sábado, 5 de agosto de 2017

Um Brinde à Vida - Cinema & Amizade em Berck-Sur-Mer.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

“Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada!”. Sigmund Freud

       

A palavra comuna, na Idade Média, é a designação para a cidade que se tornava emancipada pela obtenção de carta de autonomia fornecida pelo rei. Atualmente, na França, o termo se refere à menor subdivisão administrativa do território. Em Portugal o termo remete às comunas universitárias, residências que formam habitação e clube de estudantes universitários, ou à administração de conselho. É desconhecida da Idade Média em Portugal: os termos que indicam comunidade urbana com personalidade jurídica são ou eram chamados de urbes, burgos, conselhos ou municípios. Berck é uma comuna francesa na região administrativa de Nord-Pas-de-Calais, no departamento de Pas-de-Calais. A comuna francesa representa a unidade básica de organização territorial da França, que perfaz um número considerável em comparação com outros países europeus: 36 681, contra aproximadamente 13 000 na Alemanha, 8 000 na Espanha e na Itália e 4 500 em Portugal. As outras subdivisões territoriais, condicionando os espaço,  um lugar praticado são: o cantão, o arrondissement, o departamento e a região.
As raízes do movimento comunal encontram-se nas aspirações dos burgueses das cidades que queriam liberdade, segurança, isenção de impostos feudais e justiça própria; estas exigências resultavam do desenvolvimento comercial, que era afetado pela rigidez das estruturas feudais. Embora apresentem características semelhantes aos municípios portugueses, nem as cartas comunais francesas são comparáveis a forais, que na maioria dos casos não passam de listas de encargos a satisfazer à coroa pelos conselhos. Nos próprios burgos onde a burguesia mercantil predominava como o Porto, e o grau de sujeição ao rei diminuía dificilmente se poderá falar de “autonomia política” no sentido comunal. As comunas eram grandes unidades de produção rural, abrangendo a agricultura e pequenas indústrias. Cada comuna estruturava-se de forma coletiva e centralizada. Os lotes agrícolas familiares, distribuídos na reforma agrária de 1950, foram eliminados. A terra, colocada sob o controle social das comunas. As comunas organizavam a vida social e a educação das crianças. A implantação desse sistema teve impacto sobre a vida familiar, diminuindo a força tradicional da autoridade paterna.


Inspirado na vida da mãe de seu diretor e roteirista, Jean-Jacques Zilbermann, “Um brinde à vida” (2016) é uma saudação, com uma extraordinária sensação de revelar as complexidades e minudências da vida. - Jean-Jacques Zilbermann s`est inspiré de l`histoire de sa mère, Irène, qui rejoignait ses amies de déportation à la mer, enfin “à Auschwitz-les-Bains”. O longa-metragem parte da experiência concreta dela e outras duas amigas sobreviventes do campo de concentração Auschwitz e acompanha seu reencontro mais de uma década depois da terrível experiência full-time no campo de concentração. Em 1960, três mulheres deportadas de Auschwitz, que não se viam desde o pós-guerra, se reencontram numa praia do norte da França. Durante esses poucos dias, tudo ocorre como uma primeira vez para Helen, Rose, e Lili: as primeiras refeições de verdade juntas, o saborear do sorvete, o primeiro mergulho no mar, uma traição. Uma semana de risos, canções, mas também de conflitos e historias de amor e amizade.

Os primeiros campos nazistas foram erguidos na Alemanha em março de 1933, imediatamente depois que Adolf Hitler se tornou Chanceler e seu Partido nazista recebeu o controle da polícia pelo Ministro do Interior do Reich, Wilhelm Frick, e pelo Ministro do Interior prussiano, Hermann Göring. Usado para aprisionar e torturar adversários políticos e sindicalistas, os campos inicialmente reuniram cerca de 45 mil prisioneiros. As SS de Heinrich Himmler assumiram o controle total da polícia e dos campos de concentração em toda a Alemanha em 1934-35. Himmler expandiu o papel dos campos para manter os chamados “elementos racialmente indesejáveis”, como judeus, deficientes, homossexuais, criminosos e ciganos. O número de pessoas nos campos, que caiu para 7 500, cresceu novamente para 21 000 no início da 2ª guerra mundial e atingiu o pico em 715 000 em janeiro de 1945.

Os campos de concentração foram administrados desde 1934 pela Inspetoria dos Campos de Concentração em 1942 fundida na SS-Wirtschafts-Verwaltungshauptamt e eram guardadas pela SS-Totenkopfverbände. Os estudiosos do Holocausto estabelecem uma distinção entre os campos de concentração e os campos de extermínio, que foram estabelecidos pela Alemanha nazista para o assassinato em massa em escala industrial de judeus nos guetos por meio de câmaras de gás. O campo de concentração de Dachau foi criado com a finalidade de deter opositores políticos. O uso da palavra “concentração” emerge da ideia de confinar as pessoas em um só lugar porque pertencem a um grupo que é considerado indesejável de alguma forma. O próprio termo se originou em 1897, quando os “campos de reconcentração” foram criados em Cuba pelo general Valeriano Weyler.

No passado, o governo dos Estados Unidos da América usou campos de concentração contra nativos americanos e os britânicos também os usaram durante a Segunda Guerra dos Bôeres. Entre 1904 e 1908, o Schutztruppe do Exército Imperial Alemão operou campos de concentração no Sudoeste Africano Alemão como parte do genocídio dos hererós e namaquas. Quando os nazistas chegaram ao poder na Alemanha, eles rapidamente se mudaram para suprimir toda a oposição real e potencial. O público em geral foi intimidado pelo terror psicológico arbitrário que era usado pelos Tribunais Especiais (Sondergerichte). Especialmente durante os primeiros anos de existência, quando esses tribunais "tiveram um forte efeito dissuasivo" contra qualquer forma de protesto político.  

O primeiro campo na Alemanha, Dachau, foi fundado em março de 1933. O anúncio da imprensa disse que “o primeiro campo de concentração deve ser aberto em Dachau com acomodação para 5 000 pessoas. Todos os comunistas e - quando necessário - Reichsbanner e social-democratas que põem em perigo a segurança do Estado devem se concentrar ali, visto que a longo prazo não é possível manter os presos nas prisões do governo sem sobrecarregá-las”. Dachau foi o primeiro campo de concentração regular estabelecido pelo governo de coalizão alemão do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista) e do Partido Popular Nacionalista (dissolvido em 6 de julho de 1933). Heinrich Himmler, então Chefe de Polícia de Munique, descreveu oficialmente o lugar como “o primeiro campo de concentração para prisioneiros políticos”.

Do ponto de vista topológico em meio às sequências que nos ajudam a entender melhor essa personagem alçada ao protagonismo, sobretudo suas dificuldades oriundas das cicatrizes de guerra, o diretor Jean-Jacques Zilbermann prepara o terreno para a reunião das mulheres, ponto de virada que traz consigo uma mudança no compasso do longa-metragem. O reencontro de Hèlene, Lily (Johanna ter Steege) e Rose (Suzanne Clément), mediado pela quase onipresença do sol, não mais da sombra claustrofóbica dos campos de concentração, acontece numa cidade do litoral francês que contrasta evidentemente com os cenários lúgubres do cárcere. No que tange ao comportamento das amigas, há uma estratégia bem definida de acordo com a personalidade delas. Hélene é tímida, sente-se impelida a cuidar dos que igualmente sofreram. Lilly lida de forma vaga com o passado, ora falando, ora calando. Rose, por sua vez, ostenta a fina camada de felicidade que esconde uma tristeza profunda. Contudo, Hèlene precisa falar de Auschwitz, recordar as circunstâncias que Rose quer deixar completamente para trás, se possível trancadas a sete chaves no recôndito da memória. Lily prefere questionar os preceitos do judaísmo, fazendo às vezes de mediadora, quando não de figura materna.
As primeiras cenas de Um Brinde à Vida ocorrem em Auschwitz, naqueles dias em que os alemães esvaziam o famigerado campo de concentração. Entre execuções e o terrorismo das experiências que ainda ditavam as regras no ocaso do lugar de ódio e crueldade, duas amigas tentam fazer com que uma terceira se junte a elas na chamada “Marcha da Morte”, episódio histórico que marcou a transferência dos judeus para outros campos nazistas, onde aparentemente tinham chances de sobreviver. Esse prólogo marcado pela opressão totalitária e por uma imagem cuja concepção revela a atrocidade revivida pela memória não é exatamente um filme marcadamente sisudo. Mas é no âmbito da memória fustigada que acompanhar a démarche de Hèlene (Julie Depardieu), que tenta a todo custo retomar contato com as amizades construídas durante a barbárie nos faz entender o processo e as mazelas de reconstituição da memória. Ela se casa com um homem marcado pela violência física da intolerância dos partidários de Hitler e anuncia recorrentemente num jornal a busca por suas companheiras de degredo.
Metodologicamente a memória representa o armazenamento de informações e fatos obtidos através de experiências ouvidas ou vividas. A memória focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a passagem do tempo. É um processo que conecta pedaços de memória e reconhecimentos a fim de gerar novas ideias, ajudando através dos detalhes a tomar decisões diárias. A corrupção da consciência, fenomenologicamente falando, no sentido que emprega Merleau-Ponty funciona como a “essência da consciência para o mal”, ou, “essência da percepção para o mal”, posto que: a consciência só começa a ser determinando um objeto, e mesmo os fantasmas de uma “experiência interna” só é possível por empréstimo à experiência externa. Memória, segundo diversos estudiosos, desde Hegel e Marx à maturação da hermenêutica filosófica, desde à compreensão da sociologia e à aproximação com a psicanálise freudiana é factualmente a base do conhecimento humano. E como tal, deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao cotidiano da vida privada e acumulamos nossas experiências para utilizarmos com eficácia durante a vida.
A realização de Jean-Jacques Zilbermann consegue aproveitar plenamente o potencial da temática, principalmente nessa interessante proposta de apresentar faces distintas de um mesmo anseio, o de mitigar as dores da guerra, ora através da religião e seus símbolos, ora através da transgressão sexual, como ocorre nas cenas de sexo dentro do banheiro químico na comuna francesa de Nord-Pas-de-Calais. Freud tinha uma concepção psicológica do ser humano. Sua teoria é de grande influência na psicologia atual e, além do contínuo debate sobre sua aplicação no tratamento médico, também é, frequentemente, discutida e analisada como obra de literatura e cultura geral. Depois que o pai de Freud falece, em 1896, segundo as cartas recebidas por Fliess, Freud, dedica-se a analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua infância e, assim, determinando as raízes de suas próprias neuroses.

Sigismund Schlomo Freud reconhecido profissionalmente como Sigmund Freud, foi um médico neurologista criador da psicanálise. Freud, como se tornara reconhecido, nasceu em uma família judaica, em Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco, atualmente, a localidade é denominada Příbor, e pertence à República Tcheca. Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose no tratamento de pacientes com histeria, como forma de acesso aos seus conteúdos mentais. Ao observar a melhora dos pacientes tratados pelo médico francês Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da histeria era psicológica, e não orgânica, distanciando-se das correntes positivistas que associavam a determinação biológica da espécie. Essa hipótese serviu de base para outros conceitos desenvolvidos posteriormente por Freud, como o do inconsciente. Fatos como a descrição de pacientes curados através do diálogo por Josef Breuer e a morte do colega Ernst von Fleischl-Marxow por dose excessiva do antidepressivo da época, a cocaína, levaram-no ao abandono das técnicas de hipnose e de drogas para criar um novo método: a cura pela fala, ou seja, a psicanálise, que utilizava a interpretação de sonhos e a livre associação como acesso ao inconsciente.

Suas teorias sociais e seus tratamentos terapêuticos foram controversos na aparentemente conservadora Viena do fim do século XIX, e continuam a ser debatidos presentemente. Sua concepção de teoria é de grande influência na psicologia e, além do contínuo debate sobre sua aplicação terapêutica no tratamento médico, também é, frequentemente, discutida e analisada como obra de literatura e cultura geral nas humanidades. A psicossociologia tem como representação abstrata do indivíduo o estudo de problemas comuns à psicologia e à sociologia, particularmente a maneira como o comportamento individual é influenciado pelos grupos aos quais a pessoa pertence. Por exemplo, no estudo dos criminosos a psicologia estuda a personalidade latente do criminoso moldada pela educação do criminoso. A sociologia estuda o comportamento teórico e prático do próprio grupo num processo de interação em geral: os métodos que o grupo criminoso usa para recrutar membros e a maneira como o grupo muda ao longo do tempo. Psicossociologia estuda o comportamento do criminoso, que é criado pelo grupo ao qual pertence, como os jovens que moram no mesmo quarteirão do bairro.

Existem muitos fatores sociais que podem afetar a psicologia dos outros. Um exemplo disso são as chamadas panelinhas sociais. Se alguém é aceito em seu grupo desejado ou não, isso muda a maneira como eles pensam sobre si mesmos e as pessoas ao seu redor. Amizades em idades jovens enquanto crescem também têm muito a ver não apenas com o desenvolvimento psicológico, mas também com habilidades sociais e comportamento social. O mesmo vale para as leis comuns na sociedade. Se o grupo de um indivíduo decide obedecer por eles ou não, isso afeta a visão desse indivíduo sobre a lei e seu grupo como um todo. A maneira como as pessoas podem agir ou falar dita a maneira como os outros as veem em uma sociedade. Por exemplo, os indivíduos podem ver a autoridade de muitas maneiras diferentes, dependendo de suas experiências e do que os outros lhes disseram. Por isso, com base no conhecimento social de autoridade das pessoas, suas opiniões e ideias são muito diferentes.  Cada indivíduo tem seu próprio processo de pensamento psicológico único e pessoal no qual eles usam para analisar o mundo ao seu redor. As pessoas internalizam e processam fatores sociológicos de maneira relativa ao seu processo de pensamento psicológico. Essa relação é recíproca, pois a sociedade pode alterar e transformar as maneiras que as pessoas pensam e, ao mesmo tempo, a sociedade pode ser influenciada pelo pensamento psicológico exteriorizado dos indivíduos dentro da própria sociedade. Devido a isso, pode-se ver como a psicologia é fundamental para ajudar o sociólogo a interpretar os efeitos dos fatos sociais no comportamento de um indivíduo numa sociedade determinada.

Tais anotações tornam-se a fonte etnográfica para a obra “A Interpretação dos Sonhos”. Durante o curso desta autoanálise, Freud chega à conclusão de que seus próprios problemas eram devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade em relação a seu pai. É o que constitui o famoso “complexo de Édipo”, que se torna o “coração”, por assim dizer, da teoria de Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes investigados. Nos primeiros anos do século XX, são publicadas suas obras em que contém suas teses principais no ensaio: “A Interpretação dos Sonhos” e “A psicopatologia da vida cotidiana”. Freud criou o termo “psicanálise” para designar a complexa relação entre um método, uma teoria e uma técnica para investigar cientificamente os processos inconscientes e de outro modo inacessíveis do psiquismo.
Portanto, se não há vida privada da consciência é porque a consciência só tem como obstáculo o caos, que não é nada. Mas em uma consciência que constitui tudo, ou, antes, que possui eternamente a estrutura inteligível de todos os seus objetos, assim como na consciência empirista que não constitui nada, a atenção permanece um poder abstrato, ineficaz, porque ali ela não tem nada para fazer (cf. Eatwell, 1996; Fritzsche, 1998). A consciência não está menos intimamente ligada aos objetos em relação aos quais ela se distrai do que aqueles aos quais ela se volta. A memória do campo de concentração Auschwitz é sempre referida pela memória pela presença de quatro crematórios. Auschwitz I, o principal campo do complexo de Auschwitz, foi a primeira das unidades a serem estabelecidas, nas proximidades da cidade polonesa de Oswiecim. Sua construção teve início em maio de 1940, em um quartel de artilharia usado anteriormente pelo exército polonês na região de Zasole, subúrbio de Oswiecim. O campo foi se expandindo continuamente por meio da utilização do processo de trabalho escravo contemporâneo. A câmara improvisada estava localizada no porão da prisão (Bloco 11). Mais tarde, uma câmara de gás fixa foi construída dentro do crematório. A ideologia nazista do campo é baseada realmente em um vídeo originalmente rodado em 1941, ipso facto, historicamente produzido e irradiado pela intelligentsia nazista.
Nesta análise psicanalítica fundada por Sigmund Freud, o indivíduo se constitui como um ente à parte do social e que compõe o nível de análise social. Freud refere-se aos aspectos que compõem um estado instintivo humano e que acaba por se tornar inibido em prol da convivência em comunidade. A inibição destes aspectos, que são instintivos, consiste numa privação de características que são inatas aos homens, e, esta própria privação, acaba por consistir em determinados descontentamentos. Neste sentido, os homens em civilização ou civilizados demonstram-se descontentes na busca de sua felicidade, pois seus instintos não são prontamente atendidos em sociedade. No seu ensaio: “O mal-estar da civilização”, Freud elabora uma discussão filosófico-social a partir de sua teoria psicanalítica. O autor desenvolve a ideia pragmática segundo a qual, em sociedade, “não há avanço sem perdas”. A ideia central que desenvolve nesta obra é a de que a civilização é inimiga da satisfação dos instintos humanos. A sociedade modifica a natureza humana individual, constitui o homem como membro da comunidade, adaptando-o a um processo vital que torna o indivíduo um ente social.
Um Brinde à Vida representa um drama cotidiano para celebrar a amizade, que afinal pode ser para alguns o grande remédio das enfermidades da alma. Cultura judaica é o nome dado ao conjunto de tradições passadas de geração à geração pelo Judaísmo oriundas dos tratos religiosos, do local em que a comunidade judaica foi radicada e da era em que a comunidade judaica viveu. Entre os rituais, podemos citar a circuncisão dos meninos (aos 8 dias de vida ) e o Bar Mitzvah que representa a iniciação na vida adulta para os meninos e a Bat Mitzvah para as meninas (aos 12 anos de idade). Os homens judeus usam o “kippa”, pequena touca, que representa o respeito a Deus no momento das orações. Nas sinagogas, existe uma arca, que representa a ligação entre Deus e o Povo Judeu. Nesta arca são guardados os pergaminhos sagrados da Torá. Entre os rituais, podemos citar a circuncisão dos meninos (aos 8 dias de vida) e o Bar Mitzvah que representa a iniciação na vida adulta para os meninos e a Bat Mitzvah para as meninas aos 12 anos de idade. Os homens judeus usam o “kippa”, pequena touca, que representa o respeito a Deus no momento das orações. Nas sinagogas, existe uma arca, que representa a ligação entre Deus e o Povo Judeu. Nesta arca são guardados os pergaminhos sagrados da Torá. As festividades judaicas vão desde a comemoração de um aniversário, um Bar-Mitzvá a feriados como o Purim e o Pessach. Os judeus são  festivos e a música é usada como forma de culto como a vários relatos etnográficos da torá ou mesmo em celebrações como pessach, purim e bar mitzvá.
Enfim, como é representado no filme: “Um brinde à vida”, as refeições para os judeus têm grande importância e requerem preparação e cuidado especial. Uma palavra resume o essencial dos preparativos da refeição judaica: “pureza” (“casherut”). Quer se trate do alimento ou dos utensílios de cozinha, da louça de mesa ou da qualidade dos convivas, a máxima atenção deve ser prestada à sua pureza. Esta pureza diz respeito à santidade de Israel e de seus filhos. Por meio dela, comer e beber se tornam atos de culto. Cada refeição se revela como “memória” da Aliança, que não cessa de separar seu povo das nações pagãs, idólatras. Nesse espírito de preparação para a refeição judaica encontram-se tipos de purificação: a) lavar as mãos. Essa prescrição é particularmente importante. O Talmude narra cerca de seiscentas prescrições a respeito e um tratado é inteiramente consagrado às maneiras de proceder.  Não se deve hesitar em “percorrer um caminho de quatro milhas a fim de obter água pura para lavar as mãos”.
Esse hábito social que alguns pensam provir de Salomão e outros de Hillel e de Shammai Chab é prática de sacerdotes, que lavavam as mãos antes de comerem sua parte das oferendas. Em seguida, leigos piedosos, como os fariseus, o adotaram antes que se tornasse um costume universal. Mesmo seus opositores acabaram por se submeter a ele. É que o rabi Aquiba, após tê-lo contestado, utilizava a reduzida ração de água que lhe era concedida na prisão para lavar as mãos na hora da refeição; b) Ter feito abluções – esta prescrição era complementar da precedente: - Para (comer alimentos) não consagrados, do dízimo ou da oblação, basta lavar as mãos; mas para o que é santo (ofertas do Templo e que não podiam ser consumidas a não ser em seu recinto) deve-se tomar um banho; no que diz respeito às águas de purificação do pecado, se as mãos estiverem impuras, é o corpo inteiro que é tido por impuro (e torna-se necessário tomar banho). O ensinamento de Jesus liga esse costume do banho à volta do mercado; c) lavagem ritual das taças, vasos e pratos – o judaísmo contemporâneo continua muito atento às prescrições que dizem respeito aos utensílios de cozinha e à louça. Tais preceitos, visando pôr em prática as injunções do livro dos Números 31,22-24, eram atuantes na época mitológica de Jesus. É a semelhantes debates que Jesus se refere em sua polêmica com os escribas e os fariseus (cf. Mt. 23,25). Poderíamos até descobrir um efeito social específico, nestes termos, através das decisões da escola Jâmnia sobre a obrigação natural de purificar primeiramente o interior das taças ou dos pratos. As regras de culto religioso que regem a escolha dos alimentos, a distinção entre os que são puros ou impuros, são uma das mais consideráveis prescrições do judaísmo.
Bibliografia geral consultada.
BARTHES, Roland, Mitologias. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972; HELLER, Agnes, Sociologia della Vita Quotidiana. Roma: Editore Riuniti, 1975; BOURDIEU, Pierre, “L’ Identité et la Représentation. Eléments pour une Réflexion Critique sur l’Idée de Région”. In: Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n˚ 35, 1980; XENAKIS, Françoise, Zut! On a Encore Oublie Madame Freud. Paris: Éditions Hachette, 1984; DURAS, Marguerite, Les Lieux de Marguerite Duras. Entretiens avec Michelle Porte. Paris: Éditions Minuit, 1987; ELIAS, Norbert, El Proceso de la Civilización: Investigaciones Sociogenéticas y Psicogenéticas. 2ª edición. México: Fondo de Cultura Económica, 1989; FLEM, Lydia, L`homme Freud. Paris: Éditions Seuil, 1991; EATWELL, Roger, Fascism. A History. London: Viking/Penguin Editor, 1996; FRITZSCHE, Peter, Germans into Nazis. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1998; WACQUANT, Loïc, Parias Urbanos: Marginalidad en la Ciudad a Comienzos del Milênio. Buenos Aires: Ediciones Manantial, 2001; LE GOFF, Jacques, História e Memória. 5ª edição. Campinas (SP): Editora da Universidade de Campinas, 2003; BOBBIO, Norberto, Il Futuro della Democrazia. 1ª edição. Itália: Einaudi Editore, 2005; ELIAS, Norbert & SCOTSON, John, Au-delà de Freud: Sociologie, Psychologie, Psychanalyse. Paris: Éditions La Découverte, 2010; FREUD, Sigmund, Malaise dans la Civilisation. Paris: Éditions Payot. Coll. Petite Bibliothèque Payot, 2010; Idem, Au-delà du Principe de Plaisir. Paris: Éditions Payot. Coll.  Petite Bibliothèque Payot, 2010; SANTOS, Lucileide Vieira, Felicidade ao Longo da Vida. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde. Lisboa: Escola de Psicologia e Ciências da Vida. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, 2016; NÓBREGA, Karynna M. Barros de, Da Voz em Off à Palavra Escrita: O Testemunho do Corpo Falante em O Escafandro e a Borboleta. Tese de Doutorado. Coordenação Geral de Pós-Graduação. Programa de Doutorado em Psicologia Clínica. Recife: Universidade Católica de Pernambuco, 2017; entre outros.  

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