terça-feira, 15 de agosto de 2017

Avaliação Qualis-periódicos - Razão Técnica & Ilusão Metodológica.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga

    “Saber do que se fala sempre ajuda” Jürgen Habermas

       
           A história da vida intelectual e artística das sociedades europeias revela-se através da história das transformações da função do sistema de produção de bens simbólicos e da própria estrutura destes bens, transformações correlatas à constituição progressiva de um campo intelectual e artístico, referido à autonomização progressiva do sistema de relações de produção, circulação e consumo de bens simbólicos. De fato, à medida que se constitui um campo intelectual e artístico, definindo-se em oposição ao campo econômico, ao campo político e ao campo religioso, vale dizer, em relação a todas as instâncias com pretensões a legislar na esfera cultural em nome de um poder ou de uma autoridade que não seja propriamente cultural, as funções que cabem aos diferentes grupos de intelectuais ou de artistas, tendem cada vez mais a se tornar o princípio unificador e gerador dos diferentes sistemas de tomadas de posição culturais e, também, o princípio de sua transformação no curso histórico do tempo.  
        Destarte, um processo de autonomização da produção intelectual e artística é correlato à constituição de uma categoria socialmente distinta de artistas ou de intelectuais profissionais, cada vez mais inclinados a levar em conta exclusivamente as regras firmadas pela tradição propriamente intelectual ou artística herdada de seus predecessores, e que lhes fornece um ponto de partida ou um ponto de ruptura, e cada vez mais propensos a liberar sua produção e seus produtos de toda e qualquer dependência social, seja das censuras morais e programas estéticos de uma igreja empenhada em proselitismo, seja dos controles acadêmicos e das encomendas de um poder político propenso a tomar a arte como um instrumento de propaganda. Da mesma forma, o processo conducente à constituição da arte enquanto tal é correlato à transformação da relação que os artistas mantêm com os não-artistas e, com os demais artistas, resultando na constituição de um campo artístico relativamente autônomo e na elaboração concomitante de nova definição em função do artista e da arte.


           O campo de produção erudita somente se constitui como sistema de produção que produz objetivamente apenas para os produtores através de uma ruptura com o público dos não-produtores, ou seja, com as frações não intelectuais das classes dominantes. Podem-se medir os graus de autonomia de um campo de produção erudita com base no pode de que dispões para definir as normas de sua produção, os critérios de avaliação de seus produtos e, portanto, para retraduzir e reinterpretar todas as determinações externas de acordo com seus princípios próprios de funcionamento. Quanto mais o campo estiver em condições de funcionar como a arena fechada da concorrência pela legitimidade cultural; pela consagração propriamente cultural e pelo poder cultural de concedê-la, tanto mais os princípios segundo os quais se realizam as demarcações internas aparecem como irredutíveis a todos os princípios externos de divisão. Por exemplo, os fatores de diferenciação econômica, social ou política, como a origem familiar, a fortuna, o poder, mas neste caso de um poder capaz de exercer sua ação diretamente sobre o campo, bem como às tomadas de posição políticas.   
          Nunca se prestou a devida atenção às consequências metodológicas ligadas ao fato de que o escritor, o artista e mesmo o erudito, escrevem não apenas para um público, mas para um público de pares que são também concorrentes. Vale dizer, quanto mais o campo estiver em condições de funcionar como o campo de uma competição pela legitimidade cultural, tanto mais a produção pode e deve orientar-se para a busca de distinções culturalmente pertinentes em um determinado estágio de um dado campo, isto é, busca de temas, técnicas e estilos que são dotados de valor na economia específica do campo por serem capazes de fazer existir culturalmente os grupos que os produzem, vale dizer, de conferir-lhes um valor propriamente cultural atribuindo-lhes marcas de distinção reconhecidas pelo campo como culturalmente pertinentes e, portanto, suscetíveis de serem reconhecidas enquanto tais, em função das taxionomias culturais disponíveis em um determinado estágio de um dado campo.
        Enfim, a análise estatística pode tornar-se um instrumento eficaz de ruptura se estivermos conscientes de que a aplicação ingenuamente empirista de taxionomias pré-construídas ou formais a esta ou àquela população de escritores ou de artistas neutraliza as relações mais significativas entre as propriedades pertinentes dos indivíduos ou dos grupos. A maioria das análises estatísticas aplica-se a amostras pré-construídas de que são parcial ou totalmente excluídos os escritores “menores” ou marginais, sendo portanto incapazes de detectar os princípios de seleção de que tal população é o produto, ou seja, as leis que regem o acesso a tal êxito no campo intelectual e artístico. Ao mesmo tempo, por serem incapazes de compreender a significação real das regularidades que estabelecem podem acabar dando razão aos defensores mais ingênuos do estudo ideográfico, estando fadadas a captar, no máximo, as leis das tendências mais gerais do campo intelectual em seu conjunto, como por exemplo, a elevação global do nível de formação universitária dos escritores, ou noutro exemplo no caso francês, durante o Segundo Império ou o aumento da parcela de escritores originários das classes médias que ocupavam posições universitárias durante a Terceira República. 
  
Existem, contudo, armadilhas mais sutis e a análise sociológica corre sempre o risco de sucumbir aos erros impecáveis de uma sociografia hipermpirista quando se deixa levar pela preocupação de escapar à acusação de “reducionista”, passando então a competir com a historiografia tradicional em seu próprio terreno e a procurar na multiplicação das características sociologicamente pertinentes que seleciona o sistema explicativo capaz de elucidar cada obra em sua singularidade, ao invés de construir a hierarquia dos sistemas de fatores pertinentes quando se trata de dar conta do campo ideológico que corresponde a um determinado estado da estrutura do campo intelectual. A figura do tutor de significado em geral “protetor” está presente em universidades ou colégios e consiste numa pessoa envolvida na gestão do conhecimento e formação técnica e científica. Esta forma especial preparatória é também chamada “tutoria”, “tutoriat” ou “tutorial”, onde o tutor observa empiricamente os problemas dos estudantes, prestando assistência de forma mais célere, eficaz e imediata. O tutor pode ser, ainda um estudante. Este fato tem a vantagem de propiciar um contato menos formal junto do aluno tutorado de forma a que a mensagem transmitida pelo tutor seja mais rapidamente compreendida e assimilada o que facilita o acesso ao conhecimento, e que numa relação demasiado formal poderia ser dificultada ou mesmo impedida.
      A tutoria, também chamada de “mentoring”, é um método (cf. Bruce, 1995; Bozeman e Feeney, 2007), geralmente muito utilizado para efetivar uma relação de interação social e pedagógica. Os tutores acompanham e se comunicam com seus pares de forma sistemática, planejando, dentre outras atividades, o seu desenvolvimento e avaliando a eficiência de suas orientações de modo a resolver problemas que possam ocorrer durante o processo. Uma de suas aplicações, por exemplo, pode ser dentro do processo pedagógico aplicado em instituições educacionais, onde exista a tendência de desistência do aluno frente aos desafios encontrados. Neste caso, o contato com o aluno começa pelo conhecimento global de toda a estrutura do curso e é necessário que o acompanhamento ocorra com frequência regular, de forma rápida, densa e eficaz.
        Neste sentido o tutor guia o tutorado, de acordo com a sua formação, mas tem como pressuposto o auxílio como um fio condutor que atravessa uma grande parte das disciplinas. O tutor conhece as necessidades e soluções, pelo fato de ter vivenciado semelhantes dificuldades e por conhecer formas de superá-las. Ele pode ser um ersatz para o aluno em todo o momento em que o aluno tutorado estiver sobrecarregado, intervindo e auxiliando-o. Esta estratégia de condução da aprendizagem agrada muitos alunos, porque a compreendem pouco restritiva, pouco limitadora, simplesmente porque acabam por aprender a dominar disciplinas de maneira muito eficiente, e por ser-lhes, também, dada uma série de dicas sobre métodos de estudo e formas de apreensão das matérias. Representantes diversos do construtivismo, porém, rejeitam esta estratégia e concentram-se na aprendizagem, para o que o “treinador” será mais qualificado.
            As estratégias são ações que graças ao postulado de um lugar de poder, elaboram lugares teóricos (sistemas e discursos totalizantes), capazes de articular um conjunto de lugares físicos onde as forças se distribuem. Elas combinam esses três tipos de lugar e visam dominá-los uns pelos outros. Privilegiam, portanto, as relações espaciais. Ao menos procuram elas reduzir a esse tipo as relações temporais pela atribuição analítica de um lugar próprio a cada elemento particular e pela organização combinatória dos movimentos específicos a unidades ou a conjuntos de unidades. O modelo para isso foi antes o militar que o científico. As táticas são procedimentos que valem pela pertinência que dão ao tempo - às circunstâncias que o instante preciso de uma intervenção transforma em situação favorável, à rapidez de movimentos que mudam a organização do espaço, ás relações entre momentos sucessivos de um golpe, como na política, aos cruzamentos possíveis de durações e ritmos heterogêneos. As estratégias apontam para a resistência que o estabelecimento de um lugar oferece ao gasto do tempo; as táticas apontam para uma hábil utilização do tempo, das ocasiões de um poder. Os métodos praticados pela arte da guerra cotidiana jamais se apresentam sob uma forma nítida, nem por isso - last but not least - menos certo que apostas feitas no lugar ou no tempo distinguem as maneiras estruturantes de sentir, pensar e agir.   
            A razão instrumental é um termo usado provavelmente por Max Horkheimer no contexto social do debate da teoria tradicional “versus” teoria crítica, escrito no exílio, nos Estados Unidos da América (EUA), em 1937, em que o autor prefere utilizar essa expressão para designar correntemente o estado em que os processos racionais são plenamente operacionalizados. A razão instrumental nasce, desde Francis Bacon, quando o sujeito do conhecimento toma a decisão de que conhecer é dominar e controlar a natureza e os seres humanos. A razão ocidental, caracterizada pela sua elaboração dos meios de trabalho para obtenção dos fins, se hipertrofia em sua função de tratamentos dos meios, e não na reflexão objetiva dos fins. Na medida em que razão se torna instrumental, a ciência vai deixando de ser uma forma de acesso aos conhecimentos para tornar-se um instrumento de dominação, poder e exploração. Sendo sustentada pelos processos sociais de aquisição da ideologia cientificista, da educação através da escola e dos processos de comunicação de massa, engendra uma mitologia - a religião da ciência - contrária ao espírito iluminista e à emancipação da humanidade.
       Desnecessário dizer que a razão é a capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas. É, entre outros, um dos meios pelo qual os seres racionais propõem razões ou explicações para relação causa e efeito. A razão é particularmente associada à natureza humana, ao que é único e definidor do ser humano. A razão permite identificar e operar conceitos abstratamente, resolver problemas, encontrar coerência ou contradição entre eles e, assim, descartar ou formar novos conceitos, de uma forma ordenada e, geralmente, orientada para objetivos. Inclui raciocinar, apreender, compreender, ponderar e julgar, por vezes usada como sinónimo de inteligência. A principal diferença entre a razão e outras formas de consciência decorre na forma de explicação que é tanto mais racional quanto mais conscientemente for pensado de forma que possa ser expressa numa linguagem histórica e determinada.
            A maioria dos chamados “periódicos” nacionais está vinculado aos programas de pós-graduação (M/D), isso porque as revistas surgiram próximas aos cursos de pós-graduação como estratégia de dar vazão e comunicar entre pares o que é desenvolvido em termos de Pesquisa & Desenvolvimento nas universidades e demais instituições brasileiras. Esses movimentos foram base para o grande aumento dos títulos de revistas científicas, sendo importante a criação de critérios que indicassem a cada revista para a sociedade científica, tanto para conhecimento dos pesquisadores, quanto para seleção de quais publicações receberiam fundos de fomento para se sustentarem e continuarem ativas. Apesar de muitas agências de fomento manter seus próprios critérios de seleção, a necessidade de um “controle de qualidade” deu origem ao Qualis da Capes, que em sua essência faz parte da avaliação de pós-graduação pela instituição, tendo em vista que grandes partes das revistas científicas estão vinculadas a esse padrão internacional.
Qualis representa um conjunto de procedimentos técnicos utilizados no Brasil pela chamada Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para estratificação técnica da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. A partir desse sistema os principais periódicos são classificados segundo estratos indicativos da qualidade: A1 - para periódicos de excelência internacionais reconhecidos como relevantes no Brasil (pode haver periódicos nacionais na lista desde que tenham alcance internacional); A2- para periódicos de excelência reconhecidos como relevantes no Brasil (é um nível realmente muito bom para se publicar); B1 - B2 - B3 = em ordem decrescente de qualidade para o restante dos periódicos. Neste sentido B4 e B5 = periódicos bem mais inferiores no sistema de avaliação. Enfim, C = é periódico só na definição técnica, mas tem por atribuição avaliativa valor=zero. Os indicadores variam de A1 – o nível mais elevado, até C– o nível mais baixo da qualidade da produção. Qualis é definido pela CAPES como uma lista agenciada de veículos utilizados para a divulgação internacional da produção intelectual dos programas de pós-graduação de M/D. Serve para fundamentar os processos seletivos de avaliação do sistema nacional de pós-graduação da CAPES.          
O sistema Qualis-periódicos é usado para classificar a produção científica dos programas de pós-graduação no que se refere aos artigos publicados em periódicos científicos. Tal processo foi concebido para atender as necessidades específicas do sistema de avaliação e é baseado empiricamente “nas informações fornecidas por meio do aplicativo coleta de dados”. Como resultado, disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. A classificação é realizada pelos comitês de consultores de cada área de avaliação seguindo critérios previamente definidos pela área de conhecimento e aprovados pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Superior - CTC-ES, que procuram refletir a importância relativa dos diferentes periódicos para uma determinada área. Os critérios gerais e os específicos utilizados em cada área de avaliação estão disponibilizados nos respectivos documentos de área. A estratificação da qualidade dessa produção é realizada de forma indireta. Do ponto de vista técnico o Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos. A classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por processo de série anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos da qualidade.           
As premissas em que se baseiam são três. A primeira é que a relação da distribuição de frequência de conceitos dos programas brasileiros de pós-graduação deve ser “normal”, ou Gaussiana. Em probabilidade e estatística, a distribuição normal é uma das distribuições de probabilidade mais utilizada para modelar fenômenos naturais. A distribuição normal é ligada aos vários conceitos matemáticos como movimento browniano, ruído branco, entre outros. A distribuição normal também é chamada distribuição gaussiana, distribuição de Gauss ou distribuição de Laplace-Gauss, em referência aos matemáticos, físicos e astrônomo francês Pierre-Simon Laplace e o alemão Carl Friedrich Gauss. Poder-se-ia aqui indagar como foi que se chegou à conclusão de que essa distribuição é naturalmente normal. A segunda premissa estabelece que apenas 25% dos programas podem ter conceito máximo 6 ou 7 em qualquer área de avaliação. Caso o número de programas merecedores de conceito máximo supere o limite, as normas de avaliação serão automaticamente “apertadas” para manter o limite. Igualmente, pode-se perguntar se não é absurdo mudar as regras do jogo no meio da partida para rebaixar o conceito de programas que à primeira vista pareciam excelentes. A terceira premissa diz respeito à nova tabela Qualis para periódicos, que passa a ter sete (7) níveis. Esta vale para quase todas as áreas do conhecimento, devendo cada área estabelecer os níveis específicos de corte de tal modo a assegurar que apenas 25% dos periódicos estejam no nível aparentemente mais alto (Qualis A) e que haja maior número de periódicos A2 que A1. Embora isso não seja explícito, mas per se parece evidente que estes 25% derivam diretamente dos 25% do conceito anterior.   
Curiosamente nas Normas para Defesa Pública de Provas e Títulos do curso de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará determina que o candidato (a) só poderá defender a Dissertação o mestrando que tiver um (01) artigo enviado para um periódico classificado no Qualis/CAPES como B3 (ou superior) na área de Medicina Veterinária ou afins. Quanto à nota após a defesa de Dissertação: a) Só poderá obter nota 9,0 (nove) ou superior o mestrando que no dia de sua defesa tenha um artigo aceito em periódico classificado no Qualis/CAPES como B3 (ou superior) na área de Medicina Veterinária ou afins; b) Só poderá obter nota 10,0 (dez) o mestrando que no dia da sua defesa tenha um artigo aceito em periódico classificado no Qualis/CAPES como B1 (ou superior) na área de Medicina Veterinária ou afins; c) Só poderá obter Louvor o mestrando que no dia da sua defesa tenha um artigo aceito em periódico classificado Qualis/CAPES como na área de Medicina Veterinária ou afins.
Só poderá defender a Tese o doutorando que tiver um artigo enviado e outro aceito em um periódico classificado no Qualis/CAPES como B1 como (ou superior) na área de Medicina Veterinária ou afins. Quanto à nota após a defesa da Tese: a) Só poderá obter a nota 9,0 (nove) ou superior o doutorando que no dia da sua defesa tenha um artigo enviado e outro aceito em periódico classificado no Qualis/CAPES como A na área de Medicina Veterinária ou afins; b) Só poderá obter nota 10, 0 (dez) o doutorando que no dia da sua defesa tenha dois artigos aceitos em periódico classificado no Qualis/CAPES como A na área de Medicina Veterinária ou afins; c) só poderá obter Louvor o doutorando que no dia de sua defesa tenha dois artigos aceitos em periódico classificado no Qualis/CAPES como A1 na área de Medicina Veterinária ou afins.
A verdadeira figura em que a verdade existe só pode ser o sistema científico dela. Somente Hegel, insistimos neste aspecto, definiu o princípio da realidade como uma Ideia lógica, fazendo, portanto, do ser das coisas um ser puramente lógico e chegando assim a um panlogismo consequente que apresenta ainda, um elemento dinâmico-irracional, existente no método dialético. Nisto se distingue o panlogismo hegeliano do neokantismo, que eliminou este elemento e instituiu assim um puro panlogismo. O idealismo apresenta-se, para sermos breves, em duas formas principais: como idealismo subjetivo ou psicológico e como idealismo objetivo e lógico. Mas estas diversidades no plano analítico movimentam-se no âmbito de uma concepção fundamental. Esta é justamente a tese idealista de que o objeto do conhecimento não é “menos que nada”, mas algo ideal, para concordarmos com Slavoj Žižek (2013). A ideia de um objeto independente da consciência é contraditória, pois, no momento em que pensamos num objeto, como no amor, por exemplo, fazemos dele um conteúdo de nossa consciência. Se ao afirmarmos simultaneamente que o objeto existe fora da nossa consciência, contradizemo-nos com isso a nós próprios; portanto não há objetos reais “extra conscientes”, mas a realidade enquanto alusão acha-se contida na consciência.
Atualmente, a gestão administrativa do CNPq é de responsabilidade de uma Diretoria Executiva, enquanto o conselho deliberativo é responsável pela política institucional. Por meio de “Comitês de Assessoramento”, a comunidade científica e tecnológica contribui na gestão e na política do CNPq que oferece “bolsas” e auxilio à pesquisa em diferentes modalidades. As “bolsas” são destinadas a pesquisadores experientes, a indivíduos recém-doutorados, a alunos de pós-graduação, graduação e ensino médio. Os valores econômicos das bolsas são variados. Existem duas categorias de bolsas: bolsas individuais no Brasil ou no exterior, ou bolsa por “quotas”. As bolsas individuais, tanto no país, como no exterior, são de fomento científico ou tecnológico. O auxilio oferecido pelo CNPq pode ser destinado a instituições, a cursos de pós-graduação de Mestrado e Doutorado, a pesquisadores e a Fundações de apoio à pesquisa. São várias modalidades de auxílio, como financiamento para publicação científica, promoção de congressos, intercâmbios científicos para capacitação de pesquisadores e projetos de pesquisa. O relatório de “prestação de contas” é obrigatório para bolsistas de A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C - com peso zero.
Contraditoriamente o anúncio foi feito no início de agosto, com a divulgação, pelo CNPq, do resultado das Chamadas 2016-2018 das bolsas de Iniciação Científica. Serão 26.169 bolsas concedidas neste ano - 20% a menos do que em 2015. A Iniciação Científica (IC) é importante para despertar o interesse dos alunos para a ciência. Trata-se, nas palavras do CNPq, de uma forma de “integração do aluno de graduação à cultura científica e/ou tecnológica, por meio do desenvolvimento de atividades de pesquisa sob a supervisão de um orientador qualificado”. O “orientador qualificado”, que trabalha com o jovem estudante em uma pesquisa de Iniciação Científica, acaba fazendo também um trabalho de supervisão e de mentoria, atividade que tem ganhado cada vez mais espaço nas instituições de ensino superior de ponta no mundo. Aqui, entende-se como “mentor” um professor com o qual o aluno trabalhou de maneira bem próxima durante a graduação, que auxiliou nos estudos, na definição de quais disciplinas cursarem e que deu alguma orientação em termos de carreira. No cenário acadêmico, reduzir o número de bolsas no começo da carreira científica pode significar menos cientistas qualificados no país no futuro. - “O problema é que sem ciência não dá para fazer nada, nem exportar soja”, diz Nader, da SBPC. Ligado ao MCTIC, “o CNPq tem sofrido cortes juntamente com a pasta de ciência, que deve receber cerca de R$3,5 bilhões neste ano”. Para se ter uma ideia do que isso significa, “o orçamento do ex-MCTI em 2014 tinha mais do que o dobro desse valor  - antes de todas as pastas começarem a sofrer cortes”.
Uma organização observa Marilena Chauí (2003), difere de uma instituição por definir-se por uma prática social determinada de acordo com sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios (administrativos) particulares para obtenção de um objetivo particular. Não está referida a ações articuladas às ideias de reconhecimento externo e interno, de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como estratégias balizadas pelas ideias de eficácia e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define. Por ser uma administração, é regida pelas ideias de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua própria existência, sua função, seu lugar no interior da luta de classes, pois isso, que para a instituição social universitária é crucial, é, para a organização, um dado de fato. Ela sabe (ou julga saber) por que, para que e onde existe.
Do ponto de vista do trabalho a gestão de carreira envolve duas partes principais: a da organização e a concepção do indivíduo. Diferentemente de décadas passadas, quando as organizações definiam as carreiras de seus empregados, na modernidade o papel do indivíduo na gestão da carreira se torna relevante e assume um papel progressivamente mais atípico. Os empregados assumem, na atualidade, o papel de planejar sua própria carreira, sendo estimulados a acumular conhecimentos científicos e administrar suas carreiras para garantir mobilidade no mercado de trabalho. No início  indivíduos buscam desafios, salários atrativos e responsabilidades, após amadurecerem, passam a se interessar por trabalhos que demandem autonomia e independência, segurança e estabilidade, competência técnica e funcional, competência gerencial, criatividade intelectual, serviço e dedicação a uma causa, desafio político, estilo de vida.
A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe que sua eficácia e seu sucesso dependem de sua particularidade. Isso significa que a instituição tem a sociedade como seu princípio e sua referência normativa e valorativa, enquanto a organização tem apenas a si mesma como referência, num processo de competição com outras que fixaram os mesmos objetivos particulares. Em outras palavras, a instituição se percebe inserida na divisão social e política e pretende definir uma universalidade (imaginária ou desejável) que lhe permita responder às contradições, impostas pela divisão. Ao contrário, a organização busca gerir seu espaço e tempo particulares aceitando como dado bruto sua inserção num dos polos da divisão social, e seu alvo não é responder às contradições, e sim vencer a competição com seus supostos iguais. A questão nevrálgica refere-se à pergunta: Como foi possível passar da ideia da universidade como instituição à definição como organização prestadora de serviços?
Em primeiro lugar através da passagem da produção de massa e da economia de mercado para as sociedades de conhecimento baseadas na informação e comunicação. Na esfera de ação política é regulação da existência coletiva, poder decisório, luta entre interesses contraditórios, disputa por posições de mundo, confrontos mil entre forças sociais, violência em última análise. Só que a produção dos processos políticos, baseados em instituições sociais como esfera de poder, em segundo lugar, se diferencia radicalmente da produção econômica porque usam eventualmente suportes materiais, como armas, livros, processos, papéis onde se inscrevem as ordens, os atos de gestão, as sentenças ou as leis, mas não é uma produção material no sentido marxista do termo. É assim porque consistem em decisões imperativas, decisões que podem mudar o plano de vida individual (os sonhos) e da coletividade (os mitos, os ritos, os símbolos). É também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre os próprios tabus do corpo. Corresponde a atos de vontade que regulam atividades coletivas; disciplina práticas sociais. Não produzem mensagens, discursos; produzem obediências, obrigações, submissões, direitos, deveres, controles. Poder, para sermos breves, é uma relação social que se constitui através de mando e obediência. As decisões tomadas politicamente se impõem a todos num dado território ou numa dada unidade social. Convertem-se em atividades coercitivas (esfera da segurança), administrativas (esfera da administração), jurídico-judiciárias (esfera da justiça) e legislativas (esfera da deliberação). Simplificadamente, processo político diz respeito à pergunta: Quem pode o quê sobre quem? Eis a grande questão do processo político, do confronto entre forças sociais, da sujeição de vontades a outras vontades.
Bibliografia geral consultada.
APPLE, Michael, Ideology and Curriculum. New York: Routledge & Kegan Paul Editors, 1979; HABERMAS, Jürgen, Teoría de la Acción Comunicativa. Madrid: Ediciones Taurus, 1987; ALBAGLI, Sarita, Ciência e Estado no Brasil Moderno: Um Estudo sobre o CNPq. Dissertação de Mestrado em Ciências. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1988; BRUCE, Mary Alice, “Mentoring Women in Doctoral Students: What Counselor Educators and Supervisors Can Do”. In: Counselor Education and Supervision, 35 (2), 139-149; 1995; CHAUÍ, Marilena, “La Universidad en Liquidación”. In: Revista de Critica Política y Cultural. Buenos Aires, Volume 14, pp. 59-61, 1999; CABRAL, Carla, O conhecimento Dialogicamente Situado: Histórias de Vida, Valores Humanistas e Consciência Crítica de Professoras do Centro Tecnológico da UFSC. Tese de Doutorado em Educação Científica e Tecnológica. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006; JACON, Maria do Carmo Moreira, Base Qualis: Uso e Qualidade dos Periódicos Científicos no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1997-2002). Campinas: Pontificia Universidade Católica de Campinas, 2006; BOZEMAN, Barry and FEENEY, Mary Kay, “Toward a Useful Theory of Mentoring: A Conceptual Analysis and Critique”. In: Administrative and Society, 39 (6),719 - 739; 2007; ROCHA E SILVA, Mauricio, “O Novo Qualis, ou A Tragédia Anunciada”. In: Clinics vol.64 n°.1. São Paulo, janeiro de 2009; MOROSINI, Marília Costa “et al”, “A Evasão na Educação Superior no Brasil: Uma Análise da Produção de Conhecimento nos Periódicos Qualis entre 2000-2011”. Disponível em: http://revistas.utp.ac.pa/index.2011; GONTIJO, Aldriana Azevedo, O Lugar do Currículo no Conselho de Classe. Dissertação de Mestrado em Educação. Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE-UnB). Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), 2015; BOURDIEU, Pierre, A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 2015; VOGEL, Michely Jabala Mamede, Avaliação da Pós-Graduação Brasileira: Análise dos Quesitos Utilizados pela CAPES e das Críticas da Comunidade Acadêmica. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Univcersidade de são Paulo, 2015;  BODART, Cristiano das Neves; SOUZA, Ewerton Diego de “Configurações do Ensino de Sociologia como um Subcampo de Pesquisa: Análise dos Dossiês Publicados em Periódicos Acadêmicos”. In: https://www.redalyc.org/journal/13/11/2017entre outros.

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