quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Elza Soares - Mulher Talentosa, Dona da Voz & Bossa Negra.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

Não tenho medo de nada. Temos que ensinar o medo a ter medo de nós”. Elza Soares

            
Elza Soares é considerada “a melhor cantora do milênio” pela BBC, descrita como uma mistura explosiva da norte-americana Tina Turner e Celia Cruz pela revista Time Out. É conhecida no mundo ocidental como “A Rainha do Samba”. Foi enredo da Unidos do Cabuçu, no grupo de acesso do carnaval carioca, no carnaval de 2012. No carnaval 2013, recebeu homenagem do clube Bola Preta de Sobradinho, tradicional agremiação do Distrito Federal. Enredo: “Elza Soares - Planeta Fome nasce uma Estrela!”. Nascida na favela da Moça Bonita passava a infância “rodando pião e brigando com os meninos”. Na década de 1950, a estação de Moça Bonita passou a se chamar “Padre Miguel” e que acabou dando nome ao bairro, numa homenagem ao sacerdote Miguel de Santa Maria Mochon, que dedicou toda a sua vida à Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Realengo. Toda a região de Moça Bonita ficou conhecida como “Padre Miguel”. Os problemas sociais aumentaram com os anos com a ausência do Estado nos bairros mais afastados pela pobreza no centro da cidade. Localiza-se entre os bairros de Bangu e Realengo. Entorno da estação Guilherme da Silveira, próxima ao Ponto Chic. Formou-se com esta identidade a partir da construção da estação. É lá que se situam as escolas de samba Mocidade Independente e Unidos de Padre Miguel.
        Vila Vintém sofreu com o esquecimento e a ausência de políticas públicas para educação, saúde e lazer. Com essa realidade a favela cedeu ao tráfico de drogas, durante anos até o surgimento da “Falange Vermelha”, e em seguida com o “Comando Vermelho” (CV) que passou a dominar as ações do tráfico de drogas na comunidade. A região era parte de Realengo quando monsenhor Miguel de Santa Maria Mochon (1879-1947) chegou até lá com 19 anos, por volta de 1898, desenvolvendo a partir de então diversos trabalhos sociais, sérios, entre os quais a reforma da Igreja Nossa Senhora da Conceição e a criação da primeira Escola Regular da Região, estendendo suas viagens de catequização aos engenhos de N. Sa da Conceição da Pavuna e do Botafogo, pelo chamado “Caminho do Padre”. Seria o centro de Padre Miguel, a área próxima à antiga estação, assim chamada com o nome antigo, embora este apenas seja lembrado mais devido ao apelido histórico do Estádio Proletário Guilherme da Silveira. Formou-se com esta identidade operária a partir da construção da estação. E o Ponto Chic, localizado na Rua Figueiredo Camargo, perto do Estádio Proletário Guilherme da Silveira é um ponto forte do comércio de Padre Miguel. 
                                       


Casou pela primeira vez aos 12 anos, teve seu primeiro filho aos 13, ficou viúva aos 21, e se tornou sensação internacional aos 30. Elza Soares não é apenas um ícone como artista, é também uma mulher de fibra, e um exemplo de supremacia. A vida não deu trégua pra essa mulher: teve que ser forte pra lidar com inúmeras dificuldades na vida, e ainda assim, nunca deixou de subir no palco com um belo sorriso no rosto e voz de contagiar a plateia com a alegria do samba. Aos 32 anos conheceu o jogador de futebol Garrincha. Ela sofreu preconceito com esse relacionamento por ser uma cantora de início de carreira e se envolver com um jogador de futebol que havia se divorciado. Isso causou a fúria do preconceito da sociedade, e Elza Soares “era xingada, ameaçada de morte, sua casa era alvejada por ovos e tomates, tudo porque seu namorado quis se divorciar da esposa e todos a acusavam de ter acabado com o casamento de Garrincha”. O estádio que o Brasil enfrentou a seleção de Camarões poderia não ter mais o nome de Mané Garrincha, se a cantora Elza Soares, não protestasse contra o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz do Partido dos Trabalhadores.
Foi Governador do Distrito Federal entre 1º janeiro de 2011, e 31 de dezembro de 2014. Cumpriu prisão preventiva em 2017, acusado facilitar negociações nas obra do Estádio Mané Garrincha, para a Copa do Mundo de 2014. Foi solto oito dias depois sob a alegação que o ex-governador não teria potencial para interferir nas investigações, pois ja não exercia mais cargos públicos. Ele queria trocar a alcunha da arena, mas a cantora, que foi casada com o jogador, soltou a voz poderosa e indignada e o político voltou atrás. Mesmo passado mais de 30 anos da morte de Garrincha e eles terem se separado em 1982, a cantora ainda cuida do legado de um gênio do futebol que até hoje parece não ter recebido seu devido valor. Eles se conheceram quando ela estava com 25 anos e foi conhecer a seleção brasileira antes de embarcarem para o Chile, na Copa de 1962. Ele falou que achava ela parecida com Billie Holiday e deu um disco da cantora de jazz para ela. Logo começaram um affaire e Mané Garrincha, então casado, deixou a mulher para então viver com a cantora. Apesar de toda a rejeição, eles tiveram um filho nos anos 1970 para orgulho do jogador.
        Foi também um período que Elza Soares deixou durante alguns períodos a carreira de lado para cuidar dos problemas do marido. - “Protegia o Mané e esquecia de mim. Mané era uma criança, um passarinho, e precisava de mais cuidado do que eu. Parei com tudo. Até de andar na rua, as pessoas queriam me pegar, me matar”, disse Elza, no ano passado, em entrevista para o Portal FórumElza da Conceição Soares, reconhecida pelo nome artístico Elza Soares nasceu no Rio de Janeiro em 23 de junho de 1930 (ou talvez 1937). É uma cantora e compositora de samba, bossa nova, música popular brasileira (MPB), “sambalanço”, “samba rock” e “samba jazz”. O início de sua carreira musical se deu quando ela ainda se apresentava em show de calouros, apresentado por Ary Barroso,  renomado músico brasileiro quando nesta oportunidade recebeu as maiores notas dos jurados. No fim da década de 1950, Elza Soares internacionalizou a carreira quando fez uma turnê de um (01) ano pela Argentina, juntamente com Mercedes Batista. Tornou-se popular com sua primeira música “Se Acaso Você Chegasse”, na qual introduziu o scat similar a de Louis Armstrong, contudo, parece mera coincidência que ocorrem na vida artística, pois Elza afirma que não conhecia a música norte-americana. 

Vale lembrar que o termo “música popular brasileira” já era historicamente utilizado no início do século XX, sem, entretanto definir um “movimento social” ou grupo de artistas. No ano de final da segunda guerra mundial (1945), o livro: “Música popular brasileira”, de Oneyda Alvarenga, relaciona o termo a “manifestações populares, como o bumba-meu-boi”. Somente duas décadas depois ganharia também a sigla MPB e a concepção que se tem atual do termo. A MPB surgiu exatamente em um momento de declínio da bossa nova, gênero renovador na música brasileira surgido na segunda metade da década de 1950. Influenciado pelo jazz norte-americano, a bossa nova deu novas marcas ao samba tradicional. Mas na primeira metade da década de 1960, a bossa nova passaria por transformações e, a partir de uma nova geração de compositores, o movimento chegaria ao fim já na segunda metade daquela década. A MPB, vagamente entendida como um estilo musical iniciou-se em meados dos anos 1960, a tipos de música que surgiram após o início, origem e evolução da bossa nova. A ideia do gênero musical “bossa negra” é antiga. - “Ela surgiu em Miami (Estados Unidos), em cima do palco, enquando eu dava uma canja no show do Hamilton. Foi um jam que aconteceu sem ensaio. O repertório foi escolhido na hora e incluiu canções de artistas que admiramos - como Baden Powell e Vinícius de Moraes, entre outros. O resultado foi ótimo e no camarim decidimos que tínhamos que levar a parceria adiante”, recorda Diogo Nogueira.
         Durante cinco anos os artistas mantiveram contato e finalmente em 2014 conseguiram afinar as agendas de trabalho para a concretização da Bossa Negra. – “Começamos a montar o repertório e o processo todo, incluindo a produção do álbum, levou cerca de seis meses”, completa Hamilton de Holanda. Inicialmente, o estilo que seria conhecido como MPB era denominado como Música Popular Moderna (MPM), terminologia utilizada pela primeira vez em 1965, para identificar: a) canções que já se diferenciavam da bossa nova, b) que não eram samba, nem moda ou marchinha, c) mas, que aproveitavam simultâneamente a suavidade do repertório da bossa nova, d) o carisma das tradições regionais e o cosmopolitismo de canções norte-americanas, que se tornaram conhecidas do público brasileiro por meio do cinema. Um dos primeiros exemplos de canção rotulada como MPM foi “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, que em 1965, interpretada por Elis Regina, venceu o 1º Festival de Música Popular da TV Excelsior. Em 1966, o samba “Pedro Pedreiro”, de Chico Buarque, também foi classificado como MPM, pois não era bossa nova, nem jovem guarda e nem música de protesto. Também em 1966, um conjunto vocal de Niterói, até então conhecido como “Quarteto do CPC”, sigla do Centro Popular de Cultura, adotou o nome “MPB 4”. Na virada da década de 1960 para a de 70, deixou-se de adotar a sigla MPM que foi substituída pela sigla MPB.  
Neste ínterim Elza soares mudou-se da zona Oeste do Rio de Janeiro para São Paulo, onde se apresentou em teatros e casas noturnas. A voz rouca e vibrante tornou-se sua marca registrada. Após terminar seu segundo Long Play: “A Bossa Negra”, Elza esteve no Chile representando o Brasil na Copa do Mundo da FIFA de 1962, onde conheceu pessoalmente Louis Armstrong. Seu estilo perspicaz e exagerado fascinou o público no Brasil e no exterior. Nos anos de 1967 a 1969, Elza gravou três álbuns LP pela Odeon, com o cantor Miltinho, intitulado: “Elza, Miltinho e Samba”, volume 1 (1967), volume 2 (1968) e volume 3 (1969). Esses discos tinham, majoritariamente, o esquema de “pot-pourri” em duetos e caíram no gosto de público e crítica, levando a uma trilogia de sucesso; tiveram produção de Milton Miranda e Hermínio Bello de Carvalho, e posteriormente, relançados em 2003 pela EMI em CDs. Nos anos 1970, Elza iniciou uma turnê pelos Estados Unidos da América e Europa. Em 2000, repetimos, foi premiada como “Melhor Cantora do Milênio” pela BBC em Londres, quando se apresentou num concerto com Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Virgínia Rodrigues. No mesmo ano, estreou uma série de shows de vanguarda, dirigidos por José Miguel Wisnik, na cidade Maravilhosa (RJ).
Alguns dos álbuns de Elza foram relançados em versões remasterizadas de CD: de 1961: “A Bossa Negra”, contendo seu maior sucesso no ano, “Boato” – e de 1972, com uma grandiosa banda, “Elza Pede Passagem”, produzido por Dom Salvador, sendo dois dos seus mais aclamados trabalhos. É considerado um clássico e representante do som “samba-soul” do início dos anos 1970. Em 2002, o álbum “Do Cóccix até o Pescoço” garantiu-lhe uma indicação ao Grammy. O disco foi bem recebido pelos críticos e divulgou uma espécie de “quem é quem” dos artistas brasileiros que com ela colaboraram: Caetano Veloso, Chico Buarque, Carlinhos Brown e Jorge Ben Jor, entre outros. O lançamento impulsionou numerosas e bem-sucedidas turnês pelo mundo. Em 2004, o álbum “Vivo Feliz” continuou a executar o tema de realziar “um mix de samba e bossa” com música eletrônica e efeitos modernos com as colaborações de artistas inovadores como Fred Zero Quatro e Zé Keti. Em 2007, nos Jogos Pan-americanos do Brasil, Elza interpretou o Hino Nacional Brasileiro, no início da cerimônia de abertura do evento, no Maracanã. E lançou o álbum “Beba-me”, onde gravou as músicas que marcaram sua carreira. Também atuou como puxadora de samba-enredo, tendo passagens pelas escolas de samba Salgueiro, Mocidade Independente e Cubango. Desde 2008, quando completou cinquenta anos de carreira, a vida e obra da cantora fora pesquisada pela cineasta e jornalista Elizabete Martins Campos, que dirigiu o longa-metragem “My Name is Now Elza Soares”, de 2014. 

Em 2010, gravou a faixa “Brasil”, no disco tributo a Cazuza “Treze parcerias com Cazuza”, produzido pelo saxofonista George Israel, da banda Kid Abelha. Nesta faixa há a participação do saxofonista e do rapper Marcelo D2. Como grande amiga do artista, já havia gravado “Milagres”, inclusive apresentando-a ao vivo com o próprio Cazuza. Também naquele ano, pela primeira vez a artista comandou e puxou um trio elétrico no circuito Dodô (Barra - Ondina). O trio levou o nome de “A Elza pede passagem”, arrastando uma grande multidão pelas ruas de Salvador no carnaval daquele ano. Em 2011, gravou a música “Perigosa”, já cantada pelo grupo “As Frenéticas”, para a minissérie “Lara com Z”, da rede Globo. Também neste ano, gravou a música “Paciência”, de Lenine, para o filme “Estamos Juntos”. Em 2012, fez participação na música “Samba de preto” da banda Huaska, faixa título do terceiro CD da banda formada em 2002 na cidade de São Paulo, com a ideia de tocar rock pesado em português com sonoridade brasileira. Seu estilo característico, que combina new metal, hardcore e metal com gêneros brasileiros, como o samba e a bossa nova, foi batizado por um jornalista de Minas Gerais como Bossa Metal,  que a banda passou a adotar. 
Nesse ano, a cantora fez uma série de espetáculos intitulados: “Elza Canta e Chora Lupicínio Rodrigues”, em comemoração ao centenário do cantor e compositor gaúcho de marchinhas e samba o brilhante Lupicínio Rodrigues. Em 2014, estreia o show “A Voz e a Máquina”, musica eletrônica acompanhada na palco apenas pelos DJs Ricardo Muralha, Bruno Queiroz e Guilherme Marques. Enfim, em 2015, lançou o seu disco “A Mulher do Fim do Mundo”, primeiro álbum em sua carreira só com músicas inéditas. O site Pitchfork, um dos mais importantes do mundo contemporâneo, o elegeu com o título de melhor novo álbum. No artigo, o site diz que Soares “desenvolveu uma das vozes mais distintas da Música Popular Brasileira”. As canções do disco falam sobre sexo, morte e negritude, e foram compostas pelo paulista José Miguel Wisnik e Rômulo Fróes e Celso Sim. Nos shows, a cantora vem acompanhada dos músicos Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Felipe Roseno e Guilherme Kastrup, além da participação especial da banda “Bixiga 70”, do “Quadril - Quarteto de Cordas” e do cantor Rubi. Representa o encontro com a estética musical de São Paulo. Enfim, com temática comportamental e social, o Huaska tem um EP, Mimosa Hostilis (2003), e dois álbuns lançados: E Chá de Erva Doce (2006) e Bossa Nenhuma (2009). A banda lançou Samba de Preto, seu terceiro álbum, com a participação do anotável arranjador e músico Eumir Deodato e da cantora Elza Soares, em fevereiro de 2012. No ano de 2015, Elza Soares lançou o seu disco A Mulher do Fim do Mundo, primeiro álbum em sua carreira só com músicas inéditas. O Pitchfork, um dos sites de música mais importantes do mundo, o elegeu como melhor novo álbum. No artigo, o site diz que Elza “desenvolveu uma das vozes mais distintas da MPB”. As canções do disco falam sobre sexo, morte e negritude, e foram compostas pelos paulistas José Miguel Wisnik, Rômulo Fróes e Celso Sim. Nos shows, a cantora vem acompanhada dos músicos Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Felipe Roseno e Guilherme Kastrup, além da participação especial da banda Bixiga 70, do Quadril – Quarteto de Cordas e do cantor Rubi. O álbum surgiu do encontro da cantora com a estética musical contemporânea de São Paulo. Em 2017, a turnê do álbum a levou a um show no Central Park em NY, elogiado pela crítica, incluindo o músico David Byrne. 

Em 2015 o aniversário da cidade do Rio de Janeiro foi marcado por várias festividades no domingo (1°). As comemorações começaram cedo, às 7h30, com uma cerimônia cívico-militar realizada na Fortaleza de São João, na Urca, Zona Sul, local onde a cidade foi fundada, em 1565. O prefeito Eduardo Paes compareceu ao evento acompanhado da família e recebeu a chave da cidade das mãos de um ator caracterizado de Estácio de Sá. - “Recebo com emoção esse precioso acervo, que será guardado com o mesmo zelo e orgulho dos nossos antepassados”, agradeceu o prefeito após ser presenteado com a chave simbólica. Após o evento que durou aproximadamente 30 minutos, Paes ressaltou o orgulho de fazer parte da festa do aniversário da cidade. – “Eu acho que é uma honra, um prazer muito grande participar desses 450 anos de uma cidade que tem muita história e que faz parte da identidade brasileira”. Durante a solenidade, vinte veleiros, que partiram de Bertioga e refizeram o mesmo percurso feito por Estácio de Sá chegaram ao Forte. Tiros de canhão foram disparados. Em seguida, uma missa foi realizada na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e presidida pelo arcebispo da cidade, Dom Orani Tempesta. Antes do início da celebração, o prefeito entregou a chave da cidade para Dom Orani. Junto com a chave da cidade, o arcebispo abençoou as outras três relíquias da cidade do Rio de Janeiro: a imagem de São Sebastião, os restos mortais do fundador da cidade e a pedra fundamental da fundação.

Essa foi a primeira vez que as quatro relíquias estiveram juntas. O prefeito Eduardo Paes não poupou elogios para a cidade e comentou o que pretende deixar de legado para os próximos 450 anos. – “É uma cidade que acolhe bem a todos. O Rio é um pouco essa síntese de um Brasil grande, cheio de mistura. A gente quer continuar representando isso por mais 450 anos. Nós inauguramos aqui uma civilização diferente, com um tempero de alegria e de felicidade que é incomparável”, disse Paes. A missa solene em homenagem ao Rio terminou por volta das 9h40 ao som de “Cidade Maravilhosa”. No final da manhã, um bolo de oito toneladas e 450 metros de extensão — que ia desde a Rua República do Chile até a Rua Uruguaiana — também fez parte das comemorações. O prefeito cortou o bolo e deu o primeiro pedaço para o governador Luiz Fernado Pezão, que presenteou Paes com a segunda fatia. A imagem peregrina de São Sebastião foi levada ao local pelo cardeal arcebispo do Rio, que recebeu a terceira fatia do bolo. À tarde, o prefeito e o governador inauguraram a nova sede da Prefeitura do Rio neste domingo. O Palácio Rio450 fica no bairro de Oswaldo Cruz, Subúrbio do Rio. O projeto, orçado em R$ 3 milhões, é a terceira sede da prefeitura, além do Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova, e o Palácio da Cidade, em Botafogo. 

Bibliografia geral consultada.
De STEFANO, Gildo, O Povo do Samba. O Caso e os Protagonistas da História da Música Popular Brasileira. Prefácio de Chico Buarque, Introdução por Gianni Minà. Roma: Edições de RAI, 2005; LACORTE, Simone, Aprendizagem do Músico Popular: Um Processo de Percepção Através dos Sentidos? Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Educação. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2006; BUTLER, Judith, El Gênero en Disputa. El Feminismo y la Subversión de la Indentidad. Barcelona: Editor Paidós, 2008; GALLETTA, Thiago Pires, Cena Musical Independente Paulistana – Início dos Anos 2010: A Música Brasileira depois da Internet. Dissertação de Mestrado. Departamento de Sociologia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013; MORAES, Sabrina Lôbo de, Soul Mais Samba: Movimento Black Rio e o Samba nos Anos 1970. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música. Centro de Letras e Artes.  Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2014; LICHOTE, Leonardo, “Bossa Negra, de Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda”. In: http://oglobo.globo.com/; PEREIRA, Maria de Fátima Lima, As Transfigurações Imagéticas de Elza Soares. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Comunicação Contemporânea. São Paulo: Universidade Anhembi, (Morumbi), 2015; LIMA, Carlos Eduardo de Freitas, Sou Negro e Tenho Orgulho! Política, Identidades e Música Negra no Black Rio (1970-1980). Disseertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017; FREITAS, Marcos Flávio de Aguiar, O Estilo de Zé da Velha no CD Só gafieira!]: Práticas de Performance do Trombone no Choro. Tese de Doutorado. Escola de Música. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Música, 2017; entre outros. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Leon Trotsky - Amor & Vida Política de Um Homem Singular.

Ubiracy de Souza Braga*

                          Aquele que se ajoelha diante do fato consumado não é capaz de enfrentar o futuro”. Leon Trotsky
               
            A noção de representação tem pautado a história política através de problemas de diferentes naturezas. É constantemente empregada, em termos gerais, para designar a forma segundo a qual um ator social se apresenta, como distinta dos níveis de análise social ou econômico. O termo representação se refere ao modo de apreensão por parte de um sujeito, ou meio de trabalho, como o caso de um livro, o que significa para que haja um ato político de representação é preciso que haja alguém (e uma literatura) que representa alguma coisa (um discurso) no caso do sujeito, quando é possível falar deste sujeito como representando a si mesmo. A teoria política contemporânea concentrou seu interesse na noção de representação na esfera de ação, uma vez que é um problema de produção da relação entre o pensar e o agir revolucionário do sujeito na história. Na foto, retratos do czar e da família imperial são removidos das paredes em Petrogrado. Após abdicação em fevereiro de 1917, Nicolau II e família foram aprisionados, primeiro na Tsarskoye Sielo (“aldeia do czar”), a mansão imperial nos subúrbios de Petrogrado, depois, na casa Dom Kuklina (“casa de Kuklin”), residência localizada em Tobolsk. Renomeada Petrogrado (1914–1924) e, posteriormente, Leningrado (1924–1991), voltando a chamar-se São Petersburgo quando a “perestroika” e a “glasnost” de Mikhail Gorbachev, acelerou a passagem da economia estatal para o liberalismo.
          Nicolau II foi o último Imperador da Rússia, Rei da Polônia e Grão-Duque da Finlândia. Nasceu no majestoso Palácio de Catarina, em Tsarskoye Selo, próximo de São Petersburgo, em 18 de maio de 1868. É também conhecido como São Nicolau, o Portador da Paixão pela Igreja Ortodoxa Russa. Oficialmente, era chamado Nicolau II, Imperador e Autocrata da Rússia. Filho de Alexandre III governou desde a morte do pai, em 1° de novembro de 1894, até sua abdicação em 15 de março de 1917, quando renunciou em seu nome e no nome de seu herdeiro, passando o trono para seu irmão, o grão-duque Miguel Alexandrovich. Durante seu reinado viu a Rússia decair de uma potência do mundo para um desastre econômico e militar (cf. MARIE, 1966; Lenin, 1966; 1974a). Nicolau foi apelidado pelos críticos em torno da aristocracia de “o Sanguinário” por causa e pelas consequências da chamada “Tragédia de Khodynka”, uma histeria coletiva que aconteceu em 18 de maio de 1896 no campo de Khodynka em Moscou durante as festividades que seguiram à coroação do último imperador da Rússia,  Nicolau II, pelo “Domingo Sangrento”, foi um massacre que aconteceu em 9 de janeiro de 1905 na cidade de São Petersburgo, onde manifestantes marcharam até ao Palácio de Inverno para pedir uma petição ao czar, mas foram baleados pela Guarda Imperial. A marcha foi organizada por George Gapon, que colaborou com Sergei Zubatov da Okhrana, a polícia czarista, para destruir organizações de trabalhadores.   

Os grupos envolvidos nesse conflito foram a população no geral, os partidos e os movimentos revolucionários, e pelos fatais pogroms antissemitas que ocorreram em seu reinado. Nicolau era filho do czar Alexandre III e da imperatriz Maria Feodorovna, nascida “Princesa Dagmar da Dinamarca”. Seus avós paternos eram o imperador Alexandre II e a imperatriz Maria Alexandrovna, nascida princesa Maria de Hesse. Seus avós maternos eram o rei Cristiano IX da Dinamarca e a princesa Luísa de Hesse-Cassel. Nicolau tinha três irmãos mais novos: Alexandre, Jorge e Miguel e duas irmãs mais novas: Xenia e Olga. Maternalmente, Nicolau era sobrinho de vários monarcas, incluindo Jorge I da Grécia, Frederico VIII da Dinamarca, Alexandra da Dinamarca e Tira da Dinamarca. Como Chefe de Estado, aprovou a mobilização de agosto de 1914 como fator determinante e processual, considerado o primeiro passo fatal em direção à 1ª grande guerra (1914-1918), a Revolução Russa de 1917 e consequente queda da dinastia Romanov. Czarismo representou um sistema político sustentado na nobreza que imperou durante 370 anos na Rússia desde 1547 até a Revolução de 1917.
Czar era o título que se dava ao Imperador Russo e que, durante esse período, governava de forma absoluta, na qual se confundia com o Estado.Um retrato do último czar da Rússia, Nicolau II, que esteve escondido durante quase um século atrás de uma pintura do pai da Revolução Russa, Lenin, será exposto em breve em São Petersburgo. – “O retrato do imperador vestido de gala, realizado por Ilia Galkin em 1896, ficou escondido durante quase 90 anos atrás de outro retrato, o de Lenin, pintado em 1924 por outro artista, Vladislav Izmailovich”, afirma Tatiana Potseluieva, coordenadora da equipe de restauradores que durante três anos se incumbiu de reconstituir a tela. O gigantesco retrato de Lenin, de quatro metros por três, em pé na frente da Fortaleza de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, permaneceu durante anos no salão cerimonial da escola 206 da antiga capital imperial. Na conjuntura czarista, a instituição era um instituto de comércio, e depois um colégio. A pintura durou quase um século, mas foi danificada por engano na década de 1970.  
           O seu reinado findou com o processo revolucionário de 1917, quando, tentando retornar do quartel-general para a capital, seu trem foi detido em Pskov e ele obrigado a abdicar. A partir daí, o czar e sua família foram aprisionados, primeiro no Palácio de Alexandre em Tsarskoye Selo, depois na Casa do Governador em Tobolsk e finalmente na Casa Ipatiev em Ecaterimburgo. Nicolau II, sua mulher, seu filho, suas quatro filhas, o médico da família imperial, um servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da família foram executados no porão da casa pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918. É reconhecido que esse evento foi ordenado de Moscou por Lenin e pelo também líder bolchevique Yakov Sverdlov. Mais tarde Nicolau II, sua mulher e seus filhos foram canonizados como “neomártires” por grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa no exílio. Vale lembrar que em 1721, Pedro I aboliu o Patriarcado e transformou a Igreja em uma instituição estatal, o que só foi interrompido em 1917 com a Revolução de Outubro. A história da Igreja Ortodoxa sob a Rússia Czarista é conturbada, como em 1569, quando Ivan, o Terrível ordenou o assassinato do Metropolita Filipe II. Em 1589, com o crescimento da importância ideológica da Igreja, Constantinopla lhe cede autocéfala e proclama seu metropolita patriarca. Em 1666, houve o sinal de intrusão do Estado na Igreja, com Aleixo I provocando a deposição do Patriarca Nikon pelas reformas que levaram ao cisma dos velhos crentes. 
Nikon, nascido Nikita Minin (1605-1681) foi o sétimo Patriarca de Moscou de Todas as Rússias da Igreja Ortodoxa Russa, servindo oficialmente entre 1652 e 1666. Ele era reconhecido pela sua eloquência, energia, piedade e proximidade ao Czar Aleixo I. Nikon introduziu muitas reformas que eventualmente levaram a uma cisma duradoura que ficou conhecido como Raskol. Por muitos anos ele foi um personagem político dominante, geralmente em equivalência ou superioridade ao próprio Czar. Suas reformas litúrgicas eram impopulares entre os conservadores. Em dezembro de 1666, Nikon foi julgado por um Sínodo de oficiais da Igreja, privado de todas as suas funções sacerdotais e reduzido ao status de um simples monge. Filho de um camponês russo chamado Mina, ele nasceu em 7 de maio de 1605 na vila de Valmanovo, 90 versts (96 km) de Nijni Novgorod. Sua mãe faleceu após o seu nascimento, e o seu pai se casou novamente.

Ele era maltratado por sua madrasta. Ele aprendeu a ler e escreveu com o pároco local. Aos 12 anos ele fugiu de casa para o Mosteiro de Makaryev, onde ele permaneceu até 1624 como noviço. A residência de Nikon no Mosteiro de Nova Jerusalém é representativa de suas visões estéticas austeras. Então ele retornou para casa devido à insistência de seus pais, se casou e se tornou um pároco numa vila próxima. Sua eloquência atraiu a atenção de alguns mercadores de Moscou que iam para a região por causa da famosa feira realizada nos jardins do Mosteiro de Makaryev. Pelos seus esforços ele foi convidado a servir como padre em uma paróquia populosa da capital. Ele serviu lá por dez anos. Enquanto isso, em 1635, seus três filhos pequenos morreram.

Ele viu isso como um sinal de providência e decidiu tornar-se monge. Primeiro ele persuadiu a sua esposa a também seguir o monasticismo e então retirou-se para um eremitério desolado na ilha de Anzersky, no Mar Branco. Ao se tornar um monge ele adotou o nome de Nikon. Em 1639, ele teve uma discussão com o seu superior e fugiu do mosteiro de barco; uma tempestade começou e seu barco encalhou na Ilha de Kiy, onde ele iria posteriormente estabeleceria um grande mosteiro. Ele eventualmente alcançou o Mosteiro Kozheozersky, na diocese de Novogárdia, na qual se tornou abade em 1643. Em sua capacidade oficial, ele visitou Moscou em 1646 e prestou homenagens ao jovem Czar Aleixo I, como era o costume. Aleixo, que era piedoso, se impressionou com Nikon, e o indicou como Arquimandrita do importante Mosteiro de Novospassky, em Moscou. Este monastério era especialmente associado com a Dinastia Romanov.

         Leon Trotsky nasceu numa pequena localidade do óblast de Kherson na atual Ucrânia, sendo o quinto filho de Anna e David Leontyevish Bronstein (ou Bronshtein), um humilde lavrador de origem judaica que, pragmaticamente, havia aproveitado os esquemas de colonização tzaristas na Crimeia para abandonar a área tradicional de residência autorizada aos judeus (o “pálio”) e converter-se num próspero fazendeiro. A família de origem judaica não era religiosa. Em casa, falava-se russo ou ucraniano e não iídiche. Aos nove anos, foi para Odessa, a fim de prosseguir seus estudos numa escola tradicional alemã. Ao longo dos anos em que ali permaneceu, passou pelo processo de “russificação”, conforme a política czarista. Trotsky revelava já um temperamento de líder, organizando um protesto contra um professor impopular no 2º ano. Não demonstrou interesse pela política nem pelo socialismo até 1896, quando se mudou para Nikolaev, onde concluiu o último ano de estudos secundários.
           Cursou Matemática brevemente na Universidade Nacional de Odessa. Sua irmã Olga casou-se com Lev Kamenev, um dos principais líderes bolcheviques e membro do triunvirato liderado por Stálin, que afastaria o próprio Trotsky do poder, sendo também afastado posteriormente. Após um período de exílio europeu, Trotsky voltou para a Rússia durante a Revolução Russa de 1905, onde sua oratória elétrica fez dele uma figura de liderança na St. Petersburgo Soviética até sua prisão, em dezembro do mesmo ano, conseguindo porém escapar e refugiar-se na Europa Ocidental. Durante a próxima década Trotsky passou do apoio da ala menchevique do POSDR a defesa da unidade das diversas facções dentro do partido, criando uma organização formal chamada Partido Operário Socialdemocrata Russo, vulgarmente conhecido como o “Mejraiontsi”. O virtual colapso do antigo regime durante a última parte da 1ª grande guerra motivou  Mejraiontsi a fazer as pazes com os rivais bolcheviques liderados por Lênin, e no início de 1917 Trotsky voltou do exílio em Nova York para se unir como membro do Comitê Central do Partido Bolchevique. O trabalho de Trotsky, assumindo o cargo de chefe do Soviete de Petrogrado no início de outubro e constituindo o Comité Militar-Revolucionário, foi fundamental em criar as bases para a deposição do governo provisório russo liderado por Alexander Kerensky em 7 de novembro de 1917.
 A dissidência no interior do partido vem a público quando Trotsky publica, em 1924, um prefácio à edição dos seus escritos de 1917, “As Lições de Outubro”, criticando a falta de estratégia revolucionária de Stalin e da direção do Comintern na direção do levante alemão de 1923. O problema principal que motivava a oposição contra a política de Stalin e de Bukharin, afirma Medvedev, era atitude diante dos elementos capitalistas na cidade e no campo. Ela reclamava uma intensificação da luta contra os kulaks e os nepman, além do aumento de impostos a que estavam sujeitos. Simultaneamente, exigia um incremento do ritmo da industrialização, a ampliação e o aprofundamento da democracia no Partido, a luta contra a burocratização do aparelho do Partido e do Estado, etc. Portanto, a orientação da oposição não estava absolutamente em contraste com a do Partido quanto á construção do socialismo. A oposição simplesmente queria o uso de métodos que não se conciliavam com os princípios fundamentais da NEP. Insistia na aceleração da construção do socialismo para a qual o país ainda não estava pronto. Trotsky, Zinoviev ou Kamenev, tentavam em geral evitar as discussões sobre a possibilidade da “construção” total e completa do socialismo.
Compara suas atitudes com a indecisão demonstrada por Kamenev e Zinoviev às vésperas da Revolução de Outubro. Após a deportação, Trotsky passou pela Turquia, França de julho de 1933 a junho de 1935, e Noruega de junho de 1935 a setembro de 1936, fixando-se finalmente no México, a convite do pintor Diego Rivera, vivendo temporariamente em casa deste e mais tarde em casa da esposa de Rivera, a pintora Frida Kahlo. À medida que aumenta a repressão stalinista, multiplicam-se os lutos familiares. Além da morte dos seus quatro filhos, os genros, noras, netos, e outros parentes próximos de Trotsky são igualmente vítimas da repressão por sua ligação com um suposto “inimigo do povo” e desaparecem nos sucessivos expurgos da década de 1930, com exceção do único filho que Zina pôde levar consigo ao exterior, e que acabou por reunir-se ao avô no México, depois de negociações com a mulher francesa de Leon Sedov - que havia se responsabilizado pelo sobrinho num hospital parisiense.
No seu crescente isolamento pessoal e político, Leon Trotsky, a partir desta conjuntura política, aumenta consideravelmente a sua produção escrita, escrevendo importantes obras como sua autobiografia, “Minha Vida” (1930), a “História da Revolução Russa” (em 2 vols., 1930 e 1932), “A Revolução Permanente” (1930) e “A Revolução Traída” (1936), uma crítica política ao stalinismo. Apoiando-se sobre um panfleto de Rakovski, “Os Perigos profissionais do poder”, Trotsky considerava em “A Revolução Traída” que a União Soviética se tornara num Estado de trabalhadores degenerado, controlado por uma burocracia autoritária - derivada, no entanto, contraditoriamente da hegemonia sócio-política própria classe operária, em um processo social descrito como “degenerescência burocrática” e que teria eventualmente de ser derrubada por uma 2ª revolução política que restaurasse o caráter democrático da revolução socialista, ou, degenerasse ao ponto de regressar ao capitalismo. Em 3 de setembro de 1938, numa reunião com 25 delegados de 11 países, Trotsky e seguidores fundam a IV Internacional, como combate à III Internacional stalinista.
Historicamente, a Quarta Internacional (QI) foi fundada na França em 1938, onde Trotsky e seus seguidores, após terem sido expulsos da União Soviética, consideraram a “Comintern” ou a chamada “Terceira Internacional” como “perdida para o stalinismo” e incapaz de levar a classe trabalhadora internacional ao poder político. Assim sendo, os trotskistas fundaram sua própria Internacional Comunista. A QI sofreu várias cisões durante a sua história: a primeira em 1940, que ocorreu somente na França, e a mais importante, que se deu no plano internacional, em 1953. Apesar de uma reunificação em 1963, vários reagrupamentos internacionais reivindicam a Quarta Internacional e a herança trotskista. Durante parte importante de sua existência, foi perseguida por agentes da polícia secreta soviética, reprimida por países como a França e os Estados Unidos da América, e rejeitada como ilegítima pelos seguidores da União Soviética e, depois por membros do Maoísmo - uma posição ainda mantida por estes bravos comunistas no mundo contemporâneo.  
Foram as lutas entre facções dos primeiros anos do regime soviético que deram vida à mais duradoura das concepções marxistas, a de Leon Trotsky e seus seguidores. Vinte e cinco anos depois da morte de Trotsky, no México, assassinado por um stalinista (cf. Broue, 1980; 1988; 2003) e, em larga medida, por causa da amplificação dessa morte, veiculada pelos processos sociais de comunicação, era possível encontrar partidos trotskistas em quase todos os países europeus onde o movimento não havia sido explicitamente banido. Partidos pequenos que, à imagem do seu fundador, eram liderados por um chefe carismático e autoritário, que ditava doutrina e táticas. Sua principal característica era a guerra de movimento chamada de “centrismo”, a militância nas grandes organizações de esquerda, como partidos, sindicatos, sociedades acadêmicas e literárias, com o propósito de colonizá-las ou fazer avançar políticas e alianças indicadas pela teoria trotskista.
Quando revoltas dos trabalhadores ocorreram, eram geralmente sob a influência de grupos de inspiração soviética, de maoístas, socialdemocratas, anarquistas, ou de grupos de militantes nacionalistas, levando a novas derrotas para a QI e os trotskistas, que nunca conseguiram apoio semelhante. Mesmo após o repúdio do Estado soviético a Stalin e o processo de aparente “desestalinização” do país, o trotskismo, apesar de sua crítica à burocratização, não sobreviveu um processo de ampliação de sua influência. A crise cíclica vivida pelo ideário socialista, de todos os matizes, também enfraqueceu a alternativa trotskista. Ideologicamente, maoístas, comunistas de esquerda e anarquista consideram o trotskismo e, portanto, também a Quarta Internacional ideologicamente falida politicamente. Apesar disso, muitas partes da América Central e Latina e da Europa continuam a abrigar grupos trotskistas, com seguidores jovens e velhos, que são atraídos pela formação do anti-stalinismo e pela retórica a favor do movimento operário internacional. Alguns desses grupos carregam o rótulo de “membro da Quarta Internacional”, quer no nome de sua organização, em seus manifestos, ou em ambos. Trotsky tinha entrado, entretanto, em conflito com Diego Rivera - numa disputa a qual tinha tanto a ver com as pretensões políticas de Rivera no movimento trotskista, que Trotsky desfavorecia, quanto com a breve ligação de Trotsky com Frida Kahlo - e mudara-se em 1939 para uma casa própria no bairro de Coyoacán, na Cidade do México.  

A 24 de maio de 1940 sobrevive a um ataque à sua casa por assassinos alegadamente a mando de Stalin. O assassinato de Leon Trotsky no México, em 1940, fixou na mente de muitos o exílio final de três anos do líder da Revolução Russa. Outros lembram também que o maduro Trotsky, sua mulher e netos foram acolhidos pelo famoso pintor mexicano Diego Rivera, militante comunista, e sua mulher, Frida Kahlo. O que é menos sabido é que Trotsky e Frida tiveram um romance que durou quase um ano e havia recém terminado quando Rivera o descobriu. Muitos dos biógrafos de Trotsky consideraram o desentendimento com o pintor mexicano de ordem, sobretudo política. Mas o autor da mais recente biografia de Rivera, Patrick Marnham, argumenta convincentemente que os motivos foram mais pessoais: - “Em outubro de 1938 Frida havia deixado o México para uma viagem de seis meses a Nova Iorque e Paris”.
O líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) desejava ocultar fatos de seu passado, como suas ações de agente provocador a serviço a polícia secreta tzarista - a Okhrana. Neste período, Trotsky escrevia uma biografia não autorizada sobre Stálin e este seria um dos motivos do crime. A casa de Trotsky em Coyocán, preservada no mesmo estado em que se encontrava naquele dia, é hoje um museu, em cujos terrenos se encontram ainda o cenotáfio de Trotsky, com a foice e martelo talhados sobre seu nome. Dos descendentes de Trotsky, o único que pôde preservar sua conexão com a família foi seu neto, o engenheiro Esteban Volkov, filho de Zina, criado por Natalia Sedova no México que muito fez pela preservação da memória do avô pela manutenção da sua casa de Coyoacán como um museu privado, depois encampado pelo governo mexicano. Na década de 1990, Volkov viajaria à Rússia para encontrar-se com uma irmã, que se encontrava em estado terminal de câncer, com a qual teve de conversar através de um intérprete, para explicar-lhe que a decisão de deixá-la na URSS havia sido imposta pelo domínio autoritário à sua mãe por Josef Stalin. Okhrana representou a polícia secreta do regime czarista de Alexandre III da Rússia, criada em 1881 em São Petersburgo. O seu nome significa Departamento de Segurança. Surgiu para perseguir os partidos políticos em torno do Narodnik e do Partido Social-Democrata Russo que faziam frente à autocracia do czar. Foi usada para reprimir sectores educacionais, imprensa e tribunais, além da massa popular, descontente com a situação social, política e económica que a Rússia enfrentava no fim do século XIX e princípios do século XX. Um dos policiais mais conhecidos da Okhrana foi Roman Malinovsky. Tinha nos seus quadros diversos agentes provocadores. Esse tipo policial tem por tarefa aparentar amizade, com a finalidade de realizar a traição ou provocar inconfidências que possam ser interpretadas como subversivas, levando à prisão da vítima, ainda que esta fosse inocente. Teve influência ao Domingo Sangrento. 
Bibliografia geral consultada.
LENIN, Vladimir Ilicht, El Desarrollo del Capitalismo en Rusia. El Proceso de la Formación de un Mercado  Interior para la Gran Industria. Barcelona: Editorial Ariel, 1974a; Idem, Contenido Económico del Populismo. México: Siglo Veintiuno Editores, 1974b; FERREIRA, Pedro Roberto, Os Trotskistas (PSR) em 1946: Uma Ultra-esquerda Brasileira. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Pulo, 1985;  MARQUES NETO, José Castilho, Solidão Revolucionária: Mário Pedrosa e as Origens do Trotskismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1993; KETTENMANN, Andrea, Frida Kahlo, Dor e Paixão.  Lisboa: Benedikt Taschen Editor, 1994; BROUÉ, Pierre, L`Assassinat de Trotsky. Bruxelles: Éditions Complexe, 1980; Idem, Trotsky. Paris: Éditions Fayard, 1988; Idem, Communistes contre Staline - Massacre d`une Génération. Paris: Éditions Fayard, 2003; LEAL, Murilo, À Esquerda da Esquerda: Trotskistas, Comunistas e Populistas no Brasil Contemporâneo (1952-1966). São Paulo: Editora Paz e Terra, 2004; HERRERA, Hayden, Frida: A Biografia. São Paulo: Editor Globo, 2011; pp. 236-262; SERGE, Victor, Memorie di un Rivoluzionario. Itália: Massari Editore, 2011; JUSTO, Saymon de Oliveira, O Pensamento Militar de León Trotsky e a Formação do Exército Vermelho: 1918-1925. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Franca: Universidade Estadual Paulista, 2012; VILLELA, Thiago Marão, O Ocaso de Outubro: O Construtivismo Russo, a Oposição de Esquerda e a Reestruturação do Modo de Vida. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; SILVA, Edison Menezes Urbano da, Guerra e Revolução em Weber e Trotsky: Política Imperialista e Internacionalismo Marxista da Primeira Guerra Mundial. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015; MUNDIM, Luiz Felipe Cezar; PINTO, Tales dos Santos (Orgs.), Dossiê: 100 Anos da Revolução Russa. In: Revista História e Cultura. Vol. 6, 1, março de 2017;  entre outros.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Quebrar a Cabaça - Representação & História Mítica do Sertão.

                                                                                              Ubiracy de Souza Braga
 
     “As desventuras que mais atingem os homens são aquelas que são escolhidas por eles”. Sófocles 
 

Sófocles representou na vida social um dramaturgo grego, um dos mais importantes escritores de tragédia ao lado de Ésquilo e Eurípedes, dentre aqueles cujo trabalho sobreviveu. Suas peças retratam personagens nobres e da realeza. Também aperfeiçoou a cenografia e aumentou o número de elementos do coro de 12 para 15, porém esse número pode variar de acordo com o poeta que define a tragédia. Sua concepção teatral foi inovadora e elevou o número de atores de dois para três. Suas primeiras peças foram escritas depois que as de Ésquilo e antes que as de Eurípedes. De acordo com a Suda, uma enciclopédia do século X, Sófocles escreveu 123 peças durante sua vida, mas apenas sete sobreviveram em uma forma completa. Por quase 50 anos, Sófocles foi o mais celebrado dos dramaturgos nos concursos dramáticos da cidade-estado de Atenas, que aconteciam durante as festas religiosas Lineana e Dionísia. Sófocles no processo disciplinar de seu tempo competiu em cerca de 30 concursos, venceu 24 e, talvez, nunca ficou abaixo do segundo lugar; em comparação, Ésquilo venceu 14 concursos e foi derrotado por Sófocles várias vezes, enquanto Eurípides ganhou apenas quatro destas extraordinárias competições.

A “cabaça” por sua reprodutibilidade técnica foi uma das primeiras plantas cultivadas, não apenas para uso na alimentação, mas para ser utilizada como um recipiente de água. A cabaça pode ter sido levada da África para a Ásia, Europa e nuestras Américas no curso da migração humana, ou por sementes que flutuaram através dos oceanos dentro da cabaça. Provou-se que estava no chamado “Novo Mundo” antes da invasão de Colombo em 1492. Origina-se do árabe “kara bassasa”, “abóbora lustrosa”, designação popular dos frutos das plantas dos gêneros Lagenaria e Cucurbita. Outros nomes incluem “porongo” ou “poranga”, do quíchua “poronco”, que significa “vaso de barro com o gargalo estreito e comprido”, através do espanhol rio-platense, “cuia” do tupi guarani antigo (e) kuîa, “jamaru” do tupi “yama'ru” etc. O “porongo” é utilizado no estado do Rio Grande do Sul e países vizinhos, continental, Argentina e Uruguai, para se fabricar a cuia, recipiente usado para servir o chimarrão, bebida feita pela infusão da erva-mate. A cabaça também é utilizada para fins de ornamentação de residências e festas folclóricas. O termo “cabaço” é transfigurado para referir-se à virgindade mítica. E no caso masculino para “alguém novato, simplório ou ingênuo”.    

Não queremos perder de vista que a virgindade religiosa, ou virgindade sacra, sagrada virgindade ou santa virgindade, são conceitos importantes na tradição cristã, especialmente no que diz respeito à Virgem Maria que ocupa um lugar central no dogma cristão católico e ortodoxo. Votos de castidade e celibato são necessários para entrar na vida monástica ou no sacerdócio. A sagrada virgindade e a perfeita castidade considera a Igreja Católica, quando consagrada ao serviço de Deus, um dos mais “preciosos tesouros” deixados por Cristo à sua Igreja. Afirma ainda a Doutrina da Igreja Católica que a santa virgindade é mais excelente que o matrimônio, isto no Concílio de Trento. Sobre o tema afirma João Paulo II na “Exortação Apostólica Familiaris consortio” (n° 16): - Permanecendo no celibato, o homem pode entregar a Deus um coração indiviso, segundo o modelo do seu Filho, Jesus Cristo, que ao Pai entregou o amor exclusivo e total do seu coração. “- É então que o homem conquista o supremo cume, o vértice do testemunho cristão: Tornando livre de modo singular o coração humano (...) a virgindade testemunha que o Reino de Deus e a sua justiça são aquela pérola que devemos preferir a qualquer outro valor”.


                                  
Úteis em casa e no singular método e processo de trabalho, mágicos nos ritos de passagens, próprios pra fazer música e arte, prontos pra brincar, estes frutos são também bons pra pensar as relações míticas dos homens com os meios em que vivem, com os mundos onde nascem veem e representam e os encontros e desencontros destes homens. Os índios tem uma grande influencia no uso da cabaça, como recipiente para água, cuia para servir ou guardar alimentos preparados, pequenas taças de uso ritual e na confecção de alguns instrumentos sonoros. A cabacinha com quatro furos; a buzina, na qual completa o gomo de taquara. No cinto de algodão, sob a forma de “sininhos sem badalos” que se chocam uns contra os outros. É também usado na cintura por corredores, amarrado abaixo do joelho ou socado contra o chão pelos cantores. É utilizado no cotidiano, como instrumento de trabalho e recipiente para líquidos e alimentos, na música, nos rituais, nas festas e brincadeiras, no artesanato tradicional e nas recriações de artesãos urbanos. Entrecascas desses frutos multiformes constituem tanto objetos de uso corriqueiro do dia a dia, quanto os suportes de expressões que distinguem e identificam indivíduos e grupos étnicos da sociedade brasileira, num universo misto de referências culturais. Além disso, dão nomes a cidades, rios, praias, serras e lagoas de Norte a Sul, e estão amplamente presentes na tradição oral no Brasil. 
            Nascido na capital cearense passou a infância em Senador Pompeu. Helder Catunda Gomes é formado em Administração de Empresas e mestre de tae-kwon-do. Iniciou sua carreira no cinema em 1991, quando fez suas primeiras participações como dublê de lutas em filmes de artes marciais, em Los Angeles, Califórnia. Estreou como diretor de cinema com o curta-metragem “Cine Holiúdy - O artista contra o caba do mal” (2004); “Sunland Heat - No Calor da Terra do Sol” (2004), gravado na cidade de Fortaleza, o filme teve participação de atores norte-americanos; “Cadáveres” é um filme de terror, lançado diretamente para home-vídeo, em 2008. O longa-metragem foi dirigido por Halder Gomes e Gerson Sanginitto, e escrito por Najla Ann Al-Doori e Andrew Pletcher. O filme, de título pela sequência de “Cadáveres”, de 2006, não tem nenhuma ligação com o longa-metragem original. E, finalmente, “As Mães de Chico Xavier” é um filme de 2011 dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes, com roteiro dos diretores baseado no livro: “Por Trás do Véu de Isis”, de Marcel Souto Maior,  é o romance da escritura, constituindo-se uma reportagem realizada durante anos, incluindo a biografia de Chico Xavier, pelo impressionismo jornalístico em busca de evidências empíricas como prova da autenticidade das comunicações mediúnicas. A experiência concreta serviu de embrião para o longa-metragem “Cine Holliúdy”, que foi o filme brasileiro aclamado pela indústria cultural com melhor média de público por sala em 2013. Assinou o roteiro de “Área Q” (2011), dirigido pelo cearense Gerson Sanginitto. Presentemente seus filmes foram exibidos oficialmente em 25 países.

O filme Shaolin do Sertão (2016) dirigido por Halder Catunda Gomes, inclui a participação do elenco da comédia cearense, com destaque ao notório humorista Falcão, que representa um pseudomestre chinês, colocando citações também pseudos-filosóficas como: - “A partir da meia noite, a tendência é amanhecer”.  Vale lembrar que em 2013, Halder Gomes cativou a audiência nacional com uma história regionalista falada em “cearês” que, ao baixo custo de um R$ 1 milhão, levou cerca de 500 mil pessoas ao cinema.  A história social se passa na década de 1980, época em que os chamados brucutus fizeram tanto sucesso quanto aos “Backstreet Boys” fez nos anos 1990. Quando comparativamente numa espécie de “UFC do Sertão”, um lutador em decadência decide criar desafios nas pequenas cidades do Ceará e anuncia um evento, junto com o Prefeito para enfrentar alguém da cidade em que Aluízio faz pão, o Shaolin decide que é hora de buscar a ajuda milenar de um antigo guerreiro chinês chamado Chinês, que por incrível que pareça é interpretado por Falcão, o cantor do nordeste. Em um retorno para a televisão, em 2012 Falcão estreou um talk show, Leruaite, na TV Ceará. Ele é o apresentador e a cada programa convida uma personalidade diferente. Falcão entrevistou nomes como Raimundo Fagner e o ex-governador Ciro Gomes. O programa também é composto pela banda Num Tô Nem Vendo, formada por músicos portadores de deficiência visual. No mesmo ano, foi considerado um dos 30 cearenses mais influentes do ano, de acordo com uma enquete realizada pela revista Fale! Em 2013, Falcão participou do longa-metragem Cine Holliúdy que narra a história de Francisgleydisson, um cearense que quer montar um cinema em sua cidade. Falcão interpretou o cego Isaías, um cego que ia “ver” o filme no cinema.
Shaolin, traduzido do chinês, significa “espessa floresta da montanha Shaoshi”, a montanha Shaoshi é uma das duas que formam o monte Song ou “jovem floresta”. O templo Shaolin foi construído em 495 pelo imperador Xiaowen da dinastia Wei do Norte (386-557) para abrigar o mestre indiano Batuo (Buddhabhadra), que veio a ser o primeiro abade do mosteiro. Nesta época, muitas pessoas se converteram ao budismo, não tanto pela religião em si, mas para fugir das obrigações para com o imperador, pois as leis permitiam, aos convertidos, seguir apenas a Buda e à espiritualidade. Já existiam traços de marcialidade entre os monges budistas. Esses traços se tornaram fato em 520 com a chegada do monge indiano Bodhidharma, também conhecido como Ta Mo, em chinês e Daruma Taishi em japonês. Bodhidharma passou nove anos meditando na caverna do pico Wuru, atrás do mosteiro. Visando a fortalecer os monges, que estavam debilitados devido às longas horas meditando, Bodhidharma “lhes ensinou exercícios que se tornariam a arte marcial do kung fu de Shaolin e as técnicas de meditação que viriam a constituir a escola ch’an de budismo.
Baseado nestes princípios Aloisio decide defender a honra individual e coletiva dos habitantes da cidade enfrentando o tal desafiante, contando com a ajuda de piolho (Igor Janssen) e do primo dele, o fanho Jesus (Haroldo Guimarães), que irão a cidade de Quixeramobim a procura do mestre Chinês (Falcão) para que o habilite com suas técnicas milenares de Kung Fu. O longa-metragem se destaca com a captura das imagens e fotografia colocando em evidência o sertão de Quixadá com a representação de seus monólitos, pertencendo geograficamente à mesorregião dos sertões cearenses e à microrregião do sertão de Quixeramobim. É a maior do sertão central, com uma população de 100.000 habitantes. Apenas uma definição é consenso quanto à origem do nome Quixadá. É uma palavra derivada de alguma das línguas indígenas faladas no território cearense antes do (des)cobrimento; há grandes controvérsias. Ideologicamente se diz que o sertão não é tão belo quanto às praias que fazem o Ceará tão (des)conhecido.    
Índia Tupinambá: criança e cabaça.
Originalmente, a região foi habitada pelos índios Jenipapo-Canindé (cf. Saraiva   de Souza, 2001) pertences ao grupo dos Tapuias, resistindo à invasão portuguesa no início do século XVII, sendo aparentemente pacificados em 1705, quando Manuel Gomes de Oliveira e André Moreira Barros ocuparam as terras quixadaenses. Estes grupos indígenas resistiram até 1760, pois os conflitos entre índios e colonos, ocasionados pelo desenvolvimento da pecuária desde 1705, praticamente extinguiram essas tribos. A colonização da área compreendida pelo município de Quixadá através da penetração pelo rio Jaguaribe, seguindo seu afluente o rio Banabuiú e depois o rio Sitiá, cujo objetivo principal era a conquista de terras para a pecuária de corte e leiteira. A primeira escritura pública da região foi a do Mosteiro Beneditino, hoje Casa de Repouso São José, na Serra do Estêvão, onde hoje é o distrito de Dom Maurício, em 1641.
Manuel da Silva Lima, alegando ter descoberto “dois olhos d'água”, obteve uma sesmaria. Essas terras, inicialmente de Carlos Azevedo, eram o “Sítio Quixedá” adquirido por compra conforme escritura de 18 de dezembro de 1728. Oito anos depois, José de Barros, construiu casas de morada, capela e curral, lançando assim as bases da atual cidade de Quixadá, sendo considerado, portanto, o legítimo fundador da cidade. A fazenda prosperou e se transformou em distrito do município de Quixeramobim. A partir do século XIX, com a estrada de ferro que ligava o Cariri à Fortaleza ocorreu a urbanização do município, influenciada pela produção de algodão exportado para a Inglaterra, que nesta época vivia a segunda fase da Revolução Industrial. Desde sua emancipação até hoje, teve cinquenta e três governos municipais, sendo Laurentino Belmonte de Queiroz, o primeiro gestor no período de crises de 1871 a 1873.
A 2ª revolução industrial é vista como apenas uma fase da Revolução Industrial já que, de um ponto de vista sócio tecnológico, não houve uma clara ruptura entre as duas. Na verdade a chamada 2ª revolução industrial representou um aprimoramento e aperfeiçoamento das tecnologias da primeira etapa industrialista. Ainda, é argumentável que ela se divide no meio no século XIX, com o crescimento de estradas de ferro, os navios a vapor e invenções cruciais como o processo de Bessemer e o processo de produção de aço de Siemens com o forno Siemens-Martin, que resultaram no barateamento do aço, transporte rápido e menores custos e difusão da produção industrial. Nos Estados Unidos da América (EUA) a 2ª revolução industrial é comumente associada com a eletrificação de Nikola Tesla, Thomas Alva Edison e George Westinghouse e com o gerenciamento de métodos e técnicas de trabalho racionais de Frederick Taylor, considerado o pai da administração e um dos primeiros sistematizadores da disciplina científica da administração de empresas.  
Na película tendo como background o processo migratório, a seca etc., Aloisio decide defender a honra individual (os sonhos) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) da cidade enfrentando o tal desafiante, contando com a ajuda de piolho (Igor Janssen) e do primo dele, o fanho Jesus (Haroldo Guimarães), que irão a cidade de Quixeramobim a procura do mestre Chinês (Falcão) para que o habilite com suas técnicas milenares de Kung Fu. O longa-metragem se destaca nas imagens e fotografia colocando em evidência o sertão de Quixadá com seus monólitos, pertencendo à mesorregião dos sertões cearenses e à microrregião do sertão de Quixeramobim. É a maior do sertão central, com uma população em torno de 100.000 habitantes. Apenas uma definição é consensual na parca historiografia cearense quanto à origem do nome Quixadá. É uma palavra derivada das línguas indígenas no território cearense antes do “descobrimento” (1500); há controvérsias. Ideologicamente se diz que o sertão não é tão belo quanto às praias que fazem o Ceará (des) conhecido. A cultura cearense, assim como em todo o sertão nordestino, é de base essencialmente ibérica com influências indígenas e africanas.  Em diversas áreas do interior cearense, os cordéis, assim como os repentistas e poetas populares, especialistas no improviso de rimas, ainda estão presentes e ativos, seguindo uma tradição que remonta aos trovadores e poetas populares da Idade Média lusitana. Outra forte influência portuguesa se encontra na grande importância das festas religiosas nas cidades de todo o interior, particularmente as festas de padroeiro, que estão entre as principais festividades da cultura cearense, abarcando não só cerimônias religiosas, mas também danças, músicas e outras formas de entretenimento, numa complexa mistura de aspectos sagrados e profanos.

Uma atividade narrativa, mesmo que seja multiforme e não mais unitária, continua, portanto se desenvolvendo onde se trata de fronteiras e de relações com o estrangeiro. Fragmentada e disseminada, ela não cessa de efetuar operações de demarcação. Os relatos são animados por uma contradição que neles representa a relação entre a fronteira e a ponte, isto é, entre um espaço (legítimo) e sua exterioridade (estranha). A região vem a ser, portanto o espaço criado por uma interação. Daí se segue  que, num mesmo lugar, há tantas “regiões” quantas interações ou encontros entre programas. Deste modo, se introduz uma contradição dinâmica entre cada delimitação e sua mobilidade. Segundo a fenomenologia de Michel de Certeau, o relato não se cansa de colocar fronteiras. Multiplica-as, mas em termos de interações entre personagens e movimentos: coisas, animais, e seres humanos. Resultam de um trabalho da distinção a partir de encontros. A junção e a disjunção são aí indissociáveis. Dos corpos em contato, qual deles possui a fronteira que os distingue? Nem um nem o outro. Então, ninguém? – Chamado cada um, este anti-herói é também Ninguém, Nemo, ou o Everyman inglês se torna o Nobody ou o Jedermann alemão se torna Niemand. No entanto, mesmo neste teatro humanista, ele ainda ri. E nisto é sábio e louco ao mesmo tempo, lúcido e ridículo, no destino que se impõe e reduz a nada a isenção que almeja.
       O filme repete a estratégia que garantiu o sucesso de Cine Holliúdy (2012): regionalismo linguístico; cenário ambientado no sertão de Quixadá; trilha sonora marcada por cantores nordestinos, com faixas de Raimundo Fagner e Reginaldo Rossi; atores e personalidades de destaque no cenário regional, como Tirullipa, Falcão, Karla Karenina, Camilla Uckers, Bráulio Bessa, Denis Lacerda, além do rememorado Trapalhão, Dedé Santana, Marcos Veras e Bruna Hamú. O elenco ainda repete a dose dupla que fez sucesso no primeiro longa-metragem de Halder, Edmilson Filho e Haroldo Guimarães, e revela Igor Jansen, destaque como intérprete do menino Piolho. A trama utiliza recursos clássicos da narrativa cinematográfica, descrevendo a trajetória do herói “cabeça chata” com o auxílio do vilão Toni Tora Pleura (Fábio Goulart), da mocinha Anesia (Bruna Hamú), do pai da mocinha (Dedé Santana), além do plano de fundo que tem como escopo a disputa política de coronéis e da população interiorana. Em 2019 o filme foi adaptado para série de televisão brasileira produzida e exibida pelo serviço de streaming Globoplay, cujo lançamento da primeira temporada ocorreu em 30 de abril de 2019. A primeira temporada estreou na Rede Globo em 7 de maio de 2019 em 10 episódios na série de Marcio Wilson e Claudio Paiva, inspirada no filme homônimo Cine Holliúdy de 2013. Edmilson Filho interpreta o protagonista na série. Escrito por Halder Golmes e direção conjunta de Patricia Pedrosa, Halder Gomes e Renata Porto D’Ave.    
      Vale lembrar em análise comparada que o humor moleque dos “humoristas do Ceará” (cf. Silva Neto, 2015), já acusado pelos mais civilizados ou educados de ser apelador ou picante, pode ser resguardado pelo fato de ter como fonte o “popular local”, a essência da alma cearense. É possível agir como moleque fazendo gaiatices ou sendo “fulêro” nos dias atuais sem muita culpa ou ressaca moral já que, na verdade, este é um comportamento visto como importante para aqueles que pretendem ser “cearenses autênticos”. E ainda, seguindo o raciocínio de Cas Wouters (1998), este “humor moleque” que ainda pode ser encontrado na piada “pesada” ou de “mal gosto” só poderia acontecer nessas sociedades onde chega o processo de informalização que libera os impulsos e as emoções mais contidas no exercício do convívio em coletividade. Assim, a “cultura moleque cearense” que não está restrita aos humoristas locais, mas está difusa em um imaginário e memória coletivos orientando práticas ou condutas humorísticas no cotidiano e mesmo propagandeada como uma marca ou característica definidora da identidade cearense pelos meios de comunicação e governos do Ceará na promoção turístico-cultural, encontraria no processo de informalização a sua evasão no meio social contemporâneo. A molecagem, neste sentido, não seria o contrário da civilização dos comportamentos. Mas parte dos avanços e recuos do processo civilizador descrito por Norbert Elias. Contar uma piada picante e por vezes preconceituosa seria um momento de distensões. Das tensões provocadas por uma sociedade vigilante. E mais vigilante legalmente no que dito e escrito politicamente correto. 


Bibliografia geral consultada. 

ABREU, Alexandre Veloso de, Do Sertão ao Ílion: Uma comparação entre Grande Sertão: Veredas e Ilíada. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2005; SILVA, Márcio Inácio da, Nas Telas da Cidade: Salas de Cinema e Vida Urbana na Fortaleza dos anos de 1920. Dissertação de Mestrado em História.  Programa de Pós-Graduação em História Social. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2007; BAECQUE, Antoine de, Cinefilia: Invenção de um Olhar, História de uma Cultura, 1944-1968. São Paulo: Editor Cosac Naify, 2010; MAGALHÃES, Luiz Ricardo, Sertão Planaltino: Cultura, Religiosidade e Política no Cadinho da Modernização (1950-1964). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de História. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2010; BASTOS, Moira Anne Bush, Poética da Cabaça: Fruto de Tradição, Arte e Comunicação. Dissertação de Mestrado em Artes. São Paulo: Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, 2010; SOARES, Ednalda, Miguilins no Sertão da Cabaça Azul: Incandescência, Infância e Devaneios Poéticos em Mutum. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2011; GUEDES, Paulo Henrique Marques de Queiroz, No Íntimo do Sertão: Poder Político, Cultural e Transgressão na Capitania da Paraíba (1750-1800). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2013; COLAÇO, Douglas, A Unidade de Perspectivas entre a Geografia e a Cartografia Medievais: Paralelos com as Artes Visuais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Francisco Beltrão: Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2015; SILVA NETO, Francisco Secundo da, A Gênese da Cultura Moleque Cearense: Análise Sociológica da Interpretação e Produção Culturais. Tese de Doutorado.  Programa de Pós-graduação em Sociologia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2015; PEREIRA, Paul Kennedy Gondim, Clube de Cinema de Fortaleza: Sociabilidade Intelectual e Cultura cinematográfica na Cidade de Fortaleza (1948-1963). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2017; entre outros.