país avançou mais ainda nas leis civis e aprovou o chamado “casamento gay”. Ainda no apoio à união homossexual, o Parlamento abriu as portas para a adoção de crianças por casais gays em 2009. Em 2010, na esteira destas medidas o governo decretou o fim da restrição à entrada de homossexuais nas Forças Armadas. Em 2013, o país se tornou a segunda nação latino-americana a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o primeiro do mundo a legalizar o cultivo, a venda e o consumo de cannabis, também reconhecida por vários nomes populares, referentes a várias drogas psicoativas e medicamentos derivados de plantas do gênero cannabis, o que levou a revista britânica The Economist a classificar o Uruguai como o país do ano de 2013, pela promoção de “reformas inovadoras que não se limitam apenas a melhorar um país, mas que, se imitadas, poderiam beneficiar o mundo”. A tradicional Reader's Digest, revista mensal criada em 1922 por Lila Bell Wallace and DeWitt Wallace em Chappaqua, Nova York, também classificou o Uruguai como o nono país “mais habitável e verde” do mundo e o primeiro na América. Está entre os países mais desenvolvidos no continente, com um dos maiores Produto Interno Bruto per capita, e o 1º em qualidade de vida na América Latina, quando a desigualdade social e econômica é considerada.
Em seu discurso de despedida em 27 de fevereiro de 2015, José Mujica rememorou que a “luta que se perde é a que se abandona”. E ele nunca abandonou seus ideais. Não bastou o tempo de militância, ou o período em que foi detento no presídio que hoje ironicamente, dá lugar ao suntuoso shopping Punta Carretas, em Montevideo, de onde participou da fuga mais marcante e extraordinária da história carcerária mundial, junto a 105 guerrilheiros Tupamaros e outros cinco presos comuns. A façanha entrou para o reconhecido Guinness Book e ficou conhecida como “O Abuso”. Pepe fugiu e continuou fugindo para não se tornar um político que investe apenas em suas próprias opiniões. Tanto é que declarou diversas vezes nunca ter experimentado maconha, mas aprovou a liberação de seu uso no país, citando o extraordinário Albert Einstein, que dizia que “não há maior absurdo que pretender mudar os resultados repetindo sempre a mesma fórmula”. E, mudando a fórmula, promete lidar com o narcotráfico no país. Durante seu governo o Estado assumiu a regulação estatal da produção, venda, distribuição e consumo de maconha, em dezembro de 2013.
Foram estabelecidos limites para cultivo e venda comercial de maconha, bem como registros de consumidores e clubes de fumadores. A nova lei tornou o Uruguai o primeiro país do mundo com um regulamento tão abrangente. Talvez por isso o ex-tupamaro tenha sido considerado pela revista americana Foreign Policy como um dos 100 pensadores mais importantes de 2013, ao redefinir o papel da esquerda no mundo. No mesmo ano, o Uruguai foi eleito pela boa novidade da revista britânica The Economist como o “país do ano”. Mas não é preciso muita atenção para compreender que o sucesso das medidas criadas por Mujica vai além do carnaval e vem ganhando o mundo. Tendo como exemplo seu país, a Comissão de Drogas da África do Oeste declarou que a descriminalização destas deve ser um assunto de saúde pública, enquanto o Ministério de Justiça da Jamaica aprovou a descriminalização do uso religioso, científico e medicinal da maconha. A Comunidade dos Países do Caribe, politicamente não ficou atrás e concordou prontamente em criar uma Comissão para revisar a política estatal de repressão às drogas na região e realizar as reformas sociais que forem necessárias.
O direito ao aborto, por fim, foi uma conquista dos eleitores do ex-tupamaro. Hoje, mulheres podem decidir interromper uma gravidez até a 12ª semana de gestação. Antes de partir para o procedimento, porém, deverão passar por acompanhamento médico e psicológico (terapia) e terão a opção de desistir da decisão a qualquer momento que achar necessário. Para o ex-presidente uruguaio, a conquista é uma forma de poupar vidas. Antes da lei que permitia o aborto ser promulgada, aproximadamente 33 mil procedimentos do gênero eram realizados anualmente no país. Mas, no primeiro ano em que a lei esteve em vigor, este número caiu consideravelmente para 1/5, ou seja, 6.676 abortos legais foram realizados de forma clínica segura, sendo que apenas 0,007% destes apresentou algum tipo de complicação leve. Nesse ano, houve apenas uma vítima fatal em casos de interrupção de gravidez quando realizou o procedimento de maneira clandestina, com a ajuda de uma agulha de tricô, o que demonstra apesar da legalização, que abortos clandestinos continuam ocorrendo na banda oriental. Mujica sabe e afirma ser contra o aborto, mas o considera politicamente um problema de saúde pública.
Outra lei progressista do ex-presidente foi a legalização do casamento gay nos pampas uruguaios. Mas, exibindo seus cabelos brancos, ri ao ser perguntado sobre suas ideias modernas: - “O casamento homossexual é mais velho que o mundo. Tivemos Júlio Cesar, Alexandre O Grande. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo do que nós todos. É um dado de realidade objetiva, existe. Para nós, não legalizar seria torturar as pessoas inutilmente.”, disse em entrevista ao jornal carioca O Globo. Mesmo quem é contra as medidas criadas pelo governo há que se render aos dados estatísticos. Nos últimos anos o país do Maracanazo viu uma queda nas taxas de pobreza em zonas rurais e pode orgulhar-se de que seu país fosse a nação latino-americana com menores taxas em situação de indigência. Subiram os salários e os abonos, enquanto o nível de desemprego se tornou o menor da história social do país que já foi reconhecido “como a Suíça da América Latina”. No Uruguai não existe reeleição e, apesar dos progressos, José Mujica deixou a presidência, mas seguirá como o senador mais votado nas eleições, cargo que Pepe continuará exercendo sem nenhuma gravata, com o mate debaixo do braço e as respostas mais prováveis e tranquilas na ponta da língua.
Bibliografia geral consultada.
 
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entre outros.