“Esperar o futuro é dizer não ao seu presente”. João Carlos Martins
Se ainda nos importa saber, “quem
somos” em termos de individualização das referências, para isso Sócrates
recorria a duas ideias, uma contida na frase do Apolo délfico, “conhece-te a ti
mesmo” (gnōthi sauton), outra relatada por Platão e repetidas vezes por
Aristóteles: - “É melhor estar em desacordo com o mundo inteiro do que, sendo
um, estar em desacordo comigo mesmo”. Na modernidade ocidental posta em foco
pela descoberta em que a dialética hegeliana também representa a passagem da
consciência para a autoconsciência, passagem que é feita pela categoria do
desejo freudiano irradiado na (in) consciência do homem. O espírito, dizia
Hegel, não pode conhecer-se diretamente. É preciso que negue previamente, que
saia de si e se torne “estranho a si mesmo”, exteriorizando-se e produzindo
sucessivamente todas as formas do real – quadros do pensamento, natureza,
história. Depois que reverta à origem, alcançando assim o conhecimento
verdadeiro, a filosofia do espírito absoluto. Afastando-se de si,
exteriorizando-se, para voltar depois a si mesma, a Ideia triunfa do que a
limitava, afirmando-se na negação das suas negações sucessivas. Hegel demonstra
como a consciência se eleva, pouco a pouco, desde as formas elementares da
sensação até à ciência, identificada comparativamente, com a racionalidade da religião
– tal como o valor absoluto da religião cristã se integra na verdade do saber
na esteira da vida.
Se levarmos a sério a percepção
central em Hegel (2007) de que toda reflexão, e isso significa também toda
investigação do objeto, no campo da filosofia e da realidade, pressupõe
inevitavelmente categorias lógicas, não poderemos deixar de reconhecer que a Fenomenologia do Espírito implica algum
tipo de lógica, a qual se legitima a si mesma, e que pressupõe aquelas outras
formas de consciência e sua destruição em um sentido histórico-psicológico,
assim como histórico-sociológico, não em um sentido teórico de validade para
Hegel, segundo o qual “o objetivo de uma introdução à filosofia só poderia se
aclarar esses pontos de vista objetivo da filosofia”. A filosofia também tem a
tarefa de conduzir a consciência ainda não formada filosoficamente pelo caminho
que a ela conduz, e lhe facilitar o elemento, que não lhe é dado imediatamente,
no qual ela se movimenta como ciência pura, em que a forma pronta da filosofia hegeliana
está dada em torno da Lógica e a Enciclopédia. Somente aqui ausência de
pressupostos e fundamentação do método foram realizados de maneira pura.
Para o que nos interessa, o conceito
de “civilização” refere-se a uma grande variedade de fatos; ao nível da
tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos específicos,
às ideias religiosas e aos costumes. Pode referir-se ao tipo de habitações ou à
maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo
sistema judiciário, como é historicamente representado de forma autoritária no caso político brasileiro
ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada há que
não possa ser feito de forma “civilizada”. Daí ser sempre difícil sumariar em
algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização. Mas se
examinarmos o que realmente constitui a função geral do conceito e que
qualidade comum leva todas as várias atitudes e atividades humanas a serem
descritas como civilizadas, partimos de uma descoberta muito simples: este
conceito expressa a consciência que o Ocidente tem de si mesmo. Poderíamos até
dizer: a consciência nacional. Com essa palavra, resultado do processo
civilizatório, a sociedade ocidental procura descrever o que lhe constitui o caráter
especial e aquilo de que se orgulha: o nível de sua tecnologia, a natureza de suas
maneiras, o desenvolvimento de sua
cultura científica e visão do mundo, e claro, muito mais do que isso.
Civilização,
porém, não significa a mesma representação
para diferentes nações ocidentais. A palavra pela qual os alemães se
interpretam, mais do que qualquer outra expressa-lhes o orgulho em suas
próprias realizações e no próprio ser, é Kultur.
Tal conceito dá ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade
particular dos grupos. Principalmente em virtude disto, o conceito adquiriu em
campos como a pesquisa etnológica e antropológica uma significação muito além
da área linguística alemã e da situação em que se originou o conceito. Mas esta
situação historicamente determinada é aquela de um povo que, de acordo com os
padrões ocidentais, conseguiu apenas muito tarde a unificação política e a
consolidação e de cujas fronteiras, durante séculos ou mesmo até o presente,
territórios repetidamente se desprenderam ou ameaçaram se separar. Enquanto o
conceito de civilização inclui a função de dar expressão a uma tendência
continuamente expansionista de grupos colonizadores, o conceito de Kultur reflete a consciência de si mesma
de uma nação que teve de buscar e constituir incessante e novamente suas fronteiras,
tanto no sentido político como espiritual, e repetidas vezes perguntar a si
mesma: - “Qual é, realmente, nossa identidade?
O piano foi inventado por Bartolomeo Cristofori
(1655-1731) da Itália. Cristofori estava insatisfeito com a falta de controle
que os músicos tinham acima do nível de volume do clavecino. Ele reconheceu que
a alteração do mecanismo de dedilhamento com um martelo criaria o piano moderno
no ano de 1709. Na verdade, o instrumento foi primeiro denominado “clavicembalo
col piano e forte”. Melhor dizendo, literalmente, um clavecino que pode tocar
ruídos suaves e altos. Isso foi reduzido para o nome comum reconhecido na
modernidade: “piano”. Gottfried Silbermann, especialista na construção de
órgãos, continuou o trabalho que Cristofori começou. Ele estudou os modelos de
Cristofori e os melhorou tecnicamente. Depois de 1747, Johann Sebastian Bach
tocou uma de suas obras históricas para Frederick, o Grande dedicada ao rei no
piano de Silbermann. Um homem que contribuiu significativamente para a
indústria de piano alemã foi Johann Andreas Stein (1728-1792). Stein melhorou o
mecanismo do piano Silbermann e desenvolveu o que mais tarde seria chamado de “mecanismo
de ação vienense”, um novo sistema que foi usado por muitos anos e ganhou muita
popularidade. Este novo piano caracterizou-se na história técnica e social do ponto de vista tecnológico pela qualidade sonora intensa e
uma mesa de som que respondeu bem ao toque estético do pianista. Mozart se apaixonou por
estes aspectos do novo instrumento no qual ele escreveu muitas obras renomadas
para piano.
João
Carlos Martins começou seus estudos ainda menino, no dia em que seu pai comprou um piano, com a professora Aida de
Vuono. Aos oito anos, seu pai o inscreveu em um concurso para executar obras de
Bach, vencendo-o. Começou a estudar no Liceu Pasteur e, com 11 anos, já
estudava piano por seis horas diárias. Teve, no Liceu, aula com o maior professor
de piano da época - um russo radicado no Brasil, chamado José Kliass, e venceu
então o concurso da Sociedade Brito de São Petersburgo. Seus primeiros
concertos chamaram a atenção da crítica musical mundial. Foi escolhido no
Festival Casals, dentre inúmeros candidatos das três Américas para dar o Recital
Prêmio em Washington. Aos vinte anos estreou no Carnegie Hall, patrocinado por
Eleanor Roosevelt. Tocou com as maiores orquestras norte-americanas e gravou a
obra completa de Bach para piano. Foi ele quem inaugurou a casa Glenn Gould
Memorial em Toronto.O
Carnegie Hall é uma sala de espetáculos em Midtown Manhattan, na cidade de
Nova Iorque, localizada no número 881 da Sétima Avenida.
Construída a mando do
filantropo Andrew Carnegie em 1890, é uma das mais famosas salas de
espectáculos dos Estados Unidos para concertos de música clássica e popular,
reconhecido pela sua beleza, história da técnica e da acústica. O Carnegie Hall
tem o seu próprio programa, desenvolvimento e departamentos de marketing e apresenta mais de 100 performances a cada estação. É
igualmente alugado por grupos de artistas. Não tem companhia residente,
todavia, a Filarmónica de Nova Iorque foi residente até 1962. O único outro
Carnegie Hall no país, situa-se em Lewisburg. Este foi mandado construir por
Andrew Carnegie em 1902, reconstruindo um edifício, naquela época arruinada por
um extraordinário incêndio. O edifício foi originalmente usado como uma escola
feminina, mas foi posteriormente convertido num espaço dedicado à música e à
arte. Contudo não é tão reconhecido como o homónimo espaço de Nova Iorque. Mas
certamente este é também o nome de outro espaço financiado por Andrew Carnegie,
desta feita, na Escócia, em Dunfermline, mas menor e menos célebre. O
local foi designado, em 15 de outubro de 1966, um edifício reconhecido do
Registro Nacional de Lugares Históricos como, em 29 de dezembro de 1962, um
Marco Histórico Nacional.
Desnecessário dizer que o cineasta Mauro
Lima incluiu mais uma biografia em seu currículo como diretor. Depois de filmes emocionantes como “Meu
Nome Não É Johnny” e “Tim Maia”, ele dirige o espetacular “João, o Maestro”, baseado na
história social de João Carlos Martins. O longa-metragem narra a trajetória do
artista desde a infância até o momento em que ele se torna maestro, após
superar problemas de saúde e largar a prestigiada carreira de pianista. Por sua projeção
internacional como pianista, o brasileiro João Carlos Martins já deveria ter
sido objeto de análise de uma cinebiografia há tempos. Além da vocação e talento reconhecido
mundialmente, João Carlos Martins protagonizou em sua vida passagens de uma dialética
de trabalho, que nem o mais criativo roteirista poderia imaginar do ponto de
vista individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos). Foram
muitos problemas relacionados à saúde iniciados já na infância, e tantos outros
correlatos ao longo de sua vida pessoal e artística, causados por acidentes às
vezes corriqueiros, mas que fizeram estragos psicofísicos profundos. E João
Carlos Martins transformou infortúnios em força dialetizadora para superação.
“João: o maestro”, com roteiro e direção de Mauro Lima, investe nesse aspecto
através de uma ética da solidariedade, propondo um debate sobre quais são as
relações tanto no plano social como interpessoal entre paixão e obsessão. Mauro
Lima acerta em esmiuçar essa ideia, de forma que cada espectador chegará à sua
própria interpretação.
Consagrado
como um dos maiores pianistas do mundo, João nasceu em São Paulo, em 1940. Aos
oito anos, iniciou os estudos de piano. Aos 20 anos, estreou no Carnegie Hall, em
Nova York, com os ingressos esgotados para todas as suas apresentações. - Acima
das expectativas, João tornou-se um dos maiores intérpretes de Bach do século
XX. “Hoje, sou maestro há 12 anos com mais de 1.500 concertos como regente.
Sempre digo que a música venceu”. Em uma obra cinematográfica tão envolvente
quanto a própria vida do músico, os atores Alexandre Nero, Rodrigo Pandolfo e
Davi Campolongo interpretam João Carlos Martins em três fases distintas da
vida. Todos tiveram necessariamente aulas de comportamento e piano para trazer
a fidelidade necessária à personalidade do maestro. Hoje, dedicado à regência,
o maestro e pianista João Carlos Martins tem o privilégio de participar da
produção do longa-metragem sobre a sua vida. - “Entre tantos altos e baixos,
hoje sinto uma emoção muito grande em ter dois documentários estrangeiros sobre
minha carreira, ter sido enredo de Escola de Samba, e de agora ter minha vida
contada em um filme enquanto ainda estou vivo”. Depois de diversas produções
internacionais, o cinema nacional narra a conturbada vida social de um dos
maiores nomes da música erudita contemporânea.
Do
ponto de vista teórico-metodológico e técnico-metodológico o mecanismo de ação do piano que leva aos
martelos tocarem as cordas quando uma tecla é pressionada é chamada de
“mecanismo de ação”. Quando alguém faz discurso sobre a história do mecanismo
de ação do piano, mencionar o mecanismo de repetição, com a chamada “fuga
dupla” inventada por Sébastien Érard da França é indispensável. Este mecanismo
permite ao pianista rapidamente repetir uma nota sem ter que liberar
completamente a tecla. Até a introdução deste mecanismo, quando uma tecla for
pressionada, o martelo geralmente sobe e é firmado, e não está pronto para a
próxima tecla até retroceder a sua posição de repouso. A invenção sincrônica de
Erard tornou possível preparar para a próxima tecla mesmo se o martelo não
estiver completamente retrocedido à sua posição de repouso. É dito que Erard
apresentou um protótipo deste mecanismo para Beethoven em 1803, e isso ajudou o
grande compositor a compor novas obras. Este mecanismo tem sido transmitido de
uma forma mais refinada nos mecanismos de ações contemporâneos.
Johann Sebastian Bach nascido numa
família de longa tradição musical, cedo demonstrou possuir talento e logo se
tornou um músico completo. Estudante incansável, adquiriu um vasto conhecimento
da música europeia de sua época e das gerações anteriores. Desempenhou vários
cargos em cortes e igrejas alemãs, mas suas funções mais destacadas foram a de
“Kantor” da Igreja de São Tomás e Diretor Musical da cidade de Leipzig, onde
desenvolveu a parte final e mais importante de sua carreira. Antigamente,
correspondia ao papel de mestre do coro ou cantor de salmos e responsórios nos
templos principais, especialmente em catedrais. Esta posição também existia
dentro de alguns mosteiros. Absorvendo o repertório de música contrapontística
germânica como base de seu estilo, recebeu mais tarde a influência italiana e
francesa, através das quais sua obra se transformou, realizando uma síntese
original de uma multiplicidade de tendências. Praticou quase todos os gêneros
musicais conhecidos em seu tempo, com a notável exceção da ópera, embora suas
cantatas maduras revelem bastante influência desta que foi uma das formas mais
populares do período Barroco.
Sua habilidade ao órgão e ao cravo
foi amplamente reconhecida enquanto viveu e se tornou lendária, sendo
considerado o maior virtuoso de sua geração e um especialista na construção de
órgãos. As unidades de geração
desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em
relação a um mesmo dado problema. O nascimento em um contexto social idêntico,
mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos.
Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos
indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo âmbito social. Em outras palavras: a
unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela
estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos de uma mesma
conexão geracional lidam com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará
surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no
conjunto da sociedade. Também tinha grandes qualidades como maestro, cantor,
professor e violinista, mas como compositor seu mérito só recebeu aprovação
limitada e nunca foi exatamente popular, ainda que vários críticos que o
conheceram o louvassem como grande. A maior parte de sua música caiu no
esquecimento após sua morte, mas sua recuperação iniciou no século XIX e desde
então seu prestígio não cessou de crescer. Na apreciação contemporânea Bach é
tido como o maior nome da música barroca, e muitos o veem como o maior
compositor de todos os tempos, deixando muitas obras que constituem a
consumação de seu gênero e talento musical.
Alguns pianistas têm uma única
escolha quanto á decisão de estudar música para o piano. O número de
executantes que apresentam e enfrentam problemas relativos ao trabalho manual
com os teclados, como contraturas, tendinites, fadigas, deterioração de nervo
ou nervos, acidentes, stress, distonia focal, lesões diversas etc., é
tragicamente alto e considera-se tal situação o resultado normal e previsível
da atividade manual e psicofísica. Nos Estados Unidos da América e Europa existem
periódicos especializados sobre o assunto. Médicos especializados em pianistas
e violinistas são cada vez maisatuantes
nas grandes cidades de perímetro urbano. Na tese de doutorado em música de
Helder de Araújo, intitulada: “A Composição Brasileira de Piano para a Mão
Esquerda” (2009), um estudo histórico e sociológico fascinante sobre as
composições investigadas exclusivamente para o pianista com o uso exclusivo da
mão esquerda, o autor resgata a história social da pianista Sigrid Nepomuceno
(1897-1986), intérprete de obras para a mão esquerda, como principal estímulo
ao fator composicional e fundamental em relação ao surgimento de obras no
Brasil, em análise comparada ao pianista João Carlos Martins, igualmente
importante em situação do problema físico de ambos, que não pode ser
suficientemente valorizada, como fonte de motivação composicional de João
Carlos Martins que perdeu o movimento da
mão direita. O que ocorre é que passou a dedicar-se até 2002, exclusivamente,
ao repertório de mão esquerda. Neste período, Helder de Araújo ensaiou durante
cerca de um ano com João Carlos Martins, a dois pianos. João Carlos Martins com 20 e poucos
anos fora considerado um dos pianistas brasileiros mais talentosos e aclamados
do mundo ocidental, sendo, notoriamente, referido o melhor interprete de Johann
Sebastian Bach da sua geração, tendo em vista que já tocou em orquestras de
quase todo o hemisfério ocidental. Aos
28 anos, fez a sua primeira apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, nos
Estados Unidos. Ipsofacto quando o pianista e maestro já
havia se apresentado no Carnegie Hall e inaugurado Glenn Gould Memorial, em
Toronto, se viu privado de realizar seu fecundo trabalho. Em 1965, vivia em
Nova Iorque, oportunidade em que foi convidado para integrar o time
profissional da Portuguesa em um jogo treino realizado no Central Park. Mas toda
felicidade e dialeticidade por jogar pelo seu time de coração se transformou em desespero em
apenas a decorrência preciosa de um segundo. Uma jogada isolada, num lance tido como normal, proporcionou
uma queda aparentemente boba, mas que fez uma perfuração na altura do cotovelo que infelizmente atingiu o
nervo ulnar.
Em Filosofia em que novo sentido devemos entendê-lo? Ora, se o saber é um instrumento, modifica
o objeto a conhecer e não nos apresenta em sua pureza; se for um meio tampouco,
nos transmite a verdade sem alterá-la de acordo com a própria natureza do meio
interposto. Se o saber é um instrumento, isto supõe que o sujeito do saber e
seu objeto se encontram separados; por conseguinte, o Absoluto seria distinto
do conhecimento: nem o Absoluto poderia ser saber de si mesmo, nem o saber
poderia ser saber do Absoluto. Contra tais pressupostos a existência mesma da
ciência filosófica, que conhece efetivamente, é já uma afirmação. Não
obstante, esta afirmação não poderia bastar porque deixa à margem a afirmação
de outro saber; é precisamente esta dualidade
o que reconhecia Schelling quando opunha no Bruno o saber fenomênico e o saber
Absoluto, mas não demonstrava os laços afetivos entre um e outro. Uma vez
colocado a questão do saber Absoluto não se vê como é possível no saber
fenomênico, e o saber fenomênico por sua parte fica igualmente cortado (separado)
do Saber Absoluto. De outra parte, Hegel volta ao saber fenomênico, isto é,
precisamente ao saber da consciência comum, e pretende demonstrar
como aquele conduz necessariamente ao saber Absoluto, ou também que
ele mesmo é um saber Absoluto que, todavia, não se deve saber como tal. O termo
“idealismo alemão” é amplamente difundido, mas não há acordo sobre o que
significa. Hegel, que considera Kant um idealista, inventou a noção
de uma tradição idealista alemã, presente já no primeiro texto
filosófico, Differenzschrift ele
indica formas de idealismo nos escritos de Kant, Fichte e Schelling.
Hegel
que parte da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma
dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele
segue o caminho aberto pela consciência e a própria história detalhada de sua
formação. Ou seja, a Fenomenologia vem a ser uma história concreta da
consciência, sua saída a caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que
em Hegel “existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a
história do desenvolvimento do pensamento”, mas este desenvolvimento é
necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos
filósofos, que são “instrumentos de sua manifestação”. Assim, preocupa-se
apenas em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos
diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a
categoria fundamental que determina o todo do sistema, e o assinalamento das
diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese
do espírito Absoluto. Para compreender o sistema hegeliano é
necessário começar por uma representação, que ainda não sendo totalmente exata
permite, ao ler a obra de Hegel, a seleção de afirmações e preenchimento do
sistema abstrato para alcançar a transformação da representação numa
noção clara e exata. Assim, temos a passagem da representação abstrata, para o
conceito claro e concreto através do acúmulo de determinações. Aquilo que por
movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença,
sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a
Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. A Ideia
Absoluta seria uma existência abstrata se a noção de que
procede não fosse mais que unidade abstrata, e não o que é, a noção que,
“por um giro negativo sobre si mesma, revestiu-se novamente de forma subjetiva”.
A determinação mais
simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, a faculdade de
poder abstrair todas as coisas até a sua própria vida. Chama-se
idealidade, idealização, precisamente esta supressão da exterioridade.
Entretanto, o espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução
da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua
faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até
esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as
coisas, enquanto pensamento filosófico, isto é, como seu princípio universal, a
ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Hegel, afirma, portanto, que
o espírito finito se encontra inicialmente numa união imediata com a natureza,
a seguir em oposição com esta e finalmente em identidade, porque
suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito
é a ideia, mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua
realidade.
A
Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza,
produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua
exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois,
ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece
a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim
a Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças,
sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se
a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto
e a realização do espírito “consciente de si”. A filosofia hegeliana centra sua
atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas ocorrem
precisamente nesta esfera, do espírito. Para Hegel, à existência na consciência,
no espírito chama-se saber, conceito
pensante. O espírito é também isto:
“trazer à existência, isto é, à consciência”. Como consciência em geral tenho
eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o
Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: “produzir-se, sair
fora de si, saber o que ele é”. Nisto consiste a grande diferença: o homem
sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a
liberdade não são nada. O homem é essencialmente razão.
O
homem, a criança, o culto e o inculto, são a razão. Ou melhor, a possibilidade
para isto, para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um. Entretanto, a
razão não ajuda em quase nada a criança, o inculto. É uma possibilidade,
embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move
em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito
bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós.
Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em
objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si
mesmo. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em
si: outra, ele pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim
o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por
si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O
que o ser em si é se manifesta no que é o ser por si. Todo
conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, toda atividade, não possui
nenhum outro interesse além do que “é em si”, no seu interior, manifestar-se
desde si mesmo, produzir-se, transformar-se. Nesta diferença se descobre toda a
diferença na história do mundo.
Os
homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o
homem seja livre. Esta é a sua
natureza. Isto pertence à essência do homem. O europeu sabe de si, dizia
Hegel, pois é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade.
Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como
sua substância. Se os homens “falam mal de conhecer é porque não sabem o
que fazem”. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do
conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre “somente
se sabe que o é”. Pode-se também em geral falar mal do saber,
como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no
espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da
existência (Existenz) a diferença do
separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu
sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o
que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto
quer dizer a representação evolução. O em si que já não fosse em si seria outra
coisa. Por conseguinte, haveria ali uma variação, mudança.
Na
mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução podemos também na
dúvida falar da mudança. Mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que
resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si
não seja exteriormente negado. É algo concreto, algo distinto. Entretanto
contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se o gérmen fosse mudado
desgastado, triturado, não poderia evoluir. Esta unidade do existente, o que
existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo,
esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são
duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras
determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber
isto. O entendimento fica nas
diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o
conceito. Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois
entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que
com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema.
Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro
momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo representa a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a ideia/figuração de identidade de
ambos, mais precisamente agora o fruto da própria evolução, o resultado de todo este
movimento. Em anatomia humana, o nervo ulnar é um nervo que tem como unidade articulatória percorrer as proximidades do osso ulna.
O ligamento lateral
interno no cotovelo tem relação com o nervo ulnar. Ele é o maior nervo
desprotegido do corpo humano (significando não protegido por músculo ou osso),
o que faz com que lesões nele sejam comuns. Este nervo está diretamente
conectado com o dedo mínimo, inervando o lado palmar desses dedos, incluindo
ambas as pontas frontal e posterior, talvez chegando mesmo até o leito ungueal.
Este nervo pode causar uma sensação parecida a um choque elétrico ao se golpear
a parte posterior do epicôndilo medial do úmero, ou a parte inferior quando o
cotovelo está flexionado. O nervo ulnar está preso entre o osso e a pele
sobrejacente nesse ponto. O ato de golpear este nervo é comumente referido como
“bater o osso engraçado”. Pensa-se que este nome surgiu como um trocadilho do
inglês, baseado na semelhança sonora entre o nome do osso do braço superior, o
úmero (“humerus”), e a palavra humor (“humorous”). De acordo com a Oxford
English Dictionary, a expressão pode se referir à “sensação peculiar experimentada
quando se é golpeado”.
Esse
aparente “pequeno acidente” provocou atrofia em três dedos de sua mão, impossibilitando-o
de tocar piano por um ano inteiro. Não desistindo da carreira musical, fez
várias adaptações para continuar tocando, de 1979 a 1985, ele gravou dez
primeiras gravações da obra de Bach, de vinte e uma, mesmo com todas as sequelas.
Conseguiu recuperar o público, e gravar praticamente toda a obra de Bach. A
recuperação foi longa, dolorosa e muito complicada, fazendo com que o maestro
tocasse com dificuldade até os 30 anos. Voltou ao Brasil e tornou-se empresário
de música e boxe por 7 anos, como empresário de Eder Jofre, bicampeão mundial
de boxe, fonte inspiradora de sua volta triunfal ao piano. Voltou aos palcos,
com grande dificuldade e depois de longos períodos de intensa fisioterapia,
passou a receber boas críticas e aclamação do público. Desenvolveu “distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho” (Dort), que o fez sair do palco vezes, quando acabou se afastando novamente e começou sua fase no âmbito
do trabalho de empresário ligado à esfera de ação social da política.
Tocar
piano, em níveis elevados de desempenho, é análogo à desempenho de um atleta,
envolvendo intenso treinamento muscular, e esse alto nível de exigência
predispõe os pianistas de elite a vários riscos. Pianistas, apesar de atuarem
sobre seu instrumento em posição simétrica, podem ter problemas na coluna, nos
ombros, no pescoço e na articulação dos punhos, dos cotovelos e dos dedos. Como
o piano é um instrumento que só permite ajustes na altura do banco, o tipo
físico do músico pode favorecer o aparecimento de lesões específicas, e a
escolha desse acessório pode ser determinante para a qualidade do estudo: um
pianista muito alto pode ter de se curvar para ler a partitura, afetando o
pescoço; um músico de estatura baixa, por sua vez, pode ter dificuldades para
alcançar o pedal. A incidência de complicações neuromusculares ocupacionais em
pianistas é muito elevada e as dificuldades técnicas de desempenho se demonstraram
empiricamente como um fator social importante no aparecimento desses problemas.
Estudos apontam que a existência de sintomas nos pianistas estudados é muito
superior à encontrada em grupos de controle, chegando a 91,5% do total. Os
principais são dor, principalmente no pescoço, nas costas e nos membros
superiores e fadiga muscular. As causas mais comuns são os movimentos
repetitivos, as posturas inadequadas ao sentar e o esforço exagerado - muitas
vezes desnecessário - ao tocar o instrumento, o que abre caminho para o
surgimento da síndrome conhecida como Lesões por Esforço Repetitivo (LER) que não é uma doença, mas síndrome constituída por um grupo de doenças, tais como tendinite, tenossinovite, bursite, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, dedo em gatilho, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome do pronador redondo, mialgias -, que afeta músculos, nervos e tendões dos membros superiores principalmente, e sobrecarrega o sistema musculoesquelético.
Mas
ter a música como prática profissional de alto nível exige dedicação extrema,
traduzida, principalmente, em horas dedicadas ao estudo do instrumento, em que
o corpo e a mente são exigidos até, muitas vezes, a exaustão. Tocar piano, em
níveis elevados de desempenho, é análogo à desempenho de um atleta, envolvendo
intenso treinamento muscular, e esse alto nível de exigência predispõe os pianistas
de elite a vários riscos. Pianistas, apesar de atuarem sobre seu instrumento em
posição simétrica, podem ter problemas na coluna, nos ombros, no pescoço e na
articulação dos punhos, dos cotovelos e dos dedos. Como o piano é um
instrumento que só permite ajustes na altura do banco, o tipo físico do músico
pode favorecer o aparecimento de lesões específicas, e a escolha desse
acessório pode ser determinante para a qualidade do estudo: um pianista muito
alto pode ter de se curvar para ler a partitura, afetando o pescoço; um músico
de estatura baixa, por sua vez, pode ter dificuldades para alcançar o pedal. A
incidência de complicações neuromusculares ocupacionais em pianistas é analisada
como elevada e as dificuldades técnicas de desempenho se demonstraram estatisticamente
como um fator social importante no aparecimento desses problemas. Estudos
apresentam dados que a existência de sintomas nos pianistas estudados é muito
superior à encontrada em grupos de controle, chegando ao índice de 91,5% do
total.
Neste
sentido se a LER analogamente é relacionada diretamente ao tipo de atividade
profissional desenvolvida por esforço repetitivo, pode ser caracterizada como: DORT (“Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao
Trabalho”), LTC (“Lesão por Trauma Cumulativo”) ou AMERT (“Afecções Musculares
Relacionadas ao Trabalho”). Para a prática profissional de alto nível de um
pianista seja saudável e produtiva, muitas são as técnicas específicas
utilizadas proporcionais para obter o máximo de desempenho com o mínimo
esforço. Mas, apesar da maioria destes pianistas de alto nível possuírem
conhecimento suficiente para evitar a lesão, muitos deles já foram vítimas da
síndrome, como João Carlos Martins, por exemplo. Nas crises agudas de dor, o
tratamento inclui o uso de anti-inflamatórios e repouso das estruturas
musculoesqueléticas comprometidas. Nas fases mais avançadas da síndrome, a
aplicação de corticoides na área da lesão ou por via oral, fisioterapia e
intervenção cirúrgica são recursos terapêuticos considerados. O
nervo ulnar se origina das raízes nervosas C8 a T1 e ocasionalmente carrega
fibras do C7 que fazem parte do fascículo medial do plexo braquial, e descende
o aspecto póstero-medial do úmero.
Ele percorre inferiormente o aspecto
póstero-medial do úmero, passando por trás do epicôndilo medial (no túnel
cubital) no cotovelo, onde é exposto por vários centímetros. Ele entra no
compartimento anterior (flexor) do antebraço entre as cabeças umeral e ulnar do
flexor ulnar do carpo, situando-se debaixo das aponeuroses do flexor ulnar do
carpo, lado a lado da ulna. Ali ele abastece um músculo e meio (o flexor ulnar
do carpo e a metade medial do flexor profundo dos dedos) e segue com a artéria
ulnar, viajando inferiormente com ela até a parte mais profunda do músculo
flexor ulnar do carpo. Depois de viajar pela ulna, o nervo ulnar entra na palma
da mão pelo canal de Guyon. O nervo ulnar e a artéria passam superficialmente
pelo flexor retináculo da mão, via o canal ulnar. Ele se ramifica nos ramos superficiais
do nervo ulnar e profundo do nervo ulnar. O percurso através do
pulso contrasta com o do nervo mediano, o qual viaja até a parte profunda do
flexor retináculo da mão. O nervo ulnar pode sofrer lesões em qualquer lugar
entre sua origem proximal do plexo braquial até seus ramos distais na mão. É,
portanto, o nervo mais comumente da área lesionada no entorno do cotovelo.
Apesar de poder ser lesionados em diversas circunstâncias, de tempo eespaço, ele é comumente lesionado por trauma
local ou impacto físico (“nervo comprimido”). Lesões no nervo ulnar em
diferentes níveis causam déficits motor e sensorial específicos em diferentes
profissões.
Enfim,
as mononeuropatias periféricas designam um conjunto de alterações decorrentes
da compressão de apenas um dos nervos dos membros superiores e inferiores.
Essas lesões podem decorrer de uma pressão interna, como, por exemplo, de uma
contração muscular ou edema da bainha dos tendões ou de forças externas, como a
quina de uma mesa, uma ferramenta manual ou a superfície rígida de uma cadeira,
e estão incluídas no grupo LER/DORT. Entre as entidades nosológicas que
acometem os membros superiores estão síndrome do túnel do carpo, síndrome do
pronador redondo, síndrome do canal de Guyon, lesão do nervo cubital (ulnar),
síndrome do túnel cubital, lesão do nervo radial e compressão do nervo supra-escapular.
Outro grupo reúne quadros clínicos dolorosos pouco definidos, porém
persistentes, que levam ao sofrimento dos trabalhadores e dificultam seu
trabalho e sua vida pessoal e social.
Trata-se
de quadro pouco comum, associado com exposições a movimentos repetitivos
(flexão, extensão) de punhos e mãos, contusões contínuas, impactos
intermitentes ou compressão mecânica na base das mãos (região hipotenar ou
borda ulnar), vibrações. É um problema descrito há tempos, entre ciclistas, chamado “dedo em gatilho”, nome popular da tenossinovite estenosante. Predomina
o quadro de alterações motoras, com possível paralisia de todos os músculos
intrínsecos de dedos exceto os dois primeiros lumbricais e o músculo abdutor
curto do polegar, inervados pelo mediano. Pode haver quadro exclusivamente
sensitivo que se manifesta por formigamentos e dor nos 4º e 5º dedos. Podem
ser observados quatro diferentes tipos de apresentações clínicas, de acordo com
o ponto de compressão, se sobre fibras sensitivas e/ou motoras. O
estabelecimento de um plano terapêutico para o portador de LER/DORT obedece a
alguns pressupostos, dentre os quais se destacam a importância do diagnóstico
precoce e preciso e a conveniência do afastamento dos trabalhadores
sintomáticos de situações de exposição no trabalho mesmo aquelas consideradas
leves. As orientações básicas para a condução de casos incluídos no grupo
LER/DORT são detalhadas pelo sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
relacionadas ao trabalho. Bibliografia
geral consultada.
HELLER, Agnes, Sociologia della Vita Quotidiana. Roma: Editore Riuniti, 1975; LOYONNET, Paul, Les Gests et la Pensée duPianist. Montreal: Louise Courteau
Editrice, 1988; MANNHEIM, Karl, “El Problema de las Generaciones”. In: Revista Española de Investigaciones
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mesmo. São Paulo: Editor Saraiva, 1995; DUBAL, David, Conversas com João Carlos Martins. São Paulo: Editora Green Forest
do Brasil, 1999; GONÇALVES, Maria Dulce Ribeiro Miguens, Concepções Científicas e Concepções Pessoais sobre o Conhecimento e
Dificuldades de Aprendizagem. Tese de Doutorado. Lisboa: Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação, 2002; GOULD, Stephen Jay, A Falsa Medida do Homem. São Paulo:
Editora Martins Fontes, 2003; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição.
Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São
Francisco, 2007; ARAUJO, Helder de, A ComposiçãoBrasileira de Piano para a Mão Esquerda.
Tese de Doutorado em Música. Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo,
2009; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; ELIAS, Norbert, O Processo
Civilizador. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011; CREPALDE, Neylson João Batista Filho, O Maestro, a Orquestra e a Racionalidade das Práticas Musicais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; MARQUES, José
Roberto, “Conheça o Maestro João Carlos Martins e sua História de Superação”. In: http://www.ibccoaching.com.br/23/05/2016; AMARAL, José Hérikson Dantas do, Saberes Docentes em Bandas de Música: Um Estudo Multicaso com Três Maestros no Alto Oeste Potiguar. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2017; OLIVEIRA, Carolina Andrade, O Regente-arranjador e a Circulação do
Repertório de Arranjos nos Coros Brasileiros. Dissertação de Mestrado. Escola
de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; SILVA,
Thiago Vieira, Efeitos da Prática da Matriz Djunker no Aprimoramento da Técnica
Gestual de Regentes Atuantes em Brasília. Dissertação de Mestrado. Programa
de Pós-Graduação em Música. Brasília: Universidade de Brasília, Brasília, 2018; entre outros.
“A vida errada não pode ser vivida
corretamente”. Theodor Adorno
Theodor Wiesengrund Adorno provocou
em muitas pessoas reações de forte antipatia. Bertold Brecht, por exemplo,
achava-o pernóstico. Hannah Arendt, que o considerava presunçoso, acusou-o de
ter adotado nos Estados Unidos, definitivamente o nome Adorno porque os
norte-americanos tinham dificuldade para pronunciar Wiesengrund. José Guilherme
Merquior descreve Adorno como “careca, gorducho e baixo” e diverte-se contando
que durante um curso que ministrava em Frankfurt, entusiasmado com as passagens
que lhe pareciam dialéticas, Adorno se punha na ponta dos pés e repetia, excitado, para os alunos: -
“Minhas senhoras e meus senhores, isso é muito dialético”. (“Meine damen und
herren, das ist sehr dialektisch”). Talvez a própria proposta filosófica de
Adorno tivesse, aos olhos da maioria das pessoas, algo de irritante e
provocador. Desde a leitura de História e
Consciência de Classe, de Georg Lukács, e do encontro com Walter Benjamin,
na primeira metade dos anos 1920, Adorno se tornou marxista, a seu modo, pois
fustigou Lukács em Notas de literatura I
(cf. Adorno, 2003: 15-45), dizendo que seu erro básico se impõe em expressar
diretamente a teoria.
Todavia, quando em seu livro História e Consciência de Classe foi
publicado, estava sendo organizado o Instituto de Pesquisa social, que passaria
a funcionar nos anos seguintes em articulação com a Universidade de
Frankfurt/Main, mas preservando sua autonomia graças ao apoio financeiro que
lhe dava o comerciante e veterano socialista Herman Weil, que havia regressado
muito rico da Argentina. Felix Weil, filho do patrocinador, redigiu o memorando
que definia o projeto do social Instituto, e no texto do memorando já se notava
o eco das concepções defendidas por Lukács em 1922: assumia-se o compromisso de
empreender pesquisas voltadas para a “compreensão da vida social em sua
totalidade”. Adotava-se uma perspectiva disposta a avaliar as questões
presentes em cada campo da atividade na inter-relação dinâmica de umas com as
outras, reconhecendo a inserção delas no processo histórico. A sede da
organização foi inaugurada no campus da Universidade de Frankfurt/Main em 22 de
junho de 1924. Na prática, apesar de seu elevado nível qualitativo, a
produção teórica dos pesquisadores do Instituto nos anos de 1920 não se
caracterizou por uma notável criatividade. Sobre a história do Instituto existe
uma vasta bibliografia.
Depois de 1936, o Instituto de Frankfurt deu aulas na divisão de extensão e patrocinou palestras de estudiosos europeus convidados, como Harold Laski, Morris Ginsberg e Celestin Bouglé, abertas à comunidade universitária. O mais importante, é claro, é que a visão europeia do Instituto transparecia sem seu trabalho. Como se poderia esperar, a teoria crítica foi aplicada ao problema mais proeminente da época: a ascensão do fascismo na Europa. Como assinalou Henry Pachter, muitos emigrados sem formação nem interesse político anteriores foram obrigados pelos acontecimentos a estudar o novo totalitarismo. Psicólogos como Ernest Kris examinaram a propaganda nazista, filósofos como Ernest Cassirer e a cientista política Hannah Arendt investigaram a formação do mito do Estado e as origens do totalitarismo, e romancistas como Thomas Mann escreveram alegorias da desintegração alemã. Nesse aspecto, o Instituto estava singularmente equipado para fazer uma contribuição importante. Começara a estudar os problemas da autoridade antes da emigração forçada. A teoria crítica fora desenvolvida, em particular, em resposta ao fracasso da teoria marxista tradicional (cf. Jay, 2008: 166-167) para explicar a relutância do proletariado em cumprir seu papel histórico. Uma das razões primordiais do interesse de Max Horkheimer na psicanálise rinha sido a ajuda que ela poderia fornecer para dar conta do "cimento" psicológico da sociedade. Por conseguinte, quando assumiu o projeto do Instituto em 1930, em seguida anunciou um estudo empírico sobre a mentalidade dos trabalhadores na República de Weimar.
Nas anotações que redigiu na segunda
metade dos anos 1940 e publicou em 1951 como o título, Minima Moralia, Adorno também abordou o tema das novas formas da
ideologia que apareciam nas condições da chamada “indústria cultura”. A
convicção de Adorno é sempre a de que a falsidade da ideologia passa a ser
perversamente mais importante à medida que ela, a ideologia, alimenta a
pretensão de corresponder à realidade. E essa pretensão se fortalece ao máximo
quando o sujeito é induzido a crer que alcançou uma visão global satisfatória,
um conhecimento confiável no todo, do conjunto articulado das coisas
compreendidas. A indústria cultural conferiu poderes avassaladores à capacidade
que a ideologia dominante possui de induzir o pensamento, atenção e mesmo do
olhar, a percepção, para os pontos por ela iluminados. A indústria cultural
possibilitou, no século XX, a criação e o funcionamento de sociedades
“totalmente administradas”, que já não precisam se empenhar em justificar suas
prescrições e imposições: a massa dos consumidores tende a aceita-las
passivamente, considerando-as normais, legitimadas pelo simples fato de existirem.
Para a ideologia dominante, “tudo é
opinião”, mas algumas opiniões são falsas e outras são corretas. O poder de
persuadir os indivíduos das opiniões corretas está ligado à capacidade da
ideologia dominante de se apoiar em todo um vasto sistema educativo, em toda
uma organização de formação cultural corrompida que é proporcionado ao amplo
público consumidor. Mas eficazmente do que o conjunto das escolas, analisadas
posteriormente por Pierre Bourdieu, a indústria cultural serve à multidão de produtos
culturais simplificados, vulgarizados, amontoados acriticamente. Os professores
se convencem de que estão ajudando seus alunos a avançar pouco a pouco na
assimilação da cultura. Os alunos, massificados, lisonjeados com a semicultura,
satisfazem-se com o que lhes está sendo dado, e são induzidos a preservar o que
lhes parece ser o seu saber, e, portanto, o seu patrimônio cultural, reagindo
contra quaisquer objeções dos eternos questionadores, sempre insatisfeitos, ou
contra as investidas insensatas de uma crítica radical. A cultura nem sempre
foi contraditória, por isso não devemos idealizá-la. No século XX, com a
esmagadora predominância de critérios imediatistas e utilitários, esses valores
críticos da cultura sofrem um brutal esvaziamento e as pessoas vão deixando de
ter a capacidade de reconhecê-los, se por acaso com eles se defrontarem.
A
divergência entre Adorno e Benjamin não resultava de um deles ser mais
desconfiado que o outro. Ambos se recusaram a seguir a uma militância
tumultuada, com elevados índices de frustração e autocríticas, concessões
dolorosas feitas ao longo de mais de cinquenta. Na origem das divergências,
estava a convicção de Benjamin de que, para intervir na ação, para
participar ativamente na luta de classes, era preciso atuar de maneira
coletiva, filiar-se ao instrumento da revolução e do partido. Uma das grandes
forças dos escritos de Adorno é a sua capacidade de ligar as maiores questões
metafísicas aos menores detalhes da existência humana. Como ele argumenta na
introdução a Mínima Moralia, isso, em
parte, é uma herança de Hegel. Do ponto de vista estético, Adorno valoriza
Hegel e Beethoven, comparativamente, pela tensão que suas obras mantêm entre o
individual e o global, entre a parte e o todo, mas ele suspeita que, em ambos
os casos, o pequeno torna-se um mero momento no todo maior. O trabalho teórico
de Adorno busca manter essa tensão dialética, como sugere a forma de Mínima Moralia. O livro é ordenado em três sequências de
fragmentos, cobrindo tópicos da vida em família à
história mundial, da experiência da criança no zoológico às críticas de
Adorno a Hegel. Os fragmentos se mantêm juntos na forma do livro, mas não se
somam entre parte e todo, em uma teoria abrangente.
Ao
conectar os detalhes aparentemente mais inocentes da vida cotidiana a absolutos
morais, Adorno parece colocar em ação uma inversão paranoica das tendências
totalitárias que ele discerne na sociedade contemporânea. Mas é apenas uma
reformulação quando ele prefacia sua queixa quanto ao cinema, o fato social de
que “não restou nada de inócuo”. No mundo cotidiano a liquidação do particular
pelo universal é experimentada como sofrimento e mal-estar da civilização.
Nesse cenário vão se propagar, erroneamente, cada vez mais ideias que aspiram
por um vulgar impulso por transcendência. O desespero pelo que existe propaga
as ideias, que em outros tempos foram contidas. Qualquer um, inclusive as pessoas
que se ocupam com negócios desse mundo, considerará um desvario a ideia de que
esse mundo finito de tormento infinito seja abarcado por um plano universal
divino. Theodor Adorno refere-se a essa experiência da “via negativa” da
“metafísica em queda” como a busca da “imediatez subjetiva intacta” ou
“subjetivismo do ato puro”, experiência que nos daria o “interior dos objetos”,
a redenção do materialismo por meio da metafísica que, finalmente, revelaria a aparente
verdade do mundo. Que ele tenha, por outro lado, querido intensivamente ter
contradito tal veredito, testemunham os 370 fragmentos que compõem o livro
inacabado, nos quais Adorno trabalhou durante parcela significativa de sua vida
intelectual, de 1938 até o final de sua vida, em 1969. Seu principal objetivo
diria respeito à própria natureza e alcance da filosofia da música enquanto
disciplina do ponto de vista do conhecimento científico.
O
livro deveria fornecer a filosofia da música, ou seja, determinar decididamente
a relação da música com a lógica conceitual, no que Beethoven e Hegel são
tomados como “paradigmas” em seus domínios respectivos. O problema social da
forma de disjunção do interesse universal e particular seria, ao mesmo tempo, o
problema da filosofia moral. Nisso, podemos seguir as ponderações de Adorno. As
realidades sociais caracterizam-se pelo fato de que interesses particulares, ao
nível ideológico, se colocam como interesses gerais. Os indivíduos devem
representar seus interesses particulares, como se o interesse universal e o
particular coincidissem. Enquanto esse estado de coisas se mantiver,
encontramo-nos numa aporética situação de contradição. Por isso, a questão
sobre a vida reta ou boa, refletiu Adorno, só poderia ser respondida por meio
da “negação determinada” e isto, para ele, significava a práxis: nós poderíamos ainda assim tentar existir decentemente,
mesmo quando o estado geral social, na condição do todo, impede-nos de fazê-lo,
uma socialização heterônoma às formas
socialmente sancionadas do ângulo da moral repressiva, isto é, tendo em vista as
condições e possibilidades de se agir como representante da vida reta, a única
que seria possível no todo falso.
A
ética ou a filosofia moral se tornam uma luz que permite discernir entre aquilo
que é certo ou não do ponto de vista ético. É um dos valores que não se
encontra inserido no contexto de uma religião específica, mas no contexto da
lei natural que rege aquilo que é conveniente para o ser humano de acordo com
sua dignidade e natureza. A moral tem sua base na liberdade do ser humano
através da qual uma pessoa pode realizar boas ações, mas que também tem a
liberdade de praticar atitudes injustas. A reflexão moral ajuda o ser humano a
tomar consciência de sua própria responsabilidade no trabalho de crescer como
pessoa, tendo sempre claro o princípio da verdade e do bem. A filosofia como
reflexão moral é muito importante, uma vez que a retidão no trabalho ajuda o ser
humano a melhorar como pessoa e a alcançar uma vida boa. A filosofia moral
mostra a responsabilidade humana em trazer esperança à sociedade que vive, uma
vez que através de ações individuais exerce influência no bem comum. Esta
filosofia moral toma como fundamental os princípios da conduta humana. Estas
normas éticas dignificam a pessoa através de valores como mostra a superação
pessoal, o amor próprio, o respeito, o princípio do dever e a busca
pela felicidade. Um princípio moral essencial é lembrar que o fim nem sempre
justifica os meios.
O
fim do idealismo alemão, o aparecimento do materialismo, o pensamento de
Friedrich Nietzsche e as teorias de Freud pareciam unir-se na luta contra a
filosofia positivista que ganhava força com a industrialização: ordem e
progresso unidos sob a batuta da ciência. Recorde-se que o anarquismo tinha
ganhado raízes em Ascona, desde que em 1869, o célebre anarquista russo Mikhail
Bakunin tinha vindo residir como refugiado político. Também pouco tempo depois
começaram a chegar outros refugiados com projetos distintos, como o de fundar
um convento laico com o nome de Fraternitas,
por iniciativa dos teósofos Alfredo Pioda e Franz Hartmann, justamente nas
montanhas de Ascona, que receberiam então, mais tarde, o nome de Monte Verità.
Em 1900, sob o ambiente histórico e filosófico da Europa do período da
pré-guerra, aparece a singular história da realização de uma utopia que tomou o
nome de Monte Verità. Singular não só pelo seu alcance, mas também pela
radicalidade das suas propostas iniciais, e pela atração que exerceu sobre
inumeráveis artistas e pensadores, mas também
pelo fato da criação do “Círculo de Eranos”, o qual teve como expoentes figuras
como Carl G. Jung, Rudolf Otto, Karl Kerenyi, Joseph Campbell, Mircea Eliade,
Gilbert Durand, Gershim Scholem, Henry Corbin e Gerardus van der Leeuw.
Eranos
é a designação dada a um encontro de pensadores dedicados aos estudos da
espiritualidade que ocorreu regularmente próximo a Ascona, na Suíça, a partir
de 1933. O nome, sugerido por Rudolf Otto, é derivação da palavra grega que
significa “um banquete onde não existe um anfitrião a prover os convidados, mas
onde todos contribuem com sua comida”. O grupo de Eranos foi fundado por Olga
Froebe-Kapteyn em 1933, e as conferências ocorreram anualmente em sua
propriedade desde então - às margens do Lago Maggiore, próximo a Ascona, na
Suíça. Por mais de setenta anos, as reuniões serviram como ponto de contato
entre intelectuais de diferentes orientações de pensamento. As conferências
tinham duração de oito dias. Durante esse período, os participantes realizavam
suas atividades em conjunto, vivendo de “forma comunal” e exercendo abertamente
o diálogo e o debate. Dada a diversidade de pensamento, não é possível designar
os encontros de Eranos como uma “escola de pensamento”, embora tenha havido uma
intensa troca e partilha de questões em comum, como a hermenêutica dos símbolos
e os fundamentos da possibilidade do conhecimento científico.
Horkheimer, Adorno à direita e Habermas.
Nesses
movimentos havia chefes e discípulos que utilizavam uma linguagem e um estilo
específico, elemento e imagem de “sua intimidade emocional”, e celebravam
certas palavras, como exemplo, gemeinshaft:
a comunidade era aos seus olhos uma invocação mágica. As aspirações e valores
dos wandervogel exprimiam “sua busca
de alma, sua desconfiança em relação ao espírito”. Para falar do complexo de
sentimentos e reações que exprime o espírito deste movimento de juventude,
vale-se da expressão “busca de unidade”, que representa, em seu ponto de vista,
uma regressão oriunda de um grande medo: “o medo da modernidade”. Segundo Peter
Gay, as abstrações que Ferdinand Tönnies e tantos outros pensadores utilizaram revelam
uma necessidade desesperada de raízes e pertença a uma determinada comunidade,
constituem uma rejeição radical da razão,
a que se acrescenta o apelo à ação direta ou à submissão a um chefe
carismático. Observa que este conglomerado de sentimentos hostis que se fazia
passar por filosofia incitou Ernst Troeltsch, a assinalar o perigo desta
inclinação, a seus olhos alemã, que favorecia a “mistura de misticismo e brutalidade”.
À medida que a situação política na
Alemanha de Weimar se deteriorava, essa teologia subterrânea era mais ou menos
veladamente transfigurada em uma estrutura confessadamente marxista. Na
verdade, a separação de crítica, cultura e questões de mobilização política e
organização partidária, pela qual Adorno geralmente é atacado. A tarefa do
intelectual não devia ser encontrar premonições de revolução nas ruínas da
antiga ordem, mas lançar um ataque à nova ordem e aos movimentos que afirmavam
ser capazes de transformá-la. A consistência intelectual da posição de Adorno
baseia-se no repúdio de qualquer pretensão a um ponto de vista privilegiado para
o intelectual como observador da sociedade. O elitismo inerente da arte, da
política e da teoria da vanguarda era anátema para Adorno, e isto lança os
fundamentos para a divergência entre o seu trabalho e as variedades comuns ou
domesticadas da crítica marxista da ideologia. Mínima Moralia é a resposta de Adorno. Isto capacita Adorno a
reformular vagas aspirações
políticas e sociais de amigos em temos explicitamente morais.
Para um melhor dimensionamento do que
se pode extrair desta frase para a interpretação do pensamento estético e
filosófico de Adorno, convém ainda tematizar rapidamente o significado
intrateórico de seu inacabado Beethovenbuch,
cujo primeiro capítulo ela praticamente deveria introduzir, se seguirmos a
ordenação proposta por Rolf Tiedemann, editor e aluno do filósofo. Dentre os
projetos inacabados que Adorno gostaria de ter finalizado constituindo um
momento essencial no desenvolvimento de sua obra e, por preencherem lacunas
constatáveis, teria lhe conferido nova consistência, figura exemplarmente esse
livro sobre Beethoven, que deveria se chamar, muitíssimo significativamente: “Beethoven:
Filosofia da música”, pois salta aos olhos que Adorno não tenha escrito uma
filosofia da música, mas apenas uma filosofia da nova música. As categorias, para Adorno essencialmente correlatas,
de imanência e de totalidade serão, assim, essenciais para a compreensão do que
Beethoven e Hegel representariam a história da música e da sua
relação com a filosofia ocidental.
A
relação particular do sistema beethoveniano comparativamente com o sistema hegeliano reside no
fato de que a unidade do todo de pensamento deve ser compreendida apenas como uma unidade
mediatizada. A forma beethoveniana é um todo integral, no qual cada momento
particular só se determina a partir de sua função no todo, apenas na medida em
que esses momentos particulares se contradizem e suprassumem na complexidade de apreensão do todo. Em outros termos, poder-se-ia resumir a argumentação
de forma bastante esquemática e mesmo algo violenta à sua
complexidade, às seguintes teses correlatas. Arte e filosofia ocidental apresentam
um desiderato interno. Manifesto, sobretudo na modernidade, referido à autonomização. Seus discursos são traduzidos
essencialmente em sua progressiva emancipação de elementos transcendentes:
categorias teológicas, no caso da filosofia ou de inteligibilidade naturalizados
– e de seu correlativo estabelecimento como totalidade conceitual, para a filosofia,
e formal no caso das artes, dotada de sentido imanente.
Essencial
para a plena consecução de tal autonomização decorreu, no caso da música, a
consolidação do idioma tonal e, a ele correlato, da forma musical integral, com
o advento do classicismo vienense; e no caso da filosofia, a dissolução de toda
transcendência em sentido especulativo, tal como levada à cabo por Immanuel
Kant que, por sua vez, se encontra nas tentativas sistemáticas do idealismo Alemão
que por intermédio das interpretações de Beethoven e Hegel se concretizam tais
processos. Dialética negativa é o nome que tem como representação o programa teórico que procura oferecer
consistência a um pensamento que se localiza em tal lugar de enunciação. Por um
lado, endossa-se enfaticamente o colapso do idealismo e de sua correlativa
pretensão sistemática à totalidade, o que fará de uma dialética negativa um “antissistema”
ou uma “anti-filosofia” que procura dissolver internamente todo sistema
filosófico e toda filosofia da imanência; por outro lado, afirma-se simultaneamente
que a filosofia só se realiza com uma visada à totalidade e à imanência
radicais, o que faz da dialética negativa um antissistema que permanece fiel à
sua vocação clássica e atrelada ao ideal da filosofia
hegeliana. - “Por isso, a dialética negativa permanece atrelada, como seu ponto
de partida, às mais elevadas categorias da filosofia da identidade”.
É
neste sentido que o viver correto seria impossível, não tanto porque a
sociedade, de certa maneira, é inerentemente má, mas porque a natureza do certo
e do errado é tal que nunca podemos dizer como confiança que um eclipsou o
outro. Parte do contraponto que podemos sentir ao uso que Adorno faz da ideia
de liberdade é que a maneira como geralmente pensamos sobre liberdade evoluiu
para evitar justamente esse tipo de conflito: uma tendência encontrada não
apenas no nosso cotidiano do termo, mas também nas tendências predominantes na
teoria política liberal. Quando usamos a palavra “liberdade” tendemos a querer
dizer que nenhuma limitação física ou jurídica nos impede de agir segundo
nossos desejos ou, vendo pelo outro lado, segundo a capacidade jurídica ou
física de realizar muitas ações desejadas. Em termos políticos, este é o famoso
contraste entre liberdades positivas e negativas: a liberdade como um conjunto
de direitos que detemos como cidadão; a liberdade como um conjunto de
restrições ao que os outros, ou o Estado, como ocorre no julgamento político do líder sindical e ex-presidente
do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva impõem. A liberdade, em todos os sentidos,
está intimamente ligada à ideia do indivíduo. Os indivíduos detêm direitos como
cidadão ou são protegidos contra a violação de suas liberdades. A
autonomia do indivíduo é presumida ao invés de provada. Ao rejeitar nossa interdependência mútua frente aos outros
e o mundo que nos sustenta, a moralidade torna-se mera justificativa para a continuação da Bellum omnium contra omnes, que Adorno,
seguindo Hobbes, supõe como estado de natureza.
Uma filosofia moral liberal, que
parte do homem como indivíduo autônomo e independente, simplesmente não é uma
filosofia moral, porque segundo Adorno (1989) a moralidade é um dos aspectos da cultura que nos
permite suspender tal violência. Adorno segue uma tradição alternativa,
exemplificada melhor na obra de Rousseau e Hegel, pensadores para quem a liberdade para um
não tem significado sem a liberdade para o todo. A antipatia do indivíduo para
com uma ordem social que ele sente como imposta a ele é uma consequência da
natureza irreconciliada da sociedade, igualmente exibida na antinomia
filosófica de sujeito e objeto. Portanto, Adorno não nega a experiência
subjetiva da alienação, de ser colocado contra uma totalidade social que não
parece corresponder aos nossos interesses e desejos. Pois, tanto o pensamento
político liberal, como a experiência individual na sociedade tem de ser
explicada, não como uma forma solucionada de uma síntese superior, mas como um
problema insuperável. A liberdade deixa à altura sua
promessa de reconciliação social: uma promessa que nos
permite criticar não apenas a não liberdade social, mas também a liberdade
parcial hipostasiada nas filosofias liberais que justificam a liberdade dos
indivíduos.
As
sugestões autoritárias da insistência na autonomia moral como submissão ou
respeito à lei derivam da experiência de leis como exteriores ao indivíduo. A
discussão adorniana não pretende solucionar este puzzle ou mesmo sua condição
de liberdade. A concepção da personalidade como estrutura é a melhor
salvaguarda contra a inclinação a atribuir as tendências persistentes no
indivíduo a algo inato ou básico ou racial que existe dentro dele. A alegação
nazista segundo a qual são os traços naturais e biológicos que decidem o modo
de ser global de uma pessoa não seria um expediente político tão bem sucedido
se não fosse possível apontar as numerosas instâncias de fixação relativa na
conduta humana e desafiasse aqueles que pensam poder explicá-las em qualquer
outra base que não a biológica. Privados do entendimento da personalidade como
estrutura, os autores cuja abordagem descansa na premissa de que a capacidade
humana de responder e se adaptar à situação social existente é infinita em nada
ajudaram, no tocante à matéria, ao referir-se às tendências persistentes com as
quais eles não concordam como confusão,
psicose ou o [próprio] mal, sob um ou outro nome. Obviamente, existe
alguma base para descrever como patológicos os padrões de conduta que não se conformam às respostas
tidas como mais comuns e, aparentemente, mais regulares aos estímulos do
momento. Porém isso é usar o termo patológico no sentido muito estreito de
desvio da média encontrada em um contexto social particular e, o que é pior,
sugerir que tudo aquilo que existe na estrutura da personalidade pode ser posto
sob esse título. Realmente a personalidade abarca variáveis amplas disseminadas
na população e que possuem relações regulares umas com as outras.
Os
padrões de personalidade que têm sido desprezados como patológicos, porque não
estão de acordo com as tendências manifestas mais comuns, ou mesmo com a
maioria dos ideais dominantes existentes na sociedade, revelam-se à luz de uma
investigação mais detalhada não ser senão exageros de algo que é quase
universal no plano subjacente a essa sociedade. O que é patológico hoje pode se
tornar a tendência dominante de amanhã, com a mudança das condições sociais.
Parece claro então que uma abordagem adequada dos problemas que temos pela
frente precisa levar em conta ao mesmo a fixidez e flexibilidade [da
personalidade]; precisa ver as duas coisas não como categorias mutuamente
exclusivas, mas como extremos de um mesmo contínuo, ao longo do qual as
características humanas podem ser colocadas; e, por fim, precisa nos dar a base
para entender as condições que favorecem um ou outro extremo. Personalidade é
um conceito para dar conta de uma permanência relativa. Porém podemos enfatizar
mais uma vez que ele designa, sobretudo,
em potencial; é a prontidão para conduta
antes que a própria conduta. Embora
consista em disposições para se conduzir de certo modo, a conduta realmente
verificada vai depender da situação
objetiva. Onde a preocupação é com as tendências antidemocráticas, a
delimitação das condições para expressão individual requer um entendimento da
organização global da sociedade. Afirma-se há algum tempo que a estrutura da
personalidade pode ser tal que torna o indivíduo suscetível à propaganda
antidemocrática. Pode-se agora perguntar quais são as condições sob as quais
tal propaganda poderia, aumentando seu grau e volume, vir a dominar a imprensa
e o rádio e excluir os estímulos ideológicos contrários, de modo que o que
agora jaz em potencial se tornasse efetivamente manifesto. A resposta não deve
ser procurada em qualquer personalidade singular, nem nos fatores de
personalidade existentes na massa da população, mas nos processos em ação na
sociedade. Atualmente parece bem entendido que se a propaganda antidemocrática
vai ou não se tornar uma força dominante neste país depende fundamentalmente da
situação da maior parte dos interesses econômicos mais poderosos; se eles, seja
ou não através de um plano consciente, farão uso desse expediente para manter
seu status dominante; e essa é uma matéria sobre a qual a grande maioria das
pessoas teria pouco a dizer.
Bibliografia
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