Ubiracy de Souza Braga
“Saber
do que se fala sempre ajuda” Jürgen Habermas
A história da vida intelectual e
artística das sociedades europeias revela-se através da história das
transformações da função do sistema de produção de bens simbólicos e da própria
estrutura destes bens, transformações correlatas à constituição progressiva de
um campo intelectual e artístico, referido à autonomização progressiva do
sistema de relações de produção, circulação e consumo de bens simbólicos. De
fato, à medida que se constitui um campo intelectual e artístico, definindo-se em
oposição ao campo econômico, ao campo político e ao campo religioso, vale
dizer, em relação a todas as instâncias com pretensões a legislar na esfera
cultural em nome de um poder ou de uma autoridade que não seja propriamente
cultural, as funções que cabem aos diferentes grupos de intelectuais ou de artistas,
tendem cada vez mais a se tornar o princípio unificador e gerador dos
diferentes sistemas de tomadas de posição
culturais e, também, o princípio de sua transformação no curso histórico do
tempo.
Destarte, um processo de autonomização da produção intelectual e
artística é correlato à constituição de uma categoria socialmente distinta de
artistas ou de intelectuais profissionais, cada vez mais inclinados a levar em
conta exclusivamente as regras firmadas pela tradição propriamente intelectual
ou artística herdada de seus predecessores, e que lhes fornece um ponto de
partida ou um ponto de ruptura, e cada vez mais propensos a liberar sua
produção e seus produtos de toda e qualquer dependência social, seja das
censuras morais e programas estéticos de uma igreja empenhada em proselitismo,
seja dos controles acadêmicos e das encomendas de um poder político propenso a
tomar a arte como um instrumento de propaganda. Da mesma forma, o processo
conducente à constituição da arte enquanto
tal é correlato à transformação da relação que os artistas mantêm com os não-artistas e, com os demais artistas,
resultando na constituição de um campo artístico relativamente autônomo e na
elaboração concomitante de nova definição em função do artista e da arte.
O campo de produção erudita somente
se constitui como sistema de produção que produz objetivamente apenas para os
produtores através de uma ruptura com o público dos não-produtores, ou seja,
com as frações não intelectuais das classes dominantes. Podem-se medir os graus
de autonomia de um campo de produção erudita com base no pode de que dispões
para definir as normas de sua produção, os critérios de avaliação de seus
produtos e, portanto, para retraduzir e reinterpretar todas as determinações
externas de acordo com seus princípios próprios de funcionamento. Quanto mais o
campo estiver em condições de funcionar como a arena fechada da concorrência
pela legitimidade cultural; pela consagração propriamente cultural e pelo poder
cultural de concedê-la, tanto mais os princípios segundo os quais se realizam
as demarcações internas aparecem como irredutíveis a todos os princípios
externos de divisão. Por exemplo, os fatores de diferenciação econômica, social
ou política, como a origem familiar, a fortuna, o poder, mas neste caso de um
poder capaz de exercer sua ação diretamente sobre o campo, bem como às tomadas
de posição políticas.
Nunca se prestou a devida atenção às
consequências metodológicas ligadas ao fato de que o escritor, o artista e
mesmo o erudito, escrevem não apenas para um público, mas para um público de
pares que são também concorrentes. Vale dizer, quanto mais o campo estiver em
condições de funcionar como o campo de uma competição pela legitimidade
cultural, tanto mais a produção pode e deve orientar-se para a busca de distinções culturalmente pertinentes em
um determinado estágio de um dado campo, isto é, busca de temas, técnicas e
estilos que são dotados de valor na economia específica do campo por serem
capazes de fazer existir culturalmente os grupos que os produzem, vale dizer, de
conferir-lhes um valor propriamente cultural atribuindo-lhes marcas de
distinção reconhecidas pelo campo como culturalmente pertinentes e, portanto,
suscetíveis de serem reconhecidas enquanto tais, em função das taxionomias
culturais disponíveis em um determinado estágio de um dado campo.
Enfim, a análise estatística pode
tornar-se um instrumento eficaz de ruptura se estivermos conscientes de que a
aplicação ingenuamente empirista de taxionomias pré-construídas ou formais a
esta ou àquela população de escritores ou de artistas neutraliza as relações
mais significativas entre as propriedades pertinentes dos indivíduos ou dos
grupos. A maioria das análises estatísticas aplica-se a amostras
pré-construídas de que são parcial ou totalmente excluídos os escritores “menores”
ou marginais, sendo portanto incapazes de detectar os princípios de seleção de
que tal população é o produto, ou seja, as leis que regem o acesso a tal êxito
no campo intelectual e artístico. Ao mesmo tempo, por serem incapazes de compreender
a significação real das regularidades que estabelecem podem acabar dando razão
aos defensores mais ingênuos do estudo ideográfico, estando fadadas a captar,
no máximo, as leis das tendências mais gerais do campo intelectual em seu
conjunto, como por exemplo, a elevação global do nível de formação
universitária dos escritores, ou noutro exemplo no caso francês, durante o
Segundo Império ou o aumento da parcela de escritores originários das classes
médias que ocupavam posições universitárias durante a Terceira República.
Existem,
contudo, armadilhas mais sutis e a análise sociológica corre sempre o risco de
sucumbir aos erros impecáveis de uma sociografia hipermpirista quando se deixa levar pela preocupação de escapar à
acusação de “reducionista”, passando então a competir com a historiografia
tradicional em seu próprio terreno e a procurar na multiplicação das
características sociologicamente pertinentes que seleciona o sistema
explicativo capaz de elucidar cada obra em sua singularidade, ao invés de
construir a hierarquia dos sistemas de fatores pertinentes quando se trata de
dar conta do campo ideológico que corresponde a um determinado estado da
estrutura do campo intelectual. A figura do tutor de significado em geral “protetor”
está presente em universidades ou colégios e consiste numa pessoa envolvida na
gestão do conhecimento e formação técnica e científica. Esta forma especial
preparatória é também chamada “tutoria”, “tutoriat” ou “tutorial”, onde o tutor
observa empiricamente os problemas dos estudantes, prestando assistência de
forma mais célere, eficaz e imediata. O tutor pode ser, ainda um estudante.
Este fato tem a vantagem de propiciar um contato menos formal junto do aluno
tutorado de forma a que a mensagem transmitida pelo tutor seja mais rapidamente
compreendida e assimilada o que facilita o acesso ao conhecimento, e que numa
relação demasiado formal poderia ser dificultada ou mesmo impedida.
A tutoria, também chamada de “mentoring”,
é um método (cf. Bruce, 1995; Bozeman
e Feeney, 2007), geralmente muito utilizado para efetivar uma relação de interação
social e pedagógica. Os tutores acompanham e se comunicam com seus pares de
forma sistemática, planejando, dentre outras atividades, o seu desenvolvimento
e avaliando a eficiência de suas orientações de modo a resolver problemas que
possam ocorrer durante o processo. Uma de suas aplicações, por exemplo, pode
ser dentro do processo pedagógico aplicado em instituições educacionais, onde
exista a tendência de desistência do aluno frente aos desafios encontrados.
Neste caso, o contato com o aluno começa pelo conhecimento global de toda a
estrutura do curso e é necessário que o acompanhamento ocorra com frequência
regular, de forma rápida, densa e eficaz.
Neste sentido o tutor guia o
tutorado, de acordo com a sua formação, mas tem como pressuposto o auxílio como
um fio condutor que atravessa uma grande parte das disciplinas. O tutor conhece
as necessidades e soluções, pelo fato de ter vivenciado semelhantes
dificuldades e por conhecer formas de superá-las. Ele pode ser um ersatz para o aluno em todo o momento em
que o aluno tutorado estiver sobrecarregado, intervindo e auxiliando-o. Esta
estratégia de condução da aprendizagem agrada muitos alunos, porque a
compreendem pouco restritiva, pouco limitadora, simplesmente porque acabam por
aprender a dominar disciplinas de maneira muito eficiente, e por ser-lhes,
também, dada uma série de dicas sobre métodos de estudo e formas de apreensão
das matérias. Representantes diversos do construtivismo, porém, rejeitam esta estratégia e concentram-se na
aprendizagem, para o que o “treinador” será mais qualificado.
As estratégias são ações que graças
ao postulado de um lugar de poder,
elaboram lugares teóricos (sistemas e
discursos totalizantes), capazes de articular um conjunto de lugares físicos
onde as forças se distribuem. Elas combinam esses três tipos de lugar e visam
dominá-los uns pelos outros. Privilegiam, portanto, as relações espaciais. Ao
menos procuram elas reduzir a esse tipo as relações temporais pela atribuição
analítica de um lugar próprio a cada elemento particular e pela organização
combinatória dos movimentos específicos a unidades ou a conjuntos de unidades.
O modelo para isso foi antes o militar que o científico. As táticas são
procedimentos que valem pela pertinência que dão ao tempo - às circunstâncias
que o instante preciso de uma intervenção transforma em situação favorável, à
rapidez de movimentos que mudam a organização do espaço, ás relações entre
momentos sucessivos de um golpe, como na política, aos cruzamentos possíveis de
durações e ritmos heterogêneos. As estratégias apontam para a resistência que o
estabelecimento de um lugar oferece ao gasto do tempo; as táticas apontam para
uma hábil utilização do tempo, das ocasiões de um poder. Os métodos praticados
pela arte da guerra cotidiana jamais se apresentam sob uma forma nítida, nem
por isso - last but not least - menos
certo que apostas feitas no lugar ou no tempo distinguem as maneiras
estruturantes de sentir, pensar e agir.
A razão instrumental é um termo
usado provavelmente por Max Horkheimer no contexto social do debate da teoria
tradicional “versus” teoria crítica, escrito no exílio, nos Estados Unidos da
América (EUA), em 1937, em que o autor prefere utilizar essa expressão para
designar correntemente o estado em que os processos racionais são plenamente
operacionalizados. A razão instrumental nasce, desde Francis Bacon, quando o
sujeito do conhecimento toma a decisão de que conhecer é dominar e controlar a
natureza e os seres humanos. A razão ocidental, caracterizada pela sua
elaboração dos meios de trabalho para obtenção dos fins, se hipertrofia em sua
função de tratamentos dos meios, e não na reflexão objetiva dos fins. Na medida
em que razão se torna instrumental, a ciência vai deixando de ser uma forma de
acesso aos conhecimentos para tornar-se um instrumento de dominação, poder e
exploração. Sendo sustentada pelos processos sociais de aquisição da ideologia
cientificista, da educação através da escola e dos processos de comunicação de
massa, engendra uma mitologia - a religião da ciência - contrária ao espírito
iluminista e à emancipação da humanidade.
Desnecessário dizer que a razão é a capacidade da mente humana que
permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas. É, entre
outros, um dos meios pelo qual os seres racionais propõem razões ou explicações
para relação causa e efeito. A razão é particularmente associada à natureza
humana, ao que é único e definidor do ser humano. A razão permite identificar e
operar conceitos abstratamente, resolver problemas, encontrar coerência ou
contradição entre eles e, assim, descartar ou formar novos conceitos, de uma
forma ordenada e, geralmente, orientada para objetivos. Inclui raciocinar,
apreender, compreender, ponderar e julgar, por vezes usada como sinónimo de
inteligência. A principal diferença entre a razão e outras formas de consciência decorre na forma de
explicação que é tanto mais racional quanto mais conscientemente for pensado de
forma que possa ser expressa numa linguagem histórica e determinada.
A maioria dos chamados “periódicos”
nacionais está vinculado aos programas de pós-graduação (M/D), isso porque as
revistas surgiram próximas aos cursos de pós-graduação como estratégia de dar
vazão e comunicar entre pares o que é desenvolvido em termos de Pesquisa &
Desenvolvimento nas universidades e demais instituições brasileiras. Esses
movimentos foram base para o grande aumento dos títulos de revistas científicas,
sendo importante a criação de critérios que indicassem a cada revista para a
sociedade científica, tanto para conhecimento dos pesquisadores, quanto para seleção
de quais publicações receberiam fundos de fomento para se sustentarem e
continuarem ativas. Apesar de muitas agências de fomento manter seus próprios
critérios de seleção, a necessidade de um “controle de qualidade” deu origem ao
Qualis da Capes, que em sua essência
faz parte da avaliação de pós-graduação pela instituição, tendo em vista que grandes
partes das revistas científicas estão vinculadas a esse padrão internacional.
Qualis representa
um conjunto de procedimentos técnicos utilizados no Brasil pela chamada Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) para estratificação técnica da qualidade da produção
intelectual dos programas de pós-graduação. A partir desse sistema os
principais periódicos são classificados segundo estratos indicativos da
qualidade: A1 - para periódicos de excelência internacionais reconhecidos como
relevantes no Brasil (pode haver periódicos nacionais na lista desde que tenham
alcance internacional); A2- para periódicos de excelência reconhecidos como
relevantes no Brasil (é um nível realmente muito bom para se publicar); B1 - B2
- B3 = em ordem decrescente de qualidade para o restante dos periódicos. Neste
sentido B4 e B5 = periódicos bem mais inferiores no sistema de avaliação. Enfim,
C = é periódico só na definição técnica, mas tem por atribuição avaliativa
valor=zero. Os indicadores variam de A1 – o nível mais elevado, até C– o nível
mais baixo da qualidade da produção. Qualis
é definido pela CAPES como uma lista agenciada de veículos utilizados para
a divulgação internacional da produção intelectual dos programas de
pós-graduação de M/D. Serve para fundamentar os processos seletivos
de avaliação do sistema nacional de pós-graduação da CAPES.
O
sistema Qualis-periódicos é usado para classificar a produção científica dos
programas de pós-graduação no que se refere aos artigos publicados em
periódicos científicos. Tal processo foi concebido para atender as necessidades
específicas do sistema de avaliação e é baseado empiricamente “nas informações
fornecidas por meio do aplicativo coleta de dados”. Como resultado,
disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos
programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. A classificação é
realizada pelos comitês de consultores de cada área de avaliação seguindo
critérios previamente definidos pela área de conhecimento e aprovados pelo Conselho Técnico-Científico da Educação
Superior - CTC-ES, que procuram refletir a importância relativa dos
diferentes periódicos para uma determinada área. Os critérios gerais e os
específicos utilizados em cada área de avaliação estão disponibilizados nos
respectivos documentos de área. A estratificação da qualidade dessa produção é
realizada de forma indireta. Do ponto de vista técnico o Qualis afere a
qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da
qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos. A
classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por
processo de série anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em
estratos indicativos da qualidade.
As
premissas em que se baseiam são três. A primeira é que a relação da
distribuição de frequência de
conceitos dos programas brasileiros de pós-graduação deve ser “normal”, ou Gaussiana.
Em probabilidade e estatística, a distribuição normal é uma das distribuições
de probabilidade mais utilizada para modelar fenômenos naturais. A distribuição
normal é ligada aos vários conceitos matemáticos como movimento browniano,
ruído branco, entre outros. A distribuição normal também é chamada distribuição
gaussiana, distribuição de Gauss ou distribuição de Laplace-Gauss, em
referência aos matemáticos, físicos e astrônomo francês Pierre-Simon Laplace e o
alemão Carl Friedrich Gauss. Poder-se-ia aqui indagar como foi que se chegou à
conclusão de que essa distribuição é naturalmente normal. A segunda premissa
estabelece que apenas 25% dos programas podem ter conceito máximo 6 ou 7 em
qualquer área de avaliação. Caso o número de programas merecedores de conceito
máximo supere o limite, as normas de avaliação serão automaticamente
“apertadas” para manter o limite. Igualmente, pode-se perguntar se não é
absurdo mudar as regras do jogo no meio da partida para rebaixar o conceito de
programas que à primeira vista pareciam excelentes. A terceira premissa diz
respeito à nova tabela Qualis para
periódicos, que passa a ter sete (7) níveis. Esta vale para quase todas as
áreas do conhecimento, devendo cada área estabelecer os níveis específicos de
corte de tal modo a assegurar que apenas 25% dos periódicos estejam no nível aparentemente mais alto (Qualis A) e que haja maior número de periódicos A2 que A1. Embora
isso não seja explícito, mas per se parece evidente que estes 25% derivam diretamente dos
25% do conceito anterior.
Curiosamente
nas Normas para Defesa Pública de Provas e Títulos do curso de Mestrado e Doutorado
do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de
Veterinária da Universidade Estadual do Ceará determina que o candidato (a) só
poderá defender a Dissertação o
mestrando que tiver um (01) artigo enviado para um periódico classificado no
Qualis/CAPES como B3 (ou superior) na área de Medicina Veterinária ou afins.
Quanto à nota após a defesa de Dissertação: a) Só poderá obter nota 9,0 (nove)
ou superior o mestrando que no dia de sua defesa tenha um artigo aceito em
periódico classificado no Qualis/CAPES como B3 (ou superior) na área de Medicina
Veterinária ou afins; b) Só poderá obter nota 10,0 (dez) o mestrando que no dia
da sua defesa tenha um artigo aceito em periódico classificado no Qualis/CAPES
como B1 (ou superior) na área de Medicina Veterinária ou afins; c) Só poderá
obter Louvor o mestrando que no dia da sua defesa tenha um artigo aceito em
periódico classificado Qualis/CAPES como na área de Medicina Veterinária ou afins.
Só
poderá defender a Tese o doutorando que
tiver um artigo enviado e outro aceito em um periódico classificado no
Qualis/CAPES como B1 como (ou superior) na área de Medicina Veterinária ou
afins. Quanto à nota após a defesa da Tese: a) Só poderá obter a nota 9,0
(nove) ou superior o doutorando que no dia da sua defesa tenha um artigo
enviado e outro aceito em periódico classificado no Qualis/CAPES como A na área
de Medicina Veterinária ou afins; b) Só poderá obter nota 10, 0 (dez) o
doutorando que no dia da sua defesa tenha dois artigos aceitos em periódico
classificado no Qualis/CAPES como A na área de Medicina Veterinária ou afins; c)
só poderá obter Louvor o doutorando que no dia de sua defesa tenha dois artigos
aceitos em periódico classificado no Qualis/CAPES como A1 na área de Medicina
Veterinária ou afins.
A
verdadeira figura em que a verdade existe só pode ser o sistema científico dela.
Somente Hegel, insistimos neste aspecto, definiu o princípio da realidade como
uma Ideia lógica, fazendo, portanto, do ser das coisas um ser puramente lógico
e chegando assim a um panlogismo consequente que apresenta ainda, um elemento
dinâmico-irracional, existente no método dialético. Nisto se distingue o
panlogismo hegeliano do neokantismo, que eliminou este elemento e instituiu assim
um puro panlogismo. O idealismo apresenta-se, para sermos breves, em duas
formas principais: como idealismo subjetivo ou psicológico e como idealismo
objetivo e lógico. Mas estas diversidades no plano analítico movimentam-se no
âmbito de uma concepção fundamental. Esta é justamente a tese idealista de que
o objeto do conhecimento não é “menos que nada”, mas algo ideal, para
concordarmos com Slavoj Žižek (2013). A ideia de um objeto independente da
consciência é contraditória, pois, no momento em que pensamos num objeto, como
no amor, por exemplo, fazemos dele um conteúdo de nossa consciência. Se ao afirmarmos
simultaneamente que o objeto existe fora da nossa consciência, contradizemo-nos
com isso a nós próprios; portanto não há objetos reais “extra conscientes”, mas
a realidade enquanto alusão acha-se contida na consciência.
Atualmente,
a gestão administrativa do CNPq é de responsabilidade de uma Diretoria Executiva,
enquanto o conselho deliberativo é responsável pela política institucional. Por
meio de “Comitês de Assessoramento”, a comunidade científica e tecnológica
contribui na gestão e na política do CNPq que oferece “bolsas” e auxilio à
pesquisa em diferentes modalidades. As “bolsas” são destinadas a pesquisadores
experientes, a indivíduos recém-doutorados, a alunos de pós-graduação,
graduação e ensino médio. Os valores econômicos das bolsas são variados.
Existem duas categorias de bolsas: bolsas individuais no Brasil ou no exterior,
ou bolsa por “quotas”. As bolsas individuais, tanto no país, como no exterior,
são de fomento científico ou tecnológico. O auxilio oferecido pelo CNPq pode
ser destinado a instituições, a cursos de pós-graduação de Mestrado e Doutorado,
a pesquisadores e a Fundações de apoio à pesquisa. São várias modalidades de
auxílio, como financiamento para publicação científica, promoção de congressos,
intercâmbios científicos para capacitação de pesquisadores e projetos de
pesquisa. O relatório de “prestação de contas” é obrigatório para bolsistas de A1,
o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C - com peso zero.
Contraditoriamente
o anúncio foi feito no início de agosto, com a divulgação, pelo CNPq, do
resultado das Chamadas 2016-2018 das bolsas de Iniciação Científica. Serão 26.169 bolsas concedidas neste ano -
20% a menos do que em 2015. A Iniciação Científica (IC) é importante para
despertar o interesse dos alunos para a ciência. Trata-se, nas palavras do
CNPq, de uma forma de “integração do aluno de graduação à cultura científica
e/ou tecnológica, por meio do desenvolvimento de atividades de pesquisa sob a
supervisão de um orientador qualificado”. O “orientador qualificado”, que
trabalha com o jovem estudante em uma pesquisa de Iniciação Científica, acaba
fazendo também um trabalho de supervisão e de mentoria, atividade que tem ganhado
cada vez mais espaço nas instituições de ensino superior de ponta no mundo.
Aqui, entende-se como “mentor” um professor com o qual o aluno trabalhou de
maneira bem próxima durante a graduação, que auxiliou nos estudos, na definição
de quais disciplinas cursarem e que deu alguma orientação em termos de
carreira. No cenário acadêmico, reduzir o número de bolsas no começo da
carreira científica pode significar menos cientistas qualificados no país no
futuro. - “O problema é que sem ciência não dá para fazer nada, nem exportar
soja”, diz Nader, da SBPC. Ligado ao MCTIC, “o CNPq tem sofrido cortes
juntamente com a pasta de ciência, que deve receber cerca de R$3,5 bilhões
neste ano”. Para se ter uma ideia do que isso significa, “o orçamento do
ex-MCTI em 2014 tinha mais do que o dobro desse valor - antes de todas as pastas começarem a sofrer
cortes”.
Uma
organização observa Marilena Chauí (2003), difere de uma instituição por
definir-se por uma prática social determinada de acordo com sua
instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios (administrativos)
particulares para obtenção de um objetivo particular. Não está referida a ações
articuladas às ideias de reconhecimento externo e interno, de legitimidade
interna e externa, mas a operações definidas como estratégias balizadas pelas
ideias de eficácia e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar
o objetivo particular que a define. Por ser uma administração, é regida pelas
ideias de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito. Não lhe compete
discutir ou questionar sua própria existência, sua função, seu lugar no
interior da luta de classes, pois isso, que para a instituição social
universitária é crucial, é, para a organização, um dado de fato. Ela sabe (ou
julga saber) por que, para que e onde existe.
Do
ponto de vista do trabalho a gestão de carreira envolve duas partes principais:
a da organização e a concepção do indivíduo. Diferentemente de décadas
passadas, quando as organizações definiam as carreiras de seus empregados, na
modernidade o papel do indivíduo na gestão da carreira se torna relevante e
assume um papel progressivamente mais atípico. Os empregados assumem, na
atualidade, o papel de planejar sua própria carreira, sendo estimulados a
acumular conhecimentos científicos e administrar suas carreiras para garantir
mobilidade no mercado de trabalho. No início
indivíduos buscam desafios, salários atrativos e responsabilidades, após
amadurecerem, passam a se interessar por trabalhos que demandem autonomia e
independência, segurança e estabilidade, competência técnica e funcional,
competência gerencial, criatividade intelectual, serviço e dedicação a uma
causa, desafio político, estilo de vida.
A
instituição social aspira à universalidade. A organização sabe que sua eficácia
e seu sucesso dependem de sua particularidade. Isso significa que a instituição
tem a sociedade como seu princípio e sua referência normativa e valorativa,
enquanto a organização tem apenas a
si mesma como referência, num processo de competição com outras que fixaram os
mesmos objetivos particulares. Em outras palavras, a instituição se percebe
inserida na divisão social e política e pretende definir uma universalidade
(imaginária ou desejável) que lhe permita responder às contradições, impostas
pela divisão. Ao contrário, a organização busca gerir seu espaço e tempo
particulares aceitando como dado bruto sua inserção num dos polos da divisão
social, e seu alvo não é responder às contradições, e sim vencer a competição
com seus supostos iguais. A questão nevrálgica refere-se à pergunta: Como foi
possível passar da ideia da universidade como instituição à definição como
organização prestadora de serviços?
Em
primeiro lugar através da passagem da produção de massa e da economia de
mercado para as sociedades de conhecimento baseadas na informação e
comunicação. Na esfera de ação política é regulação da existência coletiva,
poder decisório, luta entre interesses contraditórios, disputa por posições de
mundo, confrontos mil entre forças sociais, violência em última análise. Só que
a produção dos processos políticos, baseados em instituições sociais como
esfera de poder, em segundo lugar, se diferencia radicalmente da produção
econômica porque usam eventualmente suportes materiais, como armas, livros,
processos, papéis onde se inscrevem as ordens, os atos de gestão, as sentenças
ou as leis, mas não é uma produção material no sentido marxista do termo. É
assim porque consistem em decisões imperativas, decisões que podem mudar o
plano de vida individual (os sonhos) e da coletividade (os mitos, os ritos, os
símbolos). É também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o
interesse dos agentes sociais, quando não sobre os próprios tabus do corpo.
Corresponde a atos de vontade que regulam atividades coletivas; disciplina
práticas sociais. Não produzem mensagens, discursos; produzem obediências,
obrigações, submissões, direitos, deveres, controles. Poder, para sermos breves,
é uma relação social que se constitui através de mando e obediência. As
decisões tomadas politicamente se impõem a todos num dado território ou numa
dada unidade social. Convertem-se em atividades coercitivas (esfera da
segurança), administrativas (esfera da administração), jurídico-judiciárias
(esfera da justiça) e legislativas (esfera da deliberação). Simplificadamente,
processo político diz respeito à pergunta: Quem pode o quê sobre quem? Eis a
grande questão do processo político, do confronto entre forças sociais, da sujeição
de vontades a outras vontades.
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