“Agora é uma questão de desespero”. Walace Landim, o Chorão, presidente da Abrava.
A
resiliência é a capacidade do indivíduo lidar com problemas, adaptar-se
a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas -
choque, estresse, algum tipo de evento traumático, entre outros. Sem entrar em
surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções estratégicas
para enfrentar e superar as adversidades. Nas organizações, a resiliência se
trata de uma tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto entre a
tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam forças
estratégicas na pessoa para enfrentar a adversidade. Manter a imunidade mental
é a base para criar resiliência emocional. O indivíduo condiciona a mente a
tolerar os pensamentos assustadores e consegue esquivar-se do sofrimento ao
entender que a dor fará, inevitavelmente, parte da trajetória da vida. É a habilidade
de se manter sereno diante de uma situação de estresse. Pessoas
resilientes quanto a esse fator são capazes de utilizar as pistas que leem nas
outras pessoas para reorientar o comportamento, promovendo a questão tópica da autorregulação.
Quando
essa habilidade é rudimentar, as pessoas encontram dificuldades em cultivar
vínculos e com frequência desgastam, no âmbito emocional, aqueles com quem
convivem em família ou no trabalho. É a capacidade de regular a intensidade de
seus impulsos no sistema neuromuscular (nervos e músculos), não se deixando
levar impulsivamente pela experiência de uma emoção. As pessoas podem exercer
um controle frouxo ou rígido do seu sistema muscular, visto que esse sistema
está vinculado à regulação da intensidade das emoções. Dessa forma, a pessoa
poderá viver uma emoção de forma exacerbada ou inibida. O controle de impulso
garante a autorregulação dessas emoções ou a possibilidade de dar a devida
força à vivência de emoções, tornando o grau de compreensão do autor mais
sensível e apurado mediante a situação histórica e pontual. É a crença otimista
de que determinada ordem de coisas pode mudar para melhor. Há investimento
contínuo de esperança e, por isso mesmo, a convicção da capacidade de controlar
o destino da vida, mesmo quando o poder de decisão esteja fora das mãos. O
otimismo se alia à competência social e à proatividade, tendo por base a
autoeficácia.
O
Congresso Nacional passou a governar diante da falta de responsabilidade e de respostas do governo golpista de Michel Temer (PMDB) para
os caminhões parados, num misto de greve dos autônomos com lockout das empresas do setor. Na quinta-feira o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aprovou dispositivo zerando a incidência de “PIS-COFINS” -Programas de Integração Social e de Formação do
Patrimônio do Servidor Público. COFINS – Contribuição para Financiamento
da Seguridade Social,sobre o diesel, atropelando literalmente o enviado do Planalto. Ontem quem se
vestiu de primeiro-ministro foi o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE),
reunindo às pressas os líderes para tentar aprovar a medida. Michel Temer (2016-2019) participava de “uma inacreditável distribuição de carros para conselhos
tutelares numa montadora”. No final do dia, começou a chuva de liminares
autorizando o desbloqueio das rodovias com autorização do uso da força. Aí mora
o perigo de tudo descambar para uma aventura autoritária, dizia a paúra
instalada nas redes da esquerda, desconfiada de uma paralisação que partiu também dos patrões, e não apenas do
terço de caminhoneiros autônomos na composição da frota nacional. Os pregadores em geral reacionários e considerados de plantão da intervenção militar atuaram com afinco alarmista nas redes sociais.
O presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia
(DEM-RJ), reeleito para o biênio 2017-2019 só pode aprovar o projeto da reoneração da folha de pagamento das empresas,
parado há tantos meses, e nele inserir a zeragem do PIS-COFINS para o diesel,
porque fez um acordo nestes dias com a oposição: em troca da suspensão da obstrução,
mandou para o espaço uma Medida Provisória essencial à privatização da
Eletrobrás, impondo séria derrota ao governo. A reoneração da
folha de pagamento foi uma medida do governo para equilibrar as contas do país,
devido à redução dos impostos nos combustíveis. Empresas podiam
optar por uma carga tributária menor. No Senado, seu correligionário
Ronaldo Caiado (DEM) chegou à reunião dizendo: - “a incompetência deste governo
virou ingovernabilidade”. Se ao governo restou usar a força, o Congresso
avançará com a tutela que terá um alto custo fiscal. Outra escolha de M. Temer
é a negação da independência empresarial que deu à Petrobras, arranhada com a
redução de 10% no preço do diesel, apresentada como voluntária pelo presidente,
Pedro Parente. Não apenas petistas lembravam que o presidente eleito pelo voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alterou o preço dos
combustíveis oito (8) vezes em oito anos de mandato, ao passo que sob
Temer-Parente, de forma estapafúrdia a gasolina subiu 229 vezes em dois anos.
A
distribuição espacial da logística de transportes no território brasileiro
revela uma predominância do modal rodoviário, bem como sua concentração na
região Centro-sul com destaque para o estado de São Paulo. Mesmo com
distribuição desigual pelo território nacional, a malha rodoviária tem
vascularização e densidade muito superiores às dos outros modais de transporte
e só não predomina na região amazônica, onde o transporte por vias fluviais tem
grande importância, devido à densa rede hidrográfica natural. Por outro lado, a
distribuição das ferrovias e hidrovias é bem reduzida e tem potencial muito
pouco explorado, especialmente em um País das dimensões do Brasil. Esse é o
cenário ilustrado pelo mapa mural “Logística dos Transportes no Brasil”, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representado, na escala
de 1:5.000.000 (1 cm = 50 km), que exibe as principais estruturas de transporte
do país (rodovias, ferrovias, hidrovias etc.), bem como equipamentos associados
à logística do transporte de cargas e pessoas no Brasil, como armazéns,
estações aduaneiras de interior (“portos secos”), pontos de fronteira,
aeródromos públicos e terminais hidroviários.
A
distribuição espacial da logística de transportes no território brasileiro
apresenta predominância de rodovias,
concentradas principalmente no Centro-Sul do país, em especial no estado de São
Paulo. Em 2009, segundo a Confederação
Nacionalde Transportes (CNT),
61,1% de toda a carga transportada no Brasil usou o sistema modal rodoviário;
21,0% passaram por ferrovias, 14% pelas hidrovias e terminais portuários
fluviais e marítimos e apenas 0,4% por via aérea. Infraestrutura paulista de
transportes conjuga ferrovias, rodovias e hidrovia. São Paulo é o único estado
com uma infraestrutura de transportes na qual as cidades do interior estão
conectadas à capital por uma vasta rede, incluindo rodovias duplicadas,
ferrovias e a hidrovia do Tietê. O estado ainda comporta o maior aeroporto
(Guarulhos) e o porto com maior movimentação de carga (Santos) do País. Também
chama atenção a extensão de rodovias pavimentadas não duplicadas no noroeste do
Paraná, Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais e Distrito Federal e seu entorno,
bem como no litoral da Região Nordeste, entre o Rio Grande do Norte e Salvador
(BA). Esta distribuição evidencia a importância econômica dessas regiões, que
demandam por maior acessibilidade e melhor infraestrutura de transporte.
A
malha ferroviária serve, pois, principalmente ao transporte de commodities. A malha ferroviária
acompanhou a expansão da produção cafeeira até o oeste paulista do século XIX
(1830) até o início do século XX (1930). Porém, os principais eixos ferroviários da
atualidade são usados para o transporte das chamadas commodities, principalmente minério
de ferro e grãos provenientes da agroindústria. Algumas das poucas ferrovias mais
importantes são: a Ferrovia Norte-Sul, que liga a região de Anápolis (GO) ao
Porto de Itaqui em São Luís (MA), transportando predominantemente soja e farelo
de soja; a Estrada de Ferro Carajás, que liga a Serra dos Carajás ao Terminal
Ponta da Madeira, em São Luís (MA), levandoprincipalmente minério de ferro e manganês e a Estrada de Ferro Vitória-Minas,
que carrega predominantemente minério de ferro para o Porto de Tubarão.
As
hidrovias, comparativamente como os transportes das ferrovias, são predominantemente utilizadas para
transporte de commodities, como grãos e minérios, insumos agrícolas, bem como
petróleo e derivados, produtos de baixo valor agregado e cuja produção e
transporte em escala trazem competitividade. A exceção é a região Norte, onde o
transporte por pequenas embarcações de passageiros e cargas é de histórica
importância. Além das hidrovias do Solimões/Amazonas e do Madeira, essa região
depende muito de outros rios navegáveis para a circulação inter-regional. Outras
hidrovias de extrema importância para o país são as hidrovias que permite o
processo de comunicação do Tietê-Paraná e do Paraguai, que possuem importante
papel na circulação de mercadorias e de produtos agrícolas no estado de São
Paulo e parte da Região Centro-Oeste.
A
gasolina é um subproduto natural da indústria do petróleo, sendo que o querosene
representa o principal produto resultante do refino do petróleo. A gasolina é
produzida por destilação, separação das frações mais valiosas e voláteis do
petróleo bruto. Inúmeros processos e agentes necessários foram inventados para
melhorar a qualidade da gasolina. Curiosamente a palavra gasolina foi usada
pela primeira vez como uma marca do
novo destilado de petróleo no final de 1800, tendo em vista que ele não era
realmente um combustível até o momento. Um fato pouco conhecido é que ela foi
inicialmente utilizada como “um medicamento tópico para livrar pessoas de
piolhos”. Inicialmente, a gasolina foi, na verdade, uma marca, da mesma forma
que a vaselina representa uma marca de produto. E enquanto a palavra gasolina
ainda não tinha sido registrada como marca, não é realmente um gás, não no
sentido de química de qualquer maneira - ou é um líquido, não um vapor – não
havia sua mercantilização.
MST se solidariza aos caminhoneiros.
Para
os Estados defensores dos direitos civis, um dos maiores erros da Europa na
crise migratória do Mediterrâneo ocorreu com o fim do programa italiano de
patrulha e salvamento chamado “mare Nostrum”. Sob a liderança da Marinha, o
programa salvou milhares de migrantes no mar. Mas seu fim, em grande parte por
razões econômicas e em parte por razões ideológicas, teve efeitos políticos e
sociais que vão muito além da redução dos esforços humanitários. “Mare Nostrum”
era o nome dado pelos antigos romanos para o mar Mediterrâneo. Após a
unificação da Itália, em 1861, o termo foi revivido por nacionalistas, que se
acreditavam como sucedâneo do Império Romano os territórios que pertenceram a
Roma em sua fase imperialista por todo o Mediterrâneo.
Historicamente
o termo latino “mare Nostrum” foi usado originalmente pelos antigos romanos
para se referir ao mar Tirreno, logo após a conquista da Sicília, Sardenha e
Córsega, duranteGuerras Púnicas,
ocorridas contra Cartago. Em 30 a. C., a dominação romana já se estendia da
Hispânia ao Egito, e a expressão “mare Nostrum” passou a ser utilizado no
contexto de todo o mar Mediterrâneo. A ascensão do nacionalismo italiano
durante a chamada “Partilha da África” da década de 1880 gerou o desejo geral
da nação do estabelecimento de um império colonial italiano. A expressão teria
sido utilizada pela primeira vez pelo poeta Gabriele d Annunzio, símbolo do
decadentismo e herói de guerra. Além de sua carreira literária, teve também uma
excêntrica carreira política. A África é o terceiro continente mais extenso,
somente atrás da Ásia e da América do Norte, com cerca de 30 milhões de km²
cobrindo 20,3 % da área total da terra firme do planeta. É o segundo continente
mais populoso, apenas atrás da Ásia com 1 bilhão de habitantes (dados de 2005),
representando cerca de 1/7 da população mundial, contando com 54 países
independentes no processo civilizatório.
Devido
ao regime colonialista estabelecido
no continente, foram destruídas e modificadas as estruturas sociais,
econômicas, políticas e religiosas da maioria do território da África negra. As
colônias que proclamaram sua Independência, processo emancipatório que se
iniciou após a 2ª guerra mundial e concluiu-se principalmente de 1960 até 1975,
estiveram sob a ameaça da gravidade de problemas de integração nacional, que
resultaram das fronteiras arbitrárias como legado do sistema colonialista, além
da pobreza, sendo que o rápido crescimento da população africana é mais elevado
do que o número de alimentos produzidos. Como dependem econômica e
politicamente das antigas metrópoles, a ineficiência da administração, as
tribos e as ideologias conflitantes entre si, todos esses fatores agravantes
fizeram com que a população das cidades crescesse. Estas são as principais
barreiras que impedem que os novos países desenvolvam-se. A cooperação coletiva
para a solução desses problemas deu origem a uma diversidade de organizações
supranacionais que se baseiam na ideia do pan-africanismo,
ou a totalidade dos povos africanos unidos no entorno dos interesses comuns; a
de maior importância é a Organização da
Unidade Africana (OUA).
Com
a Revolução Industrial, a exploração das fontes de energia sofreu uma de suas
mais importantes guinadas. O desenvolvimento de novas tecnologias e a produção
em larga escala motivou a busca por novos combustíveis. Nesse contexto, entre
os séculos XVIII e XIX, o carvão mineral se tornou indispensável para o
funcionamento dos primeiros motores movidos a vapor. Nos dias de hoje, após
sofrer uma acentuada queda em seu uso, o carvão mineral dá sinais de
recuperação com as crises do setor petrolífero. Nos primeiros anos do século
XX, a popularização dos automóveis ampliou ainda mais a demanda internacional
por combustíveis de alto desempenho. Dessa forma, os combustíveis fósseis somente
empregados na obtenção do querosene passaram a ser fonte de obtenção da
gasolina. Algumas décadas mais tarde, essa mesma tendência transformou o diesel
em um combustível de grande uso a partir da 2ª guerra mundial.
Os
economistas assumiram que o estudo das ações econômicas do homem poderia ser
feito abstraindo-se as outras dimensões culturais do comportamento humano:
dimensões morais, éticas, religiosas, políticas, etc., e concentraram seu
interesse naquilo que eles identificaram como as duas funções elementares
exercidas por todo e qualquer indivíduo: o consumo e a produção. O homo economicus nada mais é do que um
fragmento de ser humano, a sua parcela que apenas produz e consome no mundo das
mercadorias, cujo único critério de verdade apoiava-se na evidência. O conceito
de homo economicus é um postulado da racionalidade global vigente. É
caracterizada pelo triunfo dos economistas que encontraram nele, a semelhança
dos biólogos no que se refere ao darwinismo social, e na psicologia propriamente dita sustentada na explicação de uma teoria do comportamento
coerente. No
século XIX, gás, carvão e querosene feitos de petróleo eram usados como
combustíveis e em lâmpadas. Os motores dos carros novos pediam quantidades sem
precedentes de petróleo. Nos primeiros anos do século XX, o automóvel estava no
caminho para se tornar o principal meio de transporte no ambiente urbano.
Surgiu, então, uma necessidade por novos combustíveis. Os motores de automóveis
usavam combustíveis que tinham o petróleo como matéria-prima. Refinarias não
poderiam converter petróleo em gasolina suficientemente rápido conforme os
carros e outros veículos iam saindo da linha de montagem das fábricas. Além
disso, o que restava do processo de refinamento era desperdiçado ou derramado
no meio ambiente. A invenção e desenvolvimento do automóvel exigiam em paralelo
com os combustíveis. Havia uma necessidade crescente na economia de melhoria no
processo de refino de combustíveis que impedisse batidas do motor e aumentassem
sua eficiência - especialmente para os novos motores de alta compressão de
automóveis que estavam sendo projetados.
Os
processos para melhorar o rendimento da gasolina a partir de petróleo bruto são
conhecidos como cracking. No refino
de petróleo, cracking é um processo
pelo qual moléculas de hidrocarbonetos pesados são quebradas, por meio de
calor, pressão e catalisadores tornando-se o principal processo da produção de
gasolina. Em 1913, o “craqueamento” térmico foi inventado por William Meriam
Burton, um processo que empregava calor e altas pressões. Em 9 de dezembro de
1921, o engenheiro Thomas Midgley Jr. da General
Motors descobriu que adicionando chumbo a gasolina se reduz a trepidação e
o barulho na combustão interna do motor. O recém-inventado sistema de ignição
por fagulha não suportava a pressão explosiva da gasolina, que fazia os carros
superaquecerem, gerando trepidação e barulho ao motor parecendo que partes
estavam soltas. Midgley descobriu que adicionando chumbo tetraetílico a
gasolina torna a redução da reação química menos combustível, fazendo com que o
motor trabalhe com mais suavidade. Apesar de outros compostos encontrados terem
o mesmo efeito, o chumbo era o composto mais barato e assim a mistura podia ser
patenteada com maior margem de lucros. Midgley foi envenenado por chumbo devido
ao manuseio e não pôde estar presente na compra de gasolina com adição de chumbo
em 1923 por estar doente.
Dois
de seus assistentes também morreram de envenenamento por chumbo e cerca de
quarenta empregados da fábrica que trabalhava sofrerem severos danos neurológicos
pelo contato com o produto químico. Somente após décadas de insistente utilização
por empresas de óleo e automobilística foi admitido que o chumbo fosse muito perigoso.
Embora a gasolina com chumbo tenha sido substituída nos Estados Unidos da
América (EUA) e outros países competitivos na década de 1970, a gasolina com
chumbo ainda está em uso em algumas partes autônomas da Europa Oriental,
América do Sul e no Oriente Médio. Combustíveis alternativos, também conhecidos
como combustíveis não convencionais, são materiais ou substâncias que podem ser
utilizados como combustíveis, com exceção ou em substituição dos combustíveis
convencionais, ou seja, são uma alternativa aos combustíveis fósseis (petróleo,
carvão, propano e gás natural), e de materiais nucleares, como urânio. O
impulso que estas novas fontes de energia receberam nos últimos tempos, desde a década de 1950, devem-se, sobretudo na diminuição dos impactos ambientais devidos ao uso de
combustíveis fósseis, assim como uma maior racionalização de meios e recursos
técnicos, humanos e financeiros.
O
termo discurso pode também ser definido do ponto de vista formal lógico. Quando
pretendemos significar algo a outro é porque temos a intenção de lhe transmitir
um conjunto de informações coerentes - essa coerência é uma condição essencial
para que o discurso seja entendido. São as mesmas regras gramaticais utilizadas
para dar uma estrutura compreensível ao discurso que simultaneamente funcionam
com regras lógicas para estruturar o pensamento. Um discurso político, por
exemplo, tem uma estrutura e finalidade muito diferente do discurso econômico,
mas politicamente pode operar a dimensão econômica produzindo efeitos sociais
específicos em termos de persuasão. Os economistas assumiram que o estudo das
ações econômicas do homem poderia ser feito abstraindo-se as outras dimensões
culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas,
políticas, etc., e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram
como as duas funções elementares exercidas por todo e qualquer indivíduo e as formas de reprodução da existência: o consumo e a produção. O “homo
economicus” nada mais é do que um fragmento de ser humano, a sua parcela que
apenas produz e consome no mundo das mercadorias, cujo único critério de
verdade apoiava-se na evidência. O conceito de “homo economicus” é postulado vigente na modernidade. É caracterizada pelo triunfo
dos economistas que encontraram nele, a semelhança dos biólogos no darwinismo,
e na psicologia uma teoria do comportamento coerente.
O
trabalho dos frentistas situa-se em um contexto de serviço de atendimento ao
público consumidor de gasolina com a utilização de veículos automotivos. A atividade
sintetiza e integra os diferentes fatores técnicos e sociais que estruturam o
processo de trabalho. É na situação real de trabalho que a atividade produtiva dá
visibilidade aos determinantes que condicionam a sua interação com o ambiente. A
função de uma bomba de combustível diz respeito ao deslocamento do combustível
que está no tanque para o sistema de alimentação do motor, subsumindo, assim,
todas as suas condições nas etapas do processo de trabalho e comunicação, como
carga, rotação e temperatura. Existem dois tipos de bombas: a mecânica,
presente nos carros carburados e movidos por um eixo; e a elétrica, que equipa
os veículos com injeção eletrônica e é acionada por um motor elétrico. Entre os
modelos de bombas elétricas estão as do tipo interna e externa ao tanque. A
primeira fica submersa e aspira ao combustível do fundo do tanque,
impulsionando-o através de um tubo de abastecimento aos bicos injetores. A
segunda, do tipo externa, está fixada no chassi do veículo, próxima ao tanque
ou ao motor, e suga o combustível por um tubo coletor dentro do próprio tanque.
Até
meados da década de 1990, houve a interferência do Estado brasileiro na
distribuição e revenda de combustíveis automotivos contemplava o controle de
preços, margens de comercialização e fretes. Depois, iniciou-se um processo de
liberalização de preços em toda a cadeia produtiva de petróleo, gás natural e
combustível, além de gradual redução dos subsídios governamentais. Mas foi
somente a partir da Lei do Petróleo nº 9.478/1997 que a liberalização no
mercado de combustíveis automotivos se deu de modo mais efetivo, tendo sido
concluída em 31 de dezembro de 2001. A partir dessa data, os reajustes nos
preços dos combustíveis passaram a caber exclusivamente a cada agente econômico
– do poço ao posto revendedor –, que estabelecem seus preços de venda e margens
de comercialização em cenário de livre concorrência. A Lei do Petróleo também
criou a ANP e conferiu-lhe a competência para desenvolver uma política
energética nacional no que se refere a petróleo, gás natural e combustível, com
ênfase na garantia do suprimento de derivados de petróleo, de gás natural e
seus derivados e de biocombustíveis em todo o território nacional, e na
proteção dos interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta desses
produtos.
Dado
que a Agência não controla preços ou quantidades de quaisquer produtos, essas
atribuições legais devem ser exercidas por meio da proteção do processo
competitivo nos mercados, uma vez que a Lei do Petróleo estabelece, também, a
promoção da livre concorrência de mercado entre os princípios e objetivos da
política energética nacional. Desde a década de 1990 tem ocorrido a liberação
dos preços de gasolina automotiva e etanol hidratado combustível nas unidades
de comércio atacadista e varejista, bem como das margens de comercialização dos
postos revendedores e das distribuidoras nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste,
nos estados de Goiás e do Mato Grosso do Sul, no Distrito Federal e na Base de
Barra do Garça (MT), conforme Portaria MF nº 59/1996), tendo em vista que é município
brasileiro, localizado na Região Centro-Oeste, no estado de Mato Grosso, do
qual é o nono município mais populoso, com população de 58 974 habitantes,
conforme a estimativa do IBGE de 2017. Extensão dessas medidas aos estados de
Tocantins e do Mato Grosso e aos municípios de Porto Velho (RO), Manaus (AM) e
Belém (PA) - (Portaria MF nº 292/1996). Houve o estabelecimento do prazo de 36
meses para conclusão do processo de liberalização dos preços dos combustíveis
automotivos, em agosto de 2000 (Lei do Petróleo), e liberalização das margens de
distribuição e de revenda de óleo diesel em todo o território nacional
(Portaria Interministerial MF/MME nº 293/1997).
Assim
como a liberação dos preços de gasolina automotiva e etanol hidratado
combustível nas unidades de comércio atacadista e varejista, bem como as
margens de comercialização dos postos revendedores e das distribuidoras nas
localidades não contempladas anteriormente, conforme a portaria Interministerial
MF/MME nº 28/1999. A Lei nº 9.990, de 21 de julho, estende o prazo estipulado
pela Lei do Petróleo e estabelece nova data para que se finalize o processo de
liberalização de preços de combustíveis: 31 de dezembro de 2001. A Portaria
Interministerial MF/MME nº 240, de 27 de julho de 2001, libera os preços de
venda, em todo o País, de óleo diesel nas unidades de comércio atacadista e
varejista. O processo de abertura do mercado brasileiro de combustíveis é
finalizado na data prevista, 31 de dezembro de 2001, com a liberação dos preços
nas unidades produtoras onde ainda vigorava controle. De 1º de janeiro de 2002 em
diante passou a vigorar o regime de liberdade de preços no mercado de
combustíveis automotivos. É neste sentido que transparece o véu da noiva.
Do
ponto de vista da análise de conjuntura poder de barganha significa no mercado
o poder de troca; permuta. Mas barganhar que representa o ato de trocar pode
definir na formação do nível de análise econômica de forma fraudulenta não um
objeto por outro. Mas a força de uma pessoa (monopólio) ou grupo (oligopólio)
ao discutir preços, colocando pressão e exigindo, por exemplo, maior qualidade
em menor preço. Barganha tem origem na palavra inglesa bargain, que
representa o verbo barganhar em português. Em sentido figurado, barganha com o
“jeitinho” brasileiro pode ser sinônima de trapaça, porque pode representar uma
transação fraudulenta. Poder de barganha comparativamente compõe dois dos
fatores deste modelo. O poder de barganha dos compradores é uma das cinco
forças, é a capacidade de barganha dos clientes para com as empresas do setor.
Este “campo” tem a ver com o poder de decisão dos compradores sobre os
atributos do produto. Principalmente quanto a preço e qualidade, quando
clientes exigem qualidade por um menor preço de bens e serviços, forçando os
preços, aumentando o consumo e concorrentes uns contra os outros.
Neste
sentido, os setores variam de acordo com as forças competitivas básicas e a
compreensão dessas forças torna-se fundamental para se elaborar a estratégia e
garantir uma vantagem. Michael Porter (1979) argumentava que, embora a melhor
estratégia para qualquer dada empresa dependesse de suas circunstâncias
específicas, no nível mais amplo uma empresa só pode assumir três posições
defensáveis que lhe permitirão lidar com sucesso com as cinco forças
competitivas, assegurar um retorno superior sobre os investimentos para seus acionistas
e ter um desempenho superior ao de seus concorrentes no longo prazo.
Finalmente, do ponto de vista meramente econômico a análise das fontes da
vantagem competitiva tinha que ocorrer não no nível da empresa como um todo,
mas no nível das atividades distintas que uma empresa realiza para projetar,
produzir, comercializar, entregar e oferecer suporte ao seu produto. Em suma,
em todas as empresas haveria uma cadeia de atividade que gerava valor para seus
clientes, e somente por meio da cuidadosa análise nessa “cadeia de valor” é que
a empresa poderia encontrar fontes de vantagem competitiva, concorrencial e
sustentável.
O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) se solidarizou, nesta quinta-feira (24/05/2018), com
caminhoneiros que estão encampando uma paralisação desde segunda-feira (21/05)
contra os sucessivos aumentos no preço do combustível impostos pela
radicalização política do governo golpista de Michel Temer. Militantes do
movimento improvisaram uma cozinha em plena rodovia Presidente Dutra, em São
Paulo, e cozinharam em solidariedade para os grevistas. O gesto de
solidariedade do movimento, acostumado com marchas em estradas e grandes
mobilizações, vem independente da opinião dos caminhoneiros com relação ao
próprio Movimento dos Trabalhadores Sem Terras. Entre os grevistas há as mais variadas opiniões políticas até
mesmo contraditórias, como aquelas que vêm sendo formulada desde o golpe de
Estado de 2016 pela rede Globo de televisão que dão conta de apoiar uma intervenção cirúrgica civil-militar,
ideia que é rechaçada pelos sem-terra.
Bibliografia
geral consultada.
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da Situação da Produção de Etanol e Biodiesel no Brasil”. In: Estudos
Avançados, 24 (68) 2010; CAMPOS, Silvia Kanadani, Fundamentos
Econômicos da Formação de Preço Internacional de Açúcar e dos Preços domésticos
de Açúcar e Etanol. Tese de Doutorado em Economia Aplicada. Piracicaba:
Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz. Universidade de São Paulo, 2010; DIEHL,
Daiane, Formação do Preço do Etanol
Hidratado no Estado de São Paulo e sua Relação com os Mercados de Açúcar e
Gasolina. Tese de Doutorado em Ciências. Piracicaba: ESALQ - Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. USP - Universidade de São Paulo, 2012;
HUERTAS, Daniel Monteiro, Território e
Circulação: Transporte Rodoviário de Carga no Brasil. Tese de Doutorado.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Geografia. Universidade de São Paulo,
2013; AVILA, Rôber Hurriel, As
Relações de Causalidade Estrutura-Sujeito em Veblen e em Marx: Perspectivas
Inconciliáveis? Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Economia.
Faculdade de Ciências Econômicas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2013; CRUZ, Murillo, Thorstein Veblen: O Teórico da Economia
Moderna, Teoria Econômica, Psique e Estética da Ordem Patriarcal. E-book,
2014; TISESCU, Alessandra Devulsky da Silva, Aglietta e a Teoria da Regulação: Direito e Capitalismo. Tese de Doutorado. Faculdade de Direito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; REZENDE, Marcelo Sartorio, Investimentos
Industriais no Brasil: Uma análise setorial do período 1999-2013. Tese de
Doutorado. Instituto de Economia. Universidade Estadual de Campinas, 2016; MEDEIROS, Wesley José Nogueira, Modelo para Determinação de Resiliência em Sistemas de Transportes: Uma Aplicação no Sistema de Tráfego Aéreo. Dissertação de Mestrado. Escola Politécnica. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018; entre outros. entre
outros.
“Uma
boa lei eleitoral não é tudo, mas é muito”. Assis Brasil
Em 1916, o presidente brasileiro Wenceslau
Brás, preocupado com a seriedade do processo eleitoral, sancionou a Lei 3.139,
que entregou ao Poder Judiciário o preparo do processo de trabalho de alistamento
eleitoral. Por confiar ao Judiciário o papel de principal executor das leis
eleitorais, muitos percebem nessa atitude o ponto de partida para a criação da
Justiça Eleitoral, que só viria, entretanto, acontecer em 1932. Morreu em 15 de
maio de 1966, em Itajubá, com 98 anos, sendo considerado o mais longevo de
todos os presidentes e vice-presidentes brasileiros e o político que permaneceu
mais tempo na condição de ex-presidente da República, morrendo exatos 47 anos e
6 meses depois de deixar o cargo da Presidência. Portanto, a justiça eleitoral brasileira
foi criada tardiamente pelo Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, tendo
sua representação em torno das ideias pela chamada Revolução de 1930 ou golpe
de Estado 1930. Em 1932 foi promulgado o Código Eleitoral brasileiro, inspirado
na Justiça Eleitoral Checoslovaca e nas ideias do político Joaquim Francisco de
Assis Brasil.
O Código Eleitoral de 1932 criou a
Justiça Eleitoral que passou a ser responsável pelo processo de trabalho
eleitoral desde o alistamento, organização das mesas de votação, apuração dos
votos, reconhecimento e proclamação dos eleitos. Além disso, há a
regulamentação processual em quase todo
o país das eleições federais, estaduais e municipais. O Código introduziu o
voto secreto, o reconhecimento do voto feminino e o sistema de representação
proporcional, em dois turnos simultâneos. Pela primeira vez, a legislação
eleitoral fez referência à existência dos partidos políticos, mas ainda era
admitida a “candidatura avulsa”. Esse código já previa o uso de “máquina de
votar”, o que só veio a se efetivar na década de 1990. A Revolução
Constitucionalista de 1932 exige a convocação de uma Assembleia Nacional
Constituinte, realizada pelo Decreto nº 22.621/1933, que estabeleceu que, além
dos deputados eleitos na forma prescrita pelo Código Eleitoral, outros 40
seriam eleitos pelos sindicatos
legalmente reconhecidos, pelas associações de profissionais liberais e de
funcionários públicos das estatais.
As
críticas ao Código Eleitoral de 1932 levaram, em 1935, à promulgação do segundo
Código, a Lei nº 48, que substituiu o primeiro sem alterar as conquistas de até
então. Em sua primeira fase (1932-1937), três importantes pleitos foram
organizados pela Justiça Eleitoral: em 1933, quando foram escolhidos os
constituintes nacionais; em 1934, quando foram escolhidos os constituintes
estaduais e, em 1935, quando foram escolhidos prefeitos e vereadores. Em 1935,
os termos prefeito e vereador substituíram a denominação de “intendente” e
“conselheiro municipal”. Para 1938 se esperava a eleição presidencial, contudo,
com o golpe de Estado em novembro de 1937 Getúlio Vargas outorgou uma nova
Constituição, conhecida como “Polaca”, por ter sidoinspirada na Lei Maior daquele país, e que
não recepcionou a Justiça Eleitoral. Assim, era extinta a Justiça Eleitoral, que só voltaria a ser reorganizada em
1945, com o fim do Estado Novo. A “polaca”, como ficou conhecida a Constituição
de 1937, extinguiu a Justiça Eleitoral, aboliu os partidos políticos
existentes, suspendeu as eleições livres e estabeleceu eleição indireta para
presidente da República, com mandato de seis anos.
O
golpe conhecido Estado Novo sofre a oposição dos intelectuais, estudantes,
religiosos e empresários. Em 1945, Getúlio Vargas anuncia eleições gerais e
lança Eurico Gaspar Dutra, seu ministro da Guerra, como seu candidato. Oposição
e cúpula militar se articulam e dão o golpe de 29 de outubro de 1945. Os
ministros militares destituem Getúlio Vargas e passam o governo ao presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), José Linhares, também presidente do TSE, até
a eleição e posse do novo presidente da República, o general Dutra, em janeiro
de 1946. Era o fim do Estado Novo. O Decreto-Lei nº 7.586, de 28 de maio de
1945 determina novamente a criação da Justiça Eleitoral, e o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) é criado em 2 de junho daquele ano. Já em 2 de dezembro são
realizadas as eleições para presidente da República e Assembleia Nacional
Constituinte. A Carta Política de 1946 recepciona a Justiça Eleitoral que, a
partir do golpe militar de 1° de abril de 1964, passa a ter uma função apenas
acessória. Com a 1ª eleição pós-redemocratização (1986) ao último pleito
(2008), foram realizadas 14 eleições, com plebiscito (1993) e referendo (2005).
Atualmente, a existência e
regulamentação da Justiça Eleitoral do Brasil está determinada nos artigos 118
a 121 da Constituição Federal de 1988, que estabelece que é competência
privativa da União legislar sobre Direito Eleitoral e, ainda, que: “Art. 121.
Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos
juízes de direito e das juntas eleitorais”. Como tal lei complementar ainda não
foi instituída, as principais leis que regem o Direito Eleitoral são o Código
Eleitoral de 1965, a Lei 9.504, de 1997, a Lei dos Partidos Políticos, de 1995,
a Lei 12.034 de 2009 e as periódicas resoluções normativas do Tribunal Superior
Eleitoral, que regulam as eleições com força de lei. Estas normas, em especial
o Código Eleitoral de 1965, concedem ao TSE poderes característicos do Poder Executivo
e do Poder Legislativo. Assim, o Tribunal Superior Eleitoral é o único órgão integrante da justiça brasileira
que detém funções administrativa e normativa que extrapolam seu âmbito
jurisdicional.
A campanha do voto feminino no Brasil alcançou seu grande êxito somente na década de 1930.
Depois desse período, a nova
legislação que passou a reger as eleições foi o Código Eleitoral de 1965,
criado pela Lei 4.737, aprovada pelo Congresso Nacional. Esse é o Código que
vigora até os dias atuais e trouxe novas regras para o processo eleitoral. Entre
as novidades, ampliou e passou a disciplinar as atribuições dos juízes
eleitorais de cada localidade, instituiu a votação no exterior para os cargos
de presidente e vice-presidente da República, entre outras garantias, como a
determinação para que ninguém pudesse atrapalhar ou impedir o exercício do
sufrágio. Inicialmente, o Código de 1932 tinha apenas 144 artigos, enquanto o
Código de 1965 foi publicado em 15 de julho com 383 artigos. Leis foram
aprovadas pelo Congresso Nacional para o processo eleitoral: Lei dos Partidos
Políticos (Lei 9.096/95), a Lei das Eleições (Lei 9.504/97), a Lei de
Inelegibilidade (Lei Complementar 64/90) e a Lei da Ficha Limpa (Lei
Complementar 135/2010), além das diversas resoluções aprovadas pelo TSE para
cada eleição. Ainda que tenha sido instituído há mais de oito décadas, o Código
Eleitoral fixou as bases para um processo eleitoral democrático que rege o
nosso país atualmente.
A Justiça Eleitoral editou o e-Título, aplicativo que permitirá aos
eleitores acessarem uma via digital do título eleitoral por meio do seu smartphone ou tablet. A novidade é uma iniciativa do Tribunal Regional Eleitoral
do Acre (TRE-AC) que foi abraçada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e será
adotada em todo o país. No aspecto sustentável, o e-Título surge como
alternativa à emissão de títulos eleitorais em papel e trará ainda economia
perceptível na redução dos custos da Justiça Eleitoral, como a emissão de
segundas vias dos títulos extraviados, suprimentos de impressora, entre outros.
Para o eleitor, o benefício virá na facilidade de ter os seus dados eleitorais
sempre seguros e disponíveis, diminuindo os riscos de extravios e danos ao
título de eleitor. Segundo o presidente do TSE, trata-se de um projeto que
vislumbra, a um só tempo, a utilização mais eficiente e sustentável de recursos
públicos – “o que, mais do que nunca, merece a nossa atenção” –, bem como o
favorecimento do eleitor, com a eliminação da necessidade de emissão de segunda
via de documentos extraviados ou danificados. - “Isso significa economia de
tempo, evitando-se deslocamentos aos cartórios eleitorais, e também o
retrabalho dos servidores da Justiça Eleitoral”.
Por
conter a palavra tribunal em seu nome, é chamado de Justiça Eleitoral,
assumindo toda administração executiva, operacional e boa parte da normatização
do processo eleitoral. Os juízes
eleitorais são nomeados pelo TRE respectivo dentre juízes de direito oriundos
da magistratura estadual, que acumulam as duas funções durante o período em que
nomeados para jurisdição eleitoral. O
Presidente do respectivo TRE nomeia os membros da Junta Eleitoral sessenta (60)
dias antes das eleições, após a aprovação pelo Tribunal. A sede da Junta
Eleitoral será definida pelo Presidente do TRE respectivo, coincidindo, na
maioria das vezes, com a sede do Juízo Eleitoral. Observe que os membros da
Junta Eleitoral, à exceção de seu presidente, são juízes não togados (juízes
leigos), que são nomeados dentre cidadãos da comunidade, eleitores na Zona
Eleitoral correspondente, bastando para serem nomeados que tenham idoneidade
moral.
Este
órgão toma para si todas as etapas do processo eleitoral, desde o registro de
eleitores e de candidatos, a decisão sobre quem pode ou não ser candidato,
sobre quais partidos políticos podem ou não existir sobre os mecanismos de
votação, decide monocraticamente sobre a validade da decisão dos eleitores e,
principalmente, toma para si a manipulação do processo de apuração, feito entre
quatro paredes sem a presença e o acompanhamento dos eleitores e dos candidatos.
Em qualquer democracia, o processo eleitoral deve estar sob o controle da massa
dos eleitores. Pois o poder constituinte originário e permanente cabe
unicamente à sociedade civil organizada, que através do processo eleitoral deve
decidir as regras pelas quais o poder político será transferido a seus
representantes eleitos. A restauração da democracia passa
necessariamente pela reorganização completa da maneira pela qual são realizadas
as eleições, para que assim, os eleitores retomem em suas mãos o controle de
todo o processo eleitoral, para que se possa dessa forma assegurar a
transparência das eleições.
Nas
conturbadas eleições do governo provisório de Getúlio Dornelles Vargas, um fato
político entrou para a história da Justiça Eleitoral brasileira: o assassinato
do magistrado gaúcho Moisés Viana. Sua morte foi um marco já que, impedindo que
a eleição se decidisse nos moldes propostos pela República Velha através da
fraude, intimidação e violência, o juiz fez prevalecer uma nova ordem política
afiançada pelos agentes estatais imparciais, embora à custa de sua vida. Em
1990 o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul instituiu a uma medalha
com seu nome. Quanto ao primeiro Código, além da previsão de inclusão do voto
feminino, há uma curiosa referência a uma “máquina de votar”. A lei, na
verdade, admitia a possibilidade de que um “aparelho mecânico” fosse
oficialmente aproveitado em pleitos. Vale lembrar que a Justiça Eleitoral é uma
das bandeiras dos revolucionários de 1930, que tinham na luta contra a fraude
eleitoral uma questão de honra. Mais de 80 anos depois, há urna
eletrônica, que compõe mais um princípio ético na busca por eleições limpas.
Uma
constituição envolve a distribuição de poder na sociedade civil e o modo de
usar socialmente o poder político estatal. As constituições anteriores puderam
ser protegidas pelos privilégios que a extrema concentração de prestígio social,
de riqueza e de poder conferiam às frações das classes dominantes. Elas não se
viram ameaçadas, apesar de três constituições terem sido promulgadas depois da
revolução política de 1930, como em 1934, 1937 e 1946. A crítica fundamental
volta-se aparentemente contra a extensão e as contradições internas do projeto.
Poder-se-ia retirar do texto uns cem ou centro e cinquenta artigo, desde que
prevalecesse o sentido democrático libertário e igualitário da Carta Magna. Aí
se acha o aspecto básico sobre o qual se deve insistir. Acima de tudo,
carecemos de uma constituição “viva”, que fomente a transformação de corações e
mentes, forje a civilização da sociedade e institua a democratização do Estado.
Em síntese, necessitamos de uma constituição dinâmica, que nos possa ajudar a
construir uma nova sociedade. Que não se atenha à reprodução a ordem, com suas
mazelas, mas estabeleça a base legal para a extinção das mazelas e para a
criação de uma ordem social que consagre “tudo o que é humano”. Uma
constituição analítica e dinâmica enfeixaria em nossas mãos a conquista de
novos rumos e ritmos históricos.
A experiência da urna eletrônica e sua evolução foi tema de palestra no TSE.
Em
1989 é realizada a 1ª eleição presidencial após a ditadura militar. Em 1990, no
município de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Justiça Eleitoral realizou o
“I Seminário Brasileiro de Direito Eleitoral”. Presentes ao evento compareceram
desembargadores representados pelos mais diferentes Tribunais Regionais e
vários outros operadores de Direito Eleitoral, além de Ministros do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Neste encontro, fez-se o diagnóstico da instituição
até aquele momento, destacando-se a preocupação com o desperdício de
investimentos no treinamento de funcionários cedidos ou requisitados que
acabavam voltando ao órgão de origem. A Justiça eleitoral por não dispor de
quadros para ocupar as vagas em cartórios eleitorais necessitava da colaboração
de prefeituras municipais para a cedência de funcionários. No ano 2000 foi
apresentado projeto de Lei no Congresso Nacional tratando da criação dos
quadros de primeiro para a Justiça Eleitoral. A tramitação do projeto avançou com
a reunião de avaliação das eleições de 2002 quando o presidente do TSE,
ministro Nelson Jobim comprometeu-se com a gestão política do projeto junto ao
Congresso nacional.
Em
sua segunda fase, a Justiça Eleitoral teve de enfrentar o rápido avanço do
eleitorado brasileiro, que aumentou estatisticamente mais de 10 vezes nos quase
50 anos entre 1945 e 1994, passando de 7.432.765 para 94.743.043. A história
das eleições está repleta de casos de urnas sumidas, trocadas, apuradores
infiéis, juízes suspeitos. Na apuração manual, contudo, sempre existia a
possibilidade de uma recontagem, da comprovação de cédulas fraudadas. A partir
de 1982, a informática foi lentamente sendo empregada pela instituição. Iniciando-se
com a informatização dos processos de totalização de resultados, como se
comprova pelo Caso Proconsult, intensificando-se em 1986 com o recadastramento
nacional de eleitores, chegando finalmente ao decisivo processo de voto
eletrônico, em cidades com mais de 200.000 eleitores (1996), posteriormente em
municípios com mais de 40.500 (1998) até ter atingido o país no pleito
municipal de 2000. A partir de 2001, mais de 50 países enviaram representantes
para conhecer a inovação de urna eletrônica brasileira e vários países da
América Latina utilizaram, em eleições oficiais, prévias partidárias, ou
simulações, os equipamentos brasileiros: Paraguai, Argentina, México, Equador e
República Dominicana. A partir de 2005, iniciaram-se os trabalhos tecnológicos
de planejamento e implantação do recadastramento biométrico de eleitores
obrigatório em todo território nacional. Depois destas experiências, nenhum
deles adotou mais o modelo do equipamento brasileiro.
Convém
aqui rememorar um caso que se tornou famoso pelas circunstâncias: o citado Caso
Proconsult, nas eleições de 1982, no Rio de Janeiro, quando se elegiam
governadores pelo voto direto, depois de um longo interregno de escolhas
indiretas impostas pela ditadura do regime militar. Mais ainda: vários ex-cassados
retomavam carreiras políticas interrompidas pela força bruta da política 18
anos antes. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) decidiu informatizar a fase
final da apuração, isto é, o somatório final dos mapas produzidos manualmente
pelas juntas de apuração em cada zona eleitoral. A firma contratada para isto
foi a Proconsult que tinha entre seus especialistas pessoas ligadas ao Serviço Nacional de Informações (SNI) e
a outros órgãos da chamada comunidade de informações. Sem que os partidos
pudessem exercer seu direito de fiscalização, esse decisivo ponto da apuração
representava uma alienação do voto, uma vez que o TRE estava desaparelhado para
garantir a lisura do somatório final e, além disso, alienava o seu dever de
garantir a honestidade eleitoral, ao entregar a responsabilidade social do
veredicto final do pleito a uma empresa particular.
A
Justiça Eleitoral é um órgão de jurisdição especializada que integra o Poder
Judiciário e cuida da organização do processo eleitoral: alistamento eleitoral,
votação, apuração dos votos, diplomação dos eleitos, etc.. Logo, trabalha para
garantir o respeito à soberania popular e à cidadania. Para que esses
fundamentos constitucionais – previstos no art. 1º da Constituição Federal de/1988
– sejam devidamente assegurados, são distribuídas competências e funções entre
os órgãos que formam a Justiça Eleitoral. Aliás, são eles: o Tribunal Superior
Eleitoral, os tribunais regionais eleitorais, os juízes eleitorais e as juntas
eleitorais. O Tribunal Superior Eleitoral é composto de, no mínimo, sete
membros, sendo eles: três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF); dois
ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ); e dois ministros dentre
advogados indicados pelo STF e nomeados pelo presidente da República (art. 119
da CF/1988). Algumas de suas principais competências judiciárias são: (i) processar e julgar originariamente o registro e a cassação de registro de partidos políticos, dos seus diretórios nacionais e de candidatos à Presidência e Vice-Presidência da República; (ii) julgar recurso especial e recurso ordinário interpostos contra decisões dos tribunais regionais; (iii) aprovar a divisão dos estados em zonas eleitorais ou a criação de novas zonas; (iv) requisitar a força federal necessária ao cumprimento da lei, de suas próprias decisões ou das decisões dos tribunais regionais que a solicitarem, e para garantir a votação e a apuração; e (v) tomar quaisquer outras providências que julgar convenientes à execução da legislação eleitoral.
Os juízes eleitorais, por sua vez, são os juízes de
Direito de primeiro grau de jurisdição integrantes da Justiça Estadual e do
Distrito Federal (art. 32 do Código Eleitoral), sendo algumas de suas
atribuições5: (i) processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns, exceto o
que for da competência originária do Tribunal Superior Eleitoral e dos
tribunais regionais eleitorais; (ii) expedir títulos eleitorais e conceder
transferência de eleitor; e (iii) tomar todas as providências ao seu alcance
para evitar os atos ilícitos das eleições. Finalmente, as juntas eleitorais são
compostas de um juiz de Direito – que será o presidente da junta eleitoral – e
de dois ou quatro cidadãos de notória idoneidade (art. 36 do Código Eleitoral;
e art. 11, § 2º, da LC nº 35/1979), aos quais compete, por exemplo, resolver as
impugnações e demais incidentes verificados durante os trabalhos da contagem e
da apuração, bem como burocraticamente expedir diploma aos candidatos eleitos
para cargos municipais. Descritas
as composições e as competências dos órgãos da Justiça Eleitoral, nota-se que
esta funciona em uma dinâmica diferenciada de modo a permitir, por exemplo,
que, em sua esfera, atuem magistrados de outros tribunais, tais como do Supremo
Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e da Justiça Comum Estadual,
evidenciando, assim, a ausência de uma magistratura própria, organizada em
carreira. Outras peculiaridades dessa justiça especializada podem ser
observadas quando se descrevem algumas de suas funções. A Justiça Eleitoral
desempenha outros papéis nos limites de sua atuação, afora as funções
administrativa e jurisdicional, a saber, funções normativa e consultiva. Primeiramente,
a respeito da função administrativa, o juiz eleitoral administra todo o
processo eleitoral, independentemente de que um conflito de interesses lhe seja
submetido para solução, mesmo porque está investido do poder de polícia, que é
a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão
de interesse público concernente, por exemplo, à segurança, à ordem, aos costumes,
à tranquilidade pública, conforme art. 78 do Código Tributário.
Bibliografia
geral consultada:
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Janeiro: Editoras Vilas Boas, 1917; DUVERGER, Maurice, Droit Constitutionnel et Instituitions Politiques. Paris: Presses
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Niklas. “L’opinione pubblica”. In: Stato
di Diritto e Sistema Sociale. Napoli: Guida Editori, 1978; FERNANDES,
Florestan, A Constituição Inacabada. São
Paulo: Editora Estação Liberdade, 1989; HUME, David. “Trattato sulla Natura
Umana”. In: Opere. A cura di Eugênio
Lecaldano e Enrico Mistretta, vol. I. Bari: Casa
Editrice Laterza, 1993; BRAGA, Ubiracy de Souza, Das Caravelas aos Ônibus Espaciais: A Trajetória da Informação no Capitalismo. Tese de Doutorado em Ciências. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Departamento de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1994; GUILHON ALBUQUERQUE, José Augusto, “President Lula`s
Approach to Fragile States”. In: Anais da 25ª Reunião Brasileira de
Antropologia:Saberes e Práticas
Antropológicas Desafios para o Século XXI, volume 13, pp. 145-154, 2006; MENDES,
Paulo Sérgio Pinto, A Urna Eletrônica
Brasileira: Uma (Des) Construção Sociotécnica. Tese de Doutorado em
Ciências. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010; ALMEIDA
NETO, Manoel Carlos de, O Poder Normativo
da Justiça Eleitoral. Tese de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, 2013; SOUZA, Jessé, A Tolice da Inteligência Brasileira - ou como o país se deixa manipular
pela elite. 1ª edição. São Paulo: Editora Leya, 2015; Artigo: “TSE procura
um jeito de torcer a lei para impedir a candidatura de Lula”. In: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/midia/18/05/2018;
entre outros.
“L’agresseur n’est pas celui qui se revolte mais celui qui afirme”.
Maio de 68 em Nanterre
Manifestação em 29 de maio de 1968 em Paris.
Atingimos
na modernidade a compreensão do visível como visível e pari pasu do invisível como invisível, enquanto vínculo orgânico
que une o invisível ao visível concreto. Assim, é visível todo objeto ou
problema que se situa no terreno, e no horizonte, isto é, no campo estruturado
definido da problemática teórica de determinada disciplina teórica.
Impõe-se-nos tomar essas palavras ao pé da letra. Alguns autores ajudam-nos a
elucidar esses termos. A visão já não é então a representação de uma pessoa
individual, dotada da faculdade de “ver” a qual é exercida quer da atenção,
quer da distração. A vista é o fato imediato de suas condições estruturais. A
vista é a relação de reflexão imanente do campo da problemática sobre seus
objetos e seus problemas. A visão perde então seus privilégios religiosos da
“leitura sagrada”. Nada mais é que a reflexão da necessidade imanente que liga
o objeto ou o problema às suas condições de existência, que têm a ver com as
condições de sua produção. A rigor, não é mais o olho do espírito de uma pessoa
que vê o que existe no campo definido por uma problemática teórica. E esse
próprio campo que se vê nos objetos ou nos problemas que ele define, sendo a visão apenas a reflexão necessária do
campo de análise em seus objetos.
O
Quartier Latin deve seu nome à época
Medieval, quando os habitantes da zona eram estudantes que utilizavam o latim
para se comunicar. Desde a Idade Média, os estudantes do “Bairro Latino”
tiveram uma grande influência sobre a França, e durante os séculos XIX e XX
promoveram movimentos estudantis de grande transcendência política. O Quartier Latin foi um dos centros da
Revolução de Maio de 68. Depois de atravessar a Praça de Saint Michel, na qual
há uma enorme fonte com a figura de São Miguel lutando com um dragão, há
pequenas e encantadoras ruazinhas que formam o Bairro Latino. A partir desse
ponto, tudo que você verá são restaurantes e cafeterias que oferecem terraços
agradáveis com preços acessíveis. Embora haja muitas ruas com restaurantes
agradáveis, uma das principais artérias do bairro é a Rue Huchette. O Quartier
Latin é um bairro que fica no quinto e no sexto distritos de Paris, na França.
Localiza-se na margem esquerda (sul) do Rio Sena, em torno da Universidade de
Sorbonne. O nome do bairro deriva do fato de o latim ter sido amplamente falado
próximo à universidade durante a Idade Média. Atualmente, ainda abriga vários
estabelecimentos de ensino superior, como a École Normale Supérieure, a École
des Mines de Paris e o Campus Universitaires de Jussieu. Durante os anos 1960,
especialmente em maio de 1968, foi um grande palco de contestação da sociedade.
Na modernidade os estudantes são um barômetro sensível às tensões que estão se acumulando nas profundezas da sociedade. A onda de manifestações e ocupações estudantis que precederam os acontecimentos de maio foi como um relâmpago que anuncia a tormenta. Nos meses anteriores a maio já havia uma efervescência entre os estudantes que havia se expressado em uma série de manifestações e ocupações. Frente à onda ascendente de protestos estudantis o reitor da prestigiosa universidade Sorbone decidiu fechá-la, era a segunda vez em seus setecentos anos de história. A primeira vez aconteceu em 1940 quando os nazistas ocuparam Paris. A tentativa da polícia de liberar o pátio da Sorbone em 03 de maio foi a centelha que acendeu o fogo. A violência irrompeu no “Bairro Latino”, com o resultado de mais de cem feridos e 596 presos. Os estudantes, os professores, os profissionais, camponeses, cientistas, jogadores de futebol, inclusive as bailarinas do Follies Bergères foram à luta. Em Paris os estudantes ocuparam a Sorbone. O teatro l`Odeon foi ocupado por 2.500 estudantes, inclusive do ensino médio nas escolas. A União Nacional de Estudantes da França (UNEF) e o Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESUP) convocaram greves indefinidas.
Em
6 de maio houve novos enfrentamentos no Quartier
Latin (“Bairro Latino”): 422 presos, 345 policiais e em torno de 600
estudantes feridos. A repressão utilizada através dos aparelhos de Estado
provocara uma indignação generalizada nas cidades. Os estudantes enfurecidos
arrancaram paralelepípedos do chão, utilizados como arma, para arremessar
contra os policiais e levantaram barricadas seguindo a boa tradição francesa.
Os estudantes das universidades na França saíram em seu apoio. Na noite de 10
de maio houve uma ampla revolta no Bairro Latino. Os manifestantes levantaram
barricadas e a polícia os atacou com grande violência. Homens armados da polícia
anti-distúrbios tomaram de assalto apartamentos privados e golpeou gente
simples e corrente, até mesmo o inclusivo caso de uma mulher grávida. Depararam-se
com uma resistência que não esperavam. Os parisienses de suas janelas
rechaçavam a polícia atirando vasos de plantas e objetos pesados. Dos 367
hospitalizados, 251 eram policiais, 720 pessoas feridas e 468 foram
presas. Carros foram destruídos ou queimados. O Ministro da Educação insultou
os manifestantes: “Ni doctrine, ni foi, ni loi”.
Começou
assim como uma série de greves estudantis que irromperam em algumas
universidades e escolas de ensino secundário em Paris, após confrontos com a
administração e a polícia. A tentativa do governo gaullista de esmagar essas
greves com mais ações policiais no Quartier
Latin levou a uma escalada do conflito, que culminou numa greve geral de
estudantes e em greves com ocupações de fábricas em toda a França. O símbolo
unificador dos protestos foi O Livro
Vermelho de Mao Tsé-Tung e sua inspiração imediata a Revolução Cultural Chinesa,
iniciada em 1966 em que o governo de Pequim usava massas de jovens enraivecidos
como “tropa de choque” para perseguir, humilhar, torturar e matar milhares de
adversários do regime. Alguns filósofos e historiadores afirmaram que esse
evento foi um dos mais importantes e significativos do século XX, porque não se
deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores e camponeses - que
eram maioria -, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas,
culturais, de idade e de classe. Além disso, teve intrínsecas ligações com os
acontecimentos do pós-guerra e com os da chaamda Guerra Fria.
Vale
lembrar que as noções sociológicas e política de “esquerda” e “direita” são
rótulos antigos, que remontam à clássica Revolução Francesa. Em 1789, a Assembleia
Nacional Constitutiva reuniu-se para decidir se, sob o novo regime político da
França, o rei deveria ter poder de veto. Em caso afirmativo, perguntava-se se
esse direito deveria ser absoluto ou simplesmente suspensivo, por um período de
tempo. Ao votar, os partidários do veto absoluto se sentaram ao lado direito do
presidente, o lado nobre. De acordo com a tradição cristã, é uma honra
sentar-se ao lado direito de Deus, ou à direita do chefe da família na hora do jantar.
Aqueles que queriam um veto altamente restrito estavam sentados à esquerda. A
organização da sala assumiu o significado político: à direita, aqueles apoiantes de uma
monarquia que procurou preservar os poderes do rei; à esquerda, aqueles que
desejavam reduzi-los. No século XIX, este vocabulário cada vez mais usado
para descrever as tendências políticas dos membros do parlamento francês.
Colocariam monarquistas versus republicanos e depois republicanos conservadores versus modernistas que programaram as principais reformas sociais da
Terceira República, mas que incluíam a liberdade de imprensa, a liberdade de
associação, o direito de pertencer a um sindicato e o divórcio, entre outras
coisas. Na virada do século 20, o debate político-ideológico entre esquerda-direita abrangeu essencialmente
a divisão entre os defensores do Catolicismo e os defensores da separação da
Igreja e do Estado. Esta mudança, que ocorreu em 1905, é muitas vezes referida
como “o choque das duas Franças” – católica e anticlerical. A partir da década
de 1930, a divisão surgiu, com a esquerda defendendo o socialismo e a
direita a liberalização econômica. Na década de 1970, a liberalização
dos costumes tornou-se questão
fundamental, com debates contínuos sobre aborto, divórcio, homoerotismo,
igualdade matrimonial, eutanásia, entre outros aspectos. O mesmo se aplica à
imigração e abertura à globalização que se opõe ao protecionismo cultural,
social e econômico.
Como
presidente, Charles de Gaulle (1890-1970) pôs fim ao caos político que precedeu
o seu regresso ao poder. Durante seu governo, promoveu o controle político da
inflação e instituiu uma nova moeda em janeiro de 1960. Também fomentou o
crescimento industrial. Apesar de ter apoiado inicialmente o domínio imperialista
francês sobre a Argélia, decidiu mais tarde “conceder” a independência àquele
país, encerrando uma guerra cara, violenta e impopular. A decisão dividiu a
opinião pública francesa, e De Gaulle teve que enfrentar a oposição dos colonos
chamados pieds-noirs e dos militares
franceses que tinham inicialmente apoiado seu retorno fabuloso ao poder. Em 13
de maio de 1958, os argelinos de origem europeia apelam ao general Charles De
Gaulle, fora do poder desde 1950, para manter a soberania da França sobre a
Argélia.
No
começo de 1958, o deputado democrata-cristão de Estrasburgo, Pierre Pflimlin,
estava sendo sondado para o cargo de primeiro-ministro da Quarta República.
Porém, havia a suspeita de que queria negociar um cessar-fogo com os rebeldes
da Frente Nacional de Libertação (FNL)
que lutavam pela independência da Argélia. Os gaullistas que militavam de corpo
e alma pelo retorno ideológico de De Gaulle ao poder encorajam os “Pieds-noirs”
- população francesa das antigas colônias no norte da África - à sedição contra
Pflimlin. Deixam entender que o general é a personalidade em melhores condições
estratégicas de manter os três departamentos argelinos da república francesa. De
Gaulle empreendeu o desenvolvimento de armas nucleares francesas e promoveu uma
política externa pan-europeia, buscando livrar-se das influências
norte-americana e britânica. Retirou da França, o comando militar da OTAN - Organisation du Traité de l'Atlantique Nord
apesar de continuar a ser membro da aliança ocidental - e por duas vezes vetou
a entrada do Reino Unido na Comunidade Europeia.
Viajou
frequentemente pela Europa Oriental e por outras partes do mundo quando
reconheceu a virada da China ao comunismo. Em 1967, durante uma visita oficial
ao Canadá, incentivou publicamente o Movimento pela Independência de Quebec, o
que causou a mais grave crise diplomática entre a França e o Canadá. Seu
discurso pronunciado em Montreal, no dia 24 de julho, foi concluído exatamente
com o slogan dos separatistas: “Viva o Quebec livre!”, o que foi interpretado
pelas autoridades canadenses como apoio do presidente francês ao movimento
autonomista. Foi alvo de três atentados confirmados, todos eles falhados. O
primeiro ocorreu em Paris, no ano de 1945, por atiradores furtivos alemães.
Outro em 8 de Setembro de 1961, organizado por Raoul Salan, uma bomba fabricada
com explosivo plástico explodiu perto de seu carro. O último aconteceu em 22 de
Agosto de 1962, quando seu carro foi crivado de balas, ficando o vidro traseiro
estilhaçado e os pneus estourados, num atentado que mais tarde foi narrado no best-seller “O Dia do Chacal”, de
Frederick Forsyth. Ainda em 1963, seria desbaratado um complô na Escola Militar
para enfim matá-lo. De Gaulle também enfrentou a oposição dos comunistas e
socialistas. Apesar de ter sido reeleito presidente em 1965, desta vez por voto
popular direto, em maio de 1968 parecia provável que perdesse o poder, em meio
a protestos generalizados de estudantes e trabalhadores. No entanto, sobreviveu
à crise com uma ampliação da maioria na Assembleia. Em 1969, depois de perder
um referendo sobre a reforma do Senado e a regionalização, renunciou.
-
“Morreu o general De Gaulle. A França ficou viúva”. Com essas palavras, opresidente Georges Pompidou anunciou em 10 de
novembro de 1970 a morte, aos 80 anos, do homem que libertou a França do
nazismo, presidiu o país durante longos 11 anos e devolveu sua aparente
grandeza. A notícia da morte, ocorrida na noite anterior em consequência de
aneurisma cerebral, levou 14 horas para ser divulgada. A primeira reação na
sociedade foi de surpresa e incredulidade. Estudantes esquerdistas ergueram
vivas ao ser anunciada a morte do estadista. Eles enxergavam em De Gaulle a “velha ordem” que precisava ser destruída. Georges Marchais, líder
do Partido Comunista Francês (PCF), declarou ao Estado: - “De Gaulle
representava a política contra a qual lutamos”. O general associou seu nome à
resistência francesa que lutou contra os invasores nazistas. – “É disso apenas
que desejo me lembrar neste momento”, acrescentou. Foi sepultado no túmulo da
família em Colombey-les-deux-Eglises.
O Maio de 68 representou uma grande onda
de protestos que teve início com manifestações
estudantis para pedir reformas no setor educacional. A maioria dos insurretos
era adepta a ideias esquerdistas, comunistas ou anarquistas. Muitos viam os
eventos como uma oportunidade para sacudir os valores conservadores,
contrapondo ideias avançadas sobre a educação, a sexualidade e o prazer. Entre
eles, uma barulhenta minoria, como o Occident,
professava ideias de direita. O começo de tudo ocorreu com uma série de
conflitos entre estudantes e autoridades da Universidade de Paris, em Nanterre,
cidade próxima à capital francesa. No dia 2 de maio de 1968, a administração
decidiu fechar a escola e ameaçou expulsar vários estudantes acusados de
liderar o movimento contra a instituição. As medidas provocaram a reação
imediata dos alunos de uma das mais renomadas universidades do mundo ocidental,
a vetusta Sorbonne, em Paris. Eles se reuniram no dia seguinte para protestar,
saindo em passeata sob o comando do líder estudantil Daniel Cohn-Bendit. A
polícia reprimiu estudantes com violência e durante dias as ruas de
Paris viraram cenário de brutais batalhas.
A partir de 68 o “modelo profético do
engajamento” passa a sofrer um acentuado declínio, atingindo em cheio os
privilégios do intelectual que, autônomo em relação aos partidos ou a quaisquer
organismos políticos, se punha a representar os interesses gerais, uma
universalidade personificada e estilizada pelo seu carisma. A especialização
resultante do fortalecimento das ciências humanas, somada à crescente divisão
do trabalho e a prevalência do paradigma científico, condicionou o cenário em
que o engajamento profético dos intelectuais veio a ser substituído pelo modelo
que conciliava o saber localizado e a luta política concreta, estabelecidos
mutualmente por limites estratégicos particulares, o “intelectual crítico
especializado” ou, segundo seu nome foucaultiano de batismo, o “intelectual específico”.
Daí a filosofia da diferença, embora avessa à teleologia dialética da história,
ganhar repercussão no círculo acadêmico e, sem ajuste ou adaptação, encontrar
afinidade de princípios junto a determinadas franjas da esquerda extraparlamentar.
Porque essa filosofia, inicialmente deleuzeana e depois esquizoanalítica, era
portadora de categorias que remetiam ao sentido dos engajamentos em curso, ela
mostrava-se capaz de indexar, na sua própria linguagem conceitual, a disposição
subjetiva de boa parte da militância “gauchista”, o “fundo rebelde irredutível”
que permaneceria ativo sob as diferenças de toda representação política.
O
Maio de 1968 tem sido reconhecido como a maior greve geral da história. Este
poderoso movimento aconteceu no auge da economia na esfera capitalista do
pós-guerra. A reação violenta do governo só ampliou a importância das
manifestações: o Partido Comunista Francês (PCF) anunciou seu apoio aos
universitários e uma influente federação de sindicatos convocou uma greve geral
para o dia 13 de maio. No auge do movimento, quase dois terços da força de
trabalho do país cruzaram os braços. Pressionado, no dia 30 de maio o
presidente Charles De Gaulle convocou eleições para junho. O movimento cresceu
tanto que proporcionalmente evoluiu para uma greve de trabalhadores que
balançou as estruturas e técnicas persuasivas do governo do presidente Charles
De Gaulle. Os universitários se uniram politicamente aos operários e promoveram
a maior greve geral da Europa, com a participação de cerca de 9 milhões de
pessoas. Isso enfraqueceu politicamente o general De Gaulle, que renunciou um
ano depois. Os acontecimentos de maio, com sua força bruta, não foram previstos
pelos analistas e estrategistas do capital, nem na França nem em nenhum lugar
do mundo.
O
general foi incapaz até mesmo de imprimir as cédulas do referendo devido à
greve dos trabalhadores das gráficas franceses e a negativa de seus colegas
belgas de atuar como fura greves. Este não foi o único exemplo de solidariedade
internacional. Os condutores de trens alemães e belgas detinham seus trens na
fronteira francesa para não romper a greve. As forças da reação, até esse
momento em estado de choque e obrigadas a estar na defensiva, começaram de fato
a se organizar. Foram criados Comitês de
Defesa da República (CDR), como tentativa de mobilizar a classe média
contra os trabalhadores e estudantes. A correlação de forças de classe não é
uma questão puramente numérica do tamanho da classe trabalhadora em relação ao
campesinato e da classe média em geral. Uma vez que o proletariado entre na
luta decisiva e demonstra ser uma força poderosa na sociedade, atrai
rapidamente a massa explorada de camponeses e de pequenos comerciantes de
classe média que são vítimas da usura dos bancos e dos monopólios. Este fato
era evidente como sodalidade em 1968, quando os camponeses levantaram bloqueios
nas estradas ao redor de Nantes e distribuíram comida grátis aos grevistas. Uma
importante característica da sodalidade é sua autonomia. Entendemos que há de
se diferenciar aqui autonomia de independência.
Uma
vez na luta, os trabalhadores começaram a ter iniciativas que ultrapassavam os
limites de uma greve normal. Um elemento fundamental na equação foram os meios
de comunicação de massas. Formalmente, são armas poderosas nas mãos do Estado,
mas também dependem dos trabalhadores, que fazem funcionar as emissoras de
rádio e televisão. No dia 25 de maio a rádio televisão estatal, a Office de Radiodiffusion-Télévision
Française (ORTF) entrou em greve. Suprimiram as notícias das oito da noite.
Os gráficos e jornalistas impuseram uma espécie de controle operário sobre a
imprensa. Os jornais burgueses tinham que submeter seus editoriais ao
escrutínio e deviam publicar as declarações dos comitês de trabalhadores. A Assembleia
Nacional discutiu a crise universitária e as batalhas do “Bairro Latino”.
Porém, os debates nos salões da assembleia já eram irrelevantes. O poder havia
escapado das mãos dos legisladores e agora estava nas ruas. No dia 24 de maio,
o presidente De Gaulle anunciou o referendo no rádio e na televisão. O plano de
De Gaulle de celebrar um referendo foi frustrado pela ação organizada
setorialmente pelos trabalhadores.
As
greves e ocupações de empresas multiplicam-se a partir de 13 de maio e
aumentam, diariamente durante semanas. A 20 de maio, uma semana depois, o
número de grevistas será entre 7 e 9 milhões de trabalhadores, o número de dias
de greve durante este período é de 150 milhões, segundo as estatísticas. Mais
de 4 milhões de pessoas estarão em greve durante três semanas, mais de dois
milhões durante um mês. A Sorbonne estará ocupada durante um mês. Nesta
conjuntura de crise de hegemonia efetuam-se negociações variadas e serão
assinados os acordos de Grenelle em 27 de maio, entre o governo de Pompidou, o
patronato e as centrais sindicais. São aprovados um aumento de 35% do salário mínimo e de 10%,
em média, para os restantes níveis salariais. É também aprovada a possibilidade
de criação de secção sindical em cada empresa. Os acordos não tiveram, no
entanto, significativo impacto nas greves e ocupações, que se irão manter até à
dissolução da Assembleia Nacional, a 29 de maio, e à realização da manifestação
de apoio ao governo a 30 de maio. O Parti
Communiste Français (PCF), curiosamente, opôs-se desde início das
barricadas ao movimento estudantil e a sua principal preocupação foi acabar com
a agitação política e a crise.
O
filme Baisers volés (1968), de François Truffaut, se passa em Paris durante
os protestos. Embora não seja um filme abertamente político, ele contém
referências e imagens das manifestações. O filme capta o sentimento revolucionário
do período e descreve por que Truffaut e Jean-Luc Godard pediram o cancelamento
do festival de Cannes de 1968. O filme Mourir d`aimer (1971), de André
Cayatte, é baseado na história social de Gabrielle Roussier, uma professora de
estudos clássicos interpretada no filme por Annie Girardot que cometeu suicídio
após ter sido sentenciada culpada por ter tido um romance com um de seus alunos
durante maio de 1968. O filme Tout Va Bien (1972), de Jean-Luc Godard,
examina a luta de classes que continuou na sociedade francesa após maio de
1968. O filme A Mãe e a Puta (1973), de Jean Eustache, vencedor do Grand Prix (Festival de Cannes), cita os
eventos de maio de 1968 e explora as suas consequências. O filme Cocktail
Molotov (1980), de Diane Kurys, uma diretoras, produtora, cineasta e atriz francesa, narra a história social de um grupo de amigos que estavam em viagem a Israel, mas decidem voltar a Paris após ouvir
notícias sobre as manifestações políticas urbanas de Maio de 1968. O filme Milou en mai (1990), de Louis Malle (1932-1995), é um retrato satírico sobre o impacto social do fervor revolucionário de maio de 1968 sobre a burguesia de uma pequena cidade.
Um filme de Bernardo Bertolucci de 2003, Os Sonhadores,
baseado na novela The Holy Innocents, de Gilbert Adair, descreve a história
de três jovens que, durante o Maio de 1968, veem a revolução “ocorrer pela
janela do quarto”. O filme Les Amants Réguliers (2005), de Philippe Garrel,
conta a história de um grupo de amigos que participa dos protestos, e suas
vidas um ano após. No filme OSS 117: Rio ne répond plus (2009), o
protagonista Hubert ironiza os estudantes hippies ao dizerː - “É 1968. Não haverá
revolução. Cortem os cabelos”. É uma comédia francesa de 2009, dirigido por
Michel Hazanavicius. É a sequência de OSS 117: Cairo, Nest of Spies, de 2006,
do mesmo diretor. Parodia filmes com o personagem realizado por André Hunebelle
e outros sobre espiões, principalmente os primeiros da série de James Bond. O
Espião OSS 117, interpretado por Jean Dujardin, emerge como um desajeitado,
racista, machista, chauvinista e politicamente incorreto. O filme Après Mai (2012),
de Olivier Assayas, descreve a história de um pintor e seus amigos que levam a
revolução para suas escolas e têm que lidar com as consequências existenciais e
legais do ato. Enfim,
os protestos consumados no extraordinário Maio de 1968 centraram sua luta contra o que era percebido comoos
três pilares do capitalismo: a fábrica, a escola e a família. Como resultado,
cada um destes domínios foi submetido à transformação pós-industrial.
O
trabalho de fábrica torna-se cada vez mais terceirizado ou, no mundo
desenvolvido, reorganizado na forma de trabalho de equipe interativo
não-hierárquico pós-fordista. Enquanto isso, uma educação privatizada flexível
e permanente substitui crescentemente a educação pública universal, e múltiplas
formas de arranjos sexuais flexíveis substituem a família tradicional. Ao mesmo
tempo, apesar de sua vitória, a esquerda perdeu: o inimigo direto foi
derrotado, mas substituído por uma nova, e ainda mais direta, forma de
dominação capitalista. No capitalismo pós-moderno, o mercado invade
novas esferas, até agora consideradas domínio privilegiado do estado, da
educação às prisões e à segurança. Quando
o “trabalho imaterial”, como a educação, é celebrado como o trabalho que produz
as relações sociais de forma direta, não se deve esquecer o que isso significa
numa economia de commodities. Significa que novos domínios, até então excluídos
do mercado, passam a ser “comoditizados”. Então, quando estamos com
dificuldades, já não conversamos com um amigo, mas pagamos um psiquiatra ou um
conselheiro para cuidar do problema. E, em vez dos pais, babás e educadores
remunerados irão cuidar das crianças. Ninguém deve esquecer as conquistas reais
de 1968. O movimento inaugurou uma mudança radical na forma como lidamos com os
direitos sociais das mulheres, o homoerotismo e o racismo. Após a década
simplesmente não se pode praticar atos ou proferir discursos racistas e
homofóbicos como ainda se podia na década de 1950. Desse modo, 1968 não foi um
evento único, mas utópico combinando tendências políticas: por isso, também foi uma pedra no sapato
de muitos conservadores. Seu verdadeiro legado reside na rejeição ao
liberalismo, em um não quase absoluto, melhor traduzido na fórmula: Soyons réalistes, demandons l'impossible!
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