segunda-feira, 4 de junho de 2018

Trabalho, Rotinização & Assédio Moral Institucional.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

O trabalhador fica estigmatizado como portador de algum transtorno mental”. Maura Lúcia Gonçalves dos Anjos

 

Não está referida nas ações articuladas às ideias de reconhecimento externo e interno, de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como estratégias balizadas pelas ideias de eficácia e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define. Por ser uma administração, é regida pelas ideias concepção e de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua própria existência, sua função, seu lugar no interior da luta de classes, pois isso, que para a instituição social universitária é crucial, é, para a organização privatista, um dado de fato. Ela em certa medida sabe, ou julga saber, por que, para que e onde existe. A vida social deriva inexoravelmente de uma dupla fonte: a similitude das consciências e a divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso, porque, não tendo individualidade própria, confunde-se como seus semelhantes, no seio de um mesmo tipo coletivo; no segundo, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, da sociedade que resulta de sua união.

transtorno mental representa uma disfunção da atividade cerebral que pode afetar o humor, o comportamento, o raciocínio, exercício da razão pelo qual se procura alcançar o entendimento de atos e fatos, se formulam ideias, se elaboram juízos, se deduz algo a partir de uma ou mais premissas, a forma de aprendizado e maneira de se comunicar socialmente de um indivíduo. As perturbações mentais e comportamentais são consideradas como entidades com significado clínico quando originam alterações da capacidade cognitiva, do humor (emoções) ou provocam comportamentos que impedem ou dificultam o desempenham das funções pessoais e sociais do indivíduo concreto, de forma sustentada ou recorrente. Estresse, genética, nutrição, infecções perinatais e exposição a perigos ambientais também são fatores que contribuem para os transtornos mentais. Uma organização difere da instituição por definir-se pela prática determinada de acordo com sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios administrativos com efeitos políticos particulares para obtenção de um objetivo particular.

          Esta divisão dá origem às regras jurídicas que determinam as relações das funções divididas, mas cuja violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. Do ponto de vista do trabalho a gestão de carreira envolve duas partes principais: a da organização e a concepção do indivíduo. Diferentemente de décadas passadas, quando as organizações definiam as carreiras de seus empregados, na modernidade o papel do indivíduo na gestão da carreira se torna relevante e assume um papel progressivamente mais atípico. Os empregados assumem, na atualidade, o papel de planejar sua própria carreira, sendo estimulados a acumular conhecimentos científicos e administrar suas carreiras para garantir mobilidade no mercado de trabalho. No início  indivíduos buscam desafios, salários atrativos e responsabilidades, após amadurecerem, passam a se interessar por trabalhos que demandem: autonomia e independência, segurança e estabilidade, competência técnica e funcional, competência gerencial, criatividade intelectual, serviço e dedicação a uma causa, desafio político, estilo de vida. Eis porque é necessário que a inteligência guiada disciplinarmente pela ciência adquira uma importância maior do que tem sido planejado meramente no curso social da vida coletiva.

 
A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe que sua eficácia e seu sucesso dependem de sua particularidade. Isto significa que a instituição tem a sociedade como seu princípio e sua referência normativa e valorativa, enquanto a organização tem apenas a si mesma como referência, num processo de competição com outras que fixaram os mesmos objetivos particulares. Em outras palavras, a instituição se percebe inserida na divisão social e política e pretende definir uma universalidade (imaginária ou desejável) que lhe permita responder às contradições, impostas pela divisão. Ao contrário, a organização busca gerir seu espaço e tempo particulares aceitando como dado bruto sua inserção num dos polos da divisão social, e seu alvo não é responder às contradições, e sim vencer a competição com seus supostos iguais. A questão nevrálgica refere-se à pergunta: Como foi possível passar da ideia da universidade como instituição à definição como organização prestadora de serviços? Em primeiro lugar através da passagem da produção de massa e da economia de mercado para as sociedades de conhecimento baseadas na informação e comunicação.
Na esfera de ação política é regulação da existência coletiva, poder decisório, luta entre interesses contraditórios, disputa por posições de mundo, confrontos mil entre forças sociais, violência em última análise. Só que a produção dos processos políticos, baseados em instituições sociais como esfera de poder, em segundo lugar, se diferencia radicalmente da produção econômica porque usam eventualmente suportes materiais, como armas, livros, processos, papéis onde se inscrevem as ordens, os atos de gestão e comunicação, as sentenças ou as leis, mas não é uma produção material no sentido marxista do termo. A concepção tradicional de assédio moral refere-se à exposição de alguém a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. São mais comuns em relações hierárquicas, em geral autoritárias e em oposição assimétrica, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas aos subordinados, desestabilizando a relação do assediado com o ambiente de trabalho em  uma organização privada ou pública. É o tipo mais comum de assédio. Seu principal objetivo é desestabilizar o trabalhador, de forma que este produza mais por menos, sempre com a impressão de que não está atingindo os objetivos do trabalho, quando a análise demonstra na maioria das vezes que já foram ultrapassados. Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado. 
          O assédio moral funciona como uma ideologia que interpela o indivíduo constituindo-o em sujeito. Esta expressão ideológica está presente desde as primeiras formas sociais de relação de trabalho e constitui-se em um problema teórico, histórico e ideológico mundial, que ocorre tanto no setor público, como no setor privada. No assédio moral, não se observa mais um relação simétrica como no conflito, mas uma relação dominante-dominado, na qual aquela parte que comanda o jogo de relações sociais procura submeter o outro até fazê-lo perder a identidade. Quando isto se passa no âmbito da relação de subordinação, transforma-se em um abuso de poder hierárquico, e a autoridade legítima sobre um subordinado se torna a dominação da pessoa. No Brasil, não há uma lei específica para assédio moral, mas esta pode ser julgada por condutas previstas no artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).  A prática do assédio moral não possui uma legislação específica no Brasil, mas sua conduta pode ser analisada através da legislação existente, cujos fundamentos encontram-se, seja Constituição Federal, no Código Civil, no Código Penal, e seja na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O conceito de assédio moral organizacional foi desenvolvido, em 2006, pela Procuradora Regional do Trabalho, Adriane Reis de Araújo, como uma “tecnologia de gestão globalizada”.
             Um conceito amplo de assédio moral nos é oferecido por Hirigoyen (1998), segundo o qual pode ser considerado assédio moral qualquer conduta abusiva, seja através de gestos, palavras, comportamentos ou atitudes, de forma repetitiva e sistemática, que atinja de alguma forma a dignidade e a integridade, física ou psíquica, de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou tornando insuportável o clima de trabalho. Uma prática que tem sido recorrente no ambiente de trabalho tanto na iniciativa privada quando no serviço público. E consequentemente várias são as condições em que pode ocorrer o assédio moral. Dentre elas podemos destacar àquelas referentes a uma determinada tarefa no ambiente de trabalho, seja atribuindo propositalmente tarefas superiores as que uma pessoa possa realizar ou que afetem sua saúde ou tarefas humilhantes, seja dando permanentemente novas tarefas ou retirando o trabalho que normalmente é da competência de uma pessoa, ou ainda criticando uma tarefa de forma injusta ou exagerada. E mais importante: não transmitir deliberadamente informações úteis para a realização de tarefas; utilizar insinuações desdenhosas para desqualificar;  enfim, tudo o que possa ser considerado como atentado contra a dignidade da pessoa.
No entanto, diferencia-se do conceito moral como descrito por Marie-France Hirigoyen por tratar esta definição como uma expressão parcial, e, portanto, deslocar a ênfase do tratamento psicológico do problema, concentrando a discussão sobre as condições de trabalho e sobre os mecanismos de gestão de pessoas. O conceito implica em soluções psicológicas e jurídicas que frequentemente se sobrepõem as perspectivas organizacionais e coletivas da questão. A “escuta clínica” dos testemunhos revela uma forma de sofrimento psíquico muito semelhante como ocorre com vítimas do assédio moral: paralisia, inibição da ação, ansiedade, depressão, síndrome de burnout, e perda do sentido do trabalho; podendo desenvolver aspectos paranoides. A grande inovação do conceito de assédio moral organizacional é justamente rejeitar a individualização das situações de assédio, fugindo da dicotomia vítima “versus” algoz, discussão pouco operativa por escamotear as fontes organizacionais da violência no trabalho e responsabilizar exclusivamente os indivíduos pelos danos ocorridos.  
 Levantamento realizado pelo portal Vagas, demonstra estatisticamente que 52% dos trabalhadores relatam ter sofrido algum tipo de assédio no local de trabalho.  Porém, mais de 87% não denunciaram aos órgãos competentes, o que serviu de alerta para que o tema voltasse à tona dos debates, visando para dar suporte às vítimas. Propostas de criminalização do assédio moral no trabalho foram debatidas pela Comissão Senado do Futuro – CSF. A audiência pública fez parte do ciclo de debates 2022: O Brasil que queremos, voltado à discussão de medidas para o desenvolvimento social, tecnológico e econômico brasileiro até o ano em que se comemora o bicentenário da independência do país. Segundo o presidente da Comissão, senador Hélio José (Pros-DF), o assunto precisa ser debatido para que a legislação seja aperfeiçoada e o assédio eliminado das relações de trabalho. “O assédio moral é a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. Não podemos admitir o assédio moral, sexual e nenhum tipo de coação ou de pressão contra o trabalhador”.
A maior parte do grupo que relatou ter sofrido assédio no ambiente de trabalho – 39,4% – disse que não fez a denúncia por medo de perder o emprego. Outros fatores apontados como inibidores foram receio de represálias, citado por 31,6% dos entrevistados, vergonha (11%), medo que a culpa recaia sobre o denunciante (8,2%) e sentimento de culpa (3,9%). Já entre os que tiveram coragem de relatar o fato, 74,6% afirmaram que o agressor permaneceu na empresa mesmo após a denúncia. Ainda de acordo como levantamento, o assédio moral, caracterizado por piadas, chacotas, agressões verbais ou gritos constantes, lidera a incidência de casos. Entre os entrevistados, 47,3% declararam já ter sofrido este tipo de agressão. As mulheres são as maiores vítimas e respondem por 51,9% dos casos. Outro grupo declarou ter sofrido assédio sexual, caracterizado por comportamentos abusivos como cantadas, propostas indecorosas ou olhares abusivos, somou 9,7% da amostra. As mulheres são definitivamente as mais afetadas, respondendo por 79,9% da amostra. Já os homens, representam 20,1% do total.
O assédio traz consequências para a carreira. Entre as vítimas, 39,6% disseram que o episódio impossibilitou ou causou dificuldades no desenvolvimento profissional. Na audiência da CSF, Maura Gonçalves, coordenadora-geral do Coletivo Nacional de Trabalhadores Assédio Nunca Mais, explicou que o grupo surgiu da sua experiência com o assédio e tem o objetivo de amparar pessoas em igual situação. “O assédio moral é uma coisa que deixa o profissional afastado dele mesmo e de suas funções. Uma situação tão degradante que você não consegue reagir. Eu passei por assédio moral durante três anos. Ele vai te roubando toda a possibilidade de se firmar como pessoa e como profissional e você vai adoecendo”. O coletivo propõe a criação de duas novas normas, uma que criminalize o assédio moral e outra que reconheça o sofrimento de assédio como uma doença do trabalho. Maura alerta ainda que muitas vezes as pessoas só procuram ajuda quando chegam em uma situação extrema e prolongada de assédio, podendo chegar ao suicídio.
Ricardo Carneiro, procurador do Trabalho e membro da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades – Coordigualdade, afirmou que há pouquíssimas normas de alcance geral no Brasil, a maior parte é de âmbito estadual ou municipal. Além disso, destacou que a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT é insuficiente porque não prevê punição ao assediador, exceto quando se trata de assédio corporativo, não vale para o servidor público e não abarca os vários tipos de assédio. - “É fundamental que se tipifique o crime relacionado com o assédio moral. O Ministério Público do Trabalho é a favor da criminalização do assédio moral que atenda tanto ao setor público quanto ao setor privado”. Ricardo disse ainda que é preciso ter cautela na criação de uma nova legislação para que esta não banalize o crime e não seja excessivamente analítica ou inaplicável. Ele sugere que a conduta seja enquadrada como crime formal, sem a exigência da produção do resultado para a ocorrência do crime, e como delito simples, possível de ser praticado por qualquer pessoa. Na falta de legislação, João Paulo Ferreira Machado, auditor fiscal do Ministério do Trabalho, recomenda que as vítimas de assédio moral interpessoal anotem com detalhes as ocorrências e evitem ficar sozinhas com os assediadores. Na identificação da conduta, ele recomenda que a vítima recorra aos superiores hierárquicos do assediador e às ouvidorias institucionais, além de sindicatos e Ministério Público.       
A falta de reconhecimento tem sido também atribuída como uma origem do assédio moral. Isso porque o trabalho desempenha um papel fundamental à dignidade do empregado, que somente se encontra em sua plenitude quando este tem o seu valor  reconhecido na sociedade pelo sucesso em seu trabalho. Nesse sentido, a inexistência do reconhecimento ensejaria um sentimento de desmotivação, causando, assim, um estado de depressão em que o trabalhador não tem mais vontade de se dedicar emocionalmente ao trabalho. No entendimento de Hirigoyen (1998) sobre a ausência social de reconhecimento, este é evidenciado quando o desprezo pelo outro tem como significado o primeiro passo na direção do assédio moral e da violência simbólica. É uma tática inconsciente para manter o domínio e o processo de desqualificação das pessoas. No estudo das formas de organização, estão compreendidas as empresas privadas, órgãos públicos etc., mas sabe-se que há a manifestação de patologias individuais e coletivas atribuídas a esses ambientes. O que se pretende com essa afirmação é demonstrar que a forma de agir dessa organização gera um sistema vicioso em que a agressão se torna implícita. Melhor dizendo, em uma determinada tomada de decisão, em que são estimuladas as disputas em função da competitividade acirrada entre pares.
No entanto, há muita coisa ainda em jogo, se bem atendemos no puro ser que constitui a essência dessa certeza - o trabalho - e que ela enuncia como sua verdade. Uma certeza sensível efetiva não é apenas essa representação da pura imediatez, mas é um exemplo da mesma. Essa diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência. Ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido – enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser. Trata-se assim da singularidade imediata de apreensão do objeto como inessencial. Os meios à compreensão do mundo histórico-social podem ser dessa maneira, tirados da própria experiência psicológica, e a psicologia, deste ponto de vista, é a primeira e mais elementar das ciências do espírito.
A experiência imediata e vivida na qualidade de “realidade unitária” (Erlebnis) seria o meio a permitir a apreensão da realidade histórica e humana sob suas formas concreta e viva. O contato conceitual de  Wilhelm Dilthey com a hermenêutica está relacionado à sua preparação teológica. Sua reflexão  para estabelecer as relações entre significados e sistemas está presente  nos seus longos escritos principalmente àqueles relacionados sobre as “ciências do espírito”, com oscilações que ensejam a leitura da sua obra tanto no âmbito psicológico quanto de uma perspectiva mais propriamente sociológica. Sem dúvida ele recusou algum caráter de ciência à sociologia, referindo-se às suas variantes positivistas, mas em sintonia com uma preocupação com os fenômenos históricos em grande escala, nos quais as dimensões decisivas dizem respeito às formas de organização social da vida coletiva. Foi o primeiro pensador com uma formulação teórica original, preocupado em aproximar a hermenêutica do terreno das incertezas da história social europeia.
A inovação causada por sua teoria foi única e, por isso, ele está na base de muitas correntes de pensamento que articulam história e hermenêutica. A hermenêutica tradicional se refere ao estudo da interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e direito. A hermenêutica moderna e contemporânea engloba não somente textos escritos, mas também tudo que há vívido no processo interpretativo. Isso inclui formas sociais verbais e não verbais de comunicação, assim como aspectos que afetam a comunicação, como proposições, pressupostos, o significado e a filosofia da linguagem e a semiótica. Não tem a pretensão de eternizar o homem, mas possibilitar ao homem se aproximar da vida, por meio de conexões que integram, aproxima e relaciona os homens. A teoria compreensiva tem uma importância ética ímpar para o mundo contemporâneo.  A base para esse nexo é a relação da vivência e a categoria do significado. Mas uma estrutura que aparece como unidade de conjunto onde age o pensamento, os sentimentos e a vontade.
Considerando que há um balanço parte e todo no nexo da vivência, o que garante o equilíbrio para esse balanço é a categoria do significado que para Dilthey, nada mais é do que a integração num todo que nós encontramos junto e nos remete ao significado contido na relação parte-todo que encontra na vivência e é seu fundamento. É neste sentido que Dilthey considera que vida e a mudança dos seus principais momentos estruturais fazem que a concepção do mundo sempre e em toda a parte se expresse em oposições, embora sobre um fundo comum. Portanto, é na arte, na religião e no pensamento que encarnam os ideais que vangloriam a existência de um povo. Por conseguinte, toda a mundividência é produto da história. A historicidade revela-se como uma propriedade fundamental da consciência humana. Os sistemas filosóficos e sociológicos não constituem uma exceção. Como as religiões e as obras de arte, contêm uma visão da vida e do mundo, inserida na vitalidade das pessoas que os produziram e em consonância com as épocas em que vieram à luz do dia; traduzem uma determinada atitude afetiva, caracterizam-se pela imprescindível energia lógica, porque o filósofo e frequentemente o sociólogo procuram trazer a imagem do mundo à clara consciência e ao mais estrito urdimento cognitivo. Um esforço de reflexão e dos conceitos, que gera uma circunspecção potencial reside o valor prático da atitude filosófica. 
Como o centro da compreensão está na vida como um todo estruturado, mas sempre resultando da relação entre individualidades, é possível perceber a conexão entre a ética e a teoria compreensiva. Em verdade uma concepção da teoria, ao longo de quase meio século, permeada lado a lado por um motivo básico: uma unidade cuja garantia de existência é a presença do sentido. Há uma démarche que atravessa o homem, e nesta noção de sentido está a marca de uma concessão fatal a uma metafísica.  Ele desejava evitar tanto quanto o empirismo dos positivistas, desde que fique clara a dimensão de ser criador de significados, que não é simplesmente a noção ampla de vida, mas sua unidade constitutiva, a vivência, representada em toda experiência humana. Ipso facto, a história é suscetível de conhecimento porque é obra humana; nela o sujeito e objeto do conhecimento formam uma unidade. Nessa direção chega-se à formulação final da concepção de Dilthey. Seus elementos são: vivência, expressão e compreensão. A vivência surge nesse ponto, como algo especificamente social – pela sua dimensão intersubjetiva, e cultural – pela sua dimensão significativa -, para além do seu nível psicológico ou mesmo biológico porque guarda na memória. Trata-se de um ato de consciência, que propõe e persegue fins num contexto intersubjetivo.
As interações humanas ganham corpo nas diversas formas de “manifestação de vida” através da arte, filosofia, religião, ciência, como expressão desse caráter objetivo que a experiência, intersubjetivamente constituída assume. Sua concepção metodológica articula-se, portanto, em torno do movimento de ir e vir que ocorre entre a vida, como conjunto de vivências e as formas objetivas que seus resultados assumem na sua expressão. A referência às “vivências”, segundo Gabriel Cohn, visa a preservar esse caráter imediato, no qual só é possível compreender aquilo de que o próprio intérprete, pois é evidentemente de interpretação que se trata, e não de mera observação especulativa,  é também o produtor; ou seja, os propósitos, os fins e os valores, ainda que ao intérprete caiba mais propriamente reproduzi-los, na sua tarefa de reconstituir o processo da sua produção primeira. Enfim, a diferenciação das ciências particulares da sociedade não se realizou por um artifício da “inteligência teórica”, em resolver o problema posto pela existência do mundo mediante a análise metódica do objeto de investigação: a própria vida a realizou.
Por fim, fica evidente que, na segunda metade do século XIX, todas as metafísicas não podem ser classificadas como ciências, mesmo os grandes novos sistemas do idealismo alemão. Por esta razão, Dilthey as declara “visões de mundo” que não são comprováveis, mas também não são refutáveis e, por esta razão, permanecem em eterno conflito entre si. Os três tipos de metafísica discernidos por Dilthey – naturalismo, idealismo subjetivo e idealismo objetivo – têm a mesma posição perante as ciências das três religiões monoteístas em Lessing: elas têm uma verdade existencial, mas não uma verdade científica. A verdade é que há que uma diferença crucial no despontar do pensamento heideggeriano e a assunção de uma via histórica representada por influência de Wilhelm Dilthey e Heinrich Rickert. Com Dilthey, Martin Heidegger percebeu que não se devem tratar as questões filosóficas de maneira a-histórica, mas sim as enraizando no seu contexto histórico particular, onde qualquer experiência embora seja singular, a mesma só pode ser apreendida quando fazem parte de uma “comunidade de sentido”. Mais uma vez compreendermos algo da ordem “singular-universal”. Essa vivência singular encerra em si uma ligação com o todo de um determinado tempo histórico, o que o próprio Dilthey irá chamar de “visão de mundo”. 
Com o golpe de Estado de 17 de abril de 2016 reafirma-se a tese segundo a qual o Brasil representa uma sociedade midiática desinformada e autoritária. Apesar de a lei permitir que o presidente da República escolha qualquer um dos três nomes, o primeiro da lista é tradicionalmente o escolhido pelos últimos governos. Em 2018, último ano de Michel Temer, todas as sete nomeações divulgadas pelo MEC foram do candidato mais votado, mesmo quando a pasta questionou juridicamente a lista tríplice. As sete ocasiões em que o escolhido pela universidade ou instituto não resultou em nomeação neste ano aconteceram na Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina Historicamente a reconstrução da democracia ganhou ímpeto após o fim da ditadura civil-militar, em 1985. Uma das marcas episódicas é a voga que assumiu a palavra cidadania. Políticos, jornalistas, intelectuais, líderes sindicais, dirigentes de associações, simples cidadãos, quase todos a adotaram. A cidadania, com a liberdade dos meios de comunicação caiu na ideologia. Ela substituiu o próprio povo na retórica política. Havia ingenuidade no entusiasmo. A crença na democratização das instituições, na manifestação do pensamento social e político livre, na ação política e sindical livre. Isto quer dizer o seguinte a formação social brasileira é autoritária desde as suas origens. É racista do ponto de vista da formação do Estado nacional e da estrutura das classes sociais. É violenta no sentido estrito de extermínio humano como tem ocorrido no dia-a-dia.
A qualidade de vida é um tema que merece destaque pelo fato de se tratar de questões sociais, conjunturais e políticas relacionadas diretamente com a maneira com que os indivíduos conduzem sua forma de vida. A qualidade de vida no trabalho pode ser definida como o conjunto das ações dentro da empresa que envolve a implantação e manutenção de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho. Representa, portanto, como a gestão e a educação para o bem-estar no trabalho, com decisões e escolhas baseadas na cultura organizacional e no estilo de vida dos diferentes segmentos ocupacionais. Apesar de ser uma linha de estudo recente e necessitar de detalhamento de situações concretas para melhor compreensão do tema, a qualidade de vida no ambiente de trabalho tem sido com diversas concepções e teorias, que trouxeram à tona fatores preponderantes e pioneiros para o desenvolvimento da atividade administrativa em função das condições adequadas de trabalho, incentivos e recompensas salariais oportunas, cuidados com a saúde do trabalhador etc. Isto porque o capital representa uma relação social entre pessoas, relação que se estabelece por intermédio de coisas. Resulta que tais relações se convertem em mercadorias porque são os produtos dos trabalhos privados executados com independência uns dos outros.
Para os trabalhadores as relações de seus trabalhos privados parecem o que são, isto é relações sociais imediatas das pessoas em seus trabalhos, senão relações sociais entre coisas. Só em seu intercâmbio os produtos do trabalho adquirem como valores, uma existência social idêntica e uniforme, distinta da material e uniforme que têm como objetos de utilidade. Esta divisão do produto do trabalho em objeto útil e objeto de valor se ampliam na prática quando o intercâmbio adquire bastante extensão e importância, de modo que os objetos úteis se produzam com vistas ao intercâmbio e seu caráter de valor tenha-se já em conta em sua mesma produção. O futebol, em sua dimensão globalizada, mediatizada pelas relações políticas competitivas entre nações e nacionalidades demonstra cabalmente como se dão tais relações sociais e de produção no imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos), distribuídas através das rede de televisão. A cidadania pode ser classificada como um status concedido pelo Estado que equiparam aos direitos civis os membros de uma sociedade, concedendo-se ao cidadão um conjunto de direitos e obrigações de ordem civil, política e social. Na crítica à historiografia se chamam de “cidadãos incompletos” aqueles que possuem alguns dos três direitos compreendidos pela cidadania, em oposição àqueles que não se beneficiam de nenhum dos direitos. No estado do Ceará o assédio moral se esgueira como sombra em reconhecida universidade pública. Algumas mulheres sabem disso, mas se o assédio moral se referir à categoria sexual masculina é melhor que a situação seja velada.
         A questão da demarcação acrescenta outra dimensão ao problema, uma vez que nem todas as ações sociais discursivas relativas envolvidas no reconhecimento e no reconhecimento equivocado são explícitas. O ato de delimitação opera de acordo com uma forma performativa de poder que estabelece um problema fundamental da democracia interna/externa em determinado grupo de trabalho coletivo de professores/as ao mesmo tempo em que fornece o seu termo chave: estamos diante da blindagem acadêmica. Esta tese implica na seguinte questão: se a performatividade é com frequência associada ao desempenho individual, pode se provar, segundo Butler (2018), passa a ser importante reconsiderar essas formas de performatividade que operam apenas por meio das formas de ação coordenada, cujas condições e cujo objetivo são a reconstituição de formas plurais de atuação e de práticas sociais de resistência. Portanto, esse movimento ou inércia, esse estacionamento do meu corpo no meio da ação do outro, não é um ato meu ou de outros, mas algumas coisas que acontece em virtude da relação entre nós, surgindo dessa relação, usando frases equívocas entre o eu e o nós - ele está gritando - buscando a uma só vez preservar e disseminar o valor generativo desse equívoco, uma relação ativa e deliberadamente sustentada, uma colaboração distinta da fusão ou confusão alucinatória.
Bibliografia geral consultada.
HIRIGOYEN, Marie-France, Le Harcèlement Moral: La Violence Perverse au Quotidien. Paris: Éditions Syros, 1998; BARRETO, Margarida Maria Silveira, Assédio Moral: A Violência Sutil - Análise Epidemiológica e Psicossocial no Trabalho no Brasil. Tese de Doutorado em Psicologia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005; SILVA, Edmar Luís da, Compreender a Vida, Fundamentar a História: ´A Crítica da Razão Histórica` em Wilhelm Dilthey (1833-1911). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de História. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2006; ARAÚJO, Adriane Reis, “Assédio moral organizacional”. In: Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Porto Alegre, vol. 73, n° 2, pp. 203-214, abr./jun. 2007; CANIATO, Angela Maria; LIMA, Eliane da Costa. “Assédio Moral nas Organizações de Trabalho: Perversão e Sofrimento”. In: Cad Psicol Soc Trab. 11(2):177-92; 2008; FREIRE, Paula Ariane, Assédio Moral: Lesão aos Direitos Humanos e à Saúde do Trabalhador. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Estadual Paulista, 2011; TIMOTEO, Gabrielle Louise, Narcisismo e Assédio Moral no Trabalho.  Tese de Doutorado. Faculdade de Direito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; LOURENÇO, Luís Eduardo Morimatsu, A Teoria da Experiência de Wilhelm Dilthey enquanto Crítica da Tradição Epistemológica (1883-1894). Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016; LIMA, Érica Cavalcante, Assédio Sexual em uma Instituição de Ensino Superior: A Percepção das Servidoras da Universidade Federal do Ceará (UFC). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2017; SERRANO, Patrícia Mattoso, Assédio Moral nas Relações de Trabalho: Estudo Comparado Brasil e Estados Unidos da América. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2017; BUTLER, Judith, Corpos em Aliança e a Política das Ruas. Notas para uma Teoria Performática de Assembleia. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2018; entre outros.

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